Lógún Èdè

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LÓGÚN ÈDÈ

O Pequeno Guerreiro

Por Dani Isoàlà


Lógun Èdè

Lógún Èdè é um caçador, filho de Osóòsì e Osún. Na Nigéria, as cidades em que se


encontra de forma mais intensa o culto a Lógún Èdè é Ilesa e Ibadan. O termo Lógún Èdè
significa “Pequeno guerreiro”. Esta divindade é vista por todos que o cultuam como um
caçador mais novo, mais jovem, não chega a ser uma criança, mas não é um òrìsà adulto.
Para os yorubanos, Lógún Èdè, quando vivo, foi um omo awo (filho do segredo) de
Osún. Ou seja, ele era um sacerdote do culto de òrìsà que aprendeu com a primeira Iyabá que
ensinou aprendizes em terras yorubanas, Osún. Ele era o aprendiz mais dedicado e recebeu de
Osún todos os segredos das águas e da mata que ela sabia. Lógún Èdè não gosta de sujeira, ele
é extremamente rigoroso com organização e limpeza. O alimento preparado para ele deve ser
feito em silêncio.
Outro ponto importante a se falar é que Lógún não é uma divindade metade homem e
metade mulher. O fato dele usar um àbèbè se dá pelo fato de que Osóòsì não ficou até o fim
da vida com Osún. Após a separação deles, ficou decidido que Lógún passaria 6 meses com o
pai e 6 meses. Durante o período em que ele fica com Osún, ela decidiu que colocaria alguns
adornos em sua vestimenta para diminuir a sua lembrança em relação ao caçador que o gerou.
Osún era apaixonada por Osóòsì, e o fato de Lógún parecer tanto com o pai trazia a saudade
cada vez que ela o olhava. Por isso, nos 6 meses que ele se encontrava com sua mãe ele usava
àbèbè e saiote.
Poucos itans são possíveis encontrar sobre Lógún Èdè. Em alguns deles fala-se que
Oya foi a mulher que lhe criou após ele ter passado por Osún. Conta um itan que Lógún Èdè
era uma criança muito curiosa e todas as vezes que ele iria nadar sentia vontade de ir mais
fundo, porém sempre repreendido por sua mãe.
Um dia ele entrou no rio, e sem que Osún percebesse, nadou até o meio do rio. Neste
momento, a grande rival de Osún de nome Oba resolveu se vingar e, por debaixo da água,
começou a puxar Lógun para o fundo do rio tentando afoga-lo. Desesperada, Osún chamou
por Orúnmilà e pediu que salvasse seu filho.
Orúnmilà só teve um grande amor na vida, foi Osún. Imediatamente ele correu e
salvou Lógún. Ao salvar Lógún, Orúnmilà deu a ele a função de proteger todos aqueles que
entravam no rio para poder pescar. Não é a toa que o caboclo que mais o representa chama-se
Martinho Pescador.
Um outro itan mostra como Lógún Èdè passou a viver com Osún como se fosse filho.
Esse itan é comum ser escutado em terras yorubanas. Conta a fonte oral que um dia estava
Osóòsì a caminhar por um lindo bosque em companhia de Osún. De repente Osún avistou um
lindo menino que estava à beira do caminho a chorar, encontrando-se perdido. Osún acolheu e
amparou o garoto com o apoio de Osóòsì.
O tempo foi passando e Osóòsì vestiu o menino com roupas de caça e ornamentou-o
com pele de animais, proveniente de suas caçadas. Ensinou a arte da caça, de como manejar e
empunhar o arco e a flecha, ensinou os princípios da fraternidade para com as pessoas e o
dom do plantio e da colheita, ensinou a ser audaz e a ter paciência, a arte e a leveza, a astúcia
e a destreza, provenientes de um verdadeiro caçador.
Osún ensinou ao garoto o dom da beleza, o dom da elegância e da vaidade, ensinou a
arte da feitiçaria, o poder da sedução, a viver e sobreviver sobre o mundo das águas doces,
ensinou seus segredos e mistérios. Foi batizado por sua mãe e por seu pai de Logum Edé, o
príncipe das matas e o caçador sobre as águas.
Convém ressaltar que Lógún Èdè é tido com um pequeno e eficiente feiticeiro. Por
isso, ele já chegou a salvar outras divindades com sua magia. Existe um itan que mostra com
Lógún salvou Erinlè, seu pai e o amor de Osún, de ficar cego por conta das Iyamis.
Erinlè e Lógún sempre iriam caçar juntos na mata, mas Lógún tinha um cuidado muito
grande para que os pássaros das Iyamis não fossem caçados. Pois ele era o único ser
masculino que conhecia segredos das Ayés e por isso ele tinha um grande respeito pelos
pássaros mensageiros delas. Em uma de suas caçadas junto com o pai, Erinlè, sem perceber,
acertou um dos pássaros das Iyamis.
Imediatamente as Iyamis lançaram um feitiço sobre Erinlè deixando-o cego. Lógún
Èdè pegou a sua bolsa de couro (bornal) com suas pembas mágicas e lançou sobre os olhos de
Erinlè dando a sua visão de volta. Agradecido por ter sua visão de volta, Erinlè acompanhou
Lógún até a beira do rio e reencontrou o seu amor, Osún.
Devido a sua beleza, a vaidade sempre esteve presente em Lógún. Existe um itan que
conta um certo dia, o Osáàlá conheceu Logun e, então, decidiu levá-lo para que vivesse em
sua casa, sob sua proteção. Deu a ele companhia e, além disso, sabedoria e compreensão. Mas
Logun era ganancioso, por isso, queria mais, muito mais.
Confiando no aprendiz, Osáàlá deixava seus segredos à mostra, pois acreditava na
honestidade de Logunedé. Logunedé, no entanto, deixou sua ganância falar mais alto e, assim,
roubou os segredos. O caçador guardou seu furto no bornal a tiracolo, deu as costas a Osáàlá e
fugiu. Ao perceber que Lógún havia o traído, Osáàlà procurou por Ifá e realizou todos os ebós
solicitado. A sentença dada a Lógún Èdè seria de que todas as vezes que Lógún usasse os
segredos de Osáàlà, todos reconheceriam que era um milagre de Osáàlà e sempre faltaria
algum objeto para que o segredo estivesse completo. Assim aconteceu.
Para que o castigo de Lógún fosse eterno, Orúnmilà transformou Lógún em òrìsà.
Além disso, enquanto ele teve vida, Lógún viveria na mata 6 meses comendo o mesmo que os
pássaros e 6 meses na água vivendo a base de peixe.

COMIDA DO ÒRÌSÀ

A comida de Lógún Èdè é a mesma alimentação de Osóòsì e Osún. Além do feijão


fradinho, usa-se na sua alimentação grãos de prosperidade como lentilha, ervilha e grão de
bico.

QUALIDADES

Lógún é um òrìsà que, aqui no Brasil, não é comum encontrar no Orí das pessoas.
Quando se fala de qualidade, em sua maioria dos terreiros, encontra-se apenas 3 linhas.

Igbayn: Esta qualidade é a mais comum. Ele sempre está acompanhado dos pais,
sempre come ao lado deles. Suas cores são azul claro e dourado.
Loko: Raramente se encontra essa qualidade. Ele é a fase adulta de Lógún, caminha
muito com Osóòsì, se esconde na mata. Geralmente vem acompanhado por Oya, que acalma o
instinto rude dessa qualidade. Esse òrisà utiliza cores para o tom rosa, por conta de Oya.
L’panan: Come com Ogún, Osún e Oya. É um caçador guerreiro.
CÂNTICOS E TRADUÇÕES
RODA DE LÓGÚNÈDÈ

As cantigas de Osóòsì também pode ser utilizada para Lógún. Porém, algumas
cantigas falam dele e do pai caçador.

1 L’óòtun I ààbò, igbo òrìsà a kofà awo.


L’óòtun I ààbò, igbo òrìsà a kofà awo.

Protega-nos, orixá da mata. Nós [pegamos] o arco e a flecha [para cultuar]

2 Kéré-kéré odé ó, kéré-kéré odé ó


Olòrìsà ké má sá
Ké mi mò awo
Òrìsà ode igbó ótòkonsósó
Àwa omodé ti Erinlé
Áwa omodé ti ó kú eron,
Ode igbó ti kó là
Ode igbó ti kó là
Bábàodé igbó
Ofà isè isè lè sórò

Pequeno, o pequeno caçador


Senhor orixá, que não foge
Meu choro reconhece o segredo
Orixá caçador da floresta Otoconxôxô
Nós, filhos do caçador Erinlé
Nós, filhos do caçador Erinlé
Rígido caçador da floresta que corre para o riacho
Pai caçador da floresta
O arco e a flecha para fortemente o inimigo.

3 A e a ba i sà, Lógún e e
A e a ba i sà

Nós o encontramos, Lógún

4 Ilé a k’ofà ré, a k’ofà ré o


Ilé a k’ofà
Iso e lórò Lógún
E a k’ofà
A dé Lógún
E a K’ofà
Ibayn
E a k’ofà
Lopanan
E a k’ofà

Surge o dono da casa do arco e flecha


Casa do arco e flecha
Ligado a prosperidade
Ele, do arco e flecha.
De Lógún
Casa do arco e flecha
Ibayn
Casa do arco e flecha
Lopanan
Casa do arco e flecha

5 E Lógún de lé oké
Eee
É Lógún àró àró
Fà Là Lógún

Lógún chega poderoso com sua capanga


Lógún, grande autoridade (majestade)
Lógún corre atraído para o riacho.

6 Olóode pa eron olóodò


Oba omi níìbú, olóode pa eron
Aláamón òrìsà

Senhor caçador, do rio e pescador


Rei das águas profundas, senhor da caça
Orixá dono do barro

7 A k’ofà àgò òrìsà igbó ode


Àròlé ó
Àròlé ó òrìsà ode
Ode ní ó òrìsà igbó

O arco e flecha, nos dê licença caçador, orixá da floresta


Ele nos ajuda mutuamente,
Ajuda mutuamente, orixá caçador
Caçador orixá das matas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Adilson de Oxalá – Igbadu: A Cabaça da Existência


Altair B. Oliveira – Cantando para os Orixás
Reginado Prandi – Mitologia dos Orixás

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