Barroco Características

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Barroco: Características

TRATAR DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E TEMÁTICAS DA ESTÉTICA BARROCA

AUTOR(A): PROF. JOSE EDUARDO FERREIRA

Introdução
Situar e caracterizar o que foi o estilo barroco não é tarefa fácil. A princípio, o estilo barroco (sec. XVII) é

considerado por parte da crítica de arte e de literatura como a degenerescência que surge com o

esgotamento do rigor, da harmonia e do perfeccionismo do estio renascentista.

E. H. Gombrich, ao explicar a origem do termo “barroco”, nos fornece um bom quadro a respeito de como o

estilo barroco foi recebido pelos seus contemporâneos:

É um estranho fato que muitos desses rótulos que, para nós, são simplesmente nomes de

estilos, foram originalmente palavras de injúria ou escárnio. A palavra “gótico” foi

primeiro usada pelos críticos de arte italianos da Renascença para caracterizar o estilo

que eles consideravam bárbaro e que, na opinião deles, fora introduzido na Itália pelos

godos, que destruíram o Império Romano e saquearam suas cidades. A palavra

“maneirismo” ainda retém para muitas pessoas a sua conotação original de afetação e

imitação superficial, de que os críticos do século XVII haviam acusado os artistas do


século XVI. A palavra “barroco” foi um termo empregado pelos críticos de um período

ulterior que lutavam contra as tendências seiscentistas e queriam expô-las ao ridículo.

Barroco significa realmente absurdo ou grotesco, e era empregado por homens que

insistiam em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser usadas ou

combinadas a não ser do modo adotado pelos gregos e romanos. Desprezar as severas

normas da arquitetura antiga parecia, a esses críticos, uma deplorável falta de gosto – daí

terem rotulado o estilo de barroco.

GOMBRICH, E. H. A HISTóRIA DA ARTE. RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 1985, PP. 302-3.


Mesmo na modernidade, a concepção de barroco como degenerescência, ou simples negação, da harmonia

clássica permanece. Assim, por exemplo, ao tratar das diferenças entre o Barroco e o Renascimento

(Classicismo), a professora Nelly Novaes Coelho considera os dois estilos:

O Classicismo inicial esforçou-se (...) por estabelecer uma ordem racional não apenas no

pensamento, mas também na sociedade, nos costumes, na vida, enfim. A Arte também

tende a ser a mais alta expressão de um universo penetrado de inteligência, de uma

consciência lúcida e de uma sociedade perfeitamente hierarquizada. A certa altura, no

entanto, dá-se como que uma explosão das linhas equilibradas: a Arte é invadida por

formas conflituosas em que contornos deixam de ser nítidos e a luminosidade aberta

passa aos tons sombrios e dramáticos do claro-escuro. É o período barroco que começa,

nos rastros do violento período da Contrarreforma.

COELHO, NELLY NOVAES. LITERATURA E LINGUAGEM: A OBRA LITERáRIA E A

EXPRESSãO LINGUíSTICA. RIO DE JANEIRO: JOSé OLYMPIO, 1974, P. 145.

Por outro lado, outros críticos e intelectuais, como Otto Maria Carpeaux, mostram grande entusiasmo com

o período, ressaltando, no entanto, que, por sua multiplicidade na Literatura, fica difícil a descrição de um

estilo comum à rica gama de escritores que esse século oferece:

O século XVII, que se estende, mais ou menos, de 1580 a 1680, é o mais rico de todos na
história da literatura universal; e para justificar o superlativo basta citar alguns nomes

ditos ao acaso e classificados conforme os anos de nascimento: Tasso, Cervantes,


Góngora, Lope de Veja, Shakespeare, Tirso de Molina, Jonson, Donne, Jonh Webster,

Quevedo, Ruiz de Alacrón, Vondel, Comenius, Claderón, gracián, Corneille, Milton, La


Fontaine, Marvell, Molière, Pascal, Mme. De Sévigné, Bousset, Bunyan, Pepys, Mme. De La

Fayette, Boileau, Racine, La Bruyère. Os pintores de solenes quadros históricos, no século


XIX, costumavam agrupar em torno de um rei todas as figuras ilustres da sua época, e não

haveria companhia mais ilustre para um quadro do que aqueles poetas e escritores, se
fosse possível encontrar um centro para eles. Mas um centro assim não existe no século

XVII. A riqueza é abundante demais, e os caracteres nacionais das literaturas – italiana,


espanhola, francesa, inglesa, holandesa – já estão de tal modo marcados que é impossível

encontrar um centro comum de gravitação.


CARPEAUX, OTTO MARIA. O BARROCO E O CLASSICISMO: HISTóRIA DA LITERATURA
OCIDENTAL VOL. 4. SãO PAULO: LEYA, 2012, PP. 18-9.

Para, no entanto, colocar o problema em ordem que nos permita pensar, ao menos, algumas linhas gerais do

período, vamos começar com o que a crítica de arte e de literatura tem de consenso em relação ao barroco.
O Barroco surgiu entre os fins do século XVI e o começo do XVII com o esgotamento das formas exploradas

pelos renascentistas dos modelos clássicos, principalmente na arquitetura. O modelo padrão renascentista
passa, pouco a pouco, a tornar-se menos “puro” com a tentativa de se dar aos monumentos caráter mais

pictórico - segundo os estudos de Wolffilin (WOLFFILIN, 2000) -, que, por um lado, traz mais liberdade ao
estilo criativo do artista e que, por outro, garante um preenchimento do espaço carregando-o de

movimento. Compare, por exemplo, a racionalidade e harmonia da fachada de uma igreja nos modelos da
Renascença com o estilo "complicado" de uma igreja barroca:
A "complicação" das formas na arquitetura só, consecutivamente, adentrou na pintura e, o que nos
interessa, na Literatura. Antes, no entanto, de tratar disso, vale falarmos que, para muitos historiadores da

arte e da Literatura, a arte barroca está, necessariamente, carregada dos ideais da Contrarreforma. Em
linhas gerais, a Contrarreforma foi o movimento de reação da Igreja Católica à Reforma Protestante e,
também, à crescente indiferença religiosa presente nos meios intelectuais com a tendência dos humanistas
do Renascimento de buscar no estudo dos clássicos uma sabedoria que nada tinha que ver com o mundo

cristão, ou que até mesmo podia suplantá-lo.


Não por acaso, portanto, a Igreja tornar-se-ia a principal patrocinadora de artistas, a fim de que, por meio
de pinturas e esculturas, fossem expostas cenas do Evangelho e da vida de santos. Além disso, muitas das
inovações da pintura, como, por exemplo, o uso expansivo da técnica do claro-escuro, tinha, concomitante à

sua elaboração estilística, um propósito moral: lembrar ao homem que sua dimensão era, sim, racional, mas
que sua razão era limitada pelo mistério e que, portanto, por si mesmo, a razão não podia tirá-lo das trevas
e da escuridão. Vejamos, por exemplo, um aforismo do pensador barroco Blaise Pascal sobre os limites da
razão filosófica:

VERDADEIRA FILOSOFIA VS. FILOSOFIA, POR


BLAISE PASCAL
A verdadeira eloquência zomba da eloquência, a verdadeira moral zomba da moral. Quer dizer que a
moral do juízo zomba da moral da mente, que não tem regras.

Pois é ao juízo que pertence o sentimento, como as ciências pertencem à mente. A finura é a parte
do juízo, a geometria é a parte da mente.
Zombar da filosofia é verdadeiramente filosofar.

PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 237.

Podemos, então, a princípio, afirmar que, por conta do esgotamento das formas clássicas, da maior
liberdade estilística do artista (que para seus contemporâneos era considerada monstruosa) e dos ideais
eclesiásticos da Contrarreforma, o barroco se constituiu em uma arte mais complicada, voltada para um ser
humano problemático e para formas mais opulentas de representação do mundo.

Um resumo comparativo do que foi dito pode ser encontrado no quadro abaixo, que apresenta, segundo Bosi
(BOSI, 1970), as principais diferenças entre o Barroco e o Classicismo:
Características da Literatura do Barroco
Embora possamos apontar muitas diferenças em termos de atmosfera e de temática entre o Barroco e o
Renascimento, vale dizer que os mestres dos primeiros eram, indubitavelmente, os segundos e que,
portanto, todas as inovações trazidas pela poesia do barroco são variações das técnicas já existentes antes.
Assim sendo, apontamos, em seguida, onde se podem notar as diferenças de atmosfera entre um e outro:

A paisagem
A paisagem continua a ser a bucólica da poesia greco-latina. O poeta opera, àquilo que vê, sua
transformação artística. A diferença entre a atmosfera da Renascença e do Barroco na paisagem está ligado
ao fato de que neste a operação artística empreendida pelo poeta transformar a natureza em partes
pertubadas em vez de retratá-la como um todo harmônico.

Cromatismo Vocabular
Aparecerão simbolicamente outras cores além do branco, sendo as diferentes tonalidades de vermelho as
mais constantes.

Dinamismo Agressivo dos Verbos


Verbos como "fulminar", "condenar", "arrebatar" etc. darão à poesia barroca uma movimentação mais brusca,
sem a placidez contemplativa de muitos poemas clássicos.

Impetuosiadade dos Vocábulos


Expressões como "empenhos tísicos", "amargos vômitos", além das hipérboles de toda ordem dão a

tonicidade do discurso barroco.

Estruturas Ritímicas
Permanecem as do Renascimento (ode, soneto, canção, oitava-rima, tercetos etc.).

Processos Estilísticos
Jogos de palavras, antíteses, paradoxos, uso abundante da mitologia clássica (com enorme exagero).

Temática
Angústia religiosa e metafísica, desconcerto do mundo, as profundidades do ser, o amor e a mulher, a

fugacidade da vida e a vaidade das aspirações humanas, o sublime e o grotesco, por um lado; e, por outro, a

poesia como atividade lúdica, sem um tema específico, mas com um enigma a decifrar.

Para encerrarmos este módulo, lembramos, ainda, que dentro do Barroco é possível encontrarmos duas

tendências de elaboração escrita: a do Cultismo e a do Conceptismo.

O Cultismo e o Conceptismo não foram apenas uma arte de escrever, ou, como se tem
dito, puro malabarismo poémático e retórico. Foi, antes, e acima de tudo, o resultado de

novo sentimento estético do mundo material e do mundo psicológico. De fato: o Cultismo

(também denoinado gongorismo, marinismo, barroquismo, eufuísmo) consistiu, em


essência, na busca dos valores plásticos da natureza, dos objetos de arte e da figura

humana (particularmente do semblante feminino), busca de que resultou não só o achado

de realidades sensoriais (cores, odores, sabores, formas e movimentos), até então não
explorados pela arte, como ainda, na ordem da expressão literária, a descoberta de
imensas possibilidades expressivas e impressivas da imagética (imagens, metáforas,

sinédoques, metonímias, alegorias, símbolos). O Conceptismo, por outro lado, foi o


resultado do sentimento agudo da dramática complexidade do mundo interior, e ainda da

obsessão da engenhosa análise racional desse mundo, sobretudo de seu centro afetivo,

onde se descobriam contradições, paradoxos, impulsos irracionais e intensas paixões;


consequentemente, na expressão literária dos conceptistas, a procura constante do

domínio dos recursos da dialética (a análise penetrante; os raciocínio silogísticos e os

conceitos exigentemente lógicos e inteligentes).


AMORA, A. Soares. A Era Clássica. São Paulo: Difel, s.d., p. 104.

AMORA, A. SOARES. A ERA CLáSSICA. SãO PAULO: DIFEL, S.D., P. 104.

REFERÊNCIA
AMORA, A. Soares. A Era Clássica. São Paulo: Difel, s.d.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1970.
CARPEAUX, Otto Maria. O Barroco e o Classicismo: História da Literatura Ocidental Vol. 4. São Paulo: Leya,

2012.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura e Linguagem: A Obra Literária e a Expressão Linguística. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1974.

PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.


WOLFFILIN, Heinrich. Renascença e Barroco. São Paulo: Perspectiva, 2000.

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