Este parecer jurídico analisa a validade de uma doação feita por um homem idoso para seus filhos que representa menos de 50% de seus bens, considerando também sua união estável posterior. Conclui que a doação é válida desde que respeitada a legítima dos herdeiros na época da doação, e que a companheira tem direito à metade da herança em caso de falecimento.
Este parecer jurídico analisa a validade de uma doação feita por um homem idoso para seus filhos que representa menos de 50% de seus bens, considerando também sua união estável posterior. Conclui que a doação é válida desde que respeitada a legítima dos herdeiros na época da doação, e que a companheira tem direito à metade da herança em caso de falecimento.
Este parecer jurídico analisa a validade de uma doação feita por um homem idoso para seus filhos que representa menos de 50% de seus bens, considerando também sua união estável posterior. Conclui que a doação é válida desde que respeitada a legítima dos herdeiros na época da doação, e que a companheira tem direito à metade da herança em caso de falecimento.
Este parecer jurídico analisa a validade de uma doação feita por um homem idoso para seus filhos que representa menos de 50% de seus bens, considerando também sua união estável posterior. Conclui que a doação é válida desde que respeitada a legítima dos herdeiros na época da doação, e que a companheira tem direito à metade da herança em caso de falecimento.
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PARECER JURÍDICO
EMENTA: DOAÇÃO DE BENS. ADIANTAMENTO DA LEGITIMA DOS
HERDEIROS. PATRIMONIO QUE ATINGE MAIS DE 50%. UNIÃO ESTÁVEL CONTRAIDA PELO DOADOR EM 2002. MAIOR DE 70 ANOS. NULIDADE DA DOAÇÃO. CLIENTE: André Valiñas Carpintero DATA: 22 de junho de 2022.
RELATÓRIO
Trata-se de consulta a respeito sobre validade de doação feita pelo
genitor do consulente a seu favor e a favor de seu irmão, cujo patrimônio doado atinge menos de 50% do adiantamento da legitima e se há possiblidade de a companheira atual ser considerada herdeira pela lei, a despeito de ser obrigatória a separação de bens para maiores de 70 anos que contraírem matrimônio ou união estável.
Em breve relato, relata o consulente que seu genitor, na data de
03/03/2011, doou para si e o seu irmão, o(s) seguinte(s) bem(ns) (i)móveis: 20.827.000 quotas de participação societária, sendo de valor unitário cada quota em R$ 1,02, avaliadas na quantia total de R$ 21.243.540,00 e que representa 50% dos bens do doador.
Recentemente, o genitor manifestou sua vontade em doar para fundação
constituída no país do Panamá e gerida pelo consulente, imóvel situado em São Paulo/SP, na sua totalidade (100%) e avaliado na quantia de R$ 4.053.403,00.
No entanto, o genitor dos herdeiros contraiu união estável, aos 70 anos
de idade, em 01/06/2005, durante a vigência da Lei n. 10.406/2002, através de Contrato de Convivência com cláusula compromissória de pacto antenupcial, a qual abre mão dos bens em nome do convivente em caso de sucessão causa mortis e constando doação de bem imóvel à favor da companheira pelo companheiro, sito à Rua Itacolomi, n. 625, apto. 181, no bairro Higienópolis/Consolação, na cidade de São Paulo/SP, cujo valor venal de referência atual é de R$ 1.402.690,00. Diante dessas informações, questiona o consulente os seguintes pontos: a) Se a atual companheira do genitor possui direito sobre os bens do mesmo e ela entra como herdeira; b) Se há a possibilidade de se tornar inoficiosa a doação e os bens doados serem levados obrigatoriamente para colação em caso de sucessão causa mortis. Foram fornecidos os seguintes documentos pelo consulente: a) Escritura pública de doação no nome de MANUEL VALIÑAS VILLAVERDE, doando 49,4% de quotas sociais para ANDRÉ VALIÑAS CARPINTERO e PAULO VALIÑAS CARPINTERO VILLAVERDE; b) Contrato particular de convivência, feito entre MANUEL VALIÑAS VILLAVERDE e MARCIA ANGÉLICA PESSOA, estabelecendo o regime de separação obrigatória de bens, exarada na data de 03/03/2005, com firma de ambos reconhecida em cartório; c) Declaração particular exarada por MARCIA ANGÉLICA PESSOA em que declara que: vive em regime de união estável com MANUEL VALIÑAS VILLAVERDE desde 03/03/2005, de acordo com contrato particular de convivência exarado por ambos, em que declara que os bens adquiridos durante a constância da união é decorrente do fruto do próprio esforço individual dos conviventes e que recebe imóvel à título de doação, apartamento sito à rua Itacolomi, 625, apartamento 181, 18º andar, bairro Higienópolis, São Paulo/SP, inscrito perante o 5° Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo/SP, exarada na data de 30 de outubro de 2012, com firma da declarante reconhecida em cartório; d) Lista de bens doados pelo genitor para a fundação administrada pelo consulente, sendo a mesma com domicílio no país do Panamá. Em face das informações prestadas e os respectivos questionamentos, é que passo a seguinte fundamentação.
DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
Inicialmente, cabe apontar que a doação se encontra prevista nos arts.
538 ao 564, que em seu art. 538 diz o seguinte: Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Nesse sentido, a doação por ser ato unilateral, à título gratuito e de forma expressa, não comporta qualquer tipo de restrição, desde que o doador seja considerado pessoa capaz para tanto, o objeto seja lícito, juridicamente possível ou determinado ou determinável e haja forma prescrita em lei, como bem é exigido nos termos do art. 104, incisos I ao III do Código Civil: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. O doador pode fazer a doação, tanto por escritura ou por documento particular, conforme consignado nos termos do art. 541 do Código Civil: Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Porém é considerada nula a doação em que a mesma for superior à metade do patrimônio de propriedade do doador e que obrigatoriamente tenha que constar em testamento ou na sucessão de bens através de inventário, conforme transcrito no art. 549 do Código Civil: Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Deve-se levar em conta que a doação se torna inoficiosa quando não houver contemplação de um dos herdeiros ou cônjuge sobrevivente na parte que lhes cabe na legitima, podendo ser a mesma decretada nula via judicial. No entanto, se houver doação para mais de um herdeiro e estes forem contemplados em vida pelo doador, considera-se a meação dos bens feita de forma igualitária entre os herdeiros, conforme deixa explicito o art. 551 do Código Civil, que diz o seguinte: Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual. Segundo FÁBIO ULHOA COELHO (2012, pág. 205): A doação feita por quem tem herdeiros necessários que excede o percentual passível de disposição por testamento é chamada inoficiosa. Ela é nula na parte excedente. Veja que ao contrário do preceito atinente à doação da totalidade dos bens do doador, que fulmina de nulidade o negócio jurídico por completo, o referente à liberalidade de quem tem herdeiros necessários invalida apenas o excesso. O donatário continua titular de alguns dos bens doados, ou de parte do valor deles – a parcela da doação que não ofende a legítima. (COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito civil: Volume 3. 5. ed. São Paulo : Saraiva, 2012. Pág. 205) Segundo este mesmo autor, a respeito do doador, “não interessa se, posteriormente, ele empobreceu e veio a falecer titulando bens em valor inferior aos que doara. Se na data do contrato de doação, foi respeitada a legítima, a liberalidade é válida e eficaz” (2012, pág. 205). Ou seja: se a lei brasileira coloca que o donatário não pode ser prejudicado pelo empobrecimento do doador, devendo este ter a segurança quanto à extensão de seu patrimônio, sem esperar pelo falecimento do doador. A limitação é uma forma de proteção dos direitos do doador e de terceiros. Por ser a doação feita diretamente para descendentes e companheira, pode ser entendida que os bens recebidos são adiantamento da parte que lhes cabe como herança, conforme previsão no art. 544 do Código Civil, que é transcrito logo abaixo: Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. Em caso de união estável, a companheira entra na sucessão havendo herdeiros somente do lado do autor da herança, concorrendo com estes a metade do espólio, conforme disposição expressa no inciso II do art. 1.790 do Código Civil, que expõem da seguinte forma: Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694) [...]; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; Se a união estável for meramente de fato, regula-se o regime de comunhão parcial de bens, conforme o disposto no art. 1.658 do Código Civil. Mas se houver contrato escrito regulamentando a união estável, é inaplicável a disposição do regime de comunhão parcial de bens, valendo o disposto no contrato, conforme disposição expressa na primeira parte do art. 1.725 do Código Civil que diz o seguinte: Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. Ainda que haja disposição expressa em cláusula contratual pelo regime de separação total de bens, ainda assim pode ser considerada nula se esta comportar em renúncia da herança ou de direito real de habitação, conforme disposição do art. 426 do Código Civil: Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Isso porque o art. 1.829, inciso I, c.c. art. 1.832, ambos do Código Civil, garantem à cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, participar da sucessão, sendo neste caso, em igualdade de condições com os descendentes: Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694) I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; A totalidade de bens doados pelo doador no presente caso, constituem- se dos seguintes: BENS MÓVEIS E VALOR TOTAL VALOR DO DONATÁRIOS IMÓVEIS DO ADIANTAMENTO DOADOR DA LEGITIMA
20.827.000 quotas R$ 21.243.540,00 R$ 21.243.540,00 ANDRÉ VALIÑAS
de participação CARPINTERO E societária, sendo de PAULO VALIÑAS valor unitário cada CARPINTERO quota em R$ 1,02, VILLAVERDE avaliadas na quantia total de R$ 21.243.540,00 e que representa 50% dos bens do doador – doação em 03/03/2011
Apartamento situado R$ 1.402.690,00 R$ 1.402.690,00 MARCIA
na Rua Itacolomy n. ANGÉLICA 625, apto. 181, PESSOA bairro Consolação, em São Paulo/SP – doação em 30/10/2012 TOTAL R$ 22.646.230,00
Já o valor total dos bens de propriedade do doador constituem-se dos
seguintes:
IMÓVEL VALOR DO IMÓVEL VALOR DA FRAÇÃO
IDEAL DO IMÓVEL
50% (cinquenta por R$ 10.000.000,00 R$ 5.000.000,00
cento) do imóvel localizado na Rua Rio de Janeiro, nº 274, 3º andar, Higienópolis, nesta Capital do Estado de São Paulo (objeto da Matrícula nº 10.194, do 5º Cartório do Registro de Imóveis da Cidade de São Paulo)
100% de cobertura R$ 4.053.403,00 R$ 4.053.403,00
comercial no Edifício Veranda, com endereço Rua Ribeiro do Vale, nº 152, 20º andar, Brooklin Paulista, São Paulo/SP, objeto das Matrículas 228.092, 228.093, 228.094, 228.095, 228.096, 228.097, 228.098 do 15º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo
50% (cinquenta por R$ 1.200.000,00 R$ 600.000,00
cento) do apartamento localizado na Rua Gilberto Glasser, nº 582, apartamento 64-A, na Cidade do Guarujá, Estado de São Paulo (objeto da Matrícula nº 40.891, do Cartório de Registro de Imóveis da Cidade do Guarujá)
50% (cinquenta por R$ 480.000,00 R$ 240.000,00
cento) do apartamento localizado na Rua João Ramalho, nº 324, apartamento nº 161, 16º andar, Perdizes, nesta Capital do Estado de São Paulo (objeto da Matrícula nº 54.703, do 2º Cartório do Registro de Imóveis da Cidade de São Paulo)
100% de apartamento R$ 480.000,00 R$ 480.000,00
localizado na Rua João Ramalho, nº 324, apartamento nº 161, 16º andar, Perdizes, nesta Capital do Estado de São Paulo (objeto da Matrícula nº 54.703, do 2º Cartório do Registro de Imóveis da Cidade de São Paulo)
TOTAL R$ 10.373.403,00
Se compararmos o valor dos imóveis em posse do doador e o valor das
quotas doadas em favor dos herdeiros necessários (ANDRÉ VILEÑAS CARPINTERO e PAULO VILEÑAS CARPINTERO VILLAVERDE), bem como a doação dada em nome da convivente MARCIA ANGELICA PESSOA, a diferença será de R$ 12.272.827,00 entre o patrimônio do doador e os bens doados, ou seja, há uma diferença de 52,2% a mais como excedente entre o patrimônio doado em relação aos bens do doador. Em caso de óbito, o valor excedente do adiantamento da legitima deverá retornar ao espólio e consequentemente partilhado de forma igualitária entre os herdeiros e a cônjuge, inclusive o imóvel doado pelo doador em favor da convivente atual. Porém, se levar em consideração o patrimônio do doador, mais o apartamento doado em favor de sua companheira (cujo valor venal de referência descritiva pela Prefeitura de São Paulo é de R$ 1.402.690,00), o valor excederia a legitima em mais de 55,44%. Nesse sentido, as quotas sociais representam 44,46% do total da legitima adiantada para os herdeiros.
CONCLUSÃO
Por todo o exposto, opino pelos seguintes termos abaixo transcritos:
A. A doação 100% de cobertura comercial no Edifício Veranda, com
endereço Rua Ribeiro do Vale, nº 152, 20º andar, Brooklin Paulista, São Paulo/SP, constitui-se em risco de causar nulidade da doação das quotas sociais feitas por MANUEL em favor de seus filhos ANDRÉ (consulente) e seu irmão PAULO, diminuindo o patrimônio do genitor em 40% em caso de eventual sucessão; B. Não havendo a doação do imóvel, constando todos os bens imóveis em nome do doador, mais o imóvel doado a convivente em 2012 e que reside a mesma na rua Itacolomi, 625, apto. 181, bairro Consolação, o patrimônio do doador superaria em porcentagem o adiantamento da legitima a favor dos herdeiros, correspondendo no total de 55,44%; C. O único questionamento possível seria o de decretação da nulidade da doação pela convivente que ainda possui direito a herdar os bens do doador, mas em igualdade com os demais herdeiros, já que não é está excluída da sucessão (art. 1.832, CC) se caso houver a doação do imóvel comercial sito Rua Ribeiro do Vale, nº 152; D. Não havendo a doação, tanto PAULO quanto ANDRÉ poderão questionar a doação feita em nome da companheira atual em caso de possível sucessão, tornando inoficiosa a doação feita por MANUEL a sua companheira. É, portanto, esta a conclusão deste parecerista quanto ao tema acima consultado, devendo o mesmo ficar à disposição do interessado para a adoção das medidas cabíveis que entender necessário e que sejam de Direito.