Material Complementar Dermatologia
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Material Complementar Dermatologia
A pele humana consiste na epiderme — epitélio estratificado de origem ectodérmica — que fica
em contato com a derme — tecido conjuntivo de origem mesenquimal. A interface entre essas
duas estruturas de origem embrionária tão distinta é a junção dermoepidérmica, irregular por
ser repleta de projeções da epiderme para dentro da derme, os chamados cones interpapilares.
Abaixo da derme existe o panículo adiposo, também chamado de hipoderme ou tecido celular
subcutâneo, rico em gordura.
1. Glabra: encontrada na região palmoplantar, não possui folículos pilosos nem glândulas
sebáceas. Sua espessura é bem maior e podemos distinguir diferentes camadas na epiderme.
Sua superfície é dotada de sulcos e cristas, levando ao extremo a formação dos
dermatóglifos, responsáveis pelas nossas impressões digitais;
● Proteção: a rigidez da pele é devido à sua espessura, à coesão estrutural entre os ceratinócitos
e à adesão da epiderme à derme. A melanina, assim como os antioxidantes, protege a pele
das radiações;
● Resposta imunológica: a resposta imune inata e adquirida atua principalmente na pele, pois a
pele é a primeira linha de defesa no sistema imunológico contra substâncias tóxicas, bactérias
e células neoplásicas recém-formadas;
EPIDERME
A coesão entre ceratinócitos é feita por pontes moleculares chamadas desmossomos. Acima da
camada basal, podemos observar esses desmossomos na membrana celular dos ceratinócitos,
semelhantes a espinhos, daí o nome dessa camada: camada espinhosa (ou camada de Malpighi).
Essa transformação dos ceratinócitos em discos aderentes cria uma barreira compacta e
impermeável conhecida como camada córnea. Com a senescência e o contínuo fluxo de células
da camada basal à superfície, esses ceratinócitos descamam para o meio ambiente.
● Melanócitos: são células de origem ectodérmica, migram da crista neural até atingirem a
camada basal da epiderme. Sua principal função é a síntese de grânulos (os melanossomas)
ricos em uma macromolécula chamada melanina cuja função é absorver a radiação UV.
Através de longos dendritos, cada melanócito “inocula” seus melanossomos num grupo de
aproximadamente 36 ceratinócitos. Esse conjunto melanócito-ceratinócitos é denominado
unidade epidermomelânica;
● Células de Merkel: são células de núcleo lobulado e citoplasma claro, nas quais são
encontrados os grânulos osmófilos, contendo neurotransmissores. Esses neurotransmissores
são liberados mediante pressão sobre a pele, dando a estas células uma função como
receptores mecânicos.
DERME
É a camada de tecido conjuntivo abaixo da epiderme. É composta por uma rede complexa de
fibras, principalmente colágeno e elastina, e preenchida com material amorfo composto por
macromoléculas retentoras de água (ex.: ácido hialurônico). É na derme onde vão se instalar o
sistema vascular e nervoso da pele, além de abrigar os anexos cutâneos. Existem na derme
células residentes, responsáveis pela síntese e destruição da matriz extracelular; são fibroblastos,
histiócitos, células dendríticas e mastócitos. Podemos também observar células sanguíneas, tais
como linfócitos, plasmócitos, eosinófilos e neutrófilos que transitam pela derme.
1. Derme papilar: mais superficial, em contato com a membrana basal, formada por fibras
colágenas mais finas e dispostas mais verticalmente, tem maior celularidade;
2. Derme reticular: mais profunda, constituída por feixes mais grossos de colágeno, ondulados
e dispostos horizontalmente;
3. Derme adventícia: é a derme que fica em torno da membrana basal de anexos e vasos,
semelhante à derme papilar.
JUNÇÃO DERMOEPIDÉRMICA
Na interface entre a epiderme (ectoderme) e derme (mesoderme) existe esta estrutura, a
membrana basal, de grande complexidade e responsável pela coesão entre essas duas camadas.
Isso tanto é verdade que muitas doenças bolhosas, ou seja, em que a coesão da pele perde-se
dando origem a bolhas, têm na sua etiologia a destruição de proteínas específicas da membrana
basal (antígenos). A superfície de contato entre a derme e a epiderme é aumentada, pois essas
camadas se interpenetram. As papilas dérmicas são projeções da derme na epiderme, a exemplo
das vilosidades intestinais; e os cones interpapilares são as projeções da epiderme na derme.
A membrana basal tem funções ainda mais nobres que a manutenção da coesão, é ela quem
orienta o crescimento dos ceratinócitos em direção à superfície, além de emitir sinais que
estimulam a atividade mitótica da camada basal e de servir como barreira à passagem de
macromoléculas e células.
● Lâmina densa e sublâmina densa: formada por colágeno tipo IV, laminina, proteoglicanas
sulfatadas e o antígeno da epidermólise bolhosa adquirida (outra doença bolhosa). É essa a
camada responsável pela barreira às macromoléculas e onde irão se ligar as fibrilas de
ancoragem que partiram dos hemidesmossomos dos ceratinócitos da camada basal. Daqui
partem novas fibrilas de ancoragem, mais grossas e longas, que se inserem na profundidade,
ligando-se às estruturas fibrilares da derme (fibras colágenas e elásticas, etc.) ou que formam
alças que retornam à membrana basal.
Fig. 2: Hemidesmossomo.
FIBROBLASTOS
São células fusiformes responsáveis pela síntese e degradação do colágeno e da matriz
extracelular.
MASTÓCITOS
São células que apresentam grânulos metacromáticos (têm cor diferente da do corante) pela
coloração Giemsa, ricos em mucopolissacarídeos ácidos. Também possuem atividade
fagocitária. São encontrados em torno dos anexos e vasos do plexo superior. Há dois tipos de
grânulos no citoplasma do mastócito:
INERVAÇÃO DA DERME
As sensações de tato e pressão são captadas por estruturas especializadas da derme, os
corpúsculos de Meissner e Vater-Pacini. A sensação de dor, prurido e temperatura são captadas
por fibras nervosas amielínicas com terminações nervosas livres na derme papilar. A sensação
causada varia com a intensidade do estímulo: uma inflamação leve da pele pode causar
prurido, mas se for uma inflamação muito intensa, a sensação transmitida será a de dor.
Atualmente, sabe-se que as fibras responsáveis pela transmissão de dor e prurido são distintas,
mas podem influenciar-se mutuamente, isso tanto é verdade que a sensação de dor interfere
com um prurido previamente existente na mesma área afetada.
VASCULARIZAÇÃO DA DERME
É composta por arteríolas, capilares arteriais e venosos e vênulas, distribuídos em duas redes
horizontais (plexos vasculares inferior e superior) ligadas por vasos comunicantes.
O plexo vascular inferior é formado por vasos perfurantes advindos do músculo subjacente. A
malha vascular se estende pelo plano entre a derme e a hipoderme. Do plexo inferior partem,
então, os vasos comunicantes, que ascendem até o plano entre a derme papilar e a derme
reticular e, ao longo desse plano, formam uma segunda malha vascular, o plexo vascular
superior. Do plexo vascular superior ainda partem os capilares das papilas dérmicas. Para a
termorregulação, existem estruturas contráteis mioepiteliais localizadas em shunts arteríolo-
venulares, essas estruturas são os glômus.
FIBRAS ELÁSTICAS
São fibras coradas pela orceína e formam uma rede por toda a extensão da derme, envolvendo
vasos e anexos também. Essa rede é um sistema que confere elasticidade à pele, ou seja, a
capacidade da pele retornar ao estado original após ter cessado uma força deformante. Esse
sistema é composto por três tipos de fibra elástica:
OS ANEXOS CUTÂNEOS
A estrutura pilossebácea é o principal anexo cutâneo. Ela é composta pelo folículo piloso,
glândula sebácea, glândula sudorípara apócrina e músculo piloeretor.
FOLÍCULO PILOSO
Os folículos pilosos são formados todos na vida embrionária a partir de projeções epidérmicas
em forma de clava. Um neonato tem aproximadamente cinco milhões de folículos, e não
nascerão mais folículos por toda a sua vida. Os folículos podem alterar bastante seu aspecto
sob a influência de hormônios androgênios. As células centrais da projeção em clava, situadas
bem próximo à hipoderme, dão origem às células do bulbo piloso, de onde derivam a haste do
folículo e as estruturas adjacentes.
O folículo maduro é composto de uma haste pilosa, duas bainhas (as bainhas foliculares
interna e externa) e um bulbo germinativo. O folículo piloso é dividido em três segmentos:
2. Istmo: compreende o segmento entre a inserção do ducto da glândula sebácea até a inserção
do músculo piloeretor;
3. Segmento inferior: esse segmento só existe durante a fase de crescimento do pelo (anágena) e
vai da inserção do músculo piloeretor até a base do bulbo.
As células da matriz do bulbo piloso passam por mitoses em ritmo acelerado, migram através
do canal folicular, sofrendo compactação e desidratação, e formam a haste pilosa que nada
mais é do que uma densa formação de células ceratinizadas recobertas por uma fina cutícula.
A haste em crescimento é envolvida pelas várias camadas concêntricas do canal folicular. A
camada mais externa, rica em glicogênio, é a bainha externa do folículo. Essa bainha está em
repouso e é contínua com a epiderme. A bainha folicular interna é composta pela camada de
Henle, camada de Huxley e cutícula, e pode ser vista como uma membrana gelatinosa
envolvendo a haste quando um pelo é arrancado. Ela protege e molda a haste em crescimento,
mas se desfaz antes de atingir a inserção do ducto da glândula sebácea (o infundíbulo).
A haste pilosa, formada e emergente à pele, é dividida em três camadas concêntricas: cutícula
(externa), córtex e medula (interna). A cutícula protege e mantém o córtex íntegro; ela costuma
ser lesada pela escovação e por produtos cosméticos, gerando fios de pontas duplas. O
diâmetro da haste depende da síntese e do acúmulo de proteínas no córtex enquanto ainda na
base do folículo piloso. Várias doenças sistêmicas podem alterar esse metabolismo resultando
em pelos de diâmetro fino. A cor do pelo depende de melanossomos depositados nas células do
córtex e da medula próximos à matriz do bulbo piloso.
1. Pelos terminais: espessos e pigmentados. São encontrados no couro cabeludo, barba, axilas,
região genital e sofrem influência dos hormônios androgênios;
3. Pelo velus: finos e sem pigmento, são encontrados no adulto e cobrem a maior parte do
corpo. Não é afetado pela ação dos androgênios.
■ GLÂNDULA SEBÁCEA
São glândulas exócrinas que possuem um ducto e uma porção acinar. O ducto desemboca no
folículo piloso entre o infundíbulo e o istmo. Sua porção acinar é composta por células
espumosas holócrinas (que descamam por inteiro liberando sua secreção, o sebo). Tem a
mesma origem embriológica do folículo piloso. O sebo é constituído por esqualeno, colesterol,
ésteres do colesterol, ésteres graxos e triglicerídios. Sua atividade é máxima durante a
puberdade, pois a sua regulação é feita inteiramente por hormônios androgênios. Podem
desembocar diretamente na superfície da pele. Na mucosa oral, são vistas como grânulos de
Fordyce.
A termorregulação obedece a um set-point hipotalâmico, que por sua vez emite impulsos às
glândulas através de terminações simpáticas colinérgicas (e não noradrenérgica como ocorre
com o resto do sistema simpático no organismo). A composição do suor se assemelha um
pouco à da urina: ureia, amônia, lactato, aminoácidos, cloreto de sódio, potássio, bicarbonato,
etc. É um filtrado hipotônico em relação ao plasma.
■ APARELHO UNGUEAL
Esses anexos consistem em placas laminares de ceratina protegendo o dorso das falanges
distais. Seu crescimento é lento (0,5–1 mm por semana) e distal, surgido a partir da matriz
ungueal proximal. É composto de lúnula, eponíquio, lâmina ungueal, leito ungueal e
hiponíquio.
Fig. 3: O aparelho pilossebáceo.
Por definição, trata-se de uma apresentação morfológica “diferente da pele normal, induzida
por causas físicas, químicas, animadas ou psíquicas”. Pode ser classificada em:
A. Modificação da cor;
B. Formações sólidas;
D. Alteração da espessura;
F. Lesões caducas;
G. Sequelas.
MANCHAS VASCULOSSANGUÍNEAS
ERITEMA
Divide-se em transitório e permanente.
TRANSITÓRIO
● Rubor.
● Figurado: são os eritemas desenhados. Podem ter aspectos característicos como no eritema
crônico migratório da doença de Lyme. Eritema giratum repens, paraneoplasia associada à
neoplasia pulmonar. Eritema marginatum, observado na febre reumática.
PERMANENTE
● Mancha angiomatosa (Figura 4): aumento do número de capilares. Com o acometimento da
região de inervação do nervo trigêmeo (ramo oftálmico), devemos lembrar da associação
com a síndrome de Sturge-Weber;
● Telangiectasia: dilatação permanente do calibre de pequenos vasos (Figura 5). Pode ser
manifestação da insuficiência hepática na forma adquirida. Quando acomete mucosa labial e
as extremidades, pode indicar um possível quadro de telangiectasia hemorrágica hereditária
(doença de Rendu-Osler-Weber), complica-se com hipertensão pulmonar e sangramento do
trato gastrointestinal.
Fig. 4: Angioma: lesão plana eritematovinhosa, classificado como tumor vascular (proliferação vascular, e não
um erro na morfogênese), localizado na face.
Fig. 5: Telangiectasia: múltiplas lesões telangiectásicas na face.
PÚRPURA
Nestes casos há extravasamento de hemácias e não desaparece a vitropressão.
● Petéquia: lesões puntiformes. Quando ganham volume (púrpuras palpáveis), podem ser
encontradas nas vasculites.
● Hematoma.
Fig. 6: Equimose: lesão equimótica localizada no primeiro pododáctilo devido a um trauma local.
FORMAÇÕES SÓLIDAS
PÁPULA
Elevação circunscrita palpável menor que 0,5 cm (Figura 7).
Fig. 7: Pápula: lesão acastanhada no tronco anterior. Exemplo: ceratose seborreica.
PLACA
Lesão em forma de disco, por extensão ou coalescência de pápulas ou nódulos. Superfície em
platô (Figura 8).
NÓDULO
Lesão mais palpável que visível, maior que 1 cm (Figura 10).
Fig. 10: Nódulo: lesão mais palpável do que visível. Exemplo: eritema nodoso.
TUMORAÇÃO
Lesão maior que 3 cm. Pode estar relacionada com doença de depósito, como no tofo gotoso (
Figura 11).
Fig. 11: Tumoração no dorso de uma paciente jovem. Exemplo: lipoma.
GOMA
Nódulo que sofre evolução em quatro fases (Figura 12):
3. Esvaziamento (fistulização-úlcera);
VEGETAÇÃO
Crescimento exofítico pela hipertrofia das papilas dérmicas. Podem ser de dois tipos: verrucosa
e condilomatosa (Figuras 13 e 14).
Fig. 13: Verrucosa: seca (epiderme íntegra). Exemplo: verruga vulgar.
● Paracoccidioidomicose;
● Leishmaniose;
● Esporotricose;
● Cromomicose;
● Carcinoma espinocelular;
● Tuberculose.
VESÍCULA
Conteúdo claro com menos de 0,5 cm (alguns autores consideram < 1 cm) e intraepidérmica.
Múltiplas vesículas agrupadas em base eritematosa, características da infecção herpética (
Figura 15).
BOLHA
Em abóbada e com mais de 0,5 cm (Figura 16).
Fig. 16: Bolha tensa e brilhante. Aspecto mais frequente nas buloses com clivagem subepidérmica como no
penfigoide bolhoso. Nos pênfigos, as bolhas são flácidas e mais efêmeras.
PÚSTULA
Lesão de conteúdo purulento até 1 cm (Figura 17). Podem ser sépticas ou assépticas, como na
psoríase pustulosa. Foliculares (foliculite) ou interfoliculares (impetigo).
Fig. 17: Acúmulo de conteúdo líquido purulento. Exemplo: acne.
ABSCESSO
Coleção purulenta, proeminente e circunscrita, tamanho variável, flutuante, dermo-
hipodérmica ou subcutânea, com rubor, dor e calor (quente) ou não (frio) — Figura 18.
Fig. 18: Lesão eritematosa, flutuante, purulenta, localizada na região cervical. Exemplo: abscesso.
ALTERAÇÃO DA ESPESSURA
CERATOSE
Espessamento da epiderme por aumento da camada córnea (Figura 19).
Fig. 19: Aumento da camada córnea, frequentemente observado nas ceratodermias.
LIQUENIFICAÇÃO
Aumento dos sulcos e saliências por atrito (Figura 20).
Fig. 20: Local frequente desta lesão elementar pelo ato da coçadura.
INFILTRAÇÃO
Espessamento difuso por infiltrado inflamatório, tumoral, infeccioso ou por doenças de
depósito. Relevante a infiltração de áreas frias como pavilhão auricular na hanseníase.
ESCLEROSE
Endurecimento da pele por proliferação do tecido colágeno ou do subcutâneo, tornando o
pregueamento difícil (Figura 21).
Fig. 21: À primeira vista, pensamos em mancha ou mácula, mas como na dermatologia devemos sempre palpar
a lesão, notamos uma dificuldade de pregueamento da pele. Exemplo: esclerodermia.
ATROFIA
Diminuição da espessura. Pode ser superficial (apergaminhada) ou profunda.
ESCORIAÇÃO
Lesão superficial linear traumática.
EROSÃO
Acomete apenas a epiderme.
EXULCERAÇÃO
Até derme papilar.
ULCERAÇÃO OU ÚLCERA
Acomete toda derme e/ou hipoderme (Figura 22).
FISSURA
Linear e estreita (Figura 23).
Fig. 23: Ceratose plantar e fissura. Pode ser observada em pacientes com hipotiroidismo e no climatério.
FÍSTULA
Trajeto linear sinuoso e profundo com eliminação de substâncias (Figura 24).
Fig. 24: Uma das causas mais frequentes de fístulas cutâneas: hidrosadenite. Pertuitos intercomunicantes com
drenagem de pus.
LESÕES CADUCAS
ESCAMA
Lâminas epidérmicas secas pelo exagero de ceratina normal ou defeituosa. Podem ser:
● Laminares.
CROSTA
Ressecamento de exsudato. Pode ser:
● Serosa;
● Hemática.
ÚLCERA DE DECÚBITO
Úlcera secundária à necrose.
SEQUELAS
CICATRIZ
Reparação conjuntiva e epitelial da pele traumatizada. Pode ser:
[VIDEO 17]
Neste capítulo, selecionamos algumas condições que não podem ser encaixadas
especificamente nos grupos anteriores, mas que merecem ser comentadas na nossa apostila. A
Dermatologia é uma área de conhecimento médico bem ampla e algumas dessas condições
podem aparecer na prova. Confiram!!!
ACNE VULGAR
A acne é uma doença dos folículos pilossebáceos. Como você pode observar na Figura 1, este
folículo é uma espécie de invaginação da pele que alberga a haste do pelo, firmemente aderida a
uma bainha de epiderme e à matriz do pelo, onde se encontram as células da matriz, na região
do bulbo capilar. Observe ainda que a glândula sebácea desemboca no folículo piloso e que a
porção entre a epiderme e o ponto de drenagem desta glândula é denominado infundíbulo. A
região do folículo abaixo deste ponto e até a inserção do músculo eretor do pelo é denominada
istmo.
O que é a acne?
A lesão básica da acne, o comedão ou comedo, é uma elevação da pele perifolicular devido a
um acúmulo de sebo e queratinócitos no istmo do folículo piloso, devido ao bloqueio do
infundíbulo e ao aumento da atividade da glândula sebácea. A formação do comedão dá início
a um processo inflamatório, que pode ser leve, moderado ou grave, eventualmente deixando
áreas de cicatriz após resolução espontânea. As lesões da acne localizam-se nas áreas da pele
seborreica, que possuem glândulas sebáceas proeminentes, como a face, o tórax superior e a
porção proximal dos braços. Estas glândulas se desenvolvem na puberdade, justificando a
ocorrência predominante da acne em adolescentes e adultos jovens.
PATOLOGIA E PATOGÊNESE
Acompanhe a Figura 2... O evento inicial é a hiperqueratose folicular no infundíbulo, de causa
desconhecida. Há um aumento da proliferação dos queratinócitos, que se desprendem e
formam uma rolha infundibular composta por células queratinizadas e sebo, denominada
microcomedo, que só pode ser visto em cortes histológicos. Esta lesão já pode ser vista em
crianças pré-puberais.
Fig. 2
A acne por cosméticos é a forma mais comum de acne induzida, ocorrendo quase
exclusivamente em mulheres pós-adolescência, entre 20–50 anos. Numerosas substâncias
cosméticas para a face são comedogênicas (cerca de 50% dos cremes faciais podem causar
acne!). Alguns sabões, em uso excessivo, podem causar acne, como o de hexaclorofeno.
Medicamentos tópicos são acnogênicos pela presença das substâncias veiculares (lanolina,
vaselina) e corticoides. A sudorese excessiva (acne estival ou “acne de Majorca”), em
associação com cremes fotoprotetores, é causa de acne ao gerar edema do óstio folicular. A
oclusão folicular também pode justificar a acne mecânica. Das drogas sistêmicas causadoras de
acne, destacam-se os corticosteroides.
QUADRO CLÍNICO
A acne é uma afecção dos adolescentes (10–19 anos), com as lesões surgindo com os primeiros
sinais da puberdade em quase todos os jovens. Segundo alguns autores, a acne do adolescente é
mais comum em meninos. A acne pós-adolescência é observada em cerca de 10% da
população, entre 20–55 anos, sendo bem mais comum em mulheres (3:1) e tendo forte
predisposição genética ou associação com síndromes androgenizantes (ex.: ovários
policísticos).
Como vimos, as lesões da acne ocorrem nas áreas de pele seborreica: qualquer porção da face,
pescoço, tórax superior, ombro, porção proximal do braço (área tricipital). As lesões são
polimorfas e dependem da gravidade do quadro. Podem ser comedões (lesão característica),
fechados ou abertos; pápulas inflamatórias, pústulas, nódulos, eventualmente abscessos
superficiais. A história natural mais comum da acne é a involução das lesões após a
adolescência, porém deixando sequelas cicatriciais nas formas mais graves que não foram
tratadas adequadamente... A acne é classificada de acordo com a gravidade em graus I, II, III,
IV e V.
Acne grau I (acne não inflamatória): também chamada acne comedônica, caracteriza-se pela
presença de comedões como lesão proeminente (Figura 8A). É a forma mais comum de acne. O
comedão fechado (cravo branco) é uma pequena lesão elevada, da cor da pele ou levemente
clareada, semelhante à miliária, sendo mais bem identificada quando a pele é distendida. Pela
espremedura, após perfurar-se a lesão com uma agulha desinfectada, sai uma massa
esbranquiçada. O comedão aberto (cravo preto — Figura 8B) possui um ponto escurecido em
sua superfície. Pela luz de Wood, encontra-se tonalidade vinho, devido à produção de porfirina
pelo C. acnes.
Fig. 8: Acne grau I (comedônica).
Acne grau II (papulopustulosa): caracteriza-se pela presença, além dos comedões, de múltiplas
pápulas inflamatórias e pústulas (Figura 9A e 9B), com acometimento basicamente facial. A
seborreia (aumento do sebo cutâneo) está presente.
Fig. 9: Acne grau II (papulopustulosa).
Acne grau III (nódulo-cística): também chamada de acne nódulo-abscedante, sendo igual à acne
grau II (acne papulopustulosa), mas com o acréscimo de nódulos furunculoides (Figura 10) que
pela drenagem eliminam substância purulenta e são inapropriadamente referidos como
“cistos”. Pode acometer basicamente a face ou estender-se para tronco e região proximal dos
braços.
Acne grau IV (acne conglobata): uma forma grave de acne em que predominam os nódulos
purulentos que confluem, determinando abscessos fistulizantes, bridas e lesões queloideanas (
Figura 11A e Figura 11B). Predomina em homens.
Fig. 11: Acne grau IV (conglobata).
Acne grau V (acne fulminans): uma forma bastante grave, mas bem rara em nosso meio,
caracterizando-se pela associação de acne grau III ou IV com lesões eritematoulceradas, cuja
biópsia revela vasculite, além de febre, leucocitose e poliartralgia.
Como vimos, a evolução das formas mais graves de acne (graus III e IV), na ausência de
tratamento, é para a formação de cicatrizes indeléveis do tipo múltiplas pequenas depressões,
especialmente na face (Figura 12). Manchas residuais (melanodermia) podem ocorrer,
principalmente nos indivíduos de pele escura.
Fig. 12: Cicatriz de acne.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é clínico e geralmente não oferece dificuldade. A localização característica (face,
tórax superior, etc.) e a apresentação polimorfa (comedões, pápulas, pústulas, nódulos) são
suficientes na maioria dos casos. É importante identificar se o paciente apresenta alguma
doença ou condição associada à acne, como síndromes virilizantes, Cushing, ovários
policísticos, drogas, agentes químicos, contactantes (ex.: cosméticos, etc.). A rosácea pode ser
confundida com a acne, porém diferencia-se pela ausência de comedões, presença de
telangiectasia e faixa etária.
TRATAMENTO
O tratamento da acne sofreu grandes mudanças nos últimos anos, com o melhor conhecimento
de sua patogênese e fisiopatologia e pelo surgimento de novas drogas. Antigamente, a acne era
tratada apenas com tópicos exfoliantes, como ácido salicílico, resorcina e enxofre. Atualmente,
os tópicos antiacne são diferentes e mais eficazes, e a terapia sistêmica trouxe grande avanço no
controle das formas graves.
Acne grau I: a terapia tópica é suficiente. A melhora costuma ocorrer dentro de quatro semanas.
O uso de sabonetes a base de enxofre e ácido salicílico ou os que contém triclosano são os mais
utilizados. A preferência, dos tópicos, é pelos retinoides tópicos, como a tretinoína 0,05% gel, a
isotretinoína 0,05% gel, e o adapaleno 0,1 ou 0,3%, aplicados à noite, uma fina camada, após
limpeza da pele, e retirados pela manhã. A exposição solar deve ser evitada, pois os retinoides
deixam a pele altamente sensível à fotoexposição. Para os pacientes que não podem ou não
querem evitar a exposição solar, o ácido azelaico 15% gel pode ser indicado, aplicado 1–2x/dia.
Um tópico tradicional, o ácido salicílico 0,5–2%, seria uma droga de terceira linha, mas ainda
eficaz em muitos casos. A extração manual dos comedões só é necessária nos poucos casos de
refratariedade, como adjuvante aos tópicos antiacne. Deve ser feita com o auxílio de um
extrator de comedão, após desinfecção local (para evitar o risco de infecção bacteriana
secundária).
Acne grau II: como no grau I, a terapia tópica é suficiente na maioria dos pacientes. A melhora
costuma ocorrer dentro dos primeiros três meses, embora a terapia deva ser mantida
indefinidamente durante o período acnogênico. Como se trata de acne inflamatória, são
fundamentais drogas com ação anti-C. acnes. O peróxido de benzoíla 2,5–10%, geralmente é
feito junto a antibióticos tópicos, tais como a eritromicina 2–4% e a clindamicina 1%, que
podem ser encontrados combinados. O peróxido de benzoíla tem ação comedolítica e
antimicrobiana. Se utilizado durante o período da manhã, é proscrito qualquer tipo de
exposição solar. Uma outra medida é a associação dos antimicrobianos tópicos pela manhã
(peróxido de benzoíla ± eritromicina ou clindamicina) com os derivados retinoicos (tretinoína,
isotretinoína ou adapaleno) à noite. Nos casos refratários ou extensos, podemos associar à
terapia tópica, um antibiótico sistêmico. Alguns antibióticos possuem além da propriedade
antimicrobiana, um efeito anti-inflamatório na acne. A primeira escolha é a tetraciclina 500 mg
2–4x/dia, tendo como opções alternativas: doxiciclina 100 mg 1x/dia, minociclina 100 mg
1x/dia, sulfametoxazol + trimetoprima 400/80 mg 2x/dia, eritromicina 250–500 mg 2x/dia e
azitromicina 500 mg/dia (esquema de pulsoterapia).
Tratamento acne grau III, IV, V = terapia sistêmica + tópica do grau II. Opções: (1)
isotretinoína oral (contraindicado em gestantes, mulheres com risco de engravidar,
hepatopatas, nefropatas); (2) antibióticos sistêmicos por período prolongado; e (3)
antibióticos sistêmicos + anticoncepcionais (em mulheres). Prednisona nos casos
muito inflamatórios e no grau V.
Devemos frisar que os casos de acne relacionados a endocrinopatias, como a síndrome dos
ovários policísticos, não respondem muito bem à isotretinoína. Estes tipos de acne merecem
terapia específica do distúrbio hormonal. As erupções acneiformes por cosméticos,
medicamentos, etc. devem ser tratadas com a suspensão do agente causador!
O uso de corticoide tópico fluorado na face por tempo prolongado pode induzir um quadro
rosácea-símile.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A rosácea acomete predominantemente mulheres de pele branca entre 30–60 anos. Acomete
basicamente a face, envolvendo a face central (nariz, região malar, mento, fronte) e o pescoço.
Pode ser confundida com o rash malar do lúpus eritematoso sistêmico. Na fase inicial da
doença (fase pré-rosácea), há eritema discreto da face central, que se agrava com surtos
(flushing) de intensidade variável, surgindo espontaneamente ou desencadeado por fatores do
tipo exposição solar, calor, frio, vento, ingestão alcoólica e alimentos quentes. As lesões da
rosácea são eritema, telangiectasias, pápulas e pústulas. As telangiectasias são um achado
característico, servindo como importante critério diagnóstico. Podemos distinguir quatro
formas clínicas...
Rosácea grau IV (rosácea fulminans): quadro agudo, com reação inflamatória intensa, nódulos
e abscessos. Antigamente chamada de pioderma facial.
A rosácea pode se associar a comprometimento ocular em até 50% dos casos (rosácea ocular).
Pode ocorrer blefarite, conjuntivite, episclerite, ceratite e uveíte. Não há relação entre a
gravidade da rosácea cutânea e a ocular...
DIAGNÓSTICO
Geralmente é clínico. Na dúvida, pode-se indicar a biópsia. Esta revela capilares dilatados na
derme com infiltrado linfo-histiocitário perivascular. Na forma papulopustulosa, há infiltrado
neutrofílico perifolicular e na forma infiltrativa, aumento das glândulas sebáceas e infiltrado
inflamatório crônico. Em 10% dos casos, encontra-se granuloma.
TRATAMENTO
O paciente deve evitar todos os fatores desencadeantes possíveis. Dependendo da literatura e
do grau da rosácea, pode-se tratá-la com medicação tópica, sistêmica ou tópica + sistêmica.
Entre os produtos tópicos, destacam-se os antimicrobianos em creme. As principais opções
são: metronidazol 0,75–1%, ácido azelaico 20%, peróxido de benzoíla 2,5–10%. A tretinoína
0,05–1% é uma segunda opção para o tratamento tópico. Para a terapia sistêmica, a droga de
escolha é a tetraciclina, começando-se com a dose 500 mg, 2x/dia, por 3–6 semanas, seguindo-
se 500 mg/dia por 6–12 semanas. O uso de ivermectina tópico em creme a 1%, uma vez ao dia, é
também muito difundido (efeito antiparasitário, mediando a demodecidose). Outras
alternativas são: minociclina 100 mg/dia e eritromicina 250 mg 2x/dia. O tratamento sistêmico
deve ser mantido por um mínimo de 6 semanas, fazendo-se a manutenção com os tópicos. Para
erradicar as telangiectasias, prefere-se a terapia com laser.
RINOFIMA
O rinofima é, segundo alguns autores, uma variante da rosácea, caracterizada pelo
intumescimento progressivo do nariz devido à hiperplasia progressiva das glândulas sebáceas e
tecido conjuntivo, associado a alterações vasculares. É uma desordem exclusiva de homens com
mais de 40 anos de idade.
Tumores Malformações
Granuloma piogênico
Entre os tumores, o destaque fica para o hemangioma da infância — uma lesão vascular
benigna caracterizada por processo proliferativo do endotélio vascular. Ao nascimento,
podemos ter em até 40% dos casos uma lesão precursora (mancha anêmica, pápula eritematosa
ou telangiectasia). A lesão também pode aparecer nas primeiras semanas de vida. Elas crescem
rapidamente nos primeiros três meses e mais lentamente até os oito ou dez meses, e apresentam
fase de involução lenta, demorando alguns anos, sendo substituída por tecido fibroadiposo.
Até os nove anos de idade, a involução se dará em 90% dos casos. Podem ser classificados em:
superficial (mais comum), profundo e misto.
Como normalmente é uma condição benigna e autolimitada, a maioria dos pacientes será
abordada de forma expectante, e os pais devem ser devidamente orientados. No entanto, 20–
40% dos pacientes podem apresentar alguma complicação relacionada à localização, ulceração
ou mesmo ao crescimento rápido, levando ao prejuízo estético e/ou funcional. A principal
indicação de tratamento se dá para o hemangioma periorbital, genital/anal, ponta do nariz,
labial e segmentar extenso. Não dispomos, até o momento, de um protocolo padronizado para
o tratamento dos hemangiomas e a terapia sistêmica inclui, sobretudo, o uso de propranolol e
corticoides. A ulceração deve ser abordada com analgesia, limpeza local com soro e
substâncias tópicas, como a sulfadiazina de prata a 1%. Curativos hidrocoloides podem ser
úteis, principalmente se não houver infecção secundária.
Quanto às malformações vasculares, devemos atentar para as capilares, caracterizadas por
manchas eritematosas ou vinhosas (manchas cor vinho do Porto ou nevus flammeus) presentes
ao nascimento, que normalmente não desaparecem espontaneamente. O tratamento pode ser
feito com laser, sendo comum a necessidade de múltiplas sessões.
PELAGRA
Dermatose ocasionada pela deficiência de vitamina B3 (niacina). Trata-se de uma doença
tipicamente de pacientes desnutridos, em que se incluem os alcoólatras e ex-obesos submetidos
à cirurgia bariátrica. Na clínica, vamos marcá-la sempre pela doença dos 3Ds: Dermatite,
Demência e Diarreia. A lesão cutânea é um rash hiperpigmentado simétrico, que ocorre em
áreas de exposição solar.
DERMATOSES NEUTROFÍLICAS
Constitui um grupo de doenças que apresentam infiltrado de neutrófilos na derme e/ou
epiderme, de origem não infecciosa. A Síndrome de Sweet, ou dermatose neutrofílica febril, é
mais comum em pacientes entre 30 e 50 anos e é o protótipo deste grupo. Ela pode ser
idiopática (até 50% dos casos), associada à malignidade (lembrar doenças hematológicas como o
mieloma múltiplo!) ou induzida por drogas. Uma de suas características é a rápida resposta aos
glicocorticoides.