Eureka 43-1

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Eureka!

N° 43
OBM - Olimpíada Brasileira de Matemática

Janeiro - 2024
Sociedade Brasileira de Matemática - SBM
Presidente: Jaqueline Godoy Mesquita.

Apoio:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Comissão Nacional de Olimpíada de Matemática da SBM


Estrada Dona Castorina 110, Jardim Botânico, Rio de Janeiro -RJ CEP 22460-320
Telefone: (21) 2529-5077
e-mail: [email protected] Página eletrônica: www.obm.org.br

Coordenadores:
Carlos Gustavo Tamm de Araújo Moreira, Edmilson Luis Rodrigues Motta

Membros da Comissão:
Alex Corrêa Abreu, Antônio Cardoso do Amaral, Carlos Yuzo Shine, Carlos Alexandre Gomes da
Silva, Carmen Vieira Mathias, Cícero Thiago Magalhães, Eduardo Tengan, Eduardo Wagner, Élio
Mega, Emiliano Augusto Chagas, Fabio Enrique Brochero Martínez, Fabricio Siqueira Benevides,
Francisco Bruno Holanda, Frederico Vale Girão, Krerley Irraciel Oliveira, Kellem Corrêa Santos,
Luciano Guimarães Monteiro de Castro, Marcelo Xavier de Mendonça, Maria João Lima Soares de
Resende, Nicolau Corção Saldanha, Onofre Campos da Silva Farias, Pablo Rodrigo Ganassim, Ralph
Costa Teixeira, Régis Prado Barbosa, Rodrigo Villard Milet, Samuel Barbosa Feitosa, Tertuliano
Franco Santos Franco, Washington Alves, Yoshiharu Kohayakawa, Yuri Lima.

Comissão júnior:
Adenilson Arcanjo de Moura Júnior, Alan Anderson Silva Pereira, Ana Karoline Borges Carneiro,
André Macieira Braga Costa, Andrey Jhen Shan Chen, Davi Lima, Davi Lopes Alves de Medeiros,
Deborah Barbosa Alves, Diego Eloi Misquita Gomes, George Lucas Diniz Alencar, Gustavo Lisboa
Empinotti, Israel Franklin Dourado Carrah, Jorge Henrique Craveiro de Andrade, José Armando
Barbosa Filho, Luíze Mello D´Urso Vianna, Matheus Secco Torres da Silva (coordenador), Murilo
Vasconcelos de Andrade, Rafael Filipe dos Santos, Rafael Kazuhiro Miyazaki, Raphael Mendes de
Oliveira, Renan Henrique Finder, Thiago Barros Rodrigues Costa.

Editores Responsáveis:
Carlos Alexandre Gomes da Silva. Desenho da Capa:
Carlos Gustavo Tamm de Araújo Moreira. Carolina Fontenelle de Mello Souza.
Fábio Enrique Brochero Martinez. Daniel Assunção Andrade.

Digitação e Figuras: Diagramação Final:


Carlos Alexandre Gomes da Silva Carlos Alexandre Gomes da Silva.
Carlos Augusto David Ribeiro.
Tiragem:
3000 exemplares

EUREKA! 43, 2024 - ISSN 1415-479X

Os artigos assinados são da responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução de artigos, desde
que seja citada a fonte.
Sumário

57th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2016 1

58th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2017 4

59th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2018 7

60th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2019 9

61th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2020 11

62th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2021 13

63th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2022 15

64th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2023 17

Artigo: Permutações Caóticas Generalizadas 20

Artigo: Transformações Geométricas na OBM 28

Artigo: Teorema de Casey, a ida e a volta 44

Artigo: Pontos que se movem! 61

Artigo: Racionalizando o Logotipo da OBM 78

Olimpíadas ao redor do mundo 100

Problemas propostos e soluções 102

Solução dos Problemas Propostos Eureka! 37 102


ii SUMÁRIO

Solução dos Problemas Propostos Eureka! 39 107

Coordenadores regionais 116


Aos leitores

Eureka 43! É com esse espírito de descoberta e entusiasmo que apresentamos


à comunidade olímpica mais uma edição da nossa revista. Os últimos anos têm
sido transformadores para diversos setores e hábitos da nossa sociedade. Com a
comunidade olímpica não tem sido diferente. O fácil acesso ao conhecimento, o
aumento do número de materiais, sejam notas de aulas, livros, vídeos, entre tantos
outros, vêm mudando completamente a velocidade e os hábitos de aprendizado
de todos nós, especialmente do público mais jovem. Mesmo diante de todas essas
mudanças, a comunidade olímpica mantém o seu interesse e expectativa pela
continuidade da Eureka!, que desde sua origem sempre se mostrou como um
importante canal de comunicação e aprendizado para toda a comunidade olímpica,
especialmente a brasileira. Nesta edição estamos retomando a publicação de
artigos trazendo temas de interesse da comunidade olímpica e também algumas
outras seções de enorme aceitação em épocas anteriores, como Olimpíadas ao
redor do mundo, onde levamos ao leitor a conhecer um pouco de belos problemas
que apareceram em competições matemáticas pelo mundo afora. Acreditamos
que dessa forma alguns estudantes (especialmente os menos experientes) possam
conhecer um pouco de outras competições matemáticas e sentir-se estimulados
em bucar mais sobre elas por conta própria. Além disso, abrimos a presente
edição com os enunciados dos problemas propostos nas últimas oito edições da
IMO-International Mathematical Olympiad (de 2016 a 2023) e os resultados alcan-
çados pelas equipes brasileiras. Nas próximas edições inauguraremos outras seções
com sugestões de materiais, aulas, vídeos e resenhas de livros e retomaremos a
seção "Como faz?", onde publicaremos respostas de problemas e questionamentos
enviados por nossos leitores.

Esperamos que a comunidade olímpica sinta-se estimulada e continue, com o


entusiasmo de sempre, contribuindo para a manutenção desse importante canal de
comunicação que é a nossa revista Eureka! Problemas, soluções, sugestões, artigos
são muito bem vindos. Para enviá-los basta seguir as instruções publicadas em
nosso endereço eletrônico https://www.obm.org.br/ ou escrever para

[email protected]
O presente número da Eureka! foi editado pelos professores Carlos Alexandre
Gomes da Silva - DMAT-UFRN, Carlos Gustavo Tamm de Araújo Moreira -
IMPA-RJ, Fábio Enrique Brochero Martinez - DMAT-UFMG. Não podemos
deixar de registrar aqui o enorme esforço de todos os membros da Comissão
iv SUMÁRIO

nacional de Olimpíadas de Matemática e de muitos ex-olímpicos que continuam


com o mesmo entusiasmo de sempre, sem os quais essa publicação não poderia se
tornar realidade. Agradecemos especialmente ao professor Carlos Augusto David
Ribeiro (UFDPar), pelo importante trabalho de revisão desta edição.

Saudações Olímpicas!
Os editores.
57th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2016

Vamos abrir esta edição da Eureka! trazendo os enunciados do problemas


propostos nas últimas 8 edições da IMO - Olimpíada internacional de Matemática,
e os resultados das equipes brasileiras no período de 2016 a 2023. As soluções
dos problemas podem ser encontradas em diversos sites, como por exemplo,

https://artofproblemsolving.com/wiki/index.php/IMO_Problems_and_
Solutions

Enunciados - IMO 2016 - Hong Kong.


PRIMEIRO DIA

Problema 1. O triângulo BCF é retângulo em B. Seja A o ponto da reta CF


tal que FA = FB e que F esteja entre A e C. Escolhe-se o ponto D de modo que
DA = DC e que AC seja a bissetriz do ângulo ∠DAB. Escolhe-se o ponto E de
modo que EA = ED e que AD seja a bissetriz do ângulo ∠EAC. Seja M o ponto
médio de CF. Seja X o ponto tal que AMXE seja um paralelogramo (com AM∥EX
e AE∥MX). Demonstre que as retas BD, FX e ME são concorrentes.

Problema 2. Determine todos os inteiros positivos n tais que pode-se preencher


cada casa de um tabuleiro n × n com uma das letras I, M e O de tal forma que
ambas as condições seguintes sejam satisfeitas:

• em cada linha e em cada coluna, exatamente um terço das casas tenha um


I, um terço tenha um M e um terço tenha um O;

• em cada diagonal formada por um número de casas que seja múltiplo de


3, exatamente um terço das casas tenha um I, um terço tenha um M e um
terço tenha um O.

Observação 1. As linhas e as colunas de um tabuleiro n × n são numeradas


de 1 a n. Assim, cada casa corresponde a um par de inteiros positivos (i, j) com
1 ⩽ i, j ⩽ n. Para n > 1, o tabuleiro tem 4n − 2 diagonais de dois tipos. Uma
diagonal do primeiro tipo é formada por todas as casas (i, j) para as quais i + j
é igual a uma constante. Uma diagonal do segundo tipo é formada por todas as
casas (i, j) para as quais i − j é igual a uma constante.

Problema 3. Seja P = A1 A2 . . . Ak um polígono convexo no plano. Os vértices


A1 , A2 , . . . , Ak têm coordenadas inteiras e pertencem a uma circunferência. Seja
2 57th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2016

S a área de P. Seja n um inteiro positivo ímpar tal que os quadrados dos


comprimentos dos lados de P sejam todos números inteiros divisíveis por n.
Demonstre que 2S é um inteiro divisível por n.

SEGUNDO DIA

Problema 4. Um conjunto de números inteiros positivos é chamado fragante


se contém pelo menos dois elementos e cada um de seus elementos tem algum
fator primo em comum com pelo menos um dos elementos restantes. Seja P(n) =
n2 + n + 1. Determine o menor número inteiro positivo b para o qual exista
algum número inteiro não negativo a tal que o conjunto

{P(a + 1), P(a + 2), . . . , P(a + b)}


seja fragante.
Problema 5. No quadro está escrita a equação

(x − 1)(x − 2) · · · (x − 2016) = (x − 1)(x − 2) · · · (x − 2016)


que tem 2016 fatores lineares de cada lado. Determine o menor valor possível
de k para o qual é possível apagar exatamente k destes 4032 fatores lineares, de
modo que fique pelo menos um fator de cada lado e que a equação resultante não
admita nenhuma solução real.
Problema 6. Há n ⩾ 2 segmentos no plano tais que cada par de segmentos
se intersecta num ponto interior a ambos e não há três segmentos que tenham
um ponto em comum. Geoff deve escolher um dos extremos de cada segmento e
colocar sobre ele um sapo, virado para o outro extremo. Depois ele baterá palmas
n − 1 vezes. Cada vez que ele bater as mãos, cada sapo saltará imediatamente
para a frente até o próximo ponto de interseção sobre o seu segmento. Os sapos
nunca mudam a direção dos seus saltos. Geoff deseja colocar os sapos de tal forma
que dois sapos nunca ocupem ao mesmo tempo o mesmo ponto de interseção.
(a) Prove que se n é ímpar, Geoff sempre tem uma maneira de realizar o seu
desejo.
(b) Prove que se n é par, Geoff nunca realiza o seu desejo.
3

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2016

Líder: Nicolau C. Saldanha.


Vice-líder: Samuel Barbosa Feitosa.

Nome Cidade - Estado Premiação


João César Campos Vargas São Paulo-SP Prata
Andrey Jhen Shan Chen Valinhos-SP Prata
Daniel Lima Braga Eusébio-CE Prata
Pedro Henrique S. de Oliveira São Paulo-SP Prata
Gabriel Toneatti Vercelli Osasco-SP Prata
George Lucas Diniz Alencar Fortaleza-CE Bronze
58th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2017

Enunciados - IMO 2017 - Rio de Janeiro, Brasil.


PRIMEIRO DIA

Problema 1. Para cada inteiro a0 > 1, define-se a sequência a0 , a1 , a2 , . . . tal


que, para cada n ≥ 0:
√ √
an , se an é inteiro,
an+1 =
an + 3, caso contrário.

Determine todos os valores de a0 para os quais existe um número A tal que


an = A para infinitos valores de n.
Problema 2. Seja R o conjunto dos números reais. Determine todas as funções
f : R → R tais que, para quaisquer números reais x e y,

f(f(x)f(y)) + f(x + y) = f(xy).

Problema 3. Um coelho invisível e um caçador jogam da seguinte forma no


plano euclidiano. O ponto de partida A0 do coelho e o ponto de partida B0 do
caçador são iguais. Depois de n − 1 rodadas do jogo, o coelho encontra-se no
ponto An−1 e o caçador encontra-se no ponto Bn−1 . Na n-ésima rodada do jogo,
ocorrem três coisas na seguinte ordem:

(i) O coelho move-se de forma invisível para um ponto An tal que a distância
entre An−1 e An é exatamente 1.
(ii) Um aparelho de localização informa um ponto Pn ao caçador. A única
informação garantida pelo aparelho ao caçador é que a distância entre Pn e
An é menor ou igual a 1.

(iii) O caçador move-se de forma visível para um ponto Bn tal que a distância
entre Bn−1 e Bn é exatamente 1.
É sempre possível que, qualquer que seja a maneira em que se mova o coelho e
quaisquer que sejam os pontos informados pelo aparelho de localização, o caçador
possa escolher os seus movimentos de modo que depois de 109 rodadas o caçador
possa garantir que a distância entre ele e o coelho seja menor ou igual que 100?
5

SEGUNDO DIA

Problema 4. Sejam R e S pontos distintos sobre a circunferência Ω tais que RS


não é um diâmetro de Ω. Seja ℓ a reta tangente a Ω em R. O ponto T é tal que
S é o ponto médio do segmento RT . O ponto J escolhe-se no menor arco RS de Ω
de maneira que Γ , a circunferência circunscrita ao triângulo JST , interseta ℓ em
dois pontos distintos. Seja A o ponto comum de Γ e ℓ mais próximo de R. A reta
AJ interseta pela segunda vez Ω em K. Demonstre que a reta KT é tangente a Γ .
Problema 5. Seja N ≥ 2 um inteiro dado. Um conjunto de N(N + 1) jogadores
de futebol, todos de diferentes alturas, colocam-se em fila. O treinador deseja
retirar N(N − 1) jogadores desta fila, de modo que a fila que sobra formada pelos
2N jogadores restantes satisfaça as N condições seguintes:

(1) Não resta ninguém entre os dois jogadores mais altos.


(2) Não resta ninguém entre o terceiro jogador mais alto e o quarto jogador
mais alto.
..
.

(N) Não resta ninguém entre os dois jogadores mais baixos.


Demonstre que isto é sempre possível.

Problema 6. Um par ordenado (x, y) de inteiros é um ponto primitivo se o


máximo divisor comum entre x e y é 1. Dado um conjunto finito S de pontos
primitivos, demonstre que existem um inteiro positivo n e inteiros a0 , a1 , . . . , an
tais que, para cada (x, y) de S, se verifica:

a0 xn + a1 xn−1 y + a2 xn−2 y2 + . . . + an−1 xyn−1 + an yn = 1.


6 58th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2017

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2017

Líder: Krerley Irraciel Martins Oliveira.


Vice-líder: Frederico Vale Girão.

Nome Cidade - Estado Premiação


João César Campos Vargas Passa Tempo-MG Prata
Davi Cavalcanti Sena Fortaleza-CE Prata
George Lucas Diniz Alencar Fortaleza-CE Bronze
André Yuji Hisatsuga Belo São Paulo-SP Menção honrosa
Bruno Brasil Meinhart Fortaleza-CE Menção honrosa
Pedro Henrique S. de Oliveira São Paulo-SP Menção honrosa
59th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2018

Enunciados - IMO 2018 - Cluj-Napoca, Romênia.


PRIMEIRO DIA

Problema 1. Seja Γ o circuncírculo do triângulo acutângulo ABC. Os pontos D


e E estão sobre os segmentos AB e AC, respectivamente, de modo que AD = AE.
As mediatrizes de BD e CE intersectam os arcos menores AB e AC de Γ nos
pontos F e G, respectivamente. Prove que as retas DE e FG são paralelas (ou são
a mesma reta).

Problema 2. Determine todos os inteiros n ≥ 3 para os quais existem números


reais a1 , a2 , . . . , an+2 , tais que an+1 = a1 , an+2 = a2 e

ai ai+1 + 1 = ai+2

para i = 1, 2, . . . , n.

Problema 3. Um triângulo anti-Pascal é uma disposição de números em forma


de triângulo equilátero tal que, exceto para os números na última linha, cada
número é o módulo da diferença entre os dois números imediatamente abaixo dele.
Por exemplo, a seguinte disposição de números é um triângulo anti-Pascal com
quatro linhas que contém todos os inteiros de 1 até 10.

4
2 6
5 7 1
8 3 10 9
Determine se existe um triângulo anti-Pascal com 2018 linhas que contenha
todos os inteiros de 1 até 1 + 2 + · · · + 2018.

SEGUNDO DIA

Problema 4. Um local é um ponto (x, y) no plano tal que x e y são ambos


inteiros positivos menores ou iguais a 20.
Inicialmente, cada um dos 400 locais está vazio. Ana e Beto colocam pedras
alternadamente com Ana a iniciar. Na sua vez, Ana coloca uma nova pedra
vermelha num local vazio tal que a distância
√ entre quaisquer dois locais ocupados
por pedras vermelhas seja diferente de 5. Na sua vez, Beto coloca uma nova
8 59th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2018

pedra azul em qualquer local vazio. (Um local ocupado por uma pedra azul pode
estar a qualquer distância de outro local ocupado.) Eles param quando um dos
jogadores não pode colocar uma pedra.

Determine o maior K tal que Ana pode garantir que ela coloca pelo menos K
pedras vermelhas, não importando como Beto coloca suas pedras azuis.
Problema 5. Sejam a1 , a2 , . . . uma sequência infinita de inteiros positivos.
Suponha que existe um inteiro N > 1 tal que, para cada n ≥ N, o número
a1 a2 an−1 an
+ + ··· + +
a2 a3 an a1
é um inteiro. Prove que existe um inteiro positivo M tal que am = am+1 para
todo m ≥ M.
Problema 6. Um quadrilátero convexo ABCD satisfaz AB · CD = BC · DA. O
ponto X está no interior de ABCD de modo que

∠XAB = ∠XCD e ∠XBC = ∠XDA.



Prove que ∠BXA + ∠DXC = 180 .

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2018

Líder: Régis Prado Barbosa.


Vice-líder: José Armando Barbosa Filho.

Nome Cidade - Estado Premiação


Pedro Lucas Lanaro Sponchiado Sâo Paulo-SP Ouro
Bruno Brasil Meinhart Fortaleza-CE Bronze
Pedro Gomes Cabral Recife-PE Bronze
Bernardo Peruzzo Trevizan São Paulo-SP Bronze
André Yuji Hisatsuga São Paulo-SP Bronze
Lucas Hiroshi H. Harada São Paulo-SP Menção honrosa
60th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2019

Enunciados - IMO 2019 - Bath, Reino Unido.


PRIMEIRO DIA

Problema 1. Seja Z o conjunto dos números inteiros. Determine todas as


funções f : Z → Z tais que, para quaisquer inteiros a e b,

f(2a) + 2f(b) = f(f(a + b)).


Problema 2. No triângulo ABC, o ponto A1 está no lado BC e o ponto B1 está
no lado AC. Sejam P e Q pontos nos segmentos AA1 e BB1 , respectivamente,
tal que PQ é paralelo a AB. Seja P1 um ponto na reta PB1 , tal que B1 está
estritamente entre P e P1 e ∠PP1 C = ∠BAC. Analogamente, seja Q1 um ponto
na reta QA1 , tal que A1 está estritamente entre Q e Q1 e ∠CQ1 Q = ∠CBA.

Prove que os pontos P, Q, P1 e Q1 são concíclicos.


Problema 3. Uma rede social possui 2019 usuários, alguns deles são amigos.
Sempre que o usuário A é amigo do usuário B, o usuário B também é amigo do
usuário A. Eventos do seguinte tipo podem acontecer repetidamente, um de cada
vez:
Três usuários A, B e C tais que A é amigo de B e A é amigo de C, mas B e
C não são amigos, mudam seus estados de amizade de modo que B e C agora são
amigos, mas A deixa de ser amigo de B e A deixa de ser amigo de C. Todos os
outros estados de amizade não são alterados.
Inicialmente, 1010 usuários possuem exatamente 1009 amigos cada e 1009
usuários possuem exatamente 1010 amigos cada. Prove que existe uma sequência
de tais eventos tal que, após essa sequência, cada usuário é amigo de no máximo
um outro usuário.

SEGUNDO DIA

Problema 4. Encontre todos os pares (k, n) de inteiros positivos tais que

k! = (2n − 1) (2n − 2) (2n − 4) · · · 2n − 2n−1




Problema 5. O Banco de Bath emite moedas com um H num lado e um T


no outro. Harry possui n dessas moedas colocadas em linha, ordenadas da
esquerda para a direita. Ele repetidamente realiza a seguinte operação: se há
10 60th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2019

exatamente k > 0 moedas mostrando H, então ele vira a k-ésima moeda contada
da esquerda para a direita; caso contrário, todas as moedas mostram T e ele
para. Por exemplo, se n = 3 o processo começando com a configuração THT é
THT → HHT → HTT → TTT , que acaba depois de três operações.

(a) Mostre que, para qualquer configuração inicial, Harry para após um número
finito de operações.
(b) Para cada configuração inicial C, seja L(C) o número de operações antes de
Harry parar. Por exemplo, L(THT ) = 3 e L(TTT ) = 0. Determine a média
de L(C) sobre todas as 2n possíveis configurações iniciais C.
Problema 6. Seja I o incentro do triângulo acutângulo ABC com AB ̸= AC.
A circunferência inscrita (incírculo) ω de ABC é tangente aos lados BC, CA e
AB nos pontos D, E e F, respectivamente. A reta que passa por D perpendicular
a EF intersecta ω novamente em R. A reta AR intersecta ω novamente em P.
As circunferências circunscritas (circuncírculos) dos triângulos PCE e PBF se
intersectam novamente no ponto Q.
Prove que as retas DI e PQ se intersectam sobre a reta que passa por A
perpendicular a AI.

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2019

Líder: Edmilson Motta.


Vice-líder: Carlos Yuzo Shine.

Nome Cidade - Estado Premiação


Samuel Prieto Lima Fortaleza-CE Prata
Pedro Gomes Cabral Fortaleza-CE Prata
Bernardo Peruzzo Trevizan São Paulo-SP Bronze
Pedro Lucas Lanaro Sponchiado São Paulo-SP Bronze
Guilherme Zeus Dantas e Moura Maricá-RJ Bronze
Felipe Chen Wu Rio de Janeiro-RJ Bronze
61th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2020

Enunciados - IMO 2020 - São Petersburgo, Rússia.


PRIMEIRO DIA

Problema 1. Considere o quadrilátero convexo ABCD. O ponto P está no


interior de ABCD. Verificam-se as seguintes igualdades entre razões:

∠PAD : ∠PBA : ∠DPA = 1 : 2 : 3 = ∠CBP : ∠BAP : ∠BPC.


Prove que as três seguintes retas se intersetam num ponto: as bissetrizes
internas dos ângulos ∠ADP e ∠PCB e a mediatriz do segmento AB.
Problema 2. Problema 2. Os números reais a, b, c, d são tais que a ≥ b ≥ c ≥
d > 0 e a + b + c + d = 1. Prove que

(a + 2b + 3c + 4d)aa bb cc dd < 1.
Problema 3. Temos 4n pedras com pesos 1, 2, 3, . . . , 4n. Cada pedra está colorida
com uma de n cores e há quatro pedras de cada cor. Mostre que podemos organizar
as pedras em dois grupos de modo que as seguintes condições são ambas satisfeitas:
• Os pesos totais dos dois grupos são iguais.
• Cada grupo contém duas pedras de cada cor.

SEGUNDO DIA

Problema 4. Seja n > 1 um inteiro. Na encosta de uma montanha existem n2


estações, todas com diferentes altitudes. Duas companhias de teleféricos, A e B,
operam k teleféricos cada uma. Cada teleférico faz a viagem de uma estação para
uma de maior altitude (sem paragens intermédias). Os k teleféricos de A partem
de k estações diferentes e terminam em k estações diferentes; além disso, se um
teleférico parte de uma estação de maior altitude do que a de partida de outro,
também termina numa estação de maior altitude do que a de chegada desse outro.
A companhia B satisfaz as mesmas condições. Dizemos que duas estações estão
ligadas por uma companhia se podemos começar na estação com menor altitude e
chegar à de maior altitude usando um ou mais teleféricos dessa companhia (não
são permitidos quaisquer outros movimentos entre estações).
Determine o menor inteiro positivo k que garante que existam duas estações
ligadas por ambas as companhias.
12 61th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2020

Problema 5. Temos um baralho de n > 1 cartas, com um inteiro positivo


escrito em cada carta. O baralho tem a propriedade de que a média aritmética
dos números escritos em cada par de cartas é também a média geométrica dos
números escritos nalguma coleção de uma ou mais cartas.
Para que valores de n podemos concluir que os números escritos nas cartas são
todos iguais?
Problema 6. Prove que existe uma constante positiva c para a qual a seguinte
afirmação é verdadeira:
Considere um inteiro n > 1, e um conjunto S de n pontos no plano tal que
a distância entre quaisquer dois pontos diferentes de S é pelo menos 1. Então
existe uma reta ℓ que separa S tal que a distância de qualquer ponto de S a ℓ é
pelo menos cn−1/3 .

(Uma reta ℓ separa um conjunto de pontos S se existe algum segmento com


extremos em dois pontos de S que interseta ℓ.)

Nota. A resultados mais fracos obtidos substituindo cn−1/3 por cn−α podem
ser atribuídos pontos dependendo do valor da constante α > 1/3.

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2020

Líder: Carlos Gustavo Tamm de Araújo Moreira.


Vice-líder: Matheus Secco Torres da Silva.

Nome Cidade - Estado Premiação


Pedro Gomes Cabral Fortaleza-CE Ouro
Bernardo Peruzzo Trevizan Sâo Paulo-SP Prata
Guilherme Zeus Dantas e Moura Maricá-RJ Prata
Francisco Moreira M. Neto Fortaleza-CE Prata
Gabriel Ribeiro Paiva Fortaleza-CE Prata
Pablo Andrade Carvalho Barros Teresina-PI Prata
62th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2021

Enunciados - IMO 2021 - São Petersburgo, Rússia.


PRIMEIRO DIA

Problema 1. Seja n ⩾ 100 um inteiro. O Ivan escreve cada um dos números


n, n + 1, . . . , 2n numa carta diferente. Depois de baralhar estas n + 1 cartas,
divide-as em dois montes. Prove que pelo menos um desses montes contém duas
cartas tais que a soma dos seus números é um quadrado perfeito.
Problema 2. Mostre que a desigualdade

X
n X
n q X
n X
n q
|xi − xj | ⩽ |xi + xj |
i=1 j=1 i=1 j=1

é satisfeita por todos os números reais x1 , . . . , xn .


Problema 3. Seja D um ponto interior de um triângulo acutângulo ABC, com
AB > AC, tal que ∠DAB = ∠CAD. O ponto E, no segmento AC, satisfaz
∠ADE = ∠BCD; o ponto F, no segmento AB, satisfaz ∠FDA = ∠DBC e o
ponto X, na reta AC, satisfaz CX = BX. Sejam O1 e O2 os circuncentros dos
triângulos ADC e EXD, respetivamente. Prove que as retas BC, EF e O1 O2 são
concorrentes.

SEGUNDO DIA

Problema 4. Sejam Γ uma circunferência com centro I e ABCD um quadrilátero


convexo tal que cada um dos segmentos AB, BC, CD e DA é tangente a Γ . Seja
Ω a circunferência circunscrita do triângulo AIC. O prolongamento de BA para
além de A interseta Ω em X, e o prolongamento de BC para além de C interseta
Ω em Z. Os prolongamentos de AD e CD para além de D intersetam Ω em Y e
T , respetivamente. Prove que

AD + DT + TX + XA = CD + DY + YZ + ZC
Problema 5. Dois esquilos, Bushy e Jumpy, recolheram 2021 nozes para o
inverno. O Jumpy numera as nozes desde 1 até 2021 e escava 2021 pequenos
buracos no chão numa disposição circular à volta da sua árvore favorita. Na
manhã seguinte, o Jumpy observa que o Bushy colocou uma noz em cada buraco,
mas sem ter em conta a numeração. Não contente com isto, o Jumpy decide
14 62th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2021

reordenar as nozes realizando uma sequência de 2021 movimentos. No k-ésimo


movimento o Jumpy troca as posições das duas nozes adjacentes à noz com o
número k. Prove que existe um valor de k tal que, no k-ésimo movimento, as
nozes trocadas têm números a e b tais que a < k < b.

Problema 6. Sejam m ⩾ 2 um inteiro, A um conjunto finito de inteiros (não


necessariamente positivos) e B1 , B2 , B3 , . . . , Bm subconjuntos de A. Suponhamos
que, para cada k = 1, 2, . . . , m, a soma dos elementos de Bk é mk . Prove que A
contém pelo menos m/2 elementos.

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2021

Líder: Edmilson Motta.


Vice-líder: Davi Lopes Alves de Medeiros.

Nome Cidade - Estado Premiação


Marcelo Machado Lage Belo Horizonte-MG Prata
Olavo Paschoal Longo Sâo Paulo-SP Prata
Gabriel Ribeiro Paiva Fortaleza-CE Bronze
Pablo Andrade Carvalho Barros Teresina-PI Bronze
Gustavo Neves da Cruz Belo Horizonte-MG Bronze
Pedro de Oliveira L. Lack Nova Friburgo-RJ Menção honrosa
63th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2022

Enunciados - IMO 2022 - Oslo, Noruega


PRIMEIRO DIA

Problema 1. O Banco de Oslo emite dois tipos de moedas: moedas de alumínio


(denotadas por A ) e moedas de bronze (denotadas por B ). Marianne tem n
moedas de alumínio e n moedas de bronze, dispostas numa linha em alguma ordem
inicial arbitrária. Um bloco é qualquer subsequência de moedas consecutivas do
mesmo tipo. Dado um inteiro positivo fixo k ⩽ 2n, Marianne realiza repetidamente
a seguinte operação: ela identifica o bloco mais longo contendo a k-ésima moeda
da esquerda para a direita, e move todas as moedas desse bloco para o extremo
esquerdo da linha. Por exemplo, se n = 4 e k = 4, o processo começando com a
seguinte ordem AABBBABA seria

AABBBABA → BBBAAABA → AAABBBBA →


→ BBBBAAAA → BBBBAAAA → · · · .
Encontre todos os pares (n, k) com 1 ⩽ k ⩽ 2n tais que, para qualquer ordem
inicial, em algum momento durante o processo, as n moedas mais à esquerda
serão todas do mesmo tipo.

Problema 2. Seja R+ o conjunto dos números reais positivos. Encontre todas


as funções f : R+ → R+ tais que para cada x ∈ R+ , existe exatamente um
y ∈ R+ satisfazendo

xf(y) + yf(x) ⩽ 2.

Problema 3. Seja k um inteiro positivo e seja S um conjunto finito de números


primos ímpares. Prove que existe no máximo uma forma (a menos de rotação e
reflexão) de colocar os elementos de S ao redor de uma circunferência de modo
que o produto de quaisquer dois vizinhos é da forma x2 + x + k para algum inteiro
positivo x.

SEGUNDO DIA

Problema 4. Seja ABCDE um pentágono convexo tal que BC = DE. Suponha que
existe um ponto T no interior de ABCDE com TB = TD, TC = TE e ∠ABT = ∠TEA.
A reta AB intersecta as retas CD e CT nos pontos P e Q, respetivamente. Suponha
16 63th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2022

que os pontos P, B, A e Q aparecem na reta nesta ordem. A reta AE intersecta as


retas CD e DT nos pontos R e S, respectivamente. Suponha que os pontos R, E, A
e S aparecem na reta nesta ordem. Prove que os pontos P, S, Q e R estão sobre
uma circunferência.

Problema 5. Encontre todas as triplas (a, b, p) de inteiros positivos tais que p


é primo e

ap = b! + p

Problema 6. Seja n um inteiro positivo. Um quadrado Nórdico é um tabuleiro


n × n contendo todos os inteiros de 1 até n2 de modo que cada quadradinho
contém exatamente um número. Dois quadradinhos diferentes são considerados
adjacentes se eles têm um lado em comum. Um quadradinho que é adjacente
apenas a quadradinhos com números maiores é chamado de um vale. Um caminho
crescente é uma sequência de um ou mais quadradinhos tais que:

(i) o primeiro quadradinho da sequência é um vale,


(ii) cada quadradinho a partir do segundo é adjacente ao quadradinho anterior,
(ii) os números contidos nos quadradinhos da sequência estão em ordem cres-
cente.

Encontre, em função de n, a menor quantidade possível de caminhos crescentes


de um quadrado Nórdico.

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2022

Líder: Regis Prado Barbosa.


Vice-líder: Rafael Kazuhiro Miyazaki.

Nome Cidade - Estado Premiação


Olavo Paschoal Longo São Paulo-SP Ouro
Marcelo Machado Lage Belo Horizonte-MG Ouro
Rodrigo Salgado Domingos Porto Rio de Janeiro-RJ Prata
Eduardo Henrique R. do Nascimento São Paulo-SP Bronze
Gabriel C. V Torkomian São Carlos-SP Bronze
Joao Pedro R. V. Costa Fortaleza-CE Menção honrosa
64th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2023

Enunciados - IMO 2023 - Chiba, Japão.


PRIMEIRO DIA

Problema 1. Determine todos os números inteiros n > 1 compostos que satis-


fazem a seguinte propriedade: se d1 , d2 , . . . , dk são todos os divisores positivos
de n com 1 = d1 < d2 < · · · < dk = n, então di divide di+1 + di+2 para todo
1 ⩽ i ⩽ k − 2.

Problema 2. Seja ABC um triângulo acutângulo com AB < AC. Seja Ω o


circuncírculo de ABC. Seja S o ponto médio do arco CB de Ω contendo A. A reta
perpendicular a BC que passa por A intersecta o segmento BS em D e intersecta
Ω novamente em E ̸= A. A reta paralela a BC que passa por D intersecta a reta
BE em L. Denote o circuncírculo do triângulo BDL por ω. A circunferência ω
intersecta Ω novamente em P ̸= B.
Prove que a reta tangente a ω em P intersecta a reta BS num ponto sobre a
bissetriz interna de ∠BAC.

Problema 3. Para cada inteiro k ⩾ 2, determine todas as sequências infinitas


de inteiros positivos a1 , a2 , . . . para as quais existe um polinómio P da forma
P(x) = xk + ck−1 xk−1 + · · · + c1 x + c0 , em que c0 , c1 , . . . , ck−1 são inteiros não
negativos, tal que

P (an ) = an+1 an+2 · · · an+k


para todo inteiro n ⩾ 1.

SEGUNDO DIA

Problema 4. Sejam x1 , x2 , . . . , x2023 números reais positivos, distintos dois a


dois, tais que
s  
1 1 1
an = (x1 + x2 + · · · + xn ) + + ··· +
x1 x2 xn
é um inteiro para todo n = 1, 2, . . . , 2023. Prove que a2023 ⩾ 3034.

Problema 5. Seja n um inteiro positivo. Um triângulo japonês consiste em


1 + 2 + · · · + n círculos iguais formando um triângulo equilátero tal que para cada
18 64th IMO - Olimpíada Internacional de Matemática - 2023

i = 1, 2, . . . , n, a i-ésima linha contém exatamente i círculos, com exatamente


um deles pintado de vermelho. Um caminho ninja num triângulo japonês é
uma sequência de n círculos começando com o círculo da primeira linha e indo
sucessivamente de um círculo para um dos dois círculos imediatamente abaixo
dele e terminando na última linha. Na figura seguinte há um exemplo de um
triângulo japonês com n = 6, no qual há um caminho ninja contendo dois círculos
vermelhos.

Em função de n, encontre o maior k tal que em qualquer triângulo japonês


existe um caminho ninja contendo pelo menos k círculos vermelhos.
Problema 6. Seja ABC um triângulo equilátero. Sejam A1 , B1 , C1 pontos no
interior de ABC tais que BA1 = A1 C, CB1 = B1 A, AC1 = C1 B e

∠BA1 C + ∠CB1 A + ∠AC1 B = 480◦ .


As retas BC1 e CB1 se intersectam em A2 , as retas CA1 e AC1 se intersectam
em B2 e as retas AB1 e BA1 se intersectam em C2 .
Prove que, se o triângulo A1 B1 C1 é escaleno, então os três circuncírculos dos
triângulos AA1 A2 , BB1 B2 e CC1 C2 possuem dois pontos em comum.

Nota: um triângulo escaleno é um triângulo que não possui dois lados com a
mesma medida.
19

Resultado da equipe brasileira - IMO - 2023

Líder: Edmilson Motta.


Vice-líder: Samuel Barbosa Feitosa.

Nome Cidade - Estado Premiação


Matheus Alencar de Moraes Fortaleza-CE Ouro
Rodrigo Salgado D. Porto Rio de Janeiro-RJ Prata
Leonardo Henrique F. Maldonado Sorocaba-SP Prata
Luís Felipe Pestana Giglio Niterói-RJ Bronze
Eduardo Henrique R. do Nascimento Goiânia-GO Bronze
Felipe Makoto Shimamura Silva São Paulo-SP Bronze
Artigo: Permutações Caóticas Generalizadas

• Nível Avançado
Iesus C. Diniz, Bruno S. Góis e Juan R. Cruz
UFRN - Natal/RN

Introdução
Um problema já bem conhecido em combinatória é o do número permutações
caóticas de um conjunto A = {a1 , . . . , an } de n elementos, comumente representado
por Dn ou !n. Este problema foi proposto primeiramente por Pierre Raymond
de Montmort , [1] em 1708, e resolvido pelo próprio em 1713. Nicholas Bernoulli
também o resolveu, aproximadamente no mesmo período, usando o princípio da
inclusão e exclusão.
Uma permutação caótica dos elementos do conjunto A = {a1 , . . . , an } é o
conjunto das permutações dos elementos de A nas quais nenhum deles aparece em
sua posição inicial, ou de maneira mais formal, o conjunto das funções bijetivas
f : A → A tais que f(ai ) ̸= ai para todo i ∈ {1, . . . , n}. Sendo Cn o conjunto de
todas as permutações caóticas que Dn = #Cn (a cardinalidade de Cn ), em [2] é
dada uma expressão para o cálculo de Dn , ademais é mostrado que Dn é o inteiro
mais próximo de n! e .

X
n
(−1)j n!
 
Dn = n! e Dn = (1)
j! e
j=0

Exemplo 1. Sejam In := {1, . . . , n} o conjunto dos n primeiros inteiros positivos


e Cn de todas as permutações caóticas de In . Determine C4 e D4 .

Solução. Seja I4 = {1, 2, 3, 4}, tem-se portanto que

C4 = { (2, 1, 4, 3) , (2, 4, 1, 3) , (2, 3, 4, 1) , (3, 1, 4, 2) , (3, 4, 1, 2) , (3, 4, 2, 1) ,


(4, 3, 2, 1) , (4, 3, 1, 2) , (4, 1, 2, 3)} e D4 = 9.

Exemplo 2. Um técnico de futsal dispõe de um elenco de 8 jogadores de linha:


2 laterais esquerdo, 2 laterais direito, 2 fixos, 2 pivôs além de 2 goleiros. De
quantos modos o técnico pode escalar o time, se apenas o goleiro puder jogar em
sua posição natural?
Eureka! 43 21

Solução. Há 21 21 21 21 21 = 25 maneiras de se escolher os 4 jogadores de


    

linha e o goleiro que serão titulares, para cada uma destas escolhas, há uma
possibilidade de escalação do goleiro e D4 possibilidades para os jogadores de
linha. Assim, segue-se pelo princípio fundamental da contagem que há 25 × 1 × 9
possibilidades de escalação do time. Neste artigo generalizaremos o cálculo do
número de permutações caóticas Dn obtidos entre dois conjuntos de mesmos
elementos para dois conjuntos quaisquer. Denotaremos por Dkn o número de
permutações caóticas entre dois conjuntos A e A∗ de n elementos dos quais k
deles são não comuns aos dois conjuntos, isto é, |A ∩ A∗ | = n − k, para todo
k ∈ {1, . . . , n}. Existem duas soluções para este caso. A primeira delas será
demonstrada por indução a partir de uma recorrência, enquanto a segunda será
determinada por um argumento combinatório.

Teorema 1. Sejam A e A∗ dois conjuntos tais que |A ∩ A∗ | = n − k e |A| =


|A∗ | = n, então para todo k ∈ {0, . . . , n}

X
k  
k
Dkn = Dn−j . (2)
j
j=0

1. O valor de Dn é um caso particular da Eq. 2 com k = 0; pois se k = 0, então


A = A∗ e D0n é o número de permutações caóticas entre dois conjuntos de
mesmos elementos, ou seja, D0n = Dn ;

2. Se k = n, então os conjuntos A e A∗ não apresentam nenhum elemento em


comum, neste caso Dn n = n!.

Prova pelo princípio da indução finita


Sejam A e A∗ dois conjuntos tais que |A ∩ A∗ | = n − k e |A| = |A∗ | = n. Sem
perda de generalidades, consideremos

A = {1, . . . , k, k + 1, . . . , n} e A∗ = {1∗ , . . . , k∗ , k + 1, . . . , n} com

Dkn o número das permutações caóticas entre os elementos de A e A∗ .


Diferentemente do problema clássico das permutações caóticas, nos quais os
dois conjuntos continham os mesmos elementos, temos agora k elementos não
comuns aos dois conjuntos, e com isso há novas possibilidades de permutações
caóticas dos elementos entre os conjuntos A e A∗ .
Para todo i ∈ {1, . . . , k} seja Ai o conjunto das permutações caóticas nas quais
o elemento i∗ de A∗ ocupa a posição i.
22 Permutações Caóticas Generalizadas

O número de permutações caóticas poderá ser calculado a partir do condicio-


namento nos elementos não comuns aos dois conjuntos que ocupam ou não as suas
posições naturais. Falando de modo mais específico, se ao menos um elemento
i∗ ∈ {1∗ , 2∗ , . . . , k∗ } ocupa a posição i, A1 ∪ . . . ∪ Ak , ou nenhum elemento i∗ de
A∗ estiver em sua posição natural, (A1 ∪ . . . ∪ Ak )c . Assim, pelo princípio aditivo
tem-se

Dkn = |(A1 ∪ . . . ∪ Ak )c | + |(A1 ∪ . . . ∪ Ak )|


(3)
= |Ac1 ∩ . . . ∩ Ack | + |(A1 ∪ . . . ∪ Ak )|
e desde que para todo k ∈ {1, . . . , n}

|Ac1 ∩ . . . ∩ Ack | = Dn (4)


tem-se de (3) e (4) que

Dkn = Dn + |(A1 ∪ . . . ∪ Ak )| . (5)


Ademais, tem-se que
∀j ∈ {1, . . . , k} com {i1 , i2 , . . . , ij } ⊂ {1, . . . , k}
(6)
|Ai1 ∩ Ai2 ∩ . . . ∩ Aij | = Dk−j
n−j , com Dn−j = Dn−j .
0

Para k = 1, então j = 1 e segue-se de (5) e (6) que

D1n = |Ac1 | + |A1 | = Dn + Dn−1 . (7)


Para k = 2, então de (6) segue-se que para todo i1 ∈ {1, 2}
|Ai1 | = D1n−1 (k = 2, j = 1) e |A1 ∩ A2 | = Dn−2 (k = 2, j = 2) .
Logo de (5) e (7), tem-se

D2n = Dn + |(A1 ∪ A2 )|
X
= Dn + |Ai1 | − |Ai1 ∩ Ai2 |
1≤i1 ≤2
(8)
= Dn + 2D1n−1 + Dn−2
= Dn + 2(Dn−1 + Dn−2 ) − Dn−2
= Dn + 2Dn−1 + Dn−2 .
Eureka! 43 23

Para k = 3, então de (6) com i1 ∈ {1, 2, 3} e {i1 , i2 } ⊂ {1, 2, 3}

|Ai1 | = D2n−1 (j = 1), |Ai1 ∩Ai2 | = D1n−2 (j = 2) e |A1 ∩A2 ∩A3 | = Dn−3 (j = 3) .

Logo de (5), (6), (7) e (8) segue-se que

D3n = Dn + |(A1 ∪ A2 ∪ A3 )|
X X
= Dn + |Ai1 | − |Ai1 ∩ Ai2 | + |A1 ∩ A2 ∩ A3 |
1≤i1 ≤3 1≤i1 <i2 ≤3
(9)
= Dn + 3D2n−1 − 3D1n−2 + Dn−3
= Dn + 3(Dn−1 + 2Dn−2 + Dn−3 ) − 3(Dn−2 + Dn−3 ) + Dn−3
= Dn + 3Dn−1 + 3Dn−2 + Dn−3 .

Admitamos como hipótese de indução que para um certo k ∈ N,

X
k  
k
Dkn = Dn−j (10)
j
j=0

Lema 1. Para todo k ∈ N,

Dk+1
n = Dkn + Dkn−1

Demonstração. Tem-se que Dk+1 n é o total de permutações caóticas entre dois


conjuntos de n-elementos com k + 1 elementos não comuns a ambos. Para todo
j ∈ {1, . . . , k + 1} particionando o conjunto das permutações caóticas em relação a
qualquer um dos Aj , A1 por exemplo, tem-se:

Dk+1
n = |Ac1 | + |A1 | = Dkn + Dkn−1 (11)

Usando a recorrência (11) e a hipótese de indução dada em (10), segue-se que

Dk+1
n = Dkn + Dkn−1
Xk  
k X
k  
k
= Dn−j + Dn−1−j
j j
j=0 j=0
24 Permutações Caóticas Generalizadas

       
k k k k
= Dn + Dn−1 + Dn−2 + . . . + Dn−k +
0 1 2 k
       
k k k k
Dn−1 + Dn−2 + . . . + Dn−k + Dn−1−k
0 1 k−1 k

           
k k k k k k
= Dn + + Dn−1 + . . . + + Dn−k + Dn−1−k
0 0 1 k−1 k k
       
k+1 k+1 k+1 k+1
= Dn + Dn−1 + . . . + Dn−k + Dn−(k+1)
0 1 k k+1
X k + 1
k+1
= Dn−j .
j
j=0

Prova por um argumento combinatório


Considere o conjunto das permutações caóticas entre os elementos dos conjun-
tos
A = {1, . . . , k, k + 1, . . . , n} e A∗ = {1∗ , . . . , k∗ , k + 1, . . . , n}
e Ai o conjunto das permutações caóticas nas quais o elemento i∗ de A∗ ocupa a
posição i, para todo i ∈ {1, . . . , k}.
O número de permutações caóticas poderá ser calculado a partir do condi-
cionamento na quantidade Qj de permutações caóticas nas quais exatamente
j ∈ {1, . . . , k} elementos não comuns a A e A∗ ocupam as suas posições naturais,
isto é, na quantidade das permutações caóticas que pertencem a exatamente
j eventos Ai , i ∈ {1, . . . , k}. Assim, poderemos ter desde que nenhum dos k
elementos não comuns aos dois conjuntos A e A∗ ocupem a sua posição natural
até no máximo k deles ocuparem as suas posições naturais. Logo,
 
k
Dn = Q0 + Q1 + . . . + Qk , em que Qj =
k
Dn−j (12)
j
onde a última igualdade de (12) segue do fato de que há kj maneiras de se


escolher exatamente j dos k elementos não comuns aos dois conjuntos ocupando
as suas posições naturais com os demais n − j elementos podendo ser permutados
caoticamente por Dn−j . Segue-se portanto que

X
k  
k
Dkn = Q0 + Q1 + . . . + Qk = Dn−j
j
j=0
Eureka! 43 25

Exemplo 3. Num congresso matemático n pessoas encontram-se sentadas num


auditório de n + k cadeiras. Elas vão para uma outra sala e quando retornam
ao auditório, sentam-se novamente e é observado que nenhuma delas ocupa a
mesma cadeira que antes. Mostre que o número de maneiras que isto pode ocorrer
é Dkn+k .

Solução. Sem perda de generalidade, suponhamos as cadeiras numeradas de 1 a


n + k, com as n primeiras sendo previamente ocupadas por pessoas numeradas de
1 a n. Ademais, considere para todo (i, j) ∈ {1, . . . , n} × {1, . . . , n + k} a seguinte
convenção: (i, j) representando a cadeira j sendo ocupada pela pessoa i e para
l ∈ {(n + 1)∗ , . . . , (n + k)∗ } (l, j) se a cadeira j estiver vazia. Assim, o número
de maneiras da sala ser ocupada sem as posições iniciais serem repetidas por
nenhum dos presentes, é o conjunto das permutações caóticas entre os conjuntos
A∗ = {1, . . . , n, (n + 1)∗ , . . . , (n + k)∗ } e A = {1, . . . , n, (n + 1), . . . , (n + k)}, i.e.,

X
k  
k
Dkn+k = Dn+k−j (13)
j
j=0

Observação 2. O resultado dado em (13) a partir do Teorema 1; é uma genera-


lização do problema 13, página 173 de [4] para o caso em que k = 1.

Problemas propostos
1. Prove que para todo n ≥ 3,

Dn = (n − 1)(Dn−1 + Dn−2 ) .

2. Prove usando a recorrência (11) que

X
n
(−1)j
Dn = .
j!
j=0

3. Prove que
     
n n n
n! = Dn + Dn−1 + . . . + D0 .
0 1 n
26 Permutações Caóticas Generalizadas

4. (MIT-Competition-2014) Determine a quantidade de triplas não ordenadas


de conjuntos (A, B, C) tais que:
(a) A, B, C ⊂ {1, . . . , 8};
(b) |A ∩ B| = |B ∩ C| = |C ∩ A| = 2;
(c) |A| = |B| = |C| = 4.
5. (China National Competition-2001, [3]) Defina a sequência infinita a1 , a2 , . . .
recurssivamente como segue: a1 = 0, a2 = 1 e
1 1  n
an = nan−1 + n(n − 1)an−2 + (−1)n 1 − ∀n ≥ 3 .
2 2 2
Encontre uma fórmula explícita para
     
n n n
fn = an + 2 an−1 + 3 an−2 + . . . + a1 .
1 2 n−1
Referências Bibliográficas

[1] de Montmort, P. R. (1708). Essay d’analyse sur les jeux de hazard. Paris:
Jacque Quillau. 2. ed., Revue & augmentée de plusieurs Lettres. Paris: Jacque
Quillau, 1713.

[2] Morgado, A. C. O.; Carvalho, J. B. P.; Carvalho, P. C. P.; Fernandez, P. Aná-


lise combinatória e probabilidade. 9. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira
de Matemática, 2006. (Coleção do Professor de Matemática).
[3] Andreescu, T.; Feng, Z. Mathematical olympiads 2000-2001: Problems and
solutions from around the world. 2. ed., Mathematical Association of America,
2003.
[4] Wallis, J. D. A Begginer’s Guide to Discrete Mathematics. Birkhäuser Boston
2003; 1. ed. ISBN-10: 0817642692 ISBN-13: 978-0817642693.
[5] Feller, W. Introdução à teoria das probabilidades e suas aplicações. São Paulo:
Edgard Blucher, 1976. (Tradução de Flávio W. Rodrigues e Maria E. Fini).
Artigo: Transformações Geométricas na OBM

• Nível intermediário
Daniel Ramos Bezerra de Alencar
Picos - PI

Nos últimos anos, a maior parte dos problemas de geometria da OBM do nível
3 tem sido relacionada a concorrências e colinearidades, que são o ponto forte das
transformações geométricas. No final deste artigo, veremos como essas ferramentas
podem ser usadas para resolver alguns problemas de geometria plana do nível
3, que apareceram nas últimas versões da OBM. Porém, antes dos problemas,
enunciaremos alguns lemas que serão úteis. A demonstração deles fica como
desafio para o leitor e, no final do artigo, são dadas dicas de como demonstrá-los.
Lema 2. O ponto A, o incentro de ABC, o ponto médio do arco BC do cir-
cuncírculo a ABC que não contém A e o ex-incentro relativo ao lado BC são
colineares.
De agora em diante, neste artigo (ABC) denotará o circuncírculo do triângulo
ABC.

Definição 1. Dado um triângulo ABC e um ponto P distinto dos vértices A, B e


C, definimos o triângulo pedal de P em relação ao triângulo ABC como o triân-
gulo tal que seus vértices são os pés das perpendiculares de P aos lados do triângulo.

Um triângulo DEF é chamado de triângulo antipedal de P em relação a ABC


se ABC é o triângulo pedal de P em relação a DEF.

Definição 2. Dado um triângulo ABC, o conjugado isogonal de um ponto T em


relação a ABC é obtido refletindo as retas TA, TB e TC em relacão às bissetrizes
internas de ABC que passam por A, B e C, respectivamente. As retas resultantes
são concorrentes num ponto chamado de conjugado isogonal de T . Essa definição
só é válida se T não pertence aos lados do triângulo.
Lema 3. O triângulo pedal de um ponto P num triângulo ABC e o triângulo
antipedal do conjugado isogonal de P num triângulo ABC são homotéticos.
Lema 4. Sejam ABCD um quadrilátero inscritível e P = AD ∩ BC exterior ao
(ABC). Uma inversão com centro em P e raio igual à raiz quadrada da potência
Eureka! 43 29

de ponto de P em relação ao (ABC) fará com que os inversos dos pontos A, B, C


e D sejam respectivamente os pontos D, C, B e A.
Lema 5. As reflexões do ortocentro em relação aos lados do triângulo ABC e aos
pontos médios dos lados do triângulo estão sobre (ABC).
Lema 6. O ortocentro do triângulo ABC é o incentro de seu triângulo órtico.
Lema 7. Sejam D, E e F os pontos de tangência do incírculo de ABC com os
lados BC, AC e AB. A reta de Euler do triângulo DEF é a reta que contém o
incentro e o circuncentro do triângulo ABC.
Lema 8. Seja D o ponto de interseção das tangentes ao (ABC) por B e C. Então
o segmento AD é uma simediana de ABC, isto é, a reflexão da mediana que passa
pelo vértice A sobre a bissetriz que passa pelo mesmo vértice.
Lema 9. O conjugado isogonal de um ponto P é o circuncentro do triângulo
formado pelas reflexões de P nos lados de ABC.
Ao final, apresentaremos alguns encaminhamentos para demonstrar cada um
desses lemas.

Alguns problemas de geometria na OBM


A seguir enunciaremos com sua respectiva resolução alguns problemas que
apareceram nas provas da terceira fase da Olimpíada Brasileira de Matemática.
Em alguns destes problemas serão usados os lemas enunciados na seção anterior.
Ressaltamos que em outros problemas também serão empregados teoremas clássi-
cos conhecidos, tais como o Teorema de Brianchon, Teorema de Desargues, etc,
que podem ser encontrados facilmente na Wikipedia ou no livro de Coxeter e
Greitzer [5].

Exemplo 4 (OBM 2003, Problema 3). Seja ABCD um losango. Sejam E, F, G


e H pontos sobre os lados AB, BC, CD e DA, respectivamente, e tais que as retas
EF e GH são tangentes à circunferência inscrita no losango. Prove que as retas
EH e FG são paralelas.

Solução. Dado que AB é paralelo a DC, podemos assumir que estas duas retas
se cortam num ponto no infinito que denotaremos por M. De igual forma AD
e BC se interesectam num ponto no infinito que denotaremos por N. Tem-se
que as retas EM, GM, HN e FN (ou suas equivalentes AB, CD, AD e BC) são
tangentes à circunferência inscrita no losango. Então, pelo Teorema de Brianchon
30 Transformações Geométricas na OBM

aplicado no hexágono EMGHNF, se tem que EH, MN e FG são concorrentes, isto


é, EH ∥ FG.
Uma outra ideia é usar o Teorema de Desargues: Pelo Teorema de Brianchon
aplicado no hexágono circunscritível AEFCGH, se tem que AC, GE e HF são
concorrentes num ponto que denotaremos por P. Como esses segmentos são
concorrentes, os triângulos AHE e CFG estão em perspectiva. Portanto, pelo
Teorema de Desargues, segue que os pontos EH ∩ FG, AH ∩ CF, AE ∩ GC são
colineares e, como AH ∥ CF e AE ∥ GC, tem-se que EH ∥ FG.

A E B

H
P F

D G C

Exemplo 5 (OBM 2005, Problema 5). Sejam ABC um triângulo acutângulo e


F o seu ponto de Fermat, isto é, o ponto interior ao triângulo ABC tal que os
três ângulos ∠AFB, ∠BFC e ∠CFA medem 120◦ . Para cada um dos triângulos
ABF, ACF e BCF, é traçada a sua reta de Euler, ou seja, a reta que liga o seu
circuncentro e o seu baricentro. Prove que essas três retas concorrem em um ponto.

Solução. Seja M o ponto pertencente ao circuncírculo (BFC) tal que o triângulo


BCM seja equilátero. Como ∠BCM = 60◦ , tem-se que ∠BFM = 60◦ , pois ambos
olham para o mesmo arco em (BFC). Desta forma, A, F e M são colineares.
Sejam D o ponto médio de BC, Ga o baricentro de BFC, Oa o circuncentro
1
de BFC e G o baricentro de ABC. Considere uma homotetia de razão centrada
3
em D. Ela levará o ponto A no ponto G, o ponto M no ponto Oa e o ponto F no
ponto Ga . Portanto, G, Oa e Ga são colineares. De forma análoga para os outros
lados do triângulo, as retas de Euler de BFC, CFA e AFB concorrem no ponto G.
Eureka! 43 31

A
B
F
G
Ga

M
Oa D

Exemplo 6 (OBM 2006, Problema 1). Seja ABC um triângulo, P o pé da bissetriz


interna relativa ao lado AC e I seu incentro. Se AP + AB = CB, prove que API
é um triângulo isósceles.

Solução. Sejam AP o prolongamento do segmento AB com tamanho AP e F


o prolongamento de BP no segmento PC. Como AB + AP = BC, o triângulo
PBC isósceles. Como PBC é isósceles e BP é a bissetriz do ângulo ∠CBP, BF
é a altura relativa ao lado PC. Como PAP é isósceles, então ∠IAP = ∠PPA e,
consequentemente, PP ∥ AI. Disso, tem-se que ∠AGC = ∠PPC e, como P está
na mediatriz de PC, tem-se que ∠PCA = ∠PPC = ∠AGC e, consequentemente, o
triângulo CAG é isósceles.

I A
M
P

C F N P′ G

Seja N um ponto sobre CP ′ e M um ponto sobre BP de tal forma que AN ⊥ P ′ C


e AM ∥ P ′ C e consequentemente, perpendicular a BP. Como CAG é isósceles, N
é o ponto médio de CG e então, AM, AN, AC e AG formam um feixe harmônico.
Incidindo esse feixe sobre BF, obtém-se que, por AN ser paralelo a BF, M é o
ponto médio de IP. Disso, e do fato de AM ser a altura relativa ao lado IP, tem-se
que o triângulo AIP é isósceles.
32 Transformações Geométricas na OBM

Exemplo 7 (OBM 2006, Problema 5). Seja Ω um polígono convexo de 2006


lados. As 1003 diagonais ligando vértices opostos e os 1003 segmentos que ligam
os pontos médios dos lados opostos são concorrentes, ou seja, todos os 2006
segmentos possuem um ponto em comum. Prove que os lados opostos de P são
paralelos e congruentes.

Solução. Sejam P1 , P2 , . . . , P2006 os vértices desse polígono e M1 , . . . , M2006


os pontos médios dos segmentos P1 P2 , P2 P3 , . . ., P2006 P1 , respectivamente.
Como PM11MP12 = PM1004 M1004
1004 P1005
, tem-se que P1 P2 ∥ P1004 P1005 e, consequentemente,
há uma homotetia centrada em T , ponto comum das diagonais, e de razão
−k(k > 0) que leva P1 a P1004 , P2 a P1005 e M1 a M1004 . Porém, usando
semelhanças equivalentes entre os triângulos Pi Pi+1 T e Pi+2003 Pi+2002 T onde
i = 2, 3, . . . , 1003, segue que
TP1004 TP1005 TP2006 TP1
= = ··· = = = k.
TP1 TP2 TP1003 TP1004
1
Da primeira e da última fração da igualdade anterior se tem que = k. Portanto,
k
k = 1 e os lados opostos do polígono são paralelos e congruentes.
P3 P1003

P2 P1004
T
M1 M1004
P1 P1005

P2006 P1006

Exemplo 8 (OBM 2007, Problema 5). Seja ABCD um quadrilátero convexo e


sejam P o ponto de interseção das retas AB e CD, Q o ponto de interseção das
retas AD e BC e O o ponto de interseção das diagonais AC e BD. Prove que
se ∠POQ é um ângulo reto, então PO é bissetriz de ∠AOD e QO é bissetriz de
∠AOB.

Solução. Pela construção do conjugado harmônico, obtém-se que A, B, M,


P formam uma quádrupla harmônica e, como ∠MOP = 90◦ , há um círculo de
Apolônio que passa por M, O e P e, consequentemente, OM é bissetriz de ∠AOB.
De forma análoga, ON é bissetriz de ∠AOD.
Eureka! 43 33

D N
C
O

A M B P

Exemplo 9 (OBM 2008, Problema 4). Seja ABCD um quadrilátero cíclico e r


e s as retas simétricas à reta AB em relação às bissetrizes internas dos ângulos
∠CAD e ∠CBD, respectivamente. Sejam P o ponto de interseção de r e s e O o
centro do círculo circunscrito a ABCD. Prove que OP é perpendicular a CD.

Solução. Considere o caso em que r e s não sejam tangentes à circunferência.


Sejam E e F as interseções de r e s, respectivamente, diferentes de A e B. Como
∠EAD = ∠CAB, tem-se que BE ∥ CD. Como

∠FBA = 180 − ∠DBC − 2 × (∠ABD)

∠BDA = 180 − ∠ABD − ∠DBC − ∠CAB,

tem-se que

∠BAF = ∠BDA − ∠FBA = ∠ABD − ∠CAB = ∠ABD − ∠EAD = ∠ABE.

Portanto, AF ∥ BE ∥ CD. Dessa forma, a reta polar de P também é paralela a


CD e, consequentemente, OP ⊥ CD.
34 Transformações Geométricas na OBM

P
A F

B
E

C
D

Agora suponhamos que uma das retas r ou s é tangente à circunferência.


Podemos supor, sem perda de generalidade, que a reta r é tangente à circunfe-
rência. Pelo fato de o ângulo entre a tangente e o segmento AD ser igual ao
ângulo ∠CAB e também é igual ao ângulo ∠ABD, tem-se que AB ∥ CD. Além
disso, como o ângulo entre a reta s e o segmento BC é igual ao ângulo ∠ABD,
que é igual ao ângulo ∠CAB, tem-se que a reta s também é tangente à circunfe-
rência. Dessa forma, a reta AB é a reta polar de P e, consequentemente, OP ⊥ CD.

A
B

C
D

Exemplo 10 (OBM 2009, Problema 5). Seja ABC um triângulo e O seu circun-
centro. As retas AB e AC cortam o circuncírculo de OBC novamente em B1 ̸= B
e C1 ̸= C, respectivamente, as retas BA e BC cortam o circuncírculo de OAC em
A2 ̸= A e C2 ̸= C, respectivamente, e as retas CA e CB cortam o circuncírculo
de OAB em A3 ̸= A e B3 ̸= B, respectivamente. Prove que as retas A2 A3 , B1 B3
Eureka! 43 35

e C1 C2 passam por um mesmo ponto.

Solução. Considere a inversão com centro em O e raio OA. Como o circuncírculo


(AOC) passa por O, seu inverso é uma reta que passa por A = A e C = C, isto é,
a reta AC é o inverso de (AOC). O inverso de A2 é a interseção do inverso do
(AOC) com o inverso de AB, isto é, a interseção da reta AC com (AOB) diferente
de A, que é o ponto A3 . Então A2 e A3 são inversos entre si, logo, a reta A2 A3
passa por O. Analogamente, B1 B3 e C1 C2 passam por O. Portanto, A2 A3 , B1 B3
e C1 C2 são concorrentes.

A2
A
A3

O
C
B
B3 C2
C1

B1

Exemplo 11 (OBM 2010, Problema 4). Seja ABCD um quadrilátero convexo


e M e N os pontos médios dos lados CD e AD, respectivamente. As retas
perpendiculares a AB passando por M e a BC passando por N cortam-se no ponto
P. Prove que P pertence à diagonal BD se, e somente se, as diagonais AC e BD
são perpendiculares.

Solução. Considere uma homotetia de razão 2 centrada em D. Tal homotetia


levará os pontos M e N, respectivamente, nos pontos C e A, e o ponto P será
levado num ponto da reta BD, chamado de P. Como MP ⊥ AB e NP ⊥ BC,
tem-se que AP ⊥ BC e CP ⊥ AB. Como AP e CP são alturas do triângulo ABC,
P é o ortocentro de ABC e, portanto, BD é perpendicular a AC.
36 Transformações Geométricas na OBM

X P′
B
N
P
K
Y

D M C

Para provar a volta, isto é, que, se AC e BD são perpendiculares, então P pertence


à diagonal BD, pode-se usar uma ideia análoga à que foi usada acima. Porém,
dessa vez, note que os segmentos AC e XY são antiparalelos com respeito ao ângulo
∠ABC, pois XY é paralelo ao segmento formado pelos pés das alturas relativas aos
lados AB e BC do triângulo ABC. Segue que o quadrilátero AXYC é inscritível e,
pelo Lema 3, a inversão de centro em B e raio igual à raiz quadrada da potência
de ponto de B em relação ao circuncírculo (AXY) fará com que X = A, Y = C,
A = X e C = Y. Como ∠BKA = ∠BKC = 90◦ , tem-se que ∠BAK = ∠BCK = 90◦ .
Portanto, K = P e, consequentemente, B, K e P são colineares.

Observação 3. Ao enunciado deste problema apresenta deve ser adicionada a


condição que o ângulo ∠ABC seja diferente de 90◦ , pois caso contrário, o ponto
P será o próprio B e, nesse caso, o segmento BD poderá não ser a altura do
triângulo ABC.

Exemplo 12 (OBM 2011, Problema 5). Seja ABC um triângulo acutângulo e H


seu ortocentro. As retas BH e CH cortam AC e AB em D e E, respectivamente.
O circuncírculo de ADE corta o circuncírculo de ABC em F ̸= A. Provar que as
bissetrizes internas de ∠BFC e ∠BHC se cortam em um ponto sobre o segmento
BC.

Solução. Sejam X a interseção de AH com o circuncírculo (ABC) e H o pé


da altura AH. Como ∠BEC = ∠BDC = 90◦ , o quadrilátero BEDC é inscritível.
Considere a inversão com centro em A e raio igual à raiz quadrada da potência
de ponto de A em relação a (BED). Pelo Lema 3, sabe-se que ela levará (ABC) à
reta DE e (ADE) à reta BC. Como AEHD é inscritível, o inverso de H pertence
à reta BC e, portanto, H é o inverso de H. Como F é a intersecção de (ABC) e
(ADE) diferente de A, o inverso de F = F é a intersecção entre DE e BC. Como
X pertence a (ABC), tem-se que X = AH ∩ DE. Da construção do conjugado
Eureka! 43 37

harmônico, tem-se que F, H, D = B e E = C formam uma quádrupla harmônica


e, consequentemente, F, X, B = D e C = E também formam uma quádrupla
harmônica. Portanto, o quadrilátero FXBC é harmônico. Então, segue que as
bissetrizes dos ângulos ∠BFC e ∠BXC se encontram no mesmo ponto em BC
pois FC
BF BX
= BC , e, por simetria em relação ao segmento BC, a bissetriz de ∠BHC
também é concorrente no mesmo ponto em BC.
A

E
X′
F H
D

F′ C
B H′
X

Uma segunda solução pode ser obtida usando o círculo de Apolônio. Continuando
do primeiro parágrafo, seja HM a bissetriz de ∠BHC, então há um círculo de
Apolônio que passa por H e M. Se F pertencer a essa circunferência, o problema
está resolvido, pois ela é o lugar geométrico dos pontos P tais que PM é bissetriz
interna de ∠BPC. Do Lema 4, sabe-se que HH = HX e, como BC ⊥ HX e o
centro do círculo de Apolônio está na reta BC, obtém-se que BC é a mediatriz de
HX. Consequentemente, X pertence ao círculo de Apolônio. Como F, X, B = E
e C = D formam uma quádrupla harmônica, obtém-se que CX CF = BF , que, pela
BX

fórmula da distância entre pontos inversos, resulta em BX = BF . Desta forma, F


CX CF

pertence ao círculo de Apolônio.

Exemplo 13 (OBM 2012, Problema 2). Dado um triângulo ABC, o exincentro


relativo ao vértice A é o ponto de interseção das bissetrizes externas de ∠B e
∠C. Sejam IA , IB e IC os exincentros do triângulo escaleno ABC relativos a
A, B e C, respectivamente, e X, Y e Z os pontos médios de IB IC , IC IA e IA IB ,
respectivamente. O incírculo do triângulo ABC toca os lados BC, CA e AB nos
pontos D, E e F, respectivamente. Prove que as retas DX, EY e FZ têm um ponto
em comum pertencente à reta IO, sendo I e O o incentro e o circuncentro do
triângulo ABC, respectivamente.

Solução. Pelo Lema 1 e do fato que as bissetrizes internas e externas são


perpendiculares, obtem-se que IA IB IC é o triângulo antipedal de I com relação ao
38 Transformações Geométricas na OBM

triângulo ABC e que I é o ortocentro de IA IB IC . Como o incentro é conjugado


isogonal dele próprio, do Lema 2, sabe-se que seu triângulo pedal e seu triângulo
antipedal em relação ao triângulo ABC são homotéticos, isto é, DEF e IA IB IC
são homotéticos. Consequentemente, os triângulos XYZ e DEF são homotéticos.
IC

A
X

Y
IB O F
E I B
Z D
C IA

Como o circuncírculo (ABC) é o círculo dos 9 pontos do triângulo IA IB IC (pois A,


B e C são os pés das alturas do triângulo IA IB IC ), os pontos X, Y e Z pertencem a
(ABC). Como I é o circuncentro de DEF e O é o circuncentro de XYZ, a homotetia
que leva DEF a XYZ também leva I a O. Como o centro dessa homotetia é o
ponto no qual concorrem DX, EY e FZ, ele é colinear com I e O.

Exemplo 14 (OBM 2013, Problema 1). Sejam Γ um círculo e A um ponto


exterior a Γ . As retas tangentes a Γ que passam por A tocam Γ em B e C. Seja
M o ponto médio de AB. O segmento MC corta Γ novamente em D e a reta AD
corta Γ novamente em E. Sendo AB = a e BC = b, calcular CE em função de a
e b.

Solução. Da forma como o quadrilátero BDEC foi construído, segue que ele é
um quadrilátero harmônico, pois
BD AB AC CD
= = = .
BE EA EA EC
Então, o feixe formado pelas retas CA, CB, CM e CE é harmônico e, como M é
ponto médio de AB, tem-se que CE ∥ AB, pois caso contrário se eles se intersectam
em E ′ teríamos que E ′ , B, M e A formariam uma quadrupla harmônica, o que
implicaria que M também seria ponto médio do segmento E ′ A. Desse paralelismo,
obtém-se que B é o ponto médio do arco CE e, consequentemente, BE = BC = b.
Com isso, e como ∠BEC = ∠BCA, tem-se que os triângulos CBE e ABC são
b2
semelhantes. Consequentemente, obtém-se que CE = .
a
Eureka! 43 39

B
M

X D A
E

Exemplo 15 (OBM 2013, Problema 6). O incírculo do triângulo ABC toca os


lados BC, CA e AB nos pontos D, E e F respectivamente. Seja P o ponto de
interseção das retas AD e BE. As reflexões de P em relação a EF, FD e DE são X,
Y e Z, respectivamente. Prove que as retas AX, BY e CZ têm um ponto comum
pertencente à reta IO, sendo I e O o incentro e o circuncentro do triângulo ABC.

Solução. Pelos Lemas 2 e 6, sabe-se que a reta IO de ABC é a reta de Euler de


DEF e que o triângulo órtico de DEF é homotético ao triângulo ABC (pois ABC
é o triângulo antipedal de I em relação a DEF).

Como os lados de XYZ são paralelos aos lados do triângulo órtico de DEF (pois
os lados de ambos os triângulos são perpendiculares aos lados de DEF), tem-se que
os triângulos ABC e XYZ são homotéticos. Pelo Lema 7, sabe-se que P é o ponto
de Lemoine de DEF. Pelo Lema 8, sabe-se que o conjugado isogonal de P (ponto
Q) em relação ao triângulo DEF, isto é, o baricentro de DEF, é o circuncentro de
XYZ. Por fim, como AX, BY e CZ concorrem no centro da homotetia que leva
XYZ em ABC (ponto K), tem-se que K é colinear com o baricentro de DEF e com
o ponto O, isto é, ele está na reta IO.
40 Transformações Geométricas na OBM

O
E

X
I
Q
F C
P Z
K
Y D
B

Uma outra ideia é usar quádruplas harmônicas. Sejam M = BC ∩ EF, N =


AD ∩ EF, T o pé da altura relativa ao lado EF do triângulo DEF e X o pé da
perpendicular de P em EF. Como AD, BE e CF concorrem no ponto de Gergonne
(P) do triângulo ABC, tem-se que M, D, B e C formam uma quádrupla harmônica
e, consequentemente, A, P, N e D formam uma quádrupla harmônica. Como
TD ⊥ EF, há um círculo de Apolonio que passa por D, T e N e, portanto, EF é
bissetriz do ângulo ATP. Por simetria em relação a EF, obtem-se que os triângulos
PXT e XXT são congruentes. Então, EF é bissetriz do ângulo PTX e, portanto,
X está na reta AT . De forma análoga para Y e Z, tem-se que AX, BY e CZ
concorrem no centro da homotetia que leva o triângulo órtico de DEF no triângulo
ABC, isto é, ele está na reta IO.

E O

X
X′ N
F T P C

D
M B

Exemplo 16 (OBM 2014, Problema 6). Seja ABC um triângulo com incentro
I e incírculo ω. O círculo ωA tangencia externamente ω e toca os lados AB
e AC em A1 e A2 , respectivamente. Seja rA a reta A1 A2 . Defina rB e rC de
Eureka! 43 41

modo análogo. As retas rA , rB e rC determinam um triângulo XYZ. Prove que o


incentro de XYZ, o circuncentro de XYZ e I são colineares.

Solução. Considere que as tangentes comuns às circunferências ω e ωA , ω e ωB ,


ω e ωC se cruzam nos pontos M, N e P. Sejam H o ponto de tangência entre ω
e ωA e D, E e F os pontos de tangência de ABC com seu incírculo.

A homotetia que leva ω em ωA também leva FE em A1 A2 . De forma análoga


pra ωB e ωC , obtem-se que os lados de DEF e XYZ são paralelos e, consequente-
mente, DEF e XYZ são homotéticos. Portanto, o centro da homotetia que leva
DEF em XYZ é colinear com o circuncentro de DEF (que é o ponto I) e com o
circuncentro de XYZ.

Como a tangente comum a ω e ωA divide os segmentos FA1 e EA2 em duas


partes, onde cada parte é igual à sua correspondente no outro segmento. Do
Teorema de Tales, essa tangente divide o segmento FZ em duas partes iguais. De
forma análoga, a tangente comum a ω e ωB divide o segmento FZ em duas partes
iguais. Então, o ponto P divide FZ em duas partes iguais. Consequentemente, F,
Z e P são colineares e os triângulos DEF, XYZ e MNP são homotéticos sob um
mesmo centro. Então, o incentro de MNP, que é o próprio I, o incentro de XYZ e
o centro da homotetia são colineares. Portanto, o incentro de XYZ, o circuncentro
de XYZ e I são colineares.

B1

F E

B D P
H C B2

A1
A2 Z
42 Transformações Geométricas na OBM

Dicas para demonstrar os Lemas


1. Use uma homotetia centrada em A e veja a relação entre o incírculo e o
ex-incírculo nessa homotetia.
2. Faça marcação de ângulos e descubra um quadrilátero inscritível.
3. Use a fórmula da distância entre pontos inversos.

4. Use uma homotetia centrada no ortocentro.


5. Use quádruplas harmônicas e descubra um círculo de Apolônio.
6. Use o Lema 2 no ortocentro de DEF e o Lema 5 para descobrir relações
entre os pontos notáveis de DEF e de ABC.

7. Use a quádrupla harmônica formada por D, o ponto médio de BC e os


pontos em que o segmento formado por D e o ponto médio de BC cruzam
(ABC) e depois descubra um feixe harmônico que parte de A. OBS: em [11],
pode ser encontrada uma demonstração interessante usando outra quádrupla
harmônica.
8. Use a circunferência que passa por P e duas das reflexões e faça marcação
de ângulos.
Referências Bibliográficas

[1] Abel, Z. Triangle centers.


[2] Castro, L. G. M. Introdução à geometria projetiva. Revista Eureka! No 8,
16-27.

[3] Calgary Math Circles: Triangles, Concurrency and Quadrilaterals.


[4] Davis, T. Inversion in a circle.
[5] Rapanos, N. The harmonic quadrilateral and its properties.

[6] Shine, C. Y. Homotetias, composição de homotetias e o problema 6 da IMO


2008. Revista Eureka! No 29, 32-43.
[7] Shine, C. Y. As crônicas de nérdia: o círculo, a rotação e os isogonais.
[8] Zhao, Y. Lemmas in euclidian geometry.

[9] http://mathworld.wolfram.com/EulerLine.html
[10] http://mathworld.wolfram.com/AntipedalTriangle.html
Artigo: Teorema de Casey, a ida e a volta

• Nível avançado
Régis Prado Barbosa
Cólegio Etapa - São Paulo.

O Teorema de Casey traz resultados sobre configurações muito complexas


da geometria plana. Tais configurações já apareceram em testes de seleção para
a IMO e na própria IMO, como por exemplo, no problema 6 do ano de 2011.
Resolver essas questões sem este teorema é praticamente impossível, por isso
recomenda-se ter conhecimento deste resultado.

Teorema 2 (Casey). Sejam Γ1 , Γ2 , Γ3 e Γ4 quatro circunferências num plano e


tij o comprimento do segmento entre os pontos de tangência da tangente externa
comum às circunferências Γi e Γj . A relação

t13 · t24 = t12 · t34 + t14 · t23

é satisfeita se, e somente se, as quatro circunferências são todas tangentes ou


internamente ou externamente a uma circunferência, ou são todas tangentes a
uma reta do mesmo lado.

Essa é a forma mais conhecida do teorema de Casey. Em sua forma mais geral
considera-se também casos em que algumas das quatro circunferências tangenciam
a quinta internamente e outras externamente. Nesses casos se duas das quatro
circunferências tangenciarem do mesmo modo, ambas internas ou ambas externas,
usa-se a tangente externa tij na relação. Caso tangenciem de modo diferente,
usa-se tij que é o comprimento da tangente comum interna. As demonstrações
são praticamente análogas. A nossa proposta é explorar apenas a forma mais
conhecida.
Na figura a seguir as quatro circunferências são tangentes internamente a uma
quinta
Eureka! 43 45

t12
C2
C1 t23
t24 t13
t14 O
C3
C4
t34

Para a demonstração, vamos usar inversão e alguns teoremas auxiliares. Se o


leitor não está familiarizado com esta técnica da inversão pode ler sobre o assunto
em [3]. A seguir enunciamos os teoremas que usaremos na prova do resultado
principal.
Teorema 3. Dados dois pontos quaisquer P e Q no plano e P ′ e Q ′ seus inversos
com respeito a uma inversão com centro O e raio r. A seguinte relação é satisfeita:
r2
P ′ Q ′ = PQ · .
OP · OQ
Teorema 4. Dados quaisquer quatro pontos P, Q, R e S e P ′ , Q ′ , R ′ e S ′ seus
respectivos inversos com respeito a uma inversão de centro O e raio r, temos a
seguinte relação:
P ′Q ′ · R ′S ′ PQ · RS
= .
P ′S ′ · R ′Q ′ PS · RQ
Teorema 5. Considere duas circunferências Γ1 e Γ2 de raios r1 e r2 dispostas de
forma que existe tangente externa comum de comprimento t12 . Uma inversão
de centro fora das duas circunferências ou de centro dentro de ambas conserva a
razão entre o quadrado do comprimento da tangente comum externa e o produto
dos raios, ou seja:
t212 t ′2
= ′12′ .
r1 r2 r1 r 2
Demonstração. Considere as circunferências Γ1 , Γ2 e uma reta que passa pelos
centros de ambas e corta as circunferências nos pontos P1 , Q1 , P2 e Q2 . Seja d a
distância entre os centros. Logo,
2
P1 P2 · Q1 Q2 (d + r1 − r2 ) (d − r1 + r2 ) d2 − (r1 − r2 ) t2
= = = 12 .
P1 Q1 · P2 Q2 2r1 · 2r2 4r1 r2 4r1 r2
46 Teorema de Casey, a Ida e a Volta

Considere uma circunferência C3 ortogonal às circunferências C1 e C2 que


corta C1 e 2 nos pontos R1 , S1 , R2 , S2 como na figura. Vejamos que as linhas
P1 R1 , Q1 S1 , P2 R2 e Q2 S2 são colineares.
X

R1
α S2

90
α α


2α β β
−α

90 − α
C3
P1 α β Q2
C1 Q1 H P2 C2

R2
S1

Seja H o ponto sobre a reta que passa pelos centros tal que C3 H é a reta
perpendicular a C1 C2 . Considere o ponto X a interseção das retas P1 R1 e Q2 S2 .
Definem-se os ângulos:
α = ∠C1 P1 R1 e β = ∠C2 Q2 S2 .
Usando que a soma dos ângulos internos do triângulo △P1 XQ2 é 180◦ , tem-se:
∠R1 XS2 = 180◦ − α − β,
e como P1 Q1 é diâmetro da circunferência Γ1 :
∠P1 R1 Q1 = 90◦ .
Do fato que o triângulo △P1 C1 R1 é isósceles em C1 , segue que:
∠C1 R1 P1 = α → ∠C1 R1 Q1 = 90◦ −α ⇒ ∠C1 Q1 R1 = 90◦ −α ⇒ ∠R1 Q1 H = 90◦ +α,
e pela ortogonalidade entre as circunferências Γ1 e Γ3 , sabemos que ∠C3 R1 C1 =
90◦ . Logo, observando os ângulos em torno do ponto R1 , podemos concluir que:
∠C3 R1 Q1 = α.
Analogamente, prova-se que:
∠S2 P2 H = 90◦ + β e ∠C3 S2 P2 = β,
logo somando os ângulos do pentágono Q1 R1 C3 S2 P2 , temos:
∠R1 C3 S2 = 360◦ − 2α − 2β = 2 · ∠R1 XS2 , assim X está sobre a circunferência Γ3 .
Eureka! 43 47

Por outro lado, podemos determinar ∠C3 R1 X.


∠P1 R1 Q1 = 90◦ → ∠XR1 Q1 = 90◦ ⇒ ∠C3 R1 X = 90◦ − α.
Como, △R1 C3 X é isósceles:
C3 R1 = C3 X → ∠C3 XR1 = 90◦ − α ⇒ ∠XC3 R1 = 2α.
Se analisarmos os ângulos do quadrilátero C3 HQ1 R1 , obtemos
∠HC3 R1 = 180◦ − 2α ⇒ ∠XC3 R1 + ∠HC3 R1 = 180◦ , portanto H, C3 e X
são colineares. Além disso, como ∠XC3 R1 = 2α é ângulo central de Γ3 , temos
∠XS2 R1 = α, e assim
△XR1 S2 ∼ △XQ2 P1 pois ∠XS2 R1 = ∠XP1 Q2 e ∠S2 XR1 = ∠P1 XQ2 .
Logo seus lados são proporcionais e disso:
XR1 · XP1 = XQ2 · XP2 ⇒ PotΓ1 X = PotΓ2 X,
portanto X está no eixo radical de Γ1 e Γ2 .

Notando que X pode ser visto como o segundo ponto de interseção de P1 R1


com Γ3 ou como o segundo ponto de interseção de Q2 S2 com Γ3 . Os passos feitos
até aqui permitem concluir que:
P1 R1 , Q1 S1 , P2 R2 e Q2 S2 passam por um mesmo ponto X.
Considere a inversão de centro X de raio r = PotΓ1 X = PotΓ2 X. Já que X
p p

está sobre o eixo radical de Γ1 e Γ2 , essa transformação leva os pontos R1 , S1 , R2


e S2 nos pontos P1 , Q1 , P2 e Q2 , respectivamente. Pelo teorema 3 segue
R1 R2 · S1 S2 P1 P2 · Q1 Q2 t2
= = 12 .
R1 S1 · R2 S2 P1 Q1 · P2 Q2 4r1 r2
Agora considere uma inversão qualquer de centro fora de Γ1 e Γ2 ou dentro de
ambas. Ela levará Γ3 em Γ3′ . Novamente pelo teorema 3, tem-se:
R1′ R2′ · S1′ S2′ R1 R2 · S1 S2
= .
R1′ S1′ · R2′ S2′ R1 S1 · R2 S2
Sabendo que a ortogonalidade entre as circunferências é preservada na inversão,
sabe-se que Γ3′ é ortogonal a Γ1′ e a Γ2′ , logo os passos indicados acima podem ser
usados também na figura invertida:
2
R1′ R2′ · S1′ S2′ ′
t12
= .
R1′ S1′ · R2′ S2′ 4r1′ r2′
48 Teorema de Casey, a Ida e a Volta

Fazendo uso dessas 3 equações, conclui-se que:


2 2
t212 t′ t212 ′
t12
= 12 ⇒ = .
4r1 r2 4r1′ r2′ r1 r2 r1′ r2′

Agora estamos aptos à demonstração do Teorema de Casey. Divideremos a


demonstração em duas partes:

Demonstração. Mostraremos primeiro a volta do teorema, isto é, suponha que


vale a equação entre as tangentes externas:

t13 · t24 = t12 · t34 + t14 · t23 ,

e provaremos que uma das três afirmações sobre as quatro circunferências é


verdadeira:

• são tangentes internamente a uma circunferência;

• são tangentes externamente a uma circunferência;

• são tangentes por um mesmo lado a uma reta.

Suponha sem perda de generalidade que r4 é o menor raio. Considere a transfor-


mação que chamaremos de redução que mantem os centros Ci das circunferências
e diminui os raios para ri − r4 . Essa transformação preserva a propriedade de
haver uma circunferência tangente a todas, isto é, antes e depois da transformação
existe uma circunferência que tangencia as quatro circunferências.
É fácil verificar o caso da reta. Existe uma reta tangente a todas do mesmo
lado se, e somente se, existia antes da transformação.

H
I
E F B
B1
C
A
Eureka! 43 49

H
F
I
E C
B1
B
A

No caso em que as quatro tangenciam internamente uma circunferência, temos


a situação da primeira figura acima onde unicamente são mostradas duas dessas
circunferências. Veja que a circunferência de centro A tangenciava as duas
circunferências. Diminuindo os raios, esta passa a conter o centro da menor
circunferência e a tangenciar a maior em outro ponto B1 .
Os comprimentos das tangentes externas comuns não se altera, pois formam-se
paralelogramos. Considerando os casos possíveis apresentados na figura anterior,
teremos:

EI = FH e EI ∥ FH ⇒ é um paralelogramo ⇒ EF = HI.

No caso de a tangências iniciais serem externas, temos a segunda figura.


Os resultados são análogos, bastando lembrar que se deve aumentar o raio da
circunferência que tangencia as outras quatro ao invés de diminuir como feito na
situação anterior.
Essa transformação torna a circunferência Γ4 um ponto C4 . Considere a
inversão de centro nesse ponto e raio R qualquer. Essa transformação, bem como
a transformação anterior, preserva os ângulos entre as figuras, ou seja, existe uma
circunferência ou reta com as propriedades citadas no enunciado do teorema após
a transformação se, e somente se, existia antes dela.
Tendo em vista que C4 está fora das outras circunferências, pois há tangentes
externas comuns, aplica-se o teorema 4 em todas as tangentes comuns entre as
circunferências Γ1 , Γ2 e Γ3 . Os comprimentos antes e depois serão relacionados
pela equação: s
′ ri· rj
tij = tij · , 1 ≤ i, j ≤ 3.
ri′ · rj′

Já as tangentes que envolvem C4 podem ser expressas usando semelhança de


triângulos. Para isso, considere uma tangente C4 Pi a uma das circunferências
Γi . Como a inversão preserva os ângulos, C4 Pi′ será tangente à circunferência Γi′ .
Considere a relação de semelhança dos triângulos △C4 Pi Ci △C4 Pi′ K, onde K é o
centro da circunferência Γi′ . Vale lembrar que K não é o inverso do centro de Γi .
50 Teorema de Casey, a Ida e a Volta

Por definição de inversão, sabe-se que C4 Pi · C4 Pi′ = R2 , assim:

C4 Pi Ci Pi t2i4 ri
′ = ⇒ 2
= ′
C4 Pi KPi R ri
r
ri
e portanto ti4 = R para 1 ≤ i ≤ 3. Por hipótese, sabemos que
ri′
t13 · t24 = t12 · t34 + t14 · t23 .

Logo, substituindo essas equações na última equação, obtemos:


s s s
r1 · r3 r2′ r1 · r2 r3′ r1′ r2 · r3
r r r
′ ′ ′
t13 · R = t 12 · R + R · t
r1′ · r3′ r2 r1′ · r2′ r3 r1 23 r2′ · r3′

e desta forma t13 ′


= t12′ ′
+ t23 . Agora, tomemos novamente a circunferência de
menor raio e a reduza a um ponto, diminuindo o mesmo comprimento no raio
de todas as outras. Essa transformação não altera o comprimento das tangentes
externas ou a existência de circunferência ou reta tangente comum às três.
Devemos considerar três casos, cada um tratando as situações em que um dos
três raios r1′ , r2′ ou r3′ é o menor dos três.
• Se o menor raio for r1′ . Nesse caso, passaremos a ter em Γ1′ apenas um
ponto. Notemos que os pontos cujo comprimento da tangente em relação a
uma certa circunferência é fixo estão sobre uma circunferência. Assim, para
o ponto C1′ satisfazer a equação ele será um dos pontos deq interseção de
duas circunferências de centros nos centros de Γ2′ e Γ3′ e raios r1′ 2 + t12
′ 2 e
q
r3′ 2 + t13
′ 2 , respectivamente. Elas podem ter nenhum, um ou dois pontos

em comum. Observemos que elas têm pelo menos um ponto em comum.


Considere a tangente comum entre Γ2′ e Γ3′ , o comprimento é t23′
. Prolongue
este segmento no sentido de Γ2 mais um comprimento de t12
′ ′
. Seja X1
o ponto sobre este prolongamento tal que a distância de X1 ao ponto de
tangência com Γ2′ é t12 ′
.

X1

C2′
C3′
Eureka! 43 51

Os comprimentos dos segmentos desde X1 até os pontos de tangência com


Γ2′ e Γ3′ são iguais a t12

e t12
′ ′
+ t23 ′
= t13 . Logo se houver apenas um ponto
de interseção será X1 = C1 e se houver dois pontos X1 = C1′ ou X1 reflexão

de C1′ em relação à reta que passa pelos centros de Γ2′ e Γ3′ . Em qualquer
dos casos possíveis, teremos as três circunferências tangentes a uma reta,
do mesmo lado.
• Se o menor raio for r2′ . Passaremos a ter um ponto Γ2′ . Novamente, pelo
argumento dos pontos onde o comprimento das tangentes é fixado, sabemos
que podemos ter nenhum, um ou dois pontos com a propriedade citada para
C2′ . Para verificar que há pelo menos um, consideremos a tangente externa
Γ1′ e Γ3′ de comprimento t13

e o ponto X2 que a divide em pedaços t12

e t23

.

X2

C1′
C3′

Assim, como feito anteriormente, teremos os casos em que X2 = C2′ e em que


C2′ é a reflexão de X2 em relação à reta que passa pelos centros. Novamente,
em qualquer dos casos possíveis, teremos as três circunferências tangentes a
uma reta, do mesmo lado.
• Se o menor raio for r3′ .
Completamente análogo ao primeiro caso.
Com isso, concluímos que as três circunferências são tangentes a uma reta
por um mesmo lado e, ainda mais, que o ponto de tangência de Γ2′ está entre os
pontos de tangência das outras duas circunferências. Logo, ao voltar as reduções
de raio e a inversão conclui-se que no início as quatro circunferências eram todas
tangentes internamente a uma circunferência ou tangentes externamente a uma
circunferência ou tangentes a uma reta pelo mesmo lado. Isso depende da posição
final relativa entre as circunferências, a reta e o ponto C4′ . Sabe-se ainda que
os pontos de tangência estão em sentido horário na ordem Γ1 , Γ2 , Γ3 e Γ4 ou na
ordem Γ1 , Γ4 , Γ3 e Γ2 , considerando as posições finais dos pontos de tangência.
Passemos agora a demonstrar a ida, isto é, mostraremos a relação entre os
comprimentos das tangentes dado que existe uma circunferência tangente às 4
dadas. Demonstrações sem usar inversão podem ser encontradas em [2] e [4], mas
52 Teorema de Casey, a Ida e a Volta

aqui será apresentada uma outra demonstração usando as ferramentas desenvol-


vidas. Os casos em que as circunferências tangenciam a quinta circunferência
internamente e que tangenciam externamente são análogos. Por isso será tratado
com detalhes apenas o caso em que as circunferências tangenciam internamente e
que tangenciam uma reta.
Novamente, suponha sem perda de generalidade que o raio r4 é o menor dentre
os raios e façamos o processo de redução citado na demonstração anterior. A
circunferência Γ4 passa a ser um ponto na circunferência O, que por sua vez é
tangente a todas as outras três.

C1
C2

C3
C4

Façamos uma inversão de centro C4 e raio qualquer. A circunferência O


será levada em uma reta O ′ . As circunferências Γ1 , Γ2 e Γ3 serão levadas em
circunferências tangentes a O ′ por mesmo lado, mais distante de C4 se a tangência
inicial for interna e mais próxima de C4 se a tangência inicial era externa.
Eureka! 43 53

C1′

O′

C2′ C3′
C2
C1 C3

C4

É imediato verificar que:


′ ′ ′
t13 = t12 + t23 .
Como já vimos na demonstração da volta, isso é equivalente à equação:

t13 · t24 = t12 · t34 + t14 · t23 .

Caso seja uma reta com a tangência do mesmo lado e estando os pontos de
tangência na ordem Γ1 , Γ2 , Γ3 e Γ4 , teremos:

t13 · t24 = (t12 + t23 ) · (t23 + t34 ) = t12 · t23 + t12 · t34 + t223 + t23 · t34 =
= t12 · t34 + (t12 + t23 + t34 ) · t23 = t12 · t34 + t14 · t23

Assim, concluímos a demonstração da ida e da volta. □

O anterior mostra a forma do Teorema de Casey enunciada no Teorema 1. A


forma geral para circunferências é enunciada a seguir como o Teorema 5.

Teorema 6 (Teorema de Casey - forma geral). Considere quatro circunferências


Γ1 , Γ2 , Γ3 e Γ4 tangentes a uma circunferência K, com todas contendo comple-
tamente K ou todas contidas completamente em K. Seja Tij o comprimento da
tangente comum externa entre as circunferências Γi e Γj se eles tiverem mesmo
tipo de tangência em relação a K, ambas internas ou ambas externas, e da tangente
54 Teorema de Casey, a Ida e a Volta

comum interna se tiverem tangências diferentes, uma interna e outra externa.


Então considerando Γ1 , Γ2 , Γ3 e Γ4 em sentido horário, tem-se:

T13 · T24 = T12 · T34 + T14 · T23 .

Reciprocamente, se certas tangentes comuns entre quatro circunferências Γ1 , Γ2 ,


Γ3 e Γ4 satisfazem a equação

T12 · T34 ± T13 · T24 ± T14 · T23 = 0,

com alguma combinação de sinais, então essas circunferências são tangentes a


uma circunferência K seguindo uma das seguintes possibilidades:

• Se todas as tangentes são externas, então todas têm mesma tangência em


relação a K, todas internamente ou todas externamente.
• Se todas as tangentes em relação a uma circunferência são internas e todas
as outras são externas, então esta possui tangência diferente das outras três.
• Se as circunferências podem ser pareadas de modo que dentro do par usa-se
tangentes externas e entre pares diferentes tangentes internas, então as duas
circunferências de cada par tem tangência do mesmo tipo e diferente da
tangência do outro par.

Observe que a volta do teorema de Casey não considera todas as possibilidades


de tomar tangentes. Os casos abordados pela volta são os mesmos casos possíveis
da ida. Deve ser possível caracterizar quais circunferências tem um mesmo tipo
de tangência e quais circunferências tem o outro tipo. Lembrando que há apenas
dois tipos possíveis, tangenciar internamente ou tangenciar externamente.
Exemplo 17 (IMO/2011). Seja ABC um triângulo acutângulo com círculo
circunscrito Γ . Sejam l uma tangente a Γ e lA , lB e lC as retas obtidas pelas
reflexões de l em relação às retas BC, CA e AB, respectivamente. Mostre que o
círculo circunscrito ao triângulo determinado pelas retas lA , lB e lC é tangente
ao círculo Γ .

Solução. Vamos começar com um lema:


Lema 10. Dado um triângulo ABC e uma tangente ao seu circuncírculo passando
por um ponto T no arco AB que não contém C, seja hx o comprimento da
perpendicular pelo vértice X à tangente dada, então:
p p p
hA · sen ∠A + hB · sen ∠B = hC · sen ∠C.
Eureka! 43 55

Demonstração. Considere a figura referente ao lema. Seja R o circunraio do


triângulo ABC
C

O
B

A hC hB
hA

D F T E

Usando o Teorema de Ptolomeu, que pode ser visto como Teorema de Casey onde
cada ponto pode ser visto como uma circunferência degenerada de raio 0, teremos:

CT · AB = AT · BC + BT · AC ⇒
CT · 2R · sen ∠C = AT · 2R · sen ∠A + BT · 2R · sen ∠B ⇒
CT · sen ∠C = AT · sen ∠A + BT · sen ∠B.

Sabendo que: ∠ABT = ∠ATD = α (inscrito e semi-inscrito no arco AT ). Teremos:

hA p
= AT = 2R · sen α ⇒ AT 2 = 2RhA ⇒ AT = 2RhA .
sen α
√ √
Analogamente, BT = 2Rhb e CT = 2Rhc . Substituindo estas três na equação,
teremos:

CT · sen ∠C = AT · sen ∠A + BT · sen ∠B


p p p
2RhC · sen ∠C = 2RhA · sen ∠A + 2RhB · sen ∠B
p p p
hC · sen ∠C = hA · sen ∠A + hB · sen ∠B

Agora voltemos para o problema. Defina os seguintes pontos:

A ′ = lA ∩ l, B ′ = lB ∩ l e lc ∩ l
A ′′ = lB ∩ lC , B ′′ = lA ∩ lC e C ′′ = lA ∩ lB .
56 Teorema de Casey, a Ida e a Volta

Devido à construção, A ′ está sobre a reta BC, B ′ está sobre a reta AC e C ′ está
sobre a reta AB, pois a reflexão destes pontos em relação aos respectivos lados
serão eles mesmos.
A ′′ C
D

E
A
B B ′′
J lC

B′ F A′ C′
L l

lB lA

C ′′

Vejamos que:

∠A ′′ C ′′ B ′′ = ∠A ′ C ′′ B ′ = ∠A ′′ B ′ A ′ − ∠B ′ A ′ C ′′ (ângulo externo)
= 2 · ∠CB ′ A ′ − (180◦ − 2 · CA ′ B ′ ) (ângulos das reflexões de l)
= 2 · (∠CB ′ A ′ + ∠CA ′ B ′ ) − 180◦
= 2 · (180◦ − ∠C) − 180◦
= 180◦ − 2∠C

segue que ∠A ′′ C ′′ B ′′ = 180◦ − 2∠C. Analogamente, os outros ângulos são dados


por:
∠A ′′ B ′′ C ′′ = 180◦ − 2∠B e ∠B ′′ A ′′ C ′′ = 180◦ − 2∠A.
No triângulo A ′ B ′′ C ′ , como A ′ B bissetriz externa e C ′ B bissetriz interna, B é o
exincentro relativo a C ′ . Logo, B ′′ B é bissetriz externa do △A ′ B ′′ C ′ implicando
que B ′′ B é a bissetriz interna do △A ′ B ′′ C ′ . Por analogia, temos que A ′′ A e C ′′ C
também são bissetrizes internas do △A ′′ B ′′ C ′′ . Essas três bissetrizes concorrem
em um ponto J que é o incentro do △A ′′ B ′′ C ′′ . Observemos que:

∠BJA = ∠B ′′ JA ′′ = 180◦ − 12 ∠C ′′ B ′′ A ′′ − 12 ∠C ′′ A ′′ B ′′
= 180◦ − 21 (180◦ − 2∠B) − 12 (180◦ − 2∠A)
= ∠A + ∠B = 180◦ − ∠C.
Eureka! 43 57

Logo, ABCJ é inscritível e J está em Γ .


Seja JD a perpendicular a B ′′ A ′′ por J e r := JD, o inraio do triângulo
A B C . Sejam BE e BF perpendiculares por B às retas lc e l, respectivamente.
′′ ′′ ′′

Como C ′ B é bissetriz, temos BE = BF = hB , definida como no lema 1, usando


como tangente a reta l. Para um ponto X fora da circunferência Γ , defina T (X) o
comprimento da tangente por X à circunferência Γ .
Calculando a potência do ponto B ′′ em relação a Γ :
s
′′ 2 BE JD
T (B ) = B B · B J ⇒ T (B ) =
′′ ′′ ′′
· ,
sen (90 − ∠B) sen (90◦ − ∠B)

portanto r √
′′ hB r hB · r
T (B ) = · =
cos ∠B cos ∠B cos ∠B
Seja R ′′ o circunraio do △A ′′ B ′′ C ′′ , então, usando lei dos senos:
A ′′ C ′′ = 2R ′′ · sen ∠A ′′ B ′′ C ′′
= 2R ′′ · sen (180◦ − 2∠B)
= 2R ′′ · sen 2∠B
= 4R ′′ · sen ∠B · cos ∠B.
Assim, √
·r
T (B ′′ ) · A ′′ C ′′ = coshC∠B √ · sen ∠B · cos ∠B
′′
√ · 4R
= 4R r · hB sen ∠B.
′′

Analogamente, teremos os produtos:


√ √
T (C ′′ ) · A ′′ B ′′ = 4R ′′√ r ·√ hC sen ∠C
T (A ′′ ) · B ′′ C ′ = 4R ′′ r · hA sen ∠A.
Agora temos ferramentas suficientes para aplicar o teorema de Casey. Considere
as circunferências, dadas pelos centros e raios, C1 (0, R) = Γ , C2 (B ′′ , 0), C3 (C ′′ , 0)
e C4 (A ′′ , 0). Vejamos se a relação das tangentes é satisfeita, isto é, queremos
verificar se T13 · T24 = T12 · T34 + T14 · T23 . Para isso, vejamos que
√ p
T13 · T24 = T (C ′′ ) · A ′′ B ′′ = 4R ′′ r · hC sen ∠C.

De igual forma, √ T√ ′′
12 · T34 = T (B ) · A C =
′′ ′′
hB · sen ∠B e T14 · T23 = T (A ′′ ) ·
B C = 4R r · hA sen ∠A. Logo,
′′ ′′ ′′

√ p p 
T12 · T34 + T14 · T23 = 4R ′′ r hB sen ∠B + hA · sen ∠A
√ p 
= 4R ′′ r hC sen ∠C
= T13 · T24 .
58 Teorema de Casey, a Ida e a Volta

Finalmente, pela recíproca do Teorema de Casey, existe uma circunferência K


tangente a estas quatro circunferência. Mas como C2 , C3 e C4 são pontos, esta
circunferência K é o círculo circunscrito ao △A ′′ B ′′ C ′′ . Sendo assim, o círculo
circunscrito ao △A ′′ B ′′ C ′′ tangencia Γ .

Problemas propostos
1. (OBM/1996) Seja ABC um triângulo equilátero inscrito em uma circunfe-
rência Γ1 ; Γ2 é uma circunferência tangente ao lado BC e ao menor arco BC
de Γ1 . Uma reta através de A tangencia Γ2 em P. Prove que AP = BC.

2. (Teorema de Feuerbach, 1822) Sejam D, E e F os pontos médios dos lados


BC, CA e AB do △ABC, respectivamente.

(a) Prove que o círculo S inscrito no △ABC é tangente ao círculo N


circunscrito ao △DEF. Vale lembrar que este último é o círculo dos
nove pontos do △ABC.
(b) Prove que o círculo exinscrito relativo ao lado BC também é tangente
a N.

3. Seja ABC um triângulo com incentro I e cujo círculo circunscrito é Γ1 . D


é um ponto arbitrário sobre o lado BC. Γ2 é uma circunferência tangente
aos segmentos AD e DC, em E e F, respectivamente, e ao arco AC de Γ1 .
Prove que E, F e I são colineares.

4. Seja Γ uma semicircunferência com diâmetro AB e centro O. Uma reta


perpendicular a AB pelo ponto E ∈ OB intercepta Γ no ponto D. Uma
circunferência, que é tangente a DE e EF nos pontos K e C, respectivamente,
é tangente ao arco AB no ponto F. Prove que ∠EDC = ∠BDC.

5. As circunferências Ω1 e Ω2 tangenciam-se externamente no ponto I e ambas


tangenciam internamente uma terceira circunferência Ω. Uma tangente
externa comum às duas primeiras corta a terceira em dois pontos B e C.
Uma tangente às duas por I corta Ω num ponto A do mesmo de BC que o
ponto I. Mostre que I é o incentro do triângulo ABC.

6. (Problema de Thébault, 1938) Seja D um ponto sobre o lado AB do triângulo


ABC. A circunferência k1 (O1 , r1 ) é tangente interiormente à circunferência
k circunscrita ao ABC, é tangente a AD em M e é tangente a CD. A
circunferência k2 (O2 , r2 ) é tangente a k, é tangente a DB no ponto N e é
Eureka! 43 59

tangente a CD. Seja r o inraio do triângulo ABC e o ângulo ∠ADC = α.


Demonstrar que:
α α
r = r1 · cos2 + r2 · sen2 .
2 2

7. (Romênia TST/2006) Seja ABC um triângulo acutângulo, com AB ̸= AC.


Sejam D o pé da perpendicular por A e ω o círculo circunscrito ao △ABC.
Seja ω1 o círculo tangente a ω e aos segmentos BD e AD. Seja ω2 o círculo
tangente a ω e aos segmentos CD e AD. Seja l a tangente interior de ω1
e ω2 diferente de AD. Prove que l passa pelo ponto médio de BC se, e
somente se, 2BC = AB + AC.
8. (Hong Kong/2009) Seja o △ABC um triângulo retângulo com ∠C = 90◦ .
Seja CD a altura relativa a C, com D sobre o lado AB. Seja w o círculo
circunscrito ao △BCD. Seja v o círculo dentro do △ACD, tangente aos
segmentos AD e AC nos pontos M e N, respectivamente, e que também é
tangente ao círculo w.
(a) Mostre que BD · CN + BC · DM = CD · BM.
(b) Mostre que BM = BC.

9. (Banco IMO/1993) Considere um triângulo ABC, de incentro I, e cujo


círculo circunscrito denota-se por Γ1 ; Γ2 é uma circunferência tangente aos
lados CA e CB nos pontos D e E, respectivamente, e ao arco AB de Γ1 .
Prove que I é o ponto médio do segmento DE.
10. (Banco IMO/2000) Sejam D, E e F pontos sobre os lados BC, CA e AB,
respectivamente, do triângulo ABC tais que o triângulo DEF seja equilátero.
Uma circunferência Γ tangencia a circunferência circunscrita ao triângulo
DEF, externamente, e os segmentos CD e CE nos pontos L, M e N, respec-
tivamente. Se P é um ponto sobre Γ tal que FP é tangente a Γ , mostre que
FP = DM + EN.
Referências Bibliográficas

[1] Bellot Rosado, Francisco, Los Teoremas de Ptolomeo y su generalización por


Casey. Aplicaciones, Revista Escolar de la OIM, 2002.
[2] Campos, Onofre, O Teorema de Casey Uma generalização do Teorema de
Ptolomeu para quadriláteros inscritíveis, VIII Semana Olímpica, 2005.
[3] Johnson, Roger A., Advanced Euclidean Geometry, Dover Pub., 1960.
[4] Li, Kin Y., Caseys Theorem, Mathematical Excalibur, 16, n.5, 2012, 1-4.
Artigo: Pontos que se movem!

• Nível avançado
Jonathas David de Lima Santos
Mairiporã - SP
Régis Prado Barbosa
Cólegio Etapa - São Paulo.

Introdução
Para motivar os resultados que vamos apresentar neste artigo, inicialmente
vamos apresentar um problema olímpico de geometria. Ao final vamos mostrar
como as ideias e ferramentas apresentadas neste artigo podem ser utilizadas para
resolvê-lo.

Problema Inicial (problema 6 da OBM 2015 N3)


Seja ABC um triângulo escaleno e X, Y e Z pontos sobre as retas BC, CA,
AB, respectivamente, tais que ∠AXB = ∠BYC = ∠CZA. Os circuncírculos de
BXZ e CXY se cortam em P ̸= X. Prove que P está sobre a circunferência cujo
diâmetro tem extremidades no ortocentro (ponto de encontro das alturas) H e no
baricentro (ponto de encontro das medianas) G de ABC.
A método de resolução Pontos que se movem (ou "Moving Points"em inglês) é
uma técnica para resolver problemas de geometria. A ideia básica é que a partir
de um resultado para três pontos em certo conjunto e algumas considerações
podemos generalizar o resultado para todos do conjunto. Essa ferramenta utiliza
principalmente conceitos e ferramentas da Geometria Projetiva como a razão
cruzada e as transformações projetivas no plano.
Vamos apresentar essas ferramentas necessárias de Geometria Projetiva, enun-
ciar o teorema principal deste artigo e aplicar nas resoluções de alguns problemas,
incluindo o problema inicial apresentado no começo desse material. Nesse artigo
estamos abordando o Pontos que se movem de maneira parcial, para ter acesso ao
conteúdo completo desta técnica o leitor consulte [01], que é a maior motivação
deste texto. Caso o leitor busque mais materiais de geometria para olimpíadas
de matemática ou deseje se aprofundar nas ferramentas de Geometria Projetiva
apresentadas recomendamos que procure [02].
62 Pontos que se movem!

Plano projetivo
Uma classe de retas retrata uma direção no Plano Euclidiano, assim duas
retas são da mesma classe se, e somente se, elas são paralelas. O Plano Projetivo
é obtido a partir do Plano Euclidiano adicionando-se para cada classe de retas
um ponto do infinito ( ou ponto impróprio) que pertence a todas as retas
daquela classe e uma reta do infinito (ou reta imprópria) que é composta por
todos os pontos do infinito.
No Plano Projetivo, podemos considerar que para quaisquer duas retas distintas
no plano, existe um ponto de interseção entre elas, mesmo se as retas forem
paralelas. O ponto do infinito sobre da reta r será denotado por ∞r .

Razão Cruzada
Considere quatro pontos colineares A, B, C e D. Definimos a razão cruzada
desta quádrupla como:

CA DA
(A, B; C, D) = ÷
CB DB
É importante destacar que utilizamos segmentos orientados como se fossem
vetores. Isto significa que se um sentido é positivo, então o oposto é negativo e
para quaisquer pontos X e Y temos
Eureka! 43 63

YX = −XY
Vale destacar também que algum desses pontos pode ser um ponto no infinito.
Nesse caso de maneira simplificada consideramos infinito sobre infinito em módulo
igual a 1.
Também podemos definir a razão cruzada para quatro retas PA, PB, PC e PD
concorrentes no ponto P utilizando senos de ângulos orientados.

sen(∠CPA) sen(∠DPA)
P(A, B; C, D) = (PA, PB; PC, PD) = ÷ )
sen(∠CPB) sen(∠DPB

Teorema 7 (Razão cruzada sob perspectiva). P(A, B; C, D) é um feixe de retas


e A, B, C e D colineares. Então

P(A, B; C, D) = (A, B; C, D)

Demonstração: Bastar usar Lei dos senos nos triângulos CPA, CPB, DPA e
DPB e cancelar os termos iguais.

Considere pontos A ′ , B ′ , C ′ e D ′ colineares tais que estão sobre as retas PA,
PB, PC e PD, respectivamente.
Pelo (7) temos as seguintes igualdades:

(A, B; C, D) = P(A, B, ; C, D) = P(A ′ , B ′ ; C ′ , D ′ ) = (A ′ , B ′ ; C ′ , D ′ )

Denotamos esse resultado como perspectiva em P. Nota-se que a razão


cruzada não varia com as transformações perspectivas.
64 Pontos que se movem!

Teorema 8 (Razão cruzada num quadrilátero cíclico). Sejam A, B, C e D


pontos numa circunferência, e seja P um ponto qualquer nessa circunferência.
Então P(A, B; C, D) é constante. Dessa forma, podemos escrever (A, B; C, D) =
P(A, B; C, D).
Demonstração: Os ângulos ∠CPA, ∠CPB, ∠DPA e ∠DPB não dependem do
ponto P. Usando a interpretação de razão cruzada usando os senos, P(A, B; C, D)
não depende de P.

Podemos fazer a projeção dos pontos de uma circunferência sobre uma reta
usando o ponto P:

(A, B; C, D) = P(A, B; C, D) = P(A ′ , B ′ ; C ′ , D ′ ) = (A ′ , B ′ ; C ′ , D ′ )

Denotamos de maneira análoga a perspectiva em P por.

(A, B; C, D) = (A ′ , B ′ ; C ′ , D ′ )
Eureka! 43 65

Pontos que se movem


A ferramenta principal deste artigo será baseada na definição e no teorema a
seguir.
Definição: Seja ℑ o conjunto dos objetos onde a razão cruzada é definida
como retas, cônicas e feixes de retas. Sejam C1 , C2 ∈ ℑ, a função f : C1 → C2
é uma transformação projetiva se preserva a razão cruzada, isto é, se para
quaisquer pontos A, B, C, D ∈ C1 vale

(A, B; C, D) = (f(A), f(B); f(C), f(D))


Existe uma grande variedade de transformações projetivas no plano dentre as
mais frequentes temos:

• Dados uma reta l, um ponto P e o feixe de retas que passam por P (CP ). A
transformação de l para CP que leva cada ponto X na reta PX. Notação:
X 7→ PX.

• Dado uma cônica γ e um ponto P ∈ γ. A transformação de γ para CP dada


por X 7→ PX.

• Para qualquer ponto P. A transformação de γ para γ dada por X 7→ Y com


Y ∈ PX ∩ γ e Y ̸= X.

• Inversão em relação a uma circunferência.

Teorema 9 (Pontos que se movem). Sejam f : C1 → C2 e g : C1 → C2


duas transformações projetivas. Vale a equivalência f ≡ g se, e somente se,
f(Ai ) = g(Ai ) para três elementos (geralmente pontos) distintos A1 , A2 e A3 de
C1 .

Demonstração: A ida do teorema é imediata. Vamos provar somente a volta.


Considere três elementos distintos A1 , A2 , A3 ∈ C1 com f(Ai ) = g(Ai ) = Bi .
Para qualquer ponto A ∈ C1 \(A1 , A2 , A3 ) existe um único ponto B ∈ C2
tal que (A1 , A2 ; A3 , A) = (B1 , B2 ; B3 , B). Como as transformações são projetivas
podemos concluir que f(A) = g(A) = B.

Exemplo 18 (Olimpíada Nacional da Sérvia 2018). Seja ABC um triângulo


com incentro I. Os pontos P e Q são escolhidos nos segmentos BI e CI tal que
∠BAC = 2∠PAQ. Se D é o ponto de interseção do incírculo com o lado BC do
triângulo ABC, prove que ∠PDQ = 90◦ .
66 Pontos que se movem!

Solução. Seja ∠BAC = 2α. Considere a transformação f : BI → CI que leva cada


ponto P ∈ BI para o ponto Q ∈ CI tal que ∠PAQ = α. Veja que AP 7→ AQ é uma
rotação de ângulo fixo α e é uma transformação projetiva, pois conserva a razão
cruzada. Assim, P 7→ AP 7→ AQ 7→ Q é uma transformação projetiva. De maneira
similar, definimos g : BI → CI de modo que g(P) = Y tal que ∠PDY = 90◦ . Essa
transformação também é projetiva.
Pelo Teorema 9, basta provar que f = g para três pontos distintos P e o
resultado segue.

• Se P = B, então f(B) = g(B) = I.


• Se P = I, então f(I) = g(I) = C.
• Se P e Q são os incentros dos triângulos ABD e ACD, respectivamente,
então f(P) = g(P) = Q pois

∠BAI ∠IAC ∠BAC


∠PAQ = ∠PAI + ∠IAQ = + = =α
2 2 2

∠BDI ∠IDC
∠PDQ = ∠PDI + ∠IDQ = + = 90◦
2 2

Exemplo 19 (IMO 2010). Seja ABC um triângulo, I o seu incentro e Γ a sua


circunferência circunscrita. A reta AI intersecta novamente Γ no ponto D. Sejam
E um ponto no arco BDC e F um ponto do lado BC tais que
1
∠BAF = ∠CAE < ∠BAC
2
Eureka! 43 67

Seja G o ponto médio do segmento IF. Mostre que as retas DG e EI se


intersectam sobre Γ .

Solução. Vamos considerar que o ponto E pode se mover no arco BDC sem
a restrição sobre ser menor que metade do ângulo A. Sejam K1 ∈ EI ∩ Γ e
K2 ∈ DG ∩ Γ , com K1 ̸= E e K2 ̸= D, basta provarmos que K1 = K2 . A
transformação f : E → K1 é projetiva, pela simples projeção de Γ para si mesmo
por I.
Observe que E 7→ AE 7→ AF 7→ F é uma transformação projetiva já que
AE 7→ AF é uma reflexão em relação à bissetriz interna AD e preserva a razão
cruzada. O ponto G é resultado de uma homotetia de centro I e razão 12 e, como
D ∈ Γ , o K2 é resultado de uma projeção sobre Γ . A transformação F 7→ G 7→ K2
é projetiva. Assim, g : E → K2 dada por E 7→ AE 7→ AF 7→ F 7→ G 7→ K2 é uma
transformação projetiva.
Portanto, basta mostrar que f = g para três pontos distintos E.
• Se E = C, temos que F = B e K1 é o ponto médio do arco AB. É bastante
conhecido em olimpíadas de matemática que DI = DB e K1 I = K1 B então
DK1 é mediatriz BI, logo G ∈ DK1 . Logo K1 = K2 .
• Se E = B, é análogo ao caso anterior.
• Se E = D, temos que {F} = AD ∩ BC e K1 = A então G ∈ AD. Nesse caso,
temos K1 = K2 = A.
68 Pontos que se movem!

Exemplo 20. Sejam P e Q conjugados isogonais no triãngulo ABC. Ponto D


é a projeção ortogonal de Q em BC. A circunferência de diâmetro PA e a reta
AQ intersectam o circuncírculo de ABC em K ̸= A e em T ̸= A, respectivamente.
Prove que os pontos K, D e T são colineares.

Solução. Vamos fixar o ponto T e mover Q sobre a reta AT . Note que P se


move sobre uma reta fixa r. Vamos considerar duas transformações f : Q → K1
e g : Q → K2 , onde K1 ∈ TD ∩ (ABC) e K2 ∈ (PA) ∩ (ABC) diferentes de T e A.
Podemos notar que Q 7→ D 7→ TD 7→ K1 é uma transformação projetiva usando
projeções.
Vamos usar a inversão para mostrar que P 7→ K2 é uma transformação projetiva.
Considere a inversão de centro A. Cada ponto X ̸= A é levado em X ′ . A inversão
leva r em r. A imagem de (ABC) é a reta B ′ C ′ . A circunferência de diâmetro
AP é levada na reta perpendicular a r por P ′ .
A transformação P ′ 7→ K2′ é projetiva, já que P ′ se move sobre r que é
fixa. Como a inversão preserva a razão cruzada, P 7→ P ′ 7→ K2′ 7→ K2 é uma
transformação projetiva.
Vamos dar três posições do ponto Q e o leitor pode verificar que K1 = K2 em
cada caso.

• Q = T.
Eureka! 43 69

• Q = ∞AT .
• Q = BC ∩ AT .

Resolução do Problema Inicial

A circunferência com diâmetro HG será denotada por (HG). Defina A ′ como


a segunda interseção de AG e (HG). Defina B ′ e C ′ de maneira análoga. Esses
são os HM points (ou Humpty points) e usaremos algumas propriedades desses
pontos. Para se familiarizar com elas o leitor pode estudar em [03].

Afirmação: A ′ ∈ (AYZ).
70 Pontos que se movem!

Vamos considerar duas transformações Y 7→ Z e Y 7→ Z ′ , com Z ′ ∈ (AYA ′ )∩AB


diferente de A. Veremos que elas são projetivas.
• Veja que a circunferência (ZBC) é reflexão de (YBC) em relação a BC. Sendo
Y ′ a reflexão de Y, os pontos C, B, Z e Y ′ são concíclicos usando o ângulo
fixo dado e a reta ZY ′ tem direção fixa, já que ∠CY ′ Z = ∠CBA que é fixo
(ou o suplementar deste ângulo dependendo da configuração). Dessa forma,
Y 7→ Y ′ 7→ Z preserva razão cruzada.
• A reta A ′ Z ′ é uma rotação de A ′ Y em relação a A ′ com ângulo ∠YAZ ′ =
180◦ − ∠BAC fixo. Assim Y → 7 A ′ Y 7→ A ′ Z ′ 7→ Z ′ preserva razão cruzada.
Pelo Teorema 9, basta verficar que a transformação é igual para três posições do
ponto Y. O ponto A ′ está na circunferência de diâmetro AH e nas circunferências
por A tangentes a BC em B e C.
• BY ⊥ AC. Nesse caso BY e CZ são alturas, (AYA ′ ) tem diâmetro AH e
Z ′ = Z.
• ∠BYC = ∠B. A circunferência (AYA ′ ) tangencia BC em B e Z = Z ′ = B.
• ∠BYC = 180◦ − ∠C. Análogo ao caso anterior.
Analogamente, vale a afirmação para B ′ e C ′ . Considere as duas transfor-
mações f : X → P ′ , com P ′ ∈ (BB ′ X) ∩ (HG) e P ′ ̸= B ′ , e g : X → P ′′ , com
P ′′ ∈ (CC ′ Y) ∩ (HG) e P ′′ ̸= C ′ , dada por X 7→ Y 7→ P ′′ . Elas preservam razão
cruzada. Para P ′ , seja R o segundo ponto de interseção de XP ′ com (HG). Temos
∠RP ′ B ′ = 180◦ − ∠XP ′ B ′ = ∠XBB ′ é fixo. O ponto R é fixo e as transformações
são projeções centradas em R. Para P ′′ é análogo. Basta provarmos que f = g e
teremos P ′ = P ′′ . Para isso, basta considerar três posições para o ponto X.
• AX ⊥ BC. Temos P ′ = P ′′ = H.
• X ∈ (BB ′ C ′ ) ∩ BC. Temos P ′ = P ′′ = C ′ .
• X ∈ (BB ′ A ′ ) ∩ BC. Temos P ′ = P ′′ = A ′ .

Mais algums problemas interessantes


1. Seja ABC um triângulo com circuncírculo (O). A tangente de (O) em A
intersecta a reta BC em P. O ponto E é um ponto arbitrário sobre a reta PO
e D está na reta BE de modo que AD ⊥ AB. Prove que ∠EAB = ∠ACD
(considere ângulos orientados ou de maneira simples que são iguais ou somam
180◦ ).
Eureka! 43 71

2. Seja triângulo ABC com circuncírculo (O) e incírculo (I). X é um ponto


arbitrário em BC. A reta que passa por I perpendicular a IX intersecta a
segunda reta tangente de (I) paralela a BC em Y. AY ∩ (O) = Z ̸= A. T é
o ponto de tangencia entre A-incírculo mixtilinear e (O). Prove que X, Z e
T são colineares. Para mais informações sobre círculos mixtilineares o leitor
por consultar [02].

3. Seja AB um diâmetro da circunferência ω. l é a reta tangente de ω em B.


Tome dois pontos C e D em l tal que B está entre C e D, respectivamente.
Os pontos E e F são os segundos pontos de interseção de AC e AD com ω.
Os pontos H e G são os segundos pontos de interseção de CF e DE com ω,
respectivamente. Prove que AH = AG.

4. Seja (O) um círculo e l uma reta. A reta perpendicular a l que passa por
O intersecta (O) em A e B. Sejam P1 e P2 pontos em (O). Sejam também
P1 A ∩ l = X1 , P1 B ∩ l = X2 , P2 A ∩ l = Y1 e P2 B ∩ l = Y2 . Prove que
(AX1 Y1 ) e (AX2 Y2 ) se intersectam sobre (O).

5. No triângulo ABC com ∠B obtuso e AB ̸= BC. Sejam O o circuncentro e


ω circuncírculo de ABC. N é o ponto médio do arco ABC. (BON) ∩ AC =
(X, Y), BX ∩ ω = P ̸= B e BY ∩ ω = Q ̸= B. Prove que P, Q e reflexão de N
sobre a reta AC são colineares.

Resoluções
1. Resolução: Movendo o ponto E sobre a reta PO, a transformação f : E →
D1 preserva a razão cruzada, onde D1 ∈ BE tal que D1 A ⊥ BA, pois é uma
projeção sobre a reta r perpendicular para AB por A. Considere também a
transformação g : E → D2 , onde D2 A ⊥ BA e ∠ACD2 = ∠EAB, temos que
AE 7→ CD2 preserva a razão cruzada pois é uma composição de translação
e rotação, assim E 7→ AE 7→ CD2 7→ D2 é projetiva.
Basta provar que f = g para três posições de E.

• E = AB ∩ PO ⇒ f(E) = g(E) = A.
• E = O ⇒ f(E) = g(E) = B1 simétrico de B em (O).
• E = P ⇒ f(E) = g(E) = r ∩ BC.

2. Solução. Movendo o ponto X sobre a reta BC, a transformação f : X 7→


TX 7→ Z1 preserva a razão cruzada, onde Z1 ∈ TX ∩ (O) difrente de T , e
72 Pontos que se movem!

observe também que a transformação g : X 7→ IX 7→ IY 7→ Y 7→ AY 7→ Z2


Eureka! 43 73

também é projetiva, definindo Z2 ∈ AY ∩ (O) diferente de A.


Basta verificar que f = g para três posições de X.

• X = B ⇒ f(X) = g(X) = B.
• X = C ⇒ f(X) = g(X) = C.
• X = ∞BC ⇒ f(X) = S tal que S ∈ (O) e TS ∥ BC. Por outro lado,
g(X) = S, pois Y é o simétrico do ponto de tangência de (I) com BC,
os arcos BT e AS possuem mesma medida, AS é isogonal a AT e, por
homotetia e propriedades do mixtilinear, A, Y e S são colineares.

3. Solução. Neste problema temos dois pontos variáveis sobre a reta l, porém
para resolver o problema basta provar que AH = AG fixando um desses
pontos e movendo o outro sobre a reta. Vamos fixar o ponto C (o ponto E
também fica fixo) e vamos mover o ponto D.
Consideramos as duas transformações f : D 7→ G1 , onde G1 é a reflexão de
H em relação a AB, e g : D 7→ G2 , onde G2 ∈ FC∩ω diferente de F. Perceba
74 Pontos que se movem!

que f : D 7→ ED 7→ H 7→ G1 e g : D 7→ AD 7→ F 7→ CF 7→ G2 preservam a
razão cruzada de acordo com as transformações vistas anteriormente.
Basta verificar que f = g para três posições de D.

• D = B ⇒ f(D) = g(D) = B. Uma forma de vizualizar esta situação é


pensar no limite quando D se aproxima de B.
• D = C ′ , simétrico de C em relação a B, ⇒ f(D) = g(D), por simetria.
• D = ∞l ⇒ f(D) = g(D) = E, pois F = A e H é o segundo encontro da
perpendicular a AB por E com ω.

4. Solução. Fixe o ponto P2 e mova P1 sobre (O), como no problema anterior.


Veja que Y1 e Y2 são fixos. Considere as duas transformações f : P1 7→ K1 e
g : P1 7→ K2 , onde K1 ∈ (X1 AY1 ) ∩ (O) e K2 ∈ (X2 AY2 ) ∩ (O) diferentes de
A fora nos casos degenerados.
Quadrilátero AY1 X1 K1 é cíclico então ∠AK1 X1 = 180◦ − ∠AY1 X1 é cons-
tante, logo o ponto Z ∈ K1 X1 ∩ (O) é fixo. Agora note que f : P1 7→ AP1 7→
Eureka! 43 75

X1 7→ ZX1 7→ K1 preserva a razão cruzada. Analogamente g também é


projetiva.
Observamos que ZP2 ⊥ AB e Z é a reflexão de P2 em relação AB, pois:

∠AP2 Z = 180◦ −∠AK1 X1 = 180◦ −(180◦ −∠AY1 X1 ) = ∠AY1 X1 = 90◦ −∠BAP2

Basta provar que f = g para três posições de P1 .

• P1 = A ⇒ f(P1 ) = g(P1 ) = P2 .
• P1 = P2 ⇒ f(P1 ) = g(P1 ) = T onde M é o ponto médio do segmento
Y1 Y2 e T ∈ AM ∩ (O) diferente de A. Vale destacar que M é o
circuncentro do triângulo Y1 P2 Y2 e ∠MP2 Y2 = ∠MY2 P2 = ∠BAP2 e
MP2 é tangente a (O).
• P1 = Z ⇒ f(P1 ) = g(P2 ) = A.

5. Solução. Sejam M a segunda interseção de NO com (O) e N ′ a reflexão de


N sobre a AC. Fixe os pontos A, C e O e varie o ponto X sobre a reta AC.
Veja que N, N ′ e M também são pontos fixos. Os pontos B e Y são os segun-
dos pontos de interseção da circunferência (OXN) com (O), fora em caso
degenerado. Observe que OX ∥ PM, pois ∠PMN = 180◦ −∠XBM = ∠XON.
Vamos trabalhar as duas transformações f : X 7→ Q e g : X 7→ Q1 onde Q1
76 Pontos que se movem!

é a segunda interseção de PN ′ e (O).

Usando a ferramenta de inversão sobre (O), como no Exemplo 03, a trans-


formação f : X 7→ X ′ 7→ Y ′ 7→ Y 7→ Q é projetiva. Já que OX ∥ PM então
X 7→ OX 7→ PM 7→ P é uma composição de projeções e uma translação e
preserva razão cruzada. Como N ′ é fixo, g : X 7→ P 7→ Q1 também é uma
transformação projetiva.
Sejam (ON) a circunferência de diâmetro ON e (ON) ∩ AC = {Z1 , Z2 }.
Suponha que NZ1 e NZ2 cruzam (O) novamente nos pontos P1 e P2 ,
respectivamente. Basta provar que f = g para três posições do ponto X.

• X = Z1 ⇒ f(X) = g(X) = P2 . Nesse caso, B = N e como OZ1 e OZ2


são perpendiculares a NZ1 e NZ2 , respectivamente, Z1 Z2 é base média
de P1 P2 e N ′ está sobre P1 P2 .
• X = Z2 ⇒ f(X) = g(X) = P1 . Análogo ao caso anterior.
• X = A ⇒ f(X) = g(X) = C. Temos um caso degenerado e uma forma
de vizualizar é pensar no limite quando X se aproxima de A. Temos
B = X = A e podemos tomar P usando o paralelismo OX ∥ PM. Temos
Q = C. Resta apenas provar que P, N ′ e C são colineares. Veja que
∠NCP = ∠NMP = ∠NOX = ∠NOA = 2∠NCA = ∠NCN ′ usando
ângulos em circunferência e a simetria de N e N ′ em relação a AC.

Problemas propostos
1. (USA IMO TST 2019) Seja ABC um triângulo e sejam M e N os pontos
médios de AB e AC, respectivamente. Seja X um ponto tal que AX é
tangente ao circuncírculo de ABC. Denote ωB a circunferência por M e B
tangente a MX e ωC a circunferência por N e C tangente a NX. Prove que
ωB e ωC se intersectam sobre a reta BC.

2. (USA IMO TST 2012) Num triângulo acutângulo ABC, com ∠A < ∠B e
∠A < ∠C. Seja P um ponto variável no lado BC. Os pontos D e E estão
nos lados AB e AC, respectivamente, tais que BP = PD e CP = PE. Prove
que enquanto P se move sobre o lado BC, o circuncírculo do triângulo ADE
passa num ponto fixo diferente de A.
Referências Bibliográficas

[1] Zveryk, Vladyslav. The Method of Moving Points. July 29, 2019.
[2] Chen, Evan. Euclidean Geometry in Mathematical Olympiads. Mathematical
Association of America, 2016.

[3] Handa, Gunmay e MUDGAL, Anant. A Special Point on the Median. Mathe-
matical Reflections 2, 2017.
[4] Akopyan, A. V. e ZASLAVSKY, A. A. Geometry of Conics. American
Mathematical Society, 2007.

[5] Moreira, Francisco. Geometria Projetiva. Treinamento EGMO 2021.



[6] Shine, Carlos. A inversão bc que não muda ABC. 19a Semana Olímpica,
2015.
Artigo: Racionalizando o Logotipo da OBM

• Nível Avançado
Rafael Tupynambá Dutra
Belo Horizonte - MG

18
30
33 9
19
24
12
-5

Figura 1: Versão do logotipo da OBM com uma corrente de 6 círculos. Os números


representam a curvatura (inverso do raio) de cada círculo.

O logotipo da Olimpíada Brasileira de Matemática consiste em uma corrente


de Steiner de n círculos (n = 5) coloridos, todos tangentes a um dado círculo
interno e a um externo. Neste artigo, mostraremos que com n = 6 (e, também,
com n = 4 ou n = 3, mas não com n = 5), é possível obter figuras em que
os raios de todos os círculos são racionais. Estudaremos algumas propriedades
interessantes dessas construções no que diz respeito à álgebra, à geometria e até à
teoria dos números. Por exemplo, na Figura 1, note que as somas das curvaturas
de círculos opostos coincidem (9 + 33 = 12 + 30 = 18 + 24 = 3(19 − 5)), as retas
que passam pelos centros ←c9−c−→ ←−−→
18 e c12 c24 são paralelas e os 6 círculos coloridos têm
curvaturas múltiplas de 3. Por fim, mostraremos que essa construção se estende
como um fractal, permitindo o empacotamento de infinitos círculos de curvaturas
inteiras.
Obviamente, se encontrarmos uma corrente de Steiner em que os raios de todos
Eureka! 43 79

os círculos são racionais, suas curvaturas também serão racionais e, multiplicando


as curvaturas pelo denominador comum, obtemos uma versão em escala da figura
com todas as curvaturas inteiras. É conveniente definir a curvatura do círculo
externo com sinal negativo, simbolizando que o “interior” deste círculo é, na
verdade, a parte exterior da figura, contendo o ponto do infinito. Dessa forma, os
interiores de todos os 8 círculos na Figura 1 são disjuntos.

Propriedades Algébricas
Uma corrente de Steiner, como o logotipo da OBM, pode ser construída
aplicando-se uma inversão a uma figura originalmente simétrica, como já detalhado
em um artigo da 4a edição da Revista Eureka! [5]. A Figura 2 mostra essa
configuração original para uma corrente de 6 círculos. Para as equações, será
conveniente trabalhar no plano complexo. Definindo a raiz sexta da unidade
2πi
ω = e 6 , os 6 círculos da corrente são posicionados com centros em ωk , para
k ∈ {0, 1, 2, 3, 4, 5}. Eles têm raio 1/2, assim como o círculo interior, enquanto
que o círculo exterior possui raio 3/2. No caso geral, os raios dos n círculos da
corrente são sen n π
, enquanto que o raio do círculo interno é 1 − sen n
π
e o do
círculo externo 1 + sen n . π

ω2 ω

-1 z 1

ω4 ω5

Figura 2: Disposição
√ inicial simétrica de n = 6 círculos. O centro de inversão
3
z = 13 1
− 26 3 i foi utilizado para obter Figura 1.

Vamos posicionar o centro de inversão z no interior do círculo interno da


80 Racionalizando o Logotipo da OBM

Figura 2. Dessa forma, a inversão levará o círculo interno da Figura 2 no


círculo externo
√ da Figura 1, e vice-versa. Por exemplo, o centro de inversão
z = 133 1
− 26 3 i permite a obtenção das curvaturas inteiras mostradas na Figura 1.
Para estudar a inversão de um círculo, considere a Figura 3. Ao aplicar uma
inversão de centro z e raio de inversão ρ, o ponto x é levado em x ′ que satisfaz
ρ2 ρ2
|x ′ − z| = |x−z| . Da mesma forma, y é levado em y ′ que satisfaz |y ′ − z| = |y−z| .
O raio do novo círculo r ′ = (|x ′ − z| − |y ′ − z|) /2 é então

r′
r

y y′
v x′
x w
z

Figura 3: Inversão de um círculo.

ρ2 ρ2 ρ2 r
 
1

r = − = (14)
2 |z − w| − r |z − w| + r |z − w|2 − r2
Da mesma forma, podemos calcular a posição do centro do novo círculo v (que
não é resultado da inversão do centro original w). Uma homotetia de centro z e
razão r ′ /r leva w em v, de forma que

r′
v=z+ (w − z) (15)
r
Usando essas fórmulas, podemos obter os seguintes teoremas sobre a corrente
de Steiner resultante. A notação Sn [ae , ai ; b0 , . . . , bn−1 ] é usada para se referir a
uma corrente de Steiner cujos n círculos possuem curvaturas b0 , . . . , bn−1 , nesta
ordem, sendo ae e ai as curvaturas dos círculos externo e interno. Em geral, cada
corrente possui 4n tais representações, já que podemos escolher o círculo inicial
da corrente, o sentido de rotação na corrente e a ordem entre ae e ai .
Teorema 10 (Correntes de Steiner de 6 círculos). Uma corrente de Steiner de 6
círculos com curvaturas dadas por S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] satisfaz:

b0 + b3 = b1 + b4 = b2 + b5 (16)

b0 + b2 + b4 = b1 + b3 + b5 (17)
Eureka! 43 81

b0 + b1 + b2 + b3 + b4 + b5 = 9(ae + ai ) (18)

81
b20 + b21 + b22 + b23 + b24 + b25 = (ae + ai )2 + 9ae ai (19)
4
Demonstração. Como todas as equações a serem provadas são homogêneas, po-
demos assumir sem perda de generalidade que o raio de inversão é ρ = 1. As
curvaturas podem ser diretamente calculadas invertendo a equação (14).
Para o círculo externo, usamos w = 0 e r = 1/2, obtendo

1
ae = 2|z|2 −
2
Note que escolhemos um ponto z interior ao círculo interno, de modo que
|z| < 1/2 e a equação para ae satisfaz a convenção ae < 0. Vamos a seguir calcular
as outras curvaturas em função do valor de ae . Para o círculo interno, usamos
w = 0 e r = 3/2, para obter

2 3 4 − ae
ai = − |z|2 + =
3 2 3
Aqui, tivemos que realizar uma mudança de sinal, já que |z| < 3/2, mas a
curvatura do círculo interno ai precisa ser positiva.
Para os 6 círculos restantes, utilizamos w = ωk e r = 1/2, de forma que

2 1  1
bk = 2 z − ωk = 2 z − ωk z − ωk −


2 2

Usando zz = |z|2 e ωω = |ω|2 = 1, obtemos

bk = ae + 2 − 2 ωk z + ωk z (20)


Para obter as equações (16) e (18), basta usar ωk + ωk+3 = 0 para calcular

bk + bk+3 = 2ae + 4 = 3(ae + ai )

Analogamente, usando ωk + ωk+2 + ωk+4 = 0, a equação (17) segue. Resta


provar a equação (19). Temos

X
5 X
5 
2 
b2k = (ae + 2)2 − 4(ae + 2) ωk z + ωk z + 4 ωk z + ωk z


k=0 k=0
82 Racionalizando o Logotipo da OBM

P5 P5
Como k=0 ωk = 0, o termo do meio é nulo. E como k=0 ω2k = 0, o
último termo se reduz a

X
5
2
4 ωk z + ωk z = 6 · 8|z|2 = 24ae + 12
k=0

Assim, temos

X
5
b2k = 6(ae + 2)2 + 24ae + 12 = 6a2e + 48ae + 36
k=0

Por outro lado, o lado direito da equação (19) vale

9(ae + 2)2 + 3ae (4 − ae ) = 6a2e + 48ae + 36

Note que, se fixarmos as curvaturas ae e ai dos círculos externo e interno, as


equações (16)-(19) são 5 equações envolvendo as 6 variáveis b0 , . . . , b5 . Assim,
há apenas 1 grau de liberdade restante para determinar essas 6 curvaturas.
Intuitivamente, isso faz sentido, uma vez que fixados os círculos externo e interno,
a posição de um círculo na corrente determina a posição dos demais. Perceba que,
mesmo sem fixar ae e ai , as equações (16) e (17) já impõem 3 condições sobre as
6 variáveis b0 , . . . , b5 , restando apenas 3 graus de liberdade para escolhê-las.
É possível demonstrar que a fórmula equivalente à equação (18) para correntes
com n = 5 círculos é

cos2 π5 ae + ai
 
b0 + b1 + b2 + b3 + b 4 2 ae + ai
= π · = 1+ √
5 sen 5
2 2 5 2

o que imediatamente implica que no caso n = 5 não há soluções em que as 7


curvaturas sejam inteiras. Na verdade, algo mais forte pode ser provado.

Exercício 1. Mostre que na corrente S5 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 ], as 5 curvaturas


b0 , b1 , b2 , b3 , b4 só podem ser todas racionais se elas forem iguais.

Talvez ainda mais surpreendente que as equações apresentadas no Teorema 10


seja o fato de que elas continuam válidas quando as curvaturas são substituídas
pelos produtos entre curvatura e o número complexo que representa o centro de
cada círculo.
Eureka! 43 83

Teorema 11 (Correntes de Steiner de 6 círculos: centros). Uma corrente de


Steiner S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] cujos centros dos círculos são dados por
ze , zi ; z0 , z1 , z2 , z3 , z4 , z5 no plano complexo satisfaz:

b0 z 0 + b3 z 3 = b1 z 1 + b4 z 4 = b2 z 2 + b5 z 5 (21)

b0 z 0 + b2 z 2 + b4 z 4 = b1 z 1 + b3 z 3 + b5 z 5 (22)

b0 z0 + b1 z1 + b2 z2 + b3 z3 + b4 z4 + b5 z5 = 9(ae ze + ai zi ) (23)

81
b20 z20 + b21 z21 + b22 z22 + b23 z23 + b24 z24 + b25 z25 = (ae ze + ai zi )2 + 9ae ai ze zi (24)
4
Demonstração. A equação (15) pode ser escrita como
1 1 1
v = ′ z + (w − z)
r′ r r
A partir dela, podemos calcular os produtos para o círculo externo

ae ze = (ae − 2)z

e para o círculo interno  


2
ai zi = ai + z
3
Para os círculos da corrente, temos

bk z k = b k z + 2 ω k − z


de forma que

bk zk + bk+3 zk+3 = 3(ae + ai )z − 4z = 3(ae ze + ai zi )

Isso demostra as equações (21) e (23). Similarmente, para demonstrar (22),


fazemos
9 9
bk zk + bk+2 zk+2 + bk+4 zk+4 = (ae + ai )z − 6z = (ae ze + ai zi )
2 2
Resta demonstrar (24). Temos

X
5 X
5
b2k z2k = b2k z2 − 4bk z2 + 4bk ωk z + 4z2


k=0 k=0
84 Racionalizando o Logotipo da OBM

A partir de (20), é possível mostrar que

X
5
12z
bk ω k = − = −3(3ai + ae )z
ρ2
k=0

de forma que

X
5 
81

b2k z2k = (ae + ai ) + 9ae ai − 36(ae + ai ) − 12(3ai + ae ) + 24 z2
2
4
k=0

X
5 
81

b2k z2k = (ae + ai )2 + 9ae ai − 48ae − 72ai + 24 z2
4
k=0

Já o lado direito de (24) é igual a


 2  !
81 2 2
ae − 2 + ai + + 9(ae − 2) ai + z2
4 3 3
 
81
= (ae + ai ) + 9ae ai − 48ae − 72ai + 24 z2
2
4

Propriedades Geométricas
Vamos agora usar as propriedades fornecidas pelos Teoremas 10 e 11 para
inferir aspectos geométricos da corrente mostrada na Figura 1. A Figura 4 mostra
uma versão rotacionada da mesma corrente, com escala ajustada de forma que o
círculo externo seja unitário.
Essa figura tem muitas propriedades geométricas interessantes. Por exemplo,
representando por cm o centro do círculo de curvatura m, temos que as retas
← −−c−→ e ← −−→ ←−−→ ←−−→
c−5 12 c30 c33 são paralelas, assim como o par de retas c−5 c9 e c18 c30 , e também
←−−−→ ←− −→ ← −− →
o trio de retas c−5 c30 , c9 c18 e c12 c24 . Interessantemente, o paralelismo das retas

c9−c−→ ←−−→
18 e c12 c24 decorre diretamente do fato de que esses dois pares de círculos
vizinhos apresentam razão 2 entre eles: 18/9 = 24/12 = 2. Surpreendentemente,
outras propriedades geométricas de interesse também decorrem desse fato, como
mostraremos no Teorema 12.

Definição 3. Uma corrente de Steiner de 6 círculos é chamada pareada se puder


ser representada como S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] com b b4
b0 = b5 = 2.
1
Eureka! 43 85

Na verdade, usando as equações (16) e (17), encontramos condições suficientes


mais fracas para que uma corrente seja pareada.
Exercício 2. Mostre que se uma corrente S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] satisfaz
b1 b4
b0 = b5 com b0 ̸= b5 , ela é pareada.

Exercício 3. Mostre que se uma corrente S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] satisfaz


b1
b0 = 2, ela é pareada.

18 9

30
19
33
24 12
-5

Figura 4: Versão rotacionada√da Figura 1, onde √ os centros dos círculos


√ são dados
por c−5 = 0, c19 = − 19
8 4
− 57 3 i, c9 = 29 + 29 3 i, c18 = − 11 + 2
3 i, c30 = − 6 ,
5
√ √ √ 18 9
c33 = − 26 2 13 1 1 1
33 − 11 3 i, c24 = − 24 − 3 3 i, c12 = 12 − 3 3 i.

Teorema 12 (Correntes pareadas). Uma corrente de Steiner composta por 6


círculos S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] pareada com b b4
b0 = b5 = 2 cujos círculos
1

são chamados Ce , Ci ; C0 , C1 , C2 , C3 , C4 , C5 com centros ze , zi ; z0 , z1 , z2 , z3 , z4 , z5


satisfaz as seguintes propriedades geométricas:
1. A reta z←−→ z e a reta ←
0 1 z −→
4 5 z são paralelas.
2. O ponto de tangência T0,1 entre C0 e C1 e o ponto de tangência T4,5 entre
←−−−→
C4 e C5 formam uma reta T0,1 T4,5 perpendicular às retas ← z0−→
z1 e ←z4−→z5 e,
portanto, tangente aos 4 círculos.
←−−−→
3. A reta T5,0 T2,3 definida analogamente é paralela às retas ←
z0−→
z1 e ←z4−→
z5 .
86 Racionalizando o Logotipo da OBM

4. Sendo P1 o outro ponto de interseção da reta ← z0−→


z1 com C1 e P4 o outro
←−→ ←−→
ponto de interseção da reta z4 z5 com C4 , a reta P1 P4 contém os centros z2
e z3 .
Demonstração. Primeiro vamos provar que se uma inversão leva um círculo da
corrente em outro, essa inversão necessariamente preserva o círculo interno e o
círculo externo tangente a ambos. Tal inversão precisa estar centrada no centro
homotético externo E dos dois círculos (vide Figura 5).

P′
T1
P Q′
Q
E O1 O2

T2

Figura 5: Inversão de centro E transforma P ↔ P ′ e Q ↔ Q ′ .

Imagine que traçamos uma reta qualquer pelo ponto E, que intersecta os dois
círculos nos pontos P, Q, Q ′ e P ′ . Existe uma inversão de centro E que leva P
em P ′ e Q em Q ′ (pares anti-homólogos). E existe uma homotetia de centro E
que leva P em Q ′ e Q em P ′ (pares homólogos).
Os triângulos PO1 Q e Q ′ O2 P ′ são isósceles (raios) e semelhantes, já que a
←−→ ←−→
homotetia leva um no outro. Logo, as retas PO1 e P ′ O2 se encontram em um
ponto T2 tal que o triângulo PT2 P ′ é isósceles. Assim, existe um círculo centrado
em T2 que tangencia os dois círculos nos pontos P e P ′ . O mesmo argumento
prova que existe um outro círculo tangente aos dois círculos originais em Q e Q ′ .
Como a inversão transforma P ↔ P ′ e Q ↔ Q ′ e preserva tangências, concluímos
que a inversão precisa preservar o círculo interno e o externo.
Aplicamos essa conclusão ao teorema da seguinte forma. Seja E o centro
homotético externo1 dos círculos C0 e C5 (vide Figura 6). A inversão IE de centro
E que transforma C0 ↔ C5 é tal que Ce ↔ Ce e Ci ↔ Ci . Mas, fixando-se
os círculos externo e interno, a posição de um círculo da corrente determina as
posições dos outros. Logo, IE transforma C1 ↔ C4 e C2 ↔ C3 . Assim, o ponto E
também é o ponto homotético externo dos círculos C1 e C4 . Dessa forma, uma
homotetia HE de centro E e razão b b0 = b1 leva C5 em C0 e C4 em C1 , o que
5 b4
← −→ ←−→
implica que as retas z0 z1 e z4 z5 são paralelas.
1 Assumimos aqui b0 ̸= b5 . O caso b0 = b5 precisa ser tratado separadamente.
Eureka! 43 87

P1
P4z T2,3 z2
3
z4 z1
R
zi
T4,5 T0,1
E
ze
z5
T5,0 z0

Figura 6: Uma inversão IE de centro E transforma Ce ↔ Ce , Ci ↔ Ci , C0 ↔ C5 ,


C1 ↔ C4 e C2 ↔ C3 . Uma inversão negativa IR de centro R transforma Ci ↔ Ce ,
C0 ↔ C3 , C1 ↔ C4 e C2 ↔ C5 .

Agora note que tanto a homotetia HE quanto a inversão IE precisam levar o


ponto de tangência T4,5 no ponto de tangência T0,1 . Mas a homotetia leva um
ponto de um círculo em seu par homólogo, enquanto que a inversão leva em seu
par anti-homólogo, de forma que elas só podem coincidir nos pontos de tangência.
Assim, a reta que passa por E, T4,5 e T0,1 precisa tangenciar os 4 círculos, sendo
perpendicular às retas ←
z0−→
z1 e z←−→
4 z5 .
Agora, usamos as equações (16), (18), (21) e (23) para definir o ponto R como

b0 z 0 + b3 z 3 b1 z 1 + b4 z 4 b2 z 2 + b5 z 5 ae ze + ai zi
R= = = =
b0 + b3 b1 + b 4 b2 + b5 ae + ai

Esse ponto R é, por definição, o centro homotético interno dos pares (C0 , C3 ),
(C1 , C4 ) e (C2 , C5 ). Três homotetias de centro R e razão negativa − bb3 , − b 4
0 b1

ou − b5 podem ser usadas para levar C0 em C3 , C1 em C4 , ou C2 em C5 ,


b2

respectivamente. Enquanto que uma homotetia de centro R e razão positiva − aaei


leva Ci em Ce .
Além disso, existe uma “inversão negativa” (inversão composta com reflexão)
IR de centro R que transforma Ci ↔ Ce . A inversão negativa IR precisa levar a
corrente de 6 círculos em uma outra corrente de 6 círculos, sendo que as retas que
unem seus centros ao ponto R precisam ser preservadas. A única possibilidade é
que a inversão negativa IR transforma C0 ↔ C3 , C1 ↔ C4 , C2 ↔ C5 .
Agora note que uma homotetia de centro R e razão − b b4 leva C1 em C4 ,
1

enquanto que uma homotetia de centro T5,0 com a mesma razão negtiva − b b5 =
0
88 Racionalizando o Logotipo da OBM

←−→ ←−→ ←−→


−bb4 leva C0 em C5 . Assim, a reta RT5,0 precisa ser paralela às retas z0 z1 e z4 z5 .
1

←−−−→
Mas a inversão negativa IR leva T5,0 em T2,3 . Logo, a reta T5,0 T2,3 é paralela às
←−→ ← →

retas z z e z z .
0 1 4 5
A seguir, usamos o fato de que a inversão IE mantém fixos T5,0 ↔ T5,0 e
T2,3 ↔ T2,3 para concluir que esses dois pontos estão à mesma distância de E e,
←−−−→ ←−−−→
portanto, à mesma distância da reta T0,1 T4,5 , que é perpendicular a T5,0 T2,3 e
passa por E. Por fim, note que, como b b0 = b5 = 2, T0,1 é o ponto médio entre z0
1 b4
←−→
e P1 e, similarmente, T4,5 é o ponto médio entre z5 e P4 . Assim, a reta P1 P4 é a
← −− −→
reflexão da reta ←
z0−→
z5 em relação à reta T0,1 T4,5 e, portanto, contém o ponto T2,3
e o ponto E. Como a inversão IE transforma C2 ↔ C3 , concluímos que essa reta
←−→
P1 P4 contém também os centros z2 e z3 .

Propriedades Numéricas
Agora vamos estudar o problema de encontrar correntes de Steiner de 6
círculos S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] com todas as curvaturas inteiras. Para
tanto, procuramos soluções inteiras para as equações (16), (17), (18) e (19). Como
b0 + b2 + b4 = 92 (ae + ai ), precisamos ter ae + ai ≡ 0 (mod 2). Além disso,
temos o seguinte resultado sobre as curvaturas módulo 3.

Teorema 13 (Módulo 3). Uma corrente de Steiner S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ]


em que todas as 8 curvaturas são inteiras precisa satisfazer b0 ≡ b1 ≡ b2 ≡ b3 ≡
b4 ≡ b5 ≡ 0 (mod 3).

Demonstração. A equação (19) exige que

b20 + b21 + b22 + b23 + b24 + b25 ≡ 0 (mod 9) (25)

Além disso, pelas equações (17) e (18), precisamos ter

b0 + b2 + b 4 = b1 + b3 + b5 ≡ 0 (mod 9) (26)

e, pelas equações (16) e (18), precisamos ter

b0 + b3 = b1 + b4 = b2 + b 5 ≡ 0 (mod 3) (27)

Provaremos que essas condições só podem ser satisfeitas se todos os bk forem


múltiplos de 3. Por (27), sabemos que b20 + b23 só pode ser congruente a 0 ou 2
módulo 3. Analogamente para b21 + b24 e b22 + b25 . Por (25), precisamos ter todos
os b2k congruentes a 0 módulo 3 ou todos os b2k congruentes a 1 módulo 3.
Eureka! 43 89

Suponha, por absurdo, que exista uma solução em que os bk não são todos
múltiplos de 3. Então nenhum deles pode ser múltiplo de 3. Por (26), descobrimos
que precisamos ter b0 ≡ b2 ≡ b4 (mod 3) e b1 ≡ b3 ≡ b5 (mod 3). Sem perda de
generalidade, podemos assumir b0 ≡ b2 ≡ b4 ≡ 1 (mod 3) e b1 ≡ b3 ≡ b5 ≡ −1
(mod 3).
Escrevendo b0 = 3u0 + 1, b2 = 3u2 + 1, b4 = 3u4 + 1, b1 = 3u1 − 1,
b3 = 3u3 − 1, b5 = 3u5 − 1, a equação (26) nos diz que

u0 + u2 + u4 + 1 = u 1 + u 3 + u 5 − 1 ≡ 0 (mod 3)

enquanto que a equação (25) nos dá

−u0 − u2 − u4 + u1 + u3 + u5 − 1 ≡ 0 (mod 3)

Absurdo: logo, todos os bk têm que ser múltiplos de 3.


Por (18), a média aritmética dos bk vale 32 (ae + ai ), que é um número inteiro
e múltiplo de 3. Chamando essa média de 3c e usando as equações (16) e (17),
podemos escrever b0 = 3(c−d−e), b1 = 3(c−e), b2 = 3(c+d), b3 = 3(c+d+e),
b4 = 3(c + e), b5 = 3(c − d), para certos inteiros d e e. Com essa representação,
as equações (16) e (17) são automaticamente satisfeitas.
As equações (18) e (19) podem ser combinadas em uma única equação qua-
drática na variável a, cujas soluções são ae e ai . Temos
b 0 + b1 + b2 + b3 + b4 + b5
ae + ai = = 2c
9
b20 + b21 + b22 + b23 + b24 + b25 (b0 + b1 + b2 + b3 + b4 + b5 )2
ae ai = −
9 36
ae ai = 6c2 + 4d2 + 4e2 + 4de − 9c2 = −3c2 + 4d2 + 4e2 + 4de
Assim, a equação a2 −2ca−3c2 +4d2 +4e2 +4de = 0 tem soluções a ∈ {ae , ai }.
O discriminante da equação é ∆ = 16(c2 − d2 − e2 − de). então, para termos
soluções inteiras, c2 − d2 − e2 − de precisa ser um quadrado perfeito. Procurando
soluções com todos os bk positivos, a primeira solução é a trivial c = 1, d = e = 0,
que gera a corrente S6 [−1, 3; 3, 3, 3, 3, 3, 3] (Configuração simétrica como a da
Figura 2).
A primeira solução após a trivial ocorre com c = 4, d = 1, e = 2 e se trata
da corrente S6 [−2, 10; 3, 6, 15, 21, 18, 9], mostrada na Figura 7. Essa também é
uma corrente pareada (6/3 = 18/9 = 2), então muitas de suas propriedades
geométricas já estão descritas pelo Teorema 12.
Essa corrente também tem mais propriedades interessantes. Primeiramente,
vemos que os centros c−2 , c3 e c6 são colineares (1/2 = 1/3 + 1/6). Além dos
90 Racionalizando o Logotipo da OBM

18 9
21
9 15 10
18
21 10 3
6 3
15

-2 -2

Figura 7: A corrente de Steiner S6 [−2, 10; 3, 6, 15, 21, 18, 9] √


mostrada à esquerda
como resultado de uma inversão de centro z = 28 9 1
− 28 3 i e à direita com
√ √
coordenadas c−2 = 0, c10 = − 25 + 15
4
3 i, c3 = 31 , c6 = − 23 , c15 = − 15
11 4
+ 15 3 i,
13 8
√ 4 4
√ 1 4

c21 = − 21 + 21 3 i, c18 = − 9 + 9 3 i, c9 = − 9 + 9 3 i.

círculos pareados ←c9−c−→ ←−−→ ←−→


18 , também a reta c10 c15 é paralela à reta c3 c6 . Além disso,
temos paralelismos entre c−2 c9 , c10 c18 e c6 c15 , entre c−2 c18 e c3−→
← −−→ ← −−→ ←− −→ ←−− −→ ← c9 , entre ←−−c−→
c−2 15
←− −→ ←− −→ ← −− →
e c3 c10 e entre c6 c10 e c15 c21 .
A corrente S6 [−5, 19; 9, 12, 24, 33, 30, 18] das Figuras 1 e 4 é a segunda menor
solução não-simétrica, que pode ser obtida com c = 7, d = 1, e = 3.
Exercício 4 (Correntes de Steiner de 4 círculos). Mostre que uma corrente de
Steiner de 4 círculos com curvaturas dadas por S4 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 ] satisfaz:

b0 + b2 = b1 + b3 (28)

b0 + b1 + b2 + b3 = 2(ae + ai ) (29)

3
b20 + b21 + b22 + b23 =
(ae + ai )2 + 2ae ai (30)
2
Exercício 5. Mostre que uma corrente de Steiner Sn [ae , ai ; b0 , . . . , bn−1 ] com
n círculos só pode ter todas as n + 2 curvaturas inteiras se n ∈ {3, 4, 6}.
Para n = 4, a menor solução inteira é a corrente S4 [−1, 7; 2, 2, 4, 4] mostrada
na Figura 8. Já a solução S4 [−2, 16; 3, 6, 11, 8] mostrada na Figura 9 é a menor
Eureka! 43 91

4 4 4

4 2 7
7
2 2
2

-1 -1

Figura 8: A corrente de Steiner S4 [−1, 7; 2,√2, 4, 4] mostrada à esquerda como


(3−2 2)(1−i)
resultado de uma inversão de centro z = e à direita com coordenadas
√ √2
c−1 = 0, c2 = ± 12 , c4 = ± 14 + 12 2 i, c7 = 27 2 i.

solução não-simétrica. Ambas apresentam círculos diametralmente opostos (1/1 =


1/2 + 1/2, 1/2 = 1/3 + 1/6), além de círculos vizinhos com razão 2 (4/2 = 2,
6/3 = 2), mas aqui isso não implica as propriedades geométricas como no caso
n = 6.
Uma propriedade interessante das correntes com n = 4 é que nelas cada um
dos 6 círculos é tangente a exatamente 4 círculos vizinhos, então todos os círculos
desempenham o mesmo papel. A corrente da Figura 9, por exemplo, poderia ser
igualmente denominada S4 [3, 11; −2, 6, 16, 8] ou S4 [6, 8; −2, 3, 16, 11].

Empacotamentos de Apolônio
A seguir, mostraremos que uma corrente de Steiner com curvaturas inteiras,
como a S6 [−5, 19; 9, 12, 24, 33, 30, 18] das Figuras 1 e 4, pode ser usada para
construir um empacotamento de círculos de Apolônio como o da Figura 10, onde
todos os infinitos círculos possuem curvaturas inteiras.
A construção se dá da seguinte forma. A partir de uma corrente inicial
S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ], construímos uma nova corrente constituída de 6
círculos S6 [ae , ai′ ; b0 , b1 , b2′ , b3′ , b4′ , b5′ ] que possui em comum o círculo externo
Ce e dois círculos vizinhos da corrente C0 e C1 , mas agora com um novo círculo
interno Ci′ e uma nova continuação de 4 círculos C2′ , C3′ , C4′ , C5′ . Assim, por
92 Racionalizando o Logotipo da OBM

8
8 11
16
11 16 3
6 3
6

-2 -2

Figura 9: A corrente de Steiner S4 [−2, 16; 3, 6, 11,√8] mostrada à esquerda como


(19−12 2)(11−5i)
resultado de uma inversão de centro z = e à direita com co-
√ 146 √
ordenadas c−2 = 0, c16 = − 8 + 4 2 i, c3 = 3 , c6 = − 3 , c11 = − 11
3 1 1 2 7 4
+ 11 2 i,

c8 = − 41 + 12 2 i.

exemplo, preservando o círculo externo (−5) e dois círculos vizinhos (9 e 12) na


Figura 10, obtemos uma nova corrente S6 [−5, 27; 9, 12, 36, 57, 54, 30] com novo
círculo interno (27), que também pode ser vista na mesma figura.
Também é possível preservar o círculo interno e procurar por uma corrente
com um novo círculo “externo”. Por exemplo, preservando o círculo interno
(19) e os mesmos dois vizinhos (9 e 12), podemos obter uma nova corrente
S6 [19, 99; 9, 12, 180, 345, 342, 174], que é um tipo de corrente em que todos os
círculos têm curvaturas positivas e, portanto, não possui um círculo “externo”
no sentido usual. Geometricamente, os 5 novos círculos encontram-se dentro da
região delimitada pelos três círculos originais.
Esse procedimento pode ser repetido infinitas vezes, dando origem ao fractal
da Figura 10. Mostraremos a seguir como obter as curvaturas e centros dos novos
círculos.

Teorema 14 (Corrente conjugada). Dada uma corrente de Steiner de 6 círculos


com curvaturas S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] é possível construir uma nova cor-
rente S6 [ae , ai′ ; b0 , b1 , b2′ , b3′ , b4′ , b5′ ] que tem os círculos Ce , C0 e C1 em comum.
Além disso, se a corrente original tinha todas as curvaturas inteiras, a nova
Eureka! 43 93

1089 1128

558 636 726


1338
1329

708

403 483
930
480 537
432 297 882

441
780

105
96
331
1176

993

201

66
414 403
171 609 1302

1434

873

499

180

48
273

234
585

315

43 99
1056

1008

306

528
816
705 489
720

1353
102 366
537

283
1314

468 355 444


642

849

187

18
810
243
129 390
180 624
897

726
252 307
282
264 954

318
1353

1080
609
459
600

99
408
300

1092
684
153 163
969

379 633
1260

438 1272

657
331

1332

849
1164
513

459

30 171

9
606
283
198 273 1185

1176

540 588
297 552

369
210 115
372
139 393

384
204
1401
888
192
483
1230

342
546
211 657
900

1425
459
1242

660
534

348

19
342

33
894

379
1113

780

228
576

516
243 705

1152 486
1305 451
822
330 504

138
1164

186
618 1329

427
834

195 609

330
312
174 330

123 342 139 393


321

345
264
168
1230
1398
873
180 99 498

72
705
537
451 990

993
1098
379
235

24
954
504
249 462
417 450
355

225 570
1194 1257
696

139
753

67
1470

156
1458

729

355 444

900

243 921

486

177
259 558

1110

1113

564

115 210 114


312
264 163

12 30
414 540
681 267 537

762
465 235 417
561

307
894
306 876

474 882 216 792

441 369

105
67
174

162

81
750
1350
1281

387
612

297
606
27 876

900

489
441

283

187
249

54
492
630

187 345 570


516

297
1089

171
1092

318 576 355

-5
486
945 966

417 480 522

180 307

57
657
331

36
259
966

798
378
321
705

708

384
315
585
1182

1206

633

211

91
330
582

288 561

369 387
216
211 105 153 403
480
930
1134 777
513
606 402
222 246 714 1158
1041

Figura 10: Empacotamento de Apolônio baseado em uma corrente de Steiner de


6 círculos S6 [−5, 19; 9, 12, 24, 33, 30, 18].
94 Racionalizando o Logotipo da OBM

corrente também terá.


Demonstração. Para encontrar a nova corrente, a ideia é escrever as equações
(16), (17), (18) e (19) somente em termos das curvaturas que serão preservadas
(ae , b0 e b1 ) e da curvatura interna ai . A partir das equações (16), (17) e (18),
podemos escrever
3
b2 = (ae + ai ) − b0 + b1 (31)
2
b3 = 3(ae + ai ) − b0 (32)
b4 = 3(ae + ai ) − b1 (33)
3
b5 = (ae + ai ) + b0 − b1 (34)
2
Substituindo em (19), obtemos
45 81
(ae + ai )2 − 6(ae + ai )(b0 + b1 ) + 4(b20 + b21 − b0 b1 ) = (ae + ai )2 + 9ae ai
2 4
9
(ae − ai )2 − 6(ae + ai )(b0 + b1 ) + 4(b20 + b21 − b0 b1 ) = 0
4
Se as curvaturas originais forem inteiras, b0 e b1 são múltiplos de 3. Então
temos a seguinte equação de segundo grau com coeficientes inteiros em ai :

 
8 8 16 2
a2i − 2ae + (b0 + b1 ) ai + a2e − (b0 + b1 )ae + b0 + b21 − b0 b1 = 0

3 3 9
Essa equação possui duas raízes inteiras: o primeiro valor já conhecido de ai
e um segundo valor ai′ que pode ser calculado como
8
ai′ = 2ae + (b0 + b1 ) − ai (35)
3
Uma vez conhecido o novo valor de ai , as equações (31), (32), (33) e (34)
podem ser usadas para calcular os novos valores de b2 , b3 , b4 e b5 :
3
b2′ = (ae + ai′ ) − b0 + b1 (36)
2
b3′ = 3(ae + ai′ ) − b0 (37)
b4′ = 3(ae + ai′ ) − b1 (38)
3
b5′ = (ae + ai′ ) + b0 − b1 (39)
2
Eureka! 43 95

Pelo Teorema 11, todas as equações se mantém válidas quando substituímos


as curvaturas pelos produtos entre curvatura e o centro do círculo, de forma que
as equações (35), (36), (37), (38) e (39) nos dão
8
ai′ zi′ = 2ae ze + (b0 z0 + b1 z1 ) − ai zi (40)
3
3
b2′ z2′ = (ae ze + ai′ zi′ ) − b0 z0 + b1 z1 (41)
2
b3′ z3′ = 3(ae ze + ai′ zi′ ) − b0 z0 (42)
b4′ z4′ = 3(ae ze + ai′ zi′ ) − b1 z 1 (43)
3
b5′ z5′ =
(ae ze + ai′ zi′ ) + b0 z0 − b1 z1 (44)
2
As equações (35)-(44) nos dão um procedimento direto para calcular as curva-
turas e os centros dos novos círculos, permitindo a construção de desenhos como
o das Figuras 10 e 11.
Note que, quando um par de vizinhos satisfaz b b0 = 2, tanto a corrente original
1

quanto a corrente conjugada S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3′ , b4′ , b5′ ] são pareadas. Assim,
′ ′

é possível ver várias correntes pareadas nas Figuras 10 e 11.


Exercício 6. Estude as correntes S6 [ae , ai ; b0 , b1 , b2 , b3 , b4 , b5 ] que satisfa-
zem b b4 3
b0 = 2 e b5 = 2 . Mostre que as retas que unem os centros dos cír-
2

culos de razão 2 e 32 são paralelas. Um exemplo pode ser visto na corrente


S6 [−2, 18; 9, 3, 18, 39, 45, 30] da Figura 11.
Ao final do artigo, mostramos mais 4 exemplos de empacotamentos de Apolônio,
baseados nas seguintes correntes de Steiner:
• S6 [−1, 3; 3, 3, 3, 3, 3, 3], a corrente totalmente simétrica
• S4 [−1, 7; 2, 2, 4, 4], a corrente da Figura 8
• S4 [−2, 16; 3, 6, 11, 8], a corrente da Figura 9
• S3 [−2, 34; 3, 6, 7], uma corrente de 3 círculos
Note que mostramos 3 exemplos de empacotamentos contendo as curvaturas
−2, 3 e 6: um com n = 6, um com n = 4 e um com n = 3. Os empacotamentos com
n = 3 são bem conhecidos na literatura matemática, sendo chamados simplesmente
de empacotamentos de círculos de Apolônio inteiros. Os empacotamentos com
n = 4 já foram chamados de empacotamentos de 3-círculos de Apolônio inteiros [3].
Isso porque podem ser construídos adicionando-se 3 círculos de cada vez. Por
exemplo, no caso de S4 [−2, 16; 3, 6, 11, 8], podemos começar com os 3 círculos −2,
3, 6, depois adicionar 8, 11, 16, depois adicionar 14, 19, 24, etc.
96 Racionalizando o Logotipo da OBM

210 231

99 141
249
483
498

279

306
471
405
174 82 178
306 561
555

30
294
162

45
202

159
150
75 213 366

39
345

93 130 171

58

9
261
142
471

450

219 219 465

510

18 18 18
129 178
309

243

246

135 90 63
93
183

138
333
78
34
318

94 94

21
261

255 153 255

165

70
477

303
126 126 201
294 147 126 126 462

33
225 387
225
390
207
219

114
82 114
165

118
198

369
102 282
58 135

10
363
549 130

54 54
186
543

189 270

15
183 183

261

459
210
90 90 210

513

178
318

81
69
270

381

141 130 303

258

114 114
78
249

375

42
525

285
123 178 414

105 546

537
142
153
267

51 165
162
81

3
306
201
87
106

46
261

111

453
450 225
231

106

111

261

306
106
6 46
231
106
453
450 225

201 87 165
162
81
51
267

42
153
537

142
105 546

414

285 123 178


525

114
78 249
114
375

258

10
141 130 303

69 270
381

15
318

178
81
513

459

210
90 90 210

261

183 183

186

363
189
54 549
543
270

130
54
118
369
102 282

198
58 135

165

114 114
82
33
21
219
207
390

387
225 225

126 126
201
147
70 126 126

34
294 462

303
477

165
255 153 255

94 94

9
261
318

138

-2
333

183
78

18 18 18
93
135

246
90 63
243

129 178 309

510

465

219 219
450

471

142 261

58
93 39 130 171

30
345

45
366
213
159
150
75 202
162 294
555

82
306 306 561

471
405
174
178
279
249

99
498
483

141
210 231

Figura 11: Empacotamento de Apolônio baseado em uma corrente de Steiner de


6 círculos S6 [−2, 10; 3, 6, 15, 21, 18, 9].
Eureka! 43 97

267 279 279 267


159 159
135 135

99 99

87
99 63 27 27 63 99
87

15 15
147 147

39 35 35 39
219 219
183 183

75 75 75 75

11
135 135

71 243

231
243

231
71
111 111

183
75 75 183
219 219

147
75 75 147 147
75 75 147

3 3
87
39 39 39 87
99 99

63 35 35 63

279

159
267
135

99 15 15 135

99
267

279

159

27 135
243
71
231
111 111
71
231
243
135

27
59
27 27
11 11
123 243 243 123

159 159
279 279

267

99 99 267

135

147
75 23 75
147
135

15 15
147 147

135
243

231
75 39 39 75 75 39 39 75 231
243
135

71 111 111
71
63 63
99 99

87 35 35 87

59 123 123
59
39 39 39 39
243 243

243 243

23 23
123 123

147 147

219 219

183
75 75 75 75 183

75 75 75 75

3 3 3
39 39

39 39
75 75 75 75
183 183

75 75 75 75
23 23
219 219

147 147

123 123

39 59
243

243

123
39 39 243

123
243

59
39
87
99
35 35 87
99

63 63

15 15
71 111 111 71
231 231

75 75 75 75
243 243

39 39 39 39
135 135

147 147

147 147

11 23
11
75 75
135 135

267 99 99 267

3 3
279 279

27 27
159 159

243 243
123 123

59

27 27
231
111 111 231
243 243

135 135

71 71

15 15
159 159

279
99 99 279

267 267

135 135

63 35 35 63
99 99
87 87
39 39 39

-1
147 75 75 147 147 75 75 147

219 219

183 183

75 75

71
111

135
231

243

11 111

231

243

135
71

75
183
75
219
147
39 35
87
99 63
15 27 27
15 63
35 39
99
87
147
75
219
183
75

99 99
135 135
267 279
159 159 279 267

220 180 100 100 180 220

239 239

122 58 119
58 122

82 44 44 82
210 210

18 18
132 132
215 215
127 127

63 63
191

196 196

178
114 114 178

183 135 154 154 135 183

98
68
103
140

23 140 68
103
98

34 34

4 4
124
154

167
42 98 98 42 154

167
124

79
47 242 242
47
167
194 194
202 202

159 159

12 12
154 154
202 202
215 215

60 60
188 58 71 71 58 188

199 199
140 140

95 95
106 119 106
98 162 162
98
119 124 124 119

47

10 10
122 122

108
90
119

92
15 68
140
183

186
50 50
186
183

140
68 15 92
90
119
108

55 55 66
130
138

159
28 215

236
218
79 84
66 172

170 119

130 130
119
172

170
84 79 218
215

236
28 159
138

130
167 167

31 31

7
140 170 170 140
111 111
132
95
132
44 44 132
95
132

20 39 39
20
130 130

180 180
162 162
178

42 42
151 151 178

210 231 231 210

52 151
156 156
151 52
116 116
55 55
34 34
84 84
87 87

52 106
140 140
106 52
124 135 135 124

36 36
127 127

74 74

2 2
172 172
175 175
207 236 236
207

100 202 202 100


228

130
231

31 231
228

130

100 100

71
196 196

127

127

196 196

71
100 100

31
130 130
231 231
228 228

202 202
100 100
236 236
207 207

175 175
172 172

74
124
127
135
36 36 135
127
74
124

140 140

52 106 106
52
87 87
84 84

34 34

7
55 116 116 55
52 52
151 151
156 156

42 42
20 20
210 231 231 210

178 151 151 178


162 162
180 180

130
39 39 130

31 132

140
111
95 132
44 170 170
44 132 95
111
132

140 31
167 167
130 159 130 130 159 130

28 28
138 236
218 218
236
138
215
79 84 170 119 119 170

84 79 215

66 55 55 66
172 172

92 92

10 10
68 68

15 15
119 140 186 186
140 119
108 108
183 183

90 50 50 90

47

4 4
122 122

119 124 124 119


162 162

106
98 98 106
119

95 95
140 199 199 140

12 12
58 71 71 58
188 188

-1
60 60
215 215
202 202

154 154

159 159

202 202
194 194
167

242 242

124
167
47 79 47 167
124
154
42 98 98 42 154

34 34
98
103

68
178
183

114
135
140

154
23 154
140

135

114
183

178
103

68
98

196 196

191

132
215

210 82
127

122
44
63

58 239
18 18 119
239
63

58
44
127

122
82
215

210
132

220 180 100 100 180 220


98 Racionalizando o Logotipo da OBM

360 371 251 200


432 230 299

59 70
272
174

88 83
326 320

211
336
123 264
195
184 280

80

19
104
243
432 344
427
454
283
360
342 342
464

115
331
179
270 270
136

14
280

134
99 152

35
144
166

8
182

43
248
155
192 192
251
296
158 187
174
278

163 283
304

46 470 318 318


334

24 24
480 366
483
331 323

155

40
203

230
339

352
120 168
342
387

352
56 139
187
264
238

150
59
475

235 176
238
355 118 395

280
328 464
227
280
446
462 128 384
206
190 475
190 320 259
454
350

115
110
427
320 238
299

64
38
406
278

94 323

11
355
299 416
376
320
294 294
208

216
280
91 488
430

395

315 451

96
379 358
328 382
416

139
110

152
118
110
115 414

422
315
56
131
438

184
336
443

275 350
259
136
254

40 91 78 78
358

302
179

16
86
211 339 310
184
248
206
411
422
326
104

48
427
398
323
310
406
235
208 112 240 240

35
166 352
134
203 256
347
102
299
304

275
107 304

334
262 392
168

3
403 440 382
291 371
376

104 496
206
451
390 456

112 467

230
248

307

75 251 328
294

83 80
318

200
208

131
328
336
70

6
203
488
496
227 224
291

160
443 440

286

286

443 440

160
291

488
496 227 224

203

70
336
328

131
208

83 80
200

318

75 251 328

307
294

230
112 467

390 456
248

496
451

104 206
376
371
291
403 440 382

35
16
334
262 392
168
275
304

347
107 304
299

203
256
102 134

48
352
166

406
208 112 240 240
235
310
398
323
411 427
422

206
326
104
86
248

211 339 310 184

40
302 179

91 78 78

11
358
254
336
275 350

443 259
184 136
438

118 131
152 422
315
139 115
56
414

110 110
315
328
382

280
379 358
416

451
96 488 395

216

91
430

208

38
294 294
320 416
299 376
355

94
323

8
64
278

110
406

320 238
427
299

115 350 454

190 475
190 320 259

59
446 206
238
462
128 384
280 280
355
118 464

24 24
235 395 328 227
176
475
150

40
230 352 352
139

56
342
187
339

-2
387

120 168 264


238

46
203
155 331 323
483

480 366
334

14
470
318 318

283
163 304

43
278

296
174

35
251 158 187
248 192 192
155
182
166
144

134

19
99 280
152

136
270 270
179
464 331
342 342
115
454
360
283 427
432 344
243

80 104

59 70 88 83
280
184
336 195
211
326
123 320
264

174 272
432
230 299
360 371 251 200

267
223
183
147
115 246

166 87
63 271

43 102
298 187 298
282

151

27
202

54
279

10
91
235

138 138 138


195

15
262 178
283

247 67 159
291

90
238
210

187

22
207

163

234
235
99 234

171

58

7
118 142 178 82

31
262
199
127
294

75
222 222

247 114 139


223
115
274
250

42 42 42
190
103
154
283
286
187

111 283

214 138
286

166
94
271
202

55 243

70

19
258 258

207 178
87
106 106
267

175
66 139 127
238 238

39
150 150
130 271

82

3
243 175
283
202 258 202
174

91 231 231

103
67
226

255

34 262

295

226
235
147
79

6
199

259

142

223

223

142
259

199

147
235
79
226

103

67
202
226

283
174
91
255

258
34 231 231

202
262
295

82
39 175
243

130 271

150 150
238 238
175 139 127
267

106
66 106

207

19 178

87

7
258 258 70
166
243

214 138
286

283
94 271 202
55
111

42 42 42
286
187
283
154
103 190

250
274

31
223 115 114
75 139
247

222 222
294

127 199
262
142 178
118
58 82

22
171

10 -2
235
234 234

163
99

15
207

187

238 90 210

67
247 291
159

283
262 178

27
195
138 138 138
91
279
54 202
235

151
298

63
282
43 102 187 298

87
271
166
115 147
246
183 223
267
Referências Bibliográficas

[1] Schwartz, Richard Evan; Tabachnikov, Serge. Descartes circle theorem, Stei-
ner porism, and spherical designs. The American Mathematical Monthly, v.
127, n. 3, p. 238-248, 2020.

[2] Lagarias, Jeffrey C.; Mallows, Colin L.; Wilks, Allan R. Beyond the Descartes
circle theorem. The American mathematical monthly, v. 109, n. 4, p. 338-361,
2002.
[3] Zhang, Xin. On the local-global principle for integral Apollonian-3 Circle
packings. 2014. Tese de Doutorado. State University of New York at Stony
Brook.
[4] Guettler, Gerhard; Mallows, Colin. A generalization of Apollonian packing
of circles. Journal of Combinatorics, v. 1, n. 1, p. 1-27, 2010.
[5] Carvalho, Paulo César Pinto. O logotipo da Olimpíada Brasileira de Mate-
mática. Eureka! 4, p.42-46. OBM - Olimpíada Brasileira de Matemática,
1999.
Olimpíadas ao redor do mundo

A partir desta edição está de volta a seção Olimpíadas ao redor do mundo,


um espaço onde o leitor terá a oportunidade de conhecer alguns problemas de
destaque em diversas olimpíadas pelo mundo afora. Convidamos os leitores a
enviar soluções. Nas próximas edições também estará de volta a seção "Como é
que faz?", onde serão publicadas as soluções corretas dos problemas desta seção e
outros que forem enviados por nossos leitores. As soluções dos problemas desta
seção devem ser enviadas para o email ([email protected]).

1. (MATHCOUNTS) Se a, b e c são números inteiros positivos tais que


1 1 1 6
+ + = ,
a b c 7
qual é o valor de a + b + c?
2. (USAMO-2019) Seja N o conjunto dos inteiros positivos. Considere C o
conjunto de todas as funções f : N → N que satisfazem a equação

n2
f(f(. . . f (n) . . .)) =
| {z } f(f(n))
f(n) vezes

para todos os inteiros positivos n.


(a) Mostre que todas as funções em C são injetivas.
(b) Existe alguma função em C tal que f(2020) = 2021?
(c) Encontre uma função em C tal que f(2020) = 1000.
3. (VJIMC 2019) Seja M uma matriz invertível n × n tal que suas entradas
são números inteiros. Definimos a sequência SM = {Mi }∞i=0 pela recorrência
M0 = M, Mi+1 = (MTi )−1 Mi para i ≥ 0.
Encontre o menor inteiro n ≥ 2 para o qual existe uma matriz normal com
entradas inteiras e tamanho n×n tal que a sua sequência SM não é constante
e tem período P = 7, isto é, Mi = Mi+7 . (MT é a matriz transposta de M.
Uma matriz quadrada M é tida como normal se MT M = MMT ).
4. (China) Sejam a, b, c números reais positivos. Prove que

5 5 + 11
(a + b)(b + c)(a + b + c) ≥ abc.
2
101

5. (França) Sejam a, b números naturais tais que:

4a2 + a = 3b2 + b.

Mostre que b − a é um quadrado perfeito.


6. (Berkeley) Suponha que z0 , z1 , ..., zn−1 são números complexos tais que
zk = e2kπi/2 para k = 0, 1, 2, ..., n − 1. Prove para qualquer número
complexo z, tem-se que
X
n−1
|z − zk | ≥ n.
k=0

7. (Albânia) É dado um triângulo ABC cujo circuncentro é o ponto O e o


seu ortocentro é o ponto H. Se AO = AH determine a medida do ângulo
∠BAC.
8. (Singapura) Para a, b, c, d ≥ 0 tais que a + b = c + d = 2, prove que:

(a2 + c2 )(a2 + d2 )(b2 + c2 )(b2 + d2 ) ≤ 25.

9. (Romênia) Determine todas as funções f : R −→ R que satisfazem a relação

f x3 + y3 = xf y2 + yf x2 ,
  

para quaisquer números reais x, y.


10. (AIME-2020) Seja P um ponto escolhido aleatoriamente no interior de um
quadrado unitário de vértices (0, 0), (1, 0), (1, 1), e (0, 1). A probabilidade
de que a inclinação da linha determinada por P e o ponto 85 , 38 é maior ou


igual a 12 pode ser escrito como mn , onde m e n são relativamente inteiros


primos. Determine m + n.
Problemas propostos e soluções

Publicamos aqui algumas das respostas dos problemas da Eureka! 37 a 39 que


foram enviadas por nossos leitores.

Solução dos Problemas Propostos Eureka! - 37


n
157. Sejam x e y inteiros positivos tais que x2 − 1 é divisível por 2n y + 1 para
todo inteiro positivo n. Prove que x = 1.
Solução: Suponha por absurdo que x > 1. Escreva y = 2r z, com r ∈ N e z ímpar.
Seja Q o produto de todos os primos q < x2 tais que q ≡ 3 (mod 4) e q não divide
2
2z + 1, e seja n = 1 + (r + 1)φ((2z + 1)2 Q) ≥ r + 2. Como 2(r+1)φ((2z+1) Q) ≡ 1
2
(mod (2z + 1)2 Q), segue que 2n−r y + 1 = 2n z + 1 = 2(r+1)φ((2y+1) Q) · (2z + 1) ≡
2z + 1 (mod (2z + 1)2 Q). Assim, 2z + 1|2n−r y + 1 e, se q é um fator primo de
Q, como q não divide 2z + 1, segue que q não divide 2n−r y + 1. Escrevendo
2n−r y + 1 = (2z + 1)m, como 2n−r y + 1 = 2n z + 1 ≡ 2z + 1 (mod (2z + 1)2 ), segue
que m ≡ 1 (mod 2z + 1), e, em particular, mdc(m, 2z + 1)=1. Como 2n z + 1 ≡ 1
(mod 4) e 2n z + 1 = 2n−r y + 1 = (2z + 1)m, temos m ≡ 3 (mod 4), pois, como
z é ímpar, 2z + 1 ≡ 3 (mod 4). Em particular, m tem algum fator primo q̃ ≡ 3
(mod 4), e como q̃ não pode ser fator primo de 2z + 1 nem de Q, segue que
n−r
q̃ ≥ x2 . Por outro lado, como 2n−r y + 1 divide x2 − 1, temos em particular
n−r
x2 ≡ 1 (mod q̃). Como também temos xq̃−1 ≡ 1 (mod q̃), segue que, se d é a
ordem de x módulo q̃ (isto é, o menor inteiro positivo k tal que xk ≡ 1 (mod q̃)),
temos que d|mdc(2n−r , q̃ − 1). Por outro lado, como q̃ ≡ 3 (mod 4), temos que
q̃ − 1 ≡ 2 (mod 4), e portanto mdc(2n−r , q̃ − 1) = 2. Assim, d|2, donde x2 ≡ 1
(mod q̃), ou seja, q̃|x2 − 1, absurdo, pois q̃ ≥ x2 .
158. Ache todas as funções f : R → R tais que

f(xy + 1) = f(x + y) + f(x)f(y), ∀x, y ∈ R.

Solução:
Fazendo x = y = 1, obtemos f(2) = f(2) + f(1)2 , donde f(1) = 0, e, fazendo
y = 0, obtemos 0 = f(1) = f(x) + f(x)f(0), donde, ou f é identicamente nula, ou
f(0) = −1.
103

Caso i) f(−1) não é 0. Seja g(x) = f(x + 1). Então f(x) = g(x − 1), e a
equação funcional fica g(xy) = g(x + y − 1) + g(x − 1)g(y − 1), para quaisquer x, y
reais. Temos g(0) = f(1) = 0 e g(−1) = f(0) = −1. Além disso, g(−2) = f(−1)
não é 0. Fazendo x = 2 e y = −1, obtemos g(−2) = g(0) + g(1)g(−2) =
g(1)g(−2), donde g(1) = 1. Fazendo y = 2, obtemos g(2x) = g(x + 1) +
g(x − 1)g(1) = g(x + 1) + g(x − 1), para todo x. Fazendo y = −1, obtemos
g(−x) = g(x − 2) + g(−2)g(x − 1) = g(x − 2) + c.g(x − 1), onde c := g(−2).
Trocando x por −x, obtemos g(x) = g(−(x + 2)) + c.g(−(x + 1)) = g(x) +
c.g(x + 1) + c(g(x − 1) + c.g(x)), donde 0 = g(x + 1) + g(x − 1) + c.g(x). Como
g(−(x + 1)) = g(x − 1) + c.g(x), temos 0 = g(x + 1) + g(−(x + 1)) = 0, ou
seja, g(y) + g(−y) = 0 para todo y. Trocando (x, y) por (−x, −y), obtemos
g(xy) = g(−x − y − 1) + g(−x − 1)g(−y − 1) = −g(x + y + 1) + g(x + 1)g(y + 1).
Da equação funcional de g, temos g((x+2)(y+2)) = g(x+y+3)+g(x+1)g(y+1).
Portanto, g(xy) + g(x + y + 1) = g(x + 1)g(y + 1) = g((x + 2)(y + 2)) − g(x + y + 3),
donde g(xy+2x+2y+4) = g((x+2)(y+2)) = g(xy)+g(x+y+1)+g(x+y+3) =
g(xy) + g(2x + 2y + 4) (usando a identidade g(2u) = g(u + 1) + g(u − 1) para
u = x + y + 2).
Vamos usar isso para mostrar que g(u + v) = g(u) + g(v) para quaisquer
u, v reais. De fato, fazendo y = −x, obtemos −g(x2 − 4) = g(−x2 + 4) =
g(−x2 ) + g(4) = −g(x2 ) + g(4), e logo g(x2 − 4) = g(x2 ) − g(4), que, junto com
g(−x2 + 4) = g(−x2 ) + g(4) implicam que g(z + 4) = g(z) + g(4) para todo z
real, Daí segue por uma indução simples que g(z + 4k) = g(z) + k.g(4), para todo
z real e todo k natural. Dados u e v reais, podemos escolher k natural tal que
( v+4k−4
2 )2 > 4u, e o sistema 2x + 2y + 4 = v + 4k, xy = u terá solução real x, y,
donde g(u + v) + k.g(4) = g(u + v + 4k) = g(xy + 2x + 2y + 4) = g(xy) + g(2x +
2y + 4) = g(u) + g(v + 4k) = g(u) + g(v) + k.g(4), e logo g(u + v) = g(u) + g(v).
Usando isso (e g(1) = 1) em g(xy) = g(x + y − 1) + g(x − 1)g(y − 1), obtemos
g(xy) = g(x) + g(y) − 1 + (g(x) − 1)(g(y) − 1), ou seja, g(xy) = g(x)g(y),
para quaisquer x, y reais. Daí segue que g(x) = x para todo x real. De fato,
g(k) = k.g(1) = k para todo k natural, e, como g(−x) = −g(x) para todo
x, segue que g(k) = k para todo k inteiro; se p e q são inteiros e q > 0,
p = g(p) = g(q.p/q) = q.g(p/q), donde g(p/q) = p/q. Suponha por absurdo
que para algum x real g(x) não seja igual a x; digamos que g(x) < x. Tome p/q
um racional com g(x) < p/q  p= g(p/q) <  x, donde, como x − p/q > 0, teríamos
p 2 2
0 ≤ g( x − p/q) = g ( x − p/q) = g(x − p/q) = g(x) − g(p/q) < 0,
absurdo. O caso g(x) > x é análogo. Portanto f(x) = g(x − 1) = x − 1 para todo
x real, o que claramente é uma solução.
Caso ii) f(−1) = 0. É claro que f identicamente nula dá uma solução.
Suponhamos que não seja o caso. Então f(0) = −1 (e f(1) = 0). Fazendo
104 Problemas propostos e soluções

y = −1 em f(xy + 1) = f(x + y) + f(x)f(y), obtemos f(1 − x) = f(x − 1) para


todo x real, ou seja, f(−z) = f(z) para todo z real. Fazendo y = −x, temos
f(x2 − 1) = f(1 − x2 ) = f(0) + f(x)f(−x) = f(0) + f(x)2 ≥ f(0). Assim, se
z ≥ −1, f(z) ≥ f(0). Trocando y por −y, temos f(xy − 1) = f(1 − xy) = f(x − y) +
f(x)f(−y) = f(x − y) + f(x)f(y). Subtraindo de f(xy + 1) = f(x + y) + f(x)f(y),
temos f(xy + 1) − f(xy − 1) = f(x + y) − f(x − y). Assim, se uv = xy, temos
f(x+y)−f(x−y) = f(xy+1)−f(xy−1) = f(uv+1)−f(uv−1) = f(u+v)−f(u−v).

Seja h a função definida nos reais não-negativos
√ por√h(x) = f( x) − f(0) ≥ 0.

Para x, y ≥ 0, temos√ h(x + y)√− h(x) = f(√ x + y) −√f( x) = f( y) −√f(0) = h(y)
(pois, fazendo
√ r = ( x +√y + x)/2, s = ( x + y − x)/2 e u = v = y/2, temos

r + s = x + y, r − s = x, u + v = y, u − v = 0 e rs = y/4 = uv. Assim, para
quaisquer x, y ≥ 0 temos h(x + y) = h(x) + h(y). Como h(1) = f(1) − f(0) = 1,
e h(x) ≥ 0,√para todo x ≥ 0 temos, como no caso i), h(x) = x para todo x ≥ 0,
ou seja, f( x) − f(0) = x, para todo x ≥ 0. Assim, f(y) − f(0) = y2 , para todo
y ≥ 0, donde f(y) = y2 + f(0) = y2 − 1 para todo y ≥ 0. Como, para y < 0,
f(y) = f(−y) = (−y)2 − 1 = y2 − 1, temos f(y) = y2 − 1 para todo y real, função
esta que satisfaz a equação funcional.
Assim, temos nesse caso f(x) = 0 para todo x real ou f(x) = x2 − 1 para todo
x real.
159. Dizemos que un conjunto A ⊂ N é progressista se, sempre que x, y ∈
A com x ≤ y, temos 2y − x ∈ A. Prove que se A é progressista e x, x +
a1 , x + a2 , . . . , x + ak ∈ A com k ≥ 2 e 0 < a1 < a2 < · · · < ak então
x + a1 + ak − 3d, x + a1 + ak − 2d ∈ A, onde d = mdc(a1 , a2 , . . . , ak ).
Solução: Substituindo x por x + 2a1 , temos un problema análogo, onde o
novo menor elemento é x + a1 . O mdc não muda, pois mdc(a1 , a2 − a1 , a3 −
a1 , . . . , ak −a1 ) = mdc(a1 , a2 , . . . , ak ), a expressão correspondente a x+a1 +ak =
(x+a1 )+(x+ak )−x não aumenta pois x+a1 +ak = (x+2a1 )+(x+ak )−(x+a1 )
não aumenta, mas o diâmetro (diferença entre o maior e o menor elemento da
lista), que era ak , e agora é o máximo entre a1 e ak − a1 , diminui. O número
de elementos da lista não aumenta, mas pode diminuir, pois 2a1 pode ser igual
a algum aj com j > 1. Todos os números que aparecem são da forma x + kd,
com k natural. Repetindo esse procedimento, em algum momento haverá apenas
dois números na lista (pois o diâmetro não pode diminuir indefinidamente), e
imediatamente antes os números devem ser y, y + d, y + 2d, com y + 3d =
(y + d) + (y + 2d) − y ≤ x + a1 + ak , e logo y ≤ x + a1 + ak − 3d é tal que y e
y + d pertenecem a A, o que resolve o problema.

160. Considere a sequência definida por an = ⌊n 2003⌋ para n ≥ 1. Prove que,
para quaisquer inteiros positivos m e p, a sequência contém m elementos em uma
progressão geométrica de razão maior que p.
105


Solução: Como 442 < 2023 < 452 , segue que 2023 é irracional, pois não é
inteiro, e, se fosse da forma p/q, com p, q inteiros, q > 1 e mdc(p, q) = 1,
teríamos, elevando ao quadrado, 2023 = p2 /q2 , absurdo, pois a fração p2 /q2 é
irredutível e q2 > 1.
Vamos provar que, se α > 0 é irracional, então, dado um inteiro positivo N,
existem inteiros positivos q, r tais que r < qα < r+ N1
. Dado N ∈ N, consideramos
os N + 1 elementos de [0, 1) da forma {jα} := jα − ⌊jα⌋ (parte fracionária de jα),
SN−1  k k+1 
com 0 ≤ j ≤ N. Como [0, 1) = k=0 N , N , existem dois desses elementos,
digamos {j1 α} e {j2 α} num mesmo intervalo N , N e, portanto, se j1 < j2 ,
 k k+1 

k = j2 − j1 > 0 e s = ⌊j2 α⌋ − ⌊j1 α⌋, temos 0 < |kα − s| < N1


. Se qα − s > 0, basta
tomar r = s e q = k. Já se qα − s < 0, escrevemos kα = s − ε, com 0 < ε < N 1
.
Seja M ∈ N tal que Mε < 1 ≤ (M + 1)ε. Temos então 1 − Mε ≤ ε < N , donde 1

Mkα = Ms − Mε = Ms − 1 + (1 − Mε), e basta tomar r = Ms − 1 e q = Mk.



Tomamos √ α = 2003 e N = (p + 1)m . Existem então inteiros positivos q, r
tais que r < q 2003 < r + N 1
. Portanto, para t inteiro com 1 ≤ t ≤ N = (p + 1)m ,

temos ⌊tq 2003⌋ = tr. Tomando t = (p + 1)n , com 1 ≤ n ≤ m, obtemos a
progressão geométrica desejada.

161. Um sapo faz um caminho infinito no plano euclidiano da seguinte forma: no


início ele está no ponto (0, 0), e, se num dado momento está no ponto (x, y), no
segundo seguinte salta para o ponto (x + 1, y) ou para o ponto (x, y + 1). Prova
que, para todo inteiro positivo n, existe uma reta l tal que o sapo passa por pelo
menos n pontos de l em seu caminho.

Solução: Seja (xk , yk ) a posição do sapo após k passos. Temos xk + yk =


k
k, ∀k ∈ N. Dado um inteiro k ≥ 1, sejam ak = min{⌊ 2 nxn ⌋, n ≥ k e bk =
k
max{⌈ 2 nxn ⌉, n ≥ k. Assim, o intervalo Ik = [ a2kk , b2kk ] é o menor intervalo cujos
extremos são recionais com denominador 2k que contém os valores de xnn = xnx+y n
n
para todo n ≥ k; temos Ik ⊃ Ik+1 , ∀k ≥ 1, ou seja, os Ik formam uma família
de intervalos encaixados. Temos então ∩k≥1 Ik = [c, d] para certos c, d com
0 ≤ c ≤ d ≤ 1. Temos dois casos:
i) c = d. Nesse caso, como na solução do problema 160, existem p, q ∈ N com
q > 0 e 0 ≤ p ≤ q tais que 0 ≤ qc − p < 6n 1
(a solução do problema 160 trata do
caso em que c é irracional, e o caso em que c = qp
é trivial). Existe m0 ≥ 1 tal que
| m − c| < 6nq para todo m ≥ m0 . Temos |qxm − p(xm + ym )| = |qxm − pm| =
xm 1

m|q xmm
− p| ≤ m|qc − p| + mq| xmm m
− c| < 6n m
+ 6n = 3n m
. Dado M > m0 , existem
M − m0 + 1 valores de m com m0 ≤ m ≤ M, para os quais |qxm − p(xm + ym )|
assume no máximo 1 + 2M 3n valores distintos, de modo que algum valor s deve ser
106 Problemas propostos e soluções

assumido pelo menos


M − m0 + 1
>n
1 + 2M
3n

valores distintos para M grande (de fato basta tomar M = 3(n + m0 )). Assim,
haverá pelo menos n pontos percorridos pelo sapo na reta qx − p(x + y) = s.
ii) c < d. Nesse caso, escolha um racional q
p
com c < q
p
< d. Segue da definição
de c e d que m − q , (e logo também qxm −pm = qxm −p(xm +ym )) troca de sinal
xm p

infinitas vezes. Como, para todo m ≥ 1, |qxm −p(xm +ym )−(qxm+1 −p(xm+1 +
ym+1 ))| ≤ max{p, q} = q, se qxm − p(xm + ym ) e qxm+1 − p(xm+1 + ym+1 ) têm
sinais distintos, temos |qxm − p(xm + ym )| ≤ q, e portanto, para algum inteiro s
com |s| ≤ q, qxm − p(xm + ym ) = s para infinitos valores de m, o que resolve o
problema.
162. Uma prova da IMO tem 6 problemas, e cada problema de cada participante
recebe uma nota inteira n com 0 ≤ n ≤ 7. Dizemos que duas provas de dois
participantes são comparáveis se uma delas, digamos a do participante A é menor
ou igual à prova do participante B, no seguinte sentido: em cada um dos 6
problemas a nota do participante A é menor ou igual à nota do participante B.
Determine o menor inteiro positivo m tal que, se houver m participantes numa
IMO, necessariamente haverá duas provas comparáveis.
Solução: Vamos considerar uma situação mais geral em que há k ≥ 1 ques-
tões, e, para 1 ≤ j ≤ k, a questão j vale nj pontos, i.e., a nota da questão
j pertence a {0, 1, 2, . . . , nj }. Assim, o conjunto das provas (ou, mais precisa-
Qk
mente, das pontuações) possíveis é X = j=1 {0, 1, 2, . . . , nj }. Dada uma prova
Pk
P = (m1 , m2 , . . . , mj ) ∈ X, sua nota total é n(P) = j=1 mk . Um subcon-
junto C ⊂ X é uma cadeia se duas provas quaisquer em C são comparáveis (no
sentido do enunciado); é uma cadeia lenta se existem inteiros a ≤ b tais que
{n(P), P ∈ C} = [a, b] ∩ Z, e é uma cadeia simétrica lenta se tais inteiros a, b
Pk
satisfazem a + b = j=1 nj (que é a nota máxima da prova, ou seja, se a nota
média da cadeia lenta é metade da nota máxima).
Vamos provar por indução em k que X sempre pode ser decomposto como
uma união disjunta de cadeias simétricas lentas. O caso k = 1 é trivial: X é uma
cadeia simétrica lenta nesse caso. Para fazer o passo de indução, basta provar
que, se C = {P1 < P2 < · · · < Pm } é uma cadeia simétrica lenta, então é possível
decompor C × {0, 1, 2, . . . , nk+1 } como uma união disjunta de cadeias simétricas
lentas. Isso pode ser provado por indução em m, tomando uma das novas cadeias
simétricas lentas como (P1 , 0), (P1 , 1), . . . , (P1 , nk+1 ), (P2 , nk+1 ), . . . , (Pm , nk+1 ),
sobrando {P2 , P3 , . . . , Pm } × {0, 1, . . . , nk+1 − 1} para decompor como união de
cadeias simétricas lentas, o que é possível pela hipótese de indução.
107

Assim, o conjunto das provas da IMO pode ser decomposto como uma união
de cadeias simétricas lentas. Se todas as provas de um conjunto são incomparáveis,
há no máximo uma dessas provas em cada cadeia simétrica lenta, e logo o número
de provas no conjunto é no máximo o número de cadeias na decomposição. Por
outro lado, cada cadeia simétrica lenta contém exatamente uma prova com nota
total 21, de modo que o conjunto tem no máximo N elementos, onde N é o número
de provas com nota total 21, e como duas provas distintas com nota total 21 são
sempre incomparáveis, a resposta é N + 1. Basta agora calcular N.
O número de soluções de x1 + x2 + x3 + x4 + x5 + x6 = 21 com xj ≥ 0, ∀j ≤ 6
é 5 . Se, para j ≤ 6, Xj é o conjunto de tais (x1 , . . . , x6 ) com xj ≥ 8, queremos
26


excluir a união dos Xj . Como não pode haver três valores


P de xj ≥P8 (pois a soma dos
xi é 21), o número de elementos da união dos Xj é j≤6 |Xj | − 1≤i<j≤6 |Xi ∩ Xj |.
Escrevendo xj = 8 + yj para as soluções em Xj , segue que |Xj | = 18 para j ≤ 6 e

5
|Xi ∩ Xj | = 5 para 1 ≤ i < j ≤ 6. Assim, N = 5 − 6 5 + 2 5 = 18152,
10 26 18 6 10
    

e a resposta do problema é N + 1 = 18153.

Solução dos Problemas Propostos Eureka! - 39

163. A equação quadrática x2 − 3x + q = 0 possui duas raízes α e β. Se


α + β3 = −81. Determine o valor de q.
3

Solução: Temos que x2 − 3x + q = 0. Como α e β são suas duas raízes, podemos


escrever a equação como (x − α)(x − β) = 0. Dessa forma, obtemos as duas
relações a seguir:
α+β=3 e αβ = q (1)

Elevando a primeira relação ao cubo temos que

27 = (α + β)3 = α3 + β3 + 3αβ(α + β),

108
desta forma 27 = −81 + 3αβ · 3 e portanto αβ = = 12.
9
164. Em um triângulo ABC sejam D e E pontos sobre os lados BC e AC,
respectivamente, tais que AB = BD = AE. Se ∠BAE = 60◦ e DE = DC,
determine a medida do ângulo ∠EDC.

Solução: Primeiro, vamos nomear os ângulos de acordo com a figura abaixo:


108 Problemas propostos e soluções

B
θ

γ D
ϕ
α
60◦ β
A E C
Observemos que ∠DEC = β, pois DEC é um triângulo isósceles. Se traçarmos
um segmento que liga B a E obtemos dois novos triângulos, ABE e BED. Eles
também são isósceles, sendo que o fato de ∠BAE ser de 60◦ implica em ABE ser
um triângulo equilátero.
B
60◦

γ D
γ
α
60◦ 60 ◦ β β
A E C
Dessa maneira, BE = AB = BD, o que implica que o triângulo EBD é isósceles
com γ := ∠EDB = ∠DEB = 180 − α. Agora, observemos que
180 = 60 + γ + β e 180 = 2β + α.
Substituindo a relação que temos para γ na primeira equação acima temos que
β = α − 60 e, por fim, substituindo na segunda, 180 = 3α − 120, o que nos dá
α = 100◦ .

165. Seja A um subconjunto de 84 elementos do conjunto {1, 2, 3, . . . , 169} tal


que em A não existem dois elementos cuja soma é 169. Prove que A possui pelo
menos um quadrado perfeito.
109

Solução: Se 169 pertence a A o problema está resolvido, assim podemos supor


que não pertence. Observemos que a única forma de escrever 169 como soma
de dois quadrados é 169 = 52 + 122 . Suponhamos que o conjunto A não possui
nenhum quadrado, em particular o conjunto B = A ∪ {52 } não possui dois números
tais que sua soma seja 169. Agora, consideremos os 84 conjuntos

{1, 168}, {2, 167}, . . . , {84, 85}.


Como B pode ter no máximo um elemento em comum com cada um desses
conjuntos, segue que B tem no máximo 84 elementos, o que é contraditório.
Uma pergunta interessante é se podemos trocar 84 por um número menor, ou
equivalentemente podemos transformar a pergunta na seguinte: Qual é o menor
valor de n tal que se temos um subconjunto de {1, 2, . . . , 169} com n elementos
tais que não existem dois elementos em A com soma igual a 169, então A possui
pelo menos um quadrado.
166. É possível encontrar 2005 quadrados perfeitos diferentes tais que sua
soma também é um quadrado perfeito?
Solução: Primeiro, observe que para qualquer n par, existem s e t naturais tais
que n2 = s2 − t2 . Isso ocorre pois, da igualdade obtemos n2 = (s + t)(s − t)
n2 n2
e, como n é par, é natural o que permite tomar s + t = e s − t = 2, e,
2 2
portanto, possíveis valores que satisfazem a relação são
n2 n2
+2 −2
s= 2
e t= 2
,
2 2
que números naturais. Observemos que no caso que n seja ímpar, também é
possível fazer um processo similar obtendo que
2 2
n2 + 1 n2 − 1
 
2
n = − .
2 2

Sendo assim, dada uma soma de quadrados perfeitos que gera um quadrado
perfeito
a21 + a22 + · · · + a2k = n2 ,
se n é par podemos realizar o processo anterior, obtendo uma soma com k + 1
elementos, agora, se n não é par, multiplicamos a equação por 4 dos dois lados,
ficando com (2n)2 , o que permite realizar o processo desejado. Dessa forma, a
partir de uma expressão como 32 + 42 = 52 é possível encontrar 2005 quadrados
perfeitos cuja soma seja um quadrado perfeito.
110 Problemas propostos e soluções

Uma segunda solução, pode ser obtida de forma indutiva da seguinte forma:
Se n é soma de k quadrado, digamos

a21 + a22 + · · · + a2k = n2 ,

como (3n)2 + (4n)2 = (5n)2 , segue que usando estas duas últimas equações
obtemos que

(3a1 )2 + (3a2 )2 + · · · + (3ak )2 + (4n)2 = (5n)2

isto é, (5n)2 é soma de k + 1 quadrados.


n2 + 1
167. Prove que não é inteiro para nenhum n ∈ N.
⌊n⌋2 + 2
Solução: O problema é trivial com o enunciado original, pois o numerador sempre
é menor que o denominador. Se no enunciado permitimos que o n seja um número
real, neste caso o quociente é igual a 1 para infinitos valores de n. O problema é
interessante e correto supondo que n pode assumir valores racionais.
Suponhamos que n é um número racional, assim ele pode ser escrito como
n=m+ a b , onde n, a, b são números inteiros, com 0 < a < b e primos entre si.
n2 + 1
Como o quociente sempre está entre 0 e 2, a única possibilidade para
⌊a⌋2 + 2
ser inteiro é que seja igual a 1. Assim
 a 2
m+ + 1 = m2 + 2.
b
am a2
Expandindo obtemos que 2 + 2 + 1 = 2 e multiplicando por b2 obtemos que
b b
2amb + a2 = b2 .

Desta igualdade segue que a2 = b(b−2am), logo b divide a2 o que é contraditório.


168. Determine todas as funções ∗ : Q → Q que são comutativas, associativas e
satisfazem 0 ∗ 0 = 0 e (x ∗ c) ∗ (y ∗ c) = (x ∗ y) + c, ∀x, y, c ∈ Q.
Solução: Seja f(x) = x ∗ 0. Temos f(0) = 0 e x ∗ y = (x − y + y) ∗ (0 + y) =
(x − y) ∗ 0 + y = f(x − y) + y, ∀x, y ∈ Q. A condição de ∗ ser comutativa se
escreve como y + f(x − y) = x ∗ y = y ∗ x = x + f(y − x), ou seja, f(y − x) =
y − x + f(x − y), ∀x, y ∈ Q, o que equivale a f(z) = z + f(−z), ∀z ∈ Q. A
associatividade se escreve como z + f(y − z + f(x − y)) = z + f(x ∗ y − z) =
(x ∗ y) ∗ z = x ∗ (y ∗ z) = (y ∗ z) + f(x − (y ∗ z)) = z + f(y − z) + f(x − z − f(y − z)),
111

ou seja, f(y − z + f(x − y)) = f(y − z) + f(x − z − f(y − z)), que equivale (fazendo
u = x − y e v = y − z) a f(v + f(u)) = f(v) + f(u + v − f(v)), ∀u, v ∈ Q.
Fazendo v = 0 obtemos f(f(u)) = f(u), ∀u ∈ Q. Seja I a imagem da função f.
Então f(y) = y ⇐⇒ y ∈ I. Por outro lado, como f(y) = y + f(−y), temos
y ∈ I ⇐⇒ f(y) = y ⇐⇒ f(−y) = 0. Além disso, dados v, z ∈ Q, fazendo
u = z + f(v) − v, temos f(v) + f(z) = f(v) + f(u + v − f(v)) = f(v + f(u)), ou seja,
I + I ⊂ I (i.e., se r, s ∈ I então r + s ∈ I). Daí segue por indução que se r ∈ I e
n ∈ N então nr ∈ I. Não podemos ter dois elementos em I com sinais contrários:
se r = p/q > 0 e s = −m/n < 0 pertencessem a I (com p, q, m, n > 0), teríamos
pm = qmr ∈ I e −pm = pns ∈ I, mas então f(pm) = pm, donde f(−pm) = 0,
mas devemos ter f(−pm) = −pm, absurdo. Assim, I ⊂ Q+ = {x ∈ Q; x ≥ 0}
ou I ⊂ Q− = {x ∈ Q; x ≤ 0}. Não há perda de generalidade em supor que
I ⊂ Q+ . De fato, se f satisfaz as condições acima, a função g(x) = −f(−x)
também satisfaz: temos g(0) = 0, g(z) = −f(−z) = z − f(z) = z + g(−z), ∀z ∈ Q e
g(v+g(u)) = −f(−(v+g(u))) = −f(−v+f(−u)) = −(f(−v)+f(−u−v−f(−v))) =
g(v) + g(u + v − g(v)). Assim, se a imagem de f está contida em Q− , então a
imagem de g está contida em Q+ .
Vamos então supor que a imagem I de f está contida em Q+ . Vamos provar que
I = Q+ , e portanto f(x) = max{x, 0}, ∀x ∈ Q, o que implica x ∗ y = f(x − y) + y =
max{x − y, 0} + y = max{x, y}, ∀x, y ∈ Q, o que é uma solução (no caso em que
I ⊂ Q− temos g(x) = −f(−x) = max{x, 0}, ∀x ∈ Q, donde f(x) = − max{−x, 0} =
min{x, 0}, ∀x ∈ Q, e x ∗ y = f(x − y) + y = min{x − y, 0} + y = min{x, y}, ∀x, y ∈ Q,
o que também é uma solução).
Como f(1) = 1 + f(−1), temos f(1) ̸= 0 ou f(−1) ̸= 0. Escolhendo a ∈ {−1, 1}
tal que f(a) ̸= 0, teremos f(a) > 0, Escrevendo f(a) = m/n, com m e n
inteiros positivos, temos m/n ∈ I, donde m = n.m/n ∈ I. Suponha que existe
y > 0 tal que y ∈ / I. Em particular f(y) ̸= y. Assim, d = f(y) − y ̸= 0, e
d = f(−y) ∈ I. Em particular d > 0. Escrevamos f(y) = a/u e f(−y) = b/v,
com a, u, b, v inteiros positivos. Como f(y) = a/u e f(−y) = b/v pertencem a
I, (muv − 1)f(−y) + f(y) = mub + f(y) − f(−y) = mub + y ∈ I. Assim, para
0 ≤ j ≤ muv − 1, temos j(mub + y) ∈ I e (muv − 1)mub + jy = (muv − 1 −
j)mub + j(mub + y) ∈ I, donde f((muv − 1)mub + jy) = (muv − 1)mub + jy
para 0 ≤ j ≤ muv − 1. Note agora que, se f(z) = z e f(z + y) = z + y então
z + y = f(z + y) = f(y + f(z)) = f(y) + f(y + z − f(y)) = y + d + f(z − d), donde
f(z − d) = z − d. Assim, se f(z + jy) = z + jy para 0 ≤ j ≤ muv − 1, para j = 0
obtemos f(z) = z, donde z ∈ I e z + muvy = z + m(av − bu) ∈ I. Da observação
anterior, segue que f(z − d + jy) = z − d + jy para 0 ≤ j ≤ muv − 1. Por indução
segue que f(z − kd + jy) = z − kd + jy para todo k ∈ N e 0 ≤ j ≤ muv − 1. Em
particular, para j = 0, temos f(z − kd) = z − kd para todo k ∈ N. Como já
mostramos que f((muv−1)mub+jy) = (muv−1)mub+jy para 0 ≤ j ≤ muv−1,
112 Problemas propostos e soluções

segue que f((muv − 1)mub − kd) = (muv − 1)mub − kd para todo k ∈ N, mas,
como d > 0, podemos tomar k ∈ N tal que t = (muv − 1)mub − kd < 0, o que é
uma contradição, pois teríamos f(t) = t ∈ I, mas I ⊂ Q+ , absurdo.
Assim, as duas operações que satisfazem as condições do enunciado são
x ∗ y = max{x, y}, ∀x, y ∈ Q e x ∗ y = min{x, y}, ∀x, y ∈ Q.

As resoluções dos problemas 157 a 168 foram sugeridas pelo professor


Carlos Gustavo Tamm de Araújo Moreira (Gugu) - IMPA.
Problemas propostos

Convidamos o leitor a enviar soluções dos problemas propostos e sugestões de


novos problemas para próximos números. (As soluções devem ser enviadas para o
email [email protected]).

169. Qual o menor número de operações necessárias para chegar ao número 25


partindo do número 11 utilizando apenas a multiplicação por 2 e a subtração de 3?

170. Seja r a raiz de maior módulo do polinômio P(x) = x4 + 3x3 − 3x2 + 3x − 1.


Determine inteiro mais próximo de r7 .

171. Considere a equação x6 + 5x5 + 4x4 + 4x2 + 5x + 1 = 0. Se uma das


raízes da equação é w ̸= −1, qual o valor de 3w4 + 9w3 − 9w2 + 9w + 4?

172. Sejam a, b e c números reais positivos tais que


a + b + c + ab + bc + ca + abc = 7.
√ √ √
Prove que a2 + b2 + 2 + b2 + c2 + 2 + c2 + a2 + 2 ≥ 6.

173. Seja △ABC um triângulo com incentro I. Os pontos P e Q foram esco-


lhidos sobre os segmentos BI e CI de tal forma que ∠BAQ é o dobro de ∠PAQ.
Se D é o ponto de contato do incírculo com o lado BC, prove que ∠PDQ = 90o .

174. Em um triângulo acutângulo ABC que tem circuncírculo de centro O,


sejam D e E pontos sobre AB e AC respectivamente, tais que DE e AO são per-
pendiculares. Seja K um ponto sobre a reta BC diferente do ponto de interseção de
AO com BC. A reta AK corta o circuncírculo de ADE em L, um ponto diferente
de A. Seja M o ponto simétrico de A com respeito à linha DE. Mostre que K, L,
M e O formam um quadrilátero concíclico.
114 Problemas propostos e soluções

175. Quatro circunferências de raio 1 com centro em A, B, C e D estão no


plano de tal forma que cada circunferência é tangente a duas das outras. Uma
quinta circunferência passa pelos centro de duas das circunferências e é tangente
às outras duas. Encontrar os possíveis valores para a área do quadrilátero ABCD.


1 π
176. Mostre que dx = .
0 1 + 2023cosx 2

177. Mostre que a matriz


 
20212021 2022022 20242024 20262026 20282028 20302030
 20212032 2022021 20242026 20262028 20282024 20302032 
 
 20212024 2022032 20242021 20262026 20282028 20302022 
A=  20212028

 2022026 20242024 20262021 20282022 20302032 

 20212028 2022026 20242024 20262022 20282021 20302032 
20212028 2022026 20242024 20262022 20282032 20302021

é invertível.
X∞
1 π2
178. Euler provou que 2
= . Sendo P = {2, 3, 5, 7, 11, 13, . . .}, o
n 6
n=1
Y p2
conjunto dos números primos, determine o valor
p2 − 1
p∈P

179. Se n um inteiro positivo, mostre que pelo menos um entre os números


2n − 1 e 2n + 1 não é primo.

180. Sejam a, b, c, x, y e z números inteiros tais que

ax5 + by5 + cz5 > ax + by + cz.

Mostre que ax5 + by5 + cz5 ≥ ax + by + cz + 30.

181. Prove que existe um número real α > 1 tal que, para todo inteiro positivo
n, {αn } = αn − ⌊αn ⌋ ∈ (1/3, 2/3) e, além disso, ⌊αn ⌋ é par se, e somente se, n é
primo.
115

Os problemas 169 a 174 foram enviados pelo professor Fábio Bro-


cheiro - UFMG; 175 a 180 foram propostos por Carlos A. Gomes -
UFRN ; o problema 181 por Carlos Gustavo Tamm de Araújo Moreira
(Gugu) - IMPA.
Coordenadores regionais

ALAGOAS
Krerley Irraciel Martins Oliveira UFAL MACEIÓ

AMAPÁ
André Luiz Dos Santos Ferreira IFAP MACAPÁ

AMAZONAS
Disney Douglas de Lima Oliveira UFAM MANAUS

BAHIA
Luzinalva Miranda de Amorim UFBA SALVADOR
Tadeu Ferreira Gomes UNEB JUAZEIRO

CEARÁ
Esdras Soares de Medeiros Filho UFC FORTALEZA

DISTRITO FEDERAL
Diego Marques UNB BRASÍLIA

ESPÍRITO SANTO
Florêncio Ferreira Guimarães Filho UFES VITÓRIA
Valdinei Cezar Cardoso UFES SÃO MATEUS

GOIÁS
Ana Paula de Araújo Chaves UFG GOIÂNIA

MARANHÃO
Nivaldo Costa Muniz UFMA SÃO LUÍS

MATO GROSSO
André Krindges UFMT CUIABÁ

MATO GROSSO DO SUL


Edgard José Dos Santos Arinos COLÉGIO MILITAR CAMPO GRANDE
117

MINAS GERAIS
Antonio Carlos Nogueira UFU UBERLÂNDIA
Daniele Cristina Gonçalves UEMG JOÃO MONLEVADE
Francinildo Nobre Ferreira UfSJ SÃO JOÃO DEL REI
Glauker Menezes de Amorim UFJF JUIZ DE FORA
João Batista Queiroz Zuliani CEFET-MG TIMÓTEO
Lucio Paccori Lima UFV FLORESTAL
Marcelo Ferreira UFTM UBERABA
Marcio Fialho Chaves UFLA LAVRAS
Rosivaldo Antonio Gonçalves UNIMONTES MONTES CLAROS
Seme Gebara Neto UFMG BELO HORIZONTE

PARÁ
Adenilson Pereira Bonfim ETRB BELÉM
Mario Tanaka Filho UFOPA SANTARÉM

PARAÍBA
Alex Pereira Bezerra IFPB CAMPINA GRANDE
José Vieira Alves UFCG CAMPINA GRANDE
Romildo Nascimento de Lima UFCG CAMPINA GRANDE

PARANÁ
Alzira Akemi Kushima CMC CURITIBA
Eduardo de Amorim Neves UEM MARINGA
Elisangela Dos Santos Meza UEPG PONTA GROSSA

PERNAMBUCO
Marcos Luiz Henrique UFPE CARUARU
Thiago Dias Oliveira Silva UFRPE RECIFE

PIAUÍ
Ítalo Dowell Lira Melo UFPI TERESINA
Paulo Sérgio Marques Dos Santos UFPI PARNAÍBA

RIO DE JANEIRO
Jorge Henrique Craveiro de Andrade Colégio PENSI RIO DE JANEIRO
José Luiz Dos Santos Colégio CPM BOM JARDIM
Ricardo de Amorim Oliveira C. E. Logos NOVA IGUAÇÚ

RIO GRANDE DO NORTE


Carlos Alexandre Gomes da Silva UFRN NATAL

RIO GRANDE DO SUL


118 Coordenadores regionais

Artur Oscar Lopes UFRGS PORTO ALEGRE


Carmen Vieira Mathias UFSM SANTA MARIA
Denice Aparecida Fontana Nisxota Menegais UNIPAMPA BAGÉ
Elizabeth Quintana Ferreira da Costa UFRGS PORTO ALEGRE

RONDÔNIA
Tomás Daniel Menéndez Rodriguez UFRO PORTO VELHO

RORAIMA
Gilson de Souza Costa UFRR BOA VISTA

SANTA CATARINA
Alda Dayana Mattos Mortari UFSC FLORIANÓPOLIS
Licio Hernanes Bezerra UFSC FLORIANÓPOLIS
Marcelo Zannin da Rosa UFSC ARARANGUÁ

SÃO PAULO
Ali Tahzibi USP SÃO CARLOS
Américo Lopez Gálvez USP RIBEIRÃO PRETO
Armando Ramos Gouveia ITA SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Cláudio de Lima Vidal Colégio Celtas VOTUPORANGA
Débora Bezerra Linhares Libório UMSP SÃO B. DO CAMPO
Edson Abe Colégio Objetivo CAMPINAS
Emiliano Chagas IFSP SÃO PAULO
Luis Antonio Fernandes de Oliveira UNESP ILHA SOLTEIRA
Newman Ribeiro Simões Colégio Luiz de Queiroz PIRACICABA
Raul Cintra de Negreiros Ribeiro Colégio Anglo JUNDIAÍ
Reinaldo Gen Ichiro Arakaki FATEC SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Samuel Liló Abdalla Colégio Anglo SOROCABA

SERGIPE
Valdenberg Araújo da Silva UFSE ARACAJU

TOCANTINS
Adriano Rodrigues UFT ARRAIAS

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