Sociedades Regimes

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SOCIEDADES COMERCIAIS

Os diferentes tipos de sociedade distinguem-se através da confiança que o sistema


pressupõe existir entre os sócios e esta confiança é uma articulação de três regimes
fundamentais: (1) responsabilidade dos sócios perante as dívidas sociais; (2) limites
à transmissibilidade de participações sociais; (3) estrutura organizatória.

SOCIEDADES EM NOME COLETIVO


RESPONSABILIDADE
Pessoal e ilimitada: os sócios respondem perante a sociedade pela sua obrigação de
entrada e perante os credores da sociedade pelas obrigações desta, todavia esta
responsabilidade é subsidiária (só podem os credores exigir aos sócios o cumprimento
quando se esgotar o património da sociedade) e solidária (os credores podem exigir de
qualquer dos sócios a totalidade da dívida, existindo pois direito de regresso conforme o
art.175º/1). Esta responsabilidade pode impender não só sobre os sócios, mas também
sobre quem inclua o seu nome na firma ou firma social (177º/2).
TRANSMISSAO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS
A regra é o consentimento de todos os sócios, art.182º/1. Concede-se primazia ao
interesse dos sócios subsistentes na sociedade em não passarem a ter um novo consócio,
sem o seu expresso consentimento. Este regime justifica-se pela gravidade das
consequências que poderiam advir para aqueles sócios com a entrada de um estranho
uma vez que este passaria a ter direito a integrar a gerência (191º) e passando então a
dispor de poderes iguais e independentes para administrar e representar a sociedade
(193º).
O sócio cujo consentimento para a transmissão tenha sido recusado pode exonerar-se
da sociedade (185º), que é um direito geral dos sócios e não exclusivamente associado
a esta situação.
ESTRUTURA ORGANIZATÓRIA
Artigo 191º. O poder supremo pertence à coletividade de sócios. Artigo 193º - todos os
gerentes têm iguais poder para administrar (decidir) e representar (vincular) a sociedade.
E se um dos sócios contrair um empréstimo de um milhão de euros, o que podem os
outros sócios fazer? Se o sócio já tiver contraído o empréstimo, não há nada que os
demais sócios possam fazer – tem de se confiar cegamente nos outros sócios. Se desse
empréstimo resultarem dívidas, os outros sócios serão responsáveis por elas.
Às deliberações dos sócios e à convocação e funcionamento das assembleias gerais
aplica-se o disposto para as sociedades por quotas em tudo quanto a lei ou o contrato
não dispuserem diferentemente (art. 189º/1). A administração e representação gabe aos
gerentes (192º/1). Salvo disposição do contrato em sentido contrário, são gerentes todos
os sócios (191º/1), mas estes podem, por unanimidade, designar não sócios para o cargo
(191º/2). Todos os gerentes têm poderes iguais e separados para administrar e
representar a sociedade (art. 193º).
SOCIEDADES POR QUOTAS
RESPONSABILIDADE
Solidária e limitada: os sócios são solidariamente responsáveis por todas as entradas
convencionadas no contrato social, mas só o património social responde para com os
credores pelas dívidas da sociedade (art.197º/1 e 3). Os sócios assumem uma
responsabilidade que ultrapassa a realização da sua própria entrada, uma vez que
também respondem perante a sociedade, pela realização das entradas dos seus
consócios1, mas não assumem já responsabilidade perante os credores da sociedade, isto
é por via do contrato de sociedade, mas poderão sê-lo por via de um outro negócio
jurídico (aval, fiança…) – a sua responsabilidade é então limitada.
A responsabilidade do sócio é limitada ao valor da soma de todas as entradas e não
apenas ao valor da sua própria entrada.
O artigo 198º/1 permite que por estipulação contratual um ou mais sócios respondam
também perante os credores sociais até determinado montante. Deste modo, alguns
sócios além de responderem nos termos supra mencionados perante a sociedade
(responsabilidade que nunca pode ser afastada) podem ainda vir a responder perante os
credores da sociedade. No entanto, a assunção de responsabilidade pelas dívidas da
sociedade por quotas terá de se cingir a um determinado montante, i.e., nunca será
ilimitada.
Quando o contrato disponha sobre a responsabilidade do sócio por dívidas da sociedade,
poderá ainda regular a natureza dessa responsabilidade (subsidiária ou solidária, 198º),
assim como poderá afastar o direito supletivo de regresso do sócio que pagar as dívidas
sociais (198º/3).
A possibilidade aberta pelo art.198º/1, de os sócios responderem pelas dividas da
sociedade impede a afirmação de que a irresponsabilidade dos sócios perante credores
sociais seja uma característica essencial da sociedade por quotas – é um traço regra, mas
que tem carácter meramente supletivo, sendo portanto afastável pelo contrato. Já a
limitação da responsabilidade é um elemento nuclear do tipo de sociedade por quotas,
os sócios podem responder por dívidas da sociedade, mas nunca podem responder
ilimitadamente por tais dívidas.
TRANSMISSÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS
Vigora o artigo 228º/2, quem é que dá o consentimento da sociedade? O órgão social
sócios, nos termos do art.246º/1 al.b) e o art.230º/2. Consentimento da sociedade dado
por deliberação dos sócios. Como é que os sócios deliberam, i.e., como é que eles dão o
consentimento? Art.250º/3 por maioria. Quem são os sócios que estão aqui em causa?
Distinção entre consentimento de todos os sócios nas SNC e os sócios que fazem a

1
Os sócios destas sociedades assumem uma responsabilidade pela “integração do capital social” para
exprimir a ideia de que os sócios são responsáveis pela realização de todas as entradas convencionadas,
que podem ser efetivamente maiores do que o capital social.
maioria nestas sociedades. Distinguir a pessoa do sócio do órgão da sociedade. Quando
o código fala de “sócios” ou “assembleia geral” diz respeito ao órgão social.
Artigo 228º/3 vs art.242ºA – conflito de normas: a primeira dispõe que a cessão é eficaz
logo que seja comunicada por escrito à sociedade; a segunda impõe a solicitação à
sociedade da promoção do registo para que a cessão seja eficaz perante ela. Assim, para
o professor Pedro Maia, a comunicação à sociedade, prevista no art. 228º 3, deverá
valer, ao menos implicitamente, como solicitação para promoção do registo, que o art,
242º exige para que a cessão produza efeitos em relação à sociedade – o mesmo ato
cumprirá simultaneamente os requisitos das duas referidas normas, evitando-se o
aparente desacerto que a sua letra implicaria.
O regime supletivo para a cessão de quotas difere consoante a pessoa do cessionário – é
livre a cessão para cônjuge, ascendente ou descendente, bem como para outro sócio,
mas dependem de consentimento da sociedade todas as outras cessões.
O regime estabelecido no 228º pode ser amplamente derrogado no contrato de
sociedade, o contrato pode então:
a) Proibir a cessão de quotas (229º/1), o que implicará que nem sequer o
consentimento da sociedade ou dos sócios viabilizará a cessão (mas os sócios
podem sempre alterar o contrato de sociedade);
b) Reduzir os casos em que a cessão é livre (229º/3);
c) Dispensar o consentimento da sociedade para situações em que seria necessário
(229º/2);
d) Pode exigir uma maioria qualificada e não simples (229º/5) entre outros
exemplos.
Perante a recusa do consentimento vale o art.231º em que se impõe que a sociedade
apresente ao sócio (que o seja há mais de três anos, nº3) uma proposta de amortização
ou aquisição da sua quota, sob pena da cessão se tornar livre (231º/2). Ou seja, o sócio a
quem seja recusado o consentimento terá sempre a possibilidade de realizar, ao menos
parcialmente", o seu interesse, deixando de ser sócio e recebendo uma contrapartida
monetária por isso.
ESTRUTURA ORGANIZATÓRIA
Artigo 252º + 261º. Liberdade. Existe aqui também um órgão da coletividade dos
sócios (ou assembleia de sócios), composto por todos os sócios. O órgão pode decidir
mediante:

 Deliberação unanime por escrito (54º)


 Deliberação tomada em assembleia geral (247º)
 Voto escrito (247º)
O legislador atribuiu a este órgão um conjunto mínimo ou imperativo de competências
que não podem ser remetidas para outro órgão (246º/1), a par com um conjunto de
competências supletivas, que só não caberão aos sócios caso o contrato as transfira para
outro órgão (246º/2). O contrato pode atribuir outras competências ao órgão (246º/1).
A sociedade tem ainda uma gerência, composta por uma ou mais pessoas singulares
com capacidades jurídica plena, que podem ser ou não sócias (252º/1), designadas no
contrato de sociedade ou eleitas posteriormente por deliberação dos sócios se não
estiver prevista no contrato outra forma de designação (nº2). A este órgão compete
administrar e representar a sociedade (art. 252º, 259º ss.).A gerência, quando seja
composta por várias pessoas (gerência plural), há de funcionar conjuntamente por
maioria, a não ser que o contrato de sociedade estipule diversamente (art. 261º).
A sociedade pode sempre ter um outro órgão, o conselho fiscal (ou fiscal único), se o
contrato de sociedade assim o dispuser (art. 262°/1). Contudo, certas sociedades por
quotas devem ter um conselho fiscal (ou fiscal único), ou então designar um revisor
oficial de contas.

SOCIEDADES ANÓNIMAS
RESPONSABILIDADE
Duplamente limitada: os sócios não respondem pelas dividas da sociedade, só
respondem pelas suas próprias entradas e já não pelas obrigações assumidas pelos seus
consócios (art. 271º). Os sócios têm a sua responsabilidade duplamente limitada:
externamente porque não respondem perante os credores da sociedade pelas dividas
desta; internamente porque não responde perante a sociedade por nenhuma dívida para
além da obrigação de entrada.
Sociedades em comandita simples e sociedades comandita por ações: existem dois
grupos de sócios:
 Sócios comanditados: os que assumem uma responsabilidade igual à dos sócios
das sociedades em nome coletivo,
 Sócios comanditários: e por outro lado aqueles que respondem apenas pela sua
entrada (465º)
Por esta razão há quem fale de um tipo misto ou híbrido, exatamente para pôr em
destaque a ideia de reunião numa mesma sociedade, sócios de responsabilidade
ilimitada com sócios de responsabilidade limitada.
Critério de distinção entre os diferentes tipos societários: confiança que o sistema
pressupõe entre os sócios, afere-se através da (1) responsabilidade; (2) limites à
transmissão da participação social. A qualidade de sócio é suscetível de transmissão.
TRANSMISSÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS
Liberdade de transmissão de ações, art.328º. O contrato pode limitar mas nunca excluir
a transmissão de ações nominativas e já não das ações ao portador. A limitação pode
traduzir na necessidade de consentimento para a transmissão ou na subordinação a
determinados requisitos.
A lei, a par de ter fixado como regime-regra a liberdade de transmissão das ações, só
deixou um reduzido âmbito para a derrogação daquele regime por via do contrato. E
compreende-se que assim tenha feito, fundamentalmente por a sociedade anónima estar
gizada para a disseminação do seu capital, o que impõe a fácil circulação das ações.
ESTRUTURA ORGANIZATÓRIA
art.278º - três modalidades. Artigo 390º - composição segundo o modelo clássico.
Art.405º - competência do conselho. Os órgãos são anónimos em que não é preciso que
exista uma confiança tao cega como nas sociedades em nome coletiva. Mais capitalista,
menos confiança.
Administração e fiscalização das sociedades anónimas: artigo 278º admite três
estruturas possíveis. Essas estruturas têm em comum o facto de nas três haver um órgão
de administração, um órgão de fiscalização global (porque encarregue de fiscalizar a
administração como um todo e assim se distingue do próximo) e um órgão de
fiscalização de contas (fiscalização contabilística). Art.278º/1 al.a) o professor
Menezes Cordeiro chama-lhe modelo clássico, o professor José Ferreira Gomes chama
de modelo tradicional português, deriva da evolução histórica. O modelo exposto na
al.c) foi introduzido pelo professor Raúl Ventura, elaborado em 1983 aquando dos
processos de discussão da entrada de Portugal na CEE e estava em vias de ser aprovada
uma diretiva que fazia sentido colocar esta alínea, mas que acabou por não ser aprovada
– releva aqui os artigos 424º e ss.
Três modalidades (artigo 278º nº1) introduzidas pela reforma de 2006 para que a PT e o
BCP pudessem cumprir o requisito da bolsa de Nova Iorque e não houvesse necessidade
de duplicação de órgãos. Em qualquer uma dessas modalidades existe a coletividade de
sócios2 (assembleia geral), embora este órgão não tenha exatamente as mesmas
competências em todas as estruturas admitidas por lei. A coletividade de sócios compõe-
se de sócios, ainda que não a integrem necessariamente todos os sócios – pode haver
ações preferenciais sem voto e o contrato afastar os seus titulares da participação na
assembleia (343º/1 e 379º/2); o contrato pode exigir que o sócio detenha um nr mínimo
de ações para poder participar na assembleia (379º/2 e 384º/2 al.a)).
Neste tipo de sociedades os sócios detêm menos poderes do que nas sociedades em
nome coletivo e nas sociedades por quotas, uma vez que não podem deliberar, fora dos
casos previstos na lei, sobre matérias de gestão da sociedade, a não ser que o órgão de
administração formule um pedido para esse efeito (art. 373º/3).
O círculo de competências da assembleia geral da sociedade anónima, podendo embora
ser mais ou menos amplo consoante o estipulado no contrato (art. 373º/2), nunca pode
ser tão extenso quanto numa sociedade por quotas ou em nome coletivo.
A administração de uma SA pode obedecer a três estruturas – revisão 2006:

MONISTA Administração é entregue a um só órgão (conselho de


2
Quando a sociedade tenha um único sócio, põe-se a questão de saber se a assembleia de sócios
continuará a existir – o professor Coutinho de Abreu diz que é possível, mas não necessária
administração ou administrador único) – 278º/1 al.a) e
390º e ss.
DUALISTA Administração compete a dois órgãos distintos (conselho
geral e de supervisão e conselho de administração
executivo) – 278º/1 al.c), 434º e ss. e 424º e ss.
ANGLO Administração compete a um órgão de administração e outro
SAXÓNICA de fiscalização, que é composto por uma parte dos membros
do primeiro (conselho de administração e comissão de
auditoria) – 278º/1 al.b)

O conselho de administração é composto pelo número de membros fixado no contrato,


que podem ser acionistas ou não, mas sempre por pessoas singulares dotadas de
capacidade jurídica plena (390º/1 e 3). Apenas nas sociedades em que o capital social <
200 mil euros, é que a administração pode ser confiada a um só administrador (390º/2).
Antes da reforma 2006 exigia-se que o conselho de administração fosse composto por
um número impar de membros.
ESTRUTURA MONISTA – conselho de administração
O conselho de administração pode agora ser composto por qualquer número plural de
membros, o que inclui a possibilidade de composição por dois administradores, apenas.
Quando o órgão seja composto por um número par de membros passa a ser obrigatória a
atribuição de voto de qualidade ao presidente (art.395º/3 al.a)).
Os administradores podem ser designados no contrato de sociedade ou eleitos pela
assembleia geral ou constitutiva (391º/1).
O conselho funciona colegialmente por maioria (410º), considerando-se a sociedade
vinculada pelos negócios celebrados pela maioria dos seus administradores.
O conselho de administração pode, contudo, delegar num ou mais administradores ou
numa comissão executiva a gestão corrente da sociedade (407º/3), ficando tais
administradores delegados, caso o contrato o preveja, com poderes de representação da
sociedade (408º/2).
As competências do conselho de administração são muito amplas (406º).
A fiscalização deve seguir uma das seguintes modalidades (413º):
 Conselho fiscal ou um fiscal único;
 Conselho fiscal a par de um revisor oficial de contas, que não poderá ser
membro daquele órgão
A escolha entre estes modelos é livre, exceto no caso do nº2 al.a) do artigo 413º, em que
é obrigatória a escolha do segundo modelo.
ESTRUTURA DUALISTA – conselho geral e de supervisão e conselho de
administração executiva
Reforma de 2006 deixou de exigir um número ímpar de membros, exigindo-se apenas
que este órgão seja composto por um número superior àquele que integrar o conselho
de administração executivo da mesma sociedade.
Abandonou-se também a exigência de que o conselho geral e de supervisão tivesse de
ser composto por acionistas (434º/2 revogado).
Conselho geral e de supervisão funciona colegialmente por maioria (445º/2), cabendo-
lhe amplas competências de fiscalização e supervisão da atuação da atividade da
sociedade.
Não tem competência para aprovar o relatório e as contas da sociedade, competência
agora da assembleia geral (376º/1 al.a)).
Outra importante alteração à esfera de competências do conselho geral e de supervisão
respeita à possibilidade, só agora admitida, de a designação dos membros do outro
órgão de administração poder ser transferida, por cláusula do contrato de sociedade,
para a assembleia geral (441º al.a) e 425º/1).
A par com este conselho, existe um conselho de administração executiva (424º) que é
composto por um nr livre de membros, fixado no contrato de sociedade, mas só as
sociedades com capital social < 200 mil é que podem ter um único administrador.
É designado pelo conselho geral e de supervisão ou pela assembleia geral, se o contrato
assim o dispuser.
Ao conselho de administração executivo compete gerir as atividades da sociedade
(431º/1), bem como representá-la (431º/2).
A fiscalização compete a um revisor oficial de contas, designado pela assembleia geral
sob proposta do conselho geral e de supervisão (446º).
ESTRUTURA ANGLO-SAXÓNICA – conselho de administração e comissão de
auditoria
Foi construído sobre o modelo monista, do qual difere por destacar do conselho de
administração um outro órgão – a comissão de auditoria – a quem compete fiscalizar a
atividade da administração da sociedade. Mantém-se idêntico tanto o quadro de
competências como o estatuto individual dos administradores – enquanto membros do
conselho de administração mas, visto que uma parte deles, enquanto membros da
comissão de auditoria, terão um estatuto jurídico distinto – como ainda o funcionamento
do conselho de administração, órgão comum às duas estruturas.
A fiscalização cabe à comissão de auditoria e a um revisor oficial de contas.
A comissão de auditoria é um órgão novo (desde 2006) constituído por membros do
conselho de administração. Na sua composição, esta comissão, é uma espécie de sub
órgão do conselho de administração, mas não nas suas competências. Composta por um
mínimo de três membros, que hão de ser administradores, e que são designados
diretamente pela assembleia geral, quando esta elege os administradores (423º-B e -C).
Assim sendo, será possível que a maioria dos membros do conselho de administração
pertença à comissão de auditoria, pois a lei não impõe uma relação entre o número de
membros da comissão de auditoria e o número de membros do conselho de
administração.
“Esta identidade de principio não deixará de suscitar, ao que cremos, meros problemas,
pois afigura-se dificilmente compaginável a conceção do conselho de administração da
estrutura monista com o conselho de administração da estrutura anglo-saxónica. A mero
título de exemplo pode perguntar-se como se compreenderá que os membros da
comissão de auditoria, a quem compete fiscalizar a administração, intervenham nas
decisões dessa mesma administração, agora na qualidade de membros do conselho de
administração; ou como se poderá explicar que esses membros da comissão de auditoria
que se encontram proibidos por lei de exercer funções executivas (423º-B/3), se
escusem a intervir em atos de representação da sociedade, para os quais podem até ser
imprescindíveis – com efeito, uma vez que a sociedade se vincula pela intervenção da
maioria dos administradores (408º/1) e tendo ainda em conta que a maioria de tais
administradores poderá integrar a comissão de auditoria, poderá ser imprescindível que
algum ou alguns membros da comissão de auditoria intervenham como representantes
da sociedade, para que esta possa praticar o ato. Aliás, no que toca à proibição legal de
exercerem funções executivas, parece que o legislador não levou na devida conta que,
em princípio - quer dizer, salvo disposição do contrato que a autorize e salvo
deliberação do conselho de administração que a efetue - não existe delegação de
poderes pelo conselho de administração, cabendo exclusivamente ao conselho o
exercício de todas as competências de gestão, inclusivamente de gestão corrente da
sociedade. Daqui decorre, portanto, que, não existindo uma tal cláusula estatutária e não
havendo uma tal deliberação do conselho de administração, este permanecerá obrigado
a exercer todas as competências que a lei e o contrato lhe cometem. Nesta hipótese, não
se percebe como poderão os membros da comissão de auditoria, que também são
membros do conselho de administração, respeitar a proibição legal de exercerem
funções executiva: não deverão tomar parte nas deliberações do conselho de
administração que versem sobre gestão corrente da sociedade? Mas, nesse caso, o
conselho poderá não ter, sequer, quórum para funcionar. Como estas, várias outras
questões se suscitam a respeito da articulação entre o modelo anglo-saxónico e o padrão
em que ele afinal assenta, e que consiste no conselho de administração do modelo
monista.”

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