Islam No Recife (Territorialidade e Educação Não Formal)
Islam No Recife (Territorialidade e Educação Não Formal)
Islam No Recife (Territorialidade e Educação Não Formal)
Introdução
O Islam é a religião que mais cresce no mundo. Por ser uma religião de caráter
universalista, acaba por propiciar todos os dias, encontros multiculturais que nos levam a
pensar que há outras possibilidades de existir no planeta. Conhecer a religião islâmica
deve ser do interesse da educação, pois, já nascemos num mundo marcado pela diferença
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Graduanda do Curso de Pedagogia no Centro de Educação da UFPE. E-mail:
[email protected]
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Doutor em Geografia. Professor do Centro de Educação da UFPE. E-mail: [email protected]
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e quanto mais estreitamos nosso olhar sobre o outro, mais intolerantes nos tornamos. O
ser humano está em constante devir e as suas experiências com a pluralidade acabam
ganhando um contorno ético político que é umas das tarefas formativas do ser humano e
do exercício democrático de conviver com o outro.
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A palavra “Alcorão” vem do árabe ( القرآنAl-Qur’na) que, em português, significa “a recitação”. As
palavras contidas nele são sagradas para os muçulmanos, sendo as principais orientações relacionadas à
moral e à fé da religião islâmica. Disponível em: https://iqaraislam.com/alcorao-livro-sagrado-do-
islamismo
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A mensagem do Islam foi revelada no ano 609 da Era Cristã ao Profeta Muhammad (não
Maomé, como é popularmente conhecido no ocidente). A primeira revelação ocorreu em
Jabal al-Nour, ou “Montanha da Luz’’, localizada hoje em território da Arábia Saudita. A
mensagem do Profeta convidava toda humanidade a abraçar um Deus único, acreditar nos
anjos, nos seus mensageiros, nos seus livros, no dia do juízo final e na predestinação.
Esses são os pilares da fé islâmica que transcendem qualquer etnia ou geografia desde o
fim das revelações sagradas que terminaram em 632. Portanto, a essência universalista
do Islam interpela indivíduos do mundo inteiro que coexistem em diversos grupos sociais
e tradições culturais que, acabam por fazer o mundo muçulmano ser bastante heterogêneo
e amplo.
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As diferenças entre Sunitas e xiitas, que explicam boa parte dos conflitos no Oriente Médio.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51068470
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Entretanto, como o C-Islam- Centro Cultural Islâmico Imam Sadeq se encontra ativo
apenas como entidade virtual, a entrevista foi realizada de forma remota apenas com o
coordenador do centro. Demos ênfase na valorização do ensino da língua árabe realizada
por este Centro através de parcerias que será apresentada no respectivo tópico acerca deste
Centro. Este trabalho se configura em uma pesquisa qualitativa, porque “não se preocupa
com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de
um grupo social, de uma organização, etc.” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.31).
Desse modo, não é nosso objetivo, dados estatísticos exaustivos ou quantificação
excessiva acerca do objeto abordado. Pretendemos valorizar aportes teóricos que
legitimem a territorialidade islâmica e seu intento formativo no Recife. Além de valorizar
elementos fenomenológicos que, outra vez, configuram essa territorialidade muçulmana,
tais como entrevistas, depoimentos, relatos etc., onde a oralidade e expressão das pessoas,
constitui método científico. A classificação como pesquisa qualitativa demanda a resposta
de questões voltadas para as relações tecidas nos Centros Islâmicos e os indivíduos que
fazem parte ou não do seu interior, e isto não pode ser reduzido a processos e fenômenos
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Trecho retirado da matéria “Embaixada da paz na Rua da Glória”. Disponível em:
https://curiosamente.diariodepernambuco.com.br/project/embaixada-da-paz-na-rua-da-gloria/
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Quanto aos/às alunos/as e fiéis que possuem experiências práticas com o problema
pesquisado, optou-se por valorizar as narrativas das mulheres, ou seja, as alunas mais
presentes deste Centro, devido ao maior contato com as fiéis muçulmanas no trabalho de
campo e de forma remota, e também por preservar o nome das alunas entrevistadas.
Foram um total de cinco mulheres que puderam fazer parte desta pesquisa. A aluna A1
tem 35 anos, muçulmana há 8 meses e mora em São Lourenço da Mata-PE; a Aluna A2
tem 39 anos, muçulmana há 2 anos e mora em Limoeiro-PE; a aluna A3 tem 39 anos, está
conhecendo o Islam, é casada com um imigrante muçulmano da República dos Camarões
e mora no Ibura-Recife; a orientadora Najdaty Andrade tem 52 anos, muçulmana há 7
anos e mora no Recife, orienta as mulheres no modo presencial; e Dulce Rodrigues da
Rocha tem 51 anos, muçulmana há 8 anos e mora atualmente em Canhotinho- PE, mas
sempre está envolvida com as atividades do Centro Islâmico do Recife, e também orienta
de forma remota, juntamente com Najdaty Andrade as mulheres que chegam na
comunidade islâmica.
De acordo com Salgueiro (2001) tem se acentuando cada vez mais dentro da geografia
cultural a paisagem ser um território visto, sentido e elaborado pela mente. Centrando no
indivíduo, nas suas práticas, nas suas representações que elabora do mundo exterior, as
quais modelam, por sua vez, o comportamento. É a partir da sua faixada em árabe (língua
semítica para os povos islâmicos) que o centro torna a paisagem uma das matrizes da
cultura islâmica espacializada na cidade. Desenvolvendo laços afetivos e de identidade
cultural que são tecidos através da territorialização e da educação não formal realizada
por este Centro. Esse processo de territorialização, tem a ver com experiências culturais
e identitariamente importantes para a afirmação da territorialidade dos indivíduos.
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Segundo Claval, na medida em que a lembrança das ações coletivas fundem-se aos
caprichos da topografia, às arquiteturas admiráveis ou aos monumentos criados para
sustentar a memória de todos, o espaço torna-se território. (2007, p.14). É importante
frisar que o Território sempre é múltiplo e complexo, funcional e simbólico. Território,
assim, em qualquer acepção, expressa ação de poder do homem em sua espacialidade
mais imediata, não apenas ao tradicional “poder político” governamental. Ele diz respeito
ao poder no sentido concreto, de dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico,
de apropriação (HAESBAERT, 2004). Ambas as visões, funcional e simbólica, possuem
entre si uma forte relação, exercendo “domínio” sobre o espaço tanto para realizar
“funções” quanto para produzir “significados”. Embora seja comum associar o conceito
de Território as relações de poder que se desdobram no seu sentindo mais funcional, o
poder também é inerente a concepção simbólica de Território e precisa ser levado em
consideração. Sendo essa perspectiva territorial simbólica concebida para compreender a
territorialidade islâmica no Recife.
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Federação das associações muçulmanas do Brasil. Disponível em: https://www.fambras.org.br/
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É necessário explicitar que o sunismo é a orientação religiosa deste Centro Islâmico. Essa
perspectiva tem sua gênese a partir de uma situação de dúvida após o falecimento do
Profeta Muhammad, uma parte majoritária da comunidade muçulmana defendia que o
poder político, ou seja, a liderança da comunidade caberia a própria Ummah 7 e não
especificamente a linhagem profética, como acreditam os xiitas. Então, Abu Bakr um dos
primeiros revertidos e conselheiro do Profeta saiu vitorioso e foi o escolhido. Essa cisão
ainda permanece predominantemente no mundo muçulmano. Conforme Yassin (2007,
p.85).
Para os sunitas, essa ‘suna’ permite interpretar e adaptar o Alcorão às situações de todas
as épocas (SAMUEL, 1997, p. 263). Esses dois elementos que estruturam a cosmovisão
sunita são explanados em ambas as aulas ofertadas pelo CIR. Segundo Ibrahim Vanus,
professor de religião das aulas mistas, estão sendo realizadas há aproximadamente dois
anos, via online por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus, ocorrendo
todas as quintas e domingos às 20h, pelo aplicativo do Google Meet, com duração
aproximadamente de 40 a 60 minutos. A turma tem uma média de 20 pessoas e a maioria
é muçulmana, mas existem aquelas que estão conhecendo a religião. Nas quintas-feiras
as aulas são voltadas para a leitura do Alcorão e nos domingos algum tema sobre a
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Ummah é a transliteração do árabe أمة هللاque em português significa Nação islâmica
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Esse mesmo modelo educacional é encontrado e inserido para analisar o ensino religioso
realizado por mulheres e para as mulheres no Centro Islâmico do Recife, que também tem
por objetivo aprimorar o conhecimento acerca do Islam e também discutir as
especificidades da mulher muçulmana. A partir de agora focaremos nossas análises para
as experiências das mulheres entrevistadas acerca dos estudos realizado pelas mesmas,
assim como alguns desafios e entraves que perpassam a identidade das mulheres
muçulmanas em questão.
Esse grupo de estudos realizado pelas mulheres é o único que se encontra no formato
semipresencial, sendo realizado sempre que possível, dependendo da disponibilidade das
fiéis e das interessadas em estarem presentes no Centro islâmico do Recife nas sextas-
feiras. Para o Islam, as sextas-feiras são consideradas os dias mais especiais para adoração
a Deus, a oração (salat) صالحem congregação é feita ao meio dia (Dhuhr9), apesar de não
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É recomendado a todo muçulmano/a quando mencionar o profeta Muhammad que fale “salah allahu aleihi
wa salam” é a transliteração do árabe صلى هللا عليه وسلمque em português significa “que a paz e as bençãos
de Deus estejam com ele.”
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É a segunda oração obrigatória do dia. A (salat) صالحé o nome dado as orações diárias que todo
muçulmano/a deve realizar. São divididas ao longo do dia e o horário de cada uma precisa ser respeitado
para que sejam consideradas válidas. São elas: الفجرFajr – Deve ser feita durante a alvorada, pelo menos
15 minutos antes do sol nascer. الظهرDhuhr – Oração que deve ser feita quando o sol atinge o ponto mais
alto no céu. Pode ser feita até o período próximo da próxima oração. العرصAsr – Prece para ser feita durante
a tarde. Pode ser feita até antes do início do pôr do sol. المغربMaghrib – Oração que deve ser feita num
período anterior ao total pôr do sol. العشاءIshaa – Prece para ser feita durante o anoitecer, após o sol se pôr
completamente. Pode ser feita até o momento do início do Fajr. Disponível em: https://iqaraislam.com/salat
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ser obrigatório para as mulheres, muitas optam por estarem presentes nesses dias e
aproveitam para aperfeiçoar o estudo religioso com as mais antigas na religião.
Nem todas as alunas residem na cidade do Recife, mas se deslocam de outros municípios
para estarem em congregação e elevarem os seus conhecimentos, é o caso da aluna A1
que mora em São Lourenço da Mata- PE e da aluna A2 que mora Limoeiro-PE e da
orientadora Dulce Rodrigues da Rocha que reside em Canhotinho-PE.
A orientadora do grupo, Najdaty Andrade, salienta que “Às vezes as pessoas dizem assim
‘Ah, mas já faz não sei quanto tempo que já estou estudando o Islam, estou vindo no
Centro para aprender mais, mas já estou estudando’ Mas, esse ‘já estou estudando’ é com
quem? E como? Você está estudando pela internet? Na internet, hoje, muitas pessoas
podem estar ensinando direitinho e muitas não. Os antigos aprendem a religião com os
sábios, que aprenderam com outros sábios que aprenderam com o Profeta, e assim vem
esse método até hoje, aprendemos com os sábios e vamos ensinando a quem vai
chegando”. A flexibilidade das aulas, dos encontros e da sua duração não quer dizer que
não exista um método e um intento educativo dentro do modelo não formal de ensino
praticado pelo grupo de estudo das mulheres. tal como pontua Garcia:
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Seja ou não o termo “educação não formal” viável em longo prazo, ele é útil
agora para assinalar alternativas ao formal, aos empreendimentos educacionais
institucionalizados. Usar tal termo é uma atitude honesta, ainda que
insuficiente, de distinção dentro das principais forças educativas de uma
sociedade. “educação não formal” é uma descrição pela negação, e desse modo
diz menos que a “educação formal”. (É como definir um carro dizendo que ele
não é um cavalo, não é um avião, não é um barco, etc.) Frequentemente, “não
formal” tem sido compreendido pelos leigos como sendo sem forma ou sem
estrutura discernível, sem organização ou sem propósitos. “Formal”, por outro
lado, implica procedimento, propósito, forma e ordem. Contudo, muitos tipos
de educação – além da escola formal – em comunidade, em casa, na igreja, na
indústria e outras instituições sociais similares e organizações comerciais têm
forma. (1974, p. 9,apud GARCIA, 2009, p. 50)
Apesar de muitas pessoas conhecerem a religião através das mídias, amigos ou até mesmo
pelo marido que é o caso da aluna A3 e que tem frequentado o ensino presencial nas
sextas, é um consenso que o ensino produzido no Centro e sua receptividade une as fiéis,
alimentando a busca pelo aperfeiçoamento da religião e do pertencimento identitário.
Depoimento da aluna A3: “conheci o Islam através do meu marido e posso dizer que fui
muito bem recebida no Centro, não está sendo fácil, mas posso te dizer que estou me
encontrando com Deus.”
Depoimento da aluna A1: “a princípio fiz uma busca rápida no Google para saber o
endereço do Centro e em seguida achei em redes sociais, Facebook, Instagram. Quando
cheguei no Centro todos me receberam muito bem, me senti em casa, no meu lar. Desde
janeiro frequento o Centro e sempre que posso estou com meus irmãos e irmãs.”
Depoimento da aluna A2: “eu conheci o centro islâmico através de uma amiga aqui da
minha cidade que também é muçulmana, casada com um egípcio. Ela me levou ao Centro
pela primeira vez, foi ano passado só não lembro bem a data, lá fui bem recebida pelas
irmãs e pelos irmãos. Ganhei o alcorão, alguns livros e até então frequento o Centro
quando posso.”
A orientadora Najdaty Andrade diz que “é um comando, ser muçulmana significa adquirir
conhecimento sobre tudo o que é bom, e ainda existe a questão de que tem assuntos
delicados quando se fala por exemplo da menstruação da mulher, o período do pós parto,
a questão do namoro, do sexo. Para uma mulher é mais interessante ela ouvir de outra
mulher esses ensinamentos, você não vai está falando de sexo, de período pós parto, de
menstruação com um homem. Então, essa importância de as mulheres estarem ensinando
as outras e esse desejo que as outras aprendam e repassem esses conhecimentos para as
que vão chegando, é o que fazemos no grupo e tentando sempre discutir nas sextas-feiras
e de forma remota. Essa é a metodologia do Islam, você aprende, você ensina, porque
conhecimento jamais pode ser guardado dentro do Islam, jamais! Tudo que você aprende
tem que ser passado para frente, porém tem que ter bases sólidas, essas bases são o
Alcorão e a Suna do Profeta, você tendo essas bases solidificadas em você, você pode
passar para qualquer pessoa.”
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É o primeiro pilar do Islam, o testemunho de fé. A shahada الشهادةé expressa através da frase em
pronúncia árabe أشهد أن ال إله إال هللا و أشهد أن محمدا رسول هللاa transliteração é ashhadu an la illaha illa llah, wa
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ashhadu anna Muhammadan rassulu llah, que em português significa “Não há divindade além de Allah e
Muhammad é o servo e mensageiro de Allah”. Disponível em: https://iqaraislam.com/shahada
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[...], a maioria dos xiitas são os seguidores dos Dozes Imames, ou seja, os
Xiitas Duodécimos, que são os companheiros e aliados do Imam Ali Bem Abi
Taleb (A.S), os quais levantaram a bandeira da oposição em assuntos do
Califado e das fontes teológicas islâmicas após o falecimento do nobre Profeta
(S.A.A.S), e isso foi para assegurar a tradição dos direitos dos familiares do
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O xiismo duodécimo acredita em doze imames na linha sucessória do Profeta Muhammad, porém o 12ª
imame estaria oculto por Allah (Deus), e irá retornar. A linhagem começaria com o Imam Ali e se encerraria
com o Imam al-Mahdi, que está em estado de ocultação. (SOUZA,2016)
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O xiismo não pode ser concebido de forma monolítica e homogênea, ao longo da história islâmica foram
surgindo diferentes compreensões de xiismos. Por isso, é importante especificar de qual xiismo está sendo
a discussão para não uniformizar os fiéis em uma única ramificação. (SOUZA, 2016)
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Xaria ou shariah em árabe الشريعةnão é um código de lei, impresso e limitado em volumes. É a ideia de
uma lei de Deus. Como outros conceitos legais amplos como o “direito americano” ou o “direito
internacional”, a shariah é um todo unificado que contém dentro dele uma enorme diversidade. Assim
como a lei americana se manifesta como leis de trânsito radicalmente diferentes ou códigos de zoneamento
em diferentes estados ou localidades, também a aplicação da shariah variou muito ao longo dos séculos,
enquanto ainda permanece uma tradição legal coerente. Disponível em: https://iqaraislam.com/afinal-o-
que-e-essa-lei-islamica-shariah
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Ver a nota 7
18
Mensageiro de Deus (S.A.A.S), pertencentes aos Ahlul Bait, e por causa disso
se separaram da maioria das pessoas. (AL-TABATABAÍ, 2008, p.61)
Essa identidade xiita duodécima levaria a uma concepção distinta da história em si: os
pertencentes à “Nobre Linhagem” sofreriam as injustiças de um mundo em decadência
moral a ponto de serem martirizados, sendo o martírio e o lamento deles, elementos
centrais da identidade xiita (SOUZA, 2016, p. 168). Ademais, a característica de
afastamento também constitui parte do ethos xiita, que foi sendo desencadeado ao longo
do tempo, devido as estigmatizações que sofreram. Entretanto, isso não faz dos xiitas,
fiéis intolerantes e desprovidos de considerações pelos demais muçulmanos. Sendo
necessário, portanto, frisar que desde a Revolução Iraniana de 1978, o xiismo duodécimo,
religião oficial do Irã, tem sido vinculado ao imaginário social, principalmente ocidental,
como sinônimo de radicalismo, devido também aos ataques contra o Saddam Hussein 15 e
às ações do Hezbollah16 , tornado comum uma associação orientalista aos xiitas. Tal
comparação é totalmente equivocada, a saber, adjetivar uma/a xiita de radical é um ato
islamofóbico e não cabe a ninguém generalizar os fiéis por causa de uma minoria
específica que não age de acordo com os preceitos religiosos.
No que tange a origem e as atividades realizadas pelo C-Islam Imam Sadeq o mesmo só
foi inaugurado em 2015 ficando ativo até meados de 2019, Eduardo Santana, coordenador
deste Centro islâmico de orientação Xiita no Recife, afirma que a primeira instituição
desta orientação no Estado de Pernambuco foi o C-Islam – Centro Cultural Islâmico Ali
Akbar, fundado em 30 de maio de 2005, em ato público que envolveu membros da
comunidade muçulmana de Pernambuco e convidados não-muçulmanos, na presença do
Sheikh Hossein Khaliloo, clérigo titular do Centro do Imam Al´Mahdi de Diálogo no
Brasil, importante e referencial entidade para os muçulmanos xiitas no Brasil. No início,
a entidade se sustentava financeiramente com “as próprias pernas”, ou seja, com doações
de pessoas físicas locais e de fora de Pernambuco.
Mas, nos finais de 2018, decidiu-se pela unificação dos centros islâmicos de escolas xiitas
pernambucanos num só, num único espaço físico, o C-Islam – Centro Cultural Islâmico
15
Presidente do Iraque (1979-2003) sunita secular, na época apoiado pelos EUA. Em 22/9/1980 deu início
a uma guerra contra o Irã que durou 8 anos. A guerra envolveu aspectos políticos, religiosos e sectários.
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Conhecido como um partido político libanês de orientação xiita duodécima, e também pela violência de
seu braço armado e suas ações contra Israel.
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Ali Akbar, entidade islâmica xiita histórica, com sede na cidade de Belo Jardim, agreste
de Pernambuco.
Fonte:https://www.facebook.com/CCIISOlinda/photos/a.387620648099124/387621524765703
Entre 2015 e 2019 – período no qual o C-Islam Imam Sadeq enquanto espaço físico ficou
aberto no logradouro Avenida Fagundes Varela, nº 1.040 – Loja: 11 (Galeria Olinda
Antiga) – Jardim Atlântico – Olinda (PE) – Era composto em sua maioria de
muçulmanos/as brasileiros/as revertidos, sendo todos/as, no caso dos/as xiitas,
anteriormente seguidores de escolas de jurisprudência islâmica sunitas.
Como dito anteriormente, o C-Islam Imam Sadeq do Recife permanece ativo atualmente
como entidade virtual, mas isso não o impede de manifestar sua territorialidade Islâmica.
Inclusive, com uma forte presença feminina que busca informações sobre o Islam e sobre
a cultura muçulmana. Aliás, à guisa de exemplificação, é muito comum em centros
islâmicos e mesquitas do Brasil, após o evento do “11 de setembro” (atentados de
11/9/2001 nos EUA) e da exibição da novela “O Clone”, exibida no mesmo ano pela Rede
Globo de Televisão, muitas mulheres foram movidas pela curiosidade acerca dos
elementos “culturais” e “religiosos” que a novela apresentava. (FERREIRA, 2015).
Todavia, essa territorialidade tem como sua base socioespacial, a internet. Em termos
práticos, o ciberespaço se concretiza territorialmente com qualidades transfronteiriças de
operação e circulação de dados (ISRAEL, 2020, p.72). Mas o ciberespaço não está
apartado do espaço geográfico. Ainda, segundo Israel, a mesma pontua que:
É fato que o capitalismo mudou e continua a fazer mudanças profundas na estrutura social
e espacial existente. Por isso, não é de se espantar que o advento da internet nos
possibilitou pensar os conceitos geográficos por essas novas dinâmicas territoriais
globalizadas. Em particular, o próprio conceito de território dentro dessa configuração.
plenamente. O ensino da língua árabe que é uma marca da educação não formal do Centro
xiita é desenvolvida dessa forma, tendo como seu suporte à internet.
A educação não formal é tecida de meios e formas variadas e cada vez mais temos vistos
o ensino e aprendizagem centrados em suportes tecnológicos, nas “telas”. Naturalmente
o centro articulou as atividades didático-pedagógicas para o desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem à distância. E a internet não vai de encontro a essência da educação
não formal, que também tem como uma de suas características, as aprendizagens
adquiridas a partir das experiências das ações coletivas. Isto porque a internet, hoje, é
também uma ferramenta que possibilita tais experiências. Ao utilizar a internet, o/a
aluno/a “aumenta suas conexões linguísticas, geográficas e interpessoais através da
interação com inúmeros textos, imagens, pesquisas, conectando-se com os mais
longínquos espaços, culturas, idades e personalidades” (WISSMAN, 2002, p. 5)
Eduardo Santana, o coordenador do o C-Islam Imam Sadeq, nos afirma que o C-Islam
oferta cursos de árabe, alfabetização e conversação básica, a interessados, mantendo on
line plataformas em parceria com demais entidades muçulmanas presentes no território
brasileiro, a saber: Carangola/MG (Centro Cultural Beneficente Islâmico Imam
Hassan/Poeta Muçulmano), Simões Filho/BA (Fundação Al´Habu).
“Há, hoje, cursando as aulas de idioma árabe protagonizadas pelo C-Islam Imam Sadeq,
decorrente dos convênios citados, por volta de 60 alunos/as, homens e mulheres, todos/as
maiores de 18 anos. Também, há alunos/as matriculados/as em cursos individualizados,
que também têm cursado o estudo de árabe em aulas remotas”. Sendo assim, o C-Islam
Imam Sadeq evidencia que apesar de operar totalmente no ciberespaço, sua
territorialidade e educação não formal são manifestadas cotidianamente, e vem suprindo
as necessidades dos fiéis, além de promover o conhecimento cultural e religioso,
oportunizado através do acesso virtual.
Apesar de existir um projeto em andamento que busca solidificar um espaço físico para
o C-Islam Imam Sadeq, o mesmo enquanto entidade virtual é bastante relevante para
evidenciar a territorialidade islâmica. Como também é o idealizador e um dos grandes
incentivadores do projeto “Educadores Muçulmanos do Nordeste” que está sendo
pavimentado com muçulmano/as de ambas as vertentes religiosas que atuam na
Educação, desse modo, o C-Islam Imam Sadeq vem promovendo educação não formal e
produzindo territorialidade, objetos desta investigação.
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Considerações finais
Em função do diálogo teórico e de nossas interações comunicativas com a comunidade
muçulmana em questão, podemos considerar que existe territorialidade islâmica no
Recife tanto física quanto ciberespacial. Nos dois Centros pesquisados foi possível
constatar que ambos têm por intento assegurar a educação dos fiéis, além de estarem
abertos para todos/as que queiram tecer o exercício democrático e da coexistência. A
exemplo das instituições educacionais que costumam visitar o Centro Islâmico do Recife
(CIR), estimulando a formação de cidadãos/ãs críticos/as e conhecedores/as da
diversidade religiosa presente na cidade, em especial, a islâmica.
Foi possível concluir desse processo, que as ações educativas promovidas pelos Centros
são essenciais para a formação e aperfeiçoamento do ethos muçulmano de todos/as que
compõe os centros islâmicos, sendo essa busca pelo conhecimento, uma obrigatoriedade
de todo fiel. Ademais, os Centros também sinalizam a importância da emergência de
diálogos emancipatórios e plurais que impliquem noções de responsabilidade e
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Referências