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UFPE | CAA, Licenciatura em Química, JQI, Caruaru ANO VI, nº 02

Nesta Edição

• Editorial: Em tempos de COVID-


19.
• Seção entrevista: Professor Valdir
de Queiroz Balbino (UFPE).
• As dimensões macroscópica e
microscópica da Ciência.
• Poesia em tempos de COVID-19:
“O sabão” de Monteiro Lobato.
• A profilaxia do sabão.
• Cartoon: Em tempo de Covid-19

EM TEMPOS DE COVID-19

No entanto, cerca de 15% dos casos são


Editorial infeções graves que necessitam de oxigênio
enquanto 5% são infeções muito graves que
necessitam de ventilação. Estes casos de maior
Nesta Edição temática “EM gravidade podem evoluir para pneumonia com
TEMPOS DE COVID-19” o JQI insuficiência respiratória grave, falência de
apresenta uma discussão sobre a pandemia vários órgãos e morte.
COVID-19, destacando os mecanismos de Figura 1: Estrutura do coronavírus.
transmissão viral e a profilaxia com sabão, de
baixo custo e amplamente acessível à
população, além da tecnologia e dos estudos
científicos no combate a esta pandemia.
COVID-19 (do inglês Coronavirus
Disease 2019) é uma doença infeciosa causada
pelo coronavírus da síndrome respiratória
aguda grave 2 (SARS-CoV-2), cuja estrutura
viral está apresentada na Figura 1 com
destaque para as proteínas da superfície viral
(espigão, envelope e membrana) que
constituem uma bicamada lipídica (gordurosa)
derivada da célula hospedeira. Os sintomas
mais comuns são febre, tosse e dificuldade em
respirar. Cerca de 80% dos casos confirmados
são ligeiros ou assintomáticos com a maioria
dos pacientes de recuperando sem sequelas. Fonte: Adaptado de https://www.researchgate.net/figure/
Pg. 02 Em tempos de COVID-19

Os coronavírus são uma grande família de vírus que podem causar doenças em animais e
humanos. Em humanos, provocam infeções respiratórias que variam desde um resfriado comum
até doenças graves, tais como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS, do inglês
“Middle East Respiratory Syndrome”) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, do
inglês “Severe Acute Respiratory Syndrome”). O novo coronavírus, descoberto recentemente
(2019-nCoV) é o agente viral transmissor da COVID-19.
No final de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi informada sobre um surto
de pneumonia com etiologia* desconhecida em Wuhan, na China. Tendo ligações ao Mercado
Atacadista de Frutos do Mar, que também vendia animais vivos, sugerindo a transmissão de
animal para humano, mas, a transmissão de humano para humano foi logo confirmada. O
patógeno foi prontamente identificado como um novo coronavírus pertencente aos
betacoronavírus da linhagem B, que também inclui o coronavírus da síndrome respiratória
aguda grave (SARS-CoV), causador de uma pandemia na China em 2002/2003 (JIANG; XIA;
YING et al., 2020). Os dados estatísticos apontados por estes autores estão resumidos no
Quadro 1 a seguir, com tradução JQI:
* Etiologia (https://www.dicio.com.br/): Ramo do conhecimento que se dedica ao estudo e à pesquisa acerca
daquilo que pode determinar as causas e origens de um certo fenômeno (ou de qualquer coisa).

Quadro 1: Dados estatísticos apontados por Jiang; Xia; Ying et al. (2020) sobre surtos infecciosos no mundo.

➢ O surto de infecção por coronavírus da síndrome respiratória no Oriente Médio


(MERS) a partir da Arábia Saudita resultou, desde 2012, num total de 2494 casos
confirmados com 858 mortes em 27 países, representando uma ameaça contínua à
saúde pública global (https://www.who.int/emergencies/mers-cov/en/).
➢ Em 1 de fevereiro de 2020, havia 12.024 casos confirmados de pneumonia em
Wuhan e 259 mortes, dos quais 11.860 foram encontrados na China continental e
164 em 26 outros países e territórios. A taxa estimada de fatalidade de casos é
cerca de 2%, muito mais baixa que a do SARS (cerca de 9,6%), enquanto a taxa
de transmissão é cerca de 2 a 3% (https://www.worldometers.info/coronavirus),
similar ao da SARS (3%).
➢ Da mesma forma que os indivíduos infectados com SARS-CoV, os pacientes
infectados com o novo coronavírus apresentaram anormalidade na tomografia
computadorizada de tórax, além de sintomas comuns tais como: febre, tosse,
mialgia ou fadiga no início da doença.
➢ Todas as indicações sugerem, até o momento, que síndrome respiratória aguda
grave (SARS), doença respiratória viral de origem zoonótica causada pelo
coronavírus SARS, é uma doença muito mais grave do que a manifestada pelo
atual surto de pneumonia.

Ainda segundo estes autores, o novo coronavírus foi designado "2019-nCoV" pela
OMS (https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019) enquanto que a
pneumonia Wuhan foi nomeada, por cientistas chineses, como "nova pneumonia infectada
por coronavírus (NCIP)". Estes pesquisadores propõe renomear a pneumonia NCIP como
“síndrome respiratória associada à pneumonia (PARS)” e 2019-nCoV como “coronavírus
PARS (PARS-CoV)”, semelhante ao SARS-CoV para manter a terminologia equivalente.
Pg. 03 Em tempos de COVID-19

Neste contexto da saúde pública mundial a Equipe Editorial do JQI está


divulgando a campanha educacional da Associação de Aposentados, Funcionários e
Pensionistas do Banco do Brasil – AAPBB, com informações relevantes e de interesse social,
no formato de ilustrações, que irão orientar a sociedade, através da informação, na prevenção
da Covid-19. Ressalta-se a originalidade das ilustrações que permitem uma comunicação
direta e educacional com a população sobre as ações preventivas à pandemia. Todos os
nossos leitores podem colaborar repassando estas informações nas suas redes sociais e
escolas, mercados, postos de saúde, meios de transporte e comunidades no seu
município. Fonte das imagens originais: https://aapbb.org.br/coronavirus-prevencao/.
Pg. 04 Em tempos de COVID-19
Pg. 05 Em tempos de COVID-19
Pg. 06 Poesia em tempos de COVID-19
Seção
Entrevista
O Observatório UFPE | Covid-19 é um ambiente virtual de informações
relacionadas às ações e pesquisas desenvolvidas pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), sob o direcionamento da Pró-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação
(PROPESQ), criado a partir da evolução da pandemia COVID-19 no Brasil. De acordo com o
link institucional deste Observatório, no site da UFPE, sua criação se deu na perspectiva de
promover: “armazenamento, exposição, troca de conteúdos específicos, análise e evolução dos
dados técnicos, tendo em vista desempenhar a função de um instrumento balizador no apoio
estratégico e científico, assim como na disseminação de todo conteúdo e conhecimento gerados
através dos estudos interdisciplinares relacionados a esse novo tipo de vírus”.
No início do mês de abril de 2020 foi publicada neste ambiente virtual uma entrevista
realizada com o professor Valdir de Queiroz Balbino, do Departamento de Genética (CB), e
pesquisador do Laboratório de Bioinformática e Biologia Evolutiva (LABBE) da UFPE, para
falar sobre a importância das ações desenvolvidas na Universidade no combate à esta pandemia.
Nesta entrevista, o docente e pesquisador explica o seu projeto institucional e contextualiza as
ações de pesquisa integrada da UFPE neste momento emergencial de saúde pública.

Nesta seção da sua edição temática “EM TEMPOS DE COVID-19, o


JQI reproduz esta entrevista, na íntegra, com o objetivo de informar e ampliar o entendimento
dos seus leitores sobre a importância social, técnica e científica do papel da Universidade
Federal de Pernambuco, e demais universidades, no contexto desta pandemia no nosso País. O
link de acesso do Observatório UFPE |Covid -19 no site da UFPE é: https://www.ufpe.br/covid-
19/observatorio

Segue a entrevista:
OBSERVATÓRIO - Como ocorreu a adequação da rotina do laboratório à chamada
emergencial para elaboração de um plano de ação para o enfrentamento da Covid-19?

Balbino - Alguns dos laboratórios da UFPE já dispunham dos equipamentos básicos e da


expertise necessária à realização da detecção do SARS-Cov-2 através da técnica de RT-PCR em
tempo real. Entretanto, em função dos dramáticos cortes nos recursos destinados às áreas de
educação, ciência, tecnologia e inovação observados nos últimos anos, a infraestrutura de
pesquisa destes mesmos laboratórios carece de melhoramentos, como forma de garantir que as
pesquisas desenvolvidas na instituição estarão em condições de igualdade com os grandes
centros de pesquisa do Brasil e do mundo. A disponibilidade de um parque tecnológico
contemporâneo terá impacto também na qualidade da formação dos estudantes dos cursos de
graduação e de pós-graduação, com reflexos diretos e imediatos na qualidade dos serviços cada
vez mais complexos demandados pela sociedade.
Pg. 08 Seção Entrevista

Balbino (Continuação) - A manipulação de amostras clínicas obtidas a partir de pacientes


portadores da Covid-19 demanda a adoção de rígidas normas de biossegurança, dada a elevada

Entrevista
capacidade de contaminação individual e ambiental deste patógeno. Deste modo, a UFPE
estabeleceu como condição operacional que as ações de detecção viral, via RT-PCR, e de
sequenciamento genômico sejam desenvolvidas por pesquisadores e técnicos com sólida
formação em biologia molecular e que recebam treinamento específico para o manuseio de
amostras de SARS-Cov-2. E, finalmente, a instituição também determinou que todos os
procedimentos realizados com amostras do vírus sejam conduzidos em laboratórios com níveis
de biossegurança adequados.

OBSERVATÓRIO - O que é sequenciamento do genoma do vírus? Como este estudo


pode ajudar de forma imediata nas ações contra a disseminação do vírus?

Balbino - Estamos vivenciando um momento extremamente complexo na história da


humanidade, em decorrência dos altos graus de agressividade e transmissibilidade do SARS-
Cov-2. Lidamos com um “inimigo” praticamente desconhecido e para o qual não se dispõe de
vacinas e de agentes terapêuticos específicos. Resta, então, aos órgãos de saúde nacionais
estabelecer políticas de enfrentamento à Covid-19 (a exemplo daquela do isolamento social,
preconizada pela Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde) que reduzam a
velocidade da disseminação da Covid-19 na população brasileira, evitando o colapso do sistema
de saúde (público e privado) e a consequente redução do número de óbitos entre as pessoas
infectadas.
O sequenciamento do genoma do SARS-Cov-2, realizado através do emprego de modernas
técnicas de biologia molecular, resulta na decifração do conjunto de informações genéticas
utilizadas pelo vírus durante o processo de invasão das células humanas. O genoma do Sars-
Cov-2 é extremamente pequeno (~30.000 bases) e simples, quando comparado aos genomas
bacterianos, por exemplo, que são ordens de grandeza maiores e mais complexos. O estudo do
genoma do SARS-Cov-2 é de fundamental importância para a compreensão da sua dinâmica
evolutiva, uma vez que o conteúdo genético dos vírus acumula mutações com grande facilidade.
Foi através deste tipo de investigação, por exemplo, que se descartou a possibilidade deste vírus
ter resultado de manipulação laboratorial intencional, tema que foi recorrentemente ventilado
pelos adeptos das teorias conspiratórias. Foi também através de estudos genômicos que se
reconheceu a possibilidade de que o SARS-Cov-2 tenha se originado a partir de coronavírus
semelhantes (SARS-CoV-2-likeCoVs) encontrados naturalmente em morcegos e no pangolim.
A análise genômica também permite compreender a dinâmica de transmissão do SARS-Cov-2
nas populações, sendo uma ferramenta essencial para definir as relações genética existentes
entre as cepas circulantes em um bairro/município/estado/país. Adicionalmente, considera-se
que as informações derivadas do reconhecimento das mutações encontradas neste vírus con-
tribuam decisivamente para o desenvolvimento de novos fármacos, métodos diagnósticos e
vacinas, que levem em consideração a variabilidade genética nele encontradas. Os estudos
atuais apontam para um alto grau de conservação genética no SARS-COV-2 (o que poderia ser -
Pg. 09 Seção Entrevista

Balbino (Continuação) - explicado em função da sua origem muito recente), levando os


especialistas a sugerirem que uma formulação vacinal, uma vez estabelecida, poderia ser
eficaz para a imensa maioria das pessoas.
Entrevista
OBSERVATÓRIO - Algumas universidades já estão realizando experimentos sobre o
sequenciamento genético do vírus. Em quanto tempo a UFPE já terá resultados sobre o
sequenciamento?

Balbino - Por ainda não dispor de plataformas de sequenciamento de nova geração (NGS), que
permitem a “leitura” de bilhões de bases em um curtíssimo intervalo de tempo, os
pesquisadores da UFPE buscaram o apoio logístico do Instituto Aggeu Magalhães – IAM
(unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz sediada no Recife, no campus da
UFPE). A primeira etapa a ser cumprida diz respeito à transferência de tecnologia entre as
instituições, que será materializada nas próximas semanas através do treinamento da equipe da
UFPE, à semelhança do que vem sendo praticado em relação aos métodos de detecção viral
através da RT-PCR. Em paralelo, o processo de aquisição dos insumos necessários ao
sequenciamento do genoma viral já foi deflagrado pela UFPE, sendo este um importante
gargalo a ser vencido em função da intensa procura destes itens por pesquisadores de
instituições nacionais e internacionais. Estamos em frequente contato com as empresas
fornecedoras, visando estabelecer uma logística que permita que os reagentes sejam
disponibilizados no menor intervalo de tempo possível. Levando em conta estes dois fatores,
consideramos como sendo muito provável que a etapa de sequenciamento possa ser concluída
em até 45 dias.

OBSERVATÓRIO - Como você vê as ações de pesquisa integrada da UFPE neste


momento emergencial de saúde pública?

Balbino - Tão logo a Covid-19 passou a ser tema de recorrente preocupação dos órgãos de
saúde nacionais, a UFPE deflagrou um intenso processo de busca ativa de pesquisadores nela
lotados que pudessem auxiliar na definição de temas de pesquisa que pudessem ser
prontamente aplicados no enfrentamento da doença. A adesão dos pesquisadores ao
chamamento institucional foi surpreendente (em função das medidas de isolamento social
adotadas no Estado de Pernambuco, que resultaram na suspensão das atividades acadêmicas da
UFPE), revelando o já conhecido compromisso dos nossos pesquisadores com o
desenvolvimento de trabalhos que resultem na melhoria das condições de vida da população
pernambucana. O processo institucional de definição de soluções aplicáveis na minoração dos
efeitos da Covid-19 na sociedade está sendo conduzido com transparência, eficiência e
seriedade, deixando-nos motivados com a possibilidade de atuarmos nas diferentes frentes de
trabalho que serão viabilizadas pela UFPE.
Pg. 10 Seção Entrevista

OBSERVATÓRIO - Você consegue prever alguns impactos imediatos na melhoria da


qualidade de vida das pessoas?

Entrevista
Balbino - A UFPE desempenhará um papel muito importante neste momento de grave comoção
nacional, ao colocar à disposição da sociedade os múltiplos saberes dos seus pesquisadores,
técnicos e estudantes de graduação e de pós-graduação. Espera-se que, ao final desta fase tão
conturbada, saíamos todos mais fortes e ainda mais comprometidos com o bem comum. Para a
sociedade brasileira, ficarão certamente várias lições, entre elas: a percepção de que o Sistema
Único de Saúde é um bem público de valor incalculável e que deve, portanto, ser valentemente
defendido por todos nós. Esperamos também que a sociedade brasileira pós-pandemia passe a
ver com mais atenção e respeito o trabalho sério e abnegado que é conduzido nas universidades
e institutos de pesquisa e que abracem, definitivamente, a nossa causa, que tem como maior
objetivo o crescimento econômico sustentado do nosso país, mas sem abrir mão do seu
elemento mais valoroso: o cidadão, todos eles, tratados como iguais e dignos de muito respeito
e cuidado por parte dos nossos gestores. Fiquemos em casa, dando ouvidos à voz da ciência e
do bom-senso, e cuidemos uns dos outros.

Valdir de Queiroz Balbino é bacharel em


Ciências Biológicas pela UFPE (1993), mestre
em Genética pela UFPE (1997) e doutor em
Biologia Parasitária pela Fundação Oswaldo
Cruz (2002). Ministra as disciplinas de Genética
de Populações e Evolução, Evolução Molecular,
Bioinformática Aplicada à Genética e Genética
Forense nos níveis de graduação e pós-
graduação. É chefe do LABBE, onde se
desenvolve pesquisas na área de Genética, com
ênfase em Genética de Populações e Evolução.
Atua, principalmente, nos temas Genética de
Populações Humanas, Genética Forense,
Bioinformática, Genética e Evolução de Insetos
de Interesse Médico, Veterinário e Agronômico.
Também é responsável técnico-científico pelo
Serviço de Determinação de Paternidade da
UFPE desde o ano de 2014. Mais
informações: LABBE | (81) 2126.8512

Fonte dos dados e crédito da imagem: https://www.ufpe.br/covid-19/observatorio/acoes/-


/asset_publisher/bG6vYkgnXGlk/content/pesquisador-explica-projeto-de-avaliacao-de-
diversidade-genomica-de-cepas-de-sars-cov-2/2744135
As dimensões macroscópica e
microscópica da Ciência

Crédito da imagem com adaptações do JQI: http://robmentorweb2.blogspot.com/

“Mas você só tem que olhar para a milésima parte de


uma polegada através de um bom microscópio, o que
amplia, por exemplo, mil vezes, cada partícula aparecerá
tão grande como uma polegada a olho nu, e você será
convencido da possibilidade de dividir cada uma dessas
partículas novamente em mil partes: o mesmo raciocínio
pode ser sempre levado avante sem limite e sem fim“

Leonhard Euler: https://citacoes.in/topicos/microscopio/


Pg. 12 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

O Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados


Unidos (NIAID) disponibilizou imagens do novo coronavírus, responsável pela pandemia
Covid-19, no momento em que ele ataca células humanas. De acordo com o NIAID, os
registros foram feitos a partir do material coletado de um paciente norte-americano, quando as
células entraram em apoptose − processo também conhecido como morte celular − usando um
microscópio eletrônico de varredura e coloridas digitalmente. Iniciamos esta seção da
edição temática “EM TEMPOS DE COVID-19 do JQI apresentando para nossos
leitores duas destas imagens do vírus SARS-CoV-2 (em pontinhos) na superfície das células
(estrutura maior). A coleção com estas e outras imagens obtidas com a técnica de Microscopia
Eletrônica de Varredura (MEV), pode ser visualizada no site do Instituto:
https://www.niaid.nih.gov/news-events/novel-coronavirus-sarscov2-images. Vale a pena
conferir e se encantar com a beleza do mundo natural vista pela lente de um microscópico!

Figura 2: Imagem obtida com microscópio eletrônico de varredura do novo coronavírus atacando célula humana.

Figura 3: Imagem obtida com microscópio eletrônico de varredura Esta imagem do microscópio eletrônico de
varredura mostra SARS-CoV-2 (amarelo) - também conhecido como 2019-nCoV, o vírus que causa o COVID-19 -
isolado de um paciente nos EUA, emergindo da superfície das células (azul / rosa).

Crédito das imagens: https://www.niaid.nih.gov/news-events/novel-coronavirus-sarscov2-images


Pg. 13 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

Mas... Qual a Finalidade e o princípio operacional da Técnica de


Microscopia Eletrônica de Varredura? Nesta seção serão introduzidas algumas
informações sobre esta técnica tendo como referencia o e-book: "Microscopia eletrônica de
varredura: aplicações e preparação de amostras - materiais poliméricos, metálicos e
semicondutores” (DEDAVID; GOMES; MACHADO, 2007).
De acordo com este referencial “a função principal de qualquer microscópio é tornar
visível ao olho humano o que for muito pequeno para tal”. Você tem ideia da amplitude da
escala de tamanhos discernidos: pela visão humana, pelo microscópio ótico e pelo
microscópio eletrônico? Na Figura 4, apresentada a seguir, é possível avaliar a dimensão desta
escala:

Figura 4: Escala de tamanhos discernidos pela visão humana, pelo microscópio ótico e eletrônico.

Crédito das imagens: https://alemdasaulas.wordpress.com

Observa-se, a partir da escala mostrada na Figura 4, que as bactérias e os vírus são


invisíveis a olho nu, enquanto que os vírus são visíveis somente com auxílio de microscópios
eletrônicos. VÍRUS (do latim virus, "veneno" ou "toxina") são pequenos agentes infecciosos,
a maioria com diâmetro na faixa de 20 a 300 nm, com genoma constituído por uma ou várias
moléculas de ácido nucleico (DNA ou RNA). BACTÉRIA (do grego βακτηριον, bakterion:
bastão) é um tipo de célula biológica que constituem um grande domínio de micro-
organismos procariontes. Possuem tipicamente alguns micrômetros de comprimento e podem
ter diversos formatos, variando de esferas até bastões e espirais. As bactérias estavam entre as
primeiras formas de vida a aparecer na Terra e estão presentes na maioria dos seus habitats
(solo, água, fontes termais ácidas, resíduos radioativos, profunda biosfera da crosta terrestre.
Também vivem em relações simbióticas e parasitárias com plantas e animais
(https://pt.wikipedia.org/). Portanto, a visualização dos vírus e das bactérias só é possível
com o uso de instrumentos que ampliam a resolução da visão humana.
Pg. 14 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

Este mesmo referencial (p. 9) cita a contribuição importante do físico francês Louis de
Broglie para a formulação da teoria da mecânica quântica ao postular, em sua tese de
doutorado, o dualismo onda-partícula relacionando o comprimento de onda (λ) com a
quantidade de movimento (p) de uma partícula. Por conseguinte, o comprimento de onda
de um elétron é função de sua energia que “pode de ser comunicada a uma nova partícula
carregada por meio de um campo elétrico acelerador”. Dessa forma voltagens
suficientemente elevadas (da ordem de 50 kV) podem produzir elétrons de comprimento de
onda extremamente curto (λ=0,005Å) e, portanto, com poder de resolução potencialmente
elevado como uma fonte de iluminação. Além disso os elétrons, devido às suas cargas,
podem ser focalizados por campos eletrostáticos ou eletromagnéticos e são capazes de
formar imagens. Sendo assim estas partículas têm as características necessárias a um
microscópio de alta resolução. Como resultado do desenvolvimento científico e tecnológico
estão disponíveis, atualmente, aparelhos modernos que permitem aumentos da ordem de
300.000 vezes ou mais.

O MEV é um dos mais versáteis instrumentos disponíveis


para a observação e análise de características
microestruturais de objetos sólidos.

O MEV é um
aparelho que pode Sua utilização é comum em
fornecer rapidamente nas diversas áreas do
informações sobre a conhecimento, tais como:
morfologia e Biologia, Odontologia,
identificação de Farmácia, Engenharia,
elementos químicos Química, Metalurgia, Física,
de uma amostra Medicina e Geologia.
sólida.

Fonte dos dados: Elaboração nossa com dados de Dedavid; Gomes; Machado (2007, p. 9)

A principal vantagem na utilidade do MEV é a resolução elevada que pode ser obtida
quando amostras são observadas com este equipamento. Valores da ordem de 2 a 5
nanômetros são geralmente apresentados por instrumentos comerciais, enquanto que os
instrumentos de pesquisa avançada são capazes de alcançar uma resolução melhor que 1 nm.
Outra característica importante do MEV é a aparência tridimensional das imagens obtidas,
resultado direto da grande profundidade de campo. Permite o exame de amostras com
pequenos aumentos e grande profundidade de foco, o que é extremamente útil, pois a
imagem eletrônica complementa a informação dada pela imagem óptica (DEDAVID;
GOMES; MACHADO, 2007, p. 9).
Pg. 15 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

Segundo Dedavid; Gomes; Machado (2007, p. 11), a maioria destes instrumentos usa
como fonte de elétrons um filamento aquecido de tungstênio (W), operando com tensões de
aceleração na faixa de 1 a 50 kV. O feixe é acelerado pela alta diferença de potencial criada
entre o filamento e o ânodo para, em seguida, ser focalizado sobre a amostra por uma série de
três lentes eletromagnéticas. O feixe ao interagir com a amostra produz elétrons e fótons que
podem ser coletadas por detectores adequados e convertidas em um sinal de vídeo. Quando o
feixe primário incide na amostra, parte dos elétrons difunde-se e constitui um volume de
interação cuja forma depende principalmente da tensão de aceleração e do número atômico da
amostra. Neste volume, os elétrons e as ondas eletromagnéticos produzidos são utilizados
para formar as imagens ou para efetuar análises físico-químicas.
Mas... Qual a importância desta tecnologia em tempos de Covid-19?
No início de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a chamar oficialmente a
doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 de COVID-19. Segundo a Fundação Oswaldo
Cruz (FIOCRUZ) “COVID” significa Corona Virus Disease (Doença do Coronavírus),
enquanto “19” se refere ao ano de 2019, quando os primeiros casos da doença surgiram em
Wuhan, na China, e foram divulgados publicamente pelo governo chinês no final de dezembro
deste ano. Ainda segundo esta Fundação, esta “denominação é importante para evitar casos de
xenofobia e preconceito, além de confusões com outras doenças”. Uma infecção por
coronavírus geralmente ocorre como infecção pulmonar, incluindo alguns casos com sintomas
semelhantes ao resfriado, ou intestinal que causa diarreia.
Imagens obtida por Microscopia Eletrônica de Varredura são importantes para análise
estruturais dos coronavirus. Sabe-se que o coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela COVID-
19, é muito semelhante, geneticamente, aos demais coronavírus respiratórios humanos: SARS-
CoV (coronavírus relacionado à síndrome respiratória aguda grave) e MERS-CoV (coronavírus
da síndrome respiratória do Oriente Médio), cujas imagens obtidas com a técnica de
microscopia eletrônica estão reproduzidas nas Figuras 5 e 6, respectivamente:
Figura 5: Imagem de microscopia eletrônica do virus SARS Figura 6: Partículas de MERS-CoV vistas através de um
microscópio eletrônico.

Fonte: Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Severe_acute_respiratory_syndro https://en.wikipedia.org/wiki/Severe_acute_respiratory_syndro
me_coronavirus me_coronavirus
Pg. 16 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

No entanto, verifica-se que diferenças genéticas sutis acarretam diferenças bem


significativas na rapidez com que um dado tipo de coronavírus infecta as pessoas e na forma
como elas adoecem. O SARS-CoV-2 possui o mesmo equipamento genético do SARS-CoV
original que causou um surto global em 2003, porém com cerca de 6.000 mutações. Comparado
a outros coronavírus humanos, como o MERS-CoV, que surgiu no Oriente Médio em 2012,
ambos possuem o mesmo mecanismo geral de invasão celular e de replicação. No entanto, o
SARS-CoV-2 possui um conjunto diferente de genes (acessórios) que lhe conferem uma
pequena vantagem em situações específicas. No Quadro seguinte estão destacados alguns dados
analíticos da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a Covid-19 − infecção respiratória
provocada pelo vírus Sars-Cov-2 − baseada no estudo realizado na China, epicentro desta
pandemia, observando-se os seguintes sintomas:

➢ De acordo com este estudo, realizado com cerca de 56 mil pacientes na China: (i) 80%
dos infectados desenvolvem sintomas leves (febre, tosse e, em alguns casos,
pneumonia). (ii) 14% apresentaram sintomas graves (dificuldade em respirar e falta de
ar). (iii) 6%, quadros críticos (insuficiência pulmonar, choque séptico, falência de órgãos
e risco de morte).
➢ Entre os sintomas apresentados pelos pacientes, os mais comuns foram: febre (cerca de
88% dos casos), tosse seca (quase 68%), fadiga (38%), dificuldade de respirar (cerca
19% dos pacientes), dor de garganta e dor de cabeça (cerca de 13%), diarreia (apenas
4% destas pessoas).
➢ No entanto, um levantamento com mais de 2 mil pacientes chineses publicado na revista
científica Pediatrics indica que os sintomas digestivos, como diarreia, vômitos e dores
abdominais, apareciam com frequência em crianças infectadas pelo coronavírus.
Fontes dos dados: Camilla Costa da BBC News Brasil em Londres:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51946693 .

Você tem ideia como o vírus SARS-CoV-2 infecta os humanos? Para


responder esta questão a Equipe Editorial do JQI se baseou no artigo “What the coronavirus
does to your body that makes it so deadly” de Benjamin Neuman (2020), professor de
Biologia da Texas A&M University-Texarkanada, publicado por “The Conversation” − um
meio de comunicação sem fins lucrativos que usa conteúdo de acadêmicos e pesquisadores.
As informações mais importantes desta publicação, no contexto desta edição do JQI, estão
apresentadas nos tópicos seguintes (com tradução nossa):

➢ Toda infecção por coronavírus começa com uma partícula viral − com estrutura de concha
esférica protegendo uma única cadeia longa de material genético − sendo inserida numa
célula humana. O material genético instrui a célula a produzir cerca de 30 partes diferentes
do vírus, permitindo a sua reprodução.
➢ As células que o SARS-CoV-2 prefere infectar possuem uma proteína (denominada de
ACE2) no seu exterior, que é importante na regulação da pressão sanguínea. A infecção
começa quando as proteínas de pico (spike) da partícula viral se “agarra” à proteína ACE2
da célula se reconfigurando para quebrar a partícula viral e a célula abrindo um canal a
partir do qual a cadeia de material genético viral pode entrar na célula.
Pg. 17 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

➢ O SARS-CoV-2 se espalha de pessoa para pessoa através do contato por proximidade. O


surto da Igreja Shincheonji na Coréia do Sul, em fevereiro de 2020, fornece uma boa
demonstração do modo e da rapidez com que o SARS-CoV-2 se espalha. Há evidências
de que duas pessoas infectadas com o vírus sentaram-se frente a frente com pessoas não
infectadas por vários minutos, numa sala lotada. Em duas semanas, milhares de pessoas
no País foram infectadas e mais da metade destas infecções, naquele momento, foram
atribuídas à igreja. O surto começou rapidamente porque as autoridades de saúde pública
desconheciam o seu potencial e ainda não estavam realizando, de forma ampla, os testes
de contaminação. Desde então, o número de novos casos na Coréia do Sul vem caindo
constantemente em função de medidas adotadas neste País.
➢ O SARS-CoV-2 cresce nas células pulmonares do tipo II, que são responsáveis pela
produção e secreção de uma substância de ação surfactante (semelhante ao sabão), de
fosfolipídio e proteínas. Esta substância reduz a tensão superficial alveolar, favorecendo a
entrada de ar nos pulmões e nas células que revestem a garganta.
➢ Tal como acontece com a Síndrome respiratória aguda grave (SARS), a maioria dos danos
decorrentes da COVID-19 é causado pelo sistema imunológico buscando impedir a
propagação do vírus. Milhões de células do sistema imunológico invadem o tecido
pulmonar infectado e causam grandes quantidades de danos no processo de limpeza do
vírus e de quaisquer células infectadas. As lesões variam de tamanho. O desafio para os
profissionais de saúde que tratam os pacientes é manter o sangue oxigenado enquanto o
pulmão está se recuperando.

MAS... QUAL A ESCALA DE GRAVIDADE DO SARS-CoV-2?

Pacientes com menos de 10 anos parecem eliminar o


vírus facilmente, a maioria das pessoas com menos de
40 anos se recupera rapidamente, mas as pessoas mais
velhas sofrem com os efeitos do COVID-19 no nível
de maior gravidade nesta escala.

A proteína ACE2 que o SARS-CoV-2 usada como


porta de entrada do vírus nas células também é
importante para regular a pressão sanguínea e não
funciona quando o vírus chega. Essa é uma das razões
pelas quais o COVID-19 é mais grave em pessoas com
pressão alta.
Pg. 18 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

➢ O SARS-CoV-2 é de maior gravidade que o vírus da gripe sazonal, em parte porque tem
muito mais formas de impedir que as células chamem o sistema imunológico para obter
ajuda. Por exemplo, uma maneira pelas quais as células tentam responder à infecção é
fabricando interferon, a proteína de sinalização de alarme. O SARS-CoV-2 bloqueia isso
por uma combinação de camuflagem, cortando marcadores de proteína da célula que
servem como sinalizadores de perigo e, finalmente, destruindo quaisquer instruções
antivirais que a célula faz antes de poder ser usada. Como resultado, o COVID-19 pode,
por um período de um mês, causar um pequeno dano a cada dia, enquanto a maioria das
pessoas supera um caso de gripe em menos de uma semana.
➢ Atualmente, a taxa de transmissão do SARS-CoV-2 é um pouco mais alta que a do vírus
influenza H1N1, responsável pela pandemia em 2009, no entanto é cerca de 10 vezes
mais mortal que H1N1. A partir dos dados disponíveis até o momento, o COVID-19 se
assemelha muito com a síndrome respiratória aguda grave (SARS), embora seja menos
provável a sua maior gravidade apesar do seu potencial de contágio maior .

O QUE AINDA NÃO SE SABE?

Qual o mecanismo de interação do SARS-


CoV-2 com as proteínas dentro da célula?

Qual a estrutura das proteínas que formam


novos vírus?

Como ocorre a replicação?

➢ Como o COVID-19 responderá às mudanças climáticas sazonais


observando-se: (i) A ocorrência da gripe nas estações climáticas frias, tanto
no hemisfério norte quanto no sul. (ii) Alguns coronavírus humanos se
espalharam, num nível baixo, durante o ano todo com um pico na
primavera. No entanto, ainda não se sabe, ao certo, como ocorrem estas
variações de acordo com as estações climáticas.
Pg. 19 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

Segundo Nuño Domínguez (El PAÍS, 2020), uma equipe de cientistas chineses
apresentou uma descrição detalhada sobre a porta de entrada do novo coronavírus nas células
humanas. O estudo, publicado em março de 2020 na revista Science (2020, vol. 367, Issue
6485, pp. 1444-1448), permite transpor a dimensão macroscópica e visível aos humanos e
adentrar na escala de domínio dos vírus e das bactérias, com dimensões da ordem de 2,9
angstrom − unidade equivalente a um décimo de bilionésimo de metro − visando estudar a
proteína humana ACE2 que desempenha um papel fundamental na infeção causada pelo novo
coronavírus. O coronavírus SARS-CoV-2 utiliza a proteína spike, em forma de agulha, para
acoplar-se à proteína ACE2 da célula, segundo o modelo chave-fechadura, como representado
esquematicamente na Figura 7, a seguir:

Figura 7: Acoplamento chave-fechadura da proteína viral à proteina da célula hospedeira.

Adaptado de https://thefederal.com/the-eighth-column/coronavirus-is-not-man-made-only-rumours-are/ com tradução JQI

Este acoplamento abre, literalmente, a porta de entrada na célula humana possibilitando


a introdução do material genético do novo coronavirus e induzindo o mecanismo celular
humano a confundir o seu próprio RNA com o RNA viral que passa a seguir as instruções que
ele contém para fabricar proteínas virais. Em questão de horas milhões de cópias de RNA
viral são produzidas e a partir das quais serão feitas as cópias do vírus. Estas cópias serão
liberadas após a destruição da célula infectada causando infecção de outras células.
Considerando que os vírus estão evoluindo há milhares de anos junto aos seres humanos,
selecionando vias de entrada na célula que são difíceis de fechar ou eliminar, pois levaria a
pessoa a morte, causa estranheza a constatação de que até a data de publicação deste estudo, a
estrutura dessa proteína humana ainda não havia sido descrita cientificamente (NUÑO
DOMÍNGUEZ, El PAÍS, 2020) .
Pg. 20 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência

Esta proteína, que está presente nos pulmões, no coração, nos rins e nos intestinos cuja
ausência provoca doenças cardiovasculares, tem um papel fundamental na produção da
substância “Angiotensina”, responsável pelo controle da pressão sanguínea. A estrutura
molecular desta substância química pode se vista na Figura 8, com seus aminoácidos
constituintes: Você é capaz de identifica-los nesta estrutura molecular?

Figura 8: Composição Quimica e formula estrutural da Angiotensina II


(Peso molecular=1046 g/mol)

Fonte: https://www.researchgate.net/

Esta equipe de cientistas chineses (Renhong Yan; Yuanyuan Zhang; Yaning Li; Lu Xia;
Yingying Guo; Qiang Zhou) do Instituto Westlake de Estudos Avançados, em Hangzhou e da
Universidade Tsinghua de Pequim são pioneiros na descrição exata da estrutura da proteína
humana ACE2. Os resultados alcançam um nível de detalhe que, em algumas regiões,
equivalem a 0,00000000035 metro. A este trabalho soma-se a outro, publicado em fevereiro de
2020 por uma equipe de cientistas norte-americanos, que apresenta uma descrição equiparável
da proteína S (a chave viral que se encaixa na ACE2). Juntos, estes dois estudos oferecem uma
descrição molecular bem detalhada do primeiro passo desta infecção viral que possibilitará o
desenvolvimento de anticorpos que possam se unir à proteína S do vírus ou à proteína ACE2
das células humanas, bloqueando a infecção (NUÑO DOMÍNGUEZ, El PAÍS, 2020).
Segundo Nuño Domínguez (El PAÍS, 2020), estes pesquisadores consideram que este
estudo “não só joga luz sobre a compreensão do processo infeccioso como também contribui
para o desenvolvimento de novas técnicas para detecção do vírus no corpo humano e para o
desenvolvimento de compostos terapêuticos antivirais pois descreve as várias mutações −
mudanças na sequência de unidades formadoras das proteínas do vírus, observação JQI − que
aumentam a capacidade e a força com a qual o vírus se une às células humanas e outras que as
diminuem. Trata-se de um conhecimento básico para entender a natureza do novo vírus e de
como ele se compara com outros similares, como o SARS. Portanto, fornecem informações
importantes sobre as bases moleculares para o reconhecimento e a infecção por coronavírus”.
Encerramos esta seção apresentado, a seguir, ilustrações dos sintomas da COVID-19 e de
outras infecções para uma análise comparativa do nosso leitor.
Pg. 21 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência
Pg. 22 As dimensões macroscópica e microscópica da ciência
Poesia em tempos de COVID-19:
“O sabão” de Monteiro Lobato

Crédito da imagem: https://www.vectorstock.com/

“Azeite e água brigaram


Certa vez numa vasilha,
Vai tapona, vem tabefe,
Luta velha ali fervilha.
Eis então, a apaziguá-los,
A potassa se apressou,
Todos três se combinaram
E o sabão daí datou”.
A profilaxia do sabão

Crédito da imagem: https://twitter.com/PalliThordarson/status/1236549307525808128 com adaptações.

Nesta seção da sua edição temática “EM TEMPOS DE COVID-


19” o JQI apresenta uma discussão sobre eficácia do sabão na
profilaxia da pandemia Covid-19. Profilaxia é o conjunto de medidas utilizadas com a
finalidade de impedir ou diminuir o risco de transmissão de uma doença. Trata-se de um
conceito muito importante nas ciências da saúde somando atividades que visam proteger uma
população da ocorrência ou da evolução de um fenômeno que seja desfavorável à saúde de
um grupo de indivíduos. A discussão apresentada nesta seção do JQI tem como referência a
Thread do professor Palli Thordarson, da Escola de Química da University of New South
Wales (UNSW) − Sydney/Austrália, publicada no seu perfil na rede social Twitter
(@PalliThordarson) e cujas principais considerações estão transcritas a seguir. O Link de
acesso a Thread original é https://twitter.com/PalliThordarson/status/1236549305189597189 .
O professor Palli Thordarson inicia a Thread com a seguinte pergunta: “Por que o
sabão funciona tão bem no combate ao Coronavírus SARS-CoV-2, bem como para a
maioria dos vírus”? Também ressalta que a resposta tem a ver com a estrutura automontada
(self-assembled) da nanopartícula viral, cujo elo mais fraco nesta automontagem é a
bicamada lipídica (gordurosa). A discussão envolve as temáticas: sabão, vírus e Química
Supramolecular. Segue a Thread, com tradução nossa:
Pg. 25 A profilaxia do sabão

❑ Palli Thordarson descreve a propriedade do sabão (sais de sódio e potássio de diferentes


ácidos graxos, observação do JQI) tem para dissolver a membrana adiposa (gordurosa)
desfazendo o vírus como “um baralho de cartas” que “morre, ou melhor, se torna
inativo, pois os vírus não estão realmente vivos”. Ressalta ainda que os vírus podem
permanecer ativos por horas e até dias fora do corpo humano (tradução do JQI).
❑ Sobre os produtos comerciais antibacterianos faz as seguintes considerações:
desinfetantes (líquidos, géis, cremes) e lenços umedecidos (com álcool e sabão na sua
formulação) têm efeitos semelhantes mas são menos eficazes que o sabão tradicional.
Além do álcool e do sabão, as demais substâncias presentes na composição destes
produtos não afetam eficazmente a estrutura viral. Consequentemente, muitos destes
produtos antibacterianos são apenas uma versão mais cara do sabão. É enfático ao
recomentar, prioritariamente, O USO DO SABÃO COMO AGENTE PROFILÁTICO.
Lenços umedecidos com álcool devem ser usados apenas nas ocasiões em que o uso do
sabão não é “prático ou útil, como por exemplo, nas recepções dos escritório”. (Com
adaptação e tradução JQI).
❑ Em seguida lança, para seus seguidores, a seguinte pergunta: POR QUE O SABÃO É
TÃO EFICAZ? Ressalta que a explicação envolve conhecimentos da: “Química
Supramolecular, nanociência e virologia”, mas afirma que estes conceitos serão
abordados, na sua Thread, de forma “genérica, tanto quanto possível, deixando de fora
alguns termos especializados da Química”. Comenta que é especialista em Química
supramolecular e montagem de nanopartículas afirmando: “apesar de não ser
especialista em virologia, sempre fui fascinado por vírus, pois os vejo como um dos
exemplos mais espetaculares de como a química supramolecular e a nanociência podem
convergir” (com adaptação e tradução JQI).
❑ Sobre a estrutura viral faz as seguintes considerações: “A maioria dos vírus consiste de
três elementos fundamentais: RNA, PROTEÍNAS E LIPÍDIOS”. O RNA é o material
genético viral, muito semelhante ao DNA. As proteínas têm várias funções, incluindo: o
processo de invasão da célula alvo, auxiliar na replicação do vírus e são os componentes
essenciais (como os tijolos numa casa) da estrutura viral”. Os lipídios formam um
revestimento de proteção ao redor do vírus e ajudam tanto na sua disseminação como
na invasão celular. O RNA, as proteínas e os lipídios se auto agrupam para formar o
vírus, mas não sem se verificar a ocorrência de ligações covalentes fortes entre estas
unidades estruturais unidas. A automontagem viral ocorre em função de interações
fracas, não-covalentes, entre proteínas, o RNA e lipídios. Como um paradoxo
(observação do JQI) esta estrutura viral automontada é muito difícil de ser quebrada.
MAS ISSO PODE SER FEITO ATRAVÉS COM SABÃO! (com adaptação e tradução
JQI).
❑ Quanto às dimensões e interações das nanopartículas virais afirma: “a maioria dos
vírus, incluindo os coronavírus, têm dimensões na faixa de 50 a 200 nanômetros,
portanto, são verdadeiramente nanopartículas que interagem de forma complexa e
específica de acordo com as superfícies onde estão: “Para um mesmo tipo de vírus: pele,
aço, madeira, tecido, tinta e porcelana são superfícies muito diferentes” (com
adaptação e tradução JQI).
Pg. 26 A profilaxia do sabão

❑ SOBRE INVASÃO CELULAR E REPLICAÇÃO faz as seguintes considerações:


Quando um vírus invade uma célula, o seu RNA "sequestra" o mecanismo celular,
“como um vírus de computador”, forçando a célula a fazer muitas cópias do RNA e das
várias proteínas que compõem o vírus. Essas novas moléculas (RNA e proteínas) se
rearranjam ordenadamente aos lipídios (geralmente presentes na célula) para formar
novas cópias do vírus, ou seja, “o vírus não se autocopia mas faz cópias dos blocos de
construção que, em seguida, se agrupam em novos vírus” que sobrecarregam a célula
que “morre/explode” liberando vírus que infectarão mais células. Nos pulmões, alguns
desses vírus acabam nas vias aéreas e nas mucosas que as circundam (com adaptação e
tradução JQI).
❑ SOBRE CONTAMINAÇÃO E PROFILAXIA: Ao tossir ou, especialmente, ao espirrar,
pequenas gotículas das vias aéreas podem se espalhar numa distância de até 10 metros.
As gotículas maiores, que podem ser as principais portadoras do coronavírus, podem
percorrer uma distância inferior a 2 (dois) metros. POR ISSO É IMPORTANTE
COBRIR A BOCA E O NARIZ, COM UM LENÇO DESCARTÁVEL, QUANDO
TOSSIR E/OU ESPIRRAR! Dessa forma, evita-se tocar nos objetos com as mãos cheias
de vírus que podem contaminar outras pessoas. Essas gotículas aderem às superfícies e
secam rapidamente., MAS, OS VÍRUS AINDA PERMANECEM ATIVOS! (com
adaptação e tradução JQI).
❑ Neste contexto da sua Thread introduz o que Ele considera ser “um poderoso
conceito da Química Supramolecular” segundo o qual: “moléculas semelhantes
parecem interagir mais fortemente entre si do que com moléculas diferentes”. Salienta
que alguns materiais, tais como: madeira, tecido e a pele interagem fortemente com os
vírus contrastando com outros, por exemplo: aço, porcelana e alguns tipos de plásticos,
como por exemplo o teflon e conclui afirmando que a estrutura da superfície é um
fator importante da sua interação com o vírus observando que: “QUANTO MAIS
LISA, MENOS O VÍRUS IRÁ GRUDAR NELA” (com adaptação e tradução JQI).
❑ Em seguida explica “POR QUE A INTERAÇÃO DO VÍRUS COM AS SUPERFÍCIES É
DEPENDENTE DA ESTRUTURA DAS MESMAS” considerando as interações que
ocorrem entre os componentes estruturais da partícula viral, unidos por meio de
ligações de hidrogênio (como as que ocorrem nas moléculas da água), denominadas de
interações hidrofílicas. As superfície das fibras ou da madeira, por exemplo, pode
formar ligações de hidrogênio com o vírus. Por outro lado, superfícies de aço,
porcelana ou teflon não formam este tipo de interação com o vírus que, dessa forma,
não se acha fortemente ligado sendo, assim, bastante estável nessas superfícies. No
caso dos tecido ou madeira o vírus não permanece ativo por muito tempo (com
adaptação e tradução JQI).
❑ SOBRE POR QUANTO TEMPO O VÍRUS PERMANECE ATIVO afirma que depende
de vários fatores. Estudos mostram que o SARS-CoV-2 permaneça ativo em superfícies
favoráveis por horas, possivelmente um dia enquanto que a umidade (“dissolve”), luz
solar (radiação eletromagnética UV) e calor (movimentos moleculares) torna o
coronavírus menos estável (com adaptação e tradução JQI).
Pg. 27 A profilaxia do sabão

❑ Chama a atenção que A PELE É UMA SUPERFÍCIE IDEAL PARA UM VÍRUS, pois
é um material orgânico cujas proteínas e ácidos graxos das células mortas na camada
superficial deste órgão interagem com o vírus por meio de ligações de hidrogênio e
de interações hidrofílicas semelhantes às da gordura.
❑ EM SEGUIDA ESCLARECE: Quando você toca, por exemplo, uma superfície de aço
com uma partícula de vírus depositada nela, ela irá grudar na sua pele transferindo-
se para as suas mãos. “MAS VOCÊ AINDA NÃO ESTÁ INFECTADO”! No entanto,
se você tocar em seu rosto, o vírus pode ser transferido de suas mãos e para o seu
rosto ficando perigosamente próximo das suas vias aéreas e das membranas (tipo
mucosas) na boca e nos olhos para que possa entrar e PRONTO... VOCÊ ESTÁ
INFECTADO! A menos que seu sistema imunológico inative o vírus. Se o vírus
estiver em suas mãos, você pode transmiti-lo apertando a mão de outra pessoa.
“Beijos, bem, isso é bastante óbvio” ... “Também não é preciso dizer que se alguém
espirrar bem na sua cara, você corre serio risco de contaminação” (com adaptação e
tradução JQI).

Na Figura 9 tem-se uma representação esquemática da estrutura de uma molécula


fosfolipídica − um tipo de lipídio que estruturam membrana plasmática e outras membranas
de uma célula − podendo-se identificar nesta estrutura: a parte hidrofílica (cabeça polar) e a
parte hidrofóbica (cauda, apolar).

Figura 9: Estrutura da molécula fosfolipídica com partes hidrofílica e hidrofóbica

Adaptado de https://bodell.mtchs.org/OnlineBio/BIOCD/text/chapter6/concept6.2.html
Pg. 28 A profilaxia do sabão

Água pura ou água com sabão?

A maioria das pessoas toca o rosto uma vez a cada 2-5


minutos! Então você corre um alto risco quando o vírus
entra em contato com suas mãos, a menos que você
possa lavar o vírus ativo. No entanto, lavar as mãos
COM ÁGUA PURA não é suficiente para desativá-lo,
pois as ligações de hidrogênio entre as moléculas de
água competem com estas mesmas ligações que
ocorrem entre a pele e o vírus, que é bastante pegajoso,
e pode não se mover. (Fonte: @PalliThordarson, com
tradução e ilustração do JQI).

ÁGUA COM SABÃO É TOTALMENTE DIFERENTE: O


sabão contém substâncias semelhantes as gorduras,
conhecidas como anfifílicas, algumas estruturalmente muito
semelhantes aos lipídios na membrana do vírus. Assim, as
moléculas de sabão "competem" com os lipídios na
membrana do vírus. Essas moléculas também competem com
muitas outras interações não covalentes que ajudam as
proteínas, o RNA e os lipídios a se unirem. Dessa forma, o
sabão dissolve efetivamente “a cola” que mantém a estrutura
viral, além das moléculas de água. O sabão também supera as
interações entre o vírus e a superfície da pele. Logo, as
estruturas se separam devido à ação combinada de água e
sabão, conforme representação esquemática destas interações
apresentada a seguir. (Fonte: @PalliThordarson, com tradução e
ilustração do JQI).

Crédito da imagem: @PalliThordarson, Professor, School of Chemistry UNSW


https://twitter.com/PalliThordarson/status/1236553248862957569
Pg. 27 A profilaxia do sabão

COMO FUNCIONA O SABÃO: Lavar com água e sabão é uma maneira eficaz de destruir e
desalojar muitos micróbios, incluindo o novo coronavírus. No nível molecular, o sabão
quebra as coisas. No nível da sociedade, ajuda a manter todos unidos
(FERRIS JABR, New York Times, com tradução do JQI). Crédito da imagem:
https://www.nytimes.com/2020/03/13/health/soap-coronavirus-handwashing-germs.html
Como o vírus 2019-nCoV é detectado usando
a técnica RT-PCR em tempo real?

Crédito da imagemhttps://www.iaea.org/newscenter/news/how-is-the-covid-19-virus-detected-using-real-time-rt-pcr

A Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), em parceria com a Organização


das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), está oferecendo apoio e
conhecimento para que os países utilizem a técnica de reação em cadeia da
polimerase com transcrição reversa em tempo real (RT-PCR em tempo
real), um dos métodos laboratoriais mais precisos para detectar, rastrear e estudar o
coronavírus. Mas, em que consiste a técnica RT-PCR em tempo real? Como funciona? E o
que isso tem a ver com a tecnologia nuclear? A discussão apresentada nesta seção tem como
referencia o artigo “How is the COVID-19 Virus Detected using Real Time RT-PCR?” de
Nicole Jawerth (IAEA Office of Public Information and Communication), que pode ser
acessado em: https://www.iaea.org/newscenter/news/how-is-the-covid-19-virus-detected-
using-real-time-rt-pcr.

AIEA é um Centro Internacional de Cooperação


no campo da Ciência Nuclear. A Agência trabalha
com seus Estados-Membros e vários parceiros em
todo o mundo para promover o uso seguro,
protegido e pacífico das tecnologias nucleares.
Pg.
Pg.3103 Contexto histórico e conceitos
A profilaxia básicos
do sabão

❑ Em que consiste a técnica RT- Alguns vírus, como o SARS-Cov2,


PCR em tempo real? Como contêm o RNA, mas dependem da sua
funciona? E o que isso tem a ver infiltração nas células saudáveis dos
com a tecnologia nuclear? organismos ​para se multiplicar e sobreviver.
Uma vez dentro da célula, o vírus usa seu
A técnica RT-PCR em tempo real próprio código genético (RNA no caso do
possibilita a detecção da presença de coronavírus) para controlar e "reprogramar"
material genético específico de qualquer estas células e assim, se tornarem fábricas
patógeno, incluindo os vírus. Originalmente, produtoras de vírus.
o método usava marcadores de isótopos Mas, para que um vírus, tal como o
radioativos na detecção de materiais coronavírus, possa ser detectado, logo no
genéticos mas, avanços subsequentes início da infecção no corpo, usando a técnica
substituiu a marcação isotópica por RT-PCR em tempo real, os cientistas
marcadores especiais tais como os corantes precisam converter o RNA em DNA,
fluorescentes, que são usados mais processo conhecido como "transcrição
frequentemente e possibilitam aos cientistas reversa". Isto deve ser feito porque apenas o
obter os resultados de imediato, ou seja em DNA pode ser copiado - ou amplificado –
tempo real, enquanto o processo ainda está sendo esta transformação uma parte essencial
em andamento, diferentemente do método neste processo. Em seguida os cientistas
RT-PCR convencional que fornece os amplificam, centenas de milhares de vezes,
resultados apenas no final do processo. uma parte específica do DNA viral transcrito.
Apesar da técnica RT-PCR em tempo A amplificação é importante para que, em
real ser o método mais amplamente usado vez de tentar detectar uma quantidade
para detectar o coronavírus, muitos países minúscula do vírus entre milhões de fitas de
ainda precisam de apoio para configurar e informações genéticas, os cientistas tenham
usar esta técnica. uma quantidade suficientemente grande das
A estrutura da partícula viral, já seções alvo do DNA viral para confirmar
discutida nesta edição do JQI, pode ser com precisão que o vírus está presente.
descrita como um pacote microscópico de
material genético circundado por um ❑ Como o RT-PCR em tempo real
envelope molecular. Este material genético detecta o coronavírus?
pode ser DNA ou RNA. O DNA é uma
molécula de duas cadeias, encontrada em
Uma amostra é coletada de partes do
todos os organismos − animais, planta, vírus
corpo onde o coronavírus se reúne, como o
− possuindo um código, ou modelo,
nariz ou a garganta de uma pessoa. Essa
genético de como esses organismos são
amostra é tratada com várias soluções
criados e se desenvolvem. O RNA é
químicas que removem substâncias
geralmente uma molécula de uma fita que
(proteínas e gorduras) e extraem apenas o
copia, transcreve e transmite partes do
RNA presente na amostra. O RNA extraído é
código genético para as proteínas para que
uma mistura do material genético da pessoa e
possam sintetizar e realizar funções que
do RNA do coronavírus (quando presente).
mantêm os organismos vivos e em
Em seguida, usando-se uma enzima
desenvolvimento. Existem diferentes
específica, é feita a transcrição do RNA para
variações de RNA, que fazem a cópia,
o DNA.
transcrição e transmissão.
Pg.
Pg.3203 Contexto histórico e conceitos
A profilaxia básicos
do sabão

Os cientistas adicionam fragmentos Mas.. Qual a vantagem de usar


curtos de DNA que são complementares a a técnica RT-PCR em tempo real?
partes específicas do DNA viral transcrito.
Esses fragmentos se ligam às seções alvo do
Esta técnica é altamente sensível e
DNA viral quando o vírus se acha presente
específica e pode fornecer um diagnóstico
numa amostra. Alguns dos fragmentos
confiável em apenas três horas, embora
genéticos adicionados são usados na
geralmente os laboratórios demorem em
construção de filamentos de DNA durante a
média entre 6 a 8 horas. Comparado a outros
amplificação, enquanto outros na construção
métodos disponíveis para isolamento de
do DNA e na adição dos marcadores aos
vírus, o RT-PCR em tempo real é
filamentos, que são então usados ​para
significativamente mais rápido e tem um
detectar o vírus.
potencial menor de contaminação ou erros,
Esta mistura é colocada no
pois todo o processo pode ser feito em um
equipamento RT-PCR e submetida a
tubo fechado. Continua sendo o método mais
variações de temperatura, que aquecem e
preciso disponível para a detecção do
resfriam a mesma, desencadeando reações
coronavírus.
químicas específicas que criam cópias novas
No entanto, esta técnica não pode ser
e idênticas das seções-alvo do DNA viral. O
usada na detecção de infecções passadas,
ciclo se repete continuamente copiando as
importante para entender o desenvolvimento
seções alvo do DNA viral com cada ciclo
e a disseminação do vírus, pois os mesmos
dobrando a quantidade anterior: duas cópias
estão presentes no corpo apenas numa janela
se tornam quatro, quatro cópias se tornam
específica de tempo. Portanto, outros
oito e assim por diante. Uma configuração
métodos são necessários para detectar,
padrão de RT-PCR em tempo real geralmente
rastrear e estudar infecções anteriores,
passa por 35 ciclos, o que significa que, ao
particularmente aquelas que podem ter se
final do processo, cerca de 35 bilhões de
desenvolvido e se espalhado sem sintomas.
novas cópias das seções do DNA viral são
A IAEA, em parceria com a FAO,
criadas a partir de cada cadeia do vírus
treinou e equipou especialistas de todo o
presente na amostra.
mundo para usar o método RT-PCR em
À medida que novas cópias das seções
tempo real por mais de 20 anos,
de DNA viral são construídas, os rótulos dos
particularmente através de sua rede
marcadores se prendem às fitas de DNA e
VETLAB de laboratórios de diagnóstico
liberam um corante fluorescente, o qual é
veterinário. Recentemente, essa técnica
detectado pelo computador da máquina e
também foi empregada para diagnosticar
apresentado, na tela, em tempo real. O
outras doenças, como Ebola, Zika, MERS-
computador rastreia a quantidade de
Cov, SARS-Cov1 e outras doenças
fluorescência na amostra após cada ciclo.
zoonóticas e animais. As doenças zoonóticas
Quando a quantidade ultrapassa um certo
são doenças animais que também podem
nível de fluorescência, isso confirma que o
infectar os seres humanos.
vírus está presente na amostra. Os cientistas
Encerramos esta seção indicando aos
também monitoram quantos ciclos são
nossos leitores assistir ao vídeo da IAEA em:
necessários para atingir esse nível, a fim de
estimar a gravidade da infecção: quanto
https://youtu.be/K0BLSW3mJW0
menos ciclos, mais grave é a infecção viral.
Cartoon:
Em tempo de Covid-19
O JQI encerra esta edição temática “EM TEMPOS DE COVID-19” com uma
mensagem no formato de “cartoon” que é uma criação do artista islandês Hugleikur Dagsson,
que na sua biografia na rede social Twitter (@hugleikur) se define como um “comediante,
cartunista islandês, outras coisas”. Os diálogos originais foram mantidos com tradução
nossa. Se você fosse especialista atenderia ao pedido? Comente na nossa
página na rede social Facebook.

Crédito da imagem: @hugleikur: https://twitter.com/hugleikur/status/1245687382017560576


Referências
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coronavirus-does-to-your-body-that-makes-it-so-deadly-133856 . Acesso em: 02 de Abril.
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aplicações e preparação de amostras-materiais poliméricos, metálicos e semicondutores
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RENHONG YAN et al. Structural basis for the recognition of SARS-CoV-2 by full-length
human ACE2. Science, Vol. 367, Issue 6485, pp. 1444-1448, 2020.

Para dados estatisticos e mapas acesse:


➢ https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/sinesp-1/bi/dados-
seguranca-publica
➢ https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/opsdashboard/index.html#/bda759474
0fd40299423467b48e9ecf6
➢ https://who.sprinklr.com/
➢ https://covid.saude.gov.br/

EQUIPE EDITORIAL:
✓ Jane Maria Gonçalves Laranjeira ✓ Luís Henrique Raimundo
✓ Roberto Araújo Sá ✓ Magdalena Laurence Tavares Omena
✓ Aline Mayara Viana do Nascimento ✓ Marcelo Fabrício Araújo
✓ Daniel Sobral de Oliveira ✓ Maria Izabel da Silva Cavalcanti
✓ Edclecia de Vasconcelos Silva ✓ Thais de Sá Tenorio
✓ Lucimário Edilson Gomes Lisboa ✓ Vladimir Cavalcanti da Silva Junior

Núcleo de Formação Docente, Universidade Federal de Pernambuco, Campus do Agreste.


Rodovia BR-104, km 59, Nova Caruaru, Caruaru-PE. CEP: 55014-900, Tel: (81) 992952150.

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