2024 - 04 - 30 - Bamidbar (No Deserto) - A Justiça
2024 - 04 - 30 - Bamidbar (No Deserto) - A Justiça
2024 - 04 - 30 - Bamidbar (No Deserto) - A Justiça
{O nome hebraico do Gênesis é Bereshit, que significa “no princípio”; o livro apresenta as
circunstâncias históricas e religiosas da criação do mundo e da humanidade e, em especial, do povo
judeu, bem como a entrega da Torá e a dádiva da Terra de Israel.
O nome do Êxodo, em hebraico, é Shemot, que significa “nomes”; esse livro descreve como D’us
tomou “uma nação do meio de outra nação” e forjou a identidade e psique da nação judia, cuja
tarefa é fazer deste mundo um santuário para a consciência Divina.
O Levítico, em hebraico Vayikrá, que se traduz por “e Ele chamou”, expõe minuciosamente como o
judeu deve responder ao chamado Divino, mantendo-se afastado do materialismo deste mundo e, ao
mesmo tempo, elevando-o e espiritualizando-o.
Este livro, Números, em hebraico se denomina Bamidbar, “no deserto”. A imagem do deserto é de
uma terra estéril, inculta e incivilizada. Ele simboliza, assim, nossa realidade física não retificada,
que é em grande medida indiferente, contrária e muitas vezes até antagônica à consciência Divina.
Depois de nos dizer como o mundo - projetado originalmente como jardim da Divindade -
transformou-se neste “deserto”, como o povo judeu foi criado e recebeu a missão de restaurar a
natureza intrínseca do mundo e instruções sobre como fazê-lo, a Torá nos conta agora que os judeus
são enviados a tal “deserto” para alcançar esse objetivo, provando sua dedicação a seu destino e
resistência aos elementos hostis do ambiente. Essa tensão dramática constitui a base da história
seminal do povo judeu registrada em Números.
Não surpreende, portanto, que a primeira parashá de Números que tem o mesmo nome do livro,
Bamidbar, “no deserto” - descreva como D’us reúne a jovem nação para formar Seu exército. É
verdade que o povo judeu foi designado como exército logo que saiu do Egito: “Naquele mesmo dia,
todas as hostes de D’us saíram do Egito”. Porém, é só nesta Parashá, quando os israelitas estão
prestes a deixar a torre de marfim protegida da Yeshiva do Monte Sinai para iniciar a incursão pelo
temível deserto, que vemos o povo ser contado, organizado por genealogia e alistado em um exército
formal.
A primeira lição de Bamidbar, então, é que jamais devemos nos iludir pensando que a realidade em
seu presente estado é uma entidade benigna, neutra, e nós nada devemos fazer para aperfeiçoá-la.
O mundo e tudo que há nele é um desafio, uma convocação às “armas”, que nos acena para que
empreguemos nossas maiores forças espirituais a fim de redimi-lo, de modo que ele volte a ser um
lar para D’us.
Mas por que todos os detalhes? Bamidbar parece ser um interminável banco de dados de nomes de
famílias, estatísticas e redundâncias. Não seria muito mais simples a Torá resumir em poucas
palavras ou frases todo o processo de recenseamento e recrutamento?
Para que isso possa ser minimamente compreendido, é preciso notar que com pouquíssimas exceções
significativas a Torá descreve a contagem de todas as tribos exatamente da mesma maneira. Assim,
por um lado, o censo é o grande equalizador: cada um é contado como um, e nossa individualidade
se perde quando nos tornamos componentes indiferenciados do todo conglomerado. Por outro lado,
todos são contados, e o coletivo implicitamente é incompleto se não estiverem presentes todas as suas
unidades constituintes. Isso mostra que a contribuição de cada indivíduo para o todo é única,
ninguém mais pode dá-la.
Em outras palavras, o censo expressa a interação paradoxal entre a identidade individual e a
coletiva. Cada um de nós é um indivíduo único, totalmente diferente dos outros, abençoado com
forças e desafios próprios, de valor infinito e insubstituível. De modo geral, essa individualidade se
manifesta na subdivisão do povo judeu em doze tribos distintas, das quais cada uma recebeu uma
bênção própria, particular, do progenitor comum, Jacob, com base em sua variante específica,
singular, do tema tratado pela Torá do serviço a D’us. Assim, cada tribo é contada separadamente;
esse fato é registrado na Torá, para nos informar que somos singulares, e nossa contribuição única
é indispensável na batalha por Divindade neste mundo.
Por outro lado, por partilharmos uma identidade coletiva, refletimos e complementamos uns aos
outros. Nenhum de nós é capaz de travar a batalha sozinho, precisamos todos contar com a força e
inspiração de nossos irmãos judeus. Por essa razão, não basta ouvirmos e lermos o relato da Torá
do censo de nossa própria tribo; devemos ouvir e ler sobre os censos de todas as tribos, um a um,
embora nos pareçam idênticos. Dessa maneira, absorvemos as forças interiores inerentes a cada
tribo e podemos identificar-nos com todas elas.
A identidade comum, coletiva, que todos partilhamos é o âmago da alma Divina, a “parte de D’us
nas alturas” dentro de cada um de nós. No entanto, paradoxalmente, essa mesma alma Divina é a
fonte de nossa individualidade, porque a Divindade é, a um só tempo, simples e complexa: D’us é
uma unidade absolutamente simples, não complexa, e tudo que é Divino reflete essa unicidade. Ao
mesmo tempo, porém, D’us é a fonte de tudo que existe, o que significa que Sua unicidade
incondicional contém potencialmente infinitas variedades de expressão. Cada alma Divina é tanto
expressão da simplicidade absoluta da Divindade como faceta única do potencial de D’us de
expressar-Se. Assim, o paradoxo do senso nos força a considerar e focar o aspecto de nossa
personalidade que todos possuímos em comum, igualmente, que é também a fonte de nossa
individualidade infinitamente singular, o âmago da alma Divina.
É esse ponto interior de Divindade dentro de nós que nos motiva e impele na luta para redimir o
mundo. Pois, assim que nos sintonizamos com nossa ligação profunda com D’us, nada é capaz de
opor-se a nossa dedicação ao desafio deste livro: empreender uma viagem perigosa, mas promissora,
através do deserto ímpio, transformando-o por fim na Terra Prometida. Com tal inspiração, estamos
prontos para juntar-nos às fileiras das legiões de situação é que agora devemos forçosamente
concentrar-nos no caráter inclusivo recíproco do povo judeu, cultivando todos nós as características
peculiares a cada tribo.
D’us, a fim de sermos contados e alistados nas forças do bem e da santidade, cuja missão é levar o
mundo a sua mais verdadeira realização}. (1)
Tornar feliz a humanidade esse é o objetivo do povo judeu e, de forma associativa dos Maçons
também. Se ao longo do texto acima trocarmos a palavra judeu por Maçom, não sentiremos nenhuma
alteração de propósito. Mas, como o texto diz cada pessoa é única com sua identidade individual,
porém também é coletiva.
Portanto é usando o que está escrito na Torá Vayikrá (Levítico) 19:18, pg. 348 (2), “Amaras a teu
próximo como a ti mesmo”. Mas, observando a interpretação dada pelo famoso Rabino Hilel “Não
faças a teu companheiro o que não queres que te façam” (Comentários da Torá, pg. 348). Ou seja,
essa interpretação se aplica a todas as pessoas, independentemente de qualquer restrição que se possa
colocar sobre ela. Da mesma forma, o fazer e o não fazer, o Bem e o mal, estão a nossa disposição.
Não há um só momento que não saibamos distinguir o certo do errado. Não é possível para um ser
humano esconder-se do Eterno D’us, pois é impossível para qualquer pessoa se esconder de si mesmo.
A centelha Divina está dentro de nós.
Assim penso!
Obrigado pela oportunidade!!!
Fraternalmente, B”H - B’ezrat Hashem ()בעזרת השם
Com a ajuda do Eterno D'us, Bendito Seja.
São José dos Campos, Terça-feira, 30 Abril, 2024, 22 Nissan, 5784
Roberto Lage Ben-Guedes
Referência
(1) 2001, Lefer, B.; Gorodovits, D.; Pamplona, E. V. R.; Levy, I.; Fridlin, J.; Najmanovich,
R. “Torá a Lei de Moisés”. Editora e Livraria Sefer, São Paulo, SP, Brasil, ISBN 85-
85583-26-6.
(2) 2015 Torá Chumash Bamidbar, editora Centro Judaico Bait, São Paulo, SP, ISBN 978-
85-85516-51-2.