Hipermetabolismo X Glutamina

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A Artigo de Revisão

Lobo GM & Santos MP

Benefícios do uso da glutamina em pacientes


críticos
Benefits of glutamine usage in critical patients

RESUMO
Grazianne Magela Lobo1 Introdução: A glutamina é um aminoácido classificado como essencial, pois o organismo
Maysa Paula dos Santos2
consegue realizar sua síntese. Quando indivíduos se encontram em estado de saúde crítico, esse
aminoácido não consegue suprir a demanda exigida, sendo preciso que ocorra sua suplemen-
tação. Perante esse acontecimento, a glutamina passa a ser considerada como um aminoácido
condicionalmente essencial. A glutamina possui vasta finalidade quando relacionada à aplicação
clínica, podendo interferir efetivamente na recuperação de pacientes, diminuindo infecções,
tempo de internação e, até mesmo, número de óbitos. De acordo com estudos e resultados,
foi possível verificar seu custo-benefício quando efetuada sua suplementação. Contudo, esse
estudo teve como finalidade a apresentação da administração da glutamina em pacientes
críticos, abordando seus benefícios clínicos e econômicos. Método: Foram selecionados estudos
prospectivos controlados e randômicos sobre o respectivo assunto, utilizando estudos publi-
cados em português, inglês e espanhol, no período entre 2000 e 2010, disponíveis na base
de dados Medline, LILACS, SciELO e em livros que abordam o referente tema. Conclusão: Ao
findar este estudo da literatura, foi possível notar que, com a suplementação de glutamina,
houve diminuição do risco de infecções e tempo de permanência em hospitais, melhora das
lesões incitadas por radicais livres, favorecimento à formação de GSH, normalização do balanço
Unitermos: nitrogenado e outros mais benefícios.
Glutamina. Hipermetabolismo. Doenças metabólicas.
Estado terminal/terapia.
ABSTRACT
Key words: Introduction: Glutamine is an amino acid classified as essential because the body accom-
Hypermetabolism. Metabolic diseases. Critical illness/ plish its synthesis. When individuals are in a critical health this episode is characterized by
therapy. hypermetabolism. The amino acid at this stage cannot supply the required demand, and its
supplementation must occur. Before this event, glutamine becomes regarded as a conditionally
Endereço para correspondência: essential amino acid. Glutamine has a extensive purpose as related to the clinical application
Grazianne Majela Lobo and may actually interfere with the recovery of patients, reducing infections, hospitalization and
Avenida Rio Branco, Quadra 02, Lote 07, 174 – even death rates. According to studies and results will be possible to verify their cost-benefit
Setor Urias Magalhães – Goiânia, GO, Brasil – analysis is done when its supplemented. However, this study will aim at the presentation of the
CEP: 74565-070. administration of glutamine in critical ill patients, addressing their clinical and economic bene-
E-mail: [email protected]
fits. Methods: Randomized controlled prospective studies on the subject matter, using studies
Submissão that are published in Portuguese, English and Spanish, between 2000 and 2010, available on
12 de setembro de 2011 the Medline, LILACS SciELO and text books, were selected. Conclusion: Presenting no risk to
individuals, because it is a literature review. At the end of the study, with information and reli-
Aceito para publicação able data on the role of glutamine in critically ill patients, is expected to contribute favorably
29 de janeiro de 2012 in the recovery of these patients.

1. Graduada em Nutrição pela Faculdade Anhanguera de Anápolis, Anápolis, GO, Brasil.


2. Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Goiás. Especialista em Obesidade e Emagrecimento e em Nutrição Clínica. Atua na área de
docência e supervisiona estágio curricular em Nutrição Clínica na Faculdade Anhanguera de Anápolis. Responsável técnica e nutricionista clínica do
Hospital de Urgências Dr. Henrique Santillo, Anápolis, GO, Brasil.

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Benefícios do uso da glutamina em pacientes críticos

Introdução linfócitos e precursores de citocinas. Também pode exercer a


O estado de saúde quando classificado como crítico quer síntese e atividades de monócitos e macrófagos e recuperar
dizer que o indivíduo se encontra em situação grave, com o sistema imunológico que se encontra defasado7.
risco de vida iminente e os diversos órgãos necessitam de Em relação à mucosa intestinal, o enterócito faz da Gln
enorme suporte para seu funcionamento, tal como ventilação sua principal fonte de energia e, em pacientes críticos, seu
mecânica e nutrição artificial¹. O paciente em estado crítico fornecimento se encontra limitado4.
geralmente se encontra em unidade de terapia intensiva, em A Gln é o aminoácido mais encontrado no plasma
virtude de complicações cardiopulmonares, intra ou pós- sanguíneo e nos tecidos musculares, podendo também
operatória, relacionada a politraumatismo, queimaduras, ser encontrada em outros tecidos do corpo humano em
sepse, dentre outras complicações². quantidades satisfatórias5,6,9-11. É considerada como um
Esses pacientes apresentam alta resposta neuroendócrina, aminoácido não-essencial, pois o corpo tem a capacidade
imunobiológica e inflamatória, provocando uma resposta de sintetizá-la a partir de outros aminoácidos, por exemplo,
sistêmica e generalizada, com a finalidade de manutenção o aminoácido Glu, por meio da enzima glutamina sintetase
da vida³. (GS). Não obstante, quando o paciente se encontra em
O quadro crítico é caracterizado por três fases metabó- estado de elevado metabolismo, sua concentração plasmá-
licas. A primeira conhecida como fase de choque, ocorre logo tica diminui, logo, não atende toda a demanda solicitada,
após a lesão, provocando diminuição da taxa metabólica, do devido esse fato, passou a ser considerada um aminoácido
consumo de oxigênio, da pressão arterial e da temperatura condicionalmente essencial5,12.
corporal. Acontece a diminuição dos níveis de insulina e da É considerado comum encontrar em pacientes críticos a
liberação do glucagon². diminuição de aproximadamente 50% dos níveis de Gln. Essa
A segunda fase, conhecida como resposta aguda, diminuição leva a menor utilização de Gln, principalmente
também leva a aumento de glucagon, glicocorticoides e cate- pelo intestino e pelo sistema imunológico. Para que ocorra a
colaminas, há liberação de citocinas, mediadores lipídicos e normalização desses níveis, recomenda-se a suplementação
produção de proteínas de fase aguda. Ocorre aumento de desse aminoácido13.
excreção de nitrogênio, da taxa metabólica e do consumo Nesses pacientes, também é notória a presença de
de oxigênio². mediadores pró-inflamatórios e consequente aumento dos
A última fase é a resposta de adaptação, caracterizada níveis de espécies reativas de oxigênio. Com o aumento
pela diminuição da resposta hormonal e do hipermetabo- desses níveis, ocorre progresso da resposta inflamatória e
lismo, levando à associação da recuperação, em virtude da agressão na matriz extracelular e das membranas celulares
alta capacidade de reparo de proteínas e da cura das lesões². por meio de peróxidos lipídicos. O aumento de espécies
Quando o organismo não apresenta nenhuma alteração, reativas de oxigênio diminui a quantidade de antioxidantes,
as bactérias gram negativas presentes no intestino agem levando ao estado de estresse oxidativo. O glutationa (GSH)
ativamente na homeostase, porém no paciente crítico elas é considerado o antioxidante mais útil, porém ao ser admi-
podem induzir a infecções. A mucosa intestinal e o sistema nistrado por via oral ou intravenosa é necessária, também,
imunológico, quando íntegros, formam uma eficiente barreira a administração de um precursor assimilado. Sendo assim,
contra bactérias e microrganismos. No paciente crítico, essas a Gln é o melhor precursor indireto de ácido glutâmico,
alterações na mucosa a deixam mais propensa à entrada pois aumenta a quantidade de GSH plasmático e o preserva
de microrganismos e bactérias, que se alastram pelo setor durante uma isquemia e perfusão intestinal13.
intravascular e atingem o sistema portal e o sistema linfático. A Gln pode ser considerada um imunomodulador, por
Uma das formas para que ocorra o metabolismo das células agir no sistema imunológico e como resultado leva ao
intestinais é a utilização da glutamina (Gln)4. aumento da resposta imunológica, oferecendo defesa contra
Segundo Cruzat et al.5, a Gln apresenta diversas funções, infecções, diminuição da permanência de pacientes em
dentre elas a proliferação e o desenvolvimento de células, hospitais e redução da taxa de mortalidade7.
o balanço ácido-básico, o transporte de amônia entre os O estudo de Nascimento et al.14 demonstra que, na
tecidos, a doação de esqueletos de carbono para a gliconeo- suplementação oral de Gln, ocorre diminuição nos episó-
gênese e também pode efetuar síntese de purinas, pirimidinas dios de sepse, tempo do paciente em ventilação mecânica,
e aminoaçúcares. Para Pacífico et al.6, além das funções tempo de internação, aumento da resistência anastomótica
citadas anteriormente, a Gln pode fornecer energia para e maturação do colágeno e proporciona melhor cicatrização
células de rápida proliferação, ser precursora da ureagênese, em pacientes com fístula intestinal. Para Pacífico et al.6, a
neoglicogênese hepática e do ácido gama-aminobutírico suplementação de Gln em adultos torna mais breve o uso
(GABA) e de glutamato (Glu)7. de nutrição parenteral (NP), exames laboratoriais, perma-
A Gln, além de aumentar as defesas antioxidantes, evita nência do paciente internado, propiciando menores custos
a translocação bacteriana, por proteger a mucosa intes- hospitalares, redução dos números de infecções e do período
tinal8, eleva a síntese de proteínas que diminuem o processo em que os mesmos ficaram internados e consequente queda
inflamatório e é utilizada como fornecedora de energia para da mortalidade.
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Este estudo tem por finalidade a descrição da eficácia da São atribuídas diferentes funções à GS; no cérebro,
aplicação da Gln em pacientes em estado de saúde crítico, provoca a diminuição dos níveis de amônia e a inativação
ressaltando tanto suas aplicações quanto seus benefícios do Glu, quando presente em altos níveis, torna-se tóxico,
clínicos e econômicos, por meio da demonstração de podendo causar um trauma inicial ou isquemia local, e
como ocorre a síntese do aminoácido Gln no organismo; também, a GS fornece carbono e nitrogênio para a reposição
análise do hipermetabolismo e suas implicações no orga- do GABA e do Glu, para que a Gln seja sintetizada19.
nismo; descrição da reação da Gln perante o aumento do No pulmão e no músculo esquelético, obtém a susten-
metabolismo e quais situações indicadas para que ocorra a tação dos níveis de Gln plasmática, o que se torna eficaz em
suplementação e a apresentação dos benefícios oferecidos circunstâncias patológicas ou de estresse, em consequência
pela Gln ao organismo com a suplementação e a relação à ação de glicocorticoides que agem de forma rápida e
do custo-benefício. específica, regulando a expressão da GS19.
Nos rins, a GS é indispensável para controle do meta-
método bolismo da amônia e, pelo equilíbrio ácido-básico do
Para os critérios de revisão foram selecionados estudos organismo, a própria síntese de Gln executa essa deto-
prospectivos controlados e randômicos e pesquisas quali- xificação. A GS atua principalmente do túbulo proximal,
tativas sobre o papel da suplementação de glutamina onde acontece alta reabsorção de substâncias e a ação
em indivíduos criticamente enfermos, considerando a da glutamitase, que é diretamente relacionada à secreção
dosagem e o tempo de uso. Foram revisados e sele- de amônia. No fígado, a GS atua em apenas 7 a 8% das
cionados estudos publicados em português, inglês e células parenquimais localizadas de uma a três camadas
espanhol, no período entre 2000 e 2010, utilizando as consecutivas de células em volta da veia central dos
bases de dados Medline, LILACS, SciELO e em livros que lobos do fígado. As enzimas da gliconeogênese e síntese
abordaram o referido tema. Os termos de indexação da ureia estão em maior quantidade na porção hepática
(indexing terms) utilizados para pesquisa foram: gluta- periportal e as da glicose e síntese de Gln na perivenosa,
mine; critically ill; trauma; sepsis; injured; intensive care; também levando ao equilíbrio ácido-básico e metabolismo
mechanical ventilation. de nitrogênio19. O fígado é o único órgão que produz e
consome Gln20.
Foi de responsabilidade das autoras, busca e coleta de
materiais, bem como sua revisão e utilização no desenvol- Borges et al.21 descrevem todo o processo citado em
vimento do trabalho. poucas palavras, a reação é catalisada pela enzima GS para
que a conversão de amônia e Glu em Gln ocorra perante
a presença de ATP.
Síntese endógena de glutamina
A Gln é o aminoácido encontrado em maior quan- Hipermetabolismo e implicações ao
tidade no plasma sanguíneo de mamíferos, pelo fato organismo
de ser formado em quase todos os tecidos 5,6,9-11,15. É
classificada como um aminoácido não-essencial, por Idade, sexo, doença de base, fatores genéticos, bem
ser sintetizada pelo organismo, e essa síntese ocorre como tipo, intensidade e duração das doenças, são fatores
por meio da enzima GS, que faz a conversão do Glu em que interferem diretamente na resposta à agressão, envol-
Gln16. O Glu e a Gln possuem a mesma via metabólica vendo uma cadeia de alterações. Ocorrem alterações
no enterócito, sendo assim, o Glu pode se transformar nos mediadores celulares (linfócitos, leucócitos, sistema
em Gln através da GS e a Gln em Glu e amônia pela monócito/macrófago, as próprias células epiteliais, etc),
ação da enzima glutaminase 17. nos mediadores moleculares primários (citocinas e sistema
A formação de Gln ocorre primariamente nos músculos, complemento) e nos moleculares secundários (radicais de
mas também nos pulmões, fígado e cérebro. Em situações oxigênio livres, eicosanoides, proteases e oxidantes tóxicos).
especiais, como no estresse, injúrias ou sepse, os tecidos O equilíbrio existente entre ativação, produção, síntese e
necessitam de uma demanda maior de Gln e a síntese teci- liberação de mediadores dependerá da competência imune
dual pode não suprir a demanda, havendo a necessidade e suscetibilidade a infecções22.
de se administrar doses exógenas de Gln18. A perda da competência imune se caracteriza pelo
Como anteriormente citado, a GS é a enzima responsável aumento das concentrações plasmáticas das citocinas
pela a síntese de Gln a partir do Glu. Segundo Cruzat et proinflamatórias (TNF, IL-6, IL-8), diminuição dos níveis das
al.5, ela é uma aminotransferase presente em organismos citocinas reguladoras (IL-1, IL-2, IL-10, IFG), uma desmedida
vivos, se tornando essencial para a conservação da vida ativação do sistema monócito/macrófago, junto com a queda
nos mesmos. É a enzima-chave para que o metabolismo do da proliferação linfocitária e menor potência bactericida dos
nitrogênio celular seja constante e para a formação de Gln neutrófilos7,22.
e sua atividade é regulada por glicocorticoides, hormônios Pacientes gravemente enfermos apresentam intenso
tiroidianos, hormônio do crescimento e insulina. quadro de catabolismo agregado com desordens metabólicas
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e sépticas, sendo corriqueiramente notado o compareci- diminuição do estoque de Gln muscular, devido propiciar
mento de intolerância à terapia nutricional enteral (TNE), o aumento da passagem desse aminoácido pelo músculo
provocando desnutrição, que está, também, relacionada e também ocorre hiperatividade da GS. Essas adaptações
a prolongada estadia em UTI e aumento da mortalidade. não são suficientes para a manutenção dos níveis de Gln,
Consequentemente, apresenta evidente estado de imunos- visto que a demanda exacerbada extrapola a quantidade
supressão, que associado ao hipercatabolismo faz com que sintetizada e a liberação que é praticada pelo tecido
esses pacientes sejam considerados como de difícil manejo muscular e, consequentemente, diminuição da concentração
clínico e nutricional7. plasmática25.
Esses pacientes apresentam alta resposta neuroendó- O déficit de Gln atua de maneira negativa sobre o sistema
crina, imunobiológica e inflamatória, provocando resposta imunológico, por diminuir a mitose de linfócitos, desfigurar
sistêmica e generalizada³. Segundo Castaño et al.23 e Abilés atividade das células natural killer, balanço nitrogenado e
et al.13, nessa situação, há ampla liberação de mediadores produção da mucosa intestinal26.
pró-inflamatórios, induzindo alta produção de espécie A desnutrição, quadro habitual em pacientes criticamente
reativa de oxigênio (ERO) que, por sua vez, aumentam enfermos, é diretamente relacionada a não aceitação de
a resposta inflamatória e atacam a matriz extracelular e alimentação. Essa desnutrição ocasiona depleção muscular
membranas celulares perante formação de peróxidos lipí- e consequente diminuição dos níveis de Gln no músculo,
dicos. As ERO são nocivas quando as defesas antioxidantes provocada pelo aumento de aminoácidos de cadeira
estão diminuídas e proporcionam o estresse oxidativo. Lobo ramificada, gerando inibição intracelular na musculatura
et al.¹ mostram que as ERO, além de motivarem o estresse desse aminoácido. Essa depleção ocorre de forma precoce
oxidativo, também ativam células fagocitárias do sistema durante a estadia em UTI, gerando a expectativa de que
imune, produzem óxido nítrico pelo endotélio vascular e suplementação acarretará benefícios27. De fato, estudos
liberam íons de ferro e cobre. têm demonstrado que suplementação de Gln completando
a nutrição proporciona redução de complicações clínicas
desses pacientes.
R e a ç ã o d a g l u ta m i n a p e r a n t e o
São várias as situações em que a suplementação de Gln
hipermetabolismo e situações indicadas
é indicada. Segundo Caruso28, em intervenções cirúrgicas
para a suplementação
em que é extraída parte do intestino, a suplementação
A utilização da Gln mediante enfermidades, respostas exógena de Gln é indicada, pois favorece a ampliação de
inflamatórias e infecciosas ocasiona acréscimo e ativação DNA, de proteína e células da mucosa intestinal durante
de fagócitos e linfócitos, aumentando de forma acen- a NP.
tuada a demanda e a liberação desse aminoácido das A Gln aplicada associada à NP age de modo a melhorar,
reservas musculares e gerando diminuição do catabo- no intestino delgado, as vilosidades e mucosas, bloquear
lismo protéico muscular e da intensidade das perdas. No a morte programada das células do epitélio e aumentar a
entanto, o dispêndio agudo ou crônico muscular interfere densidade da mucosa do jejuno29.
de forma significativa na incidência de morbidade e da
Silveira30, em seu estudo, demonstrou um ensaio clínico
mortalidade 24.
feito em 1998, no qual 60 pessoas acometidas com trau-
O aumento da liberação de Gln proporciona, ao intestino matismo receberam dieta enteral enriquecida com Gln e
e a outros tecidos, maior proveito desse aminoácido, que apresentaram diminuição de intercorrências como sepse e
é consumido exageradamente, sendo assim, com o aguça- pneumonia.
mento da síntese protéica, se torna exequível entender o De modo geral, Waitzberg et al.31 relataram situações em
porquê de as concentrações plasmáticas de Gln diminuírem que a suplementação de Gln pode ser empregada, dentre
mediante o estresse metabólico4. elas estão a manutenção da mucosa do intestino delgado,
A doença ou lesão grave aumenta a permeabilidade intes- conservação do balanço nitrogenado, regeneração hepática
tinal, provocando aumento da resposta inflamatória sistêmica depois de retirada parcial do fígado, estimulação da resposta
acionada pelo intestino. A Gln é utilizada pelos rins e intestino imunológica, participação na produção de interleucina-2,
como principal substrato energético, principalmente para os ativação de macrófagos, melhora da imunidade celular
enterócitos, e proporciona significativa melhora deste². O contra bactérias, fungos, vírus e células tumorais, prevenção
intestino tem a capacidade de selecionar e fazer a retirada, de sepse procedente do trato gastrintestinal (TGI), aumento
de forma harmônica com a concentração plasmática, desse do clareamento bacteriano na peritonite e proteção aos
substrato diretamente da corrente sanguínea. Em razão da enterócitos após radioterapia.
diminuição da munição de Gln, esse aminoácido passa a ser A administração de Gln diminui a permeabilidade
considerado como condicionalmente essencial em situações intestinal29,31 e evita a translocação bacteriana32, por ser o
de hipermetabolismo4. principal substrato da mucosa intestinal, melhora a ação dos
Os níveis aumentados de glicocorticoides perante o linfócitos em transplantes de medula óssea, é precursora de
catabolismo permitem adaptações fisiológicas, tais como GSH, o antioxidante mais eficaz no combate a radicais livres,
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e também age de modo a melhorar o controle de glicemia de o TGI e sistema imune possuírem preferência quanto à
sob intervenção da insulina33. utilização desse suplemento e, logo em seguida, a contenção
O estudo de Nascimento et al.14 mostra que, na suple- de nitrogênio e a normalização dos níveis de Gln37.
mentação de Gln, ocorre diminuição do tempo do paciente Pacientes em estado crítico pós-cirúrgicos, suplementados
em ventilação mecânica32, tempo de internação, aumento com Gln, apresentam menores riscos de infecções e de tempo
da resistência anastomótica e maturação do colágeno, o de estadia em hospitais38.
que proporciona melhor cicatrização em pacientes com Os radicais livres formados durante o quadro de doença
fístula intestinal. grave e estresse defasam as defesas antioxidantes, entretanto,
A Gln, quando oferecida juntamente com a NP, além de a introdução da suplementação com Gln motiva a melhoria
melhorar a ação do intestino delgado, fortalecer o sistema das lesões causadas por esses radicais livres e concludente
imune e previnir infecções, como já citado anteriormente, normalização das reservas de Gln intracelular, influenciando
age de modo bem-sucedido na aquisição do peso corpóreo de forma significativa na morbidade e no prognóstico dos
e no bem-estar do paciente, reduz a atrofia pancreática e pacientes37.
esteatose hepática, bem como diminui o tempo de estadia
A adesão à suplementação de Gln em pacientes grave-
em hospitais e mortalidade32.
mente doentes é considerada benéfica, pois favorece a
Santos et al.34 realizaram um modelo experimental de formação de GSH, a normalização do balanço nitrigenado,
sepse induzida por ligação cecal e punção. Os resultados fortalece o sistema imune e a permeabilidade do intestino35
quanto à utlização de Gln foram animadores. Foi possível e também atua de maneira eficaz na recuperação de estados
notar melhor fluxo arterial, diminuição nas alterações de hipoalbuminemia39.
teciduais e apoptose de suas células epiteliais do pulmão,
Na pesquisa realizada por Donabedian40, houve análise
fígado e rim. Com esses resultados, pode-se inferir que a
da suplementação de Gln, arginina e ômega-3 em pacientes
Gln reduz casos de câncer de pulmão e lesões de órgãos
gravemente enfermos e ficou em evidência que apenas a
distais e esse resultado se deve ao equilíbrio entre citocinas
suplementação de Gln age a favor da precaução do surgi-
pró e anti-inflamatórias.
mento de infecções nos mesmos.
Sendo assim, podemos considerar a existência de uma
Pacientes em estado grave possuem grande utilização de
vasta gama de possibilidades e situações para a utilização
Gln intramuscular e sua suplementação exógena restringe a
da Gln na área clínica.
depleção de seus níveis no estresse muscular41.
Para Fürst37, a Gln pode ser considerada durante casos
Benefícios oferecidos pela glutamina ao
de estresse como um aminoácido condicionalmente indis-
paciente crítico
pensável, para que haja a correção do presente déficit e
É considerado comum encontrar em pacientes críticos a não apenas para enriquecimento da terapia nutricional (TN).
diminuição de aproximadamente 50% dos níveis de Gln. Essa
diminuição leva a menor utilização de Gln, principalmente
Relação Custo-benefício
pelo intestino e pelo sistema imunológico. Para que ocorra a
normalização desses níveis, recomenda-se a suplementação As inovações da suplementação nutricional em trata-
desse aminoácido13. mentos clínicos têm se apresentado como recurso eficaz
A Gln presente em alimentos protéicos fica entre 4 e 8%, na recuperação de pacientes em estado crítico. Segundo
contudo, o consumo diário é menor que 10 g. Em situações Curi et al.15, a Gln tem se apresentado como eficaz recurso
de intenso catabolismo, essa disponibilidade não supre a dessa prática, devida a sua função de nutracêutico, que é
requerida demanda, que é de 9 a 13 g15. No estudo de a combinação de nutrientes com atividade farmacológica.
Caruso28, é sugerido que a suplementação de Gln seja de O custo-benefício oferecido por novos métodos de
0,5 g por kg de peso corpóreo por dia ou 30 g diárias, tratamento, como a Gln, está ganhando maior estima ao
já para Candela et al.16, a sugestão é de 5,7 g por kg de passar do tempo, por originar diminuição do período de
peso corpóreo por dia. hospitalização e estimável redução de custos42. Para Pacífico
A Gln pode ser considerada um imunomodulador, por agir et al.6, essa redução de custos está relacionada ao breve uso
no sistema imunológico, e como resultado leva ao aumento de NP e realização de exames laboratoriais.
da resposta imunológica, o que oferece defesa contra infec- De acordo com os estudos de Fürst37, em transplantes de
ções35 e diminuição da estada de pacientes em hospitais e medula óssea, a suplementação de Gln antecipa de cinco a sete
redução da taxa de mortalidade7. Albertini e Ruiz36 enfatizam dias a alta hospitalar e restringe custos, considerando apenas
que a redução de mortalidade originada pela utilização de a ocupação de leitos. Ponderando valores, um hospital univer-
Gln é decorrente da diminuição de infecções, que também sitário cuja estadia diária equivale US$ 1.000,00, atendendo
proporciona menor morbidade. 30 pacientes anualmente submetidos a transplante de medula
A diminuição dos níveis de Gln pode afetar de forma óssea, gera economia de US$ 180 mil, isto já considerando
agravante o TGI e sistema imune durante o estresse, pelo fato a redução do tempo de internação estimado ainda há pouco.
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Benefícios do uso da glutamina em pacientes críticos

Schlotzer et al.42 alcançaram um levantamento de estudos do jejuno, diminuição do risco de sepse, da permeabilidade
clínicos e concluíram que a adoção da TN associada ao intestinal, de tempo de ventilação mecânica e de internação.
uso de Gln em pacientes de UTI, bebês de muito baixo Pacientes em estado crítico suplementados com Gln
peso, pacientes de transplante de medula óssea e pacientes apresentam menores riscos de infecções e tempo de estadia
cirúrgicos apresentam a seguinte economia de custos: US$ em hospitais, melhora das lesões incitadas por radicais
6.373,00, US$ 20.000,00, US$ 10.000,00 e US$ 3.000,00. livres, regulariza as reservas de Gln intracelular, favorece a
O uso de Gln em UTI’s concomitante a NP propor- formação de GSH, normaliza o balanço nitrogenado, forta-
cionou decréscimo de 15% das despesas totais voltadas lece o sistema imune, melhora a permeabilidade do intestino,
aos cuidados hospitalares, equivalente a US$ 6.373,00 por ajuda na recuperação de estados de hipoalbuminemia, na
paciente. Considerando o gasto com os indivíduos sobrevi- precaução do surgimento de infecções e depleção de seus
ventes, esta porcentagem aumenta para 50%, cerca de US$ níveis no estresse muscular.
46.403,00, enquanto a NP convencional gasta em torno de O custo-benefício oferecido pela Gln está ganhando maior
US$ 94.077,0037. apreço devido à diminuição do período de hospitalização, consi-
Com esses efeitos benéficos, tanto para pacientes, quanto derável redução de custos. Em transplantes de medula óssea, o
para os gastos, a administração de Gln se tornará provavel- uso da suplementação de Gln pode diminuir de cinco até sete
mente um hábito rotineiro na prática clínica. dias o tempo de internação. O uso de Gln em UTI’s juntamente
com a NP proporcionou decréscimo de 15% das despesas totais
voltadas aos cuidados hospitalares, equivalente a US$ 6.373,00
Considerações Finais por paciente. Entretanto, não há muitos estudos nessa área,
Na presente revisão, verificou-se que a Gln é o aminoá- permanecendo um campo aberto a novas pesquisas clínicas.
cido mais encontrado no plasma sanguíneo e músculos, pelo
fato de ser sintetizada em praticamente todos os tecidos, por Referências
meio da enzima GS a partir do Glu. Essa enzima apresenta
1. Lobo G, Abilés AJ, Cruz P, Rodríguez M, Aguayo E, Cobo
diversas funções no organismo, dentre elas estão diminuição MA, et al. Valoración de la ingesta de nutrientes y energía em
dos níveis de amônia, inativação do Glu, fornecimento de paciente crítico bajo terapia nutricional enteral. Nutr Hosp.
carbono e nitrogênio para a reposição do GABA e do Glu 2005;20(2):110-4.
para que a Gln seja sintetizada, sustentação dos níveis de Gln 2. Winkler MF, Malone AM. Terapia médica nutricional para
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com que esse aminoácido seja consumido de forma dema- Nutr Hosp. 2007;22(1):61-7.
siada e haja diminuição de suas concentrações plasmá- 8. Feferbaun R, Oliveira AG, Valenti VE, Abreu LC. Gasto energé-
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principal substrato energético. O uso de glicocorticoides rats. Rev Nutr. 2005;16(6):719-25.
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desse aminoácido, que passa a ser considerado como NR, Dias CCGO. Intestinal intraluminal injection of glutamine
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condicionalmente essencial. in hepatic ischemia-reperfusion. Acta Cir Bras. 2006;21(supl.
Essas são algumas das situações em que a suplementação 4):69-73.
de Gln é indicada: intervenções cirúrgicas em que se extrai 11. Rogero MM, Tirapegui J, Pedrosa RG, Castro IA, Pires ISO,
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Local de realização do trabalho: Faculdade Anhanguera de Anápolis, Anápolis, GO, Brasil.

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