Direito Comercial 2.

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Comerciante

Noção Jurídica de Comerciante

São comerciantes as pessoas que, tendo capacidade para praticar atos de comércio,
para praticar atos de comércio, fazem desta profissão (pessoas singulares)
As sociedades comerciais (pessoas coletivas)

O artigo 13º aponta os requisitos para ser comerciante (remissão art.7º Código
Comercial).
O artigo 7º do Código Comercial, afirma, que toda a pessoa, nacional ou estrangeira,
que for civilmente capaz de se obrigar, poderá praticar atos de comércio, nos termos e
salvas as exceções do presente código.

O estatuto próprio do comerciante vem responder á pergunta sobre a importância de


saber quem é ou não comerciante.

Capacidade comercial (art. 7º Código Comercial) = pode praticar atos de comércio


quem for civilmente capaz de se obrigar.

Por remissão do art. 3 do Código Comercial, a capacidade comercial corresponde á


capacidade civil (art. 67º C.C) das pessoas singulares. No caso das pessoas coletivas, há
que aplicar o art. 160 Código Civil e os artigos 5º e 6º do Código das Sociedades
Comerciais.

Personalidade Jurídica

Pessoas singulares -> a personalidade jurídica corresponde ao nascimento completo e


com vida (art. 66º Código Civil)

Pessoas coletivas -> a personalidade jurídica equivale ao momento do registo (art. 5º


Código das Sociedades Comerciais)

Em geral, capacidade jurídica significa que a pessoa que pratica um dado ato tem
poderes para o fazer, o que atribui eficácia plena ao dito ato.

Capacidade de gozo e de exercício

“as pessoas podem ser sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal
em contrário” (art.67º Código Civil)

Capacidade de gozo nasce com a personalidade jurídica e corresponde á medida de


direitos e vinculações de que uma pessoa pode ser titular.
Capacidade de exercício de direitos corresponde á suscetibilidade que a pessoa tem de
exercer pessoal e livremente os direitos e cumprir as obrigações que estão na sua
titularidade.
Exemplos:
 Um menor tem capacidade de gozo quando recebe um bem por testamento ou
herança (capacidade de gozo)
 Um menor pode iniciar uma atividade comercial com autorização dos pais
(capacidade de gozo)
 Um maior pode dispor dos bens herdados sem autorização dos pais, livremente
(capacidade de exercício)
 Um maior pode exercer livremente o comércio (capacidade de exercício)

A capacidade comercial corresponde á capacidade de exercício de direitos, em suma,


quando tem poderes para praticar o ato, o que lhe confere plena eficácia.

Incapacidades

As incapacidades podem ser supridas por representação legal (pais, acompanhante)

Menoridade (art. 123º e 124º Código Civil) – cessa com a maioridade (art.130 Código
Civil) e emancipação (art. 133º Código Civil)

Noção: é menor quem não tiver completado 18 anos de idade. No entanto, o menor
emancipado tem plena capacidade de exercício de direitos.

Exceto: maior de 16 anos pode administrar ou dispor dos bens adquiridos pelo seu
trabalho.
O menor pode praticar negócios jurídicos próprios da sua vida corrente (por exe.:
comprar bens de consumo no bar ou papelaria da escola; comprar bilhetes de
autocarro, etc.)
O menor pode praticar os negócios jurídicos inerentes á profissão que estiver
autorizado a exercer.

Forma de suprimento: representação legal através do poder paternal (pais) e


subsidiariamente pela tutela (tutor).

Maior acompanhado (artº 138º Código Civil) – o maior impossibilitado, por razões de
saúde, deficiência, ou pelo seu comportamento, de exercer, plena, pessoal e
conscientemente, os seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus deveres.

O maior acompanhado pode ser comerciante desde que:


- Não aja em nome próprio
- Seja representado pelo representante legal
- O representante legal esteja autorizado, nomeadamente pelo tribunal

Incapacidade acidental -> a declaração negocial de quem, por qualquer causa, está
acidentalmente incapacitado de entender o sentido dessa declaração ou não dispõe do
livre exercício da sua vontade, sendo essa situação conhecida do declaratório.
Exemplo: Luís em estado de completa embriaguez promete vender o seu apartamento
ao melhor amigo por metade do preço de mercado.
Comerciante/ Empresário em Nome Individual (artº 13º nº1 Código Comercial)

Relativamente á expressão “pessoa”, deve aqui ser considerada não somente a nível
singular, mas também como pessoa coletiva que não seja uma sociedade comercial.
Para ser considerado comerciante devem então ser observados três requisitos
cumulativos:

Capacidade Comercial

O art. 7º vem falar o que é necessário para a capacidade de exercício de direito. Mas
decorre deste mesmo artigo exceções. Os menores e os maiores acompanhados
podem ser comerciantes quando devidamente representados e autorizados pelo
ministério público.
Os menores e maiores acompanhados não devem ser qualificados como comerciantes
quando atuem em nome próprio ou quando representante lega não estiver habilitado
a praticar atos de comércio ou ainda, quando quem se apresenta como representante
não é o próprio.

Fazer do comércio profissão

“Profissão” -> exercício habitual (sistemático e regular) de atividade económica


- Não tem que ser exclusiva
- Não tem que ser principal
- Não tem que ser exercida ininterruptamente (pode ser sazonal)

“Comércio” -> atividade qualificada por lei (direta ou indiretamente) como comercial,
sendo que essa atividade se traduz em atos, entre os quais se encontram, muitas vezes
atos de comercio objetivos.

O início da qualidade de comerciante é determinado pela prática do ato ou atos


reveladores do propósito e possibilidade de certo sujeito se dedicar ao exercício
habitual de uma atividade.

Este requisito trata de prática de atos comerciais habituais ou sistemáticos, com


profissionalidade. Não tem de ser única atividade, nem principal, nem continua ou
ininterrupto. Exemplo: Exploração de café/bar de praia que só está aberto no verão, ou
um parque de campismo.

Atuação em nome próprio

Os comerciantes são os representadores e não os representantes legais, logo, quando


os representantes exercem atos de comércio, fazem-no em nome do representado e
não em nome próprio. Outro caso comum é as sociedades comerciais que são
consideradas comerciantes (art. 13º nº2 C.Com.), mas os seus sócios não são
comerciantes porque estariam a exercer comércio em nome de outrem.
Em tese geral, poderá se dizer, que os comerciantes exercem a sua atividade num
quadro empresarial, mas não tem de ser assim, não sendo necessário a existência de
uma empresa.

Responsabilidade

Todo o património do comerciante em nome individual responde pelo integral


cumprimento das suas obrigações comerciais.

Caso o comerciante seja casado, aplica-se o art. 15º Código Comercial e art. 1691º d)
Código Civil.

Regra:
 As dividas dos comerciantes casados presumem-se contraídas no exercício dos
respetivos comércios e são responsabilidade dos comerciantes e seus cônjuges
(art. 15º C.Com. e art.1691º d) Código Civil)
 Pelas dividas respondem os bens de ambos e de cada um dos cônjuges
 Os credores apenas terão de fazer prova que o devedor é comerciante e que as
dividas são comerciais (resultam de atos de comércio objetivos e/ou subjetivos)

Exceções:
 Se forem casados no regime de separação de bens
 Dívidas não contraídas em proveito comum do casal, e o cônjuge do
comerciante não se beneficiou daquela dívida

Sociedades Comerciais (art.13º nº2 Código Comercial)

O nº2, do art. 13º do Código Comercial, compreende as sociedades, e considere-as


como comerciantes:

 Conjugado com os art. 1º/2 Código das Sociedades Comerciais, temos que
“sociedade comerciais” são as que:
o “tenham por objeto a prática de atos de comércio”
o “adotem o tipo de sociedade, em nome coletivo, de sociedade por
quotas, de sociedade anónima, de sociedade em comandita simples ou
de sociedade em comandita por ações”

 Conjugado com o art. 5º Código das Sociedades Comerciais, temos que:


o a qualidade de comerciantes é adquirida pelo menos a partir do
momento em que é adquirida personalidade jurídica,
independentemente da prática de qualquer ato de comércio
compreendido no seu objetivo.

Os atos praticados com vista á constituição da sociedade comercial, ainda que


anteriores á adquisição da personalidade jurídica, consubstanciam atos de comércio.
Responsabilidades dos sócios por dívidas da sociedade

Responsabilidade ilimitada -> todos os sócios são responsáveis, sem qualquer limite,
por todas as dividas contraídas pela sociedade, sendo-lhes exigido o respetivo
pagamento num que para isso tenham de vender o seu património pessoal, ou seja,
subsidiária e solidária. Exemplo: sociedades em nome coletivo

Responsabilidade limitada -> os sócios ou acionista não respondem perante os


credores da sociedade, respondem apenas internamente perante a própria sociedade
e, em princípio, apenas em relação á sua própria obrigação de entrada. Exemplo:
sociedades por quotas e sociedades anónimas

Responsabilidade mista -> depende da situação de cada sócio na empresa. Exemplo:


sociedade em comandita simples e por ações.

Outras pessoas coletivas qualificáveis como comerciantes (art. 13º nº1 Código
Comercial)

Além das sociedades comerciais, outras pessoas coletivas podem ser comerciantes,
quando tenham por objeto a prática de atividades/atos comerciais (por aplicação do
art. 13º nº1, Código Comercial):

Empresas Públicas

 Entidades públicas empresariais (EPE), pessoas coletivas de direito público de


natureza empresarial dotadas de autonomia administrativa, financeira e
patrimonial. Exemplo: Metropolitano de Lisboa, EPE, que se dedica a
transportar pessoas por terra

 Entidades empresariais locais, sociedades constituídas ou participadas nas


quais ou municípios e associações de municipal (EM), intermunicipal (EIM) ou
metropolitana (EMT)

Agrupamentos complementares de empresas (ACE) e agrupamentos europeus de


interesse económico (AEIE), agrupamento de pessoas singulares ou coletivas e de
sociedades para, sem prejuízo da sua personalidade jurídica, melhorarem as condições
de exercício ou de resultado das suas atividades

Cooperativas embora não qualificáveis hoje como sociedades – por não terem escopo
lucrativo nada impede que as cooperativas com objetivo comercial sejam consideradas
comerciantes (art.13º, nº1 Código Comercial)

Os que não exercem atividades mercantis, sendo que estas atividades não estão
autorizadas por lei.
Exemplo: Indústria ligada a agricultura, atividades artesanais, profissionais liberais
(médicos, engenheiros, advogados, etc.), e atividades artísticas (músicos, escritores,
pintores, etc.).
Mesmo que as atividades sejam afastadas do comércio, não significa que os sujeitos
não pratiquem outra atividade paralelamente comercial.

Por outro lado, não são comerciantes os que não se subsumem no art. 13º Código
Comercial:
 Os que praticam atos de comercio meramente formais (emissão de cheques,
letras, ...)
 Os profissionais liberais (que exercem de modo habitual e autónomo atividades
primordialmente intelectuais, suscetíveis de regulamentação e controlo
próprios, a cargo de associações públicas – “ordens”, “câmaras”
 Os trabalhadores autónomos, próximos dos profissionais liberais em nalguns
casos, dos artesãos, é o caso dos escultores, pintores, escritores, cientistas,
músicos (art. 230º, 3º Código Comercial, não há interposição nas trocas)

Os que exerçam uma atividade qualificada como não comercial (artº 230º 1 a 3 Código
Comercial).

 Atividade agrícola -> em sentido estrito e tradicional, cultivo de terra para a


obtenção de colheitas, silviculturas/madeireiros, pecuária, cultura de plantas e
criação de animais (art. 230º 1,1ºparte e nº2; art. 464º/2 e 4 Código Comercial)
 Artesãos -> produtores qualificados que, podem embora servir-se de máquinas,
utilizam predominantemente o seu trabalho manual com instrumentos,
ferramentas:
o A atividade artesanal industrial-transformadora exercida “diretamente”
pelos artesãos (oleiros, ferreiros, sapateiros, costureiras, cesteiros, etc).
o As atividades artesanais, de outro tipo (situadas sobretudo no domínio
dos serviços), quando exercidas “diretamente” pelos artesãos
(eletromecânicos, estucadores, cabeleireiros, etc.), por serem análogas
ás previstas no 230º 1 Código Comercial.

Exemplo: A sociedade comercial tem por objetivo, a promoção de espetáculos


musicais, isto significa que o administrador da sociedade comercial não pode exercer
uma atividade idêntica, mas havendo essa autorização já noa se coloca o problema.

Sujeitos não qualificáveis como comerciantes apesar de exercerem atividade


comercial

Entidades coletivas – art. 14º/1º Código Comercial

Associações não podem ser comerciantes por não terem objetos “interesses matérias”
( art. 17º Código Comercial)

Entidade de direito público como as misericórdias, asilos e instituições de beneficência


a caridade podem praticar atos de comercio, mas não podem adquirem a qualidade de
comerciantes, mas quanto a estes ficam sujeitos às disposições a eles sujeitos.
Sujeitos legalmente inibidos do exercício do comercio

De acordo com o artigo 14º do Código Comercial são:


 associações de fim desinteressado ou altruísta de beneficência
 associações de fim interessado ou egoístico, mas ideal (associações recreativas,
culturais, desportivas)
 associações de fim interessado de cariz económico não lucrativo (associações
patronais, sindicais)
 todos aqueles que a lei estabeleça não poderem ser comerciantes

Quanto aos que por lei não podem ser comerciantes:

Proibições gerais-> a atividade bancária só pode ser exercida por sociedades anonimas
autorizadas, o fabrico e venda de armas só pode ser exercido mediante autorização
prévia, por exemplo

Incompatibilidades relativas ou parciais -> proibição de concorrência, determinadas


profissões não podem exercer certo tipo de atividades comerciais (enfermeiros,
médicos, políticas ...)

Incompatibilidades absolutas e gerais -> magistrados, titulares de órgãos de soberania,


altos cargos políticos (na duração do cargo)

Exemplo: A sociedade comercial tem por objetivo, a promoção de espetáculos


musicais, isto significa que o administrador da sociedade comercial não pode exercer
uma atividade idêntica, mas havendo essa autorização já não se coloca o problema.

EXEMPLO DE CASO PRÁTICO

Imagine que dois comerciantes, num único contrato, compram 100 peças de
artesanato para revenda a dois artesãos (Ana e Bento). As peças não foram entregues
na data acordada, pretendendo os comerciantes exigir a entrega das mesmas apenas
à artesã Ana, por ser conhecida por ser mais celebre. Poderão fazê-lo?

Quanto ao artesão eles não devem ser qualificados como comerciantes, art. 230.o
paragrafo primeiro, 2.a parte e art. 464.o N.o 3 afastam o artesanato como atividade
mercantil.

Em termos da qualificação dos atos, a compra de coisa móvel para revenda é ato
mercantil objetivo, autónomo, substancial e unilateralmente comercial como está
previsto em lei mercantil nos artigos 463.o N.o 1 e 99.o. Este ato fica sujeito à
disciplina jurídico comercial (art. 99.o), mas os artesãos não são devedores solidários
quanto à entrega das peças de artesanato, considerando que a disposição do artigo
100.o que consagra a solidariedade nas obrigações comerciais apenas é aplicável
aquele ou aqueles por cujo respeito o ato é mercantil.

Não é possível efetivamente a responsabilidade solidária aplicando-se o regime regra


das obrigações civis que é o da conjunção que resulta da solidariedade excecional (art.
513.o do Código Civil). Este regime regra implica que cada um dos artesãos só terá que
entregar pelo número de peças que se obrigou a entregar.

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