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ARTIGO ORIGINAL

QUALIDADE DE VIDA E SATISFAÇÃO DE PACIENTES COM DOENÇA


RENAL CRÔNICA EM HEMODIÁLISE: estudo transversal
Quality of life and satisfaction of patients with chronic kidney disease under hemodialysis: cross-cross study
Calidad de vida y satisfacción de pacientes con enfermedad renal crónica en hemodiálisis: estudio cruzado

Thaynã Conceição Freire da Luz1 Helga Cecília Muniz de Souza Patrícia Érika de Melo Marinho
1
Universidade Federal de Pernambuco

Autor correspondente: Patrícia Érika de Melo Marinho – [email protected]

RESUMO ABSTRACT RESUMEN

Objetivo: avaliar a qualidade de vida, níveis de Objective: to evaluate the quality of life, Objetivo: evaluar la calidad de vida, satisfacción
satisfação e de atividade física de pacientes com satisfaction levels and physical activity of patients y niveles de actividad física de pacientes con
doença renal crônica (DRC) submetidos a with chronic kidney disease (CKD) undergoing enfermedad renal crónica (ERC) sometidos a
hemodiálise. Metodologia: quinze pacientes, hemodialysis. Methodology: fifteen patients hemodiálisis. Metodología: participaron del
submetidos a hemodiálise e acompanhados no undergoing hemodialysis and followed up at the estudio quince pacientes en hemodiálisis y
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Clinics Hospital at the Universidade Federal de acompañados en el Hospital de Clínicas de la
Pernambuco, participaram do estudo. Foram Pernambuco participated in the study. Universidad Federal de Pernambuco. La
coletados informações por meio de um Information was collected through a semi- información se recopiló a través de un
questionário semi-estruturado contendo dados structured questionnaire containing data on age cuestionario semiestructurado que contiene datos
sobre idade e sexo, dados clínicos (presença de and gender, clinical data (presence of de edad y sexo, datos clínicos (presencia de
comorbidades, doença de base, tempo de terapia comorbidities, underlying disease, duration of comorbilidades, enfermedad de base, duración de
dialítica, tipo de acesso e intercorrências dialysis therapy, type of access and complications la terapia de diálisis, tipo de acceso y
presentes como câimbras, enjoos e enxaquecas), e present such as cramps, nausea and migraines), complicaciones presentes como calambres,
utilizados o questionário Kidney Disease Quality and the questionnaire was used Kidney Disease náuseas y migrañas), y se utilizó el cuestionario
of Life – Short Form (KDQOL), a Patient´s Quality of Life – Short Form (KDQOL), the Riñón. Cuestionario de Calidad de Vida de la
Global Impression of Chance Scale (PGIC) e o Patient's Global Impression of Chance Scale Enfermedad – Forma Corta (KDQOL), la Escala
International Physical Activity Questionnaire (PGIC) and the International Physical Activity de Impresión Global de Azar del Paciente (PGIC)
(IPAQ), para analisar a qualidade de vida, nível Questionnaire (IPAQ), to analyze quality of life, y el Cuestionario Internacional de Actividad
de satisfação e nível de atividade física, level of satisfaction and level of physical activity, Física (IPAQ), para analizar la calidad de vida, el
respectivamente. Os dados obtidos foram respectively. The data obtained were transferred nivel de satisfacción y el nivel de actividad física,
transferidos para o programa estatístico SPSS to the statistical program and then performed the respectivamente. Los datos obtenidos fueron
(versão 20) e em seguida realizada a análise descriptive analysis of the sample. Results: lower trasladados al programa estadístico SPSS
descritiva da amostra. Resultados: foram scores were observed in the domains of 'your (versión 20) y luego se realizó el análisis
observados menores escores nos domínios da ‘sua health', 'your kidney disease' and 'effects of descriptivo de la muestra. Resultados: se
saúde’, ‘sua doença renal’ e ‘efeitos da doença kidney disease' of KDQOL. It was observed that observaron puntuaciones más bajas en los
renal’ do KDQOL. Foi observado que 46,6% dos 46.6% of the participants scored their perception dominios "su salud", "su enfermedad renal" y
participantes pontuaram sua percepção de of improvement and satisfaction with "efectos de la enfermedad renal" del KDQOL. Se
melhora e de satisfação com a hemodiálise como hemodialysis as much better, and 40% as better. observó que el 46,6% de los participantes valoró
muito melhor, e 40% como melhor. Em relação Regarding the IPAQ, most participants were mucho mejor su percepción de mejora y
ao IPAQ, a maioria dos participantes foi classified as irregularly active (46.6%). As for the satisfacción con la hemodiálisis, y el 40%, mejor.
classificada como irregularmente ativos (46,6%). PGIC, 86.6% considered themselves 'better' and En relación al IPAQ, la mayoría de los
Em relação ao PGIC, 86,6% consideraram-se 'much better'. Conclusion: although a decrease in participantes fueron clasificados como
‘melhor’ e ‘muito melhor’. Conclusão: embora quality of life was observed, and most patients irregularmente activos (46,6%). En relación al
tenha sido observada queda na qualidade de vida, presented a reduction in the level of physical PGIC, el 86,6% se considera “mejor” y “mucho
e a maior parte dos pacientes apresentaram activity, most of them considered themselves mejor”. Conclusión: aunque se observó una
redução no nível de atividade física, a maior parte satisfied with the hemodialysis program. caída en la calidad de vida y la mayoría de los
deles consideraram-se satisfeitos com o programa Keywords: Hemodialysis; Quality of life; pacientes mostraron una reducción en el nivel de
de hemodiálise. Satisfaction; Physical activity. actividad física, la mayoría se consideró
Palavras-chave: Hemodiálise; Qualidade de satisfecha con el programa de hemodiálisis
vida; Satisfação; Atividade física. Palabra Clave: Hemodiálisis; Calidad de vida;
Satisfacción; Actividad física.

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INTRODUÇÃO

O estudo de Purnell et al.¹ aponta que a terapia renal substitutiva (TRS), opção de
tratamento utilizada nos estágios terminais da doença renal crônica (DRC), pode apresentar
morbidade considerável e limitações à qualidade de vida, como diminuição na participação de
atividades sociais, recreativas e laborais. Os pacientes nos estágios mais avançados da DRC têm
grande necessidade e dificuldade de autogerenciamento e cuidados com a ingestão de líquidos,
com os aspectos nutricionais, controle de sintomas e com a prática de atividades físicas. Esses
aspectos refletem a influência da satisfação com o tratamento sobre o autocuidado e a QV, com
queda considerável desta última nos pacientes submetidos à hemodiálise.2,3
Além dos aspectos mencionados, esses pacientes apresentam baixa satisfação com o
cuidado e menor adesão à terapia medicamentosa como decorrência da associação entre a
sobrecarga do tratamento renal e os efeitos adversos clínicos.4 O sedentarismo também é
frequente nesses pacientes quando comparados a indivíduos saudáveis ou a receptores de
transplantes, apesar dos potenciais efeitos benéficos da prática de atividade física, e cujos
estudos referem melhora da capacidade funcional e na qualidade de vida.5,6
Considerando que a satisfação do paciente renal para com o tratamento é proporcional à
maior adesão aos serviços de saúde, e que essa podendo contribuir para a melhora da QV, essa
última vem sendo aceita como importante preditor para análise de resultados terapêuticos, para
verificação da mortalidade em pacientes com doenças crônicas, assim como para avaliação de
saúde da doença renal em estágio terminal.2,7
A partir do exposto, o presente estudo teve como o objetivo avaliar a qualidade de vida,
níveis de satisfação e de atividade física de pacientes com DRC submetidos a hemodiálise,
contribuindo para o aprimoramento da assistência em saúde aos pacientes desta população
específica.

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal de caráter descritivo com abordagem quantitativa,


realizado no período de abril a setembro de 2022, no setor de hemodiálise Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Pernambuco. O projeto foi desenvolvido de acordo com a resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e Ministério da Saúde, sendo aprovado pelo comitê
de ética institucional (parecer n° 5.324.533) e, obtido o consentimento informado de todos os
participantes do estudo.
Foram incluídos na amostra adultos com DRC em tratamento de hemodiálise há pelo
menos três meses, de ambos os sexos, com idades entre 25 e 60 anos (46,9 ±12,0). Foram
excluídos participantes com informações incompletas ou ausentes em prontuário clínico; que
apresentassem déficit cognitivo e/ou que apresentassem condições clínicas que dificultasse a
compreensão e resposta aos questionários; casos suspeitos ou positivos para COVID-19 em fase
latente de transmissão (Figura 1).

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Figura 1 - Fluxograma dos participantes envolvidos no estudo.

Avaliados para elegibilidade


(n=65)

Não atenderam aos critérios de inclusão


(n=35)

Elegíveis (n=30)

Excluídos:
Transplantados (n=2)
Internados (n=2)
Impossibilidade de participar (n=11)

Incluídos (n=15)

Inicialmente, foram colhidos dados como idade e sexo biológico, dados clínicos (presença
de comorbidades, doença de base, tempo de terapia dialítica, tipo de acesso e intercorrências
durante a TRS - câimbras, enjoos e enxaquecas), nível de atividade física e hábitos de vida
(questionário semiestruturado construído especificamente para esse fim) e de busca ativa nos
prontuários clínicos existentes no setor de hemodiálise.

Qualidade de Vida

Para avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde foi utilizado o Kidney Disease
Quality of Life – Short Form (KDQOL-SFTM 1.3), que constitui uma medida autorreferida para
avaliação do bem-estar de pessoas com doença renal e em diálise, associada ao SF-36, que avalia
a saúde geral (capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade,
aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental), aspectos relacionados à saúde renal, aos
efeitos da doença e questões relacionadas à satisfação. Para interpretação do questionário,
considera-se o escore final variando de 0 a 100 pontos, no qual zero corresponde à pior e 100 à
melhor qualidade de vida.8

Nível de satisfação com tratamento

Para avaliação do nível de satisfação dos pacientes, com o tratamento hemodialítico, foi
utilizado o instrumento Patient´s Global Impression of Chance Scale (PGIC), com adaptação
cultural à língua portuguesa.9 Esse instrumento contém questões direcionadas aos sintomas,
emoções, limitações de atividades e mudanças na qualidade de vida, desde o início do
tratamento. O PGIC é uma medida unidimensional na qual os indivíduos classificam a sua
melhora associada à intervenção numa escala que varia de 1 a 7, na qual “1 = sem alterações”,
“2 = Quase na mesma”, “3 = Ligeiramente melhor”, “4 = Com algumas melhorias”, “5 =
moderadamente melhor”, “6 = Melhor” e “7 = Muito melhor”.

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Nível de atividade física

Foi utilizada a versão curta do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ),


composto por sete questões abertas, relacionadas ao tempo total gasto durante a semana, pelo
indivíduo avaliado, em atividades laborais, de lazer, esportes, exercícios e em parte das
atividades domiciliares.10
Após a coleta inicial, os dados clínicos, nível de atividade física, QV e nível de satisfação
foram comparados em dois grupos independentes de acordo com sexo (masculino e feminino)
e o nível de atividade física: Grupo Ativo (muito ativo e ativo de acordo com classificação do
IPAQ) e Grupo Pouco Ativo (irregularmente ativo A e B e sedentário de acordo com a
classificação do IPAQ). Em relação aos dados referentes à satisfação, os grupos foram
divididos como Grupo Muito Satisfeito (pontuação da PGIC variando entre “5 =
moderadamente melhor”, “6 = Melhor” e “7 = Muito melhor), e Pouco Satisfeito (pontuação
variando entre 1 = sem alterações”, “2 = Quase na mesma”, “3 = Ligeiramente melhor”, “4 =
Com algumas melhorias).

Análise Estatística

Os dados foram armazenados e tabulados em planilha eletrônica de dados (Microsoft


Excel), e transpostos para o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS) para Windows (Inc., Chicago IL, USA) versão 20, para em seguida ser realizada a
análise descritiva da amostra, com os dados apresentados através de média, desvio padrão
(variáveis quantitativas) e frequência (qualitativas).

RESULTADOS ou RESULTADOS E DISCUSSÃO (escolher)

De 65 pacientes em programa de hemodiálise no setor foram incluídos 23,0% no estudo


(15 participantes). Entre as comorbidades observadas, a hipertensão arterial sistêmica foi a mais
frequente (73,3%). Também foi observada a presença de anemia falciforme, gota, lúpus
eritematoso sistêmico, linfoma de Hodgkin e síndrome mielodisplásica entre os pacientes.
‘Outras causas’ (síndrome da imunodeficiência humana, secundária a quimioterapia, secundária
a mieloma múltiplo e doença renal policística autossômica dominante) e ‘causa indeterminada’
juntas (66,6%) constituíram as principais causas da doença de base. Quanto à presença de
intercorrências, foram observados câimbra, enxaqueca e vômito como mais frequentes. Em
relação ao acesso vascular, a maior parte dos pacientes apresentaram fístula arteriovenosa. As
características sociodemográficas e clínicas da amostra são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Características sociodemográficas e clínicas da amostra total. (manter a tabela por


inteira na mesma página.
Variáveis n = 15
Média ± DP - n (%)
Idade 46,9 ±12,0
Sexo
Feminino 6 (40,0)
Masculino 9 (60,0)
Atividade Física
Sim 11 (73,3)
Não 4 (26,7)
Comorbidades
HAS 11 (73,3)
DM 1 (6,7)
Outras 3 (20,0)

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5
Intercorrências Clínicas na HD
Câimbras 7 (46,7)
Enxaquecas e vômitos 1 (6,7)
Não houve 7 (46,7)
Tipo de Acesso
FAV 12 (80,0)
Cateter de longa Permanência 2 (13,3)
Prótese 1 (6,7)
Tempo de Hemodiálise (meses) 18,0 ± 17,4
DP= Desvio padrão; DM= Diabetes Mellitus; HAS= Hipertensão Arterial Sistêmica;
HD= Hemodiálise; FAV= Fístula Arteriovenosa

Foram observados menores escores nos domínios relacionados a ‘sua saúde’, ‘sua doença
renal’ e ‘efeitos da doença renal’ (63,4±2,5; 67,3±16,4 e 55,0± 8,5 respectivamente). A maioria
foi classificada como ‘irregularmente ativos’, de acordo com o IPAQ e perceberam melhora
com a terapêutica da hemodiálise (n = 13). Os dados relacionados à QV, nível de atividade física
e de satisfação dos pacientes são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Qualidade de vida (KDQOL) e satisfação do tratamento (PGIC) dos pacientes.


Variáveis Média ± DP/ n (%)
KDQOL
Sua saúde 63,4± 2,5
Sua doença renal 67,3 ± 16,4
Efeitos da doença renal 55,0 ± 8,5
Satisfação 91,6 ± 0,0
PGIC
Sem alterações 0 (0,0)
Quase na mesma 1 (6,6)
Ligeiramente melhor 0 (0,0)
Com algumas melhorias 1 (6,6)
Moderadamente melhor 0 (0,0)
Melhor 6 (40,0)
Muito melhor 7 (46,6)
DP= Desvio padrão; KDQOL= Kidney Disease Quality of Life – Short Form; PGIC= Patient´s Global Impression
of Chance Scale

DISCUSSÃO

No presente estudo, em relação a qualidade de vida, os pacientes apresentaram menores


escores nos domínios ‘sua saúde’, ‘sua doença renal’ e ‘efeitos da doença renal’, no entanto,
mostram-se satisfeitos com o tratamento dialítico instituído e foram classificados como
irregularmente ativos.
A HAS foi identificada como comorbidade mais prevalente nos pacientes avaliados, o que
se encontra em consonância com outros estudos11,12 e, embora se tenha conhecimento de que o
exercício físico regular poderia beneficiar esses pacientes, a maior parte deles foram
considerados irregularmente ativos, podendo afetar negativamente a qualidade de vida.13
A qualidade de vida constitui um importante instrumento para avaliação de pacientes com
doenças crônicas, especialmente quando se considera que as repercussões físicas da doença
podem conduzir ao declínio no desempenho funcional.14 Se a esse ponto se adiciona o
sedentarismo ou se a atividade física é irregular, o cenário se agrava.15 Em nosso estudo, foi
observado que os pacientes já se encontravam em terapia dialítica e essa condição se associa a
um nível de atividade física abaixo do necessário para a manutenção da saúde. O estudo de
Villanego et al, avaliou o impacto de um programa de exercício físico em pacientes com DRC

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em tratamento conservador e verificaram que a prática rotineira de exercícios físicos de baixa
intensidade melhorou a capacidade aeróbia e funcional, e resultou em melhora da qualidade de
vida, com modificação significativa dos escores do KDQOL.13
Pacientes com DRC apresentam queda da qualidade de vida, principalmente naqueles em
tratamento dialítico, com destaque para as repercussões negativas sobretudo da sintomatologia
e da sua gravidade, ressaltando a importância da assistência profissional para apoio, discussão
e gerenciamento de possíveis influências a qualidade de vida associada à DRC.16
Em nosso estudo foram observados menores scores em relação a qualidade de vida, em
consonância com outros que sugerem repercussões negativas na qualidade de vida de pacientes
em tratamento de diálise, que podem estar associados a fatores diversos que limitam a
capacidade física e saúde psico-emocional.17,18
Avaliar a satisfação dos pacientes com os serviços de saúde está se tornando frequente e
necessário, sendo tornado essencial para análise da qualidade da assistência prestada, uma vez
que quanto maior a satisfação com o tratamento melhor a qualidade de vida relacionada à saúde
em pacientes em tratamento de hemodiálise.19 Pacientes em hemodiálise passam uma
quantidade considerável de horas semanais nos serviços de diálise, sendo a satisfação com os
cuidados prestados um fator importante no seu bem-estar e qualidade de vida. A literatura
evidencia a relação entre a satisfação dos pacientes em diálise com a adesão ao tratamento, ao
que parece ser provável que pacientes menos satisfeitos, são menos presentes as sessões,
consequentemente, com piores repercussões e desfechos.20
De acordo com Al Nuairi et al, a boa interação entre equipe multiprofissional e pacientes,
bem como as informações fornecidas e comunicação efetiva influenciam positivamente a
percepção de satisfação dos pacientes em tratamento de hemodiálise, assim como outros fatores
relacionados à estrutura física e localização dos serviços.21 De acordo com nossos resultados, a
maior parte dos participantes apresentou maior nível de satisfação com a terapêutica, o que pode
sugerir influência positiva na assistência prestada pela equipe do setor, bem como uma interação
satisfatória entre equipe-paciente.
Quanto ao nível de atividade física dos pacientes que participaram do estudo, a maioria
foi classificada como irregularmente ativa, caracterizando a maior tendência dos pacientes em
hemodiálise de se apresentarem sedentários e com limitações estruturais e físicas.22,23 Estudos
observaram pior qualidade de vida em vários domínios do KDQOL nos indivíduos com baixo
nível de atividade física, com melhores resultados relacionados a função física, emocional e ao
bem-estar nos participantes com estilo de vida mais ativo, sugerindo que maior nível de
atividade física pode repercutir positivamente nos escores relacionados a qualidade de vida.23,24
O número de participantes desse estudo foi reduzido e desenvolvido em apenas um centro.
Para que se possa avaliar a extensão dos resultados aqui apresentados, seria indicado analisar
outros centros de hemodiálise e maior número de pacientes em hemodiálise. Apesar dessa
limitação, os achados aqui apresentados chamam atenção para a necessidade de avaliação e de
orientação pela equipe que cuida desses pacientes, a fim de garantir o cuidado integral e
também, que considere que o sedentarismo pode se refletir negativamente sobre a satisfação do
paciente para com o tratamento, bem como, sobre a qualidade de vida dos pacientes sob
hemodiálise ao longo do tempo.

CONCLUSÃO

Embora tenha sido observada queda na qualidade de vida, a maior parte dos pacientes
apresentaram redução no nível de atividade física e consideraram-se satisfeitos com o programa
de hemodiálise. Uma vez que o presente estudo foi desenvolvido em apenas um centro,
sugerimos que outros estudos possam ser desenvolvidos com o objetivo não apenas de verificar
a ocorrência de sedentarismo, nível de satisfação com a hemodiálise e qualidade de vida, mas

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que possam destinar atenção para verificar os efeitos de programas de exercício e de educação
em saúde para esses pacientes.

REFERÊNCIAS

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Submissão: 25/04/2023
Aceite: 29/11/2023

Revista Interdisciplinar de Promoção da Saúde, Santa Cruz do Sul, 7(1), jan./mar. 2024. ISSN: 2595-3664
DOI: http://dx.doi.org/10.17058/rips.v7i1.18404

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