Barroco Características
Barroco Características
Barroco Características
Introdução
Situar e caracterizar o que foi o estilo barroco não é tarefa fácil. A princípio, o estilo barroco (sec. XVII) é
considerado por parte da crítica de arte e de literatura como a degenerescência que surge com o
E. H. Gombrich, ao explicar a origem do termo “barroco”, nos fornece um bom quadro a respeito de como o
É um estranho fato que muitos desses rótulos que, para nós, são simplesmente nomes de
primeiro usada pelos críticos de arte italianos da Renascença para caracterizar o estilo
que eles consideravam bárbaro e que, na opinião deles, fora introduzido na Itália pelos
“maneirismo” ainda retém para muitas pessoas a sua conotação original de afetação e
Barroco significa realmente absurdo ou grotesco, e era empregado por homens que
insistiam em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser usadas ou
combinadas a não ser do modo adotado pelos gregos e romanos. Desprezar as severas
normas da arquitetura antiga parecia, a esses críticos, uma deplorável falta de gosto – daí
clássica permanece. Assim, por exemplo, ao tratar das diferenças entre o Barroco e o Renascimento
O Classicismo inicial esforçou-se (...) por estabelecer uma ordem racional não apenas no
pensamento, mas também na sociedade, nos costumes, na vida, enfim. A Arte também
entanto, dá-se como que uma explosão das linhas equilibradas: a Arte é invadida por
passa aos tons sombrios e dramáticos do claro-escuro. É o período barroco que começa,
Por outro lado, outros críticos e intelectuais, como Otto Maria Carpeaux, mostram grande entusiasmo com
o período, ressaltando, no entanto, que, por sua multiplicidade na Literatura, fica difícil a descrição de um
O século XVII, que se estende, mais ou menos, de 1580 a 1680, é o mais rico de todos na
história da literatura universal; e para justificar o superlativo basta citar alguns nomes
haveria companhia mais ilustre para um quadro do que aqueles poetas e escritores, se
fosse possível encontrar um centro para eles. Mas um centro assim não existe no século
Para, no entanto, colocar o problema em ordem que nos permita pensar, ao menos, algumas linhas gerais do
período, vamos começar com o que a crítica de arte e de literatura tem de consenso em relação ao barroco.
O Barroco surgiu entre os fins do século XVI e o começo do XVII com o esgotamento das formas exploradas
pelos renascentistas dos modelos clássicos, principalmente na arquitetura. O modelo padrão renascentista
passa, pouco a pouco, a tornar-se menos “puro” com a tentativa de se dar aos monumentos caráter mais
pictórico - segundo os estudos de Wolffilin (WOLFFILIN, 2000) -, que, por um lado, traz mais liberdade ao
estilo criativo do artista e que, por outro, garante um preenchimento do espaço carregando-o de
movimento. Compare, por exemplo, a racionalidade e harmonia da fachada de uma igreja nos modelos da
Renascença com o estilo "complicado" de uma igreja barroca:
A "complicação" das formas na arquitetura só, consecutivamente, adentrou na pintura e, o que nos
interessa, na Literatura. Antes, no entanto, de tratar disso, vale falarmos que, para muitos historiadores da
arte e da Literatura, a arte barroca está, necessariamente, carregada dos ideais da Contrarreforma. Em
linhas gerais, a Contrarreforma foi o movimento de reação da Igreja Católica à Reforma Protestante e,
também, à crescente indiferença religiosa presente nos meios intelectuais com a tendência dos humanistas
do Renascimento de buscar no estudo dos clássicos uma sabedoria que nada tinha que ver com o mundo
sua elaboração estilística, um propósito moral: lembrar ao homem que sua dimensão era, sim, racional, mas
que sua razão era limitada pelo mistério e que, portanto, por si mesmo, a razão não podia tirá-lo das trevas
e da escuridão. Vejamos, por exemplo, um aforismo do pensador barroco Blaise Pascal sobre os limites da
razão filosófica:
Pois é ao juízo que pertence o sentimento, como as ciências pertencem à mente. A finura é a parte
do juízo, a geometria é a parte da mente.
Zombar da filosofia é verdadeiramente filosofar.
Podemos, então, a princípio, afirmar que, por conta do esgotamento das formas clássicas, da maior
liberdade estilística do artista (que para seus contemporâneos era considerada monstruosa) e dos ideais
eclesiásticos da Contrarreforma, o barroco se constituiu em uma arte mais complicada, voltada para um ser
humano problemático e para formas mais opulentas de representação do mundo.
Um resumo comparativo do que foi dito pode ser encontrado no quadro abaixo, que apresenta, segundo Bosi
(BOSI, 1970), as principais diferenças entre o Barroco e o Classicismo:
Características da Literatura do Barroco
Embora possamos apontar muitas diferenças em termos de atmosfera e de temática entre o Barroco e o
Renascimento, vale dizer que os mestres dos primeiros eram, indubitavelmente, os segundos e que,
portanto, todas as inovações trazidas pela poesia do barroco são variações das técnicas já existentes antes.
Assim sendo, apontamos, em seguida, onde se podem notar as diferenças de atmosfera entre um e outro:
A paisagem
A paisagem continua a ser a bucólica da poesia greco-latina. O poeta opera, àquilo que vê, sua
transformação artística. A diferença entre a atmosfera da Renascença e do Barroco na paisagem está ligado
ao fato de que neste a operação artística empreendida pelo poeta transformar a natureza em partes
pertubadas em vez de retratá-la como um todo harmônico.
Cromatismo Vocabular
Aparecerão simbolicamente outras cores além do branco, sendo as diferentes tonalidades de vermelho as
mais constantes.
Estruturas Ritímicas
Permanecem as do Renascimento (ode, soneto, canção, oitava-rima, tercetos etc.).
Processos Estilísticos
Jogos de palavras, antíteses, paradoxos, uso abundante da mitologia clássica (com enorme exagero).
Temática
Angústia religiosa e metafísica, desconcerto do mundo, as profundidades do ser, o amor e a mulher, a
fugacidade da vida e a vaidade das aspirações humanas, o sublime e o grotesco, por um lado; e, por outro, a
poesia como atividade lúdica, sem um tema específico, mas com um enigma a decifrar.
Para encerrarmos este módulo, lembramos, ainda, que dentro do Barroco é possível encontrarmos duas
O Cultismo e o Conceptismo não foram apenas uma arte de escrever, ou, como se tem
dito, puro malabarismo poémático e retórico. Foi, antes, e acima de tudo, o resultado de
de realidades sensoriais (cores, odores, sabores, formas e movimentos), até então não
explorados pela arte, como ainda, na ordem da expressão literária, a descoberta de
imensas possibilidades expressivas e impressivas da imagética (imagens, metáforas,
obsessão da engenhosa análise racional desse mundo, sobretudo de seu centro afetivo,
REFERÊNCIA
AMORA, A. Soares. A Era Clássica. São Paulo: Difel, s.d.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1970.
CARPEAUX, Otto Maria. O Barroco e o Classicismo: História da Literatura Ocidental Vol. 4. São Paulo: Leya,
2012.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura e Linguagem: A Obra Literária e a Expressão Linguística. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1974.