Revista 14
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ANO 1970
RÁDIOS
RADIOFONES
LIQUIDIFICADORES
CONJUNTOS PARA SALA E COPA
E
LAVAR ROUPA
E
UMA INFINIDADE DE BONS ARTIGOS
F I L I A L :
_____________________________________________
D I R E T O R I A.
DO
I N S T I T U T O C U L T U R A l , L »0 C A R I R I
ELEITA PA RA O ANO SOCIAL ENTRE
OUTUBRO DE 1969 A 1970
P residente :
JOSÉ ALVES DE FIGUEIREDO FILHO
V ice-P residente :
P e. ANTÔNIO GOMES DE ARAÚJO
Secretário G eral :
JOAO LINDEMBERG DE AQUINO
2.° Secretário :
ZULEIKA PEQUENO DE FIGUEIREDO
T esoureiro :
ANTÔNIO CORREIA COELHO
Comissão da R evista “ IT A Y T E R A ” :
J. DE FIGUEIREDO FILHO
P e. ANTÔNIO GOMES DE ARAÚJO
J. LINDEMEiZRG DE AQUINO
Comissão de Ciências L etras e A rtes :
D r. RAIMUNDO DÊ OLIVEIRA EORGES
P rcf . JOSÉ NEWTON ALVES DE SOUSA
D r. JEFFERSON DE A. E SOUSA
Comissão de Sindicâncias :
. D r. JOSÉ DE PA U LA B AN TIM
P rofa. EDMÉIA ARRAIS DE ALENCAR
P rofa. M ARIA DE LOURDZS ESMERALDO
SÓCIOS QUE TOMARAM POSSE EM
CADEIRA COM PATRONO, NA
SECÇÁO DE LETRAS:
N.° 1 — João Lindemberg de Aquino
PATRO N O — Padre Ibiapina
N.° 2 — Dr. Raimundo de Oliveira Eorges
PATR O N O — Bruno de Menezes
N.° 3 — J. de Figueiredo Filho
PATRONO — José Alves de Figueiredo
N.° 4 — Profa. Edméia Arraes de Alencar
PATRONO — Alexandre Arraes de Alencar
N.° 5 — Profa. Maria de Lourdes Esmeraldo
PATRONO — Mons. Pedro Esmeraldo
N.° 6 — Pe. Antônio Gomes de Araújo
PATRONO — Irineu Nogueira Pinheiro
N.° 7 — Cap. Otacílio Anselmo e Silva
PATRONO — Barbosa de Freitas
N.° 8 — Prof. José Newton Alves de Sousa
PATRONO — Álvaro Bomílcar
N.° 9 — Mons. Rubens Gondim Lóssio
PATRONO — D. Francisco de Assis Pires
N.° 10 — Tomé Cabral
PATRONO — Pe. Emílio Leite Cabral
SECÇÃO DE CIÊNCIA :
N.° 1 — Dr. Napoleão Tavares Neves
PATRONO — Dr. Barreto Sàmpaio
Í N D I C E Pág.
Neste 14.° Número ............................................................................... 3
A ta da Sessão 'da Câm ara Municipal do Crato ............................ 4
A Civilização que veio pelo São Francisco ..................................... 7
“ O D ia Santo da Pá tria ” — Seus Orágos ..................................... 15
Tom a posse da Cadeira N.° 1 o Dr. Napoleão Tavares. Neves ---- 21
Aspectos da “ Doença de Chagas” no Cariri Cearense ................... 24
Monsenhor Rubens Gondim Lóssio ...................................................... 41
O Bom Pastor — Dom Francisco de Assis Pires ........................... 45
D. Marica e a Questão de 8 em Aurora ......................................... 61
Terras de Invasão .................................................................................... 65
Onde e Quando Morreu Bárbara de Alencar ................................. 70
O Baú Verde ............................................................................................. 75
Padre Cícero — Mito e Realidade ................................................... 76
Embate Humano e Descoberta Pré-H istórica .................................. 77
Gente Ilustre ..................................................................
H istória da Ind. do Charque Gaúcho Fundada por um Cearense 85
A Poesia Emocional de Pedro M avignier ........................................ 95
Parde Serafim Leite, S. J........................................................................ 99
Sobrevivente da Insurreição Acreana, em Crato .............................. 102
Crato, Sangue Bom ................................................................................ 105
Solenidade da Posse da Cadeira N.° 10 na Secção de Letras ......... 109
Discurso do Escritor Tom é Cabral Santos ........................................ 112
Quem não q u e r... manda; quem quer................................................ 118
Monsenhor Távora no Sacerdócio e na Política - ( I I ) .................... 121
F A C - S I M I L E ........................................................................ 123
L IT E R A T U R A — Acadêmico Cearense .................................................. 125
Da Terra nos vem a Riqueza ............................................................ 126
Duarte Júnior, companheiro que desaparece ..................................... 129
Um Livro sôbre Bichos .......................................................................... 180
Traços e Episódios de sua V ida - ( I ) ............................................ 133
Capistrano de Abreu ................................................................................ 145
A Ig re ja e a Pobreza ............................................................................ 149
Festejos Juninos no Recife ................................................................... 151
Pega-de-Boi-Brabo Espetáculo condenado a desaparecer ................ 153
Carta do Dr. Reinaldo Carleial .......................................................... 157
O H O M E M ....................................................................................... 162
Antroponim ia Patriótica da Independência ......................................... 165
Outras Cadeiras do Instituto Cultural do Cariri .............................. 167
“ O CEARENSE” de Parsifal Barroso ................................................. 168
O Patriarca M ajor José do Vale em Missão no C ariri ................ 170
Eu conheci Antônio Silvino ................................................................. 173
Hospital Psiquiátrico do Crato .......................................................... 178
Folclore do Cariri ................................................................................. 181
Aspectos Interioranos .......................................................................... 184
Sigisnando Sisnando Batista ................................................................ 187
Dr. TELES, vida dedicoda ao Bem ................................................... 190
Exposição de Pintores de Fortaleza ..................-•............................... 193
O Vale do Cariri e as Sêcas do Nordeste ........................................ 195
Cariri, Nordeste e Universidade ............................................................ 197
Gualter Martiniano de Alencar Araripe, Barão do Exu (A ta ) ---- 199
A M aior Serpente do Mundo .............................................................. 201
J. DE FIGUEIREDO FILHO
Fábrica Fortaleza
ü. DMS BRANCO S. A. - Comércio e liiúsiría
SÓ FABRICA PRODUTOS
DE SUPERIOR QUALIDADE
DEPÓSITO DO C A R IR I:
7
vas que vinham a galgar os Andes. sertões inóspitos, deparou-se com
Adm itindo que essas prim eiras le terras de rica vegetação, córregos
vas na quarta corrente de povoa- abundantes e várias zonas embre-
dores alcançaram as costas, de jadas, convidando-o a trocar o la
onde se internaram, no continen ço e a aguilhada pelo machado e
te, no curso de NW Amazônico, aí enxada. Foi c que fez logo, sem
pelos últimos séculos dêste milênio. esquecer o gado vacum, indispen
O estacionamento na área de fo r sável à vida agrícola. Os aborí
mação dos Brasílidos (provindos genes já sabiam cultivar o milho,
dos Pré-Brasílidos) não teria sido algodão e mandioca, Quem vinha
inferior a um milênio. Tudo isso do recôncavo baiano, ou da mata
nos leva a conjecturar que êste de Pernambuco, sentia que pisava
povo chegara à m argem do São em terreno de massapê, por de
Francisco, há cêrca de 1,5 milênio, mais propício à cultura canavieira.
portanto ainda no prim eiro quar A gramínia, de pouco a pouco,
tel da era cristã. Poucos séculos tomou conta dos brejos e dos pés-
depois estariam alguns grupos de de-serras do Araripe. Os engenhos
C ariri estabelecidos no sul do Cea de rapadura e aguardente m ulti
rá, isto é( ai pelo I X ou X séculos plicaram-se. O boi, o cavalo e
de nossa era” . mais tarde o m uar tornou-se o
Foram aquêles silvícolas que m otor da engrenagem de retirar
os colonizadores, também vindos o suco daqueles riquíssimos colmos.
das bandas do São Francisco, O senhor de engenho passou
encontraram como donos dessas a ser também fazendeiro no ser
terras dadivosas, parecendo mais tão de Pernambuco, Piauí ou mes
outra Canaã dos tempos bíblicos mo do Ceará. Muitas vêzes, insta,
Verdadeira ilha de vegetação exu lava logradouro, lugar de retirada
berante, perenemente verde, no de gado na serra do Araripe, que
meio da caatinga bravia. Aliás, divide o Cariri da terra pernam
era velho costume do indígena bucana. O senhor de engenho
Cariri, das oito grandes nações caririense, como ainda h oje acon
classificadas por Capistrano de tece, completava seu trabalho de
Abreu, apossar-se dos trechos fé r cultura de cana e de moagem, em
teis do Nordeste. pregando três tipos de proprieda
Não houve cheques profundos, des: o sítio de plantio com água
imediatos, com a chegada do con de rega, a fazenda de criar gado
quistador, portador da civilização e o logradouro para a engorda dos
do banco. É que veio a in terfe animais e para as vacas leiteiras
rência benfazeja do capuchinho, em determinados mêses.
notadamente do fundador da Mis Os tempos mudaram, O gado
são do Miranda, que deu origem crioulo foi perdendo em pêso e em
a Crato, F rei Carlos M aria de produção leiteira. A rapadura
Ferrara. Conseguiu terras culti- desprestigiou-se, em face da con
váveis e fixeu o indígena. O Ca corrência do açúcar branco produ
riri não tomou parte na chamada zido em uzinas de Pernambuco,
guerra dos bárbaro^, espécie de como também pelo esgotamento
confederação bélica dos índios Ca- sempre crescente de terrenos.
riris, que quase impedia o esforço Delm iro Gouveia, sertanejo de
colonizador do lusitano no interior idéias avançadas para a época,
cearense e adjacências. aproveitando minúscula parte da
O povoador, ao atravessar energia da cachoeira de Paulo
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Afonso- criou em pleno sertão, in de piauiense do antigo Nelson da
dústria de linhas e de tecidos. Franca Alencar, hoje em mães do
Introduziu igualmente tipo de ga ex-deputado pelo Ceará — Dr.
do mais forte e adaptável ao cli Antônio de Alencar Araripe.
ma. Foi exemplo pioneiro. Co -Convém registrar que houve
meçou a aparecer, aqui e &li, o touro de sangue zebu, no Cariri,
boi de cupim, possante para o que teve até fama de SANTIDADE,
engenho e em nada estranho à na crendice dos fanáticos do Pe.
zona sêca do Nordeste. Cícero Romão Batista, de Juazeiro
Quem teria introduzido no do Norte. Chamava-se MANSINHO
Cariri cearense cs primeiros re e foi presenteado àquêle sacerdote
presentantes daquelas rêzes, pro por um de seus admiradores. O
cedentes da lendária e quase an- beato José Lourenço, sertanejo
típoda índia ? místico, da reda fanática do PA-
Justiniano de Serpa, vulto de D RIN CIRÇO, ficou encarregado
destaque nas letras e nas ciências de tratá-lo em propriedade rural
jurídicas, assumiu a presidência do na Baixa Danta. Tornou-se bicho
Ceará a 12 de Julho de 1920, após regalado, comendo do bom e do
renhido pleito. Reformou a cons melhor, amarrado de fitas colori
tituição, a instrução pública, in das, passando a fazer MILAGRES,
centivou o mundo intelectual cea filhos do misticismo de quem vive
rense. Seu plano de ação atingiu na ignorância e no subdesenvolvi
a própria estrutura agro-pecuária, mento. As promessas ao boi MI-
quando, nesse setor, o estado vivia LAGREIRO centuplicaram-se, pela
estagnado, herança ainda da colo sugestão coletiva.
nização. Para melhorar o gado Num belo dia a notícia chegou
vacum encarregou seu genro La à Câmara Federal, no Rio, onde o
nes Bernardes a ccmprar reprodu lugar tenente do padre Cícero —
tores zebus, no Triângulo Mineiro, Dr. Floro Bartolomeu da Costa re
para revenda, sem lucros, no Cea presentava o Ceará. Os ataques
rá. No meio dessa fecunda admi contra aquela demonstração de
nistração, faleceu Justiniano de primitivismo da vida juàzeirense
Serpa, antes de cumprir o manda- foram diretos ao Dr. Floro. Êste,
to; a primeiro de agosto de 1923. o mais-que-depressa voltou à cida
Parte daquele gado foi vendi de que o elegeu. De uma feita só
do em Crato, sendo que meu pai a ferro e fogo, extirpou muita
— José Alves de Figueiredo, misto coisa anômala que se passava por
de agricultor e farmacêutico, re lá. O boi Apis, ressuscitado, em
cebeu de presente bonito novilho- plagas caririenses, ou por outra,
te, por parte do senhor de enge aquela renovação totêmica, com
nho e lavrador evoluído — Nelson raízes aprofundadas, em nossos a-
da Franca Alencar, figura respon voengos das selvas africanas, não
sável de antigo dono de sitio cari- podia perdurar. O deputado juà
riense e de fazenda de criar no zeirense mandou sacrificá-lo, com
estado do Piauí. Não é preciso a- afiada peixeira, em holocausto ao
crescentar que aquelas rêzes dife onipotente deus-progresso. Foi
rentes do PÉ-DURO, cria de casa, uma vez a vida de abastança do
despertou a curiosidade geral. Foi MANSINHO. Sua excelente carne
a primeira vez que vi um zebu. foi distribuída a populares, a sol
Dessa leva, restam descendentes, dados de polícia e até o beato José
na fazenda CONDADO, proprieda Lourenço, o sacerdote-máximo, te
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ve de comer-lhe bom pedaço, com zebus e outras raças, incluindo até
farinha de mandioca e naco de búfalos. Com os irmãos Medeiros,
rapadura. naturais de Flores, em Pernam bu
A entrada regular de zebus no co, constituiu sociedade para in
Cariri, provindos de Jacobina e de tensa venda de zebus, na zona ca-
Mundo Novo, na Bahia, fo i que ririense e imediações. Eram êles,
contribuiu decisivamente, para a Ozael, Saturnino e Joaquim. As
m elhoria da pecuária regional. Seu manadas que conduziram pelo
introdutor, em caráter comercial, mesmo caminho das antigas en
ainda no prim eiro quartel do pre tradas baianas, povoadoras do sul
sente século, foi o sertanejo da do Ceará, transform aram , quase
zona cearense de Ibiapaba — Dio- totalmente, a pecuária da zona.
go Farias. Com prava gado mesti Sua missão terminou. Agora os
ço de zebu, naquelas paragens planteis de gado são melhorados e
baianas e revendia no Cariri e v i selecionados pela Exposição Cen
zinhanças. tro Nordestina de Animais e P ro
Era aquele boiadeiro dos mais dutos Derivados, realizada, anual
autêntico produtos da mestiçagem mente, em Crato, com repercussão
nordestina, entre o branco e o ca até no Triângulo Mineiro.
boclo. Alto, moreno, quase côr de Ozael Medeiros prestou-me va
canela, delgado, mas de complei liosas informações dêsse penoso
ção robusta, vive. Usou cavanha transporte de rêzes de Mundo No
que por muito tempo. Não se can vo e Jacobina ao Cariri e outros
sava, de form a alguma, com a as pontos interessados na m elhoria
pereza da luta cotidiana no meio da raça bevina. A principio, con
da caatinga braba. Conheci-o em duziam novilhos mestiços que ven
seu mister, em 1921, quando eu, diam prontameste nos mercados,
de regresso à minha terra, proce mas os criadores começaram a
dente de Petrolina, montado em exigir reprodutores mais puros.
muar e acompanhado de arreieiro, Suas boiadas alcançavam média
parei em frente à alpendrada ca de 500 cabeças, constituídas de
sa sertaneja. Encontrei-o ali. NELORE, G IR , IN DUBRASIL, GU-
Confessou-me estar com febre e ZERÁ. A marcha, naquela época,
não dispor de qualquer m edica através do sertão, não era tão fá
mento. Dei-lhe alguns comprimi cil quanto agora, com o possante
dos de B R O M O Q U IN IN A e toquei caminhão a conduzir tudo. A ca
para frente com mêdo de arran- minhada se fazia de pé, em ritmo
char-me ao abrigo do alpendre e tardo de passos bovines. Durava
ficar em contacto com qualquer de 30 a 40 dias entre o local de
infecção perigosa, no meio daque partida a Crato, Juazeiro do N or
les êrmos. Mais tarde, o revi, ins te, Barbalha ou Missão Velha. A
talado em Crato, com seu comér boiada com o vaqueiro guia à fren
cio de zebus, ininterrupto, entre a te, em seu cavalo bem amestrado,
Bahia e o Cariri. atravessava o sertão baiano, com
O fornecimento de gado baia o auxílio de oito a dez homens
no para a renovação dos planteis encourados, em contínua vigilância
sul cearense continuou e ternou-se aos lados e detrás a fim de m an
mais avultado. M ário A lves de terem a disciplina, quase m ilitar
Oliveira, com propriedade em raquela prolongada marcha.
Mundo Novo, nas vizinhanças de À beira do S. Francisco havia
M inas Gerais, mantinha criação de pausa indispensável. Nova arre-
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gimentação des bichos pela va- ! astadas em plena verdura. Se
queirada para a travessia do rio. aquele mercado não consumisse
Eram ne:essários muita ordem e lôdas as rêzes, com o rebanho re
olhar arguto dos guias, a fim de duzido, rumavam para as zonas
colccar o gado nas respectivas criadoras dos Inhamuns ou de
barcaças. No transcurso, ai de Jaguaribe, ou mesmo Crateús, Sc-
qualquer descuido ! Nas descidas bral e a própria capital — Forta
a operação se tomava bem penosa leza.
para evitar o espanto das rêzes e Desde a Bahia pousavam em
não contaminar tôda a imensa fazendas, ou descampado, mas
boiada. A barca era como se fos passavam em povoados, vilas e
se curral flutuante, arrodiada de cidades. Santa Cruz, Ouricuri,
cerca, igual' aos caminhões trans Bodocó, Araripina ou Exu. A des
portadores de gado, dos dias de cida da serra podería ser pelas la
hoje. deiras das Guaribas, Belmonte ou
O zebu, com aparência de ar Santa Rita. Quando razões espe
rebento não é tão indisciplinado ciais não lhe aconselhassem a ve
quanto o bei PÉ-DURO. É brinca lha estrada de Porteiras, hoje Jati.
lhão e afeiçôa-se ao homem. Aquela viagem pelas estradas
Aquela caminhada de cente a fora, da terra baiana ao Ceará,
nas de quilômetros efetuava-se co- aparentemente monótonas, ofere
mumente no início do inverno, cia vários atrativos aos boiadeiros.
para assim não faltar água nos A natureza no sertão, em tempos
poços, riachos ou açudes e pasto de chuvas rejuvenesce, como por
fresco para as rêzes, naquêle per encantamento. A alegria dos pás
curso em terras ásperas. O va saros se torna contagiante. Há
queiro em seus alforges< conduzia caças em proporções avultadas,
( farnel indispensável ãs grandes tudo dependendo da boa pontaria
jornadas. Quando todos se abole do homem. Os imprevistos são
tavam no ARRANCHO, os bois a comuns na vida do vaqueiro. Fa
pastarem quietos, assavam a car zem parte de seu hábito cotidiano.
ne no espeto de pau, com farinha A fuga de uma rez não lhe é des
e cebola, faziam a farofa de com- conhecida e tem a paciência de
boeiro e comiam. Não deixavam arrancá-la dos esconderijos. Os
de usar, à guisa de sobremesa, c atoleiros se sucedem e não falta
bom naco de RAPADURA FIXE, aos guias a perícia de desatolá-la,
azulada dos engenhos caririenses sem perda de muito tempo. Não
ou de Januária, de Minas. Bebi- escasseiam os acidentes e o enve
am água de borracha, confeccio nenamento de um bei por planta
nada com couro e tão fria como daninha. A peçonha da cobra,
se fosse de geladeira. Muitas vé- escondida em moitas, não é difícil
zes, naquele repasto não faltava o a inocular-se em bicho que a as
gole sedutor da pinga para alegrar susta. O vaqueiro é meisinheiro,
a conversação. conhece os segredos terapêuticos
Abandonavam a zona sertane das raízes, entrecascas e folhas.
ja, subiam a serra do Araripe, a- É rezador igualmente, podendo cu
travessavam o caminho reto, cer rar uma bicheira até pelo rastro.
cado de vegetação exuberante, às Quando uma vez morre, por um
vêzes, até em plena mata. Desci motivo qualquer, vem a lamenta
am, divisando o imenso vale Cari- ção plangente dos irmãos de raça
riense, pontilhado de cidades, en- Daquele centro dolorido que nas
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ceu o aboio, agora adicionado de zebu vem diretam ente do Triângu-
versos- a encher as estradas de vo, com agrônom os especializados
nostalgia na m archa len ta dos de Uberaba. O holandês já é ou
bois. Tem tam bém o efeito m ági tro concorrente, adaptado por
co de acalm ar as rêzes que pos criadores sertanejos de A lagoas ao
suem senso de compreensão m u clim a nodestino pelo m ilagre da
sical igualzinho aos homens que P A L M A S A N T A . C ratç é das três
as conduzem. cidades nordestinas a possuir ex
O vaqueiro está prestes a de posição de cava ter regional, o ficia
saparecer do cenário nordestino lizada.
As grandes m archas de bovinos, A adaptação do gado holandês
com aqueles cavaleiros, encoura- ao clim a nordestino m erece regis
dos a aboiar, está se confinando tro especial. É m ilagre da tena
bastante. O transporte da boiada cidade de sertanejo. Quem diria
se fa z presentem ente em possan que aquelas rêzes, habituadas ao
tes cam inhões engradados, sem conforto dos estábulos e à tem pe
aboio, sem m angas ou pousos em ratura fr ia de seu país de origem
cam pos abertos. poderíam viv er tão bem em zona
Ozael Medeiros acabou por sêca de pleno Nordeste brasileiro
deixar o comércio que o prendeu Há pouco tem po, ainda no
por ancs. Só existe agora no m es mês de Outubro do corrente ano,
mo ramo, mas com novo m étodo Os cratenses aficcionados à criação
de transporte, c fazendeiro M ário — Dr. Jósio de A len car Araripe.
Alves, a com parecer em tôdas as Joaquim M onteiro e Juarez R ib ei
exposições de animais, com raça ro Lobo, visitaram a B A C IA L E I
cada vez m ais pura. T E IR A de Alagoas. Já se depara
Ozael estabeleceu-se em Crato ram com téenicos-pecuaristas n or
com ram o de negócios, fixo. Ca- te am ericanos que não escontra-
scu-se com cratense Dona M a riêta \am explicação plausível como j .c
Gomes de Matos Medeiros. Educa poderia criar gado holandês, ro
os filhos, alguns em Recife. Não busto, sadio e com produção avul-
esquece êle, porém , aqueles dias e tada de leite, em terras quentes,
mêses, quando atravessava estra à base alim entar de -cactos, como
das e m ais estradas, na pisada sucede ali, em Alagoas, nas v izi
tarda da boiada, revia o velho S. nhanças do rio São Francisco.
Francisco, subia e descia serras, A cham ada B acia L eiteira de
com o aboiar plangente dos v a A lagoas compõe-se de municípios
queiros, ou ficava em cintacto com de B atalha, M a jo r Isidoro e Jacaré
horizontes novos. A alm a da gen dos Hcmens. Ficam num a distân
te esquece sempre as canseiras, cia m édia de 35 léguas de M aceió.
para viver de saudades das coisas Compõe-se de terrenos ondulados,
boas. Cumpriu bem a sua missão. parte plana, compostos de barro
Renovou o rebanho bovino da ter com areia > com 300 metros de al-
ra que o acolheu tão carinhosa iitude. A pluviosidade é rela tiv a
m ente e que preferiu para berço m ente pouca. Caem m ais nebli
de seus filhos. nas do que chuvas pesadas. O rio
H o je em dia não há mais Ipanem a que passa naquelas pa
necessidade daquele comércio. As ragens raram ente dá enchente. A
transações são realizadas no re palm a doce, pouco adaptável em
cinto das exposições, com em p rés outras terras é alim ento principal
timos bancários a longo praso. O do gado, medra, com tôda a pu-
12
jança/ saqueies terrenos. Além BU. Os uberabenses não espoca-
disso não escasseiam “ capim-ver- ram em vão os seus foguetes nem
de”, elefante e outras variedades. a sua charanga tocou dobrados em
A S U D E N E para suprir a falta homenagem a qualquer político
d’água instalou perfeito serviço de que já passou, sem qualquer ras
canalização para abastecer tôda tro. Uberaba teve visão exata do
aquela im portante zona pecuarista' futuro em recepcionar <ão ccndig-
O holandês da R AÇ A L E IT E I namente o zebu. Veio na quali
R A DE A LAG O A S não é puro. É dade de salvador econômico da
cruzado com o zebu, em tôdas as zona. Ficou e assenhorou-se da
modalidades. A produção leiteira terra, estendeu-se depois pelo Bra
é enorme, consumida localmente, sil todo. Uberaba engrandeceu-se.
exportada para Salvador e Maceió Agora é das urbes que mais pro
ou empregada na fábrica de lati gridem em todo o país. Mas, ve
cínios Sta. Maria. Há vacas que jamos o trecho do livro de Lima
alcançam média de 35 litros de Barreto :
leite diariamente. A tarefa de ter “ — Eu não quero adiar o pra
ra, naquela redondeza, é vendida zer que te prom eti
a razão de 200 cruzeiros novos. — Qual ?
Não falta serviço para o trabalha — A leitura destas lindas
dor rural que pode plantar tam crônicas da “ GAZETA DE
bém feijão mulatinho e outros ce UBERABA” .
reais. — Vamos ler.
O gado em pé é exportado p a — Trata-se da chegada a U-
ra o Norte e anualmente é expos beraba de alguns poetas ?
to na Exposição Centro Nordestina — Não.
de Animais e Produtos Derivados — De naturalistas ?
de Crato e em exposição de outras — Não. Trata-se da chegada
zonas; e em Alagoas importam re de reprodutores zebus. O
produtores holandeses da colônia jornal ocupa-se com o fato
flam enga de Castr^lândia, no Pa em três colunas e começa
raná e zebus do Triângulo Mineiro. assim: “ ainda uma vez
Todo gado, de sangue zebu Uberaba teve o ensejo de
que nos veio da Bahia é originário constatar o quanto pode a
do Triângulo e mais remotamente iniciativa de seus filhos,
da União Indiana. etc., etc.
Lim a Barreto, o talentoso mu- Continuou a ler e em outro
lato, que deixou obra imorredoura, ponto disse-me :
ao criticar, com sarcasmo, a re —• Guarda essa frase : bate
cepção aos antepassados zebus, em dores de uma nova cruza
Uberaba, não advinhou a avulta. da, etc.
da importância daquela raça na Encomendou a leitura e, em
economia e no progresso do T r i dado m cmentoj chamou-me a a-
ângulo Mineiro. F oi isso em V I tenção :
D A E MORTE DE M. J. GONZAGA — Olha êste pedaço: “ embo
DE SÁ, escrito no ano de 1908. ra o adiantado da hora,
R elata as festas com que aquela grande massa do povo,
cidade acolheu os primeiros repro calculada em cerca de
dutores de gado de cupim, proce quinhentas pessoas, etc.
dente da índia. Agcra é ela a ra i “ Que multidão ! Hem ?
nha incontestável do REINO ZE Reencetou a leitura e não tar-
13
dou em interrompé-la para subli cetro do império do zebu da pró
nhar certo trecho : pria União Indiana, que lhe man
Nota que houve música (então dou os primsiros reprodutores.
quando chegaram os touros e as Aquela festa repercutiu em
vacas) a banda SANTA CECÍLIA todo o Brasil. O gado novato tão
rompeu brilhante dobrado e nu adaptável ao sertão, irradiou-se
tridas aclamações se fizeram ou em todos os quadrantes. Pelos an
vir. Vivam as vacas ! — acres tigos caminhos das entradas baia
centou Gonzaga. nas, chegou ao sul do Ceará e
Seguiu por diante a sua lei ficou.
tura e, em certo tempo, disse-me: O S. Francisco foi o rio da ci
— Observa êste pedacinho vilização e da unidade nacional,
“ vieram alguns indivíduos antes conduziu indígenas para o
N ELO R E... destacando-se Cariri, depois povoadores da Bahia
um pelo belo porte e be e de Sergipe, mais tarde o gado
leza” . zebu e holandês.
Abaixou o jornal e considerou: Em 1960 chegaram ao Vale
— Imagina tu quantas vacas Caririense, os fios redentores da
amorosas não o esperavam CHESFj criando novas riquezas
em Uberaba” . especialmente com apreciável sur
Não advinhava o escritor que to industrial. A principio foi atin
nem poetas nem naturalistas te- gida pela crise nacional e regional.
riam influído tanto nos destinos de Agora começa a refazer-se, a equi
Uberaba do que aquelas rêzes que, librar-se, graças à cooperação se
com razão e perfeita previsão do gura da SUDENE.
futuro foram estrepitosamente a- A missão do grande rio é emi
clamados na acanhada cidadesi- nentemente civilizadora, não só
r.ha de outrora, hoje capital natu para o Vale Caririense como para
ral do Triângulo Mineiro. Em importante trecho deste nosso
certos pontos já roubou até o Brasil.
O D I V I N O J E S U S
DA TÜNICA INCONSUTIL LHE DESPIRAM,
DEIXANDO O TORSO NU E O AÇOITARAM.
ESPINHOS NA CABEÇA LHE PREGARAM
E EM SEU RÔSTO PURÍSSIM O CUSPIRAM
TÔDO O CÔRPO SANTÍSSIMO FERIRAM
E NAS MAOS UMA CANA COLOCARAM.
SÔBRE OS OMBROS UM MANTO LHE JO G A RA M ...
DO SEU ESTADO, LASTIMOSO RIRAM.
Á CASA DE PILATO S FOI LEVADO
E AO PÔVO ENFURECIDO APRESENTADO :
— “ QUEREMOS BARRABÁS ! MORTE A JESUS ”
O CALVÁRIO SUBIU SOB O MADEIRO,
AQUELE QUE SALVOU O MUNDO INTEIRO.
— O DIVINO JESUS, MORRE NA CRUZ.
14
“0 Dia Santo da Pátria"-
Gen. Raimundo Teles Pinheiro
(PALESTRA PROFERIDA NO
SALÃO NOBRE DA FENIX
CAIXEIRAL DE FORTALEZA.
AOS 4 DE SETEMBRO DE
1969)
15
contraposto a uma Herança e uma dos em que se tem divulgado ta
Bandeira (a tricolor) sôbre a crise manha estultície ? Haverá, pelo
de mudança nos países que surgi respeito e amor à autenticidade
ram: Estandarte, Princípio e Idéia dos fatos, quem ignore que, em
de Nacionalidade” ). holocausto à nossa desejada AU
Recordar-vos — dispertando, TONOMIA PO LÍTIC A, derrama
acicatando o sono profundo da ram precioso sangue Filipe dos
memória —• a clarividente adver Santos, Tiradentes, os mártires de
tência do sagaz D. João V I ao seu 1817, entre tantos outros, e terem-
reconhecidamente fogoso filho D. se travado, na Eahia, até 2 de
Pedro, no justo momento do seu julho de 1823, cruentos combates
forçado e indesejado regresso a contra as tropas portuguesas de
Fortugal, sôbre a preciosa corôa Madeira de Melo, e jorrado sangue
do vasto Império que poderia ser de bravos e inesquecíveis patrio
arrebatada e facilmente preada tas, inclusive de humildes e santas
por audacioso aventureiro inescru- freiras, como ocorreu sàdicamente
puloso ? com a heroina Joana Angélica ?
Rememorar-vos carinhosamen E que, aqui pertinho de nós,
te, pleno de sagrada unção, deta no Piaui e no Maranhão, comba
lhada e minudentemente, o efici teu-se violentamente, de fevereiro
ente engenho, o tremendo esforço, a 31 de julho do citado ano de
o extremado denôdo, as cruciantes 1823, bem assim, como insofismá
canseiras, os inauditos sacrifícios, vel e x e m p l n o sangrento comba
as incontáveis lágrimas, o inconti- te de GENIPAPO, travado em 13
do e pegajoso suor, o volumoso de Março — aií, nas proximidades
sangue empenhados, valorosa, ab da atual cidade de Campo Maior,
negada e patrioticamente, pelos — entre as tropas do intrépido
inolvidáveis construtores da INDE valoroso e experimentado Major
PENDÊNCIA POLÍTICA, que até o João José da Cunha Fidié e as
presente momento vimos desfru dos patriotas independentistas pi
tando e desfrutaremos, acoberta auienses e cearenses da área ibia-
dos pela graça DIVINA, sempre e pabana e adjacências, tiveram es
evidentemente ?.. . tas 2C0 mortos e feridos, além de
Aspiramos, óbvia, honesta e 542 prisioneiros'?
veementemente, eliminar crimino E mais, que os bisonhos, po
sos equívocos, restabelecer a ver rém valorosos soldados nordestinos
dade histórica, entronizando pa comandados pelo Capitão-Mor do
trioticamente a justiça em tôda a Crato Pereira Filgueiras —■ Gene
sua plenitude : ral em Chefe — Tristão Gonçalves
Costuma-se dizer, e está escri de Alencar Araripe, Simplício Dias,
to clamorosa, desgraçada e crimi Souza Martins (posteriormente
nosamente, de modo geral, que foi Visconde de Parnaíba) e Melo Cé
incruenta a nossa INDEPENDÊN sar, combatendo denodadamente,
CIA e trombeteia-se em todos os forçaram a capitulação de Caxias
quadrantes, o GRITO simbólico do (onde se recolhera Fidié depois da
IPIRANG A, como se não fôsse êle vitória de Puro alcançada sôbre
apenas um momento, um momen os independentistas nos Campos de
to simbólico, é verdade, de pro GENIPAPO), após três longos e
longado e sanguinolento processo penosos meses de violento assédio
político. E s ó ... aos reinóes, brava e eficientemen
Esteiados, estruturados, basea te comandados pelo já citado Fi-
16
dié, e constituíam o último núcleo mórias, porque indubitavelmente
de resistência portuguèsa organi imperecível.
zado na América, orçavam por Pouco mais podemos recor
8.000 homens, vultoso efetivo para dar, portanto; mas podemos, que
a época e o meio ? Bem como remos e devemos afirmar, plena
que aludido efetivo era superior mente convencidos de que, nesta
aos dos Exércitos comandados, res clamorosa e esfingética quadra de
pectivamente, pelos grandes liber decepções incontáveis e apreensões
tadores americanos Bolivar e San atordoantes. nossos amoráveis co
Martin ? (O maior, organizado pe rações, nosso honesto e criterioso
lo primeiro, tinha 7.000 homens e senso de responsabilidade e com
o organizado pelo segundo, apenas preensão, reverenciam contrita-
5.000). mente a memória dos incansáveis
São evidentemente válidas as obreiros que tudo empenharam,
gritantemente verídicas afirm ati sacrificando-se, não raro perdendo
vas dc eminente médico e imortal a vida preciosa, pelo nobre ideal
escritor Afrânio Peixoto, em con de criar( emoldurar e conservar,
ferência proferida aos 2 de julho até os nossos angustiantes e tur
de 1923, no Instituto Histórico bulentos dias, c grande e primoro
Brasileiro, no Rio. so quadro da NAÇÃO B RA SILEI
Ouçamo-lo com unção : “ O RA.
Norte, era então o principal do Exmas. Senhoras e Senhores.
Brasil; dois têrços de sua ativida Demais listintos e atenciosos
de útil, o que os portuguêses mais cuvintes.
guardavam e onde acumulariam Já o dissemos alhures, em cir
seus elementos de resistência. No cunstâncias idênticas, inebriados
Sul, a Independência foi “Te- por profunda e sacrosanta devo
Deum”, beija-mão, aplausos, lumi ção ao querido Brasil e a seus g i
nária, flores, fitas e proclamações. gantescos construtores, a par de
No Norte, sítio e trincheira, fome esfusiante contentamento de sin
e peste, sangue e morticínios... cero patriota, ungidos plenamente
Aqui a adesão; lá a guerra” . .. pela mesma exaltação cívica de
Retomando a posse da pala amor à órdem e às instituições :
vra, prossigamos. Recordar-vos, Cada um de nós aqui presen
em suma, que LIBERDADE e IN tes — permitimo-nos afirmar com
DEPENDÊNCIA eram uma idéia, veras segurança — estamos ele
primorosa idéia em marcha sem vando uma sincera prece a DEUS
vacilação e uma contingência do ONIPOTENTE pela alhia daquêles
século — auridas no humos des- inesquecíveis titans que, com o
humanamente sanguinolento da cérebro, com o vigor de potentes
Revolução Francesa — abundante músculos, com a generosidade dos
mente propagadas na vasta am pulcros corações, o elevado calor
plidão ecumênica da América La do seu estuante sangue, argamas-
tina ? saram e erigiram o indestrutível
O indelével quadro de tão ra edifício da NACIONALIDADE a
ro lavor artístico, de civismo, de que pertencemos e se chamam,
amor à terra-mãe, é do conheci sim, chamam-se porque aqui pre
mento e sentimento de todos, e sentes nesta memorável e esplen-
permanecerá sempre, evidente e dente solenidade; F IL IP E DOS
eviternamente, em nossos corações^ SANTOS, TIRADENTES, JOSÉ BO
em nossas almas e em nossas me N IFÁC IO DE ANDRADA E SILVA
17
JANUARIO DA CUNHA BARBOSA Cultivemos o amôr, “ porque o
GONÇALVES LÊDO, CLEMENTE amôr é o mais belo sentimento da
PEREIRA, FEIJÓ, LUIS ALVES DE natureza humana” ; sejamos since
LIM A E SILVA, PEDRO PRIM EI ros, qualquer que seja” o ambiente
RO, MARIA QUITÉRIA DE JESUS, das nossas atividades e o alcance
PEREIRA FILGUEIRAS, TRISTÂO da nossa influência” ; elevemos “ o
GONÇALVES DE ALENCAR ARA- orgulho da profissão e o prazer
RIPE, JOÃO CÂNDIDO DE DEUS corajoso do trabalho, qualquer que
E SILVA, SOUZA MARTINS, SIM- seja a nossa ocupação, e nas can-
PLÍCIO DIAS E SILVA, entre tan seiras, nas suas vicissitudes, nos
tos outrcs bons e insignes patrio desalentes pecaminosos cantemos
tas envoltos no tenebroso manto ditirambos ao dever bem cumpri
do anonimato. do”.
E então, conscientemente, ca Exmas. Senhoras e Senhores.
lorosamente, podemos e concita- Senhoritas.
mcs a todos — para que perma Numa sincera, verdadeira e
neçamos dignos dos nossos valoro contrita majestosa prece, nas vés
sos antepassados — que juremos, peras do “DIA SANTO DA PÁ
plenos de verdadeira fé, dedicado T R IA ”, que ora cultuamos com ar
e carinhoso amôr, férrea e convic dor cívico incomparável, perore-
ta vontade, conservar, melhorando mos inspirados no genial Rui Bar-
tenaz e incesantemente, o precio bosa :
so e proeminente monumento por Acatemos e elevemos a justiça,
êíes edificado e a nós legado. “porque da justiça nasce a confi
E para tanto, como cantaria ança, da confiança a tranquilida
o inspirado poeta — principe Gui de, da tranquilidade o trabalho,
marães Bilac : “ Amemos calorosa do trabalho a produção, da pro
e sinceramente a PÁTRIA, sagra dução o crédito, do crédito a opu
do e estimado escrínio que contém lência, da opulência a respeitabi
a nossa Terra, a Família, a Lin lidade, a duração, o vigor”. E
guagem com que exprimimos os mais, para finalizar êste aranzel
nossos pensamentos, a Igreja que que já vos fa tig a : firmados na
alivia as apoquentações das nos “ moderação e na tolerância, no
sas dôres, a História que enfeixa progresso e na tradição, no res
as viris tradições dos nossos maio peito e na disciplina, e no valor
res e a jovem raça que, lenta mas insuperável das capacidades” ,
progressivamente, esteriotipa, os SIRVAMOS BEM AO BRASIL.
marcantes e humaníssimos traços Jamais, em tempo algum, alie
de nosso povo” . nemos a ambicionada e sacrosanta
Preocupemo-nos, sempre e condição de bons e, se possível,
constantemente, com a “a prática excelentes BRASILEIROS !.. .
incessante das virtudes pessoais,
domésticas e cívicas” ; eliminemos
AUTORES CONSULTADOS :
a “ indigência dos instintos e mo
ralizemos a fraqueza das paixões, —• Oliveira Lima
enamorando-nos perpetuamente da — Hermínio de Brito Conde
honra” ; cultivemos a “ intrepidez — Olavo dos Guimarães Bilac
sem violência, a prudência sem — Rui Barbosa
timidez, a firmeza, sem que, ja — J. Denizard M- de Alcântara
mais, a nossa perseverança se re- — Raimundo Teles Pinheiro
paste na desdita de outrem” ... (Trabalhos anteriores)
18
Indústria de Massas Alimentícias GESSI
I M AG
ESMERADA FABRICAÇÃO DOS MAIS
AFAMADOS BISCOITOS E MACARRÕES
P R O D U T O S
D E
ALTA
Q U A L I D A D E
Apoio financeiro
Convênio :
B N B
SUDENE Rua Santos Dumont, 20/22
CODECIF CRATO — CEARÁ
V, ✓
CADISA
Caruaru Diesel S. A.
VEÍCULOS, PEÇAS E ACCESSÓRIOS
INTERIOR DE PERNAMBUCO
E NO CARIRI
CRATO — o— CEARÁ
j
Toma posse da Cadeira N. 1,
de Ciências, tendo como Patrono
o Dr. Barreto de Sampaio,
o Dr. Napoleão Tavares Deves.
Patrocínio do Lions Clube de Barbalha
Sob o patrocínio do Lions Clube Neves, o conferencista e vários
de Barbalha, realizou-se na noite membros do Lions Clube, Dr. Mar-
de 28 de Setembro de 1969 a Sessão chet Callou, Dr. Napoleão Tavares
Extraordinária do I. C. C. que deu Luz, de Jardim, Dr. Lyrio CaUou
posse ao Dr. Napoleão Tavares Ne Pe. Temoteo, Pe. Manfredo. En
ves na Cadeira n.° 1 da secção de cerrada a reunião do Lions pelo
CIÊNCIAS e que tem como patrono Snr. Edmundo, o presidente do I.
o saudoso cientista Barbalhense — Cultural do C^riri iniciou a magna
Dr. Barreto Sampaio. Os traba assembléia explicando a sua fin a
lhos ocorreram no Cetama Clube, lidade e dando a palavra ao Prof.
cheio, feericamente iluminado e José Newton AlVes de Sousa que
artisticamente decorado. Foi pre fêz a oração de recepção ao Dr.
sidida por J. de Figueiredo Filho Napoleão. E;te seguiu-lhe com a
que compôs a mesa com o Dr. palavra. Todos os dois discursos
Edvar Teixeira Ferrer, presidente serão publicados nas páginas desta
do Centro de Cultura de Juazeiro, revista, como atestado das sessões
Snr. Edmundo Sampaio, o anima mais brilhantes do I. C. C. O P re
dor principal daquela promoção e feito Antônio da Costa Sampaio,
quem abriu a sessão, Dr. José convidado pelo presidente do I. C.
Newton Alves de Sousa, Snr. José C„ com belas palavras encerrou
de Sá Barreto, Presidente da C â aquela magna sessão. Seguiu-se
mara Municipal de Barbalha, Snr. lauta mesa de bebidas e comple
Antônio da Costa Sampaio, Prefei mentos da festa do Lions Clube de
to Municipal, o Vigário da Paró Barbalha. O secretário foi o jor
quia — Pe. E. Oliveira, Dr. Anibal nalista Huberto Cabral e aquela
de Figueiredo, do Rotary de Crato, reunião deixou a melhor repercus
Antônio Correia Coelho, tesoureiro são, como ponto máximo da cul
do I. C. C., Dr. Napoleão Tavares tura caririense.
21
Discurso do Professor José N ew ton
A lv e s de Sousa, saudando o primeiro
ocupante da Cadeira de Secção de Ciências,
Dr. N ap ole ão lavares N e ves
22
nho não conflita com o Centro In Cariri incluiu vosso nome entre os
dustrial de Aratu. Ali, prosseguis que devem constituir sua Secção
tes em vosso aprendizado e assi de Ciências, foi porque reconheceu
milastes lições de bahianidade, que vossos méritos e confia em vossos
é uma fórmula concentrada de ser conhecimentos.
bom. Vosso Patrono é o oculista Bar-
De Salvador, fostes para Recife, rêto Sampaio, de ilustre memória.
onde os rios e o mar são íntimos Entrais para o Instituto sob a
e onde fizestes vossos estudos su tutela de um luminar desta terra.
periores. O interior, Senhores, pode ser
Recife, que também é tão nossa, alguma vez esquecido, mas nunca
havia-nos talhado bacharel em deixou, nem deixará, de ser berço
Medicina, para em Barbalha ser e forja de grandes homens.
des médico. O Instituto Cultural do Cariri,
Jardim fôra-vos o bêrço. Crato abre, com vossa entrada nêle, nova
constituira-se, para vós, a primei página em sua fecunda história.
ra grande escola. Fortaleza vale- Vós, Senhor Doutor Napoleão
ra-vos como experiência vestibular Tavares Neves, sois dela a razão
ao grande mundo. Salvador re- de ser, lustre e esperança.
temperou-vos a brasilídade. Reci Em vosso encalço, outros virão,
fe profissionalizou-vos. em sucessões horizontais e verti
Barbalha seria um retorno. Uma cais.
segunda Jardim. Apenas, aqui, a Ficai certo, porém, de que vosso
ordem da vida viria a ser outra: nome é já um marco.
do impulso de transitividade, que Êste ano, comemoramos o bicen
leva o homem a buscar na esposa tenário de Napoleão Bonaparte.
o acusativo substancial, o comple Seria o ano dos Napoleões ?
mento afetivo do coração, terra Só sabemos que não haverá blo
lírica onde brotam todas as flores e queio nem “ Santa Helena” .
podem repontar todos os espinhos. Bloqueio é imperialismo e vio
Jardinense e jardineiro, plantas lência, e vós lutais pela causa do
tes o amor pelo casamento, espa próximo, curando corpos e ilumi
lhais o bem pela profissão e a nando inteligência.
verdade pelo magistério. “ Santa Helena” é insulamento e
Sabemos todos que sois, simul vós sois uma presença viva na co
taneamente, homem inteligente e munidade que hoje vos homena
homem da inteligência. De vossa geia, do modo mais consagrador.
pena, pela “ Itaytera” tem dito co Tomais assento na Cadeira N.°
mo é brilhante, e de vossa pala 1, da Secção de Ciências, do Insti
vra os auditórios testemunham tuto Cultural do Cariri.
como é fluente e erudita. Bem o mereceis, e nós vos aplau
Quando o Instituto 'Cultural do dimos.
23
Dr. NAPOLEÃO TAVARES NEVES
24
quem, nesta hora festiva, rendo as as mais gratas recordações que
minhas homenagens por haverem deixaram marcas indeléveis na
reivindicado a promoção desta fes formação da minha personalidade,
ta e mais ainda, por fazerem do incólumes à ação deletéria da po
seu clube a fonte natural de todas eira dos tempos. Sois, não há
as sadias iniciativas que ornamen negar, a ebulição cultural de um
tam com as flores do progresso e povo adulto que caminha para o
da cultura a vida da nossa comu futuro certo de alcançá-lo, porque
nidade. busca nas tradições imarcescíveis
de um passado glorioso, o refrigé-
Pois bem, fazendo do “ Cetama rio para as horas de canseiras da
Clube” o seu refúgio nesta noite longa caminhada na passarela dos
de cintilações primaveris, na qual séculos, balsamisada sempre pela
lá fora o brilho das estrelas pare brisa da Liberdade. que no Ceará
ce festejar no firmamento inco- fez do Crato o seu esplendido ber
mensurável a conquista da lua pe ço e o fulcro onde se apôia a ala
la tecnologia humana, o Instituto vanca dos cometimentos intelec
Cultural do Cariri, solenemente, tuais e cívicos do Cariri.
recebe como seu membro o modes
to orador que vos fala e que, da E deslumbrado pelo brilho ofus
planície do seu anonimato intelec cante desta solenidade, eu me per
tual contempla embevecido, como gunto a mim mesmo e vós da pla
amante das boas letras, os pínca téia haveis de perguntar uns aos
ros já alcandorados de glórias e outros ou de si para s i : “ Como
de conquistas da cordilheira inte aconteceu isto ? Por que emergi
lectual formada por aqueles que da minha obscuridade, do isola
em boa hora o criaram, mais que mento compulsório’’ da minha mo
isto, projetaram-no nacionalmente. desta clínica para as eulminâncias
E ao vos contemplar posso bem desta evidência ? Não s e i! Per
aquilatar o desnível cultural da guntai a Figueiredo Filho cuja
planície onde me situo sem falsa grandeza de coração aqui me
modéstia, para a cordilheira ma trouxe e à benevolência de que
jestosa que sois vós, Instituto Cul farto o coração dos que fazem esta
tural do Cariri, personificado nes Casa de cultura que me não bate
ta magnífica seleção de homens rem a porta, permitindo que eu
de pensamento em plena maturi entrasse para ser um de vós, “ em
dade intelectual e no apogeu efer bora sabendo não ser o esperado,
vescente de uma atuante vivência o candidato ideal entre tantos va
cultural, completada por esplêndi lores que ainda estão do lado de
da e sadia experiência humana. fóra’’. Fui entretanto, o eleito,
arrancado do anonimato de minha
Modestamente eu vos contemplo vida de médico sertanejo para,
e no vosso meio identifico figuras perante vós, defender uma tese e
exponenciais da cultura caririense ocupar, por via de consequência,
em todos os campos da seara do uma das cadeiras de Ciências do
pensamento, alguns dos quais Instituto Cultural cio Cariri. Co
meus antigos e diletos mestres, de mo era natural, recebi o honroso
cuja convivência no velho e sau convite como um tremendo impac
doso ginásio -do Crato, nos albores to e atônito, fiquei indeciso entre
da minha vida estudantil, guardo aceitar tão grande honraria e não
25
aceitá-la, porque, sem falsa mo outros criaram e -.esde os meus
déstia, rebusquei no meu cérebro bons tempos de ginasiano no sau
o lastro de cultura indispensável doso e querido Ginásio do Grato
ao bom cumprimento de tão difí até os tempos da Faculdade nun
cil missão e não o encontrei. Que ca deixei de ler tudo que estivesse
fazer, então ? Como desincum- ao meu alcance, nunca perdi ses
bir-me de tão honroso mandato ? são c'vicar ou literária, sessão do
Com que roupagem apresentar-me juri ou comício e até fui assíduo
perante tão seleto convívio e tão frequentador das sessões públicas
exigente auditório ? Uns aqui vie das Academias de Letras do Ceará-
ram saídos das lides jornalísticas. da Bahia e de Pernambuco.
Outros: do brilho das tribunas sa Lançando um olhar retrospecti
cra ou civil. Outros mais da pro vo aos caminhos palmilhados é
ficiência das cátedras e alguns até fácil recordar como se fosse hoje,
da glória literária que as vitrines com que embevecimento ainda gi
das livrarias e editoras infundem nasiano ouvia no Crato a palavra
àqueles que materializaram a ân fulgurante de Aluísio Epitácio P e
sia de criar em alguma obra de reira, Elísio Gomes de Figueiredo
sucesso regional ou até nacional, e Mlonsenror Antônio Feitosa. Pos
como é o caso do vosso grande teriormente, em Fortaleza, nunca
Presidente que, nesta sua inquieta perdi um concurso de Catedrático
juventude de cabelos brancos, apa fosse qual fosse a Faculdade que
rece simultâneamente nos jornais o realizasse. Assim conhetd e ou
do Cariri, de Fortaleza e de Recife, vi entre outros Hermes Lima, H a-
no mostruário das nossas livrarias roldo vaiadão, Joaquim Pimenta e
e vez por outra ainda costumo Djacir Menezes. Podia nada en
apreciar a beleza do seu estilo le tender do assunto debatido, mas
ve, escorreito e convincente na era o primeiro da fila a ouvir a-
“ Revista Brasileira de Medicina” tento o que se discutia ! Mais tar
onde o seu castiço vernáculo leva de, na velha e querida Salvador,
Os temas para — médicos do nosso nunca perdi nenhum discurso dos
amado rincão ou na revista “B ra maravilhosos tribunos daquela en
sil Açucareiro” por êle escolhido cantadora terra, tais como: Otávio
para falar de agricultura, base da Mangabeira, João Mangabeira, Pe
nossa economia. E eu ? que li dro Calmon, Antônio Balbino, A-
nhagem literária ou cultural vos loísio de Carvalho Filho, Orlando
traria para vossa apreciação ? De Gomes, Estácio de Lim a e Pinto
súbito encontrei algo que justifi de Carvalho. Ainda na Bahia
casse a ousadia de haver atendido perdi um dia de aulas no Curso
ao vosso chamamento : “ Na vida Científico pelo prazer de ouvir
acompanhou-me sempre uma Erico Veríssimo na Academia Ba-
constante, qualquer que fosse o hiana de Letras. Finalmente em
caminho percorrido. Uma exigên Recife, onde fiz o curso médico,
cia da própria natureza que, não onde quer que falassem D. Antônio
se afeiçoando a outros prazeres, se de Almeida Morais Júnior, Vaide-
recreava nos livros, adquiriu a pai m ar de Oliveira, Bezerra Coutinho,
xão da leitura” e não sendo um Gilberto Freire, Nilo Pereira, Fran
criador de belezas literárias sou, cisco Montenegro, alí estava eu a
entretanto, um eterno e apaixona escutá-los! Lembro-me que ain
do admirador das belezas que os da em Recife retardei dias de fé
26
rias para ouvir Afonso Arinos de Dr. Carlos Chagas cuja dedicação
M elo Franco, Alcides Carneiro, ao estudo e amor à pesquisa ci
Carlos de Lacerda, Fernando F er entífica possibilitaram o descobri
rari e Peregrino Júnior. E mesmo mento de tão grave moléstia até
hoje, apesar do azáfama da cl.nica então total e universalmente des
sertaneja, ainda saio para Jardim conhecida. Sim, porque a “ Doença
pelo prazer de ouvir o verbo arre de Chagas” é uma doença desco
batador de Napoleão Neves da Luz, berta no Brasil e, fato raro ou úni
poéta e médico, ou para Crato pa co no mundo, descoberta por um
ra deleitar-me com a palavra de só homem desde o agente etiológieo
Monsenhor Rubens Gondim Los- ou causador ao agente transmis
sio, professor José Newton Alves sor ! É portanto, um problema de
de Sousa, ou Dr. Raimundo de O- saúde pública muito nosso, mas
liveira Borges, entre outros, todos também nossa e só nossa é a gló
oradores espontâneos, fluentes e ria de tê-lo revelado ao mundo.
sonoros, como sonoras, fluentes e
espontâneas são as fontes crista Nada de novo vos trago, portan
linas que brotam do sopé da nossa to, além do que o mundo já sabe
majestosa Araripe. Com isto que sôbre tão alarmante doença de
ro justificar a ousadia de haver grande morbidade e relativa mor
aceito o vosso convite. Além do talidade, entretanto, trago-vos a
mais, diz o grande José Américo côr local da moléstia, os matizes
de Almeida, que “ a palavra é a caririehses dessa endemia que até
mais nobre faculdade do homem, bem pouco tempo ouvíamos falar
não deve morrer na garganta-’ e como um grave problema de saúde
após muito refletir, senti ser um pública lá do distante interior de
imperativo de consciência atender Minas Gerais e longe estavamoi
ao vosso chamamento porque, co de supor que sorrateirameníe o
mo médico e como caririense, ja “ barbeiro” , seu transmissor, inva
mais me perdoaria se deixasse fu dia o Nordeste e o Cariri sem que
gir esta m agnífica oportunidade o percebessemos. Hoje êle já é f i
de falar a uma platéia culta e res gura popular entre os nossos rurí-
ponsável sôbre um assunto que me culas que o conhecem por “ proco-
tem apaixonado desde os bancos tó” e em propriedade agrícola ^e
acadêmicos aos dias atuais e que minha fam ília no Município de
escolhi para tema da minha tese: Porteiras, ao fazer um ligeiro in
“A doença de Chagas no Cariri quérito epidemiológico sôbre a
Cearense” . Mesmo assim, não dei presença desse horripilante Tria
xa de ser uma temeridade esta tom'deo nas casas de taipa dos
ousadia, todavia, a mesma bene nossos operários, tive uma cho
volência que vos fez chamar-me cante surpresa ao ouvir do mora
far-vos-á aturar-me e aqui estou dor da primeira casa visitada esta
sem pretensões de brilho literário terrível resposta na sua matuta
ou eloquência oratória, sem lastro linguagem : “ Doutor, mais não,
de cultura cientifica e sem acres mas meio litro aqui em casa dá
centar novidades minhas a êsse para se arranjar” ! E efetivamen
palpitante tema ao qual tantos te nessa casa foram encontrados
luminares das ciências médicas “ barbeiros” suficientes para en
brasileiras emprestaram o fulgor cherem um terço de um vidro va-
dos seus talentos, a começar pelo sio de sôro de 500 cc de volume !
27
Acreditai-me, pois, senhores do feitua pelos séculós sem fim a face
Tsstituto Cultural1 do Cariri, aqui do genero humano, como se arame
vim principalmeníe porque senti farpado e pedra fossem barreiras
que estaria prestando um serviço capazes de deter a ânsia de Liber
à nossa terra e a nossa gente, fa dade que nasceu com o homem e
zendo-as melhor conhecedoras do ostensivamente ou veladamente
um assunto que precisa ser tem reside no seu coração distinguin-
conhecido por todos nós, médicos co-o dos outros seres.
cu não, jovens ou velhos, para que Bois bem, senhores, aqui estou
do seu mais amplo e melhor co não somente pelo vosso convivio
nhecimento, possa sair uma ajuda mas, porque senti que esta augusta
mais efetiva da nossa parte na lu casa que tanto honra a cultura
ta que visa livrar a nossa gleba nordestina, seria um magnífico
amada de um problema que, se é amplificador onde minhas despre
gravíssimo no presente, será no tensiosas palavras encontrariam
futuro um verdadeiro flagelo, tais eco nas inteligências criadoras dos
os danos que poderá nos causar, que a constituem, na cultura mul-
minando a já combalida saúde do tifacetada dos que a enobrecem e
nosso povo, sobretudo do povo no talento fulgurante dos que a
sofredor e humilde da nossa zona dignificam levando-lhe além fron
rural que, mesmo abandonado, é o teiras o nome já aureofado, sali-
sustentáculo da nossa economia, entando-se sobremodo a pertinácia
viga mestra do nosso progresso, dêste inimitável Figueiredo Filho,
até do nosso incipiente progresso bandeirante da cultura- caririense,
industrial, porque fonte, por seu porta-voz das forças vivas do nos
turno, da nossa matéria prima ar so rico folclore que, na feliz ex
rancada ao adusto solo nordesti pressão do Prof. Delgado, “ é mais
no, sabe Deus com que sacrifícios, do que um simples indivíduo; é
ainda a golpes de enxada, apesar uma força da terra, agindo e es
de vivermos no século X X , fabu timulando, metendo nas almas a-
loso século do domínio pelo ho Iheias a ideia de que a cultura tem
mem do espaço sideral e da con de ser uma form a de patriotismo” .
quista da lua, quando o Ocidente Outro nãc terá sido senão êste o
provou, mais uma vez, entre ou motivo principal de minha presen
tras coisas, aquilo que só os sec ça aqui, nesta noite de gala não
tários não querem aceitar : — Os das vossas vidas mas da minha
regimes políticos da livre empresa vida, quando genufiexo me posto
são mais propícios ao progresso diante da própria cultura cariri
material e espiritual1
, vale dizer, ao ense aqui tão magnificamente re
bem-estar humano, porque em úl presentada por esta pleiade de in
tima análise, a conquista da lua telectuais valorosos e vontadosos,
foi a vitória insofismável da tec que honrariam qualquer grande
nologia do mundo livre sôbre a centro de cultura, verdadeiros pio
tecnologia do mundo comunista ou neiros das boas causas do espírito,
mais poéticamente, já que falamos desbravadores autênticos que, em
da lua, foi a descida da Liberdade meio a hostilidades e incompreen-
na superfície selênica para evitar sões de toda ordem, conseguiram,
que lá descesse a opressão e den e que com altivez, dotar Crato e
tro em pouco erigisse um novo o Cariri de uma instituição como
muro de Berlim, estigma que de- esta que significa os seus foros de
28
terra civilizada, honra o seu pas como uma autêntica consagração,
sado de cultura, de lutas e de ci palavras nas quais além da sua
vismo e pressagia alvissareiramen inteligência pôs um pouco do seu
te o seu grande destino de lide grande coração que, segundo êle
rança regional. Êste acatado re próprio disse alhures, “ é sensível
cinto é hoje o refugio ameno da à Verdade e à Beleza, feito para
chamada “ Escola do Crato” que a Felicidade e o Bem ”. Graças a
deu ao Nordeste a revista “ Itay- estas duas beneméritas e incor
tera” e que tem em Figueiredo F i ruptíveis instituições, a seus mem
lho o caixeiro viajante das suas bros e a seus órgãos de divulgação,
preciosas joias literárias que êle, aqui se plasma sólida cultura re
com o desprendimento de bom gional sem regionalismos doentios
nordestino e êste seu jeitão de ou separatismo, mas pslo contrá
vaqueiro, sai espalhando por êstes rio prenhe do mais puro e sadio
Brasis tão vastos, tornando a nos nacionalismo, valorizando os fato
sa terra conhecida e respeitada lá res ecológicos e sociais do Cariri
fora e a nossa atividade intelec para integrá-los, burilados por
tual admirada até no exterior. mãos hábeis, no contexto nacional'
Tal tem sido a dedicação de F i da cultura brasileira. Sãc m ovi
gueiredo Filho a esta Casa que, se mentos de baixo para cima, do re
hoje fosse novamente escrever “ O gional para o universal, segundo
meu mundo é uma Farmácia” , p o as boas normas de desenvolvimen
dería sem pejo completar o título to cultural. Os nossos mais b ri
do seu grande livro, dizendo: “ O lhantes movimentos culturais são
meu mundo é uma Farmácia e o fermentações do espírito que têm
Instituto Cultural do C ariri'’. E na Faculdade de Filosofia do Cra
graças a esta febricitante ativida to e no Instituto Cultural do 'Ca
de intelectual êle hoje deixa de riri a sua sadia levedura cuja ação
ser uma glória do Crato e desta dinamizadora do nosso processo
Casa, para ser glória também do cultural finca as suas raizes pro-
Ceará e da Academia Cearense de fund amente nas tradições imacu
Letras e, por que não dize-lo, po ladas da grande terra cratense, so
dería como poderá ser glória da nho bom de Frei Carlos M aria de
própria Casa de Machado de Assis. Ferrara, outrora Aldeia do M iran
É graças a êle, graças ao Instituto da, hoje Crato, Princêsa do Cariri,
Cultural do Cariri e a “Itaytera” Município Modêlo do Ceará, cida
que o Cariri tem se projetado in de cosmopolita, celeiro cultural do
telectualmente além fronteiras, interior cearense que o meu pa
tarefa hoje realizada também, e rente Juarez Ancilon Aires de A -
com brilho, pela nossa grande F a lencar, poeta e orador, assim sau
culdade de Filosofa do Crato e dou :
suas publicações que o destino em
hora inspirada entregou à direção N êste so n ho fa ntástico de heróis,
sábia e segura deste poeta da me Q u a n d o o século dezoito o véu rom peu
lhor qualidade, professor, intelec E a estrela da m a n h ã su rgiu no céu
tual e orador do mais refinado ga C la re a n d o os sertões, C rato nasceu !
barito que é José Newton Alves de
Sousa, a quem penhorado e sen Eia J P rovíncia do C a riris N o v o s...
sibilizado agradeço as belas pala De B arb alha, de Jard im , de E xu !. . .
vras de recepção que por si valem C a m in h a , oh ! cidade capital !
29
Para o progresso — teu porto seguro, O Dr. Chagas que fez a grande
Onde se lê a legenda imortal : descoberta com apenas 29 anos de
idade era pai do atual professor
Heróica pelo passado, Carlos Chagas Filho, da Faculdade
G rande pelo presente. Nacional de Medicina e represen
Imensa, pelo futuro ! tante do Brasil na UNESCO.
30
que os habitantes do lugar cha que é o reservatório do protozoá
mavam “ procotó” . “chupão” ou rio ou hospedeiro definitivo e con
até “ barbeiro”, isto porque têm sequentemente a grande vítima, ao
especial predileção pelas faces das lado do gato, do cão, do gambar,
pessoas para picarem. Como era da cutia, do tatú, e principalmen
natural, o Dr. Chagas, ficou intri te do pombo e da galinha além
gado com aquilo e resolveu exa de outros pequenos animais em
minar ao microscopio o conteúdo cujas tocas o “ barbeiro” se escon
intestinal do “ barbeiro” . Com sur de quando não encontra casa de
presa lá encontrou um protozoá- taipa para morar. A doença que
rio desconhecido que batizou com a princípio era silvestre evoluiu
o nome de ‘,Tripanozoma Cruzzi” para o homem do campo e hoje
em homenagem ao seu grande já chegou ao homem das cidades.
mestre e chefe Dr. Osvaldo Cruz. Sua transmissão é feita da seguin
Posteriormente levou ao microscó te maneira: o “ barbeiro” infecta
pio o sangue dos seus doentes e lá do, isto é, portador do protozoário,
encontrou o mesmo protozoário pica o homem geralmente na face
encontrado nas fezes do “ barbei ou braços e ao encher o estomago
ro” . Em seguida inoculou o referi de sangue defeca logo em seguida
do protozoário em cobaios e êles A sua picada é indolor e no má
adoeceram ! Estava, assim, des ximo produz discreto prurido, sen
vendado o grande mistério e des do portanto, imperceptível1. Pois
coberta a terrível moléstia que lhe bem, ao sentir o prurido da
herdou o nome para glória da me picada a vítima leva a mão ao
dicina brasileira, esta mesma me local da mesma e sem querer, in
dicina que acompanhou o pionei- voluntariamente, espalha as fezes
rismo dos transplantes cardíacos, do "barbeiro” contendo o proto
transplantes de rins, transplantes zoário no ferimento produzido pela
de pancreas e deu os primeiros picada do mesmo ou na mucosa do
passos para a cura cirúrgica da ôlho mais próximo ao ferimento
hidrofobia ! ou ainda em alguma solução de
continuidade da pele. Portanto,
TRANSMISSÃO DA DOENÇA não é a picada em si que transmi
te a doença e sim a contaminação
A responsabilidade da doença do ferimento pelas defecções do
corre por conta do seguinte tripé: “ barbeiro”. Além dessa maneira
o protozoário, o “ barbeiro” e o há também a possibilidade da do
homem. ença ser transmitida pela mãe do
ente ao filho por via placentar e
O protozoário de nome “ Tripa- principalmente pelas transfusões
nozoma Cruzzi” é o agente etioló- de sangue dos doadores doentes.
gico ou agente causador. O “Bar É oportuno dizer que, certa vez,
beiro” que é um Triatomideo com de 576 doadores de sangue de Belo
mais de 50 espécies é o agente Horizonte que foram examinados,
transmissor ou hospedeiro inter 14 dêles eram portadores de “ Do
mediário cujas principais espécies ença de Chagas” . Êste fato causou
entre nós são: “ Panstrongilus Me- tremenda celeuma e apreensões na
gistus” principalmente, seguido de época, entretanto, entre nós o pro
“ Triatoma brasiliense e Triatoma blema hoje não é menos grave.
Infestans’’. Finalmente, o homem Basta dizer que segundo a dra. Lise
31
Mary Alves Lima, em momentoso doadores de sangue ! É bom lem
e interessante trabalho publicado brar que Crato já tem pràtica-
na “ Revista da Faculdade de M e mente 5 instituições hospitalares;
dicina do C ea rá ’, em junho de Juazeiro tem 2; Brejo Santo tem
1967, de 1.230 doadores de sangue 2; Várzea Alegre, Campos Sáles,
dos Bancos de sangue da nossa Lavras, Cedro, Barbalha, Nova O-
Faculdade de Medicina e da M a linda, Santana do Cariri têm 1;
ternidade Escola Assis Chauteau- Missão Velha, Milagres e Jardim,
briand nos quais foi pesquisado brevemente terão também o seu
“ Doença de Chagas” , o índice de Hospital e em todos êles quantos
positividade foi de 5,2% e 8,6% chagásicos não serão doadores de
respectivamente naquelas modela sangue para salvarem vidas das
res instituições. Isto é ■realmente garras da morte por anemia agu
alarmante e catastrófico, assumin da, mas deixando tais vidas estig
do ares de verdadeira calamidade matizadas indelevelmente e com
pública ! E o que é mais grave encontro marcado com a morte
para nós no Cariri, a maioria des por “ Doença de Chagas” em futuro
ses doadores era de interioranos, próximo ! Paradoxalmente salva
tendo o Cariri contribuído eom 8 dores assim são algozes das vidas
õêles, sobretudo Crato e Jardim ! que salvam ! Lembremo-nos co
É bom lembrar que em Crato o mo ilustração e também advertên
índice de infecção humana por cia que o boiadeiro João Ferreira
“ Doença de Chagas” , segundo o da Cunha, primeiro brasileiro a
Frofessor Joaquim Eduardo de receber um coração novo pelas
Alencar, foi superior a 12% nas mãos miraculosas do Professor
pessoas examinadas. Assim, no Zerbini, com apenas 22 anos de
sangue que vai salvar uma vida idade, era um homem condenado
em nossos hospitais poderá ir à à morte por “ Doença de Chagas” !
morte posterior por “ Doença de
Chagas” , pois no Cariri ainda não EVOLUÇÃO E SIN TO M ALO G IA
se faz, infelizmente, a Reação de DA DOENÇA
Machado Guerreiros pára pesqui
sar “ Doença de Chagas” . O T ri- Dsz a quinze dias após a picada
panozoma no sangue estocado em do “ barbeiro” aparecem os primei
geladeira poderá permanecer vivo ros sintomas que geralmente são
por 21 dias e somente será morto aparentemente benignos e podem
pela adição a êste sangue de uma passar por sintomas de gripe nos
solução de violêta de genciana a menos avisados. São sintomas va
1/4.000 pelo espaço de 24 horas a riados que vão de febre em torno
temperatura de 4°C, prática que de 37,5°C ao fastio, indisposição,
também ainda não se faz nos nos esplenomegalia ou aumento do
sos Bancos de Sangue. baço, hepatomegalia ou aumento
do fígado, aumento da tiróide e
Senhores, êste problema é da dos gânglios, distúrbios nervosos
mais alta gravidade para o Cariri tais como: insônia, neurastenia,
onde o movimento hospitalar já é cefaléia e raramente convulsões e
dos mais intensos, o número de sinais de meningite; distúrbios di
cirurgias e de transfusões muito gestivos e principalmente distúr
elevado sem a paralela pesquisa bios cardíacos tais como: Taquio-
de “ Doença de Chagas” nos nossos cardia ou pulso acelerado; queda
32
da tensão arterial, falta de ritmo vas dos plexos nervosos intramu-
cardiaco, falta de ar, edemas e rais das vísceras ôcas do aparelho
principalmente cardiomegalia ou digestivo, produzindo diminuição
aumento do coração. Além disto da sua tonicidade e consequente
há um sinal muito típico que é o mente hipertrofia e dilatação das
sinal de Romanã e que consta de mesmas, dando a chamada “ gas-
edema da palpebra de um dos o- tropatia chagasica” constante de
Ihos sem causa aparente; o doen mega-esofago, ou seja dilatação do
te aparece com a palpebra incha esofago conhecido popularmente
da sem conjuntivite, sem haver como “mal do engasgo” , além de
recebido traumatismo e sem haver mega-cólon ou dilatação dos có
sido picado por inseto. É um si lons intestinais com prisão de ven
nal muito característico e que já tre e posterior formação de feca-
observei em um doente do Caldas lomas que são verdadeiros tumores
que veio ao “Pôsto de Saúde de fecais. Sua importância médico-
Barbalha” por mim dirigido. In- social é muito grande porque atin
daguei se conhecia o “ barbeiro” e ge o grupo etário mais produtivo
a resposta foi que conhecia e que das populações, de 20 a 50 anos.
já fôra por êle picado. Com isto A doença pode ter evolução aguda,
quero demonstrar que a doença é causando logo a morte, principal
largamente espalhada no nosso mente na infância ou evolução crô
meio rural, sem que disto tenha nica, nunca porém permitindo que
mos conhecimento. Quantos não o doente chegue a idade madura.
morrem subitamente, “ de repen A morte é sempre súbita e quase
te-’, como dizem e a causa do óbito sempre por rutura do miocardio.
cutra não é senão "Doença do
Chagas” ! Quantos não caem do PR O F ILA X IA DA DOENÇA
seu cavalo na estrada da feira
pontilhando de cruzes as estradas A profilaxia, ou seja, a maneira
poeirentas do nosso sertão ! de evitar a doença, tem por base
evitar o “barbeiro” por todos os
FORMAS DA DOENÇA meios ao nosso alcance. Como evi
tá-los, então ? Substituindo os ca
As formas mais comuns da do sebres de taipa e palha por casas
ença são: a forma cardíaca com de alvenaria e têlha ou pelo me
95% dos casos e a forma nervosa nos, rebocando e emboçando as
com apenas 5%, de onde concluí casas de taipa, além de pulverizar
mos que o protozoário afeta prin frequentemente o interior das ca
cipalmente o músculo cardíaco, sas, móveis e arredores, galinhei
cujas fibras se enfraquecem até se ros e pombais com B. H. C., pode
romperem, levando à morte súbita roso inseticida que já teria para-
Segundo os doutores Reynaldo de lizado a invasão doméstica do
Brito Costa e Francisco Gomes de “ barbeiro” , se êle não fosse tão
Alcântara, do Departamento de prolifero. Á bem da verdade, de
Patologia da Faculdade de Medici vo dizer de público e com satisfa
na de Ribeirão Preto, da Universi ção que o B. H. C. tem sido admi
dade de São Paulo, em artigo na ravelmente eficiente na luta con
“ Revista Brasileira de Medicina” tra o “ barbeiro-’ levada a efeito
de novembro de 1965 a “ Doença de pelos anônimos guardas do D. N.
•Chagas” causa lesões degenerati E. Ru. sob o eficiente comando do
33
Dr. Fábio Esmeraldo secundado O diagnóstico é suspeitado por
pelo Dr. Romão Sampaio que, sa dados clínicos principalm ente pa
indo de Jardim supervisiona toda ra o lado dos aparelhos circulató
a zona rural do Setor Crato da rios e digestivo. Em seguida uma
quele eficiente Departamento. É radiografia do torax evidenciando
meritório o trabalho dessa adm i aumento do coração fundamenta
rável equipe que vai até o mais mais a suspeita que só será con
longínquo casébre do sopé das firm ada por uma reação específi
nossas serras, de Jeep até onde vai ca chamada Machado-Guerreiro
o jeep, a cavalo quando tem ca que consta da pesquisa do próprio
valo e a m aioria das vezes a pé Tripanozom a no sangue ou pelo
Mas não é só na zona rural que o Xeno-Diagnóstico.
“ barbeiro” é problema. Não, in fe
lizmente êle já evoluiu nos seus
IN C ID Ê N C IA DA DOENÇA
hábitos e tem sido frequentemente
encontrado em Barbalha em pleno
perímetro urbano, em casas de al Sem exagero o Brasil é h oje um
venaria, estilo funcional, com piso vasto viveiro de “ barbeiros” . T e
de mosaico, água canalizada da mos aproximadamente 6.000.000
fonte do Caldas e luz de Paulo (seis milhões) de chagásicos. Há
Afonso ! Em Juàzeiro encontrei anos passado por ocasião do in
um “ barbeiro” no moderno Pôsto quérito epidemiológico feito em
do Ex-Sandu no apartamento des Salvador foram encontrados “ bar
tinado aos médicos, em uma das beiros’ infectados em 2.127 casas
minhas noites de p la n tã o ! Até dos suburbios daquela grande ci
parece um desafio ! E aqui cabe dade ! Dez por cento (10%) da
citar um fato de minha observação população do interior de Minas
pessoal que pode ser contestado Gerais, é chagásica. Em Itacam -
mas que merece uma investigação bira, interior de Minas Gerais, de
por parte dos nossos sanitaristas. cinco em cinco dias morre umo
É que tenho verificado que a m i pessoa de “ Doença de Chagas”
gração de “ barbeiros” da zona ru sendo que de 360 pessoas da loca
ral para as cidades aumentou con lidade examinadas 324 tiveram
sideravelmente com o advento da reação positiva para “ Doença de
energia elétrica de Paulo Afonso Chagas” , o que dá um índice de
aqui no Cariri. Como explicar o chagásicos de noventa por cento
fato ! Talvez pelo instinto de de (90%) da população. H oje a “ D o
fesa e conservação da espécie, pois, ença de Chagas” está espalhada
o “ barbeiro” , embora habitual por toda a Am érica do Sul e Cen
mente tenha a sombra e a penum tral e até no sul dos Estados U ni
bra como mais propícias a sua dos já foi encontrado o “ barbei
constante busca de vítimas, é a- ro” . No nosso sofrido Nordeste,
traído de longe pelo clarão das então o problema é gravíssimo.
cidades e para elas têm migrado Recentem ente o Departamento
constante e ininterruptamente. É Médico do D. N. O. C. S. constatou
um fato nôvo que precisa ser es na cidade de Cedro 4% de “ bar
tudado pelos estudiosos do as beiros” infectados, n a cidade de
sunto. Forquilha 7% e aqui no nosso rico
e verdejante Cariri não é diferente
D IAG N Ó STICO DA DOENÇA o panorama.
34
À guisa, de ilustração devo citar rusalém, sustentou a tese de que
o fato que mais dispertou a minha Darwin, genial criador da origem
atenção de Médico para o proble das espécies pela seleção natural,
ma da incidência da “ Doença de teria falecido vítima de “Doença
Chagas'’ no Cariri Cearense. Em de Chagas” . E argumenta que
uma das nossas cidades uma jo Darwin, na sua celebre viagem ao
vem da melhor sociedade começou redor do mundo pernoitara em
a referir distúrbios nervosos. A- Mendosa, na Argentina em março
conselhada por seu médico a pro de 1835 e referiu que ali fôra pi
curar um neurologista em Recife cado por enormes percevejos pos
para lá se dirigiu. O neurologis teriormente identificados comc
ta. para esclarecer o seu diagnós “ barbeiros’’.
tico, pediu uma série de exames
complementares e eis que a radio TR ATAM EN TO DA DOENÇA
grafia do torax revelou um enor
me coração. Diante disto e da
pouca idade da jovem foi pedido Pràticamente não existe trata
um exame de sangue especifico mento para a “Doença de Cha
para “Doença de Chagas” , exame gas” , porque ainda não dispomos
êste que infelizmente ainda não de uma droga capaz de curá-la.
se faz no Cariri. Pois bem, o tal No máximo atenuam ou retardam
exame revelou que a nossa jovem a sua virulência. O câncer, quan
do tratado em tempo, é vencido
era portadora da “ Doença de Cha
gas’. Ora, meus senhores, se a- pela radioterapia e pela cobalto-
terapia.
quelá jovem diplomada e relativa
mente abastada que mora em casa
moderna com todos os requisitos A “ Doença de Chagas’’, não
de conforto que a civilização ofe Uma vez contraída representa uma
rece, tinha no seu sangue o temí inexorável sentença de morte mais
vel Tripanozoma Cruzzi, agente cêdo ou mais tarde. Infelizmente
causador da “ Doença de Chagas” , não temos ainda meios para negar
o que não estará acontecendo no o seu fatalismo, apezar dos enor
sangue do nosso pobre homem ru mes esforços feitos, principalmen-
ral em cujas casas tem sido en et em Ribeirão Preto onde, na sua
contrado até 150 “ barbeiros’’, co modelar Faculdade de Medicina
mo ocorreu recentemente em um desde 1955 o serviço do Professor
casebre do Sítio Mata, em Barba- Fritz Koeberle outra coisa pràti
Iha ! ! ! camente não tem feito senão bus
car a cura desta terrível doença.
Posteriormente foi sabido que a De lá possivelmente sairá a solu
jovem em apreço, embora residin ção para problema de tal magni
do na cidade, passava as férias na tude.
zona rural e lá provavelmente con
traiu a doença. Como curiosidade Na Faculdade de Medicina de
histórica devo dizer que o Dr. Goiás, o Dr. Anis Rassi catalogou
Clovis Buhler Vieira, de Ribeirão algumas drogas que teriam- ação
Preto, na Revista Brasileira de contra a temível endemia e entre
Medicina de setembro de 1967 re elas vale ressaltar: Derivados qui-
lembra que o professor Saul Adler noleínicos, principalmente o Bayer
da Universidade Hebraica de Je 7602, arsenobenzóis, sulfurados,
35
antagonistas purinicos e outros. tais como : Eletrificação rural, as
Infelizm ente na prática médica os sistência efetiva e crédito menos
resultados não têm sido satisfató burocrático ao agricultor, mais
rios. Da eternidade que o diga o justa distribuição das terras, com
Padre Marcelino Aldemir de Quei bate ao latifúndio improdutivo,
roz Lima, pranteado e virtuoso melhor difusão dos princ pios bá
ex-Vigário de Jardim que faleceu sicos da higiene, combate ao anal
chagásico no Hospital São F ran fabetismo, reform a de uma estru
cisco, de Crato. O Dr. Humberto tura social superada que não dá
Menezes, ainda da Faculdade de ao povo siquer a oportunidade de
Medicina de Ribeirão Preto, se se alfabetizar e acima de tudo mu
gundo registra a Revista Brasilei dança da mentalidade do homem
ra de Medicina de agosto de 1966, do campo, não somente do empre
experimentou substâncias chama gado como do empregador, para
das anti-metobólitos, no caso a que se olhem como seres que se
pirimetamina e amethopterina, em devem auxiliar mutuamente para
camondongos chagásicos e os re subirem ambos de posição na es
sultados, mais uma vez, não foram cala social. Em suma, são neces
satisfatórios. sárias medidas que possibilitem o
alevantamento do nível sócio-eco-
Finaimente, Halsmani e Castela- nómico das populações rurais que
ni conseguiram uma promissora ainda vivem à margem da civili
vacina que tem se mostrado eficaz zação, incultas, subnutridas, sub
contra infecções por Tripanozo- desenvolvidas, analfabetas, enfer
mas em camondongos, estando tu mas e fazendo de práticas agríco
do, entretanto ainda no movediço las rotineiras e superadas a única
terreno da patologia experimental fonte de rendas para o seu susten
que é infelizmente, ainda o terre to e ainda mais, sugadas pelo in
no de tudo que diz respeito ao tra termediário que lhes compra a sa
tamento e a prevenção contra a fra por preço inferior ao próprio
“ Doença de Chagas’’. custo da produção e daí viver a
agricultura sempre deficitária. No
Cariri tal situação apresenta-se
C O N C L U S Õ E S
com cores negras, já que a agro
indústria rapadurcira é uma ati
Que fazer, então, diante de tão vidade economicamente superada e
grave problema ? Como substituir hoje serve apenas para clorofilar
as casas de taipa dos sítios por a miséria dos que dela vivem com
casas de alvenaria nêste Nordeste o verde exuberante dos nossos ca
fam into onde falta até o pão de naviais. “ A Mater et Magistra ’
cada dia na casa do infeliz homem do saudoso e inolvidável Papa João
da roça ? Como combater eficaz X X I II ai está para- mostrar como
mente o “ barbeiro” em tão imensa se fazer tudo isto sem se ser co
vastidão territorial ? São pergun munista, mas, pelo contrário, u-
tas sem respostas no presente e sando as reformas sadias como po
só o futuro poderá respondê-las e deroso dique para conter a ava
até onde respondê-las, tal é a lanche do comunismo internacio
complexidade do problema. Para nal malsão e iconoclasta. No
tanto é necessário desde já um momento cabe-nos tão somente
cortejo de medidas revolucionárias, fazer o que aqui ora estamos fa
36
zendo: Uma campanha de escla do e carente de tudo, mas acima
recimento do povo, dispertando-o de tudo carente de saúde, paz e
contra o perigo que ronda os seus fraternidade, para que o Oriente
lares e dentro dêles conduz a Médio e Vietnãn sejam os últimos
morte. pontos sangrentos de sua sinuosa
trajectoria na interm inável passa
Eram êstes os esclarecimentos rela dos séculos. Que as nações
que desejava transmitir como um beligerantes tomem conhecimento
brado de alerta inicial, talvez pre- daquilo que certa vez disse Vietor
núncio de uma cruzada que have Hugo, glória da França e da hu
rá de vir no futuro contra a “ D o manidade : — “ Se m atar um é
ença de Chagas” no nosso meio, crim e, m atar muitos não pode
já que a Nação parece reencon- nem deve ser glória” .
trar-se a si mesmo e m archar pa
ra o equaoionamento e a solução Finalizando, cabe-m e por dever
dos seus seculares problemas. de justiça, por gratidão e por im
Graças a Deus parece que Deus é perativo de praxe secular, dizei
mesmo brasileiro e a Revolução algumas palavras sôbre o Dr. B ar-
Democrática de 31 de março de rêto Sampaio, famoso médico bar-
1964 ai está irreversível e atuante, balhense em boa hora escolhido
banindo a corrupção e pondo nos para patrono da Cadeira N.° 1, se
eixos êste País que a demagogia e tor de Ciências, do Instituto Cul
a m istificação de um falso traba- tural do C ariri, que passarei a o-
lhismo pretendiam lançar no caos cupar. Trata-se, efetivamente, de
econômico e social para dêle sur uma hom enagem muito justa e
gir, qual: nova flô r de Lotus, o co merecida há muito reclam ada pe
munismo, alimentado pelo adubo los reais méritos do homenageado
da miséria de um povo sempre que, a seu tempo, fo i nome nacio
pessimamente governado, com ra nal da Medicina nordestina, mais
ras exceções e que teve no perío precisamente da oftalm ologia, da
do governam ental de Vargas uma qual era profundo conhecedor, go-
longa hibernação cívica onde as sando conceito nacional no con-
forças morais desaparecem para censo médico e no reconhecimento
darem lugar a demagogia de fa l popular.
sos lideres que proliferaram sob o
sorriso complacente do “ solitário Manoel de Sá Barrêto Sampaio
de Itú ” . era o seu nome, sexto filh o entre
oito, do casal Antônio Manoel
Que Deus ilumine a visão dos Sampaio e Antônia Porcina do
nossos atuais e futuros governan Am or Divino. Nascido em Barba-
tes para que consigam em tempo Iha no ano de 1848, pertencente a
útil desentulhar o montão de er tradicional fam ilia Sá Barrêto
ros que se acumulôu de 1930 a Sampaio cuja história se confunde
1964 e êste País retom e a senda com a própria história da terra
do desenvolvimento, mas do de barbalhense, fez os estudos prepa
senvolvimento sem escândalo, é ratórios em Recife, doutorando-se
bom que se frise, para galgar as em medicina brilhantem ente pela
metas do seu grande destino no tradicional Faculdade de Medicina
concerto das grandes naç,es livres da Bahia, especializando-se em
do mundo, deste mundo conturba oftalm ologia em Paris por volta de
37
1880 onde passou dois anos como tempo sepulta no esquecimento fa
assistente do famoso oculista pro zendo-os desconhecidos das novas
fessor Wecker, de fama mundial, gerações.
cuja universalmente adotada Es
cola Wecker ajudou a estabelecer. Assim, cada cadeira ocupada é
Clinicou inicialmente em Baturité, como que um renascimento da
Crato, Barbalba e finalmente em obra e da vida do seu patrono
Recife onde em 1917 presidiu o l.° mais ou menos esquecido porque
Congresso Médico de Pernambuco, esquecer é próprio da humanida
fazendo naquela progressista me de. E por momentos as novas ge
trópole nordestina grande clientela rações tomam conhecimento assim
como um dos raros oculistas bra das grandezas do nosso passado,
sileiros com curso de pós-gradua quais volumes empoeirados e em
ção no estrangeiro, coisa rara na pilhados na grande estante dos
quela remota época. Casado com séculos e que pelas dimensões de
dona Maria Eulalia da Câmara suas obras e pela grandeza de
Sampaio, filha do seu irmão Dr. suas vidas merecem uma revivên-
Atendo de Sá Barreto Sampaio e cia que é um culto, culto que não
neta do famoso barão de Palm a deixa de ser reconhecimento, re
res, deixou filh a única — M aria conhecimento que certamente é
Ester Sampaio, assassinada em gratidão, virtude humana de rara
condições misteriosas e que, ape- beleza talvez por ser de bela rari
zar de casada, não deixou descen dade. Dizia o inimitável tribuno
dência que lhe perpetuasse o no brasileiro João Alangabeira, que
me pelos tempos afora. “ nada é mais útil aos povos, prin
cipalmente às novas gerações e
Era um apaixonado das artes, sobretudo nas épocas de convul
principalmente da pintura na qual são e de delinquência, do que pôr
era profundamente versado, sendo em realce a beleza, a majestade,
um grande colecionador de qua o primado das grandes forças mo
dros raros cuja rica coleção era rais e das grandes virtudes huma
considerada a melhor de Pernam nas, concretizadas ou expressas
buco. Gostava de escrever e de nas instituições que as represen
falar em público, tendo vários tam e nos homens que as encar
trabalhos publicados dentro da nam e que, por isso mesmo, fazem
sua especialidade médica. Era jús à comemoração dos monumen
culto, espirituoso e cheio de verve. tos ou à imortalidade na perene
Após 72 anos de ir.tensa vida fa lembrança dos que vivem” . Assim
leceu em Recife em 1920 na sua sendo, êste é mais um grande ser
residência à Rua da Saudade. Por viço que o Instituto Cultural do
seus reais méritos merece figurar Cariri presta à cultura caririense
na galeria ilustre ae patronos do e queira Deus que o exemplo se
Instituto Cultural do Cariri que multiplique pelo Brasil afora, pa
andou muito bem quando resolveu ra que, sorvendo os exemplos do
buscar no passado os nomes para passado, as novas gerações possam
patronos das suas cadeiras, por chegar mais longe e voar mais al
que com isto força os seus mem to nas asas da moderna tecnolo
bros a estudarem a vida de gran gia sem excesso de tecnicismo,
des nomes das nossas letras e ci porque adicionando o passado ao
ências que a ação destruidora dc presente na projeção do futuro
38
para que o mundo seja mais belo integração se difunda em tomo
e o Brasil seja cada vez maior das instituições culturais e dos
“ não somente pelo sem fim do seu clubes de serviço como a luz em
território mas e principalmente torno de uma lâmpada, em todas
pela imensidade e pela soberania as direções, atingindo todas as co
dos seus iluminados destinos” . munidades caririenses, para que a
união verdadeira nos faça chegar
Meus senhores ! à grande méta por todos sonhada:
a grandeza do Cariri, do Ceará e
O título que dentro em pouco do Brasil. Que a intelectualidade
receberei não é apenas uma hon de Crato, a operosidade de Juà-
raria literária porque, paralela zeiro e a austeridade de Barbalha
mente, impõe grandes responsabi e das outras cidades caririenses se
lidades, já que os órgãos de cul fundem no cadinho de um sadio
tura são, por isto mesmo, também nacionalismo para darem ao Bra
células atuantes do nosso desen sil novo um novo Cariri sem dis-
volvimento, centelhas ativas da senções e cheio de vontade de
própria segurança nacional. crescer.
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WAGNER STÚDIOS
Gravarão de “ jingles” e “ spots”
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Escritórios:
CRATO — Rua Carolino Sucupira, 245 — Fone 670
Juàzeiro do Norte — Rua S. Pedro, 285 — Fone 632
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Em solene Sessão, na Sé Catedral,
Monsenhor Rubens Gondia Lóssio
toma posse da Cadeira N. 9
que tem como Patrono D. Francisco
de Assis Pires. Os discuross
Das grandes sessões do Instituto de Araújo, o Diretor da Faculda
Cultural do Cariri foi a que se de de Ciências Econômicas, Dr.
realizou, na noite de 6 de Agosto Raimundo de Oliveira Borges, o
de 1969, na Sé Catedral, por oca Vice-Presidente da Câmara Júnior
sião da posse do sócio Monsenhor do Ceará, Dr. Antônio Darcy Bar
Rubens Gondim Lóssio, na cadeira bosa, o Presidente da Associação
n.° 9, que tem como patrono o dos Empregados no Comércio do
segundo Bispo de Crato o saudoso Crato, Prof. Pedro Felício Caval-
D. Francisco de Assis Pires. Pode- cânti, Delegado Especial de Polí
se considerar das maiores festas de cia, Cel. Osmar Oliveira, o Dire
cunho cultural, já realizadas nesta tor da Faculdade de Filosofia do
cidade. A nave da Catedral esta Crato, Prof. José Newton Alves de
va à cunha com representantes de Sousa, Representante do Ceará —
tôdas as classes sociais. Em pou Senador Wilson Gonçalves, o Pre
cas localidades poderia haver reu sidente da Associação Comercial
nião de tanto brilhantismo, com de Juazeiro do Norte e represen
desfile de tantos cultores da inte tante da fam ília de Monsenhor —
ligência. Houve iluminação des José Gondim Lóssio.
lumbrante e números de arte. O presidente J. de Figueiredo
A magna sessão foi presidida Filho abriu a sessão com algumas
por J. de Figueiredo Filho que palavras, referentes ao caráter da
convidou para ladear a m esa : o quela solenidade. Convidou a fa
Prefeito Municipal — Dr. Hum lar o Prof. José Newton Alves de
berto Macário de Brito, o Reve Sousa, que saudou o conferencista.
rendo Monsenhor Raimundo Au Seguiu-se este, logo depois. A
gusto, Vigário Geral da Diocese, o sessão foi encerrada com discur
presidente da- Câmara Municipal, sos do Prefeito Humberto Macá
José Valdevino de Brito, o presi rio de Brito e do Senador Wilson
dente da Associação Comercial, Gonçalves. Pronunciaram êstes
Thomaz Osterne de Alencar, o magníficas orações completando
vice-Presidente do Instituto Cultu assim o brilhantismo daquela noi
ral do Cariri, Pe. Antônio Gomes te. Seguem-se Os dois discursos :
41
Discurso de Saudação e recepção
ao Revoo. Mois. Rubens Goudio
Lóssio, cooo 1.° ocupante da
Cadeira N. 9 da Secção de Letras
do Instituto Cultural do Cariri
No calendário das comunidades Igreja, em Crato, com operosida
momentos existem, em que, sôbre de de pastor vigilante e dedicado.
o dia-a-dia dos acontecimentos O Revmo. Mons. Rubens Gondim
rotineiros, repontam cimos singu- Lóssio nasceu a 27 de maio de
Iarizados por sua feição espiritual 1924, em Jardim, neste Estado, f i
e sentido histórico. lho de Júlio Lóssio (falécido) e D.
Estamos numa dessas horas, em Eleonor Gondim Lóssio.
que a figura do inolvidável se Tendo feito o curso de humani
gundo bispo do 'Crato patrocina dades em nosso tradicional Semi
uma cadeira, na mais alta assem nário S. José, e os de Filosofia e
bléia cultural do Cariri, cadeira Teologia no Seminário Maior de
que vai inaugurar-se com o dis Fortaleza, capitai do Ceará, exer
curso de posse do seu primeiro ceu o magistério em vários esta
ocupante, Mons. Rubens Gondim belecimentos, nos níveis primário,
Lóssio, a quem me coube a- honra secundário e superior, sendo pro
de receber e saudar, nesta noite. fessor titular da Cadeira de F i
Pessoalmente, a levar em conta losofia, da Faculdade de Filosofia
o que de próprio especifica o fe do Crato.
nômeno literário, e em consonân Ordenado sacerdote católico, do
cia com o que hoje, neste parti Presbitério da Diocese do Crato, a
cular, se tornou doutrina defini 20 de dezembro de 1947, foram-lhe
tiva, preferiria ressaltar, no santo confiados, ao longo de sua carrei
prelado, não a sua pena, que, em ra religiosa numerosos cargos e
primeiro lugar e acima de tudo, oficios, que bem atestam sua in
manejou para o bem das almas, teligência, capacidade e valor.
mas aquelas virtudes que lhe exor- Orador de raça, impõe-se à ad
naram o coração de bispo e de miração de todos que lhe reconhe
santo. cem a extrema facilidade de ex
Devo, entretanto, saudar, não o pressão, o efetivo dom da palavra,
Patrono da Cadeira N.° 9, da que flui de seus lábios como em
Secção de Letras do Instituto Cul cascata, contendo-se quando ne
tural do Cariri, mas aquele que cessário, porém nunca dando si
agora passa a ocupá-la e honrá- nal de que estaria a esgotar-se ou
la, pela cultura e pelo saber, como a tornar-se débil.
tem sabido ilustrar o púlpito, com Ecrevendo, como freqüentemen-
grande eloqüência e dignificar a te o faz, é cuidadoso no têrmo.
42
escorreito na construção, justo no conexões do orgânico. Parece que
conceituar, preciso no definir, e, então sofre o m agno sonho das
agudo perquiridor de fontes e do exatas construções estudadas e e-
cumentos, guarda fidelidade no in laboradas em tôdas as minúcias.
form e e reveste de graça o estilo, E aquelas partes ordenadas com
rico de fôrça ornam ental e comu tanto rigor, e aquelas lucubrações
nicativa. que subtrai às noites e m adruga
Nêl'e, o escritor denuncia o ora das vão, no interregno das labu
dor, e o hom em de ação, o poeta tas sacerdotais, adensar-se, con -
que não fa z versos. cretam ente, no quadrilátero de um
M ente aberta, amante, en tretan boletim de festa religiosa ou nas
to, da ortodoxia, atualiza-se sem quadrículas de relatórios anuais.
dem agogia e age sem precipitação. ~É êsse hom em realizador, êsse
O “ sentir com a Ig r e ja ’’ não ilustre m inistro de Deus, que h oje
tem, para êle, a m era ressonância tom ará assento na C adeira de D.
de frase feita, mas representa e Francisco de Assis Pires, do In s
traduz uma afirm ação e um pro tituto Cultural do Cariri.
gram a de vida. Que relações descobririam os en
Podia não usar batina, mas esta tre o Patrono e o racipiendário ?
nunca lhe prejudicou a dinâmica Diversos no tem peram ento, no
pastoral e a impressão que, como grau hierárquico, na idade e quan
sacerdote, nos dá, é a de que a to ao lugar de nascimento, muito
sagrada veste que enverga reflete se identificam pelo vínculo reli
uma consagração in terior e supe gioso, pelo am or à Ig re ja , pelo es-
rior tão forte, que êle não fa ria p rito de serviço, pela caridade o-
nunca do tra jo um problem a, po perativa.
rém um sinal. É uma honra para m im sau-
Espírito organizado pela disci dar-vos, Mons., recebendo-vos nes
plin a filosófica e enriquecido pela te Instituto, nas condições com
cultura hum anística, não tran sfor que agora nêle tendes ingresso.
m a a Teologia em tram polim p ro Vosso insigne Patrono, que foi
mocional, antes lhe assume, das meu padrinho de crisma, aqui se
divinas entranhas, a substância encontra, pela recordação piedosa,
doutrinária, que incorpora como no meio de nós, e pode atender
alim ento próprio e alheio, no in por qualquer dos nom es: H u m il
com parável m ister de gerar e d i dade, Eondade ou Santidade.
fu ndir Cristo nas almas e corações. F oi um an jo de Deus a ilum inar
H om em da Ig re ja , fo i posto à e proteger a Diocese do Crato.
fren te da C atedral de Nossa Se Seu nome, no Instituto, deverá
nhora da Penha, que êle reform ou ser mais do que um patrocínio i n
com zêlo e dirige com dedicação. telectual. D everá ser um prote-
A estátua física opõe-se-lhe à torado m oral, um protetorado
intelectual e a ninguém caberia exem plar e constante a fim de
m ais à justa a assertiva segunda que, sob sua irradiante luz, vós,
de que “ as m elhores essências se a quem saúdo, e nós outros, que
contêm nos menores recipientes” . vos adm iram os e estimamos, pos
Quando elabora um plano de samos jornadear pela terra, m ais
ação ou um program a religioso, é seguros de um dia term os o céu.
um parnasiano torturado pelo fa s Crato, 6 de agosto de 1969
cínio do perfeito e pelas exigentes José N ew ton A lves de Sousa
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Ha posse da Cadeira N. 9 da
Secção de Letras do Instituto Cultural
io Cariri cuja Patrono é
Dom Francisco de Assis Pires
Exmos.
Sr. Presidente do Instituto Cultural do Cariri
Mons. Vigário Geral' da Diocese
Sr. Prefeito Municipal
Srs. Senador do Crato e Presidente da Câmara Municipal
Sr. Delegado Especial e Presidente da Escola Técnica de Comércio
Srs. Presidentes da Assoe. Comercial de Crato e Juàzeiro do Norte
Srs. Diretores das Faculdades de Filosofia e Ciências Econômicas
Demais Autoridades
Distintas Representações
dos Clubes de Serviço : Rolary, Lions e Câmara Júnior
do Centro Social N. S. da Penha e da Fundação Dom Francisco
da-s Associações de Classe, da UEC e dos Educandários da Cidade
da Imprensa falada e escrita do Crato e do Ceará
da Legião de Maria e das Associações Religiosas
Senhoras e Senhores
Amigos e admiradores de D. Francisco :
44
O B O M P A S T O R
45
tilhando da mesma dignidade fu n fiança real e vivenciada com o
damental de filho de Deus, assu Salvador: o Bispo verdadeiramen
me o Bispo a responsabilidade al te repete a voz e renova a vez
tíssima de gerar e reger a comu de Cristo, de quem atualiza c:;
nidade eclesial. gestos salvíiicos e presencializa a
figura de Sacerdote e vítima
SERVIDOR DO POVO DE
DEUS BOM PASTOR
Mais que o simples cristãos, é o
Se o Sacerdócio Comum o á Bispo chamado a oferecer hóstias
consequentemente, o Ministerial é espirituais e a ser, êle mesmo, uma
cssenjcialmente serviço. Por isto, hóstia viva, oferecida e consagra
ser Bispo importa antes de tudo da e consumida no altar da vida.
em s e rv ir: nis ministrari, sed Ora, o sacrifício não se contém
ministrare. nos ritos. Supõe-se a participa
Primeiramente, pelo serviço da ção consciente e generosa no Sa
Palavra : nos autem ministério crifício do Cristo. Tal como acon
Verbi. Não, no sentido professoral teceu no seu Corpo físico, assim
de quem expõe a ciência, mas co no Corpo Místico se pereniza a
mo o Profeta de Deus, na face do imolação livremente aceita do ho
Povo, a dar o testemunho vivo do mem. associada à imolação reden
anúncio da Boa Nova da Salva tora de Deus. Eis por que o Bispo
ção. Igualmeste, pelo serviço do não se pertence, mas se consome
Culto: et cratione instanter. Não. na ação salvífica da Igreja. Qual
no sentido mágico de quem é dono Bom Pastor, êle se faz tudo para
do rito, mas como o Liturgo de todos, doando as suas energias e
Deus, no meio do Povo, a praticar talentos, os seus bens e afeições,
o ministério em que tôdas as ações o seu tempo e a vida tôda. Ainda
se tornam sacramentais. Final quando não conhece o fulgor he
mente, pelo serviço dos Sinais, na róico do martírio de quem aceita
Caridade: cor unum et ânima una. a morte, há de viver o heroísmo
Não, no sentido triunfalista à m a martirizante de quem incessante
neira de quem exerce o domínio mente dá a própria vida pela sal
mas como o Bom Pastor, na vi vação e libertação do seu reba -
vência do Povo, a vivificar eficaz nho: pônere vitam pro óvidus su:.
mente a união do corpo social e
da família reunida em Cristo. 2. UMA ENCARNAÇAO DESTA
IMAGEM
SACERDOTE E VÍTIMA
TESTEMUNHAS
Nesta perspectiva, o Episcopado, PROVIDENCIAIS
antes de ser uma dignidade ou
privilégio, é eminentemente um De um Bispo, que encerrou a
carisma e uma graça social. Co sua carreira pouco antes do V a ti
mo a vocação de Abraão, êle exi cano II, evidentemente não se po
ge renúncia total para a criação dem cobrar os acentos da renova
de um Povo nôvo, já não mais e- ção conciliar. O Concilio, entre
leito mediante o sangue do Patri tanto, não se definiu por uma ten
arca, mas gerado pelo Sangue do tativa alucinada de inovações ca
Cordeiro divino. Daí, a sua con pazes de destruir a realidade pe
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rene da Igreja, mas antes por um vador. Encerrando o seu paro-
tsfôrço eficaz de renovação ten quiato em agosto de 1920, volta à
dente a fazer o ajornamento da Capelania do Azilo e em janeiro
Igreja no mundo de hoje, de mo de 1931 aceita a investidura de
do a transparecer mais bela e au Vigário Geral do Sr. Arcebispo
têntica a infrangível identidade da Prim az D. Augusto Álvaro da Sil
Esposa de Cristo. Mais do que va. Nessa função e nêsse ano é
mudanças colimadas, sobressaem e que o dia 11 de agosto lhe traz, da
dominam verdadeiras redescober- parte de Pio XI, a eleição para o
tas, inspiradas e alimentadas na Episcopado. E, celebrada a sua
fonte da Verdade eterna. Consagração Episcopal, a 6 de de
Por isto, embora sem a tôniça zembro de 1931, estava perfeita a
dos movimentos atuais, sempre o formação daquêle que vinha suce
fermento do Evangelho e a fôrça der a Dom Quintino Rodrigues de
da Caridade do Cristo suscitaram Oliveira e Silva, primeiro Bispo do
no Reino de Deus figuras apostó Crato. Aqui empossado a 10 de
licas e carismáticas, a testemu janeiro de 1932, por vinte e sete
nharem providencialmente a m en anos, nove mêses e catorze dias,
sagem salutar da Boa Nova. gastos e vividos no serviço do Se
A esta geração pertenceu, de nhor e do seu Povo, praticou a
certo, o segundo Bispo do Crato, doação de si mesmo, nos seus ta
pôsto pelo Esp'rito Consolador pa lentos e bens. culminando a sua
ra reger e apascentar esta por trajetória com a renúncia a 24 de
ção do rebanho do Senhor. outubro de 1959. E, então, con
templado como Arcebispo Titular
DADOS BIOGRÁFICOS de Antioquia da Pisídia, ainda
permaneceu junto ao seu rebanho
Nascido a 4 de outubro de 1880, até o momento final, que, fulm i
na histórica Cidade de São Sal nando um lento e silente m artírio
vador, FRANCISCO DE ASSIS no dia 10 de fevereiro de 1960, o
PIRES frequentou o Seminário da subtraiu à vida para transplantá-
Bahia e concluiu o Curso Superior lo ao seio de Deus e no coração
em Olinda. Ordenado Sacerdote do Povo.
no dia 14 de abril de 1903, exerceu
as funções de Capelão Central da HOMEM DE DEUS
Santa Casa de Misericórdia, de
maio a novembro do mesmo ano, Animado pela mística da trans
quando foi nomeado Vigário de cendência que projeta a Igreja em
Santo Amaro. A i se demorou até linha vertical como presença de
novembro de 1911, retornando à Deus no meio dos homens, provo
Capital como Capelão do Aziio cados para um diálogo vivenciado,
Conde Pereira Marinho, para em D. Francisco não se eximiu à di
julho de 1912 assumir a Paróquia nâmica da imanência que sitúa a
de São Pedro, no centro da Cida Ig re ja em linha horizontal como
de. Em outubro de 1913, é agra comunidade inserida no contexto
ciado com o título de Monsenhor sociológico dos homens, reunidos
Camareiro de Honra do Papa Pio no Cristo Salvador pelo vínculo do
X e em abril de 1916 passa a in Amor. Desta sorte, do seu coração
tegrar o Cabido da Arquidiocese, povoado de bondade divina e hu
como Cônego Catedrático de Sal mana, irrompia a oração da Fé
47
que o fazia um Homem de Deus FLORAÇÃO DE VIRTUDES
e a ação da Caridade que o tor
nava um Homem da Igreja, a A Liturgia, porém, não toma
serviço do Povo que peregrina por sentido profundo e autêntico senão
êsses Cariris. quando mergulha as raizes na
Homem de Deus, eis o que prin própria vida da comunidade e cia
cipalmente se afirmou D. Fran pessoa, manifestando-se qual eflo-
cisco. rescência das virtudes sinceramen
te praticadas. Em D. Francisco, o
VIDA DE ORAÇÃO Liturgo que oferecia a Deus o sa
A espiritualidade sacerdotal, so crifício por si mesmo e pelos ou
bremaneira no Bispo que deve tros, não se acobertava no farisa-
exercer a perfeição, reclama na ismo funcional. Numa visão teo-
prática ao menos o propósito efi logal, êle demonstrava hospedar o
caz de cumprir dignamente os seus espírito de Fé que, à luz da Es
deveres. Supõe assim um mínimo perança, viva a Caridade sobrena
ce perfeição pessoal que se realiza tural, como perfeição da Lei.
na m stica da oração vital e na Mais que nas pregações, que às
ascética da renúncia positiva. vêzes ostentam antes o conheci
D. Francisco soube exercitar o mento do que o testemunho do
colóquio com Deus, num diálogo Evangelho, a sua ótica de Céu e
existencial da palavra e doação, eternidade transparecia nas con
sublimado no convívio real com o versas e conselhos, em sintonia
Cristo. A oração pessoal não com o seu modo de agir. Na sua
mendigava sobras de tempo, mas caridade transudante, a atingir a
tinha um lugar certo e importan todos em público e em particular,
te em sua agenda de trabalhos. até mesmo aos domésticos e au
Testemunha habitual de suas pre xiliares, D. Francisco fazia virtu
ces, o genuflexório da Capela ou des com tanta naturalidade que
do apartamento confirmava a i- nem a sua modéstia, a toda hora
magem singela do homem que re de sentinela, conseguia disfarçar a
zava piedosamente na adoração sua humildade. É que a unidade
mensal1 da Catedral ou na cadeira orgânica da Caridade se compõe
que descansava na área superior postulante de tôdas as virtudes,
de Palácio. Ninguém privou de inclusive da simplicidade. E esto
sua amizade que não o tenha sur foi uma das características domi
preendido abismado em medita nantes do perfil de D. Francisco,
ções e entretido na recitação de a quem o Cardeal Dom Leme pro
vota do Têrço e do Breviário. E clamou públicamente a Violeta do
esta convicção no valor da oração Episcopado Brasileiro.
particular ou oficial se patenteava
ESPÍRITO DE POBREZA
no zêlo nunca esmorecido pela
ação litúrgica, religiosamente pra Superando a tentação do TER,
ticada na Capela Episcopal e vi empenhou-se êle na linha do SER:
vamente estimulada na Sé e nas ser mais, pelo crescimento pro
Igrejas Paroquiais. A todo Vigá gressivo de uma personalidade
rio que recebia sempre paternal cristã, na capitalização altamente
mente, traia logo o cuidado e rendosa dos valores nobres e es
preocupação com a Missa de Pre pirituais, tal a meta perseguida.
ceito. Assim se explica o seu espírito de
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pobreza, expressivamente traduzi RENÚNCIA E
do no uso dominado dos recursos DISPONIBILIDADE
ao seu alcance e, no despojamento
voluntário dos seus bens. Ga Precisamente, o espirito de re
nhando pouco e doando muito, po núncia era o que animava a sua
de viver simplesmente pobre num vida, consagrando-o numa hóstia
Palácio de Príncipe. Digam-no as viva. Qual círio aceso, que se
damas de nossa sociedade encar consome a iluminar o meio am
regadas da hospedagem nas fes biente, com a sua alma luminosa.
tas jubilares, as quais tiveram de A aceitação positiva de uma pri
adquirir para o Sr. Bispo as rou vação, quando feita por um motivo
pas inferiores que lhe faltavam. superior bem acolhido, ao invés
Confirmem-no os esmoleres que se de gerar recalques ou frustrações,
aglomeravam à porta para rece produz a sublimação enlevante da
ber de suas próprias mãos o óbulo própria imolação. Então, fundada
envolto numa bênção amiga e pa no equilíbrio biológico, psíquico e
ternal. Ratifiquem-no os pobres espiritual da pessoa e vivenciada
envergonhados que, na dissimula na opção consciente e adulta de
ção de uma consulta, estendiam a quem se dá a um Deus pessoal, co
salva do coração para uma ajuda nhecido pela inteligência, amado
redentora. Mas, nem era preciso pela vontade e querido pelo cora
pedir, porque êle mesmo sentia ção, a vida ascética tende a reali
ânsia de dar. Numa dadivosidade zar o homem em suas dimensões
conhecida de poucos, destinava tô- maiores. No domínio de si mesmo
da a renda das Visitas Pastorais pois, o self-control ou auto-domí-
para o Seminário Diocesano e as nio se resolve no equilíbrio da
Instituições Pias ou para as Ca virtude — encontra cada um a
sas Religiosas. E maior atestado fôrça de evitar o mal e praticar o
de desprendimento não seria mis bem. Mergulha assim o cristão no
ter que o legado em vida de um Mistério Pascal do Cristo, partici
tesouro tão afeiçoante como a bi pando continuamente de sua Mor
blioteca particular montada em te e Ressurreição.
meio século de seleção de livros, Ora, D. Francisco teve a graça
bem como a doação à Diocese do de descobrir no Cristo a presença
majestoso Palácio Episcopal, orna de seu Deus pessoal, vivo e atua
mento distinto da Princesa do Ca- lizado em seu caminho. Por isto,
riri, inteiramente construído às não se cansou de sacrificar-se pe
suas expensas, mercê de parcas e- la causa do Reitor. Esvaziado de
conomias e do investimento inte si mesmo pelo espirito de pobreza
gral de sua herança paterna. evangélica que se implica na as
Contudo, se vale muito esta co cética da renúncia, colocou-se êle
ragem de não grangear riquezas na inteira disponibilidade em or
materiais, bem maisi significa a dem ao bem dá comunidade.
sua comprovada desinstalação in Empolgou-o a mística do serviço.
terior. Em nome dela, com efeito, Se algum Bispo já foi feliz na es
é que D. Francisco, ainda válido colha do seu lema e já foi fiel na
que nem muitos e querido como sua prática, êste foi D. Francisco
poucos, soube coroar a pirâmide que verdadeiramente não veio pa
de suas doações com a renúncia ra esta Diocese a fim de ser ser
ao trono episcopal. vido, mas somente para servir:
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non m inistrari, sed m inistrare ! E H I N O J U B I L A R
o fa z sem pre com a in efá vel a le
gria que serve de apanágio ao Letra do Dr. A ndra de Furtado, em
cristão. Não, por im positivos da 1 95 3 para o Jubileu de Ouro de
posição. Nunca, por am or do ve- O rdenação Sacerdotal de D. F ra n
detismo. N em pelas solicitações cisco de A ss is Pires,
Êle servia por servir. E servia adaptada em 1 9 6 9 para a H o m e n a
com boa vontade, com o sorriso gem ao m esmo prestada ao ensejo
nos lábios ou a bondade nas mãos, da posse do M ons. Rubens Gondim
porque o seu coração encontrara Lóssio, na Cadeira do Instituto
o Cristo de Deus, que deu a p ró C ultural do Cariri, que o tem por
pria vida pelos irmãos. Patrono.
Nisto se contraria a falsa in ter
pretação da religião autêntica co N ê s te d ia fe stiv o se e x a lta
mo algo de alienante. P orqu e dar O fu lg o r d a s v it ó r ia s d a c ru z.
do seu quem dá de si, não aca rre Não Há g ló ria , p or certo, m a is a lta
ta espoliação que sim desenvolvi Q ue se rv ir n ê ste m undo a J e su s.
m ento pessoal. D a r ao outro é
en contrar-se com o Cristo lib e r C Ô R O
tador e dar-se a Deus é encon
tra r-se a si mesmo, na p len ific a - P 'r a n ó s fo stes. P a sto r V e n e r a n d o ,
ção de sua personalidade, cujo O e m is sá rio e sc o lh id o d o C é u .
vórtice toca o coração do In fin ito. Q ue d o ç u ra n o v o ss o com ando.
T a l, o segrêdo por que servir a C h e fe a u g u st o , se m ja ç a o u la b e u !
Deus é reinar. E D. Francisco era
fe liz ao servir. Pelo rein o de C r is to su b is te
D o m F ra n c isc o , os d e g r a u s d e u m a lta r
I N T E R V A L O
E d ep o is, e n tre nós, a ssu m iste s,
A essa altura, Senhores, seja- Êsse só lio de b rilh o se m par !
nos perm itido in terrom per por
m om entos a presente exposição. É m o tiv o - o m a is justo , o m a is g r a to -
M uito de propósito e por am or De ren d e r-vo s, com to d o o fe rvo r,
da brevidade, procuram os em A q u e rid a D io c e se d o C r a t o
prestar-lhe um caráter em i O se u p reito d c a p rê ç o e d e a m o r.
nentem ente intelectual, abafan
do as vozes do coração. A gora, No c e n á rio sa g r a d o da Igre ja ,
porém, en fatizan do as modulações S o is p a d r ã o d e v irt u d e e sa b e r
hum anas e afetivas de uma h om e V ossa bênção de paz nos p roteja,
nagem dêsse porte, façam os um Faça o cam po de Deus flo re sc e r !
parênteses para reviverm os, numa
oportuna recordação, as grandes H O M E M DA IG R E JA
m anifestações de aprêço e carinho
que um dia o Crato teve a sorte H om em da Ig re ja , eis conse
de trib u tar ao seu querido Pastor. quentem ente o que se confirm ou
Repassados dos mesmos sentim en D. Francisco.
tos que então acalentaram a alm a N a H istória da Salvação, Deus
do Povo, na m aior consagração não se revelou o Dono absoluto,
jam ais produzida nesta Cidade a mas o D om in fin ito de A lgu ém que
uma pessoa viva, entoem os todos, amou, por prim eiro, na provoca
de pé, os acordes m elodiosos do ção de um am or que fa ça da vid a
50
humana a resposta concreta à vo Francisco, por conseguinte, o seu
cação divina. E o Cristo se pre- rebanho era mesmo o Povo de
sencializa em cada situação his Deus, presidido e assumido pelo
tórica juntamente para explicitar- Cristo Salvador.
se na reintegração do homem na Não tivesse embora a visualiza
família de Deus. A mística do ção atual de comunidade eclesial,
Batismo, operando pelo Espírito deixou-se o nosso Pastor possuir
Paráclito, provoca uma verdadeira da mística comunitária, no seu
mutação no homem que evolue espírito de Koinônia ou comunhão,
para a condição de filho do Pai de Diakonia ou serviço e de Mar-
celeste, no Cristo de Deus. Desta tyria ou testemunho.
sorte, entra êle na órbita da vida
KOINÔNIA OU COMUNHÃO
trinitária, participando da nature
ECLESIAL
za divina.
Todavia, a adesão real do ho Traduzindo com rara felicidade
mem a Deus pela encorporação no o sinal visível da invisível unidade
Cristo importa simultaneamente da Igreja, D. Francisco de tal mo
na sua concorporação com os ir do conjugou em Cristo o verbo
mãos. A consagração ôntica da amar que implantou e cultivou a
graça batismal procede à inserção comum união na Diocese. Dentro
na família divina, pela dimensão do mais religioso acatamento ao
vertical para a Trindade Santa de Papa, Chefe do Colégio Episcopal,
Deus e pela dimensão horizontal e no mais harmonioso relaciona
para o Corpo Místico de Cristo. mento com os Pastores do Ceará
Necessariamente, a união com UM, e do Nordeste, êle cativou também
que é o Cristo, identifica-se com o seu Clero e o seu Povo, estabe
a união comum com os irmãos lecendo uma sintonização comum
reunidos no Cristo. Porque um só de mentalidade e de ação.
Batismo e um só Cristo, também A fidelidade à Igreja Católica se
um só corpo. E todos somos o denunciava não apenas no filial
Povo de Deus em marcha para a afeto ao sucessor de Pedro, senão
Casa do Pai. ainda no zêlo com que procurava
Portanto, ao sagrar-se Homem seguir as diretrizes e normas e-
de Deus, consagrou-se D. Francis manadas dos Superiores. Provo
co Homem da Igreja. cado pela problemática pastoral,
Realmente, as suas virtudes, ali compulsava inteligentemente os
mentadas no comércio íntimo com livros de Teologia e manuseava
Deus, tinham de manifestar-se co pacientemente o Código de Direito
mo epifania da graça e canalizar- Canônico, para então conferir sua
se para os homens que peregrina opinião com o parecer dos con
vam com êle. O Cristo a quem sultores. Até o Concilio Brasileiro
se propôs servir está sacramenta e as Circulares provinciais man
do em sua Igreja e esta se en tinham-se à mão. Era tão fam i
contra encarnada na comunidade liarizado e seguro no que concer
humana. Como o Senhor não se ne às coisas da Igreja que o Pe.
divide nem se parte na Eucaristia, João Rijnts, renomado canonista
pois está em pessoa em cada Pão do Seminário Maior de Fortaleza,
vivo e vital, também não se frag o considerava o melhor Mestre de
menta a Igreja que se atualiza to Direito Canônico do Ceará. Nem
da na comunidade local. Para D. por isto se escravizava à mentali
51
dade juridieista de então. Não acontecimentos sociais e, por zêlo
hesitava em adotar as renovações ou solicitação, mediciava frequen
autorizadas e êle mesmo aprovava temente em delicadas questões de
com entusiasmo as iniciativas to casais ou desafetos, não raro, con
cais, quando prudentes e frutuosas. seguindo se quebrasse a flecha da
Outra nota m arcante em sua paz lá mesmo em Palácio. Daí
vida, de certo, foi a comunhão Onde se demorava quase sempre,
com o seu rebanho. Sobretudo, cobria a Cidade e a Diocese com
pela presença vigilante e perm a o seu coração paternal, que fun
nente. Anterior a esta fase de cionava bem como um polo de
encontros epidêmicos — sem dú união.
vida, hoje necessários e úteis, a A m aior auréola de glória a co
despeito de mais repetidos que e- roar-lhe a fronte foi talvez a con
ficientes — D. Francisco habitu quista amiga dos seus Padres. Em
almente não se ausentava da D io que pesassem as fraquezas e lim i
cese mais que uma vez por ano tações de todos, a sua terapêutica
em gôso de férias passadas com da bondade dissolvia os ressenti
D. Tereza ou D. Ana, suas irmãs, mentos por ventura despertados
ou com D. Glorinha, sobrinha e pela oportuna disciplina, e nin
afilhada. Mesmo quando um im guém havia que se não rendesse
perativo pastoral lhe ditava uma à suave soberania do seu amor de
viagem, procurava evitar as épo Pai. Numa hora em que não se
cas contraindicadas pelo calendá falava de Presbitério, de fato, D.
rio litúrgico e, em qualquer hipó Francisco realizou o prodígio da
tese, dava conhecimento à Nuneia- comunhão a fetiva e efetiva com o
tura da partida e do regresso. Clero cratense. Lem brar-se-ia a
Realmente, D. Francisco montava citara com as suas cordas a fin a
guarda aos fiéis, observando estri das, a modular o acalento dos ho
tamente e residência em sua co mens e a glorificação de Deus.
munidade. e o mais positivo é
que a sua permanência se fazia niAKONIA OU MÍSTICA
ativam ente benéfica. Não se ca DO SERVIÇO
m uflava na ociosidade de lazeres
excessivos. Nem se desperdiçava A mística do serviço desponta
em encontros sociais inúteis. M ui naturalm ente do espírito de comu
to menos se derivava para ativi nhão, responsável pela solidarieda
dades divergentes do ministério. de funcional na comunidade. E
Era o Pastor sempre atento aos D. Francisco dedicou-se todo ao
anseios de sua grei e angustiado serviço do Reino.
pelos problemas do Povo. Com Na linha da pastoral profética,
esta solicitude, recebia am avel fêz-se o arauto da Verdade, na
mente a todos na Cúria e no con transmissão da mensagem da Boa
fessionário, nas audiências e con Nova. Sem explorar arroubos de
fidências. Adm irável na doçura eloquência ou requintes de orató
pontual de sua correspondência e ria, de que por vêzes dava mos
na discreta correção com que se tras, sobretudo no prim or de brin
solidarizava com Autoridades e fa des e improvisos, revetou-se cons
mílias, em momentos de tristezas tante evangelizador em suas pre
e de alegria. De fato, acompa gações. À simplicidade espontâ
nhava com interêsse a crônica dos nea que envolvia as suas pales
52
tras e catecismos, dirigidos a c r i prestigiava noutras partes como
anças e adultos, somava adequa realizava na Diocese Congre-scs
damente a sóbria competência dos Eucarísticos, como apoteoses pú
sermões e ca rta s Pastorais. Estas, blicas e solenes do Cristo do Altar
secundadas pelas Circulares siste e instrumentos de formação litúr
maticamente distribuídas em cada gica. Verdadeiramente, D. F ia n -
acontecimento relevante, focaliza cisco agia e fazia agir como quem
vam a doutrina e a posição da acredita que a Eucaristia é o cen
Igreja, frequentemente com suges tro da vida cristã e a Liturgia, e-
tões práticas para as program a pifania m aior da Ig re ja santa, a
ções na Catedral e nas Paróquias. fonte e o ápice da ação eclesial, a
Ajudando-se de pregadores e mis promover o louvor perfeito de Deus
sionários, suplementava ainda a e a obra redentora dos homens.
ração do pábulo da Verdade ofe E na linha da pastoral caritati-
recido aos fiéis. E não esmorecia va, desdobrou-se por igual a sua
nunca no a fã de estimular os V i operosidade. A sua prudência e
gários e Organizações Apostólicas humildade não se compunham
no ministério da Palávra. Ao bem com a febre de inovações ou
tempo dos exercícios Espirituais e o delírio dos pioneirismos e Dom
das Visitas Pastorais, contagiava Francisco se aplicou sobretudo em
a todos com a ardência dêste zêlo consolidar e desenvolver as a ti
que o levava a organizar o D e vidades e obras implantadas pelo
partamento Docesano do Ensino seu antecessor. Quando, porém, a
Religioso e a promover, na Sede realidade o reclamava, tornava-se
Episcopal e em outras Paróquias, valentemente criadora a sua cari
Semanas e Congressos Catequeti- dade pastoral que escreveu uma
cos. A Catequese organizada larga folha de inestimáveis servi
constituía uma das metas priori ços.
tárias em sua pastoral. Na v e r Antes de tudo, preocupava-o a
dade, D. Francisco sentia que es form ação do Clero, na assistência
sa é a missão prim eira do Pastor: regular aos Padres, para quem
evangelizar aos pobres a Palavra providenciava normalmente o R e
de Deus. tiro anual e as Conferências
Na linha da pastoral litúrgica, mensais, a par de uma acolhida
px-esidia pessoalmente a tôdas as sempre franca e amiga. Desde a
funções diocesanas na Cat Irai, hospitalidade cativante até o diá
Igreja-M ãe de tôdas as Igreias logo afável, encontravam os Sa
Paroquiais, as quais cuidadosamen cerdotes o m elhor ambiente em
te exam inava em seus equipamen Palácio, que funcionava mesmo
tos e serviços. À valorização da como a casa de todos. E se as
Missa dominical sabia juntar c portas da casa estavam sempre a-
incentivo à vida sacramental1 e à bertas, mais acolhedor se abria o
prática da oração. Fomentou a coração. Por isso, graças a Deus,
aplicação das reformas iniciadas não viu jamais perder-se um dos
sob Pio X I I e multiplicou os lu seus Padres e, como Jesus, pode
gares de culto, desvelando-se até ría repetir ao Pai que conservara
pela criação de várias Paróquias todos quantos lhe haviam sido
e mesmo da Diocese de Iguatu, confiados. N ão menos solícita,
desmembrada na m aior parte do patenteava-se a sua preocupação
território de sua Igreja. Tanto com os futuros levitas do Senhor.
53
Incontestàvelmente, o Seminário mo sociológico, D. Francisco nã''
era mantido e amado como a me descurou os problemas sociais.
nina dos olhos, recebendo todos os Ainda não circulavam as termino
recursos materiais disponíveis e logias equívocas de hoje, mas, sem
merecendo o trabalho dos melho assoletrar o nome, êle já canali
res Sacerdotes da Diocese. zava a ação pastoral no sentido
Aos Religiosos, por sua vez, re de conscientização e promoção do
servou uma das mais desveladas Povo.
províncias do seu coração. Dedi No setor educacional, alargando
cou-se em particular à Congrega a área de ação frutuosamente ful-
ção das Filhas de S. Terêsa, criada crada no Seminário de São José,
por D. Quintino e por êle adotada amparou e ajudou o Colégio Santa
carinhosamente, assegurando-lhe Teresa, do Crato, e provocou a sua
a estruturação e a formação de irradiação com a proliferação de
modo que, no seu govêrno, a mes Educandários da Congregação em
ma gosou 0 seu período áureo de diversas Paróquias. Adquiriu e
equilíbrio, de prestígio e de atua modernizou o Ginásio, depois pro
ção. Também, acolheu ou convi movido a Colégio Diocesano. E, a
dou Ordens e Institutos, de ambos não falar no ensino ministrado em
os sexos, contribuindo moral e m a algumas obras promocionais da
terialmente, inclusive com suas Diocese, dentro e fora da Sede,
rendas pessoais, para a sua ins patrocinou com firmeza a criação
talação e manutenção. Comple da Faculdade de Filosofia do Cra
mentava destarte a organização to, pioneira no interior do Ceará.
de sua Comunidade Eclesial, os No campo assistencial, foi m e
tentando mais claramente, a par morável a sua atuação por ocasião
dos Clérigos e Leigos militantes, a das sêcas, notadamente em 1932 e
porção proeminente do seu Povo, 1953. E comportou-se qual bom
consagrada como sinal legível da samaritano, ao ceder o próprio
Igreja escatoiócia. Seminário para Hospital de emer
Também enfatizou a preparação gência em 1936, quando assolava
dos Leigos, nucleados nas Associa a Peste Bobônica. Como assistên
ções Religiosas ferventemente a- cia metódica e organizada, fundou
bençoadas pelo Pastor. E, en a Sociedade Beneficente do Hos
quanto fomentava a assistência pital de S. Francisco de Assis que,
eclesiástica ao Círculo Operário e no correr do tempo, montou o me
outros movimentos, porfiou ardo lhor e mais completo conjunto
rosamente pelo aprimoramento da hospitalar do Estado. Depois de
militância nos quadros da Ação socorrer, anos a fio, a vetusta Casa
Católica. Graças à cooperação de 'Caridade, fundada pelo gênio
devotada de uma equipe de Assis do Padre Ibiapina, aprovou a sua
tentes, houve tempo em que flo atualização, num plano arrojado e
resceram e frutificaram tôdas as portentoso. Antes disto, porém,
organizações fundamentais, segun alcançou a construção do prédio e
do Pio X I, e, ao resignar, ainda a movimentação das atividades do
entregava em dinamismo algumas Liceu Diocesano de Artes e Ofícios.
atividades de Ação Católica Espe Mas, uma das promoções que a-
cializada. braçou com mais alína foi o P a
Numa época em que não era tronato Padre Ibiapina, cuja fi
moda a fantasia de um cristianis nalidade era dar uma continuação
54
atualizada à obra sustentada na mento do patrimônio diocesano,
Casa de Caridade. Ao arrepio dos mediante doações do Govêrno do
seus hábitos e temperamento, não Estado e ofertas generosas do P o
se dedignou de sair em comissão vo. E razão é relembrar aqui a
de porta em porta, arrecadando edificação, às suas próprias ex-
ajuda para a Instituição que êle pensas, do imponente Palácio,
deixou em plena vitalidade, com franciscanamente transferido para
alfabetização de adultos, ensino a Igreja do Crato.
ginasial, doméstico e normal, a- Releva observar que todo êsse
prendizado profissional e a maior esforço, visando a renovar o tem
organização de apostolado jamais poral, operou maravilhosos resul
realizado por Religiosas, na Cida tados, sem comprometer ou des
de, graças às Irmãs Missionárias figurar o conceito apostólico do
de Jesus Crucificado que assistiam Pastor, que antes e acima de tu
às órfãs internas, às domésticas do do D. Francisco timbrava por ser.
centro urbano, aos alunos dos Co Conquanto lhe falecessem os meios
légios Públicos e aos presidiários ricos e as técnicas modernas de
da Casa de Detenção. planejamentos e organogramas, a
Quanto aos meios de comunica ação social da. Diocese era movi
ção, a Diocese que, ao fim de sua mentada quase que integraltaente
gestão, ganhava uma Emissora, à base do voluntariado e do bom
lucrou-se sobremaneira da Tipo senso aplicado à realdade loval.
grafia e do Hebdomadário A Ação, Vacinando-se contra o funciona-
fundado e mantido por D. Fran rismo bem remunerado, a obra
cisco à custa de sacrifícios extra diocesana, funcionava antes como
ordinários. serviço do que instalação, alimen
No tocante ao patrimonial, o tada que era mais da colaboração
nosso Bispo, que viveu pobre e humana que dos recursos m ateri
morreu literalmente pobre, esfor ais. Por isto, não se obnubilava
çou-se por defender os bens ecle a predominância da transcendên
siásticos na sua conservação e ad cia missionária do Sacerdócio M i
ministração criteriosa. Numa pes nisterial, deputado primordialmen
quisa diligente, procedeu à regu te para a missão evangelizadora e
larização de todos os documentos santificadadora. Contidas na pro
da Mitra, das Paróquias e até das porção de meios a serviço dos fins
Capelas Rurais. Integrado no D i mais elevados, felizmente as ativi
reito Canônico e Civil, usou e ge dades eclesiais não rompiam o
riu as propriedades e valores, com equilíbrio pastoral. E, num con
tôda equidade e honestidade, res texto ainda não explosivo, trans
peitando conscienciosamente os parecia, a face iluminada da Ig re
direitos das pessoas físicas e ju ja servidora dos pobres.
rídicas e bem assim a intenção e
vontade dos doadores. Além dos MARTYRIA OU ASCÉTICA
imóveis adquiridos, construídos e DA RENÚNCIA
reformados para o serviço do cul
to ou a ação social, fêz êle cons A ascética da renúncia impõe-se
tituir um valioso patrimônio, em como consequente à mística do
propriedades e prédios, para a O- serviço e ao espírito da comunhão.
bra das Vocações Sacerdotais, as Efetivamente, para que a vida hu
sim como consentiu no SJevanta- mana se pronuncie uma resposta
55
à mensagem divina, mister se faz união com o Papa no Colégio E-
a animação d.e uma fé autêntica piscopal e em comunhão com o
e adulta capaz de levar ao enga Presbitério na assembléia dos fiéis,
jamento real no Reino de Cristo. e que se consumiu no ministério
As exigências do Reino, a postu da evangelização e da santificação
larem a união do amor e o ser e não se desgastou na ação pro
viço do bem comum, correspon mocional em vista à renovação do
dem precisamente aos imperativos temporal.
da vocação cristã, cuja missão é D. Francisco do Crato foi um
proclam ar o anúncio da Boa Nova, grande confessor de Cristo.
oferecer o Sacrifício salutar e san Ora, na vivência comunitária a
tificar a vida e o mundo. A v i emulação do amor ao bem comum
vência comunitária tem de pedir e a prática do serviço ao outro
justamente aquilo que a consagra por fôrça implicam no sacrifício
ção sacerdotal do Batismo tem a de si mesmo. Esta, a razão por
dar: a participação no munus de quê a História associou o testemu
Cristo e na missão da Igreja, pelo nho mais eloquente da Fé em
testemunho da vida e da palavra. Cristo ao heroísmo dos mártires
E isto, por redobradas razões, se que selaram a sua adesão cristã
há de supor num Bispo, consagra com a própria morte. Todavia,
do na plenitude do Sacerdócio M i uma análise profunda constata
nisterial1. que o testemunho autêntico do
Pois, à luz do que acima ganhou m artírio não reside propriamente
enfoque ressalta, à evidência o tes em abraçar a morte, e sim em dar
temunho eloquentemente cristão a vida até o fim . E, muitas vêzes,
dado por D. Francisco no grêmio menos brilhante porém mais he
de sua comunidade. Testemunho róico é sacrificar lentamente a v i
não apenas na palavra e com a da no cumprimento diuturno de
língua, mas sobretudo com a vida dever. Assim o fêz Maria, Rainha
na verdade: ópere et Veritate. A dos mártires.
Verdade, quando é Caminho, não D. Francisco, na fieldade jamais
é coisa de dizer, mas sim coisa de desmentida à sua missão pastoral,
fazer, porquanto é Vida: facientes comprovou a sua fortaleza cristã
Veritaten in Caritate. Viver a Fé de beber a cálice do Senhor. Quem
no Am or — e quem não ama está não se lembra da humilde cora
morto ! — significa encarnar o gem com que, no flagelo da Bo-
testemunho da palavra no teste bônica, se constituiu no Capelão
munho da vida. Podia então pro amoroso que visitava pessoalmen
clamar a mensagem do Reino a- te os doentes e assistia aos m o
quêle que, no cubículo e na comu ribundos ? M aior prova não há do
nidade, cultivava a oração como que dar a vida pelo irmão, en
uma flôr cujas raizes mergulha saiava o Mestre. E a vida, D.
vam numa vida virtuosa, que dia Francisco a empregou e gastou in
logava conscientemente na doação teiramente no sacerdócio da bon
dos seus bens como sinal da doa dade, até que se apagou como a
ção de si mesmo, que se imoláva vela do Altar.
continuamente qual hóstia viva no Como a vela ? Não apenas as
holocausto do serviço de Deus, que sim. Também, como o incenso
se ergueu na Diocese como o sa que, em se queimando, alevanta
cramento da unidade eclesial, em diante dos homens as volutas per
56
fumadas a subirem na direção de com a figura do Papa bom cha
Deus. Sim, porque, se o testemu mado João X X III, experimentou o
nho é fato real e concreto, tem Crato e a Diocese o fascínio da
uma alma de símbolo e vale por bondade soberana de D. Francis
um sinal que deve ser legível para co de Assis Pires.
a comunidade. Por graça de Deus, para nós êle
E o nosso Povo soube entender foi bem o grande Profeta. Tam
a mensagem do seu Bispo santo. bém, o sumo Sacerdote. E, como
Sobretudo no fim da vida, D. ninguém, o Bom Pastor que deu a
Francisco conseguiu a unanimida vida por amor do Reino.
de da admiração e da estima.
Mesmo os indiferentes e anticleri- 3. HONRA AO MÉRITO
cais se curvavam ante a figura
veneranda dêste Pastor, coluna da A vida de D. Francisco foi em i
Igreja do Crato, pára-raios divino nentemente pastoral e, pela virtu
nas horas de tempestade e subli de do Cristo em cujo nome ope
me catalizador do bem entre os rava, contribuiu antes de tudo pa
homens. Dificilmente, logrará a l ra a construção do Reino de Deus,
guém chegar com a cabeça ou despertando assim ressonâncias
com as mãos onde se alcandorou para a eternidade. A sua obra
D. Francisco com os joelhos e o porém, se encarnou na história do
coração. Prova-o o halo de sim Crato. Aqui êle formou uma ge
patia geral que o circundava em ração nova e serviu à comtinida-
vida, atraindo-lhe grandes e pe de inteira. Aqui dinamizou ou
quenos, ilustres e desconhecidos, desencadeou movimentos constru
de perto e de longe, tal como a- tivos e multiplicou Instituições e
contecia nas festas em sua hom e serviços promocionais. Aqui êle
nagem que superavam surpreen conservou, remodelou ou construiu
dentemente as mais otimistas ex prédios e edifícios. Fiel à tradi
pectativas. Comprova-o a eonsa- ção dessa Igreja, sob cujas bên
gradora manifestação de pesar, çãos divinas e humanas nasceu,
quando de sua morte, que desper cresceu e floresceu a gloriosa Me
tou inegàvelm ente a sensação de trópole do Cariri, a sua atuação
que o véu da orfandade caia sô- se configurou, a um tempo, evan-
bre a Cidade e o Povo da Região. gelizadora e civilizadora. Porque
E ainda permanecem indeléveis os influiu de maneira preponderante
traços dessa veneração sincera e na promoção do Homem e da T e r
geral, junto à sua tumba na C a ra, cooperando para a criação dos
tedral, onde se depositam frequen pré-eondicionamentos à atual ar
temente flores de saudade e gra rancada para o desenvolvimento
tidão e se acendem diariamente do Município Modêlo do Ceará.
velas de fé e confiança em um P e r isto, sem favor, conquistou
verdadeiro justo. Tão cedo não se D. Francisco um dos lugares mais
apagará no coração do Povo, que distintos na galeria dos B enfeito
é o seu verdadeiro túmulo, a lâm res do Crato.
pada votiva do amor reconhecido. Inexplicàvelmente, contudo, esta
Bem profetizou o Cristo a ven Urbs hospitaleira e nobre não res
tura dos mansos que possuem a gatou ainda a sua dívida de gra
terra. Pois, à guisa do fenômeno tidão para com o inolvidável Bispo
que o mundo conhecería em breve que, antes de, um dia de festas,
57
receber da Câmara Municipal os até na Imprensa de Fortaleza, com
foros de Cidadão Cratense, já ha os reclamos de J. C. de Alencar
via por anos de devotamento ado Araripe — o escolheu para Pa tro
tado, em seu coração, o Crato por no de uma de suas cadeiras. Me-
sua nova pátria. Um homem, por rece-o D. Francisco, não apenas
muitos títulos benemérito e m e pela sua cultura solidamente ali
morável, que faz jus a um monu mentada, pelas produções literá
mento e a uma Praça como o do rias vasadas em Sermões, Cartas
Cristo Redentor ou a da Sé, nem Pastorais e Circulares, e pelas suar,
sequer pôde ser comemorado no peças oratórias oportunamente
Roteiro Biográfico das Ruas do proferidas, mas também pelos ser
Crato, recentemente pôsto em li viços prestados à Cultura e à
vro por J. Lindemberg de Aquino. Ciência, com a manutenção e fun
Para não aludir a figuras de ilus dação de Educandários de todos os
tres desconhecidos do Povo ou de níveis e com a proliferação de mo
valores extranhos que nada fize vimentos e promoções que, no
ram por esta gleba, enquanto se Crato e na Região, consolidaram a
im ortalizam os nomes de 3 Bispos. vida cultural da Princesa do Cariri.
5 Monsenhores, 6 Padres e 1 Mis Nesta homenagem se reflete bem
sionário, continúa oficialmente es uma justa e incontida manifesta
quecido e ausente o grande Pai ção de Honra ao Mérito.
dos pobres e Amigo da Cidade. Razão me assiste, portanto, de
A nós, que o carregamos sempre louvar e aplaudir êste gesto do
vivo na lembrança como um Nume Instituto Cultural do Cariri, ao
sagrado, a nós que batizámos com qual, não sem desvanecimento e
o seu nome o Anfiteatro e a Fun ufania, apraz-me significar o tes
dação D. Francisco, a nós confor- temunho do meu duplo reconhe
ta-nos sentir que êle caminha em cimento, neste momento solene em
todas as Ruas e está em cada Pra que tomo posse, por primeiro, da
ca do Crato, pois o Povo o l'eva Cadeira que tem por Patrono D.
dentro do Coração. FRANCISCO DE ASSIS PIRES.
Bem haja então o IN STITU TO Tenho dito.
CULTURAL DO C A R IR I que, re Crato, 06 de agosto de 1969
dimindo em parte êsse débito cla MONS. RUBENS GONDIM LÓSSIO
m oroso— tão clamoroso que ecoou Cura da Catedral
--------------------------------------------------------- -
; SONETO PARA LEMBRAR M INHA MÃE
I ZÉYPSILONE
QUANDO O DOCE LU AR C AI NAS CAM PINAS
COMO F IC A M A IS PU R A A SOLIDÃO !
E SIN TO EM MINHAS MÃOS TUAS MAOS DIVINAS
F R IA S COMO É QUENTE O C O RA Ç ÃO .. .
TENS DO M A R O M ISTÉRIO DAS ONDENAS. ..
ÉS M IN H A SUPREMA INSPIRAÇÃO
COM O TEU SILÊNCIO LÍR IC O ME ENSINAS
A DAR AOS QUE SÃO M AUS O MEU P E R D Ã O ...
E O LU AR SE PU R IF IC A NO TEU ROSTO
TU A VOZ É COMO A VOZ DOS QUE NASCERAM
PA R A U M ETERNO E ÍN T IM O D ESGOSTO...
VEM PA R A A SOLIDÃO, Ó BELA E MANSA
A LE LU IA DOS SONHOS QUE MORRERAM
Ó TU QUE ÉS A M IN H A Ú LTIM A E S PE R A N Ç A ...
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Livros didáticos em geral
Literatura e Técnicos
61
filhos — sendo atendida — a não tomarem parte na campanha, de
vez que Antônio Leite de Oliveira fôra dos maiores amigos de Cazuza
Macêdo. Ademais José Francisco Sales Landim, irmão dela, era casado
com Joana Leite de Oliveira, irmã do dito Antônio Leite de Oliveira.
Foi como D. Marica passou a figurar no rol dos adversários do
cel. Totonho.
Posteriormente o referido coronel enceta perseguição aos amigos
e correligionários do sobrinho. Houve ataque ao sítio Pavãó dó cel.
Cândido Ribeiro Campos (Cândido do Pavão). Os perseguidos eram
os Paulinos, sobrinhos do cel. Cândido, os quais, tempos atrás, haviam
sido espancados por um elemento do cel. Totonho, de nome Jósé Gon
çalves Pescoço e tinham então revidado o espancamento. A pretensão
do cel. Totonho era capturá-los. O cel. Domingos Leite Furtado, de
Milagres, vem em auxílio do cel. Cândido que transfere os sobrinhos
para o sítio Taveira (nos limites de Milagres com Aurora), onde o
cel. Domingos os garantiría. O cel. Totonho solicita do Presidente
Acioly, fôrça para prendê-los no Taveira. Por sua vez o cel. Domin
gos providencia elementos para a defesa.
O sítio Taveira já estava ameaçado de cêrco. Pessoas dali in
vadiam, frequentemente, o território de Aurora, praticando arromba-
tos de açudes, incêndios, roubos, espancamentos, além de tentarem a-
poderar-se de terrenos de aurorenses. Havia agitação ali, também pela
iminência da demarcação das terras do Coxá.
A êsse tempo D. Marica é avisada pelo genro — Vicente M a
cêdo de que sua propriedade — o s.tio Tipi — será atacada. Ela, sem
garantias, retira-se imediatamente, com a família, a cavalo, para o
Cariri. Pernoita no Taveira. Pela madrugada o Taveira é cercado.
Há forte e demorado tiroteio. Varado de balas, tomba seu filho José
Antônio de Macêdo, de 14 anos de idade. É sepultado em Boa Espe
rança, hoje Iara.
Era o dia 17 de dezembro de 1908.
O acontecimento ficou conhecido como o “ Fôgo do Taveira” .
N'o Cariri D. Marica conta com o irrestrito apôio de seus paren
tes, coronéis Antônio Joaquim de Santana e João Raimundo de Ma
cêdo (Joca do Brejão). Êstes juntamente com os coronéis Domingos
Furtado e José Inácio, do Barro, exigem do Presidente Acioly a reti
rada da fôrça que permanecia em Aurora. Comunicam-lhe outrossim
o propósito de devastar aquela vila, como represália ao ataque feito ao
território do cel. Domingos. Incontinenti o Presidente ordena a salda
do contingente policial. O cel. Totonho com sua gente foge para ou
tros municípios.
A 23 de dezembro chegam os atacantes. A resistência é insig
nificante. A vila capitula. Os agressores roubam e incendeiam casas
comerciais. Praticam outras ignomías. A pilhagem e a devastação
atingem inclusive as propriedades do cel. Totonho e de pessoas suas.
62
Dentre as propriedades que foram incendiadas menciono o sitio
Jitirana, de meus ancestrais maternos — os Torquato Gonçalves. José
Torquato Gonçalves Ferreira Júnior era genro do cel. Totonho, e seu
irmão Róseo Torquato Gonçalves, delegado de Aurora, comandara o
ataque ao Taveira conforme as ordens do mesmo coronel.
O trágico evento é referido em Aurora, como a “ Questão de 8’’.
Cessada a questão, começa o poderio de D. Marica Macêdo que
reveste tôdas as características do coronelismo. Passa a ser legítima
mandona. A té 1924, ano de seu passamento, exerce profunda influência
política no município de Aurora.
Após a derrota dos inimigos, até 1914 assume a Intendêneia Mu
nicipal o cel. Cândido Ribeiro Campos; a função de juiz municipal l.°
suplente José Francisco Sales Landim, (irmão de D. Marica), a de 2.°
suplente Antônio Landim de Macêdo, (filho de D. Marica), a de 3 °
suplente João Monteiro Damasceno, a Delegacia de Polícia João Cân
dido Ribeiro, (filho do cel. Cândido).
Deposto o Presidente Franco Rabelo (1914), é someado prefeito
de Aurora Manuel Teixeira Leite (cel. Teixeira), sôgro do mencionado
Antônio Landim de Macêdo e irmão do cel. Totonho Leite, pôsto que
seu inimigo político. Perm ane:e no cargo até 1919, sucedendo-lhe o
genro Antônio Landim de Macêdo que governa até 1922, quando toma
posse mais uma vez o cel. Cândido Ribeiro.
NOTAS
1 — D. Maria da Soledade Landim (Marica) era natural de
Missão Velha, filha de João Manuel da Cruz (Joca) e de Joaquina de
Sales Landim (Quina). Seu marido — José Antônio de Macêdo (Ca
zuza) — era também de Missão Velha, filho de João Antônio de M a
cêdo e de Maria das Dores Paes Landim.
Vinculam-se ambos a colonizadores do Cariri, a famílias histó
ricas da região, fixadas já no século X V III, em terras caririenses,
consoante estudos e pesquisas do historiador e linhagista Padre An
tônio Gomes de Araújo.
Da fam ília foi o primeiro casal que instalou morada no muni
cípio de Aurora no último quartel do século passado.
Viúva, D. Marica convola a segundas núpcias. A propósito va i;
ressaltar que, em 1906, no mesmo dia, realizaram-se quatro casamen
tos, exemplo típico do entrelaçamento das familias nordestinas :
a) D. Marica casou-se com Antônio Abel de Araújo (também
viú vo ).
b) Manuel Inácio da Cruz, (viúvo), irmão de D. Marica, matri-
moniou-se com Maria Abel de Araújo, filha do citado Antônio Abel.
c) Casaram-se dois filhos de D. Marica — Raimundo Antônio
de Macêdo (Mundoca) e João Antônio de Macêdo, respectivamente
63
com Maria da Glória Furtado da Cruz e Joana Furtado da Cruz, filha
de Mianuel Inácio da Cruz.
2 — Assaz ilustre é a descendência de D. Marica. Desta-co den
tre seus filhos :
a) Cel. Antônio Landim de Macêdo. Vivo, com 78 anos. Balu
arte e mentor da família. Varão de raras qualidades morais, inclusive
coragem excepcional. Viveu horas amargas. Dissolveu questões e de
sentendimentos no seio da própria familia. Esteve foragido. Resistiu
a ataques de adversários. Sentiu, por vêzes, roçarem-lhe o corpo os
projéteis, cujos vestígios ainda se verificam r.a casa em que residiu e
onde funcionam atualmente, os Correios e Telégrafos de Aurora.
De documentos do seu arquivo, tomei nota dos cargos que ocu
pou, com as datas correspondentes às nomeações : 14-2-18 — l.° su
plente do substituto do Juiz Federal; 8-7-19 — prefeito municipal;
32-8-20 — presidente da Junta Municipal'; 13-6-44 — l.° suplente do
Delegado de Polícia; 19-8-45 — adjunto do Promotor de Justiça;
25-4-59 — Delegado de Polícia.
b) Raimundo Antônio de Macêdo (Mundoca, falecido) — Dele
gado de Polícia de Aurora, por nomeação de 17-3-21. (Arquivo de
Antônio Macêdo).
c) Silvino José de Macêdo. (Ainda vivo). Fundador da capela de
Na. Sra. do Perpétuo Socorro e da povoação, séde do Distrito do Tipi.
Juazeiro do Norte, janeiro de 1970.
- -
------------ --------------- — ------ ----------- -------------- -----------------------------------------'
S O L D Ã O
DJANIRA F1LGUEIRAS
A NOITE SÓ, A NOITE FR IA
A BALADA DO VENTO QUE SUSSURRA
UMA PRECE, UM LAMENTO.
TUDO É TRISTEZA, É ESPERANÇA QUE SE VAI.
O PERFUME DAS FLORES QUE MURCHARAM NA SAUDADE...
AO REDOR, A CHUVA CAI
O PRANTO, A AMARGURA DA VIDA
A INTRANQUILIDADE, O MÊDO
ENVOLVENDO A A LM A DE TÉDIO E NOSTALGIA
E O DESEJO IMENSO DE G R ITAR
G R IT A R PARA ESQUECER A DOR
PARA ABAFAR A MÁGUA
DA LEMBRANÇA QUS FUGIU PARA NÃO MAIS VOLTAR
O PASSADO DISTANTE. A AGONIA IN FIN ITA
SABOR DE MEL E DESVENTURA.
E SOB A LUZ MORTIÇA DO “ABAJOUR'’
SOMERAS QUE PASSAM.
E NO CÉU, ESTRELAS QUE BRILHAM E QUE SE APAGAM,
NA ETERNA GRANDEZA DO CRIADOR.
Recife, julho de 1969
- ___________ ■^
T E R R A S DE
I N VA S A 0
Francisco de Vasconcelos
65
filhos : Leninha, Icinho, Vavá, Irá Êste senhor de águas, sem qual
e Lulú, que nos dias que correm quer documento hábil, transferiu
contam, respectivamente, 13, 11, 8, os seus direitos à nova adquirente,
7 e 4 anos. Mas as desavenças cem contratos ou escrituras. Ne
com o marido, levaram Nanoca à gócio de boca, à vista e sem re
uma separação, que a obrigou a cibo. Transação surpreendente
fugir para Salvador com a filha- mente simples à base da confian
rada às costas afim de arranjar ça, sem prestações de contas aos
trabalho para o sustento da pro cofres públicos, em têrmos de im
le. Encarou a luta sem esmoreci- postos, taxas, laudêmios, etc.
mento. Aos trancos e barrancos E pensar-se que tôdo aquêle
conseguiu finalmente um lugar na mundo construído sôbre água e
Cia. E. I. N., que se dedica à fa lôdo nasceu e cresceu assim, atra
bricação de sacos de aniagem. vés de negócios ingênuos, onde
Seus rudimentares conhecimentos não há a interveniência dos po-
nunca lhe permitiram perceber dêres constituídos, onde as parte.;
mais que o salário mínimo. não se munem de documentos ca
A té aí, nada de novo. Cada pazes de lhes garantir os direitos
um tem o salário condizente com em qualquer tempo. Serão estas
o seu grau de instrução e com sua as vantagens da ignorância e da
capacidade de trabalho. Mas, a falta de civilização ?
poderosa emprêsa, construída prã- Fiais, não passa de uma
ticamente dentro dágua, à m ar imensa favela que se desenvolveu
gem da Estrada de ferro que liga em tôrno da Cia. E. I. N., naquêle
a capital baiana a Paripe, Peri- pedaço de funda da Bahia de Tô-
peri, Nazaré das Farinhas, etc., dos os Santos, onde se chega es
nunca se preocupou em construir falfado depois de muito perguntar
casas proletárias decentes para os e de tanto bater pernas. Vejamos
seus funcionários. As poucas mo o roteiro mais simples para se
radias que alí existem, pertencen chegar até lá. Partindo da Praça
tes à fábrica, sôbre serem cons Cayrú, segue-se até o Largo dos
truídas em lugares insalubres, são Mares e daí ruma-se para o Largo
ultra rudimentares e quase imun do Tanque, passando pelo Mercado
das. Além disso, são disputadís- da Baixa do Fiscal. Do largo do
simas pela numerosa legião de o- Tanque, saem várias estradas.
perários. Numa dessas palhoças, Mas não há que errar; a certa é
Nanoca conseguiu se abrigar por a de São Caetano. Por ela, cami
algum tempo. Mas, as paredes de nha-se cêrca de trezentos metros.
taipa ameaçaram ruir. O telhado Logo à esquerda, em meio à u’a
cedeu e as crianças passaram a moita, desce uma picada em dire
correr perigo. Foi então que ela ção à linha férrea e à maré. Não
comprou nas circunvizinhanças um é preciso cuidado. O povo é bom
“ pedaço de m aré” por Cr$ 60,00 e e mesmo a noite não oferece pe
alí resolveu construir o seu bar rigo. Lá embaixo, está Fiais, com
raco de tábcSas. O negócio foi o imenso prédio da Fábrica e o
simples. Apesar de tudo aquilo casario que se desenvolve ao Deus
pertencer à União, havia um ra dará, sem um plano de urbaniza
paz que se dizia dono daquela por ção, sem infra estrutura, sem leis
ção de mar, que ninguém sabe on e posturas, na constante aventura
de exatamente começa e termina. da conquista do mar.
66
E Nanoca vive alí, com a fi- de altura. 'Portas não existem e,
Iharada e um novo companheiro as poucas janelas vivem ferrolha-
de infortúnio, “ seu” Lando, peque das. O soalho, tem tantos bura
no negociante na- Baixa do Fiscal. cos e fissuras, que todo cuidado é
Homem rude, sempre amargurado ponco, para que pequenos objetos
e queixoso, é, entretanto, bom pa não caiam no chão, pois arriscam-
ra a mulher e para os enteados se a desaparecer dentro dágua.
Foi êle, aliaz, o arquiteto e o cons A casa, comunica-se com a ter
trutor do barraquinho, erguido às ra firm e através de uma pequena
pressas dentro dágua, durante ponte de madeira apoiada sôbre
noites a fio, porque o dia era es paus roliços A parte da ponte
casso para a luta no mercado. contígua ao barranco, faz as vê-
Primeiro, foi a dificuldade de zes de alpendre, onde Nanoca cul
arranjar madeira adequada para tiva algumas plantas, jeitosamen-
as estacas de sustentação da casa. te condicionadas em latas. A lí
É de se explicar, que não serve também está o enorme cilindro de
qualquer uma, pois que as funda ferro onde se guarda água para
ções têm que resistir ao sobe e os serviços domésticos. E, esta
desce da maré. Somente aroeira, água vem de longe. As crianças
sapoti e massaranduba apresen vão buscar no chamado Crafariz
tam condições de durabilidade e da Lavadeira, do outro lado da li
segurança. Depois, foi o árduo nha de ferro, a cêrca de quinhen
bater de estacas até encontrar tos metros de distância. A senti-
terreno firme. Seguiram-se o soa na, designação local do aparêlho
lho de táboas de pinho e as pare sanitário, é um buraco no soalho
des no mesmo material. Final de um cubículo de madeira cober
mente o engradamento de traves to de zinco. A tosca construção,
sas e ripas, cortadas no mato ao erguida a uns vinte metros do bar
acaso e, a cobertura de telhas raco, é sustentada por duas esta
francesas. Mas, as telhas conse cas fincada em terra firm e e duas
guidas a duras penas, não chega dentro dágua, de modo que os de
ram para tôdo o telhado. O di jetos quando espelidos, já caem no
nheiro não deu e não dá para mar, evitando assim maiores pro
comprar mais e, assim, ficou um blemas. Releva notar, que êste
enorme vazio no teto, por onde a primitivo e funcional aparêlho ser
lua penetra mansamente, diria o ve também a outras famílias das
poeta, esquecendo-se que a chuva vizinhanças.
também existe. O barraco de Nanoca dorme
O barraco consta tão somente aberto. Há um tapume, perma
de duas peças : uma sala grande, nentemente encostado à parede da
em forma de L, que serve para frente, que faz as vêzes de porta,
tudo, sendo sala de visitas, de jan mas raramente é usado. Quase
tar, dormitório, despensa e cozi não há necessidade do seu emprê-
nha e, um quarto de proporções go. Nada há naquela morada que
reduzidas, onde se aloja o casal, possa interessar, mesmo a “ ladrão
onde também Se toma banho à de galinha” .
base da cuia e da bacia. Separa De móveis e utensílios, pouco
os dois cômodos um taboado mal há que falar. Apenas três camas
alinhavado e cheio de frestas, que mutiladas peto tempo e pelos maus
não atinge um metro e sessenta tratos, um sofasinho com as mo-
67
Ias a rompei- a lorração, peça de va-lhe meu apelido — Chico. Êle,
dupla utilidade, único assento para num sorriso malandro não perdia
as visitas e leito para um dos me tempo : “A bença seu Chico” . I-
ninos. Duas cadeiras, u’a mesa cinho é o mais preguiçoso. Custa
para refeições, umas poucas de a deixar o desconforto do sofá de
panelas, pratos, xícaras, talheres molas saltadas. Irá, toma logo da
de flandres e um fogão velho, eis vassoura para varrer o barraco,
tôda a riqueza daquela família. enquanto a água ferve para o ca
E, nos outros barracos, não é di fé. Leninha desembaraça os ca
ferente a situação. belos de Lulú e depois prepara as
As roupas, de cama e do ves escovas para que tôdos escovem os
tuário, são guardadas em malas dentes. Isto dia após dia, na mo
empoeiradas e encardidas. Nada notonia de uma rotina que é de
de rádio ou televisão, peças já tôdo aquêle lodaçal, sem horizon
muito comuns nas favelas cario tes e sem esperanças. Ainda as
cas. Na redondeza, há apenas um sim as crianças riem e brincam
aparêíro de TV, que atrai grandes sem amarguras e malcriações.
e pequenos às primeiras horas da Nunca ouvi daquelas bôeas o me
noite. Em geral, dorme-se cedo nor queixume, a mais leve lamú
em Fiais. Não pela falta de luz ria, um desabafo siquer. Infância
elétrica, o que muitas vêzes é mo pobre, quase miserável, porém con
tivo para que tal aconteça, mas formada, talvez pela falta de a-
pelo fato da vida começar muito cuidade suficiente para perceber a
cedo em virtude dos rígidos ho imensa e profunda desgraça em
rários da Fábrica. Saliente-se que que se arrasta.
tôda Fiais gravita em tôrno da Todas as manhãs compra-se
Cia. E. I. N. Nanoca, por exem um quilo de pão. A encarregada
plo, deita-se às oito horas da noite é Irá. Leninha divide os pedações
e sai de sasa às quatro da manhã. entre os irmãos, depois de passar
Seu companheiro, não tem horário um pouco de manteiga nos mes
certo e às vêzes nem vem dormir, mos. Depois, uma xícara de café
empenhado que está em compras preto para cada um e nada mais.
de mantimentos pelo interior, a- Ninguém tem o direito de repetir,
fim de bem fum ir sua barraca no pois não há sobras. O almoço é
Mercado. Com Nanoca, sai uma frugal1 e especificamente pobre.
comadre velha, que parece sozinha Carne é artigo de luxo, verduras
no mundo. Figura taciturna, de são inusitadas, feijão, farinha e
pouca conversa, fala por monossí- arroz mitigam a fome da família.
labos em meio a cuspidelas pelo O jantar, consta invàriavelmente
chão. Também é funcionária da de uma sopa de macarrão e de
Fábrica e contribui para as des uma xícara de café com pão. As
pesas da casa. Às seis horas, co vêzes, as crianças catam algumas
meça a criançada a se levantar. ostras. Então, faz-se verdadeira
Leninha, a mais velha, assume o festa, pois a meninada diverte-se
comando da casa e bota os meni a valer quebrando as conchas, pa
nos para trabalhar. Vavá, vivo e ra retirar os moluscos e preparar
simpático, dormia numa caminha a muqueca.
perto de mim. De manhãsinha Mas Nanoca, em breve estará
êle me perguntava : “ Como é seu em terra firme. Pretende ela, a
nome” ? E eu maquinalmente da exemplo do que fazem os vizinhos,
68
BARBALHA, 21 DE DEZEMBRO DE 1968
Abraço-o
/1 '
TEUS OLHOS CATANHOS
G. L ô BO
QUANDO EU V IA NO CÉU, A SERENA BELEZA
DE UM LINDO P A R DE SÓIS, A T R A N S M IT IR FULGORES,
NÃO SABIA QUE A LUZ, ESSA LUZ DE ESPLENDORES
PR O V INH A DE OUTROS SÓIS DE SIN G U LA R GRANDEZA.
MAS, EM FIM. DESCOBRI, (QUE BELEZA, QUE AMORES ! )
QUE A LUZ DÓ TEU OLHAR, É QUE EM PRESTA A PUREZA
A DOÇURA, A MEIGUICE, A SU TIL SINGELEZA
ÀQUELES LINDOS SÓIS, DA M AIS BELA DAS CÔRES...
SÃO TOPÁZIOS GENTIS, OS TEUS OLHOS MORENOS;
B R ILH A NÊLES A PAZ, EM FULGORES SERENOS,
EMBEBIDOS DE GRAÇA E PRAZERES TAMANHOS.
NOS TEUS OLHOS EU GUARDO A C AR ÍC IA DE UM BEIJO;
VEJO NÊLES O AM OR EM SUBLIME LAMPEJO
E A TERNURA A SO R RIR NESTES OLHOS CASTANHOS.
>■ ■ ... ' ......................................................
69
Onde e Quando Morreu
B Á R B A R A DE ALENCAR
J. DE FIGUEIREDO FILHO
(T R A B A L H O APRESENTADO NO I I SIMPÓSIO
70
a liberal família Alencar. Seu campo de ação abrangia todo o sul
da Província. Operações e transportes de tropas se davam contínua
mente, entre o Icó, a zona caririense, Santana do Brejo Grande, As-
saré e S. Mateus. E a fazenda Touro, onde ficava, senão nas imedia
ções das lutas ?
Nos artigos que escrevi defendendo meus pontos de vista, compro
vei até que a província piauiense estava bem guarnecida nas fronteiras.
Citarei trecho do terceiro volume de “ HISTÓRIA DO C AR IR I” , de mi
nha autoria, página 13, edição — 66 :
“Para Bárbara Pereira de Alencar o abrigo nas terras piauienses
era mais do que o esconderijo natural e o aconchego dos seus. A lí
havia a proteção de ficar sob a segurança de homens armados, sob a
imediata responsabilidade do govêrno provincial e da própria Regência
Vejamos o que diz Abdias Neves em “ O PIA U Í NA CONFEDERAÇÃO
DO EQUADOR’-, editado pela Imprensa Nacional, 1921 — Rio de Ja
neiro : “Anos de paz e reconstituição econômica decorrera, o espírito
de rebeldia entretanto, continuava latente. Irrompe no Crato com o
movimento do coronel Pinto Madeira que à frente de tropas numerosas
e de um grande partido, se levanta em favor do ex-imperador. Cum
prindo ordens positivas da Regência, é o Piauí obrigado a agir para
evitar o contato dos agitadores e ir em socorro do Ceará. Põe 500
praças municiadas à disposição do govêrno, servida por duas BOCAS
DE FÔGO e as mantém enquanto durar a revolução” .
Creio que Dona Bárbara, no fim de sua jornada terrena, não
tinha melhor proteção contra os pintistas, seus inimigos, do que 500
praças municiadas, dois canhões, fiéis à Regência, govêrno em que seu
filho José Martiniano de Alencar tinha vez de comando.
Em Itaguar, em 1962, muitos membros da família Alencar vieram
do Piauí para a Missa na Capela e à aposição da lápide no túmulo de
Bárbara Pereira de Alencar. Tive ocasião de falar com muitos 'êles.
Todos foram unânimes em afirmar que a heroína fechara os olhos
entre seus parentes de Alecrim. A casa conserva-se envolvida por ou
tra maior e ainda perduram muitos pertences de D. Bárbara, guarda
dos, como relíquias da fam 'lia” .
A data exata da morte é que se ignorava e por isso não constou
da inscrição da lápide que o Instituto Cultural do Cariri, de Crato,
mandou apôr alí.
A BIBLIOTECA NACIONAL distribuiu há pouco o volume 86 de
seus ANAIS, referentes à correspondência passiva do SENADOR JOSÉ
MARTINIANO DE ALENCAR. É da DIVISÃO DE PUBLICAÇÕES E
DIVULGAÇÃO - 1968, só presentemente divulgada. À página 248 dá a
chave exata do problema. Faleceu ela em terras do Piauí no dia 28
de Agosto de 1832. A carta é dirigida a José Martiniano de Alencar
por seu primo e colega de sacerdócio — Carlos Augusto Peixoto de
Alencar.
71
Transcreverei apenas trecho da carta que está à pág. 248 :
72
Tf lü © W /A Para ITAYTER A
ILDEBRANDO SISNANDO
73
Quisesse Deus m e em prestar C ontigo canto dorm indo,
seu poder p o r um segundo, contigo sonho acordado,
m oça algu m a sem casar contigo vivo sorrindo,
fic a ria neste mundo. co n tig o ao céu fu i levado.
74
baús que teem as iniciais de meu
0 Baú Verde pai pertencem a meus filhos.
Em casa de Cauby, em S. Paulo,
está um dos tais, restaurado, con
Zuleika Pequeno de Figueiredo servando as características de an
tiguidade, apenas envernizado e
Se eu podesse advinhar que um polidos os pregos dourados que lhe
dia os baus velhos seriam anti servem de ornato. Lá, foi um su
guidades preciosas, teria pedido cesso ! Americano, apreciador de
preferência dos de meu avô. velharias, ofereceu-lhe um dinhei
Lembro-me que anos atrás, os rão. Ele não quiz se desfazer de
que restavam, escondidos como sua preciosidade■ O da filha Enei
coisa fóra da moda, foram dados, da, enfeita-lhe também a casa.
vendidos por qualquer preço, ou Mas, o que mais guardo recor
ainda aproveitada a madeira de dação é do bau verde de mamãe
cedro, para cômodas ou outros onde ela guardava retalhos e ou
móveis. tras bugigangas. No dia destinado
Grandes, pequenos, retangulares à arrumação, era uma festa. Her-
ou com tampa curva, com arabes- dáva-mos o que sobrava e as bo
cos de pregos dourados encrusta- necas iam ter novas roupagens.
dos em couro preto ou marron. Havia outro grande, imenso, com
Enormes fechaduras embutidas. grades de cadarço, de espaço a es
Alguns com parte suposta, inter paço, onde era guardada a roupa
na, com chave minúscula para engomada.
desfarçar serviam de cofre, onde Outras velharias resurgiram do
era guardado o dinheiro destina desprezo a que haviam sido rele
do à compra dos negociantes, na gadas
“ Praça”. Tachos de cobre, areiados, relu
No tempo dessas arcas de pre zentes, serviam para fazer os do
garia, o comércio do Crato era ces de buriti ou leite. De diver
feito com Recife. Tudo transpor sos tamanhos, conforme a quan
tado em costa de animal. Nem tidade dos ingredientes.
sei quantos dias nessas longas ca Nos tachos grandes, refinava-se
minhadas. Quando o sol a pino o açúcar mascavo. Quando bati
fazia suar o cavalo e o cavaleiro, do, pulverisado e peneirado, as
botavam abaixo o comboio. Ar- crianças esperavam pelos caroços
ranchavam-se em alpendres de para saboriá-los. N a cosinha cos
casas de fazenda, ou à sombra de tumavam dizer : “ Menina, não co
juazeiros à margem dos riáchos. me açúcar puro que cria lombri-
Mêsmo sêcos no verão, ficam ca gas” .
cimbas com agua fresca. O arre- Elas ainda não conheciam a
eiro, depois de arrumar o cercado estória de Jeca Tatu.
para os animais ia cuidar na boia. Que dizer do pilão ? Despreza
O arroz fumaçando em panela do e carcumido, lá num cantinho
sobre trempes de pedra e a car do quintal ? Outrora duas moças
ne sêca no espeto, aguçando o a- de serviço, alegres e fortes, ao rit
petite. O dono do comboio r»a rê- mo do “ tum — tum, tum, tum” ,
de branca de varandas, repousan pilavam o arroz, o milho e o café.
do e aguardando a refeição. Anos depois quando já havia
Dois dos remanescentes desses motores de descaroçar arroz, o
75
Padre Cícero — Mito e Realidade
PEDRO GOMES DE MATOS
Antes de mais nada, “ Padre C'.- de esclarecer e apontar, no que
cero - M ito e Realidade” (Editora não prescinde da erudição. Se bem
Civilização Brasileira, 584 págs.), “ Padre Cícero - M ito e Realidade”
de Otacílio Anselmo, é uma obra não seja um livro polêmico, como
de mérito, de muito mérito. A aliás adverte o autor, há nêle a-
rigor, não se trata de obra de in firm ativas discutíveis e pontos-de-
terpretação sociológica ou psicoló vista dos quais pode o leitor dis
gica. Porém se biografia é a his cordar, não arbitrariamente, mas
tória de uma vida, pode dizer-se com arrimo na formação cultural
que a vida do Padre Cícero aí es e nos intercâmbios sociais e eco
tá descrita, da infância à velhice. nômicos da região do Cariri.
Embora Otacílio Anselmo escreva Com “ Padre Cícero - Mito e R ea
com indisfarçável atitude interior, lidade” presta Otacílio Anselmo
tudo quanto êl'e afirm a é calcado valioso serviço às letras históricas,
na melhor massa documentária. inclusive sob o aspecto geográfico.
Sou em que até agora não se reu O capítulo “ O M EIO” é uma pá
niu em volume sôbre a discutida gina digna de Euclides da Cunha.
figura do Patriarca de Juàzeiro
Veja-se êsse trêcho :
tão vasto documentário. O inte-
rêsse de Otacílio Anselmo na m i “ Constituindo-se um arco de
núcia, leva-o a digressões, a des- círculo orientado de leste a oeste,
bordamentos de todo desnecessá com um comprimento aproximado
rios. Daí resulta a amplitude do de 180 quilômetros por 33 na sua
contexto, que chega a desapontar maior largura, e tendo uma alti
o leitor menos cioso de generali tude que varia entre 900 a 1.000
dades. Tudo porém quanto Ota metros, a cordilheira, araripiana
cílio Anselmo escreve em “ Padre caracteriza-se pela planura de sua
C cero - M ito e Realidade” tem o chapada e o contorno escarpado
seu valor, ilustrativo e histórico. de suas encostas, submetidas à
Trabalho de pesquisa, nenhum ou ação lenta mas continuada das
tro o sobrepuja na documentação, erosões, pelo que já foi denomi
cujas fontes o autor se não cansa nada de “ serra em decomposição” .
Dêsse trabalho demolidor exercido
pelas precipitações pluviais, resul
café de Baturité, ainda era pilado ta o desmoronamento das verten
em casa. As torrefações livraram tes e sua transformação em talu
a doméstica desse trabalho. O des quase a prumo, surgindo, aqui
gosto bom do café é que não exis e acolá, ravinas gigantescas como
te mais. as que não vistas nos arredores de
Hoje, deixaram de ser utilidades, Grato, Nova Olinda, Santana do
levados para apartamentos do Rio Cariri e Jardim, por onde rolam
e S. Paulo, como objetos de deco camadas de areia que aterram as
ração. baixadas” .
A h ! Se as antiguidades huma Meus aplausos, e calorosos, a
nas estivessem também na moda ! Otac'lio Anselmo.
76
Embate Humano e
JOSÉ DOS ANJOS DIAS
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então, foram encaminhados aos E. Os ossos estão no Museu Na
Unidos da América do Norte amos cional, na Guanabara. Além t.o
tras para exame. ossário, encontraram utensílios
O C 14 revelou que datavam de domésticos em cerâmica.
7 500 anos. Os sêres humanos que A ciência não é inimiga da
viveram na região do fóssil, eram Bíblia, tem procurado clarear as
mais antigos do que Adão e Eva. incertezas de quem as possui pa
Como se explica isso ? Co ra fazer desaparecer as dúvidas,
nheciam algo da indústria, porque sem pretensão de pôr por terra,
fabricavam tecido, embora gros os ensinamentOs religiosos.
seiro, suponho que faziam uso do O Velho e o Nôvo Testamento
tear primitivo para tecelagem, a- são livros de inspiração divina,
cionado pelo movimento do pé do proféticos e em parte, históricos,
tecelão ou da teceloa. sem nenhuma concatenação cien
Aquela interrogação é para a tífica.
idade de Adão e em tom respei Não tenho propósito de fazer
toso, consoante a revelação em pouco de alguém, por outra forma
DESPERTAI. Servirá de observa menosprezar a Bíblia, todos nós
ção e confrontação entre os nú somos falíveis e a ciência, não.
meros de anos de Adão e os do Minha intenção neste artigo, é
fóssil, para termos as coordenadas dar conhecimento que o último
e definir com exatidão, se Adão fóssil descoberto no Brasil, é mag
foi o primeiro varão e Eva a pri nífico pela revelação que nos trou
meira mulher. Os esqueletos esta xe. Deu-nos a conhecer que o
vam chamuscados, havia sôbre povoamento de nossa Pátria, no
êles tições e carvão, fazendo-nos solo bahiano, assinala um período
crer que os sepultantes usavam superior a 7.500 anos, isso é sur-
pôr fogo nos sepultados, antes de preza extraordinária !
cobrí-los com terra. Mais tarde, o Tempo e a Pro
Na índia, até hoje, perdura o vidência Divina, tomarão para si
emprêgo de incineração dos cadá a incumbência de nos ofertar ou
veres, queimados na fogueira e tros fósseis mais antigos.
acompanhado de ritual1 para al Porque aquela e aquêle outro,
cançar um fim determinado. Em são liberais em tudo e para tudo,
tôdas as cousas há mistérios so não usam de sovenice.
brenaturais, exclusivamente com Não era povo sem arte, porque
preendidos pelos iniciados das cou usava tecido; teria sido ramifica
sas divinas ou espirituais, eis os ção dos homens da Atlântida ?
casos da índia, Sociedades Filosó Para considerar Adão e Eva co
ficas e a Maçonaria com seus se- mo originadores da humanidade,
grêdos maçônicos. dando-se a Adão 5.994 anos como
Anterior a descoberta arqueo as T E S T E M U N H A S
lógica na “ GRUTA DO PADRE” , DE J E O V Á afirmam, força-
houve outra importantíssima em nos a depreciar a ciência. Se fos
Minas Gerais. Em Lagoa Santa, se possível negar a verdade nela
foi encontrado um fóssil, testes contida, então poderiamos enxotá-
radioativos realizados por especia la do nosso convívio, mas, até en
listas na América do Norte, reve tão, não apresentou desvio de bom
laram que a ossada rumana tem caminho e, jamais afastar-se-á da
mais de 10.000 anos. retidão, continuará com bôa-fé no
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proceder. Os fósseis da “ GRU TA tender. Eis porque, limitou-se a
DO PAD RE’’ e de Lagoa Santa, dizer ao povo, a fim de satisfazer
através da ciência, provam que a curiosidade de alguém que, Deus
antes de Adão e Eva surgirem, já criou o mundo em seis dias, tendo
existiam sêres humanos no solo como primeiro varão Adão.
brasileiro. Em nosso lar, quando um filho
Vejamos que um daqueles fós pergunta : — Mamãe ou papai co
seis tem mais de 10.000 anos, Adão mo foi que eu nasci ? Apresen
únicamente 5.994, bôa diferença tamos dona cegonha como trans
para a idade dêste. portadora da criança e nada da
Aquelas descobertas pré-históri realidade. O tempo com sua sa
cas, são corroborantes de que o bedoria, encarrega-se de revelar
gênero humano não teve inicial ao infante. Então, foi escrito que
em Adão e Eva, houve várias fon o mundo teve origem em seis dias,
tes genetrizes. Adão e Eva os primeiros morado
Podendo-se compreender e per res da Terra.
ceber pelas revelações da ciência, Atualmente com o desenvolvi
que Adão e Eva não foram os ge mento da ciência e, a mente hu
radores da humanidade, como tí mana bastante esclarecida, pôde-
nhamos à idéia. se chegar a uma conclusão de que,
Pelo fator exposto, o livro sa os seis dias foram seis per'odos,
grado não vai deixar de manifes porém, não se sabe a duração de
tar-se como regedor das relações cada.
entre o homem e a divindade, Quando Adão e Eva tomaram
tampouco perde a essência divina conta do Paraíso, já existia gente
que encerra. em Minas Gerais e no atual ser
Pela motivação que a ciência tão da Bahia, nas cercanias da
faz positivar a idade da matéria, “ GRUTA DO PA D R E ” , segundo
não exclui Adão em continuar me prova a ciência. Isso, conforme
recendo, todo respeito de nossa os resultados dos testes radioati
parte, por ter sido um privilegia vos, efetuados na América do N or
do de Deus, em concorrer para a te, com as amostras enviadas dos
proliferação da Terra, juntamente fósseis da “ GRU TA DO PADRE” e
com outras famílias mais antigas. Lagoa Santa.
Não podemos encobrir a verdade Existe muita cousa doutrinada
sôbre a sabedoria de Moisés, não como evidente, no entanto, na rea
se pode negar que tenha exercido lidade a explicação que recebemos,
o ocultismo de tal maneira que entra em dissentimento com o rea
sobrepujou a todos os magos do lismo e acolhemos como certa.
seu tempo, colocando-se na van Adão e Eva realmente existiram,
guarda. porém, a raça humana não teve
Conhecia os Mistérios da Cria origem exclusivamente dêsse ca
ção. Porém, na esfera inculta em sal, os fósseis da “ G RU TA DO
que vivia, não podería fazer co PADRE” e de Lagoa Santa, são
nhecer ao povo rude conduzido por provas insofismáveis. O Velho
êle, a duração exata dos períodos Testamento, narra claramente que,
da Criação. Isto, porque perdería o primeiro filho de Adão e Eva,
seu tempo em relatar, visto que, Caim, depois de praticar o homi
aquela gente não possuia senso de cídio contra seu irmão Abel, a-
compreensão adequado para en bandonou o lar de seus pais e f °i
79
morar noutra torra. Lá, contraiu A DÁDI VA
matrimônio e fundou uma cidade.
Nessa exposição de fatos com Ao Rvmo. Pe. Hélio Ramos,
preendida no primeiro volume da no seu natal'cio
bíblia, é uma corroboração de que Quando viestes das alturas,
existiam pessoas descendentes de Harmonias vivas, puras,
outras famílias. Soaram no abismo dos céus.
Após a saída de Caim, nasceu o Contra o mal que o mundo encerra,
terceiro filho de Eva, chamado Mais um levita na terra,
Seth-, daí então, brotaram-lhe as Mais um soldado de Deus !
filhas. Porém, a Bíblia não es
pecifica a quantidade de meninas Sim, pois luta aquêle que ama,
que Eva deu à luz. Que a divindade proclama
Caim, não poderia ter contraído D0 filho de São José,
núpcias com alguma de suas ir E embora de invicto porte,
mãs, porque até então, não havia É grande, é potente a coorte
nascido nenhuma. Dos inimigos da Fé !
Outro documento esclarecedor Se hoje vemos fazer anos
dêsse assunto, é a existência das
O herói que nos leva ufanos
três raças. Adão e Eva, possivel Pelo caminho cristão,
mente eram brancos ou amarelos,
De alma em transportes divinos,
não poderia sair dêles a progênie Como não entoarmos-lhe hinos,
dos ÁPRICOS. Supor, que naquele
Num preito de gratidão ?
tempo, era possível, é ir de en
contro a genética. A vós, neste augusto dia,
Deus criou distintamente as três Que tanta luz irradia
raças humanas, pois, estava em Sob o amplo azul do Brasil;
sua santa vontade para assim Neste momento inspirado,
proceder. Os membros do Apostolado
Prêtos, amarelos e brancos, pe E da Cruzada Infantil,
rante Deus, são todos iguais.
Vêm trazer-vos, guia místico,
Nunca considerou, não considera e
Triunfador eucarístico,
nem considerará nenhum povo,
Enviado do Redentor,
com complexo de inferioridade.
Com alegrias tamanhas
Êsse sentimento psicológico que
Por vossas batalhas ganhas,
leva alguém julgar-se superior sem
Uma oferenda de amor :
o ser, é atributo de quem não
procura anelar-se ao espiritualis- Seja esta caneta espada,
mo. Sempre, sempre imaculada
Procuremos dar a Deus o que é Nestes combates da Cruz,
de Deus, e a César o que lhe per Ao que, jamais indeciso,
tence. Tem por pátria o paraiso,
Então, tomemos a Bíblia como Por soberano — Jesus !
vereda religiosa, caminho por on
de o homem deve seguir, para ALVES DE OLIVEIRA
mais tarde, alcançar a morada de
Deus, sem desconceituar a ciência. as portas da prisão onde quer que
A ciência é heroína e carcereira, esteja encerrada a ignorância,
oriunda da essência do perfume dando-lhe luz e calor, liberdade e
divino, encarregando-se de abrir conhecimento científico.
80
GENTE ILUSTRE
J. Lindemberg de Aquino
NA CORRIDA D IÁ R IA PELO G ANHA PÃO NAO TIV E TEMPO
DE PR E P A R A R TR ABALHO DE M A IO R PÊSO M ENTAL PA R A
ESTA EDIÇÃO DE ÍTA Y TE R A . MESMO NO IN TER IO R A
GENTE JÁ ESTÁ NÊSSE CORRE-CORRE DA V ID A MODERNA
ONDE O TEMPO NAO SOBRA MAIS P A R A N A D A ... E ASSIM,
PA RA NAO ESTAR AUSENTE, NESTA G A LE R IA DE TAO
NOBRES COLABORADORES, VOU IN SER IR UNS SIMPLES
DADOS BIOGRÁFICOS SÔBRE 4 PERSONAGENS ILUSTRES —
CONTRIBUINDO P A R A M A IO R E MELHOR CONHECIMENTO
DE SUAS EXISTÊNCIAS E ATIVIDADES. SÃO 4 DOS QUE
RBCENTEMENTE GANHARAM NOMES EM NOVAS RU AS DA
CIDADE, GRAÇAS À IN IC IA T IV A DO PREFEITO HUMBERTO
MACÁRIO DE BRITO. NOTAS SIMPLES, DESPRETENSIOSAS,
SEM PRETENSÕES LITERÁRIAS. VEJAMOS FATOS DESSA
GENTE IL U S T R E :
E D I L S O N S U C U P I R A
EDILSON DE A R A R IPE SUCU no que tivemos em nossa terra.
PIR A, filho de Francisco Otaviano Dele foi seu aluno o escritor Irineu
Batista e Dulce de Araripe Sucu Pinheiro que, em EFEMERIDES
pira, nasceu em Crato, a 18 de DO CAR IRI, lhe dedica a pág. 154.
Março de 1868 e faleceu, já ve
“ Era Edilson alegre, inteligente,
lhinho, em Breves, Estado do P a
bom, conversador, mas enérgico
rá, onde se radicara.
nas aulas, a dar boas palmatoadas
Fez seus estudos primários no em alunos que merecessem” , diz o
Seminário do Crato, no reitorado historiador cratense.
do Monsenhor Francisco Rodrigues
Para o renomado estabelecimen
Monteiro e no Colégio Venerável
to de Edilson Araripe Sucupira v i
Ibiapina, de José Marrocos, em seu
período de maior esplendor. nham alunos até de outras Cida
des. Várias gerações ele as edu
Naquele Colégio foram seus co cou com sadio estusiasmo, dando
legas José Carvalho, poeta, jorna grande impulso á causa da educa
lista e folclorista, e Fernandes ção em nosso meio.
Távora, médico, depois Senador da
Em 1901 partiu para o Norte,
República e Presidente do Ceará.
dedicando-se, no iPará, ao funcio
Exerceu a Promotoria Pública nalismo público.
em Crato e o magistério particu
Diz Irineu Pinheiro : “ Morreu
lar, instalando seu afamado Colé
em Breves, naquele Estado, já bem
gio na esquina das Ruas José Car
velhinho, aposentado, a recordar,
valho e José de Alencar.
em seus últimos dias, melancóli
Foi um dos melhores e mais e- camente, sua distante terra natal
ficientes estabelecimentos de ensi que êle jamais veria” .
Dr. j o s I a s S I S N A N D O
Nasceu o Dr. JOSIAS S ISN A N - foi removido para a Comarca de
DO DE L IM A na cidade do Crato, Maranguape, depois para a de Ca-
a 15 Abril de 1883 e faleceu em mocim, de onde foi transferido pa
Fortaleza a 22 de Dezembro de ra a Comarca de Quixeramobim.
1965. Era filho do casal José A le Promovido a Juiz de Direito da
xandre Alves de Lim a - Raquel 4.a Entrância, exerceu essas fun
Sisnando de Lima. ções na Comarca de Crato, de on
Curso primário com Raimundo de foi transferido para a Terceira
Duarte Jacinto Guerra e com o Vara Civil, de Fortaleza e, em se
professor Carolino Sucupira. Es guida, para a Terceira Vara Cri
tudou, também, no Seminário S minal, também de Fortaleza.
José, em Crato, e no Ginásio C e°- Aposentou-se, compulsòriament ,
rense, do Professor Anacleto Pe a 16 de Julho de 1953, com 42
reira Cavalcante de Queiroz, em anos, 2 meses e 5 dias de função
Fortaleza. Ingressando, pôster'or- pública, com honras e vantagens
mente, na Faculdade de Direito de Desembargador.
do Ceará, ali colou grau no mês Quando no desempenho de Juiz
de Abril de 1912. de Direito da Comarca dé Maran
Antes de sua formatura, fôra guape, serviu, por mais de uma
nomeado, em data de 07.12.191o, vez, como Desembargador ad-hoc
pelo Desembargador Antônio de do Tribunal de Justiça do Estado.
Oliveira Praxedes, Presidente do Nas horas vagas, lecionava par
Tribunal da Relação, para as fun ticularmente, pois era apaixonado
ções de advogado nas Comarcas pela profissão de mestre, figuran
de Crato, Barbalha, Jardim, M ila do, entre aqueles que foram seus
gres, Lavras, Aurora e Icó, bem alunos, o médico e jornalista Ota-
assim, em data de 26.01.1911, no cí io Macêdo e o médico, também
meado pelo Presidente do Estado jornalista, José Leite Maranhão.
Antônio Pinto Nogueira Acioly, Dr. Josias Sisnando foi casado
para o cargo de Prom otor de Jus com D. Hermelinda Carvalho Sis
tiça da Comarca do Crato. nando de Lima, tendo dêsse enlaça
Após sua formatura, foi nomea os seguintes filhos: José Sisnando,
do, em 05.05.1913, pelo Presidente funcionário da Universidade Fede
do Estado, Cel. Marcos Franco R a ral do Ceará, dr. Antônio Sisnan
belo, para exercer as funções do do, médico, chefe do Posto de Saú
cargo de Juiz Substituto do Têrmo de de Mombaça, casado com dona
de Aquiraz, Comarca de Cascavel, M arta Ayres de Morais Sisnando
de onde foi removido para o T ê r Lim a; Dr. Tarcísio Sisnando, ba
mo de Quixeramobim, da Comar charel, advogado e Procurador
ca do mesmo nome. Fiscal da Prefeitura Municipal de
Nomeado pelo Presidente do Es Fortaleza, casado com d. Miriam
tado àquela época — engenheiro Campos Sisnando de Lim a; Maria,
João Thomé de Saboia e Silva, lo diplomada em prendas domésticas
go a seguir, para exercer o cargo residente em Fortaleza; Belgilde
de Juiz Substituto do Têrm o de Sisnando, médica, residente em
S. Benedito, da Comarca do mes Fortaleza; Yula Sisnando, profes
mo nome, passou a Juiz de D i sora, funcionária do INPS em For-
reito quando da elevação da re tareza; Maria Silves Sisnando, fo r
ferida Comarca a 2.a Entrância. mada pela Faculdade Católica de
Nas funções de Juiz de Direito, Filosofia de Fortaleza, casada com
MONSENHOR SILVANO DE SOUSA
Monsenhor FRANCISCO SILVA- Fortaleza, onde foi professor do
NO DE SOUSA nasceu no Sítio Seminário da Prainha, da Escola
■Chapada, Município de Barbalh" Normal e redator do CORREIO DO
a 8 de Abril de 1879. Foram seus CEARÁ. Em 1921 acompanhou o
pais Reinaldo Alves de Sousa e Bispo cratense, Dom Joaquim Fer
Silvana Gonçalves de Sousa. Na reira de Melo, para Pelotas, Rio
idade de 5 anos ficou orfão de Grande do Sul, onde trabalhou 39
Mãe, que faleceu num ato heróico anos. Em sua nova atividade, na
de Caridade, cuidando dos vario- quela Diocese, foi Pároco, Vigário
losos. Entre os 3 e 4 anos de ida Geral Capitular, Reitor e Pro
de, casando-se a irmã mais velha, Reitor do Seminário daquela Ci
foi residir com ela, no sítio 'Ca dade.
beceiras, onde passou a infância, Retomando ao Cariri, já velhi
frequentando a escola do ex-semi nho, foi, ainda assim, professor
narista Antônio Apolinário. De por mais de 5 anos na Faculdade
pois de fechada essa escola, pas de Filosofia do Crato, exercendo
sou alguns anos sem aulas. Mas seu Ministério pastoral com gran
seu pai abriu uma escola primá de atuação, até que veio a fale
ria no Sítio Pelo Sinal, onde en cer, em 26 de Fevereiro de 1968.
sinou a meninos pobres — e onde quase nonagenário, no Hospital S.
ele estudou, ao lado do Pe. José Lucas, de Juazeiro, sendo sepulta
Ferreira. Dali seguiu para o Co do em Barbalha.
légio que o cel. Siébra abriu em Monsenhor Silvano de Sousa —
Barbalha. Fechando-se esse Co disse Figueiredo Filho — “na vida
légio, seu Pai matriculou-o no Se só fez espargir luzes em torno de
minário do Crato, onde ficou três si. Cumpriu na íntegra o aposto-
anos, até o ano de 1898, quand"~ lado que escolheu, por inteira vo
aquela Casa fechou suas portas, cação. Todo o povo de Barbalha
então sob a direção do Pe. Quin festejou, com efusão e festas des
tino de Oliveira e Silva, que mais lumbrantes, seu 60.° aniversário de
tarde seria o Primeiro Bispo do sacerdócio. Veio até Bispo do Rio
Crato. Grande do Sul, para aquelas ho
Matriculando-se no Seminári • menagens. Só a doença e os anos
de Fortaleza, mesmo vencendo conseguiram impedir-lhe o traba
certa oposição do Pai, que achava lho cotidiano. Ainda continuou a
não dever o filho único extinguir assistir missas diárias, auxiliado,
a geração de sua mãe. Em 1902 em sua caminhada matutina, por
esteve no Recife, tratando da parentes e amigos dedicados. Seu
vista. Ordenou-se em 1904, sen exemplo de fé e coragem inspira
do nomeado Coadjutor em Bar vam admiração a todos que dele
balha, a seguir, Vigário de Tauá se acercavam. Soube bem cum
e depois Vigário de Assaré, com prir o seu dever e com êle a
séde em Santana do Cariri, des Igreja e o Ceará perderam ilus
de 1909. Em 1914 foi chamado à tre e dedicado filho” .
86
Uma visão do que foram as do pela carne e sêbo proveniente
charqueadas em seu inicio, nos é de uma rês, o que permitia o pro
transmitida pelo célebre pintor cessamento simultâneo do charque
francês JOÃO BATISTA DEBRET, de 230 animais.
através de pinturas que realizo t Ao sul da vala, estendiam-se
em Pelotas em 1823, por ocasião ampla área onde escravos encar
de sua passagem pelo local. regavam-se do estaqueamento pa
Originais destas pinturas podem ra secagem ao sol, de diversos
ser admirados na Fundação Rai couros.
mundo de Castro Maia, situada na Bem ao norte, ao fundo do es
Floresta da Tijuca na cidade do tabelecimento, situa-se enorme
Rio de Janeiro, onde se encontram depósito, presumivelmente destina
ao lado de numerosos outros do à administração, depósito de
exemplares de sua grande obra. sal, charque produzido ou charque
Numa de suas pinturas, fixa o em produção, empilhado, aguar
flagrante de uma charqueada às dando bom tempo para a secagem.
margens do rio Pelotas, com ad Esta charqueada como as de
mirável riqueza de detalhes de mais, era tôda a base da mão de
tôdas as operações necessárias à obra escrava e assim também ob
fabricação do charque, operações servará Herbert Smith em 1882.
estas que tentarei descrever aos Em ou :a pintura, Debret fixou
leitores. o flagrante de outra charqueada,
Tratava-se de uma área de cêr- em Pelotas, menos aperfeiçoada,
ca de 100 x 200 m, cujo lado maior na qual a matança se processava
era apoiado no rio Pelotas. no interior de uma enorme man
A área era atravessada, trans gueira.
versalmente, por uma profunda Nesta pintura, vêem-se índios
vala que tinha ao meio um pon- charruas civilizados, a cavalo, la
tilhão. çando o animal, enquanto outros,
Por esta vala, corria para o rio tendo em mãos uma enorme vara
o sangue das rezes abatidas, desde com uma meia lua de metal, cor
um galpão de matança situado na tante, seccionavam o nervo da
posição central, no lado oposto do perna trazeira do boi (desgarro-
rio, o qual por sua vez, era ligada namento), fazendo-o cair ao solo
a uma mangueira onde aguarda imobilizado.
vam as reses a serem abatidas. Nesta situação, um escravo des
Um pouc0 mais à frente do gal montado, e portando enorme faca,
pão de abate, encontrava-se ou corria em direção ao animal para
tro, com enorme tacho de água dar-lhe o golpe mortal no coração
fervente, destinado a tirar a gra (sangramento), e entregar-se pres-
xa dos ossos. suroso a faina de carneação, com
A norte da vala, situavam-se o animal muitas vêzes ainda com
separadas por um corredor, dois vida.
conjuntos com 10 fileiras de va Êstes índios charruas civilizados
rais, destinados a secagem ao sol foram atraídos em grande número
do “ charque” em fabricação e do para Pelotas, com o advento das
sêbo retirado da carne. charqueadas e por muitos anos
Cada varal era dividido em 13 compuseram a paisagem pelotense.
espaços e cada espaço era ocupa Em VO Y AGE PITTORESQUE
87
AU BRÉSIL de Debret, consta a dade no Brasil e é preparada na
pintura Barque brasilíense faite província do Rio Grande do Sul,
avec cuir de boef, com algumas geralmente afamada pela reunião
diferenças da existente na Funda de suas numerosas charqueadas
ção de Castro Maya, que, em re situadas, em sua maior parte, sô
sumo, retratavam as célebres pe bre a margem esquerda do Rio de
lotas que deram o nome ao rio e San Gonzales (São Gonçalo), rio
à cidade. que facilita a exportação conside
Nesta última, vê-se uma pelota, rável dêste comestível, realizada
em cujo interior viajava um rico por iates, sumacas, e pequenas
senhor, sendo rebocado pelos den embarcações de cabotagem, utili
tes, por um escravo nadando. zadas no aprovisionamento dos
Mais acima, vê-se uma tropa de portos do Brasil e do Chile” .
mulas de carga atravessando o rio A seguir refere-se ao couro :
e logo atrás da embarcação um “ O comércio de couro de bois
cão. do Brasil não deixa de constituir-
Estas pelotas também foram des se em outro grande negócio para
critas por Auguste Saint Hilaire o charque do Rio Grande do Sul,
em sua Voyage au Rio Grand du estabelecido numa província pri
Sud, na qual também, se refere, vilegiada, com uma variedade gi
entre outras cousas, às 18 char gantesca de bois, quais somente
queadas pelotenses, escravidão em chifres e cabelos da cauda, por si
Pelotas, além de transcrever inte sA constituem um ramo de comér
ressantes dados de exportação pelo cio explorado por negociantes
pôrto de Rio Grande, que lhe fo franceses.
ram oferecidos por Gonçalves Por outro lado, o couro mal cur
Chaves, em cuja casa à beira do tido do Brasil proporciona uma o-
rio Pelotas estêve hospedado. portunidade lucrativa à introdução
Estas embarcações, antes mesmo dos couros europeus, muito procu
de Pelotas, tiveram largo uso no rados por causa de sua perfeição” .
Brasli, tendo o próprio Marechal O couro na época de Debret era
Rondon, posteriormente, feito lar apenas curtido, posteriormente pa
go uso das mesmas, no Brasil' ra assegurar o mercado europeu,
Central. passou a ser exportado apenas
Elas tinham capacidade comu- salgado.
mente, para uma pessoa apenas, Debret em diversas pinturas
dévido a sua pouca estabilidade, constantes de sua Viagem Pitores
eram muito sujeitas a naufrágios, ca e Histórica ao Brasil, tradução
sendo numerosos os casos fatais de Sérgio Milliet, e outras cons
de afogamento em consequência tantes da Fundação Raimundo
de viradas inesperadas. Castro Maya, fornece valioso sub
Ao retornar do Brasil, Debret sidio para o estudo dos costumes
publicou em Paris em 1835 V IA e tipos humanos existentes do
GEM PITORESCA E HISTÓRICA tempo das charqueadas pelotenses
AO BRASIL na qual se refere ao O povoamento inicial de Pelotas
charque e às charqueadas pelo verificou-se junto às charqueadas
tenses. no Passo Rico assim denominado,
Sôbre o charque assim escreveu: pela enorme riqueza que por êle
“ A carne sêca (viande seche) é atravessava em ambos os sentidos
um alimento de primeira necessi e posteriormente, Passo dos Ne
88
gros, cm virtude dos numerosos Extensos campos cuidadosamen
escravos que por lá entravam im te cercados, são ocupados POR
portados pelos charqueadores, pa LIN H AS REGULARES DE ESTA
ra acionarem suas indústrias de CAS HORIZONTAIS DEITADAS
carne. SÔBRE OUTRAS A PIQUE, A A L
Os escravos entrados em Pelotas TU RA DE MENOS DE DOIS ME
foram em tão grande quantidade TROS DO CHAO (seguem a des
que em 1814, numeravam 2.226 ao crição das charqueadas conforme
fado de igual número de brancos. as retratou Debret).
Para ficarem as famílias longe Há muitos grandes ARMAZÉNS
do ambiente das charqueadas que DE CAMPANHA que dependem dos
chegaram a numerar 35 abaterem de Pelotas.
em 15 anos mais de 5.000.000 de Admirou-me encontrar numa ci
cabeças, vão se condensando em dade pequena, como esta, arma
tôrno do povinho de São Francis zéns que fariam honra ao Rio de
co de Paula, que veio tornar-se Janeiro (Isto se observa até hoje
na atual cidade de Pelotas. no tocante aos modernos super
Além das impressões das char mercados pelotenses).
queadas em 1820 por August de Realmente a carne sêca é um
Saint Hillaire em sua Voyage au gênero alimentício sadio e nutri
Rio Grand du Sud e do pintor De- tivo; considero-a superior à carne
bret em 1823 através de suas pin salgada de que usam soldados e
turas em 1835, em sua obra pu marinheiros de outros países.
blicada na França, transcrevo, a Uma das mais características e
seguir, trecho de como o geólogo ao mesmo tempo mais interessan
e naturalista Herbert Smith viu tes vistas de PelOtas é a TAB LAD A
em 1382 ditas charqueadas, decor (Era a região do bairro das TRÊS
ridos 60 anos das estadias em P e VENDAS compreendida pelos locais
lotas das famosas personalidades onde se situam o Hipódromo da
citadas. TAB LAD A e ASSOCIAÇAO R U
As observações entre parentesis R A L ).
são do autor. Nêste local de dezembro a maio
“ Todo o comércio de Pelotas de vendem-se as manadas (tropas)
ve-se ou a indústia do charque ou que chegam.
ao comércio com o interior, dire Algumas trazem 15 dias de via
tamente DEPENDENTE DESTA gem (Canguçu ficava de 3 a 4 dias
INDÚSTRIA. de viagem daí sua posição privi
Êste comércio estende-se por legiada neste particular).
metade da Província, para oeste Pode haver aqui, ao mesmo tem
ao Ri0 Uruguai e para o sul até po, umas vinte datas, cada uma
o Estado Oriental. de centenas de cabeças, RUDES
Denota a atividade comercial na GAÚCHOS VESTIDOS COM A
praça de Pelotas, o grande núme H ABITUAL CAM ISA DE CHITA,
ro de embarcações no porto: con CEROULAS OU EOMBACHAS E
tei não menos de 54, ao tempo de PONCHOS RISCADOS, GALO PA
minha passagem, sem contar os VAM EM TÔDAS AS DIREÇÕES.
vasos miúdos e chatas. Os dados das charqueadas mo
Logo depois de entrar no Canal vem-se ràpidamente aqui e ali em
de São Gonçalo, atrai a vista es belos cavalos, examinando as vá
petáculo mui singular. rias tropas, calculando-lhes o va
89
lor com rapidez e precisão admi mam muito os que não são pre
ráveis, porque a concorrência é parados dêste modo (Ao tempo da
muito forte entre os vinte ou trinta estada de Debret em Pelotas o
charqueadores” (a seguir é des processo era o de secagem ao sol.
crita a matança no interior das (A seguir Herbert Smith ocupa-se
charqueadas). dos sub-produtos aparecendo a
A operação inteira 1'eva cêrca de cinza de ossos como artigo de ex
um minuto e muitas vêzes num só portação para a França, somente
estabelecimento, no mesmo dia, não se aproveitando os intestinos
são mortos 600 a 700 cabeças de (fígado e bofe).
gado. “ Há um não sei o que de RE
Acabada a esfolação, tira-se VOLTANTE e ao mesmo tempo ca-
limpamente a carne dos ossos em tivador nestes grandes matadou
OITO PEDAÇOS, que são laçados ros; os trabalhadores negros (ain
em estacas horizontais; DOIS da escravos em sua maioria) se-
TRABALHADORES HÁBEIS COR- minus, escorrendo sangue; os ani
TA M -N A E RE TALH AM -N A EN mais que lutam, os soalhos e sar-
TÃO, DE M ANEIRA QUE CADA getas correndo sangue rubro, os
PEDAÇO FIQUE REDUZIDO À feitores estólidos vigiando 60 mor
ESPESSURA DE 15 mm. tes por minuto.
Para esta esfolação emprega-se De tôda esta carnificina dema-
um verbo especial — CHARQUEAR- nou a riqueza de Pelotas (e, como
— e dêle derivam os substantivos é lógico, foi fator fundamentai no
C HARQUE, CHARQUEADA, progresso da zona sul, determinan
CHARQUEADOR. do inclusive o aproveitamento de
Esfregando bem o sal na carne, diversas cidades gaúchas e o mais
empilham-se em camadas, primei importante, determinou 0 povoa
ro o sal, segundo a carne, depois mento e vivificação de nossa fron
nova camada de sal e assim por teira meridional ■(repercussão geo-
diante; AS PILHAS CHEGAM A política).
ALTU RA DE MUITOS METROS, “Êstes animais comprados na
COM O DUPLO EFEITO DE IM tabela representam o valor de 22
PREG NAR A CARNE DE M ATÉ mil contos de réis (22.000.000.000
R IA SALINA E DE ESCORRER OS réis - :- 400.000 cabeças/ano dão
LÍQUIDOS CONTIDOS NELA, PE 55.000 réis por cabeça) que vão pa
L A PR Ó PR IA PRESSÃO. De 8 a ra o bolso dós estancieiros’’.
10 quilos de sal usam-se para a Êstes homens pousam alguns
carne de cada animal1 , conforme o dias nas cidades a comprar forne
tamanho. cimentos para o an0 seguinte, an
Passando um ou dois dias, se o tes de voltarem para suas remo
tempo está suficientemente limpo, tas habitações.
desempilham a carne e depéndu- Os tropeiros que receberam seus
ram-na para secar. salários aglomeram-se nas lojas e
Os couros bam limpos são m e tavernas; e assim, no fim de con
tidos na salmoura que escorre das tas, grande parte que pagaram
pilhas dê carne; depois de vinte pelo gado volta nas compras aos
e quatro horas tiram-nos, cobrem- comerciantes (oú seja, não sai de
nos de sal, dobram-nas, e estão Pelotas).
prontos para embarcar para os Acabam pois os leitores cearen
mercados da Europa, onde esti ses decorridos 80 anos dêste rèla-
90
to de Herbert Smith, em plena educado de quem conhecia campo
escravidão e regime imperial, de e gado e se erro houvesse era de
apreciar e deduzir sôbre a vida quilinhos.
dos avós e bisavós gaúchos, que A ronda da sorte deu a muitos
viviam em função dos dividendos dinheiro, enquanto outros desapa
proporcionados per esta atividade, receram para sempre, muitas vê-
fundada por nosso conterrâneo. zes perdendo fortunas ganhas ho
A partir do fim da I GRANDE nestamente.
GUERRA, esta atividade que por Zeferino Costa era um semipro-
quase um século e meio fêz a ri feta dos bons negócios.
queza e glória de Pelotas, entra Homem atilado, gaúcho de ver
em declínio progressivo, agora em dade, seus negócios eram condu
concorrência com os frigoríficos. zí,'os com segurança, foi corretor
Em 1905, já Rio Grande adian de alto prestígio.
tava-se em pleitear um estabele Montevidéu ainda possui a sua
cimento desta natureza, a fim de tablada, a nossa desapareceu.
ccmpansar-se de não ter podido O gado que vinha para a tabla
explorar o charque em suas char da era bom.
queadas, dizem alguns, devido a Seu dono tinha que fazer o cál
uma fina poeira que carregada culo do pêso, perdido nas longas
pelo vento aderia ao charque, con- jornadas.
íerindo-lhe um sabor diferente O capataz da tropa, pessoa de
que diminuiría seu valor comer absoluta confiança, tornava-se o
cial. fiador do negócio.
O declínio progressivo das char- Gado bem conduzido quando
queadas obriga que os charquea- gordo, pouco perdia de pêso.
dores em 1828, fundem seu sindi O tempo e Os homens passam,
cato que teve como primeiro pre mas quem conheceu Pelotas ao
sidente o Cel. Pedro Ozório (o rei tempo de sua tablada, há de ter
do arroz). saudades.
Em 1940, quando o tempo das O dinheiro então valia dinheiro.
charqueadas já era saudade, assim Hoje, das charquadas só restam
escreveu Fortunato Pimentel sôbre dois pequenos estabelecimentos na
o assunto : margem Leste do São Gonçalo,
“ Que bons tempos aquêles, além da pertencente ao ANGLO
quando Pelotas tinha a sua ta- S. A. e a saudosa lembrança dos
blada. tempos de glória e prestígio que
Das serras, das fronteiras, de e’ás trouxeram a Pelotas, reme
tôdas as zonas pastoris do esta morados de certa forma neste
do, al'i chegavam bois e vacas, no- trabalho.
vilhada bagual, vindos dos lon Próximo ao local em que no pe
gínquos campos da Palmeira, bem ríodo áureo do charque funciona
como os bovinos melhorados de ram cêrca de 35 charqueadas, o
nossa pecuária. Sr. Rafael Mazza fêz conservar
Reunidos, corretores e charquea- algumas instalações que pertence
dores ao sabor do mate, após uma ram a uma delas, as quais o tu
vista geral, discutiam qualidades, rista poderá contemplar, ao cruzar
preços, pesos e daí surgiam negó a ponte do Rio Pelotas a caminho
cios quase sempre de vulto. da praia do Laranjal, na Lagoa
O ôlho servia de balança, ôlho dos Patos.
91
NOVAS CADEIRAS COM PATRONOS, NA SECÇÃO DE
LETRAS E DE CIÊNCIAS SERÃO PREENCHIDAS NOS
PRÓXIMOS MÊSES
Uma das maiores vitórias do I. C. C. é a prova de grau de
cultura desta zona, espe:ialm ente da cidade que o anima, é o fato
do preenchimento, com teses à altura intelectual de qualquer meio, das
cadeiras de Letras e de Ciências. Já temos dez preenchidas com óti
mos discursos, todos publicados em IT A Y T E R A na parte literária e
uma na científica. Os trabalhos foram insertos na Revista oficial de
nossa entidade e quem quiser pode comprovar se o meio comporta, ou
mão, tal iniciativa. Já temos inscritos bom número de consócios para
ocuparem outras cadeiras, com respectivos patronos — Escritor Pedro
Gomes de Matos, na de seu tio — Dr. Raimundo Gomes de Matos;
Monsenhor Pedro Rocha de Oliveira, na de D. Quintino Rodrigues de
O liveira e Silva; Prof. Pedro Felício Cavalcanti — Inácio Loiola de
Alencar; Jornalista Francisco S. Nascimento — Manuel Monteiro; Prof.
José de Anchieta Barreto — M,ons. Joviniano Barreto e Dr. Humberto
Macário de Brito (Secção de Ciência) — Dr. Hermínio de Brito Conde.
Por último, inscreveu-se na cadeira N.° 11, patrocinada ps.lo consócio
recem falecido Duarte Júnior — o poeta e cronista Geraldo Lobo.
92
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A POESIA EMOCIONAL DE
P EDRO MAVI GNI ER
PEDRO GOMES DE MATOS
ROUEASTE-ME DA V ID A AS ESPERANÇAS
A CIÊNCIA JÁ PO R M IM NÃO QUEBRA LANÇAS,
MEUS ANSEIOS V IT A IS VEJO-OS PERDIDOS.
95
A QUEM POR, SEU AM OR TÔDA A RIQUEZA,
■CONVERTEU NA SERÁFICA POBREZA
QUE AO CÉU LIGOU ASSIS E CANINDÉ.
96
Em CAVEIRA vê a ironia do nada ante o efêmero do humano :
97
VOLUTEIAM TALVEZ MARCANDO O NORTE
DA VIDA CUJO SOL JA VA I PENDENDO,
MAS SEU MISTÉRIO, ENFIM, JAMAIS DESVENDO
POR MAIS QUE A ÊSSE MISTÉRIO ME TRANSPORTE.
08
Padre Serafim Leite, S. J.
Aires de Montalbo
Faleceu a 27 de dezembro últi mente, a tarefa de escrever a His
mo em Roma, no Instituto Histó tória da Companhia de Jesus, no
rico da Companhia de Jesus, o Brasil, incumbência que lhe deu
grande historiador luso, Pe. Sera êsse grande homem de govêrno na
fim Leite, S. J. Ordem, P. Cândido dc Azevedo,
Oriundo de São José da Madei Provincial na Lusitânia e no Bra
ra-, Postugal, nasceu a 6 de abril sil.
de 1890. Morre, portanto, com A tarefa era dura e ingente e ia
quase oitenta anos. pôr à prova o historiador solerte e
probo, otimista e ardoroso, pronto,
Quando jovem, na áurea época
portanto, para a árdua missão.
da borracha, estagiou pela Ama
Nesse ano, já maduro em todo
zônia, em Gurupatuba, atual Mon
o sentido, acertou o seu rumo d e
te Alegre, comerciante e guarda-
finitivo: seria historiador e dos
iivros da firma paterna, 1912. Aí,
melhores e nada mais que isso.
cm contactos com índios do Pa-
Tinha sôbre os ombros a elucida
doniri e de Uaupés, chegou a a-
ção da obra catequética dos jesuí
prender a língua geral, que êles
tas no Brasil de 1549 a 1760, quan
falavam. Voltando depois à Eu
do se fechou o primeiro ciclo.
ropa-, com 25 anos, entrou na Com
Em 1938 estêve em Baturité e
panhia de Jesus em Alsemberg,
nesse ano correu todo o Brasil pa
Bélgica, a 30 de julho de 1914.
ra verificar, in loco, as condições
Fêz os estudos de humanidade antigas e atuais da Companhia de
em Múrcia, Espanha, (1916-1919); Jesus no imenso continente. Nesse
Filosofia no Colégio Máximo de mesmo ano saem do prelo os dois
Granada, (1919-1922); foi profes primeiros volumes de sua história,
sor, algum tempo, em La Guardia que lhe valeram o prêmio Alexan
(Galiza) e concluiu os estudos dre Herculano, adjudicado pelo
teológicos em Enghien, (Bélgica) Secretário Nacional de Inform a
indo termnar sua formação ascé ção, — Lisboa.
tica em Paray-le-Monial, (Fran Por essa primeira amostra todos
ça). sentiram que estavam diante de
Sua vocação para escritor era um magnífico historiador. “ Pela-
uma coisa óbvia. E aí estão os primeira vez, conforme Domingos
livros “ Do homem e da Terra'’, Maurício, ressaltava, em moldes
“ Trajetórios, iluminuras” , etc. científicos modernos, rica de côr,
Com 43 anos aceitou, jubilosa- mas sem excluir, honestamente, o
99
claro-escuro dos tons negativos, a Houve quem pensasse que a sua
grande tela panorâmica da evan- intenção era deprimir Anchieta,
gelização do vastíssimo continente objeto de elogios fáceis, como tau-
luso-brasileiro, à luz de um caudal maturgo inconteste do Brasil. Foi
informativo :1o primeira grandeza, engano. Para repor Nóbrega em
criticamente cirandado e primoro- seu pedestal devido, não precisou
mente articulado” . Era a milícia apear ninguém. Também a que-
abnegada de Nóbrega que nos pas rela sôbre a fundação de São Pau
sava diante dos olhes, num arrôjo lo, que não se pode adjudicar a
sem par, nem precedentes. A obrá Anchieta, simples escolástico àque
era gigantesca, e o homem convi le tempo, — lhe trouxe alguns dis
dado a pôr tudo isso a limpo não sabores íntimos.
o era menos. Um homem sereno Do acervo de documentos acu
comedido. Que se não perdia em mulado por êle, em anos de pes
minúcias dispensáveis. Sem aspe quisa, muita coisa sobrou, que não
rezas, sem baldões enodoantes, pôde ser aproveitada na síntese
quando assinala a opressão dos história dos dez volumes dados a
déspotas e dos prelados. estampa.
O côro de elogios a cada volüme, Daí nasceu a necessidade dêsse
que se sucedia nos mesmos m ol outro grande empreendimento, —
des dos primeiros, foi grande, pro o “ Monumenta Brasilae” , — Roma
fundo e justo: umas 152 recenções 1956 -1960.
de sua obra foram escritas aqui e Desde 1950 Serafim Leite fazia
além, por entendidos no assunto. parte, com honra, do Instituto da
A obra completa compreende 10 Companhia de Jesus, que congre
volumes de boa extensão; e al ga, no ramo, os maiores homens
guns dêles foram publicados às da Ordem. E deu-nos, nesse ín
expensas do govêrno brasileiro, por terim, algumas obras importantes:
intervenção de. A frân io Peixoto e “ Páginas de História do Brasil” ,
d0 Dr. Gustavo Capanema, quan 1985; “ Novas Páginas de História
do Ministro da Educação. do Brasil” , 1963, Lisboa; “A rte e
À m argem dessa história, sem Ofícios dos Jesuitas no Brasil” ,
confronto, Serafim Leite, em nu 1953; “ Suma Histórica da Cia. de
merosos trabalhos complementa Jesus no Brasil” , Itinerário para
res, uns 267, esclareceu pontos co uma biografia de Manuel da Nó
nexos e tangenciais com a grande brega; reeditou a obra de Jorge
História catequética que escrevera. B:enci : — “ Economia cristã dos
Em sua obra suscitou alguma senhores no govêrno dos escra
polêmica, sobretudo quando quis vos” ; Nóbrega e a fundação de São
reabilitar Nóbrega, deixado, por Paulo; Opera Omnia de M. da
investigadores de outrora, “ numa Nóbrega, (Coimbra, 1955) e além
quase semi-obscuridade, dilucular” . de inúmeros folhetos e separatas
100
deu-nos ainda os “ Estatutos da municação dêsse gesto ao Geral
Universidade de Coimbra” , (1959), da Ordem, P. João Batista Jans-
que êle desenterrou dos arquivos, sens, o Reitor Magnífico da Uni
e, editou-os em 1963. versidade Federal do Rio de Ja
Possuía não poucas comendas e neiro, Dr. Pedro Calmon.
honrarias, dadas por Institutos e Foi, não há negá-lo, como sa
Academias do Brasil e da Europa. cerdote e como profissional de
Era “ doctor honoris et scientiae história, um homem absolutamente
causa” , da Universidade Católica excepcional. E de um gênio bran
do Rio. Pertencia à Academia do e maleável a tôda prova. Um
Brasileira de Letras. A o Instituto português de lei.
Histórico e Giográfico Brasileiro e Por exigência de seus concida
às maiores Instituições lusas no dãos, seu cadáver veio sepultar-se
campo da História. Em 21 de ou em sua terra natal, que muito lhe
tubro de 1949, o Instituto Históri devia, — São João da Madeira, —
co do Rio aprovou e mandou cu terra que êle amava e da qual é,
nhar uma medalha comemorativa sem contestação, o maior filho que
do término da obra intitu lada: dela haja saído. Amou extremo-
“ História da Companhia de Jesus samente, o Brasil, onde viveu par
n0 Brasil” , auspicioso fato, que te de sua, vida, e por isso lhe so
mereceu essa distinção. Fêz a co mos sinceramente reconhecidos.
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C O M É R C I O DE A L G O D Ã O
102
o seu nome para o batalhão. foram atacados por fôrças supe
Quando acabara de preencher a- riores bolivianas, sendo estas fra-
auela formalidade, o sargento que gorosamente derrotadas. A 28 do
o recrutou, exclamou sorridente, mesmo mês, na Volta da Emprêsa
abraçando-o : o inimigo foi totalmente rechaça
— Minha gente, é o Zezinho de do pelos provisórios nacionais. O
D u lcina! (sua genitora). Teve trabalho pior ali foi o sepulta-
também a ventura de encontrar- mento de cadáveres, de ambos os
103
drino providenciaram, com urgên ao seio de sua fam ília. Casou-se
cia, o seu tratamento. Foi reco pouco depois. O temp0 correu. Seu
lhido ao seringal do conterrâneo — cunhado dr. Raimundo de Norões
Ezequiel Crato. Naquele recanto, Milfont, figura de importância, há
chegou-lhe a notícia da ordem de anos atrás, encaminhou os seus
deposição de armas, emanada do papéis, documentados, a fim de
General brasileiro Olímpio da Sil receber subvenções, que as leis lhe
veira, enviado do Governo Federal. facultavam pela cooperação na li
Começaram logo as injustiças com beração do Acre, agora Estado da
os fiéis lutadores. Federação. O procurador a quem
Aquêle ilustre m ilitar nomeou foi destinada tal documentação,
para Juiz de Direito o leigo Vito- sepultou-a definitivamente. José
rino. Iniciou sua gestão judiciá Norões nada recebeu, nem em mil
ria obrigando os combatentes a réis, nem em cruzeiros. Só teve a
pagar o atrasado aos patrões, du satisfação de, com seu esforço jo
rante os dois anos de campanha. vem, ter cooperado em doar ao
José Norões teve de descontar 66 Brasil o vasto e fé rtil território,
mil réis quantia elevada para a mais tarde, transformado em prós
época. Resolveu voltar para Crato pero e promissor Estado.
O V E R B O A M A R
João Alves Rocha
Quem foi que já viveu no mundo sem amar!
Quem foi que não sentiu no peito estremecer,
Pulsar o coração aos golpes de um olhar,
E a alma quasi morta as vezes, reviver!
Quem conjugar não sabe o doce verbo e dar
Inteiro o coroação, e em tróca receber
Um outro coração, também a transbordar
de máguas ou de amor. De dôr ou bem-querer!
O amor nos faz chorar. O amor nos faz sorrir.
E as vezes nos aponta um mágico porvir
Imersos nos deixando em doces ilusões.
Quem se pode furtar, fugir aos seus encantos !
Quem foi que não verteu, por ele, amargos prantos!
— Pois sempre o verbo amar nos traz complicações.
105
O Capitão “ ZECO” — 10.° neto do casal C AR AM U R Ú PA R A -
GUASSÚ — casou-se com D. A N A TELES BEZERRA DE MENEZES,
filh a de FELIPE TELES FU R TAD O DE MENDONÇA, (destacada figura
no meio social e possuidor de grande fortuna no C ariri), consequen
temente irm ã de TEODORICO TELES DE QU ENTAL (pa i do atual
Deputado Estadual F ILEM O N FERNANDES TELES, do humanitário
médico JOAQUIM FERNANDES TELES, ex-Deputado à Constituinte de
1934 e ex-Deputado Federal à Constituinte de 1946. Dr. A N TÔ N IO
FERNANDES TELES, agricultor e Presidente do Banco do Cariri, e das
filhas M A R IA — de cujo consórcio com ANDRÉ B’. DO COUTO C AR
TAXO , houve 17 filhos, dos quais o Dr. DÉCIO TELES C AR TAXO ,
atual Prefeito do Crato, _ F E R N A N D IN A e TE R E SA ).
Do casal JOSÉ BEZERRA DE MENEZES — A N A TELES BEZER
R A DE MENEZES, procedem os seguintes filhos :
106
3 — Tenente Coronel RAIMUNDO TELES PINHEIRO (filho de C Í
CERO e TERESA, filha de TEODORICO), atualmente servindo
no Estado Maior da 10a. Região Militar, na Chefia do Serviço
Militar Regional;
4 — M ajor JOSÉ M ONTEIRO PIN H E IR O (filho de CÍCERO e V I
GÊNCIA, filha de ANTÔNIO), atualmente servindo na Escola
Preparatória de Fortaleza.
5 — Dr. JOAQUIM PINHEIRO FILHO (filho de JO AQ U IM ), médico
do Departamento Nacional de Obras Contra as Sêcas;
6 — Tenente AFONSO PINHEIRO TELES (f.lho de JOAQUIM), atual
mente na Reserva ca Aeronáutica;
7 — Dr. ABELAR PINHEIRO TELES (filho de REDRO), engenheiro
agrônomo, Chefe da Secção de Fomento Agrícola em Teresina;
8 — Dr. FÁBIO PINHEIRO ESMERALDO (filho de A N A ), médico no
Cr ato;
9 — Dr. HOMiERO PINHEIRO ESMERALDO (filho de A N A ), Cirurgião
Dentista, no Rio de Janeiro;
10 — PROFESSORAS : — M A R IA IVALDA MONTEIRO PINHEIRO
(filh a de CÍCERO), DIONÉ MONTEIRO PIN H EIR O (filh a de
CÍCERO), STELA TELES PINHEIRO (filha de PEDRO), PR IS
CILA TELES PINHEIRO (filh a de PEDRO), M ARIA SUELY
TELES PINHEIRO (filh a de PE D RO ), IEVE TELES PINHEIRO
( filha de PEDRO), M A R IA LASSALETE PINHEIRO ESMERALDO
(filh a de A N A ), CIRA PINHEIRO ESMERALDO (filh a de A N A ),
PRISC ILA PINHEIRO TELES (filh a de JOAQUIM), ROSA P I
NHEIRO ESMERALDO (filh a de TERESA).
107
Távora, vigário, o Dr. Francisco roda o h oje único sobrevivente,
Marçal' da Silveira Garcia, Juiz de aqui conhecido, já arrastando os
D ireito, o Cel. Etelém, negociante, pés, porém com adm irável bom
o velho Eembém, rico e filósofo do senso, Cel. Raimundo Guilherme,
sertão. D áric Guerra, farm acêuti então alferes da Polícia que es
co e Delegado de Polícia, T e óíilo tacionara ali uma Companhia sob
Siqueira, então advogado no Juri o comando do Capitão Nicácio.
da zona do Cariri, Pe. Monteiro Isso foi em 1891, na Rua Formosa,
(gran d e responsável pelo sangue esquina com a Travessa da C ali
da beata M aria de A raú jo do Juà- fórnia, casa de meus pais, quando
zeiro), o velhinho Umbelino T a va eu ainda não calçava sapatos e
res, com pouco mais de um metro ouvia as conversas.
de altura, proprietário do sítio No Crato, portanto, como os P i
Guaribas, envergando indefectível nheiros e outros, há quem expli
colete, de prosa muito agradável1, que o nascimento dando nome aos
porque era versadlssimo no “ Luná- bois, — pais, avós, bisavós, trisa
rio Perpétuo” , livro que explica vôs, sem o perigo que existe no
chuvas, invernos, razão das sêcas. Brasil de, logo às prim eiras inda
Muitos outros se revezavam n a ro gações genealógicas, cair no m ato
da, durante a semana. ou na senzala.
R e:ord o-m c de que figurava na (Do “ O PO V O ” de 15 - 10 - 1953)
S E R V I Ç O DE A E R O S O L
T E L E F O N E : 401
C R A T O —o— C E A R Á
*
Solenidade da Posse da Cadeira
N. 10, na Secção de Letras
Coube defender a Cadeira N.° 10, da Secção de Letras, o escritor
caririense Tomé Cabral Santos, radicado em Crato e agora residente
na Cidade de Campinas, em São Paulo. A bonita solenidade se deu,
a 12 de Julho, no salão de festas da Faculdade de Filosofia do Crato.
presidida por J. de Figueiredo Filho, às 19 horas com grande assistên
cia. Após audição do Coral do São João Bosco, dirigido pela Profes
sora Divani Cabral, em homenagem à aniversariante do dia anterior,
D. P ia Emeraldo Cabral, o presidente d0 I. C. C. abriu a sessão com
pondo a mesa, dizendo algumas palavras e mandando que o Prof. José
Newton Alves de Sousa lêsse o seu discurso saudando o recipendiário
do dia. Depois falou o escritor Tomé Cabral sôbre o Patrono da Ca
deira — Pe. Emílio Leite Cabral. J. de Figueiredo Filho pediu ao
general Adauto Esmeraldo, componente da mesa e ilustre cratense, a
era: errar aquela brilhante reunião. Fêz êle belo improviso relembrando
Crato de outrora. Serviu de secretário o sócio — Huberto Cabral.
Publicamos abaixo os dois discursos do Prof. José Newton Alves de
Sousa e de Tomé Cabral Santos :
109
espiritual, se ligam ao existir co último, em que fêz preparatórios,
mo vida e à vida como existir. no antigo Ginásio do Crato, a cu
Uma literatura confinada em si ja primeira turma pertenceu.
mesma, extensiva apenas à esfera Tendo servido no comércio cra-
da beleza que a caracteriza como tense e no de Jucás, enveredou,
arte, seria uma literatura apou- a seguir, pela carreira bancária,
cada em sua substância humana. onde lhe estavam reservados mui
Sabe-se que a Literatura tem tos triunfos, mercê de sua capa
uma vida em si mesma, elaborada cidade de trabalho, sua competên
sob medida estética, mas essa vida cia profissional, seu nobre caráter
form al caduca e fenece, assim lhe e lúcida inteligência. No Banco
falte conteúdo expressivo do Ho do Cariri e no do Brasil, evolucio-
mem e da própria vida. na de escriturário a gerente. No
Eis porque o verdadeiro artista Eaneo Central, antiga S U M O C ,
é sempre um homem vivido, mes desempenha, de 1951 a 1964, a
mo quando jovem. É sempre al função de Inspetor. De 1964 a
guém que confere sua obra com 1969, é-lhe confiada, primeiramen
a própria experiência. te, a supervisão geral, e depois,
SENH O RES: a direção do Banco do Estado do
Tomé Cabral Santos não é um Ceará. A vida de comércio e a
puro esteta, no sentido de um ar de banco somam-lhe meio século,
tista a quem só interessasse a Be menos um ano. Tal' vivência re-
leza da forma. flete-se-lhe na obra literária, que
Dotado de razoável bom gôsto, nunca é uma obra de devaneios
estudioso da língua, das ccisas e e pura inventiva, porém qualquer
dos homens, é um espírito que coisa de prático, emanante do
perquire para registrar, escreve dia-a-dia fertilizado pela experi
para assinalar os marcos de sua ência pessoal.
existência, usa a fortaleza inte- Nasceu, como Pedro Gonçalves
lectiva com rara capacidade de Norões e outros privilegiados, para
ordem, seriedade, método e perse ser secretário: Foi-o da União dos
verança. Moços Católicos, do Tiro de Guer
Dêle não se pode dizer que é um ra 118, da Sociedade de S. Vicen-
literato como o fôra Machado ou te de Paulo, do Crato Tênis Club,
Bilac, homens que chegaram à da Federação Esportiva Cratense
Vida pela Literatura. e da Associação dos Empregados
Tomé Cabral chegou à Litera no Comércio do Crato, onde tam
tura pela Vida. bém lecionou.
Nascido em Riachão, hoje mu Cedo lhe madrugou na altna o
nicípio de Barro, mas antes per amor às Letras, levando-o às Mu
tença de Milagres, veio ao mundo sas e ao jornalismo. Neste últi
no dia 7 de julho de 1907, filho mo setor, sempre se houve com
de Tomé Ooriolano Gomes dos destaque e invulgar dinamismo.
Santos e D. Rita Cabral dos Fundador de várias folhas, cola
Santos. borador da “ Gazeta do Cariri” (de
Seus estudos, que não foram que foi um dos diretores), bem
•além do nível secundário, com como de “A Classe” , “ O Cariri” , “ A
preendem três períodos: o de 1913 União” (que também dirigiu), fêz
a 1918, o do 2.° semestre de 1924 ainda estampar várias produções
e o de 1927 a 1931, período, êste em revistas do Sul do País.
110
Publicou “ Os 19”, “ A Europa é Está preparando “Memórias:
bem a l í . . . ” e, já êste ano, “Seu coisas e pessoas que conheci” c
M!éu”. ainda promete “Versos esparsos” .
Porque não vou fazer análise Eu tomaria a liberdade de su
apreciativa de nenhuma dessas gerir-lhe a insersão, nas “Memó
publicações, limitar-me-ei a su rias” de uma coletânea de cartas,
blinhar a singularidade das pági- dessas que costuma endereçar a
san de “A Europa é bem a lí... ” , D. Pia Cabral, cartas onde o bom
mimeografadas, a princípio para humor e o fino espírito crítico fa
uso de um pequeno grupo de pa riam inveja a muitos que se di
rentes e amigos, mas, por insis zem cultores de tais predicados.
tência dêstes, publicadas, em 1968, Senhor Tomé Cabral Santos :
na série “ Cadernos do Cariri”, pa Foi-me cometida a honra de
ra regalo dos espíritos dados a receber-vos neste Instituto, cuja
essa sorte de literatura amer»a e Cadeira N.° 10, da Secção de Le
intimista, enriquecida, aqui, de tras, ides hoje ocupar.
uma nota curiosa, alí, de uma re Ela vos cabe, de direito e de
ferência hilariante, além, de um fato, pelo que tendes sido e pelo
têrm0 de conotação regional. que tendes feito no campo das
“ Seu Méu” é o pequeno itine Letras.
rário biográfico de um lutador: Vossas produções ressumam vi
Tomé Coriolano Gomes dos San da em abundância. Nelas, a be
tos, seu digno pai, escrito para leza não é o ponto mais forte,
comemorar o centenário de nas mas nelas estão presentes as no
cimento daquele heróico nordesti tas do bem escrever, do bem co
no, cuja vida foi, como a quali municar.
ficou Tomé Cabral, “ uma autên Vossa produção literária é íor-
tica via-sacra, tal! a enfiada de temente valorizada pelo timbre
lutas inglórias, fracassos e sofri caririense, de que a tendes sabido
mentos”, que lhe encheram e exis impregnar.
tência. Êste opúsculo vale como O Instituto onde passais a ocu
sentida e nobre homenagem do par a Cadeira patrocinada pelo
filho que, recordando assim o ge Pe. Emílio Cabral, considera-se
nitor, o faz como herdeiro das feliz por vos imortalizar no sim
virtudes tradicionais do homem do bolismo desta investidura.
Nordeste, consubstanciadas no a- Entre vós e vosso Patrono exis
mor à Terra, ao Trabalho, à Fa tem afinidades de sangue e de
mília e à Religião. espírito.
Tomé Cabral Santos tem pron Cabe-vos exalçar e perpetuar a
ta uma obra que vai consagrá-lo memória do grande Pe. Emílio
como pesquisador e livre estudioso Cabral.
da Lingüística. Refiro-me ao “ Di E a mim, por indicação de meus
cionário de têrmos e expressões u- ilustres confrades, o prazer de vos
sados no Cariri Cearense”, volume saudar.
de várias centenas de páginas, É o que, com ufania, agora faço,
fruto de muitos anos de benediti pois bem o mereceis :
no e ordenado lidar. Sêde bem-vindo.
Dado a investigações genealógi Crato, 12 de julho de 1970
cas, tem. inédito, um trabalho que
intitulou “Familia Limaverde”. José Newton Alves de Sousa
111
D ISC U R S O DO E SC R IT O R
112
A assistência ofieial aos estabe prédio do antigo seminário. Foi
lecimentos de educação era, na nsssa época que se deu a funda
quele tempo, maia precária do que ção do jornal “A Cruz”, sob a di
em nossos dias. P o r essa razão, reção dos três sacerdotes e cola
o Seminário, mais uma vez foi boração de alguns intelectuais da
forçado, por falta de meios, a fe terra, entre êles, o Pe. Francisco
char suas portas poucos anos de SilVano de Souza e o dr. Soriano
pois, isto é, em 1897. Para conti de Albuquerque, renomado educa
nuar os estudos, teve pois o Pe. dor, dramaturgo, e, se não me en
Emílio de transferir-se para o gano, juiz de direito local. Junto,
Seminário da Prainha, em F orta portanto, a essa pleiade de inte
leza, ali permanecendo até o ano lectuais de prim eira plana, teve
de 1903, quando recebeu o pres- êle então a oportunidade de ex
biterato, em 30 de novembro. pandir, em curtos1 vôos embora,
Ordenou-se, portanto, o Pe Em í seus sonhos e anseios de aprimo
lio, aos vinte e dois anos de idade, ramento intelectual.
após um curso brilhante. Sempre O dealbar do século X X foi
considerado um dos primeiros da muito ingrato para os habitantes
classe, isso era comprovado atra do hinterland nordestino, pois já
vés dos vistosos livros, escritos em o ano de 1900 assinalava a maior
francês, que enfeitavam sua bi sêca dos últimos cinquenta anos,
blioteca, nos quais as dedicatórias tirante a de 1877, com seus repi-
assinalavam as excelentes classifi quetes. E, para desassossêgo da
cações nos exames -finais dos cur população rural, a fa lta de segu
sos. Posso ainda mencionar dois rança era absoluta, devido às fr e
deles: a Vida de Bertran Dugues- quentes incursões de cangaceiros
clin, célebre guerreiro francês do em tôda essa vasta região e so
século X IV e “ Le feu du ciei” , que bretudo em face da prepotência
mais parece um tratado de física. des senhores feudais ou seja dos
Êste último ainda conservo em m i célebres e nefastos coronéis que
nha biblioteca. dominavam tôdos os núcleos popu
Após a ordenação, foi o Padre lacionais da zona, bafejados pela
Emílio estrear com0 pastor de a l oligarquia reinante. Alarm ado com
mas, inicialmente na qualidade de isso, conseguiu o Pe. Emílio con
coadjutor em São Mateus, h oje vencer sua fam ília a vir residir
Jucás, e depois como vigário de em Crato. E, assim, pela primeira
Independência. Teve isso, entre vez, teve a satisfação de conviver
tanto, curta duração, pois pouco com sua mãe, irmãos e avós m a
depois, preferindo dedicar-se ao ternos. Meu bisavô Francisco Á l
magistério, foi lecionar no colégio vares de Oliveira Cabral havia
dos capuchinhos, em Canindé, e então adquirido da genitora do
depois num colégio da Serra do comerciante Francisco M ilfont um
Estevão, que o Pe. Joaquim F er casarão de quatro vãos e uma e-
reira de Melo fundara em 1903. norme va&ante no antigo “ Fundo
Em 1909, o padre Melo e o padre da M aca” , isto é, na últim a quadra
Emílio vieram para Crato e fun da rua do Fogo, hoje Senador
daram aqui, juntamente com o Pompeu, onde atualmente se en
Pe. Pedro Esmeraldo da Silva, a contra instalada a Fábrica A ra-
primeiro de abril daquele ano, o ripe.
Colégio São José, instalado no Em 1913 fechou-se o Colégio S.
113
José, mais uma vez por falta de à necessidade de desdobramento
meios e de assistência dos pode de algumas, especialmente as de
res públicos. Pe. Emílio abriu maior núcleo populacional ou de
então o Externato São Vicente, grande extensão territorial. Foi
modesta instituição, na praça 3 de então convocado todo o clero da
Maio, na mesma rua em que re nova diocese para prestar sua co
sidia sua família, numa esquina laboração: uns assumiram o go-
fronteiriça, por um lado, à um ter vêrno das novas freguesias, outros
reno baldio onde é hoje à Igreja foram substituir os vigários nas
de São Vicente e por outro à en paróquias vacantes ou cujos titu
tão residência do farmacêutico lares já estavam merecendo o des
Teófilo Artur de Siqueira Caval canso de uma aposentadoria.
canti, onde hoje se encontra ins Ao Padre Emílio coube a fre
talado o Banco da Bahia. Isso o- guesia de Assaré, com residência
correu nos anos de 1914 e 1915. fixa em Santana do ‘Cariri, como
De 1905 até 1915, dedicou-se, vinha ocorrendo há cêrca de qua
portanto, o Pe. Emílio exclusiva torze anos. Com o desdobramento,
mente ao magistério, ao estudo da pouco tempo depois, daquela pa
língua pátria e às lides literárias. róquia, Santana obteve sua auto
Datam de então seus mais subs nomia e então o padre Emílio
tanciosos trabalhos, muitos extra transferiu-se definitivamente para
viados, outros esquecidos nos pe Assaré. Permaneceu ali de 1916
riódicos regionais e poucos encon até junho de 1924.
trados em seu arquivo. Sua bi Assaré era então uma pequesa
blioteca, opulenta para o meio e vila, estacionária senão decadente,
para a época, continha, em sua quase isolada naqueles confins, do
maioria, obras de nossos melho Cariri ao sul dos Inhamuns. Po
res puristas, com anotações e co voado de hábitos muito rotineiros
mentários, e ainda livros sôbre e longe da vigilância de censores
temas filológicos, dos mais con oficiais e eclesiásticos, tal ostra
sagrados mestres. Escrevera es cismo favorecia sobremaneira a
tudes sôbre questões vernaculares proliferação de certos abusos de
e até um esboço de gramática. As ordem moral, tão férteis àquela
outras matérias de sua predileção época nas regiões mais recuadas
foram francês e geografia, em cu dos meios civilizados e mais pró
jos compêndios deixou anotações ximas de semi-selvageria do vizi
com judiciosas observações. Sen nho Estado.
tia-se, pois, que sua carreira de Foi entregue, portanto, àquele
veria ter sido encaminhada para sacerdote uma tarefa difícil — o
o magistério, para assuntos lin nobilitante apostolado de dirigir a
guísticos e para a literatura. disciplina moral e religiosa da
Em 1914 criou-se a Diocese do quele pequeno núcleo, alterando,
Crato e em fins de 1915 foi sa assim, radicalmente, seus hábitos,
grado seu primeiro bispo o então pois de educador emérito, em con
vigário Mons. Quintino Rodrigues tacto assíduo com pessoas de alto
de Oliveira e Silva. Com a deli nível intelectual, foi transformado
mitação da área da nova diocese, em pastor de almas rústicas e ig
foi um dos primeiros passos de D. norantes.
Quintino o reajustamento da zona Para dar cabo plenamente de
de jurisdição das freguesias, face suas novas atribuições, renunciou
114
o Pe. Emílio, por completo, aos trazendo apenas velha e surrada
estudos e aoa devaneios literários batina e as três ou quatro cen
e dedicou-se, dali por deante, ex- tenas de livros que levara. D e
clusivamente, aos encargos da pa ram -lhe, no Seminário Diocesano,
róquia. a cadeira de geografia, nos diver
De estatura meã. sem orienta sos cursos dali. Parecia até ironia
ção dietética necessária ao com da sorte voltar a ensinar u'a m a
bate a certa predisposição para a téria que exigia m em ória pronta e
adiposidade, chegou o Pe. Emílio o trato diário dos acontecimentos,
a pesar uma centena de quilos, o justam ente quando houvera uma
que constituía para êle perene radical alteração na geografia po
m artírio .sempre obrigado a per lítica do mundo, especialmente da
correr frequentemente, além dos Europa, pois naquele interregno
chamados a confissões de hora de ocorrera a prim eira conflagração
morte, longas estradas, em visitas mundial.
àc capelas de Amaro, São José de Enfrentando Os maiores óbices,
Quincuncá, Tarrafas e Quixará — o que era natural, — conseguiu
distantes da sede da freguesia, ainda o Pe. Em ílio lecionar todo
respectivamente, 30, 40, 45 e 60 o segundo semestre de 1924, sem
quilômetros, em estradas mal cui uma queixa, porquanto já estava
dadas, pedregosas, e em terrenos afeito às cruéis insídias do desti
acidentados, sempre a cavalo, pois no. Mantinha-se, entretanto, mui
naqueles tempos desconhecia-se o to retraído, acabrunhado, o que
automóvel na região. agravou mais e mais o estado
Subcrdinou-se a essa vida até neuropático que tanto o afligira
meados de 1924. Longe da fam ília, naqueles angustiosos anos de de
às vezes até três anos sem con gredo. A fam ília resolveu então
tacto com a mesma, refugiado num m andá-lo ao Rio, em busca de
casarão da praça da Matriz, em tratam ento adequado. Ficou ali
companhia de uma velha cozi alguns meses, tendo conseguido
nheira e de um rapazalho de 16 considerável melhora. Animado
anos que ocupava as funções de com o tratam ento e à vista de
sacristão, retraído que sempre conselho médico, de procurar cli
fôra, foi-se tornando o Pe. Em ílio ma mais frio para complementa-
dia a dia mais casmurro, irrita ção da cura, resolveu seguir para
diço, parecendo guardar, não direi Pelotas, no Rio Grande do Sul, a-
revolta mais uma queixa sopitada, tendendo, assim, convite de seus
ante o sacrifício que lhe foi im antigos companheiros de m agisté
posto de renunciar tôda sua vida rio no Colégio São José, dom Joa
acs anseios de brilhantes vôos que quim Ferreira de Melo e monse
tanto sonhara. Não lhe foi possí nhores Pedro Esmeraldo e Fran
vel, entretanto, resistir mais tem cisco Silvano de Souza. Acredita-
po àquela vida e, assim, por m oti se tenha sido essa uma das m e
vos de saúde, fo i chamado ao lhores fases de sua vida, pois ali
Crato. se viu rodeado de velhos amigos.
Voltava sem recursos, pois As- Certo dia, porém, recebeu êle,
saré estava situada numa região em Pelotas, uma carta de seu
paupérrima, não lhe proporcio bispo, lembrando-o de já ser tem
nando senão minguados meios de po de voltar à sua dio:ese. Sub
subsistência. Chegou ao Crato misso como sempre, viajou im e-
115
diatamente. Ao paasar pelo Rio, a tratamento, mas não conseguiu
foi despedir-se dos amigos da ilha recuperar-se inteiramente, ficando
de Paquetá, onde residira durante com uma “ banda esquecida” , para
o período de tratamento e cuja usar uma expressão genuinamente
capelania escolhera para o exer nossa. Mesmo assim, não quis ce
cício de seus deveres sacerdotais. der às insídias do mal e ia dia
Ofereceram-lhe então os encargos riamente, arrastando-se, cumprir
de cura na pequena ilha, que os novos encargos de que estava
estava sem capelão. Seria uma incumbido: censor eclesiástico da
coisa maravilhosa para êle viver Diocese. A êsse tempo já era bis
dali por deant-s naquele meio cul po do Crato dom Francisco de
to, entre excelentes amigos e com Assis Pires.
fácil assistência médica. Mas não Triste e taciturno, sofrendo e
lhe era dado tomar outra decisão: resistindo, veio o Pe. Emílio a fa
deveria prestar obediência ao cha le. er, vítim a de novo ataque, em
mado de seu superior... 27 de abril de 1933, aos 52 anos
Poucos dias após seu retorno a de idade.
Crato, foi designado para servir
na vila de São Pedro do Cariri,
como coadjutor do velho pároco, Em alguns de seus livros e ca
quase decrépito. Ocupou essas dernos encontrei, escritos com sua
funções cêrca de seis anos, de 1926 letra e de seu irmão Zé Leite, a-
a 1932, quando certo dia, após o queíes admiráveis versos de Fran
café da manhã, foi acometido de cisco Otaviano, ainda em sua re
congestão cerebral. Trouxeram-no dação original, isto é, sem o buril
para o Crato, onde se submeteu dos retoques posteriores:
116
tada. O que resta de tudo quan Loiola, no trem, declamou para os
to fêz, na memória dos homens, companheiros e outros passageiros
é um velho retrato, pôsto, depois todo o extenso poema, sem titu
de sua morte, na saeristia da i- bear uma só ve z...
greja-matriz de Assaré, terra que Tenho ainda, entre alguns tra
êl'e muito amou. Dizem que, balhos e esboços de estudos da
ainda hoje, alguns velhos e velhi língua portuguêsa, duas outras
nhas de seu temp0 vão às vezes produções suas, dois sonetos, aliás,
até alí, para pedir sua intercessão escritos naquele estilo sóbrio, sem
junto ao Poder Celeste ou para vôos de condor, mas seguro, for
apresentá-lo às novas gerações: mal. Costumava exteriorizar no
Olhe, menino, aquele é o padre papel o que era êle próprio. Não
Emílio Cabral. Foi um santo... gostava das coisas leves, fúteis,
Foi meu vigário e meu amigo... sem profundidade. Lembro-me de
que, certa vez, fui, alvoroçado,
* * Sc mostrar-lhe um poema de minha
autoria, publicado pela primeira
Quanto ao valor literário de sua vez em revista carioca, ao lado,
obra ou, diria melhor, do que por sinal, daquele maravilhoso
ainda encontrei no arquivo da fa ‘‘■Encontro das Águas” , do grande
mília, pouco sei apreciar, por fa vate e boêmio Quintino Cunha.
lecer-me preparo intelectual que Leu-o, releu-o e disse, finalmente:
essa tarefa requer e, sobretudo, — Está bem fe ito ... é original...
porque sou suspeito em proclamar mas muito profano...
suas qualidades de escritor, de Era assim o padre Emílio Ca
poeta e de mestre. Sei, entretan bral.
to, que deixou como peça de maior
mérito, o poema intitulado “A
Procela Aplacada”, gabada por O padre Emílio não passou em
muitog intelectuais da época e so branca núvem no meio em que vi
mente há pouco tempo publicada veu, embora muito poucos destas
em “ Cadernos do Cariri”, por ca duas últimas gerações tenham co
rinhoso gesto de um dos incansá nhecimento de sua existência. Po"
veis rebuscadores de nossa litera deria recorrer ao testemunho dos
tura indígena, o doutor José New- que foram seus alunos ou de seus
ton Alves de Sousa. Alguns de paroquianos, aqueles espalhados
seus alunos sabiam de cor êsse por todos Os quadrantes de nosso
poema. Entre êstes posso nomear Brasill e êstes, em sua maioria,
Antônio Furtado e Inácio de Loio- ainda insulados na velha e mo
la Alencar. Fazendo um parente- dorrenta Assaré, esquecida dos go-
se, quero, nesta oportunidade, par- vêrnos e de seus gloriosos filhos.
ticularizar um fato, a êsse propó Êsse testemunho, se a êle recorri
sito : Certa ocasião, em 1925, do, dar-nos-ia um quadro de rara
quando eu viajava para Iguatu, emoção: sexagenários como eu e
em companhia de Loiola, Luiz mais do que isso, iriam desfilar
Teixeira, pai e filho, e de Rai na passarela das saudosas recor
mundo Tavares Lima (o nosso i- dações as passagens imorredouras
nescuecível Gordo), onde iriamos de uma vida útil e proveitosa, sa
representar o Crato no primeiro crificada em proveito de algo mais
congresso dos caixeiros do Ceará, do que as vaidades terrenas...
117
O Cel. pensava nisso, òbviamen-
te, a julgar pelo seu semblante.
“ Vou tirar um cochilo” , disse lá
mania;
pra seus botões.
Não tirou.
Das vizinhanças ecoava um ba
rulho de sanfona, pandeiro, za
118
sempre apontando prá trás, pro jetivos. O Caju tremia-se todo
lado do furdunço. de raiva, a ponto de perder tam
O Cel. chutou um monte de im bém a fala.
propérios. — Calma, Caju, calma. Seu co
A zoada aumentava aos seus ração não aguenta ! Já viu o di
ouvidos viciados. O Cel. tremia. tado ? “ Quem não quer... manda;
Vociferava. Dava socos no ar. quem quer... v a i.. .”
FONE: 52 3 CRATO-CEARÁ
ADEMAR TÁVORA exercia algumas vezes também as
de advogado, resolvendo conflitos
Monsenhor Távora
entre donos de seringais ou outros
habitantes da região. Tinha uma
notável' habilidade para tratar com
121
sentiu desarmado com as palavras viam votar naquele pleito e pôs
o o gesto do sacerdote, convidan- na entrada do prédio onde fun
do-o a entrar no barracão e cer eionavam as mesas eleitorais al
cando-o de atenções. Mandou guns homens armados, com ordem
chamar todos Os seringueiros que de só deixarem ali entrar quem
trabalhavam no centro do serin tivesse autorização sua.
gal, tendo o Monsenhor Távora alí O aspecto dos homens usados
passado três dias pregando, con por Sedrim para guardarem a en
fessando, casando e batizando, a- trada d0 prédio em que ia rea
iém de haver feito do homem in- lizar-se o pleito era de meter
fenso aos princípios religiosos medo, pois se tratava de elemen
mais um amigo naquela inóspita tos do grupo dos Viriatos, cabras
região. de cabelo descendo até os ombros
À grande facilidade que tinha (precursores dos cabeludinhos de
de fazer amigos, juntavam-se no h oje), empreiteiros de violências e
Monsenhor Távora a coragem e o desordens.
sangue frio para enfrentar qual Em dado momento, chegou ao
quer situação perigosa que se lhe local onde se encontrava a guarda
apresentasse. de Sedrim o Padre Fernandes, a-
Um fato ocorrido ao tempo em companhado de numeroso grupo
que esteve êle militando na polí de eleitores que iam votar.
tica cearense mostrou bem a sua Quando 0 sacerdote foi tentan
calma e o seu destemor em frente do transpor a entrada do prédio
a adversários rancorosos. os cabras apontaram as armas e
disseram que atirariam em quem
Ia realizar-se no Crato uma e-
l'eição muito disputada pelos par procurasse romper aquela bar
reira.
tidos Conservador Graúdo, a que
estava filiado o então Padre An Sem se perturbar, o Padre Fer
tônio Fernandes Távora, e Liberal, nandes, baixando com a mão "
de que era chefe local Juvenal de cano da arma que tinha mais per
Alcântara Pedroso, homem de fino to de si, assim falou para Os ca
trato, dando a impressão de um bras :
lord inglês perdido no interior do — Rapazes, vocês hão de matar
Nordeste Brasileiro, mas que vi todos êstes homens que, protegi
nha como cabo eleitoral de sua dos pela lei, aqui vêm trazer o
inteira confiança Manuel Sedrim seu voto ? E foi entrando, en
de Castro Jucá, advogado rábula quanto os cabras, perplexos dian
e pessoa que não dava trégua aos te da atitude do sacerdote, bai
seus adversários, políticos. xaram, automáticamente, suas ar
Entendeu Sedrim que o$ eleito mas.
res do partido contrário não de Com o Padre Fernandes entra-
122
P A C - S m i L E
c o n io a e
ti a g o a r a r i p e
123
DEVANEIO_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
UM D IA :
em d ia de c h u v a
LEM BRANÇA VIVIDA,
UMA N O IT E :
ESPERANÇA S O F R ID A ...
■COMO É BCM SONHAR AS COISAS BELAS,
COMO É D IF ÍC IL VIVER UM GRANDE A M O R !
E O QUE É A VIDA, A F IN A L ?
SONHO? ILU S ÃO ? A M O R ? VERDADE?
DEPOIS, DEPOIS,
VAGO O SONHO,
DESFEITA A ILUSÃO,
RESTA O AMOR,
A VIDA, ENFIM.
ZÉYPSILONE
124
Literatura
Acadêmico Cearense
Pela primeira vez em sua his do de maior profundidade e am
tória, a Academia Cearense de plitude, mostrando como se pro
Letras, sediada em Fortaleza, ele cessavam as atividades folclóricas
geu para integrar aquele sodalício naquela região cearense, dando
um escritor residente no interior ênfase a algumas danças, como o
do Estado. O escritor e historia maneiro-pau, o milindô, o côco-
dor José de Figueiredo Filho, que gavião e o sapo cururu, esta co-
reside em Crato, é o novo imortal mumente executada ao som de
cearense. Sua eleição, no mês uma “ banda cabaçal” , que tam
passado, foi realizada com a una bém foi objeto de estudo por par
nimidade dos votos dos membros te do escritor. Recentemente, Fi
da ACL, estando sua posse progra gueiredo Filho escreveu um novo
mada para início do próximo mês livro sôbre folclore, focalizando os
de fevereiro. Figueiredo Filho, au “ Folguedos Infantis Caririenses”.
tor de mais de uma dezena de li O novo imortal cearense, última
vros, iniciou as suas atividades mente, se tem dedicado a elabo
jornalísticas no decênio de 1920 - ração de uma “ História do Cari
1930 e somente em 1937 fêz sua ri” destinada aos alunos do curso
estréia na literatura, quando pu de História da Faculdade de F i
blicou o romance “Renovação” losofia do Crato da qual é pro
pela Livraria Editora Odeon, de fessor. De sua “ História do Ca
São Paulo. Depois, transpondo a riri” já foram lançados cinco vo
barreira da ficção, publicou “Meu lumes. Figueiredo Filho é o atual
Mundo é Uma Farmácia”, “ Cidade presidente do Instituto Cultural do
do Crato” (esboço histórico) e Cariri, que fundou em 1953 jun
“ Engenhos de Rapadura do Cari- tamente com um grupo de inte
ri”. Criado ao contato com Os fi- lectuais da região sul-cearense. E
pos mais representativos da saga colaborador de vários jornais do
caririense, Figueiredo Filho dedi Ceará e Pernambuco e de revistas
cou-se, posteriormente, ao estudo científicas do país, além de dirigir
das tradições na região do Cariri. a revista “ Itaytera”, órgão oficial
Como resultado de suas pesquisas do Instituto Cultural do Cariri, de
no campo do folclore, publicou em circulação anual.
1962 “ O Folclore no Cariri”, estu (Correio Brasilier.se 26 - 01 - 68)
125
nesse caso, para dar recurso ao
126
C a d e rn o s B r a s ile ir o s C B
e j . d e F ig u e ire d o F ilh o
A grande revista de cul diretor J. de Figueiredo Fi
tura, bem moderna, “ Ca lho, logo em primeiro lugar.
dernos Brasileiros” , dirigi Trata-se de trabalho sobre
da pelo intelectual de reno assunto regional, com o tí
me internacional - Afrânio
tulo — “A CIVILIZAÇÃO
Coutinho, editada no Rio,
em seu número 58, de Mar QUE VEIO PELO S. FRAN
ço e Abril, do corrente ano, CISCO” , o mesmo que saiu
consagrada à Sudene, pu reproduzido na atual edição
blicou colaboração de nosso de ITAYTERA.
127
Cia. Nordestina Agro Industrial
H igien e perfeita
129
Um Lí oro sobBich
Há poucos dias, a direção da gaiolas constituíam dos seus maio
FLORESTA NACIONAL ARARIPE res atrativos, por mais bonitas que
-APO D I, cumprindo determinação fossem constituídas.
legal, extinguiu, em Crato, a feira Havia profusão de bugas, de
de passarinhos. Constituia-se a pouco valor, pegados de alçaprão
socção mais movimentada desses r:a serra. Mas, a patativa azul se
ajuntamentos populares, que se disputava a pêso da muito cruzei
realizam, para fins comerciais, se ro sob encomenda de muita gente
manalmente, nesta cidade. Gaiolas moradora no sul. Canários de
de todos os feitios eram ali ex briga não tinham limite de cota
postas em proporções avultadas, ção. Valiam pelos campeonatos
não lhes faltando compradores, as vencidos. Sabiás e Craúnas apa
vêzes, até empatando o trânsito da reciam, de quando em quando, só
rua e das calçadas. A frequência acessíveis aos bolsos dos ricos. O
superava até a feira da rapadura, cancão saltitante frequentemente
feijão, ou mesmo das frutas. Mas passava a ser negociado para fins
os passarinhos que enfeitavam as terapêuticos. Tem o dom, desde
130
o tempo da colônia, de trancado CHOS NA FALA DA GENTE” . Foi
num quarto durante a noite com editado p/ INSTITUTO JOAQUIM
um asmático, absorver-lhe a do NABUOO DE PESQUISAS SOCI
ença, ficando acometido do terrí AIS. É seu diretor e muito tem
vel puxado, terror noturno de realizado pelo seu progresso cul
muito cristão, que tem infelicida tural. Só um pesquisador profun
de de ser acometido. Muita gen do poderia escrever um .livro do
te, principa.lm.ente criança, ficou quilate de “ OS BICHOS NA FALA
com saudade daquela feira tão DA GENTE'’. É preciso que seja
alacre. conhecedor das coisas do Nordeste
Todo êsse comércio animado, e ter bastante senso de observa
cheio, com mercadoria viva e ale ção. Precisamos conhecer-lhes ao
gre, a cantar sempre, embora so menos pequena amostra que diz
frendo no cativeiro, desapareceu da profundidade daquele livro, tão
de uma hora para outra. Fun simples e tão ao sabor das coisas
cionários da Floresta Nacional, sertanejas.
munido da lei proibitiva, chegou Mauro Mota tem o dom de es
no local e deu ordem de soltura crever coisas profundas no lingua
a todos os engaiolados. Alguns jar tão simples que tanto o iden
deles soltaram vôo logo e ganha tifica com a terra, onde nasceu:
ram o infinito. Outros, originá Vejamos o étimo CANÁRIO :
rios da Austrália, como os peri “ CANÁRIO DE B R IG A : ho
quitos, ou da Eélgica, a exemplo mem briguento. CANÁRIO DE
dos canários, não souberam orien UMA MUDA: que sempre vive
tar-se no espaço. Desceram nos com a mestma roupa. CANÁRIO
quintais vizinhos e não escaparam N A PO R T E IR A : mulher que de
à caçada dos meninos, abundantes fende o marido e entra na briga
em tôdas as redondezas. Volta a favor dêle. CANÁRIO MUTU-
ram às prisões ou foram mortos C A : Mofino que apanha logo.
sem piedade. CANÁRIO T U R U N A : resistente
Na feira seguinte, retomaram que aguenta briga. CANÁRIO DE
apenas as gaiolas vasias, sem fre- BANDO : quem só gosta de andar
guêses, até desaparecerem do mer em grupo; homem de várias mu
cado, por completo. lheres”.
Sôbre bichos e muito carinho O livro é atraente, cheio de
samente sôbre passarinhos, o re- coisas pitorescas, pesquisado nas
cém-eleito membro da Academia cidades e no interior, É escritor
Brasileira de Letras, empossado, de fina observação e seu estilo
em maio último, o escritor Mauro faz dele dos primeiros escritores
Mota glória das letras nordestinas, do Brasil atual, mas é visceral
publicou, no ano passado, o bem mente vinculado ao Nordeste.
feito e oportuno livro — “ OS B I J. F. F.
131
I Companheiro e A lio
ORLANDO MOURA |
Fortaleza, dezessete de onze de mil novecentos e sessenta e nove
Os vespertinos de hoje trazem a infausta notícia da morte do
companheiro e amigo Orlando Moura
Páro e prego os olhos absorto na leitura trágica
Morreu o companheir0 e amigo Orlando Moura
No meio da rua pensativo imagino e retrato a fisionomia do
amigo morto
132
GOMES DE MATOS :
133
Eelém : Gomes de Matos é tão inteligente que dos artigos da lei só
lê o comêço. E acrescentou : boa ou ruim, o que êle defende é a
causa do cliente.
Esta observação vale por um retrato de Gomes de Matos, senão
como uma mostra do empenho, da vibratilidade com a qual defendia,
com risco às vêzes da própria vida, as causas que lhe eram confia
das. O calor no debate fê-lo dizer: — os dedos da-s mãos são mui
tos para contar os juizes honestos do Ceará.
Nas pelejas judiciárias era, de ordinário, um vitorioso em po
tencial.
Precisamente em 1944, escreveu (a ditadura caminhava para o
fim ) :
“ O Dr. Meneses Pimentel ainda não teve oportunidade de tocar
a busina conclamando eleitores porque realmente dêles não pacisa.
Não se fala fundadamente em pleito eleitoral, boateja-se apenas.
“ Mesmo assim, quem quiser saber onde estão malhando muitas
rêses do Partido Social Democrático, daquele “pujante” que lhe com
bateu desesperadamente a candidatura à presidência do Estado, não
perca tempo com indagações, não publique anúncios, — pare um mo
mento na Praça do Ferreira, ponha o ouvido para o lado do Palácio
Governamental e ouvirá o toque dos chocalhos amarrados no pescóçó
de muitas delas principalmente dos ardentos oradores pesse distas pro
pagadores das “Vozes, do Sertão” , falsas, inverídicas, que tanto engana
ram o Oel. Felipe Moreira Lima.
“ Vá direitinho nesse rumo e lá encontrará o grosso daquela
gente acampada à sombra do alpendre interno onde não faltam milho
e água fria aos adesistas.
“ Alguns dêsses entraram pelo portão do pardieiro, dando a mão
ao cabo da guarda, outros, humildemente, tirando o chapéu ao pau da-
bandeira. Outros, pularam a janela. Nenhum entrou pela porta”.
Como e ainda neste passo se vê, a veemência era um traço mar
cante da sua personalidade, a par da crítica por vêzes contundente.
Foi sem dúvida Gomes, de Matos, a seu modo,um hómem feliz,
inclusive porque teve morte quase súbita, como sempre o desejou. E
eis que o inopinado da ocorrência (uma crise cardíaca) não o im
pressionou. Antes, disse, num lúcido e irônico discernimento da rea
lidade : — Léa, estou frito.
Viveu e morreu cercado de amizades. Quando do seu último
aniversário natalício vi-o cercado de amigos e quase, todos, como êle.
avançados em idade: Miguel Câmara, de Quixeramobim, Rafael Teó-
filo, Carlyle M artins...
Lembro-me de quando à sua residência, na 24 de maio, chegou,
nessa ocasião, o venerando senador Fernandes Távora, com Moema,
o seu anjo da guarda. Abraçou-o, e deu-lhe um presente. Fiquei
134
comovido com aquela lembrança (a do presente) e quando dali me
retirava rumo a Maranguape, observei para a minha m u lh er: veja
que amizades as da velha geração : vão do comêço ao fim. Nas de
hoje só há interêsse.
Nessa oportunidade, o João Jacques (que a êle por dois anos
serviu como datilografo quando deixava o Seminário de Fortaleza pe
los idos de 1930), fazia-lhe perguntas que bem identificavam o re
pórter que naquele mesmo dia se tornaria imortal. Entre outras:
Gomes de Matos, você já foi maçon ? — Um dia, respondeu. E de
govêrno, Gomes de Matos, qual o melhor que o Ceará já teve E an
tes que viesse a resposta, João Jaques se saiu : Você nunca foi amigo
de govêrno.
Palestrador incomparável, era Gomes de Matos de um repentis-
mo a tôda prova.
Não há quem dêle não guarde um humorismo, uma frase de
espírito rica, por vêzes, de sentido sociológico.
Não faz muito, no contexto de um editorial de primeira página
do “ O GLOBO” , vi a frase por êle proferida no júri de Virgílio Gomes:
o povo é massa falida.
A um primo seu do Crato, Daodoro, que lhe reclamara medidas
contra o jôgo no comêço do Govêrno Beni, respondeu pôr telegrama:
não se preocupe govêrno nôvo fica velho.
Veja a presença de espírito que ainda tem o Gomes de Matos —
disse-me o Dr. Manoel Albano Amora. E refere : ia êle atravessar
uma rua e estava embaraçado com o movimento de veículos. De
lado, um amigo o adverte : Dr. Gomes de Matos, olhe para o sinal.
Êle virou-se e com energia na voz disse : eu olho é para o carro que
sinal não mata ninguém.
Ao lado dc H. Firmeza e Adonias Lima, de Renato Viana e Gus
tavo Barroso, de Matos Ibiapina e Andrade Furtado, figura Gomes de
Matos, na conceituação de Geraldo Nobre ( “A Imprensa do Ceará
na República” ) entre os jornalistas que mais se destacaram no de
cênio 1910 - 1919.
Combateu com João Brígido, desassombradamente os desman
dos políticos do Ceará; e disse, a propósito, numa conferência na
Casa de Juvenal Galeno, que quando deixava de comparecer às reu
niões em casa dêle o inolvidável panfletário, presto, indagava : onde
anda o Gomes de Matos que não aparece, isso é coisa.
Sucedendo o Des. José Moreira da Rocha a Idelfonso Albano na
governança do Estado, o Ceará transformou-se em autêntico couto de
bandidos.
Chefiados por Lampião, grupos de bandoleiros, após os saques
nos estados circunvizinhos, vinham aqui repousar, tranquilamente,
certo;, de não serem incomodados. Em Palácio os “ coronéis” eram
recebidos de braços abertos.
135
F oi neste comenos que Gomes de Matos escreveu : — o govêr-
no do Des. Moreira da Rocha veio provar que o Ceará não precisa
de Govêrno.
Refere Paulo Elpídio de Meneses que tôda vez que uma causa
empolgava e dividia a opinião pública no Ceará, de imediato vinha
do Rio a pergunta : com quem está Gomes de Matos ? Era homem
que se não omitia, e destacava-se por sua independência de atitudes.
Pertenceu à Aliança Liberal, partilhando dos mesmos ideais de Mau
rício de Lacerda, Nereu Ramos, Batista Luzardo e outros.
Em 1916, (regista-o Raimundo Girão) fundou o d ário “ O Jornal”
que se tornou temido pela seção por êle assinada “ Flechas e Meehas” .
Dos seus últimos artigos na imprensa de Fortaleza, o que maior
repercussão alcançou foi M ATUTOS NAO SEJAM BESTAS VENDAM
OS SEUS VOTOS e, também, O JUIZ DA VA RA COMPRIDA (artigo por
sinal, transcrito numa revista de S. Paulo) no qual comentou um des
pacho do Juiz Aguiar Dias liberando, do Rio, um contrabando no Ceará.
Em “ Matutos não sejam bêstas vendam os seus votos” o que
Gomes de Matos pretendeu foi valorizar, no momento oportuno, o
“ homo eleetor” , dos governantes sempre injustiçado e esquecido.
Gomes de Matos — diga-se de passagem — muito contribuiu
para o renome e o engrandecimento da Faculdade de Direito do Cea
rá, quer como professor catedrático de Direito Comercial (cadeira para
a qual foi nomeado em 23 de dezembro de 1913, e que já a exercia
desde 14 de dezembro de 1910, como substituto do Dr. Eduardo Studart
(então em disponibilidade) e na qual se aposentou por Decreto do
Presidente da República datado de 8 de fevereiro de 1950), quer como
membro da sua Diretoria, que o foi por dez anos.
Foi professor substituto de Direito Penal e de Introdução à Ci
ência do Direito.
Começou a sua carreira ainda acadêmico como Prom otor de
Justiça da cidade de Jardim. Logo após a conclusão do curso de
Direito foi nomeado Juiz Substituto de Barbalha.
Transferindo-se para a Capital foi Delegado de Polícia de For
taleza, Procurador Geral do Estado, Secretário de Polícia e Segurança
Pública e Deputado Federal1 como suplente do extinto Partido Social
Progressista do qual foi vice-presidente, no Ceará.
No Recife, onde fêz o curso de humanidades no Instituto P er
nambucano, do professor Cândido Duarte, foi companheiro dó Embai
xador Assis Chateaubriand Bandeira de Melo e do grande político
Agamenon Magalhães.
Sôbre a sua formação jurídica exerceu benéfica influência a cha
mada Escola do Recife de que foram figuras de destaque Tobias Ear-
retc, Sílvio Romero, Clóvis Beviláqua, Artur Orlando, Fausto Cardoso,
Martins Júnior e outros. Visava a dita escola, que tinha como ór
136
gãos de divulgação “Vigílias Literárias” e “ Idéia Nova” , “Colorar o
Direito dentro da teoria do evolucionismo” .
O curso primário fê-lo Gomes de Matos no Cratò no Colégio
Venerável Ibiapina com José Joaquim Teles Marrocos, mestre latinista,
e a quem, pela escolaridade, menino como êle pagava dois mil réis
por mês-
Aliás, em 1955, o discípulo saiu em defesa do mestre quando, 44
anos após o desaparecimento dêie, pretendeu-se fazer-lhe restrições.
D isse: nunca vi homem mais modesto, mais religioso, mais temente
a Deus. E salientou com êste fato a nobreza de sentimentos do gran
de educador caririense:
“ Caridosíssimo, à porta do colégio, aparecia um menino dos bre
jos e dos pés-de-serra, trazendo gaiolas cheias de passarinhos : caná
rios, patativas, bigodes, rolinhas, papa-arroz e outros. O velho mes
tre comprava tudo por atacado por preço ínfimo, e ali mesmo, na
calçada do prédio, chamando Os discípulos para testemunhas, abria a
porta do presídio, libertava as avezinhas. Era para êle prazer espe
cial vê-las esvoaçarem em procura de seus lares-
“Assisti a essa cena mais de cem vêzes, e êle era paupérrimo” .
Do seu tempo no Recife evocava, em palestras, a figura austera
de Laurindo Leão, catedrático da Filosofia do Direito, e pai do es
critor e acadêmico Múcio Leão, assim como a de Adolfo Cirne, lente
de Direito Civil.
A projeção de sua cultura ultrapassou as fronteiras do Ceará e
se alargou por outras unidades da Federação. Era sempre solicitado
para tomar parte em bancas examinadoras de muitos estados (Per
nambuco, Piauí, Pará, B a h ia ...) tendo em tôdas atuação marcante.
Foi sem dúvida na tribuna dos júris- populares de Fortaleza e
do interior do Estado que Gomes de Matos mais se axalçou.
Dentre os júris importantes de que participou, destacam-se : o
de Virgílio Gomes, acusado da morte do jornalista Antônio Drumond,
diretor da “ Gazeta de Notícias” ; o de Raimundo Augusto, de Lavras;
o de Mozart Catunda; o de Carvalho Pereira e o do médico paraibano
Nélson de Queirós Carreira, autor intelectual da morte de Carlos Go
mes de Matos, seu sobrinho, fato ocorrido em Crateús.
Não menos importante foi o júri dos Mororós, em Pacotí, e o
de José Mendes Braga, em Maranguape.
“ Dotado de lógica irrespondível, era um orador vibrante e im
petuoso principalmente quando da tribuna defendia- um réu e quando
via no advogado da acusação um colega respeitável pela cultura ju
rídica. Se êste era um Quintino Cunha, com quem teve ocasião de
defrontar-se, usava dos mesmos recursos do adversário para confun-
dí-Io no raciocínio. Era de finíssimo humor e sempre utilizava sá
tiras durante suas defesas para convencer o conselho de jurados, dei
xando o colega sem argumentos” . ( “ O POVO” ).
137
Publicou vários opúsculos com temas vinculados às questões que
patrocinou, um dos quais com interessante título — DE A PITO NA
EOCA.
Salienta-se que a sua grande função pública, a em que por as
sim dizer se celebrizou, foi como secretário de Polícia e Segurança
Pública no Govêrnp do Interventor Beni Carvalho.
Ocorreu o seguinte.
Luís Carlos Prestes, líder do Partido Comunista Brasileiro, de
sejou vir a Fortaleza e aqui fazer um comício. Desaconselhado a não
permitir tal, dado o perigo de haver desordens, o Secretário não se
deixou intimidar e consentiu que não só fôsse realizado o comício como
também uma passeata à luz de archote. Tudo decorreu normalmente
embora no mesmo dia o Partido Democrático também realizasse con
centração na Praça do Ferreira com os ânimos bastante acirrados.
Da sua turma de formatura (a terceira da Faculdade de Direito
do Ceará) destacaram-se, entre outros, Matos Peixoto, como civilista
e constitucionalista emérito, Álvaro Bomílcar, como sociólogo, e Hil-
debrando Acióli no campo do Direito Internacional1 .
A propósito do assassinato do Cel. Felinto Cruz, abatido a bala
numa secção eleitoral em Santana do Cariri, escreveu, enfocando a
criminalidade política no B ra s il:
“ A terra de Santa Cruz, atrasada como é, e que só agora começa
despertando para o culto do civismo e do progresso, em tôdas as suas
manifestações, não podia escapar à regra sociológica, fatal, da crimi
nalidade política.
“ A politicagem é, entre nós, porém somente aos olhos de pou
quíssimos observadores dos fenômenos sociais que nos envolvem, o mais
poderoso fator de delinqüência, quiçá mais forte que o álcool e a lu-
xúria combinados”.
“ Não há comarca mais ou menos antiga nêste país vastíssimo
que não ostente farta e vergonhosa crônica de delitos dessa natureza,
isto é, de fundo político. Processos crimes instaurados por aí afora
em geral são mal organizados.
“ Alguns juizes e promotores de justiça, precatando-se, preve
nindo-se contra possíveis atitudes desrespeitosas às suas autoridades
não querem assumir certas responsabilidades, não querem buscar a
gênesis, a origem de determinados fatos delituosos.
“ Esquecem de propósito, muitas vêzes, os mandantes apontados
pela opinião pública, e assim ocultos às perquirições judiciais, êstes
ficam sem punição alguma.
“ Lares onde havia riqueza ou abastança, onde a fam ília entoa
va o hino da felicidade da vida, se desfizeram ao choque brutal de
estúpidos homicídios de seus chefes e se reduziram a maior miséria.
Alguns nunca mais se reabilitaram nem economicamente nem quan
tos a antiga alegria íntima.
138
“ Por tôda a parte sangram corações de viúvas, de filhos, de
parentes próximos e de amigos da$ vítimas. A;, estradas que cortam
o sertão são pontilhados de cruzes que assinalam a j emboscadas trai
çoeiras.
Serpentes devoradoras de existências preciosas, eis a politica-
lha no Brasil1’’.
Nessa mesma oportunidade faz Gomes de Matos um retrato do
que se constituía a massa eleitoral do Brasil.
“ Teu depoimento (alude êle ao do eleitor que foi causa indireta
do crime de Santana do Cariri) é o espelho vivo da crassa ignorân
cia, da pobreza física, moral e mental da grande maioria, senão da
quase totalidade dessa coisa amorfa, dessa coletividade anônima, dessa
porção de ninguém, dessa massa imbecilizada que era quase todo o
eleitorado brasileiro, multidão, em regra, inconsciente do que fôsse uma
eleição na sua realidade, constitucional, nos seus objetivos patrióticos,
nas suas finalidades para o bem público, para a Nação, párá o Estádo,
para o Município.
“ Tu conheceste eleição apenas pelo lado do bródio, da patuscada.
da cczinha, da bebedeira, pelo lado festivo do almoço de carne co
zida e pirão, regado a vinho zurrapa e cerveja quente, pelos “ vivas”
acs candidatos desconhecidos, pelos foguetes que fendiam o ar sau
dando a vitória de uns, e pelas vaias, assuadas, injúrias, apupos e
assobios que desapontavam os derrotados na fuzarca das urnas.
“ Tu és a figura típica, perfeita e acabada do “ Jeca Tatú” , de
Monteiro Lobato ’.
“ Farsas trabalhosas e caríssimas, fontes de eternas desordens
geradoras de crimes, “ foi como considerou eleições em telegrama di
rigido a Getúlio no 3.° aniversário do Estado Nôvo, e cujo texto foi
estampado no folheto “A Função Social e Política das Faculdades de
D reito” , do professor Djacir Meneses.
Gcmss de Matos só compreendia o exercício da advocacia na
base da honestidade e não no da chicana, da mentira, dos sofismas,
da astúcia, do charlatanismo, da verbosidade sem feitos, da aparência
sem substância.
Assim, comentando o livro “ O Advogado’, do Br. Mário Guima
rães de Sousa, em trabalho no qual salienta haver advogados de to
do j os feitios, dos que aceitam causas sem fundamento legal,
com o objetivo de impor acordo ao adversário, dos que traem os pró
prios constituintes, voltando-se contra êles, exigindo honorários nunca
contratados, e dos que vendem seu direito a parte contrária, — ofe
rece à tese essa contribuição: “ Na obra invocada não vimos referên
cia ao tipo manhoso do advogado administrativo que vive agarrado
aos membros dos governos, em tôda;. as situações, anferindo enormes
lucros em negociatas que as repartições públicas não sabem repelir.
139
em face do interêsse recíproco, na divisão dos honorários de dezena.
e centenas de contos de réis” .
Não era norma sua defender com o recurso da negação dos fatos.
O seu escritório de advocacia foi para alguns bacharéis recém-
f erma des, nos quais reconhecia méritos e inteligência, autêntica es
cola prática de Direito. Por êle passaram José Teles da Cruz, Pedro
Wilson Mendes, Ivan Ribeiro Paraíba, Francisco Olavo de Sousa, José
Sobreira Amorim, Marijeso B enevides... “ Ainda hoje tenho a carta
que o Gomes de Matos me fêz —• disse-me ao sair da missa de 7.°
dia, no Patrocínio, o Dr. Marijeso — convidando-me para ir trabalhar
no escritório dêle. “ Venha trabalhar no meu escritório. Você é um
ra.paz inteligente e de muito futuro ’. E acres:entou : “ se não quiser
acreditar em mim pergunte a sua avó’.
Ao lado de Eduardo Girão e Gondim Neto (da Universidade do
B rasil) de Earreto Campeio o Joaquim Amazonas (da do Recife) in
tegrou Gomes de Matos a banca examinadora na qual D jacir Meneses
se submetera a- concurso para. a cátedra ds Introdução à Ciência do
Direito, da Faculdade de Direito do Ceará.
Foi o prélio o que houve de mais vibrante tanto pelos conhe
cimentos do candidato como pela análise da tese, que foi severa e
impiedosa.
Dias depois, Gomes de Matos publicava na “ Gazeta de Notícias”
um artigo sob o título — SALVOU-SE O Pe. HÉLDER. É que ao ilus
tre sacerdote pedira êle o roteiro da argiiição. Demonstra o fato a
sua despretensiosidade.
Do Pe. Cícero Romão Batista foi particular amigo e como que
assessor ou consultor jurídico. Sôbre êle e 0 $ chamados “ milagres
de Juazeiro” fêz, seguidamente, três conferências na Casa de Juvenal
Galeno, que despertaram vivo interêsse. Pena não tenham sido re
colhidas por um taquígrafo.
Sem íreqüentar Coulanges, tinha extraordinário poder de sin-
tese no que era servido por assombrosa memória. Nunca reprovou
um aluno, e paraninfo muitas vêzes o foi de concluintes da nossa
Esco.la Juridica.
Defendia a tese de que o fenômeno climáterico das sêcas-, que
dez vêzes visita e empobrece o Ceará no período de um século, influi
poderosamente na nossa organização moral, produzindo “ milionários
famintos, psicologicamente, indivíduos mortos, incapazes de uma ação
mais ou menos digna” .
O abantesma da fome fazia, a seu ver, do intelectual o bicho
mais fraco da fauna cearense.
Como todo filho do Cariri, era Gomes de MJatos um amante da
terra natal. “ Crato, terra doce” . “ Crato, terra valente” , Crato, san
gue bom” , foram artigos por êle publicados no jornal “ O POVO ’.
140
A ocorrência que Se segue revel'a o senso prático de Gomes de
Matos.
Um conhecido entrou em seu escritório no 311 do Exoélsior Ho-
tsl e foi dizendo : descobri o moto costínuo e quero que você me faça
um pedido de registro do invento. Prontamente, Gome;, de Matos o
atendeu. Ao sair o interessado, com o papel na mão, um dos presen
tes pergunta : Dr. Gomes de Matos, o senhor acredita que êste ho
mem descobriu mesmo o moto continuo ? — Claro que não, mas, no
caso, é fazer logo a petição.
F ci bem Gomes de Matos um dispersivo, tanto do ponto de vista
intelectual como do ponto de vista material. Dinheiro para êle não
tinha valia : entrava por um lado e saía por outro.
Gomes de Matos — escreveu Renato Sóldon — só é visto com
muito dinheiro no?, bolsos quando pretende, como êle próprio diz, “ fa
zer reunião de credores’’.
“ Certa vez, a convite dêíe assistimos, na antiga Casa Olsen, a
um dêsse? curiosos espetáculos.
“ Presentes vários cobradores, êle fazia a chamada na ordem
cronológica, de memória, e ia saldando, com rigorosa honestidade, to
dos os débitos.
“ Lá para o fim, apresentou-se uma carta de automóvel da qual
êle desconhecia a procedência.
“ O chofer tentou explicá-la, mas não o fez suficientemente.
“ Todos esperavam, muito naturalmente, que ao suposto devedor
se recusasse o pagamento.
“ Entretanto, Gomes, que é de uma generosidade sem limite,
pagou-a, ato contínuo. E, virando-se para os circunstantes, antes
de entregar o dinheiro ao esperto, observou :
“ — Vou pagar isso, mas olhem : a bêsta não sou eu. A bêsta
é êle que são soube nem inventar o motivo da conta’’, (in Ceará
Moleque’ ) .
Aproximado da boêmia, era um espírito franciscano pelo des-
prêzo às gloriólas da vida. Sem resposta dêle ficavam as fórmulas de
pesquisas para fin? biográficos que de tempos em tempos lhe chega
vam às mãos de redações de jornais e emprêsas editoras. Nunca
perseguiu cargos, nem renome, nem posições, e foi, não obstante, o
homem de mais largo prestígio que ainda teve o Ceará. Prestígio
oriundo do seu valor pessoal e das amizades que o seu espírito comu
nicativo granjeou e cultivou.
Era o advogado do pobre, do humilde, do perseguido. “ E sinal
da grandeza do seu coração, era o calor, o entusiasmo com que redi
gia crafmente, como se se encontraste num púlpito de tribunal as
petições das viúvas pobres, do? funcionários perseguidos peto Govêrno,
dos réus sem dinheiro e sem padrinhos que o convidavam para tirá-
141
los da cadeia. Os requerimentos dos ricos eram alinhavados, sinté
ticos, frios, pegados à lêtra da Lei. Não deshordavam para a emoção
e a eloqüêneia. (João Jaques).
Defendendo o direito de Lucas Pereira do Nascimento, pobre ne
gro, analfabeto, de 85 anos de idade, que assinara em Caucáia uma
escritura de venda do seu sítio com o pacto ad retro, expressão que os
próprios intelectuais desconhecem, escreveu :
“ Os pobres são eternos infelizes. Trazem os pés sempre fe ri
dos pelos espinhos da estrada da vida.
“ Infelizes desde o nascimento, infelizes em face da desigual
dade existente entre o$. homens, embora aquêle conhecido chavão dos
oradores parlamentares de que todos são iguais perante a lei.
“ Mentira.
“ Foi ai Revolução Francesa que instituiu êsse princípio, incon-
testàvelmente belo, porém, lá para a França.
O-,
“ povos atrasados, como os americanos do Sul, como nós, os
brasileiros, por seus intelectuais, repetem a linda fórmula, que tem
a sua gênesis na frase de Rousseau: “ o homem é a lei de si mesmo”
“ Verdade é que os pobres são tão amesauinhados que já se tor
nou proverbial a expressão que todos proferem, êles notadamente :
POBRE NAO TEM RAZÃO.
“ La Fcntaine, na sabedoria da fábula — O lôbo e o cordeiro —
traduziu assim o infortúnio dos pobres, dos fracos, dos humildes :
“ L A RAISO N DU PLUS F O R T EST TOUJOUR L A MiEILLEURE” .
De um homem do povo o u v i: “ O Dr. Gomes de Matos era ad
vogado indo e voltando” . Quis dizer — em todos os sentidos.
Suas inimizades duravam uma semana, um mês, nunca uma v i
da. Nisto não Se veja falta de caráter, senão uma virtude rara neste
mundo cheio de ódios e perseguições : a bondade que tudo esquece e
tudo perdoa.
Ccstumava d iz e r : — prestígio em política no Ceará é como
gordura de cachorro : chega numa semana e desaparece na outra.
Frequentava mais a História e a Literatura do que o Direito.
Em Euclides tinha o seu autor predileto.
Raro o dia que da sua mesa não compartissem amigos.
Quando os mais chegados lhe reclamavam os excessos em detri
mento da própria saúde, respondia : com restrições não vale a pena
viver.
Raimundo de Monte Arrais, filho de saboeiro, não tinha diplo
ma de bacharel em ciências jurídicas e sociais e foi, não obstante,
um grande conhecedor do Direito. A o que se sabe, foi êle quem m e
lhor comentou a Constituição do Rio Grande do Sul. Aludindo ao
fato, Gomes de Matos afirmou : o Monte Arrai;, operou o maior m ila
gre que ainda se viu : da carta de a-bê-cê passou, diretamente, para
as culminâncias do Direito Constitucional.
142
À professora Maria Gonçalves da Rocha Leal, poliglota, dis:e
êle certa v e z : Maria, tenho mêdo de você — Por quê, Dr. Gomes de
Matos ? indaga, surprêsa a mestra. Êle responde: se mulher com
uma língua é perigosa, avalie você dominando muitas.
Com Gomes de Matos e Mons. Quinderé — diz o professor CIo-
domir Girão — todos nós ríamos com êles, mas ninguém ria dêles.
E custa crer que tendo sido Gomes de Matos um homem de rua
“ mas dos que não desce ao desprêzo de si próprio e antes imprime na
vida da cidade gárrula animação aos que não encaram as coisas e os
atos humanos só pelo prisma das exigências externas ou demasiada
mente pundonorosas’’ (Raimundo Girão) — haja se conformado, sem
uma queixa, sem uma imprecação, com a contingência de viver os
seus últimos tempos numa cadeira de rodas.
Era a bênção da sua humildade e da ternura maternal da esposa.
Graças a êle, o nome “ Gomes de Matos” se constitui a carteira
de identidade, o cartão de visita da família, no Ceará.
Gomes de Matos continuará na memória dos que o conheceram
e na dos que ao longe de quarenta anos receberam os seus ensina
mentos na Faculdade de Direito do Ceará. Êle foi dos que em vida
atingiram a plenitude de seu destino; dos que escreveram nas almas
e nos corações, inclusive como chefe de fam ília e do clã que êle o foi.
Na caracterização dos indivíduos, os episódios valem mais do
que os elogios extensivos.
E felizes — disse Rui — os que, pelos atos, a si mesmos se
estatuam.
# * *
143
.......... ' ■ 1 -«I
S O N H O S !
Sampaio de Alencar
És a madrugada
que foste ontem,
que és hoje,
que serás amanhã!
Apenas,
modificada
no tempo e no espaço,
pela idade cronológica...
Madrugada
sem brilhos ofuscantes;
sem estrelas cadentes;
sem albores místicos;
sem nuvens toldantes!
És a madrugada
cheia de esperanças,
de vida,
de dessabores,
de desilusão,
de desventuras,
mas, por todos,
desejada...
Porque guardas,
sem ostentações,
alguns restos
da palidez da lua
e algumas sobras
dos acórdãos
de um violão!
És a madrugada
que parou
na minha vida...
sem jamais
amanhecer!
Recife, abril/70
V J
C A P I S T R A N O DE ABREU
Até 1953, Capistrano de Abreu P E D RO G O M E S DE M A I O S
era um grande desconhecido.
Desconhecido do povo e desconhe existência, isto é, de 1916 a 1927,
cido, até, dos medianamente cul lhe escrevera. Eram 267 missivas;
tos. Foram as comemorações do um tesouro, um verdadeiro tesou
l.° centenário do seu nascimento, ro de fontes históricas para o es
ocorrido a 23 de outubro de su tudo da vida e obra do Mestre.
pracitado ano (sem embargo da “Passavam já cinco lustras, e
notável contribuição da Sociedade êsse rico epistolário continuava
Capistrano de Abreu, que o tira guardado, em segrêdo, na referi
ram do olvido. Qual a causa dês- da Biblioteca. Nenhum historia
se desconhecimento ? Por que uma dor, nacional ou estrangeiro, con
figura tão singular quanto a de seguira utilizá-lo.
Capistrano de Abreu, com uma “ Entretanto, sem êsse precioso
obra vasta e profunda a ser es conjunto de documentos, nenhum
tudada e analisada, não desperta biógrafo, nenhum historiador dig
va o interêsse dos biógrafos ? no dêste nome, se aventuraria a
Diz o professor Mozart Monteiro: escrever a Vida de Capistrano” .
“ O silêncio, quase completo, que Na conferência que pronunciou
envolveu, nas lêtras nacionais, du no Instituto Histórico, comemora
rante um quarto de século, a vida tiva do centenário do Mestre, diz
e a obra de Capistrano de Abreu, ainda o prof. Mozart Monteiro :
há de ter várias causas: mas a “ Entre a morte de Capistrano e
principal, a meu juizo, era o si a passagem do seu centenário,
gilo que através de todo êsse pe transcorreu um quarto de século
ríodo, vinha cercando a sua vasta que foi, por coincidência, o perío
e preciosa correspondência episto- do áureo da literatura biográfica
lar com João Lúcio de Azevedo, moderna em todo o mundo, inclu
que era ao tempo, o mais notável sive o Brasil; entretanto, não sur
historiador de Portugal. giu, nem podia surgir, a biografia
“ Meses depois do falecimento do do egrégio brasileiro. E não apa
príncipe dos nossos historiadores, receu nem devia apareser por
João Lúcio de Azevedo, num gesto falta de fontes necessárias”.
magnífico, de reverência a memó A obrigatoriedade, oriunda de lei
ria do Amigo e de homenagem à do Congresso Nacional (projeto do
cultura brasileira doou à Biblio dep. Adahil Barreto), de comemo-
teca Nacional do Rio de Janeiro rar-se, em todo o país, o centená
a coleção de cartas que Capistra rio do seu nascimento fêz com que
no, nos últimos doze anos de sua a nova geração conhecesse Capis-
145
trano de Abreu. Êie foi dos que um modo geral, podería ignorar
da planície alcançaram a glória. Capistrano de Abreu. Pelo menos
Mas através dela não se projetou, ficou-se sabendo que Marangua-
por culpa própria, ou melhor, por pe, no Ceará, dera ao Brasil um
culpa do seu temperamento infen- dos maiores intérpretes da histó
so à publicidade e às vaidades de ria nacional. Somente isso. Fal-
qualquer natureza. Franciscana- tava-lhe o biógrafo. Era um de
mente, permaneceu na penumbra: safio. Desafio que nem os mais
de 1883, quando ingressou, por bem dotados tinham coragem de
concurso, no Colégio Pedro IX, até enfrentar. Por íngreme, a escala
1927 quando, de 17 de agosto, se da metia mêdo. Não admira pois
finou no porão da Travessa Ho- que, ainda agora, e honestamente,
ncrina. Artigos e traduções pú- escreva José Aurélio Câmara.
blicava sem os assinar, trabalhos “ Descrever uma vida como a de
outros vinham a lume com um Capistrano de Abreu, é enfrentar
simples J. C., e, dois anos antes um seríssimo tropeço : o parado
de morrer assinava-se — “ João xo que representa a humanidade
Ninguém'’. Ao lado disso, um a- do homem ante a majestade da
nedotário negativo envolvia-lhe a obra; a timidez e a indiferença
personalidade. O anedótico con do operário face à audácia e à
sagra ou derrota. As comemora afirmação gramática do trabalho
ções do centenário tiveram uma realizado.
virtude : tornar conhecida a figu “ Na sua história, o homem diz
ra intelectual do autor de “ Cami pouco e a obra diz tudo.
nhes Antigos”. N0 Ceará, publi- “Ao contrário de Oscar Wilde,
cou-se um roteiro documental pa que dizia ter pôsto na vida o seu
ra a sua biografia, ali se vatici- gênio e na obra o talento, Capis
nando: “ Capistrano terá necessà- trano pôs nesta tôda a genialida
riamente o seu biógrafo em futuro de e naquela não chegou a pôr,
mais próximo ou mais remoto” ; sequer, o talento.
no Rio, publicou-se um ensaio bi “ O estudo da sua obra é tarefa
bliográfico (Hugo V ia n a ); divul monumental, capaz de proporcio
gou-se, afinal, em 3 volumes, a nar argumento para muitos ca
sua correspondência, e no Insti pítulos de análise social e inves
tuto Histórico e Geográfico Bra tigação histórica e etnográfica,
sileiro foi levado a efeito o Curso sendo, como é, um facho lumino
Capistrano de Abreu com a par so e potente que projeta luz sôbre
ticipação de conferencistas do recantos pouco lembrados e menos
porte de José Honório Rodrigues, conhecidos da evolução nacional.
Gustavo Barroso, Pedro Callnon e "O que nos legou, é bem v e r
Barbosa Lima Sobrinho, entre ou dade, não representa tudo o que
tros. Depois disso, ninguém, de podería ter deixado, mas o que fi
146
cou é definitivo, é fundamental e sos mil para formar uma figura
vale como um veio de rico miné humana; se, como me paree, o
rio capaz de fornecer imensa ri escopo da biografia é realizar, no
queza para o estudo e interpreta mundo das lêtras, a ressurreição
ção da história brasileira. científica e artística de uma vida
“ Não se pode julgá-lo apenas humana (quanto à pesquisa dos
pelo que deixou, embora isso, já fatos; artística, quanto à maneira
represente muito. De Capistrano de os coordenar e n a rra r); se a
se poderia dizer o que êle próprio Biografia é, em suma, a História
dissera de Rcrha Lima, o compa de um homem com a complexida
nheiro querido dos prélios inte de e a mobilidade que caracteri
lectuais da juventude: “ Suas o- zam a personalidade humana à
bras só de modo incompleto di luz da ciência contemporânea, —
zem o que era o seu autor’’. claro está que não deve ser obra
Nada mais verdadeiro. de arte, nem mei0 de expressão e
“Se, como entende Sindney Lee, sim trabalho histórico e, por
o objetivo da biografia moderna conseguinte, científico’’. (Mozart
é a transmissão verídica de uma Monteiro).
personalidade; se, como observa Foi com êsse critério — histó
Harold Nicolson, a ciência biográ rico e científico — que José A u
fica exige, não somente os fatos, rélio Saraiva Câmara elaborou a
mas todos os fatos interessantes sua tentativa biobibliográfica —
de uma vida; se, como diz Taine, “ CAPISTRANO DE ABREU”. Prê
basta um traço para formar uma mio Otávio Tarquino de Sousa, da
figura geométrica mas são preci Editora José Olympio.
MEUS FI LHOS d a n d in h a v il a r
147
Breve Poema para a Morena de Graúdos Olhos...
ZÊYPSILONE
Deixa que te diga,
ó morena de graúdos olhos
que me chamo Francisco,
mesmo na intimidade.
Cinquenta anos tenho bem vividos,
sei ler e escrever
e escravo sou dos teus olhos
e do Assis Chaleaubriand.
Sou branco, não tão claro quanto imagino sejam teus seios
que convidam para o pecado
imediato e sem perdão...
Católico era também,
mas logo que te vi
renunciei a minha religião,
■convertendo-me à de teus olhos
pois sómente eles me farão dobrar os loelhos,
de hoje em diante
e fazer penitências
e jejuns obrigatórios.
Aqui estou me confessando a ti,
te dizendo que em casa falo sòmente o português
mesmo porque outra lingua qualquer
não sei falar
nem mesmo aquela que nos fala da alheia vid a ...
Moro aqui mesmo, filh a minha,
mas a uma palavra tua
me mudarei
nos mudaremos para a casinha pequenina
com coqueirinho ao lado
lá no Pirambu
que não desmoronará jamais,
porque teu;, olhos,
teus cabelos,
teu corpo
são os mais fortes e inabaláveis alicerces do a m o r...
Sou jornalista, escrevo noticias sociais
e necrológios,
notas de guerra e de alegrias,
porém se o quizeres,
se desejar
teu temperamento inquieto e aventureiro
serei gangster de metralhadora e irei,
ó deliciosa morena de graúdos olhos,
fantasiado de gaúcho, ateu e solene,
adorar o próprio Papa na peregrinação à Fátima.
Casado sou,
mas que importa ?
Cometerei o terceiro crime da mala
ou o segundo do poço
para que vivamos tranquilos e sozinhos
pelos séculos afóra
que mais forte do que a morte
também nosso amor se rá ...
A IGREJA E A POBREZA
Pe Antônio de Alcântara
Não devemcs confundir Igreja tido de lhes mandar transporte,
pobre com Igreja dos pobres. A dinheiro para maternidades, para
Igreja irmã da pobreza e mãe dos ambulatórios, etc. Pedem mais :
pobres. pedem recursos para a formação
A pobreza foi o leito de Cristo, de seminaristas pobres. E sabe
a sua túnica em vida e sua mor mos vir de lá ajuda substancial
talha r»a morte. para a previdência nacional do
Os tempos mudam e temos de Cler0 (IPR EC ). E quando aquela
pagar tributo à contingência dos Alemanha generosa manda mais
sêres. Outrora a coisa não era do que lhe pedem, nada sobra c
como agora. Outrora não tínha nada lhe devolvem.
mos os problemas que temos hoje. Sôam as trombetas da demago
A sociedade era outra. A popu gia anunciado a necessidade do
lação da terra era outra. Os re uma Igreja pobre. Essa pregação
cursos também eram outros. Não é ociosa, porque temos, de fato,
se falava, então, em problemas uma Igreja pobre sem querer.
sociais, porque, de fato, não os Mas não compreendo a incoerên
havia. cia dêste anúncio. Querer ser po
Agora o mundo deu um giro. A bre pelo gosto de pedir ?
Igreja despertou para a realidade ■Certos recursos, ou são mal a-
do nosso tempo. Seus olhos se plicados, ou o ladrão vem e rou
abriram para o problema da su ba. ..
perpopulação, do desenvolvimen Os subúrbios das nossas cidades
to, da fome por que passa çêrea são miseráveis. Aqui apelidados
de 3/4 do mundo. de “ areias ’, ali de "mangues” , a-
Quem estuda o Nordeste desco colá, como r;o Rio, de “ favelas”.
bre que êle é uma região subde São nomes humilhantes.
senvolvida, faminta e pobre. F a O padre que fô r para o meio
lar aqui em Igreja pobre, ou que dêsses pobres com as mãos vazias,
rer que ela seja mais pobre aqui, perde o seu tempo e o seu latim.
é oferecer-lhe a tanga da miséria. De fato. Se mando um comer
A mística de uma Igreja pobre, sem lhe dar pão, si mendo outro
com esta ênfase que certa gente vestir-se sem lhe dar roupa, — si
lhe dá, sofrerá o desmentido da pretendo estimular outro ao tra
sua pregação na dureza dos fatos. balho sem cuidar que lhe seja pa
Esta dureza revela muita contra go o justo salário, — estou sendo
dição, pois vejo bispos, padres, a- ridículo.
pelando para a Alemanha, no sen Precisamos de dinheiro, para ga
149
nharmos o reino do Céu, fazendo mas também escolas e universida
caridade, prom ovendo nosso irmão des” (Ib. n.° 12).
pobre, espalhando o riso do con Construir escolas e universida
forto enxugando as lágrim as da des quer dizer dinheiro. O proble
fome. m a econômico acompanhou sem
“ A união fa z a fô rça ” , não resta pre a evangelização dos povos, e
dúvida. M as uma soma de trapos desta verdade falam as gloriosas
dá um montão de rodilhas. Quan campanhas missionárias, prom ovi
to mais somamos pobres, m aior das pela Ig re ja do Brasil, no mês
será a miséria. E no meio dessa de outubro.
miséria, como posso abrasar co De fato, Cristo pregou a um au
rações, deixando estômagos vazi ditório fam into, mas, depois do
os ? E para term inar o que digo, sermão, m ultiplicou 0$ pães.
citarei as palavras de Paulo VI, Desgraçados de nós, quando de
na “ Populorum Progressio” : — pois d0 sermão, não temos siquer
“ F ie l ao ensino e exem plo de seu uma côdea de pão para os fa
divino Fundador, que dava como mintos.
sinal da sua missão, a Boa N ova A semente só germ ina quando
aos pobres, (1c. 7,22), a Ig re ja cai em terra fé rtil e estômagos
nunca der curou a prom oção hu vazios não é terra fértil. Esta
m ana dos povos, aos quais levava mos fam iliarizados com o aforis-
a fé em Cristo. Os seus missioná ma :
rios construiram, não só Igrejas, — “ Saco sêco não se põe em pé".
AS MÃOS D A N D IN H A V IL A R
E NO F IM D A JORNADA, EM D ESALENTO,
M ÃOS QUE P A R A M N A V ID A E QUE SE A B R A Ç A M
P A R A SEMPRE, CRU ZADAS SÔ 3RE O PE ITO .
150
Apesar do acelerado crescimen JOÂO SANTIAGO
to do Recife, os folguedos do ciclo
junino vêm mantendo as suas ca fogueiras e os balões que enfeitam
racterísticas tradicionais. Embo as noites juninas do Recife.
ra empurrados para a periferia, Mesmo as ruas apresentam um
os seus aspectos essenciais, fato aspecto mais festivo, mais baru
que não ocorre talvez, em muitas lhento. O comércio modifica sua
cidades do Erasil, onde o cresci feição comum de todos os dias,
mento urbano, a modernização, enfeita-se de fitas e côres berran
vem eliminando inúmeros folgue tes para as festas de São João,
dos folcloricos. aparecem as barracas de fogos e
No Recife, os festejos de junho até o movimento das Lojas e Ca
não são superados nem pelas fes sas de artigos que nada têm com
tas do carnaval. E note-se que o São João, modifica-se, cresce
o nosso é considerado o melhor recrudesce...
carnaval do mundo. Mas acon Santo Antônio, São João e São
tece com os folguedos juninos um Pedro, nos suburbios — mesmo os
fenômeno : todo o povo participa, mais próximos, são festejados co
tanto dos festejos profanos como mo manda o figurino — foguei
dos religiosos, o que não acontece ras, fogos e, apesar das restrições,
ccm o carnaval, festa profana por balões.
excelência. A participação popu Não deixa de ser estranha essa
lar é com pleta: há novenas e conservação dos folguedos popula
trezsnas tanto na-s igrejas e lu res Juninos, em seu estado quasi
gares próprios de oração como em puro, numa urbe como o Recife,
residências, promovidos pelos do de crescimento vertiginoso. Mas
nos das casas que as realizam, ou o fenômeno é perfeitamente ex
pelos moradores de determinadas plicável : O Poder Público Muni
ruas ou suburbios; há o aspecto cipal, tem participação ativa no
da culinária, que no mês de ju incentivo a essa conservação. Pa
nho é particularíssima: tudo à trocinando — primeiro sozinha e
base de milho e massa de man agora com a colaboração da Em-
dioca (canjica, milho verde cozido prêsa Metropolitana de Turismo e
e assado, pé-de-moleque, pamo algumas entidades particulares
nha, etc.); isso sem se esquecer como a Comissão Pernambucana
dos folguedos próprios — côcos, de Folclore — festejo nos mais
cirandas, quadrilhas — e os ine diversos pontos da cidade, a Mu
vitáveis fogos de artifícios, o pi nicipalidade impede que êsse as
pocar das bombas e traques, as pecto do nosso folclore sofra mo
151
dificações violentas ou venha a deira ” é de Dona Mãe Lídia no
desaparecer súbitamente. alto do Bomfim, em Beberibe —
Em 1968, por ex em p lo: além isto para citar as mais famosas
dos tradicionais festejos prom ovi e habituais.
dos pela Prefeitu ra do R ecife no O Sítio Trindade, como ser o
Sítio Trindade, efetivou-se uma m aior ponto de atração dos fes
outra promoção, a cargo do D iá tejos Juninos, no Recife, nem por
rio de Pernambuco, em colabora isso reduz os festejos em tôdas as
ção com a Emprêsa Metropolitana residências: os que m oram mais
de Turismo, sendo organizado um afastados do centro da cidade
“ A rraial da Pracinha” , com o con procuram em pilhar madeira para
curso de conjuntos folcloricos, de fazer suas fogueiras, os fogos de
cirandas, côcos, bandinhas e ou artifícios são vistos e ouvidos des
tro?. elementos — todos trazidos de muito antes do São João e até
do seu habitat natural, em estado muito depois do São Pedro.
de pureza-, sendo-lhes conferidos É de se louvar o interêsse do
prêmios. Poder Público Municipal recifense
A mais famosa promoção iuni- pelo folclore da cidade do Recife,
na do Recife, entretanto, é reali procurando preservá-lo estimu
zada no Sítio Trindade, conside lando os grupos e conjuntos, tor
rado o Centro Folclorico do R e nando-os conhecidos dentro e fo
cife, onde se apresentam anual ra do Estado de Pernambuco.
mente os mais diversos tipos e Porque, não resta dúvida, tais
conjuntos. E o povo acorre dos folguedo? pelo menos os que se
lugares mais longínquos — da ci realizam no Sítio Trindade — já
dade — do Estado e até de outras se constituem por si mesmo, uma
unidades da Federação — nara atração turística para o Recife.
assistir êsses fe s te jo s : os baca-
marteiros, as quadrilhas (do Ca
jueiro, Vasco da Gama, da Mus- Senador Wilson Gonçalves
tardinha, Centros Educativos de Durante o período que tem exer
Areias, de Doi? Unidos, do Córre cido a representação do Ceará, no
go do B u tijã o ); a B andinha do Senado Federal, sempre com bri
lhantismo e ocupando as comis
Z-é Bartolomeu e seus Jagunços;
sões de m aior relevo, o Senador
Carlos Diniz e sua Gente. Wilson Gonçalves foi verdadeiro
H á as “ Bandeiras” dos devotos parlamentar, constituindo-se or
dos santos de junho. Dona M aria gulho da terra caririense. Foi êle
Edvirgens dos Santos, de Água quem sustentou com suas subven
Fria, realiza anualmente uma fes
ções-,. a,
vida cultural de nossa
entidade, especialmente a tira
ta dedicada a Sto. Antônio com gem anual de IT A Y T E R A , que é
“ bandeiras” trezenas, rezas e to revista que pode equiparar-se com
do ritual tradicional Outra “ ban as melhores do norte do país.
352
N I- E - M I —
Espstácilo condenado a desaparecer
Os campos gerais, nos sertões do vaqueiro, que êle conhece des
criadores nos Inhamuns e do P i de a meninice. Sabe que sua pro
auí, não tardarão a desaparecer. fissão entrou em decadência com
As cêrcas de arame farpado, de as cercas que se multiplicam. É
pau a pique de varas, os vaiados também bom ajudante de carro,
tendem a eliminá-los e com êles maneja a enxada e a foice, com
os vaqueiros perdem a sua missão perícia.
de velhos campeadores. A PEGA-DE-BOI-BRABO para
Outro dia, em alpsndrada de êle é espécie de mutirão, ou ad
casa sertaneja, tive a feliz opor junto como chamamos no Cariri
tunidade de conversar, longamen cearense, é muito diferente do
te, com q vaqueiro Antônio Va- simples esporte denominado V A
1’entim Alencar, chamado com o QUEJADA, promovido anualmente
apelido familiar de SITU,BA. Na em muitas cidades, encravada; no
da tem com o topônimo portu sertão criador, onde até doutores
guês de Setúbal. É homem ma e sacerdotes podem exibir-se. Ten
duro, esbelto, desempenado, de côr tarei resumir a palestra viva de
escuras mas de fisionomia de Situba para dar a impressão, mais
branco. Entende de tudo que se ou menos exata, daquela competi
refere a qualquer fazenda de ga ção que se passa no interior da
do. Sabe trabalhar em couro e caatinga bruta, pràticamente sem
conserta, com aprumo, selas e testemunhas de vista. O embate
cangalhas. Já tomou parte em é arriscado e quem consegue der
diversas vaquejadas, especialmen rubar o boi brabo, pelo cedenho,
te na PEGA-DE-BOI-BRABO. pode considerar-se dos melhores
Sua conversação animada, a- vaqueiros da redondeza e muitas
companhada de gestieulação, na vêzes recebe a consagração dos
quela noite fria de Julho, na al- versej adore; populares. Não é
pendrada da casa da fazenda Mu ■ cerimônia esportiva, à maneira da
1'ungu, de Br. Araripe, foi em tor VAQUEJADA comum. Torna-se
no daquela função que ainda se um tanto ou quanto misteriosa. O
constitui a atração máxima da dia é determinado previamente e
redondeza. o 1'ocal do esconderijo do BICHO
Situba não é perito exclusiva passa a ser apontado, quase como
mente em coisas ligadas à vida palpite. Cada vaqueiro afamado
153
dirige-se secretamente para o lu Bqi Eargado.
gar onde deverá atuar. Natural- LISÃO foi boi de fama, na ser
mente, faz suas pesquisas ante ra do Retronco, de propriedade tie
riores, à moda detetivesca, com o José Temóteo. Durante três anos,
máximo de cautela. desafiou os vaqueiros mais afama
Cada competidor é rival do ou dos da terra. Ninguém conseguiu
tro. Não há o menor entendimen vencer o boi LISÂO. No quarto
to entre êles. Deve o campeador ano, houve outra chamada gerai
empregar tôda a astúcia em des da vaqusrama. Situba aceitou o
vendar o esconderijo do boi, seus desafio com outros 11 compa
pastos e o bebedouro. Uma vez nheiros.
desvendado, empregar tôda a téc Na véspera do grande feito, deu
nica a fim de derrubá-lo, sozinho ração mais alentada ao seu cava
O BOI-BRABO, naquelas para lo PA PAG AIO , reforçou os arreios
gens, tem o nome de ORIUDO e encheu os albornais com fa ri
(de orelha). Alguns dias após o nha, rapadura, carne assada. Saiu
nascimento, torna-se arredio. Ao para- o embate, em noite escura.
ser beneficiado, castrado, foge do De antemão, preparara seu rotei
convívio dos outros e tem horror ro, pelo rasto do bicho e inform a
à espécie humana. Cria-se em ções veladas. Após lances épicos
pleno mato, afastado, comendo e e sem encontrar nenhum compa
bebendo em lugares diferentes do nheiro, derrubou o celebérrimo boi
gado comum. pelo cedenho. Foi fá cil a vitória.
Cs BOIS VELHACOS, os que Em Campos Sales, na fazenda
se deixam pegar, recebem a de do cratense Pedro Macário de B ri
nominação de ENDIABRADOS, to, embora em terreno que lhe era
têm CABOGE e viram BICHO, is fam iliar, passou oito dias para
so tudo no linguajar da vaquera- descobrir e abater o boi da GIA.
ma. Quando é ENCABOJADO o 6 vaqueiros tomaram parte na ca
vaqueiro que emprega todos os ça e o pobre animal, apesar de
artifí.cios para pegá-lo, diz para sua valentia, foi estupidamente
justificar-se do processo : vendido para o humilde açougue
— O diabo virou veado e o chão de Salitre.
se abriu com êi'e a dentro. Situ- LA B IR IN TO , boi afamado, nun
ba nunca viu tal coisa, em sua ca foi vencido pela perícia huma
acidentada vida de vaqueiro. na-. Desafiou céus e terras. A fome
Tem êle série de vitórias a l e a sêde, em consequência da sêca
cançadas entre o Piauí, Pernam de 1932, entregaram-no, alquebra-
buco e ceará, nestas afamadas do, inerme aos braços de Situba.
pegas de barbatões, tão decanta N a procura, de Labirinto, o va
das antigamente, como acontecer queiro pegou viado vivo que ven
com o Rebicho da Geralda ou >; deu a Cazuza Araújo, morador na
154
fazenda Várzea do Açude. couraça protetora e lembra tosca
Naquelas façanhas, expondo a mente a indumentária dos prim ei
vida de quando em quando, mal ros povoadores do Brasil1, vindos
alimentado, quase em vigília per de Portugal. O chapéu de couro
manente, nunca lhe pagaram um é quebrado na frente, a fim de
tottão sequer. Tudo foi de graça, proteger orelhas, e pescoço. Situba
por esporte, como chamamos na sempre a sorrir, disse galhofeiro :
cidade. Não chama exclusivamen — Se a gente botá aquele cha-
te para si todo o êxito do triunfo. peusinho na crôa da cabeça de
Ao cavalo que deve ter a habili Luís Gonzaga, tocado de sanfona
dade de derrubar o boi em plena arranca as oreias ou corta o pes
arrancada, dá lugar proeminente coço no mato.
no titânico embate das caatingas. O guarda-peito, o gibão, as lu
Na disparada pelo mato brabo, há vas, perneiras e chicote todos são
espinhos, buracos, galhos de pau de couro eortido. A m elhor espo
e entrançado de cipós. O vaquei ra não é comprada fora e sim a
ro fica apenas com a mão direita fabricada pelos ferreiros da terra.
livre para alcançar o rabo do boi. Recebe a denominação de ESPO
Este é comumente derrubado pela R A DE FERREIRO. Sua roseta
hábil manobra do cavalo de cam é pequena. Ao vaqueiro que cam
po, bem ensinado. peia é indispensável faca de pon
Ao perguntar-lhe pelas boas ta, sempre metida na perneira.
qualidades de um cavalo de cam As melhores são da cidade cea
po, respondeu-me sem titu bear: rense de Jardim. A perneira en
— Sê ruço, ou castanho escu rolada com o sapato inteiriço,
ro, prêto, tê fôlego bom, resistên- inovação recente, é prejudicial a
ça e habilidade. quem usa por dificultar a circula
— E quanto custa hoje um bi ção e produzir edema nos pés
cho assim ? — acrescentei-lhe : PE R N E IR A P U X A é a mais co
— Duzentos contos. mum naquelas paragens. Naque
Isso foi há três anos. De lá le ano, o equipamento do cavalo
para cá as coitas subiram muito e do vaqueiro custava quinhentos
e a inflação também penetra, de cruzeiros novos, ou quinhentos
rijo, pelas caatingas. contos. O m il réis no linguajar
Os arreios de um cavalo cam- ainda não foi totalmente substi
peador constam de CABEÇADA, tuído pela moéda, agora circulan
(sem bridão), esteira, sela, cha te no país. H oje deve custar os
mada de vaqueiro e cabresto bai olhos da cara e só os patrões p o
xo, que se deita por cima do pes dem adquirí-lo. Também não tar
coço do animal. dará a desaparecer do cenário
Os COUROS, naquela zona, são sertanejo, passando a ser peça de
meios complicados. O GIBÃO é a museu regional.
N ÃO SO U P O E T A
Pe. A N TÔ N IO FEITO SA
PE D I ÁS MUSAS DO PA R N A SO A B R IG O ,
RO GU EI, M AS A RECUSA F O I COMPLETA.
A LÉM DO M AIS, ME DER AM P O R C ASTIG O
N U N C A A C E R T A R N A R IM A BEM CORRETA.
N Ã O É P O E T A ? . . .
A o Mons. Feitosa, logo abaixo do seu soneto
“ N ÃO SOU PO E TA ” e com a mesma rima.
SE N A E S TR E IA A LG U É M V IU FRACASSO,
DEPOIS QUE O E S TR E IA N TE DISSE “ EU FAÇ O '’,
TUDO SE COM PLETOU E F O I CONCISO.
156
C A RT A D O
Dr, ReínaldoCarleíal
Fortaleza, 2 de junho de 1969.
Saudações
157
“ Percebeu bem que as letras estavam prosperando com o
Gabinete de leitura, mas as artes continuavam no mes
mo atrazo. Não havia música, e, quando ocorriam gran
des festas, era convidada a orquestra do Crato. Não ha
via cenários fixos, e, quando apareciam as pequenas
companhias dramáticas, improvisavam-se palcos no salão
da Câmara Municipal, pondo-se tábuas por cima de bar
ricas vasias e tudo era desfeito ao terminar a represen
tação. Na sua inteligência encontrou Bernardino uma
solução para o problema. Criou uma agremiação deno
minada “ PROGRESSO A R T ÍS T IC O - LIT E R Á R IO 3’, fa
zendo os seus Estatutos, angariando jovens sócios que
revelavam gôsto artístico. Esta sociedade cresceu e pros
perou à sombra do “ Gabinete de Leitura” , sem choques
de interêsse e com tanta intimidade que não tardou em
receber como sócio o próprio Presidente do Gabinete.
Consolidado o “ PROGRESSO A R T ÍS T IC O ” , Bernardino
arranjou com os associados empréstimos de certo capi
tal para a aquisição de instrumentos musicais e, em
seguida, foi a Fortaleza e conseguiu do diretor de música
do Batalhão de Polícia todos os instrumentos para a fo r
mação de uma banda completa. Foi assim que a Bar-
balha possuiu a música bem organizada Santo Antônio.
Como não existia na cidade nenhum diretor mu
sical, êle foi a Crato e contratou c melhor músico da
quela cidade o Sr. Joaquim Alves, conhecido por mestre
Quineo. Ao mesmo tempo, obteve permissão para le
vantar no salão ds honra do Gabinete um cenário fixo
para as representações teatrais.
Durante mais de meio século não faltou a Bar-
balha nem música nem teatro” .
158
arte, José Sampaio, Theophilo Sampaio, José Meira, M i
guel Teixeira, Manoel Cândido, Hermogenes Beserra
José Queiroz, José Oliveira, Jcaquim Queiroz, Pedro Ca
valcante, Cordeiro Filho, Raimundo Beserra, Martiniano
Ferraz, Casimiro Beserra, Cândido Lcurenço, Ladislau
Leite, João Corrêa, Antonio Corrêa, Pedro Duarte e Sa
lust.iano Grangeiro. Comparece também o ilustrado snr.
Dr. Filguciras Sampaio.
Ao harmonioso som da orquestra é aberta a ses
são. É . . . discussão. . . aprovada a acta da anterior
sessão. O socio n.° 6 faz uma breve leitura na história
patria em continuação ao que fora lido na sessão pre
cedente. A comissão musical apresenta a tabela dos
preços da música, a qual é lida e depois de algumas
considerações é aprovada; e informa a mesma comissão
continuar regularmeste o ensino musical; a Comissão
dramatica informa levar hoje, a pedido, o mesmo drama
que fora representado em 4 do vigente, para o qual pede
a assistência dos snrs. consocios; a Litteraria represen
tada pelo consocio Severino Duarte diz nada ter a in
formar. É admitto como socio o illustre snr. Dr. An
tonio Filgueiras Sampaio, que dá de joia R$2:000. Nes
te inter a musica toca uma linda peça mais uma vez
mostrando a sua incansável dedicação...........................
.......................................................... do pede a palavra o
novo consocio snr. Dr. Filgueiras Sampaio que faz um
vibrante discurso em assumptos concernentes ao “ PRO
GRESSO” . Fala depois o consocio Severino Duarte que
pede, como membro da Com. litteraria, o thema da ma
téria de que se deve occupar, ao que o Snr. presidente
pede a opinião do snr. Dr. Filgas. Sampaio, e este res
ponde dar uma decisão a respeito depois de algumas re
flexões.
É eleito orador official do “ PROGRESSO” , o ilus
tre Snr. Dr. Filgueiras Sampaio. O Snr. Presidente pe
de para que seja consignado na acta um voto de grati
dão ao illustre patrício Santos Dumont que com seu ele
vado genio artístico tanto tem ennobrecido o nome bra
sileiro.
É paga a mensalidade mez pelos socios...............
................. ,............................................. , perfazendo com
a joia acima mencionada um total de R$ 8$000 que é
entregue ao Snr. thesoureiro.
Ao harmonioso som da orquestra é encerrada a
sessão, mandando o Snr. presidente lavrar a presente
159
acta, que, eu, Salusciano Grangeiro de Luna, l.° secre
tario a escrevi e será assignada pela mesa e mais socios
que quizerem.
(Ass) José Bernardino C. Leite, Severino Duarte
Grangeiro 2'.° secretario, Secretario ad hoc. Manoel
Monteiro, Cândido José Lourenço, Ladislau Leite da
Cruz, José de Oliveira e Silva, Joaquim Duarte Queiroz.
Teophilo Sampaio.
Hí * *
Am igo Bernardino
160
‘Assim, pois, animo, sus!, brava gente. Não negarei ao
seu “ PROGRESSO” os meus esforços” .
REINALDO CARLEIAL
f ' m ' A
TELEGRAMA: “ P E Ç A S ”
T E L E F O N E : 232
CRATO — CEARÁ
> . — , /
Antônio Al m i n o de Li
DEPOSITÁRIO E DISTRIBUIDOR DA
ESSO BRASILEIRA DE PETROLEO S. A.
P O S T O “ E S S O* — EM ARARIPE — CEARÁ
P O S T O “I D E A L ” — EM BARRO — CEARÁ
185
iqui outros patrícios, muda roz, madeiras de construção, re
ram ou alteraram seus nomes. gressando carregada com farinha
Anti nio Pirmiano Macedo Braga de trigo, manteiga, tecidos, louças,
trocou Braga por Carioca, de cer calçados, azeite de baleia e outros
to j or haver nascido no Rio de artigos.
Janeiro. Sobre êle escreveu Via Para são serem confundidos
na no livro citado : com os odiados “pés de chumbe,
galegos, marinheiros, calcanhar de
“ O Capitão Antônio Pirmiano frigideira” e esquecidos que eles
Macedo Braga, Cavalheiro da eram seus pais, avós e bisavós,
Ordem de Cristo, morado- patrícios entoxicados pelo nacio
nas Alagoas, fez saber que nalismo mudaram de nome, sur -
pelos barbaros e tirânicos gindo, então, as famílias. Carnaú
males que a Nação Portu- ba, Cansanção, Gitirana, Jucá,
guêsa lhe tinha causado, Buriti, Oiticica, Jacarandá, Quixa •
“ desde o ano de 1817” , resol beira, Urtiga, Coruripe, Cajueiro,
vera “ desterrar de si e de Mangabeira, Paturi, Taboca, Pra-
toda sua fam ília os indignos tagi, Palmeira, Tubarão, Muric\
nomes de Macedo e Braga” . Mororó, Pitanga Limoeiro, Game-
Passou a ser Antônio Fir- leiras e outros.
miano Brasileiro Carioca; Aqui residiram ; Manoel Co -
seu filho Rodrigo, Rodrigo queiro, alfaiate; Pedro Diniz M a
Antônio Brasileiro Macei"' ceió, mestre da banda de música
as filhas Cândida Flora e da Polícia; José da Silva Titara,
Inocência com os acréscimo^ deputado provincial; Antônio Je-
Maceió. E até sua sumaca quitá Peroba, militar; Manoel1F a-
“ Constituição Liberal” pas briciano Carneiro Tiririca, pre •
sou a ser “ Caipira de Ma prietário do Teatro Maceioense;
■ceió” .. . Cantidiano Bandeira de Melo Cas
cavel, funcionário público; Manoel
Os filhos do exaltado patriota Gato Bravo; Samuel da Fonseca
de certo .nasceram sesta capital. Barauna; Silvestre Pimenteira, te
A sumaca, ao que tudo indica, foi soureiro da Alfândega; Antônio
constituída num dos estaleiros Lima Mulungú, da Guarda Nacio
improvisados em Pajuçara ou na nal; Manoel Lim a Pitombeira,
ilha de Santa Rita, com madeiras Otávio Pau Ferro, funcionário m u
de nossas matas e por operários nicipal; Arthur Xexeu; Manoel
alagoa aos, como os dois barcos de Rodrigues Taquari; M ajor Orlan
guerra — corvêta Maceió e brigue do Sucupira do Exército; José A n
-São Cristovão. A sumaca levava tônio Costa Imbuzeiro; Dr. Jacin
para o sul do país coco, farinha to Mendonça Jaraguá, senhor de
de mandioca, algodão, açúcar, a r esgenho; Joaquim de Andrade
166
Nenhuma iniciativa foi recebida Cea-rá, patrocinará a cadeira a ser
com tanto entusiasmo pelo sócios defendida pelo engenheiro conter
cio I. C. C. do que essa do desdo râneo Dr. Antônio Pinheiro Filho,
bramento da secção de letras e de atual diretor da conhecida e aca •
ciências com patronos. O melhor tada Escola- de Minas de Ouro
de tudo é que não faltam patro Prêto e vulto de destaque do mun
cinadores dessas cadeiras em nos do científico do Ceará, com pro
so pasado. Aviltam quer falecidos jeção no sul do país.
nesta terra ou caririensos que
desapareceram, enchendo de luz
e de benefícios outras para
gens muitas vêzes se projetando Começa a colaborar nesta revis ■
pelo Brasil inteiro. A Cadeira de ta o cratense, com residência em
José Carvalho, escritor, teatrólogc, Fortaleza, há muitos anos, Ilde-
folclorista e até o primeiro liber brando Sisnando. É filho do an
tador do Acre da invasão bolivia tigo tabelião Enoque Sisnando, já
na, será preenchida pelo seu pa negociou em Crato, residiu no Rio
rente e colaborador de IT A Y T E - e em Manaus e finalmente fixou-
RA, das maiores vocações de par se na Capital cearense, morand >
lamentar que já tivemos — Dr. com a família, no Hotel Fortaleza
Antônio de Alencar Araripe. Por Como poeta faz quadrinhas cuja
sua vez na secção de ciência, o beleza o leitor pode apreciar. É
sábio Dr. Marcos Macedo, piaui irmão de nosso veterano colabo
ense, tão ligado ao Crato e ao rador, do Rio, Jaime Sisnando.
168
Enalteceu muito o papel de mo Sobral também tivemos fa m í
sua terra, no conjunto Ceará e lias que só derramaram pelo B ra
esqueceu Crato. Aliás tal fato sil, com vultos ilustres a exemplo
chamou a atenção do bom escritor da Alencar e da Bezerra Monteiro.
Aires de Montalbo em bela crí
Crato, com seus vizishos, hoje
tica que escreveu sôbre “ O CEA
municípios independentes, descre
RENSES
veu a mais bela epopéia de uma
A cidade de Parsifal venceu c. localidade interiorana, nas lutas
própria natureza áspera para criar de independência. Seu Seminário
civilização que honra o espírito de e o primeiro Bispo da Diocese mo
iniciativa inato do nordestino. dificaram o panorama desta zona,
Possui certa aristrocacia com fa com a instrução aliada à sadia e-
mílias que se irradiaram na polí ducação. E temos movimento cul
tica, no mundo intelectual, por aí tural de chamar a atenção, com
afora. Deu capitães de negócios boas revistas, edição de livros o
ao Rio ou a S. Paulo. Até certo imprensa. Não damos capitães do
ponto, dou razão a êsse orgulho de comércio uma vez que fomos f o r
Sobral que não lhe rouba o apre jados na agricultura. Contribui-
ciável pendor para a hospitalida mos até para a primeira liberta
de mais franca. Forneceu ao ção do Acre das mãos bolivianas.
Brasil, igualmente inteligências de Quase todas as cidades do sul es
primeira grandeza. tão cheias de militares, médicos,
bacharéis, dentistas, bancários e
Deu o seu a seu dono. Por
que não deu Parsifal, tão justo jornalistas de Crato ou de locali
169
0 Patriarca
M ajor José do Vale
em Missão no Ca riri
GOMES DE FRE ITAS
170
quais, têm, 'como é sobejam ente que estava nas fr o n te ir a s ...”
sabido, as suas raízss genealógi (trecho de um ofício do Coronel
cas vinculada^ ao mesmo tronco. Joaquim de Sousa Martins, Co
mandante do l.° Regim ento de
H á ainda a salientar um por
Cavalaria do P ia u í).
m enor isteressante. Um mês após
a batalha do Poço do Cavalo, às Tam bém o Presidente do Piauí
vitoriosas tropas do oeste cearen certificou que o M a jo r José do
se foi cometida a missão de guar Vale Pedrosa: “ com a m elhor
necer a V ila do Crato. conducta C ivil e de M ilitar, e f i r
me adezão á mesma Cauza, de-
A respeito do assunto, ao Pe. zempenhou todas as ordens que
Antônio Pinto de Mendonça, Se lh e foram dirigidas athé que os
cretárlo do Govêrno do Ceará, o inim igos encantonados no m orro
Presidente José M ariano de Albu das Tabocas, se redenrão ás T r o
querque Cavalcanti, em correspon- pas Im periaes” (Dos Inéditos do
dêscia datada do Crato, de 25 de Barão de S tu d a rt).
Junho de 1832, assim se expres
Em 1824, por ocasião do levan
sou : “ como não m e convém dei
xa r esta V ila ao dezamparo por te denominado Confederação do
nho ordenado nesta data aos M a Piau í Cel. Manuel de Sousa M ar
171
ticada na antiga Vila de Sousa, seus perversos aliados, as suas
na Paraíba, pelo sanhudo José tropas aguerridas.
Rotéia, o qual ali trucidou, fria Reputo estes documentos de re
mente, todas as indefesas autori levante importância para a nossa
dades locais: o Promotor Públi história.
co, o Capitão-mór da Vila, o Juiz
de Paz, e mais. outras pessoas, a l NOTA : Há necessidade urgen
gumas, como aquelas de conside te de se fazer o levantamento dos
ração social, escapando, apenas, trabalhos do patriota Major José
os que ainda tiveram tempo de do Vale Pedrosa prestados à cau
foragir-se. sa do País, a exemplo do que ora
realizou Gomes de Freitas, ilustre
O fato hediondo consta de um:
membro do Instituto do Ceará,
represestação dos Oficiais da Câ
pois que essa benemérita figura da
mara da Vila de Sousa, datada 0.e
Colônia já começa a ser confundi
8 de Julho de 1832, dirigida ao
da com o famigerado cangaceiro
Presidente do Ceará, José M aria-
José do Vale, de triste memória
no de Albuquerque Cavalcanti, na
para as populações nordestinas
qual' aquéles Edis pintam, com
( “ Flor dos Romances Trágicos” ,
tintas vigorosas, 0 quadro tene
Luís da Câmara Cascudo, Editora
broso que foi o truculento domí
do Autor, 1966, págs. 143 a 153),
nio daquele bárbaro, durante 22
como se viu em artigos em “ O
longos dias que permaneceram
POVO” de 23 de Abril de 1965, da
naquela infelicitada comuna pa
lavra do venerando Dr. Fernando
raibana.
Távora. e do emérito historiador
Um pormenor, ígualmente triste, caririense J. de Figueiredo Filho
deve ser registrado. O Presidente (JOSÉ DO VALE NO FOLCLORE
da Província da Paraíba ficou, NORDESTINO, “ CORREIO DO
inexplicavelmente, “ em cima do CEARÁ” de 17 de Julho de 1965).
muro” , na linguagem popular, O que é de mais lamentável, no
isto é, indeciso diante das ocor caso, é que o Prof. J. de Figuei
rências de tanta gravidade, con redo Filho foi levado a êrro por
forme denunciam os Vereadores le um membro da família, o Sr. João
Sousa, ao Presidente do Ceará Cruz, que informou tudo errada-
sem se definir ou perseguir os mente, inclusive o nome do pa!
criminosos, enquanto, de modo que era o Coronel José Alves Fei-
contrário, procederam as autori tosa, Capitão-mór dos Inhamuns,
dades do Rio Grande do Norte se e não o prsonagem do mesmo a-
guindo o exemplo de outras Pro pelido, conhecido por CASUS^O,
víncias do Nordeste, que, com dc- nascido muito posteriormente, o
"isão, fizeram marchar em perse de comportamento completamen
guição de Pinto Madeira, e de te diferente. C. F.
172
RAIMUNDO ROCHA
173
desses cangaceiros, em carne e osso, autêntico bicho-papão da
gurizada de minha geração, flagelo do sertanejo de minha
terra-natal.
Patú, então vila pertencendo ao município de Martins,
miniatura de FAR-WEST potiguar, imortalizada na crônica do
cangaço, por ter sido berço das extraordinárias façanhas do
“ maior cangaceiro do século dezenove” — Jesuino Brilhante,
no dizer de Gustavo Barroso, o sr. Joaquim de Oliveira, de
saudosa memória, engraçado, sizudo, falador da vida alheiá,
sem maldade, nos falava das lutas, das mais recentes escara
muças de cada um desses cangaceiros, na costumeira “ rodi
nha” pela manhã e à tarde, na calçada da bodega de Manoel
Mota, meu cunhado, no Mercado Público. Tinhamos para ca
da encontro, mais uma novidade, um detalhe, com que con
seguia com inteligência, prender a atenção dos ouvintes, gra
ças à sua imaginação e retentiva privilegiadas. Antônio Sil-
vino, o Rifle de Ouro, era o herói de sua simpatia, de sua
preferência, ainda vivo, e, sobre o qual havia um halo de sim
patia e admiração por onde passava e até onde chegava sua
fama. Não porque o sertanejo admirasse o cangaceiro, mas
porque gostava de homem valente, de homem disposto, que.
uma vez ferido na sua honra, resolvia a parada sem pensar
nas consequências.
175
tive-me ante o herói-bandido de tantas estórias impossíveis:
ouvidas na minha infância, no Junco, e pús-me, pensar nar;
determinações do Destino. Estava alí o “ maior cangaceiro do
século vinte” , homem que manteve toda a população do nor
deste à mercê de seus capriches, em polvorosa, durante vinte
longos anos. Ora atacava cidades, vilas e povoados, ora as
saltava fazendas de inimigos, cra defendendo a honra de moças
■pobres, distribuindo aos humildes e famintos o dinheiro sub-
traido acs ricos, aos seus inimigos. Dupla personalidade, tipo
curioso que bem merecia estudado profunda e cuidadosament.;
sobre os diversos ângulos de sua vida.
Sentí, em suma, ao eenhecer o legendário cangaceiro,
recuperado socialmente, após longos anos vividos na Peniten
ciária do Recife, tremenda decepção. Estava liquidado o ídclo
do Cangaço de uma época. Antônio Silvino dava-me a impres
são de um pastor evangélico, com a sua expressão de humilde
e mansidão. Nada pois existia nele que lembrasse o cangacei
ro “ jamais igualado na sinistra fama, nunca excedido no cri
minoso mister” , “ o maior vulto de crime dos sertões e do nor
deste” , na opinião do historiador Gustavo Barroso.
Foi assim que CONHECÍ ANTÔNIO SILVINO.
jT~ --------------------------------------------------- -
U sino Bezerra
IRMÃOS BEZERRA DE MENEZES & CIA.
M E L H O R E S P R E Ç O S !
176
CERÂMICA NORGUAÇÚ S. A.
EM IM P L A N T A Ç Ã O
C o la b o ra ç ã o : P R E F E IT U R A M U N IC IP A L DO CRATO
S U D E N E
BANCO DO N O RD ESTE DO B R A S IL S. A.
COMP. DO D E S E N V O L V IM E N T O E C O N Ô M IC O DO CEARÁ
D E P A R T A M E N T O A U T Ô N O M O DE E S T R A D A S D E R O D A G E M
Hospital Psiquiátrico do Crato
J. DE FIGUEIREDO FILÍIQ
178
A Casa de Saúde, rscém- dores conservam ainda aquele
inaugurada, é modelo de con espírito indômito que fizeram
forto e de organização, fican as lutas de independência no
do todo o seu movimento ao Ceará e a disseminação da ins
encargo direto das esposas dos trução em grande parte da in-
médicos diretores. Até para terl|ndia. As dificuldades não
repouso de pessoas cansadas os abatem. Antes retempe
do labutar cotidiano da vida, ram-lhe a iniciativa. A Casa
há excelentes lugares, naquela de Saúde Sta. Teresa é exem ■
Casa de Saúde, localizada, em pio disso. Outros empreendi
recanto privilegiado e cercada mentos de vulto serão inaugu
de todo conforto da ciência. rados, por estes dias, m oscan
Crato continua com seu pio- do a vitalidade dessa genl'r
neirismo do passado a ser por que, embora embalada pelo
tador do progresso nos dias de passado, nunca esqueceu de o-
hoje. No meio da adversidade lhar fixamente para o futuro,
como que cria alma nova para não só de sua terra como das
outros embates, em prol da ci outras co-irmãs.
vilização. Seus filhos e mora Crato, 29 de Junho de 1970
iórii isas ui
B r. PAULO CARTAXO ESMERALDO
D ra. MARIA BO CARMO VALBEVINO
S A N G U E — F E Z E S — U R I N A
----- o -----
V _/
179
\
o vôo das muriçocas urbanas
f. assis de sousa lima
(a paisagem urbana derrete os olhos dos arranha-céus)
do xa do sítio (propriedade do
Dr. Jcaquim Fernandes Teles,
a poucos quilômetros do Cra-
to) fica completamente inun
Cariri dada, formando verdadeira la
goa. Quando baixam as águas
no verão, ficam traiçoeiros su
midouros em diversos pontos,
R U B E N S F A L C Ã O que constituem ainda hoje ver
dadeiro perigo para qualquer
(Do Jornal O GLOBO) pessoa cu animal, que passe
descuidado naqueles brejos.
R i o — V de 69
Ainda nos princípios da colo
nização cearense, atravessava
J. DE FIGUEIREDO FILHO, cerco dia aquelas paragens um
natural do Cariri, é um traba carreiro a entoar cantigas de
lhador honesto e de boas in abciar, enquanto espicaçava,
tenções. Publicou “ Renov? - com a vara de ferrão, a junta
ção” , romance de costumes; de bois. Gemia o carro dolen-
“ Meu mundo é uma farmácia” temente, cortando a vereda
(êle fôra farmacêutico na mo dos brejos. Mas o guia, engol
cidade); “ Engenho de Rapa fado em seus cantares, alhe
dura” e, por último, “ O fol ou-se por completo do meio. E
clore no Cariri” . os bcis, a pouco e pouco, fo
Numerosos e riquíssimos são ram abandonando a rota cer
os motivos folclóricos da re ta. Ainda lhe ouviam os mo
gião estudada. Além do Bum radores de mais perto a últi
ba-Meu-Boi, o Baião, dança ma estrofe naquela noite de
popular e característicamente luar claro. No outro dia ioram
cearense. O Rio já a conhece, procurar o carretão e nenhum
trazida que foi pelo Carnaval. vestígio encontraram, nem do
São lendas do vale caririense: tosco veículo, nem dos bois e
181
seu condutor. Tudo desapare sugeriu a quadrinha seguinte
ceu como que por encanta àquelas a quem o mal não a-
mento. Por muito temoo ti fetara:
veram mêdo de passar por a- “ Lá vem o carro cantando
quêles brejos, cheios de assom Cheio de olhos de cana,
bração, com o vento a levar As môças do Cariri
sempre a toada do carreiro e o Têm olhos, não têm pestana” .
ranger constante do carro” .
O aboio, “ canto sem pala
Lapinhas e pastoris com
vras. marcado exclusivamente
põem mais um capítulo do li
vro, com o pastorzinho, “ me em vogais, entoado pelos va
queiros quando conduzem o
nina travestida de menino” ,
enteando a louvação: gado” — define Luís da Câ
mara Cascudo — , o aboio ins
“ O galo cantou pirou, dentre muitas, a estrofe:
Cristo nasceu
“ A alegria do vaqueiro
O boi perguntou:
É ouvir o ronco do trovão,
Aonde ?
Vê o céu se enubrá
E a ovelha
E a chuva cair no chão,
Logo respondeu:
Bota a sela no cavalo
Foi em Belém
Vou à casa do patrão.
Para c nosso bem” .
Bom dia, senhores todos,
Na Lapinha a mulata rebola Como vai meu cidadão ?
e recebe aplausos estridentes. Vim dizer ao senhor
Responde cantando: Que chove no sertão,
182
origem nas Minas Gerais. Na Tipos curiosos vamos ainda
minha meninice, eu sempre encontrar: o tocador de za
ouvi dizer Maneiro-Pau. É bumba, o tocador de pífaro, o
uma dança de roda, “ cantada tocador de caixa, figuras in
e ritmada com palmas. Os dispensáveis das bandas de
dançarinos viram-se para a couro. Em Fortaleza, quando
direita e para a esquerda, com eu saía para as aulas da seve
um livre cumprimento ao dan ríssima D. Amália de Castro,
çarino dêste lado, ou fazendo passava, ligeiramente assusta
menção de dar umbigada” . do, pele Berimbau ds Barriga.
Cantam quadrinhas interca Era um prêto carrancudo, alto
lando : — Maneiro-Pau ! . . . e sêco, que grudava à barriga
Maneiro-Pau ! . . . E verses uma cuia de côco da qual
como êstes: partia um arame que, levado
à boca, retirava um som cavo
“ Me atrepei na bananeira,
e sem graça do instrumento
Me enrolei com o magará,
que prendia entre os dentes.
Comi banana madura
Motivos e mais motivos fol
Até a gata miá.
clóricos descobriría neste vôo
Assubi de pau arriba de pássaro sôbre o livro do in
Fui descansar na forquia telectual cearense. Mas fico-
Peguei na perna da véia me por aqui, rezando o Ben
Pensando que era da fia. dito dos penitentes:
183
ASPECTOS INTE
ULYSSES VIANA
Os comentários dedicados ao
Município de Bom Jardim po lha dentro da Cidade Luz, d ig
dem ser interpretados ccmo o nificando o nome de Pernam
resgate de uma dívida. O m a buco e do Brasil. Musicista de
estro Dinamerico Sedycias, alta categoria, alinha-se por
sensível às coisas do espírito, outro lado, no grupo de jovens
numa prova evidente de am i compositores que excursiona-
zade, quis mostrar ao cronista ram pela Eurcpa. O Dimas,
as belezas de sua terra natal. com alma de artista consuma
A grandeza da im portante lo do é também discípulo do Po-
calidade pernambucana, resi verelo de Assis, através dos
de, principalmente, na classi seus agudos princípios de ca
ficação de seus prestigiosos f i ridade, de seu filho extremoso
lhos, no campo da música. e correto.
Aliás, nomes de reconhecido Enumeramos, nesta ligeira
conceito, no cenário nacional, análise sôbre Bom Jardim, no
desfilam através de composi me de pessoas ilustres no se
ções inimitáveis. Lourenço tor da política: O “ marechal”
Barbosa, o conhecido Capiba, Osvaldo Lim a; o ex-ministro
espalha aos quatro cantos do Osvaldo Lim a Filho, inteligên
mundo a beleza das suas obras cia brilhante e político ín te
musicais inspiradas na sociolo gro; o ex-governador Otávio
gia e no folclore pernambuca Correia de Araújo; os m em
nos. Peças como “ M aria Be- bros das tradicionais fam ílias
tânia” , “ Recife, Cidade L en Távora, Barbosa, Souto M aior
dária” , Olinda, Cidade Eter e outras que se projetaram
na” , “ Serenata Suburbana” , pelo Brasil a fora.
“ Rosa Am arela” e tantas gra Em consequência dessa via
vações excelentes são atestado gem rápida, mas cheia de re-
vigoroso dc seu talento incon miniscências, fizemos boas a-
fundível. mizades, notadamente entre o
O mestre Levino Ferreira, dr. Cícero Guedes Alcoforado,
recentem ente falecido, deixou Juiz de Direito aposentado, re
números im ortais que carac sidente na fazenda Chã das
terizaram sua dedicação ao Velas, encravada no M unicípio
cultivo de tão palpitante arte. de Machados. Êle e sua espo
Dimas Sedycias, radicado em sa da. Eide, carioca da gema,
Paris, coroado de glórias, bri- ofereceram, em sua residência,
184
assentada no meio de laran F E L I C I D A D E
jais, recepção fidalga ao autor
desta crônica e seus familia Djanira Figueiras
res. Fci uma festa agradável,
com a presença do Procurador Felicidade onde estás que não
185
EM CRATO, AGORA :
C L Í N I C A DE R E P O U S O
C R E D E N C I A D A P E L O INPS
PSICOTERAPIA E SONOTERAPIA
B A I R R O DO S E M I N Á R I O
C R A T O ------o----- C E A R Á
- ......................... ....... *
Sígísnando Sísnando Batista
JOSÉ DE SIQUEIRA CAVALCANTI
187
cupação será sobre o passado o têm aprisionado a filosofia»
e sobre o futuro. O presente de tendências egcista ou ate-
nunca é objeto de considera ist-a.
ção. O presente e o passado Esquecendo, completamente,
são meios de que ncs servimos a imponência de taes concei
para atingir o fim, o futuro. tos, passava a procurar uma
Assim não nos preocupa a v i Caixa de Fumo, em uma das
da presente, mas como espe prateleiras da Farmácia, e fi
ramos viver (in “ Pensamien- cava pitando, minutos segui
tcs” , n.° 172). dos, um fumo de corda que
B alí passava, o tio velho e adquirira na últim a feira.
ilustrado, a outras considera O filósofo, a quem não fa l
ções, esclarecendo que para tava o predicado da súma ori
julgar os dias da atualidade ginalidade, redigia uns contos,
(1929) sem nenhuma paixão, de literatura vulgar, com sutis
é imprescindível considerá-los detalhes de amôr romântico,
de uma altura que perm ita a- obras literárias essas vendid -s
tin gir um amplo horizonte por cinco ou déz m il réis a n
histórico. tigos, a personalidades de des
E, dentro de seu entreteni taque de nossa sociedade de
mento de praxe, invertia os então.
nomes, perguntando-me fr o n M anifestava um detalhe epi-
talmente : “ essot lim orb” , isto leptoide. Sob a ação de mais
é, “ tosse, Brcm il” , ou “ rixile” , forte emoção, de alegria ou
ou “ rixile ed arieugon” — E li tristeza, caia, desmaiava, per
xir de Nogueira, etc., etc. manecendo mui pálido, por al
E passando da brincadeira, guns segundos.
á seriedade, afirmava-me que Conta-se que meu velho tio,
a confusão contemporânea é extremamente miope, calçou-
resultado, em grande parte, se com sapatos em cores dife
das filosofias materialistas, rentes, e assim foi ter á missa
que hão invadido o mundo. O da Casa de Caridade, celebra
homem não- se contentou com da pelas 5 da manhã, por
o abandono das antigas cren Mons. Vicente Soter.
ças que formavam parte de seu Ao regressar da missa, em
patriotismo : criou teorias que pleno dia, os “ moleques” da
188
rua gritavam : “ Sapato Preto (Salmo 69 : 9); enumera suas
e outro Branco” . qualidades espirituais (Salmo
Explicando-me com profun 45 : 7); indica qual seria sua
do conhecimento, de Biblia na pregação (Salmo 78 : 8); men
mão, a presença indiscutível ciona a realização de milagres
de Jesus, em lances diversos, (Isaias, 47 : 2, 53-4).
como verdadeiro e autêntico Explicava-me que no dia da
enviado de Deus, apregoava: crucificação se cumpriram as
O Messias nascería de uma profecias messiânicas.
virgem (Isaias : 7,13,14); tal A mercê da valiosa influên
acontecimento ocorrería em cia de Sigisnando, sempre lí,
Belém (Miqueias, 5,2); seria com profunda dedicação, a Bi
chamado do Egito (Oseias, 11: blia, manancial inexgotável de
1). saber e de inspiração.
E com o Velho Testamento Poucos anos depois, quando
descrevia Sua missão mes lá em Crato não me encontra
siânica (Isaias, 59 : 20. Jere va, mais, falecería, em plena
mias, 2-3 : 15 e 16); enuncia paz, sem jamais haver feito
seu ministério na Galiléia (I- mal a quem quer, meu velho
saias, 9: 11 e 2); prediz a pu tio e amigo, de Angina Pec-
rificação que faria no Templo toris.
189
r. TELES, «iii
J. DE FIGUEIREDO FILHO
190
cargos que teve, só tinha uma paço livre dos pés-de-serras do
preocupação, melhorar a si Araripe, ende se instala aque
tuação des outros. Na criação, la propriedade, da natureza
introduziu no meio raças no acolhedora que faz bem ao es
vas, procedentes da Europa. pírito e até do contacto d?
Seus sítios, bem montados, gente simples do campo. E
continuem modelos de organi quem sabe, até do cheirinho
zação, onde o morador é tra bom do engenho!
tado como pessoa humana. Revi-o no Hospital de São
Com seus filhes organizou in Francisco em cadeira de roda
dústria de papel, bem estru puxado por morador amigo e
turada, que é dos justos orgu solícito. Apertou minha mão
lhos do Cariri. mas não falou mais. Olhou-
Mesmo doente não deixou me triste e com fixidêz no o-
de trabalhar, parando única lhar. Estava quase despojado
mente quando as forças lhe da vida. O espírito forte e
faltaram, quase por completo. bom o mantinha. Foi a nossa
Soube também criar e edu despedida Elisa Militão ao
car os filhos, ajudado pela es meu lado derramou lágrimas.
posa, Dona Naninha Monteiro Eu fiz da fraqueza força para
Teles, integrando-os à socieda não imitá-la.
de e ao trabalho, a continua Eu tinha amizade a êle co
rem o caminho que traçou. mo todo o Crato. A minha
Sempre que o encontrava á afeição e gratidão aumenta
rua, doente, parava para uma ram, quando eu era jovem
rápida palestra comigo. Con ainda, em momento de exa
versei com êle pela última vez cerbação política, alguém sem
em sua casa à praça da Sé, analisar seguramente o caso
quando fui ali, com sua irmã especial acusou-me. Dr. Teles
Fernandina. Conheceu-me e que militava em corrente con
e relembrou, como sempre fa trária a meu pai, imediata
zia, meus escritos. Depois fa- mente defendeu-me, com exal
lcu a Dona Naninha que tação. Aquelas palavras fica
pretendia ir para o Bel ram perenemente gravadas em
monte. Preso no leito qua meu coração.
se imóvel, sentia falta do es Senti, em profundidade, o
191
seu desaparecimento, embora Monteiro Teles, a enteada Da.
fosse esperado. Era outro pe M aria Audísia, esposa do Dr.
daço bom de ncsso Crato que Darival Teles Cartaxo, D. Lui-
se ía. A cidade em peso nãc sa Helena, consorciada com o
escondeu o pesar. Snr. Carlos Henrique Koolem,
Deixou viúva a Exma. Snra. D. Teresinha, casada com o
Dona Ana Monteiro Teles os Snr. Gilberto Mendonça e D.
filhes : Dr. Maurício Teles Car Ana Guilhermina espôsa do
taxo, Dr. Hermano José M on Prof. José Fernandes de Cas
teiro Teles, Dr. Joaquim Fer tro. Dr. Teles pertence hoje
nandes Teles Filho, Dr. Caio à posteridade.
NOSSAS LIN H AS :
CRATO — SÃO PAULO via R IO
IG U ATU — SÃO PAULO via R IO
CRATO — IG U ATU via VAR ZE A ALEFRE
M A T R IZ :
PR AÇA FRANCISCO SÁ N.° 26 ----- CRATO — CEARÁ
AGÊNCIAS :
SÃO PAULO : Rua Cavalheiro N.° 58 — F o n e : 93.1229
R IO DE JA N E IR O : R. Santos Lima, 35 - Fone: 234.1605
SA LG U E IR O : H OTEL SALGUEIRO — PERNAMBUCO
JUÀZEIRO DO NORTE : Rua São Pedro N.° 1.046 — Ce.
VENDA DE PASSAGENS N A ESTAÇÃO R O D O VIÁRIA
DE S. PAULO NOS GUICHÊS 179 E Í80, FONE 221-0903
E N A ESTAÇÃO R O D O VIÁ R IA NOVO R IO - GUAN AB ARA
Exposição rigentes aperfeiçoaram-se e
terminaram por vencer. Em
minha terra há Sociedade de
Cultura Artística. Mantém,
de com frequência desusada, a
ESCOLA BRANCA BILHAR.
Todos os anes, já é norma,
Pintores a exposição de pintura, SALÃO
DE MAIO, em comemoração
de ao aniversário da Faculdade de
Filosofia do Crato. Ninguém
tem a coragem de exibir ne
193
J O R N A L D O C O M É R C I O
ITA YTE R A — Recebemos, vice-diretor da sua Universi
enviada pelo jornalista José dade, jornalista, escritor e so
Alves de Figueiredo Filho, o ciológico, valendo notar com o
N.° 12 da revista ITA YTE R A trabalho de sua autoria
mantida pelo Instituto Cultu guedos Infantis Caririenses” a
ral do Cariri, da cidade cea que antecederam outros livros
rense do Crato. Neste núme como o conhecido e valoroso
ro, J. de Figueiredo Filho es “ Meu Mundo é Uma Farmá
creve um comentário a respei cia” . ITA YTE R A é uma revis
to do romance de José Nival ta especializada de cultura e o
do — AMOR, FUXICO E E- melhor atestado de como as
MANCIPAÇÃO. A revista, que letras andam por alio no ser
engrandece- o interior cearen tão do Ceará, um centro uni
se, tem colaborações de J. versitário de primeira grande
Figueiredo Filho, membro da za, falando-se em têrmos de
Academia Cearense de Letras, nordeste brasileiro.
194
O V a le d o C a riri e as
S ê c a s d o N o rd e s te
ANTÔNIO DE ALENCAR ARARIPE
195
tanto clímico, como demográ É ali que se faz necessária
fico e cultural. a ação dos técnicos do com
Conjunto dos efeitos, como bate aos efeitos da sêca, para
se diz, da escassêz ou falta de criar, em meio tão adequado,
chuvas sobre as atividades com recursos que, em outras
agrícolas, o abastecimento de paragens, se teriam de mul-
água para cs usos domésticos râneas, realizar-se-ia uma obra
e a criação em geral, com re produção e abastecimento de
flexos sôbre a economia da cereais no interior do Nor
população, pela deficiência de deste.
gêneros alimentícios e do tra 4. Carás é o Vale que, se
balho remunerado, as suas gundo os termes do “ Plano de
consequências são mais gra Eletrificação do Cariri” , há
ves onde se acentua o índice pouco editado pela Companhia
da densidade populacion*1 Hidroelétrica do SãO' Francis
A êsse respeito, pontifica, co, “ apresenta em suas mar
com justa razão, exímio técni gens uma faixa de aluvião fér
co na m atéria: “ para avaliar til, bastante úmida, onde se
os efeitos da sêca não é pos cultivam cereais” , com uma
sível comparar o interior do extensão de 3.595 km2, e
Piauí com o da Paraiba, como 178.746 habitantes.
não pode haver paralelo o ser Ao justificar o Projeto de
tão norte da Bahia, apesar de Lei N.° 337/51, salientámos
extraordináriamente sêco. e o que dito Vale do Carás abran
do Ceará” . ge uma planície de cerca de 50
3. Quem quer que visite quilômetros de extensão, por
o Cariri, registra a impressão um a seis de largura, através
de que a base econômica do os municípios de Crato, Juà-
Vale assenta na produção a- zeiro e Missão Velha, e que se
grícola dos referidos pés de lhe retivessem as águas do
serra e brejos. curso principal e respectivos
Não se acham ali, porém, as afluentes, e lhe soerguessem 0'
possibilidades de maior desen lençol freático, mediante um
volvimento da região. sistema de barragens subter
Ao que nos parece, e tudo râneas, realizar-se-ia uma obra
indica outro setor de sua su de extraordinário alcance para
perfície territorial, o que com a riqueza da região e conse
preende os Vales do Carás, Ca- quente melhoria de vida de
riús e do Riacho de Porcos, por seus habitantes.
múltiplas circunstâncias se a- Nêsse sentido, já se deram
presenta mais propício à in os passos iniciais, como os le
tensiva e promissora atividade vantamentos topográficos rea
agrícola. lizados pela secção de estudos
196
Cariri, M o r d e s t e
c U niversidade
J. DE FIGUEIREDO FILH O
197
das sêcas. Já é tempo de a- sobra, porque pode derramar
bandonarmos o mêdo de fazer tais qualidades sôbre nossos
parte das zonas indiretamente espíritos, reavivando-os para a
acometidas pelo nosso secular nova jornada. Construiremos
flagelo, fascinados pela mira assim a Universidade do Cariri
gem desses canaviais; agora para as gerações que virão. O
antieconômicos e sempre ver- programa cu o código a se
dej antes. guirmos, está aí. É “ O Cariri
O professor José Newton Nordeste e Universidade” . É a
não contente só com a Facul história da Faculdade de Filo
dade de Filosofia que apesar sofia do Crato e a plataforma
das visissitudes os tantos bene da Universidade do Cariri que
fícios tem trazido a esta zona, vencerá, com as bênçãos do
quer uma Universidade para o senhor e para a grandeza dês-
Cariri. Seu sonho não será em te pedaço heróico do Nordeste.
vão. As grandes iniciativas ( Discurso pronunciado no
nasceram de bem poucos. São dia 15 de maio-, no Instituto
adubadas com o suor dos lu do Ensino Superior, apresen
tadores. Requer a mobilização tando o livro do professor, Jo
geral de forças sem interêsses sé Newton Alves de Sousa, “ O
imediatos. Nosso Diretor tem Cariri Nordeste e Universida
requisitos de sobra. Digo de de” ).
C O R R E I O B R A S I L I E N S E
ITA YTE R A — Recebemos o ka Pequeno de Figueiredo
N.° 12 da revista ITAYTERA (Traços da Vida de Irineu Pi
publicação anual do Instituto nheiro) ; Otacílio Anselmo e
Cultural do Cariri, com sede Silv'.. (Subsídio para a História
em Crato, Ceará, presidido pe de Mauriti); Raimundo Tele~
lo escritor e folclorista J. de Pinheiro (T u iu ti); Tiago Fi
de Figueiredo Filho. O volu gueiredo Alencar Araripe (O
me traz colaborações de nu Mágico); Geová Sobreira (Va
merosos intelectuais cearenses, lentes e Valentões — algumas
entre êles jornalista Jurandy implicações sôbre o tema); J.
Temóteo de Souza (Observa de Lindemberg de Aquino (As
ções sôbre a infância e á ado suntos só nosso); Jéser de
lescência de Antônio Nobre); Oliveira (Reminiscências). A
J. de Figueiredo Filho (Dis revista ITAYTE R A é dirigida
curso de posse na Academia por J. de Figueiredo Filho, Pe
Cearense de Letras); Florival Antônio Gomes de Araújo e
Matos (O Cego Aderaldo ver jornalista J. Lindemberg de
sus c Estalo de Vieira); Zulei- Aquino.
198
Ata da Transladação e Sepultamento dos
Restos Mortais de GUALTER MART1NIANO
DE ALENCAR ARARiPE, Earão do Exu
199
rito dc Exu, no Sítio Gamelei- priamente dito, não podia es
ra na sua condição de genro tar ausente às solenidades de
e filha adotiva de Gualter Mar- que seria mandatária no fu
tiniano de Alencar Araripe. A turo como decorrência de
urna, contende uma cópia da disposição testamentária do
presente ata, acondicionada Barão aos seus descendentes e
num invólucro plástico, assi que coroavam CEM ANOS de
nada pelas pessoas constantes um esforço civilizador, que
da relação anexa iniciada com tem transformado num culto
a assinatura de Francisco A i à ordem e ao trabalho as me
res de Alencar e terminada lhores tradições de civismo da
pela do Bel. Francisco Givaldo gente alencarina. Além disso,
Peixoto de Carvalho. A urna aguardava-se a oportunidade
mortuária, construída em ma da eletrificação do Povoado do
deira de cedro, colhida nas Araripe para caminharmos o
matas da região está coberta SEGUNDO CENTENÁRIO no
de pano preto com adornos ritmo próprio, aberto à popu
prateados e forrada em cetim lação local, com a dinâmica da
azul claro, medindo 0,65m do moderna tecnologia. A pre
comprimento por 0,36m de lar sente ata foi ditada pelo Bel.
gura e 0,27m de altura. Fica Francisco Givaldo Peixoto de
rá sob uma lage de mármore Carvalho e secretariada pov
que cobria o primeiro jazig> mim João Oldan de Alencar,
na Gameleira, contendo os se Engenheiro Agrônomo, que a
guintes dizeres: “ AQUI JA copiei datilográficamente e a.
ZEM OS RESTOS M O R TAIS subscrevo. Araripe (Exu), 19
DO EXMO. BARÃO DO E X J de julho de 1968, João Oldan
FALECIDO NO D IA 22 DE de Alencar. Em tempo : Fo
JULHO DE 1889, COM 67 A- ram tiradas originàriamente 5
NOS DE IDADE” . O túmulo (cinco) cópias desta ata as
do Barão dc Exu foi localizado quais terão o seguinte destino:
no Salão do lado esquerdo do Instituto Cultural do Cariri,
Alíar-M or da Capela de São Biblioteca Alvenir Peixoto
João do Araripe. Os festejos (Exu) Comissão Organizadora
do Primento Centenário da do l.° Centenário, Francisco
Aires de Alencar e urna mor
Capela do Araripe estão sendo
tuária.
realizados entre os dias 13 e
21 do corrente, em caráter ex Francisco Aires de Alencar
cepcional para atender aos re Luís Gonzaga
clamos da juventude estudan Antoliano Alencar
til que, presa aos bancos esco Francisco Givaldo Peixoto
lares no período junino pro de Carvalho
200
JOSÉ DOS ANJOS DIAS
201
a sua parte, não vai na onda próprias da formação dêles,
nem embarca em canca fura quer sejam irracionais, quer
da, turibula para as divinda racionais, não atinam cem a
des e conduz seu patuá. via benevolente. Disse-me Ca-
Saía da cabana pela manhã, pistrano Calixto, que a serpen
depois de tomar café com fa te que êle viu no rio Negro
rinha de mandioca e charquc tinha a cabeça do tamanho do
assado. Só retornava, ao um tacho médio, do tipo uti
“ pender do Sol’’ (após a pas lizado nas fornalhas dos enge
sagem do astro rei pelo zênite nhos de rapadura. O corpo
do lugar), a fim de requentar poderia ser comparado ao diâ
a panela com feijão, que havia metro do jatobazeirc, que exis
cozido à “ boca da noite” , ser tia na junção das ruas S. Pe
via para duas refeições — al dro e Conceição, em Juàzeiro
moço e jantar. dc- Norte. Os eratenses, juà-
Diariamente, antes da janta, zeirenses e barbalhenses 'a
ía ao rio para tomar banho. “ VELHA GUARDA” , lembram-
Conduzia sempre uma cuia, se da frondosa árvore da fa
para enchê-la de água e des mília das leguminosas. Era
pejar sôbre seu corpo, isso, uma testemunha sobrevivente
porque nenhuma pessoa, atre do REINO VEGETAL, da fun
ve-se entrar nágua, temendo dação da mimosa DEUSA que
ser devorada. o riacho Salgado banha. Até
Numa tarde, quando chega aquela época, eu nunca tinha
va á margem do rio, observou me ausentado do Juàzeiro,
que vinha da margem oposta, além da serra do Araripe, on
algo que fazia pequenas vagas de trabalhei muito plantando
e, vinha em sua direção. Man mandicca, no Distrito de Sto.
teve-se quieto e redobrou a vi Antônio. Desconhecia comple
gilância, com a finalidade de tamente que havia ofídios a-
observar o objeto estranho. vantajados, como também ou
Teve grande surpresa ao reco tras ecusas, não acreditei nc
nhecer, pois, tratava-se de co Capistrano.
bra descomunal. Incontinehti, Não demonstrei o menor
subiu ao barranco e gritou com menosprezo pela história nar
tôda força, para espantar a vi rada, para não ferir o amor
sitante. Ela retrocedeu e des próprio do meu semelhante.
ceu de rio abaixe. Época dura e tudo era difí
Pôde compreender que não cil, até mesmo as pessoas de
era uma visita cordial, podcri< posses nãc conseguiam o que
ter vindo para devorá-lo, por desejavam. A Rêde de Viaçã)
que dos monstros, só recebe (R. V. C.), o seu fim de linha
mos as cousas abominosas. mais ou menos em Lavras da
202
Mangabeira, marchava a passo mais desenvolvidas de que nos
de cágado em prosseguimento sa jibóia. Até então não co
ao Cariri. Esperávamos com nhecia, apenas ouvia falar da
ansiedade que ela chegasse até sua existência.
nós, porque seria a taboa de Agora, vou tratar do assunto
salvação para a região, que v i sôbre “ A M AIO R SERPENTE
via relegada ao seu próprio f a DO M UNDO” . Tribuna de
do. Se não existisse naquela Juàzeiro, edição do dia 6 de
época e nas anteriores, no so setembro de 1967, publicou na
lo caririense, homens de pos página 7, em “ MUNDO CU
ses com o coração bem form a RIOSO” , de Ivan Gondim, que
do, os pobres da região teriam a maior serpente do mundo é
sucumbido, porque o Cariri a PITON, chega atingir 9 m e
não recebia auxílio dos pode tros e 90 centímetros de com
res competentes. primento. O senhor Ivan Gon
Aquêles heróis anônimos, dim teve razão, baseou-se em
hcje são ignorados pela gera dados fornecidos pelos zoólo
ção presente. gos. Êstes desconheciam e
Éramos desprezados e expos talvez desconheçam, a existên
tos a própria sorte, sujeitos ao cia do maior R EINO OFÍDICO
dilema — “ SALVE-SE QUEM mundial, sediado na região a-
PODER” . Eu e milhares de mazonense. Se não fôsse ig
conterrâneos, tinhamos razão norado por êle, não diríam
de desconhecer as causas, que um ofídio como a P ITO N
muitos partiram para a eter é a maior cobra do mundo.
nidade totalmente ignorantes Talvez ainda não tenna
por culpa do govêrno, que nãc completado trinta anos, qun
procurava abrir escolas no in foi abatida uma serpente, me
terior do Estadc. dindo 30 metros de compri
Atualmente nossa região es mento e pesando 3 toneladas,
tá bem servida, principalmen no rio Amazonas.
te no setor do ensino, se exis Tomei conhecimento, atra
tem analfabetos, a culpa é ex vés dos jornais da época e da
clusiva dos pais, que não pro revista “ EU SEI TUDO” , que
curam alfabetizar os filhos, estampou a fotografia do des
criam-nos privados das luzes comunal ofídio. A í então,
das letras. lembrei-me do Capistrano Ca
Antigamente só aprendia a lixto, da história que me con
ler, os filhos dos homens ricos. tou, e, de mim para mim dis
— Jararaca, verde e corre- se : êle tinha razão. No pe
campo, eram por demais co ríodo desse caso, êste antigo
nhecidas por mim, achava plantador de mandioca na
que, não podería haver outrac serra do Araripe, encontrava-
203
se transformado de seus an ti recorte da foto da SUCURU
gos hábitos. JU, perém, os meus meninos
Já havia percorrido nosso por ignorância deram-lhe fim.
Brasil de Norte a Sul e, alguns A serpente extraordinária, fô-
países estrangeiros, como tam ra abatida pela guarnição mi
bém, possuía, exíguo conheci litar do forte de Óbidos, no
mento da carta de A B C , ad Pará. A soldadesca começou
quirido com dificuldade. Não atirar nela de fuzil e, termi
seria mais capaz, de igncrar a nou com metralhadora. De
existência das cousas. pois de morta, foi seccionada
Agradeço o pequeno poli em três partes, cada secçáo
mento que recebi, a Deus e a parecia tero de TIMBAUBA,
Marinha que me deram luzes serrado nas extremidades.
que eu não tinha. Só desco É lamentável que um ani
nhecia, que havia serpente de mal raríssimo desse gênero, e
tal tamanho, como a do forte porte, tenha sido menospreza
de Óbidos, que na época, cha do e não receber acolhida, per
mou a atenção do mundo, por quem de direito, para seu de
causa do seu tamanho. Ufa vido fim, isto é, figurar num
no-me por ter sido origem museu. Até aquêle tempo, ou
paupérrima, acompanhada de melhor, até o presente, ne
infância e parte da adolescên nhum país, excluindo o Bra
cia, cheias de trabalhos, ár sil, teve o privilégio de abater
duos e sacrifícios, porém com ou capturar, uma cobra mons
ajuda do Deus dos Deuses truosa como a referida. Nos
venci na vida. so país, é privilegiado em tudo
Cs cearenses quando nas e possue de tudo, dos três
cem, trazem o sii.áculo dos REINCS1 DA NATUREZA. Es
Deuses, recebem dêstes aquies tá dotado a ser a maior potên
cência e auxílio, a fim de con cia mundial.
seguirem tudo que almejam, Nossas reservas: — flores
sem restrição de limite. M u tal, manganífera, aurífera, pe
tação da fé e falta de imanên- trolífera, etc., não inextingui-
cia no objetivo que têm em veis. Só mesmo Deus, poderia
mente, concorrem para afasta ter escolhido êste imenso rin
les do alvo que trazem em mi cão, para os brasileiros. Viu
ra, sucumbem na jornada da na raça suposta por muitos
vida, sem encontrar o Templo como autóctone e, no entanto
da Sabedoria Divina. não é, merecimento em conti
A PITON, com o porte que nuar morando em sua tem>.
tem, pode ser comparada a não perrmitiu que os forastei
filhote da SUCURUJU. ros ultramarinos firmassem
Guardei por muitos anos, o nela seus pés.
204
Agora, devemos agradecer essa oferta das águas-mar-
ao Criador, pela dádiva que nhas onde habitam sêres que
recebemos e zelar per ela,'pa jamais a imaginação humana
ra deixarmos aos pósteros, c capaz de supor.
muito mais do que recebemos
dos nessos ancestrais. Hoje é
Cópia de carta do Marechal TR IS-
nação independente, a custa
TAO DE ALENCAR ARARIPE ao
dos sacrifícios do herói Arari-
General Raimundo T e lej Pinheiro)
bóia e seus soldados aboríge
nes, mamelucos e outros. Êsíes Rio, 2 2 -6 -6 9
foram donos por pouco tempo. Prezado Camarada
Êste Brasil é um mundo den General1 Raimundo Teles Pinheiro
tro do mundo em que vivemos, Saudações cordiais
pela sua extensão territorial,
com um povo de fibra elástica Recebí com especial' prazer o
exemplar de sua Conferência “A
impartívcl, diferente das ou
Dezembrada” , em que confirma
tras raças. As maiores ser louvável pendor pelos estudos de
pentes do mundo vivem no nossa- História Militar.
Brasil, no Rio Amazonas. Os oficiais com o curso de E M
Também há serpentes mari prestam inestimável serviço ao pôr
nhas, não as vi, mas, observei ao alcance dos meios culturais do
país a análise dos feitos de nosso
rastro sôbre o capim. Nc pe
passado militar e principalmente
ríodo do segunda guerra mun êste que perpetuou o valor do
dial, sa-vi no Arquipélago dos grande feito do patrono do Exér
Abrolhos, situado no sul da cito. Nesse aspecto, o prezado ca
Bahia e fora da costa. marada e ex-aluno da EEME re ■
Por várias vêzes, quando ia vive a preocupação dos mestres da
EEME no aproveitamento das li
a ilha “ SUESTE” pela manhã,
ções legadas às gerações que se
observava que uma serpente lhe seguiram pelo Mestre dos
havia saído do mar durante a Mestres.
noite e, passeado sôbre o ca Não faz mal que nos repita
pim existente na ilha referida. mos uns aos outros. “A Dezem
Pelo amassado que deixava brada'’, destacada por Ta-sso Fra
goso, por Castelo Branco, por ou
através do rastro, demonstra
tros inolvidáveis Mestres e agora,
va possuir mais ou menos um pela pena brilhante do culto Che
metre de largura. Verifiquei fe cearense, será lição proveitosa,
com exatidão que não se tra para que as gerações se orgulhem
tava de uma tartaruga, pois do nosso Passado e consolidem a
cra uma serpente. Assim co confiança na capacidade do Fu
turo para a garantia da Seguran
mo foi abatida a do forte de
ça Nacional.
óbides, também será do mar.
aguardemos a bôa vontade das Com apreço e amizade
ONDAS, para nos conceder a) T. de Alencar Araripe
205
.C. A . P.
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