#2021 PED 3 - Distúbios Nutricionais Na Infância
#2021 PED 3 - Distúbios Nutricionais Na Infância
#2021 PED 3 - Distúbios Nutricionais Na Infância
ETIOLOGIA CAUSAS
CLÍNICA
VARIAÇÕES BENIGNAS DO CRESCIMENTO
EXAMES COMPLEMENTARES
CAUSAS PATOLÓGICAS DE BAIXA ESTATURA
TRATAMENTO
INVESTIGAÇÃO PREVENÇÃO
MICRONUTRIENTES
ALTA ESTATURA IODO
INTRODUÇÃO ZINCO
DEFINIÇÃO COBRE
SELÊNIO
intro_25266
6 meses 110 kcal/kg/dia
12 meses 100 kcal/kg/dia
3 anos 100 kcal/kg/dia
Escolar 75 kcal/kg/dia
Adolescente 30-60 kcal/kg/dia
Adulto 25-30 kcal/kg/dia
TRANSIÇÃO NUTRICIONAL
CONCEITOS INICIAIS
CLASSIFICAÇÃO NUTRICIONAL
Há algumas semanas conversamos sobre as bases fisiológicas do
crescimento, bem como sobre o que esperamos observar no crescimento Existem diversas propostas distintas para a classificação nutricional de uma
normal de uma criança. Nosso objetivo, neste momento, é conhecer os criança e adolescente. A mais usada em nossa prática atual – e a mais
principais distúrbios do crescimento infantil, estabelecer seus diagnósticos e recorrente nas provas – é a do Ministério da Saúde, que iremos ver em
saber conduzi-los de forma apropriada. primeiro lugar. Além disso, é interessante que você também conheça
algumas classificações mais antigas, menos empregadas nos dias de hoje,
Os primeiros anos de vida representam um período especialmente mas que ainda podem ser objeto de alguns concursos.
vulnerável para uma série de agravos nutricionais. O aporte nutricional dos
lactentes, crianças e adolescentes deve suprir necessidades para seu
crescimento ponderoestatural e desenvolvimento neurocognitivo e puberal, CLASSIFICAÇÃO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
que são muito grandes nestes períodos da vida. Os primeiros 1.000 dias
A atual proposta de classificação nutricional do Ministério da Saúde,
(da concepção até o final do segundo ano) representam um período muito endossada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, é baseada nas curvas de
vulnerável para o estabelecimento de um quadro de desnutrição e o dano crescimento da Organização Mundial de Saúde (OMS) para crianças e
precoce ao crescimento e desenvolvimento provoca consequências futuras adolescentes de 0 a 19 anos.
na saúde do indivíduo, com prejuízo na capacidade intelectual, desempenho
escolar, produtividade laborativa e ganhos financeiros. Observando a
A OMS, nos anos de 2006 e 2007, disponibilizou uma série de novas curvas
Tabela 1, você pode perceber como a necessidade calórica é maior nos
de crescimento. Atente para o fato de que não dispomos de todos os gráficos
primeiros anos de vida. Esta é uma das razões pelas quais há maior
para todas as faixas etárias. Os gráficos são construídos usando as curvas
vulnerabilidade para desnutrição nesta fase.
com valores de percentil e/ou escore-Z.
saiba mais
TAB. 1
IDADE NECESSIDADE CALÓRICA
(KCAL/KG/DIA)
Neonato 120-130 kcal/kg/dia
3 meses 115 kcal/kg/dia
A distribuição em percentil é a apresentação em cada idade, para A OMS também recomenda que a identificação das crianças com
ambos os sexos, dos valores ordenados de maneira crescente, como se desnutrição grave, que devem ser encaminhadas para tratamento, seja feita
fossem 100 valores, independentemente do tamanho da amostra a partir da a partir da determinação da circunferência do braço em crianças entre 6 e
qual foram estimados, que costuma ser composta por mais do que 100 59 meses. Por essa recomendação, as crianças com circunferência menor
indivíduos. Cada percentil representa a posição que aquele valor tem na que 115 mm são classificadas com desnutrição grave.
distribuição ordenada dos valores considerados como normais.
Além disso, a OMS indica que há desnutrição grave quando o escore-Z de
A distribuição em escore-Z é a apresentação em tabelas e gráficos dos peso para estatura encontra-se abaixo de -3, ou quando há edema bilateral
valores de cada parâmetro de acordo com a sua diferença em relação ao nos pés em crianças com kwashiorkor.
valor mediano. Esta diferença, ou distância, é medida em unidades (ou
frações) de desvios-padrão, considerando-se que cada desvio-padrão de
diferença da mediana corresponde a uma unidade de escore-Z. CLASSIFICAÇÃO DE GOMEZ
A classificação completa pode ser conferida nas Tabelas 2 e 3. TAB. 4 CLASSIFICAÇÃO DA DESNUTRIÇÃO DE GOMEZ.
Veja um exemplo:
Uma criança apresenta um peso de dez quilos. Suponha que o peso ideal
para a sua idade no percentil 50 seja de 15 quilos. Sendo assim, a
criança tem um deficit de cinco quilos. Cinco quilos representam 33,3%
de 15 quilos, certo? Sendo assim, ela apresenta 67% da relação
peso/idade ideal, sendo então classificada como desnutrida moderada
ou de segundo grau.
saiba mais
● É necessário conhecer a idade da criança para poder classificar o grau de 1º passo: avaliando a adequação Peso/Estatura pelo gráfico da OMS.
desnutrição; Para a estatura real da criança (90 cm), o peso ideal (percentil 50) seria
de 13 kg. Como Pedrinho tem somente 12 kg, ele possui 92% do esperado.
● Crianças consideradas como desnutridas leves pelo critério de Gomez
Pela classificação, Pedrinho tem um peso adequado para sua estatura.
podem estar entre os percentis 3 e 20 para a sua idade e serem normais;
É a classificação que leva em consideração a adequação do peso do paciente Exemplo 2: Joana é uma pré-escolar de dois anos, pesa oito quilos e
em relação ao percentil 50 do seu peso para a estatura (P/E), e a adequação mede 85 centímetros.
de sua estatura para o percentil 50 de estatura para a sua idade (E/I). Com
esse método, é possível avaliar se a desnutrição é aguda ou crônica. Esta
1º passo: avaliando a adequação Peso/Estatura pelo gráfico da OMS.
classificação pode ser empregada entre dois e dez anos. Nesta fase, o
Para a estatura real de 85 cm, seu peso ideal (percentil 50) deveria ser de
crescimento é mais lento e constante, e o peso da criança varia mais em
11 kg. Portanto, Joana tem apenas 72,7% do esperado. Deve ser
função de sua estatura do que da sua idade.
considerada, então, uma criança magra.
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CLASSIFICAÇÃO DE MCLAREN (1967)
VIDEO_01_PED3
DESNUTRIÇÃO ENERGETICO- Agora, chegou a hora de conhecer todas as repercussões que este agravo
PROTEICA traz ao organismo.
INTRODUÇÃO
EPIDEMIOLOGIA
Estima-se que 16% dos nascidos em países de renda média e baixa sejam de
baixo peso (< 2.500 g), e cifras maiores ainda são encontradas na Ásia e
África. Estima-se que, globalmente, 16% das crianças abaixo dos cinco
anos sejam desnutridas. Um levantamento publicado pela Organização
Mundial de Saúde no final de 2016, estima a existência de 17 milhões de
crianças menores de cinco anos com emagrecimento grave (severe
wasting). Houve queda da prevalência mundial da desnutrição,
especialmente nos países asiáticos, nas últimas décadas.
Na África, entretanto, a prevalência da desnutrição crônica ainda alcança ● Maior necessidade metabólica na infância, tanto de energia como de
cifras alarmantes (Figura 1). proteínas, em relação aos demais membros da família;
● Desestruturação familiar.
FIG. 1
transmembrana faz com que menos H+ seja excretado, produzindo um para o deficit cognitivo. Há redução na divisão celular, redução na
quadro de acidose intracelular e alcalose extracelular. formação de sinapses e proliferação dendrítica, e retardo na mielinização,
bem como prejuízo na síntese de neurotransmissores. Outros fatores
● Todo esse desequilíbrio hidroeletrolítico faz com que aumentem os níveis
associados à DEP também atuam como coadjuvantes no
de cálcio intracitoplasmáticos, com desencadeamento de reações
comprometimento neurológico, como: deficiência de zinco, de vitamina E
bioquímicas que levam à lise celular. A perda de potássio e o aumento do
e redução de ácidos graxos de cadeia longa (ômega 3 e 6).
cálcio explicam a redução na força contrátil dos miócitos cardíacos na
DEP grave. A deficiência de magnésio (hipomagnesemia) também é
comum na DEP grave. ALTERAÇÕES GASTROINTESTINAIS
ALTERAÇÕES IMUNOLÓGICAS
● Redução na secreção gástrica, pancreática e biliar, com diminuição das É uma forma de DEP grave que resulta de uma deficiência calórica total
enzimas digestivas – dissacaridades intestinais (lactase, maltase e (energia e proteínas). Marasmo significa “desgaste” e, em termos
sacarase), amilase e lipase. A diminuição da atividade de lactase intestinal grosseiros, denota inanição. Em tais dietas deficientes, a relação
leva à intolerância à lactose e à presença de fezes ácidas. O decréscimo na proteína/calorias pode ser normal. Essa apresentação clínica é mais comum
atividade de dispeptidases na borda estriada da mucosa é devido, em crianças com menos de um ano de idade, embora não seja restrita a este
principalmente, à lesão de microvilosidades e à diminuição da síntese grupo etário, em decorrência de deficit na ingestão global de nutrientes
proteica. Há também diminuição de absorção de aminoácidos essenciais. associado ao agravamento do estado nutricional por infecções
Até o transporte de glicose pode estar comprometido. A utilização de intercorrentes. A instalação é insidiosa, permitindo alguma adaptação do
triglicerídeos de cadeia média é muito comum no tratamento, pois são organismo à deficiência.
compostos capazes de penetrar o epitélio intestinal sem modificação pelas
enzimas intestinais. Ocorre praticamente em todos os países em desenvolvimento, sendo a causa
● Perda de tônus das alças intestinais e diminuição da peristalse, mais comum a retirada precoce do aleitamento materno, substituído por
favorecendo a proliferação bacteriana. Isso pode dificultar a absorção de fórmulas caloricamente deficientes, muitas vezes diluídas para diminuir o
água e eletrólitos e, principalmente, levar à alteração da composição do gasto financeiro imediato da família. Isso, combinado com a ignorância
pool de sais biliares, com aumento no conteúdo de sais biliares sobre higiene e atrasos costumeiros na administração de vacinas, leva
desconjugados. Os ácidos biliares desconjugados na luz intestinal frequentemente ao desenvolvimento de infecções gastrointestinais evitáveis,
determinam a diminuição da formação de micelas de gordura, com deflagrando o ciclo vicioso que leva ao marasmo.
consequente má absorção de lipídios, de vitamina B12 e de outras
vitaminas lipossolúveis. A criança geralmente é internada pela intercorrência infecciosa, e não pela
desnutrição. Observam-se deficit de peso e estatura, atrofia muscular
● Diminuição do tamanho e número das vilosidades intestinais com perda
da borda estriada, promovendo um aspecto que pode lembrar o da doença extrema, emagrecimento acentuado com pobreza de tecido celular
celíaca. Há um aumento da celularidade da lâmina própria à custa de subcutâneo e pele enrugada, principalmente nas nádegas e coxas
linfócitos, plasmócitos e alguns eosinófilos. A lesão mucosa é mais grave (Figura 3). Pela perda de tecido subcutâneo ocorre desaparecimento da
no kwashiorkor, observando-se acúmulo de gordura no epitélio. bola gordurosa de Bichat. Em geral, o apetite está preservado, ao
contrário do kwashiorkor, onde costuma haver inapetência grave. A anemia
● No fígado, ocorre esteatose, principalmente na forma kwashiorkor,
e a diarreia são comuns e com frequência as crianças apresentam o abdome
podendo evoluir com fibrose perilobular e cirrose.
volumoso. Não há edema nem lesões cutâneas. Os cabelos podem,
● As glândulas parótidas sofrem atrofia e durante a recuperação nutricional eventualmente, estar alterados. Assim como no kwashiorkor, no marasmo
podem hipertrofiar e aumentar de tamanho. também podemos observar hipoalbuminemia.
QUADRO CLÍNICO
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A Tabela 7 se propõe a resumir as principais diferenças entre as duas
formas graves de DEP primária.
FIG. 4 Kwashiorkor.
Curiosidades...
KWASHIORKOR-MARASMÁTICO
AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR
Proteínas Séricas ● Anemia: por deficiência de ferro, ácido fólico, vitamina B12, hemólise;
meia-vida, teremos dados que nos permitam inferir a duração da ● Lipidograma: redução nos níveis de colesterol e triglicerídeos;
desnutrição. As principais proteínas e suas respectivas meias-vidas estão
● Hipoglicemia;
descritas na Tabela 8. Um cuidado que devemos sempre lembrar ao
interpretar esses resultados é que estas proteínas podem também se alterar ● Hiponatremia: lembre-se de que, o conteúdo total de sódio do
(aumentar) em condições inflamatórias, pois são reagentes de fase aguda organismo está normal ou aumentado, em parte, devido ao aumento do
(Tabela 9). sódio intracelular por deficiência da bomba de sódio;
TAB. 9 TRATAMENTO
PROTEÍNAS QUE AUMENTAM PROTEÍNAS QUE DIMINUEM
NA FASE AGUDA DA DOENÇA NA FASE AGUDA DA DOENÇA O tratamento da DEP grave deve ser feito em três fases, conforme se
apresenta abaixo:
Proteína C-reativa Albumina
Alfa-1-antitripsina Pré-albumina 1. Fase de estabilização (1 a 7 dias): identificação e tratamento das
Complemento C3 Proteína transportadora de condições mais urgentes e ameaçadoras da vida, como hipoglicemia,
retinol hipotermia, distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos, desidratação,
Fibrinogênio Globulina ligada a tiroxina 2. Fase de reabilitação (2ª a 6ª semana): alimentação intensiva é dada
para recuperar a maior parte do peso perdido, a estimulação emocional e
física é aumentada, a mãe ou pessoa que cuida da criança é treinada para
Outros Exames continuar os cuidados em casa, e é feita a preparação para a alta da
criança;
Hemograma completo, função renal e hepática, além de outros exames,
também fazem parte da rotina laboratorial de uma criança desnutrida. Os 3. Fase de acompanhamento (7ª a 26ª semana): após a alta, a
achados mais frequentemente encontrados em desnutridos graves são: criança e a sua família são acompanhadas para prevenir a recaída e
assegurar a continuidade do seu desenvolvimento emocional, físico e
mental.
Todas as crianças gravemente desnutridas estão em risco de desenvolver ● Hidratação por via oral: a solução de reidratação para desnutridos
hipoglicemia (glicose sanguínea < 54 mg/dl), o que é uma importante causa deve ter menor quantidade de sódio e maior de potássio que a solução de
de morte durante os primeiros dois dias de tratamento. Hipoglicemia pode reidratação oral da OMS. Assim, recomenda-se a ReSoMal, uma solução
ser causada por uma infecção sistêmica séria, ou pode se estabelecer se a com maior adequação de sódio, potássio e micronutrientes, cuja
criança não foi alimentada nas últimas 4-6 horas, como frequentemente composição podemos confirmar pela Tabela 10.
acontece durante o trajeto para o hospital.
Os sinais de hipoglicemia incluem baixa temperatura corporal (< 36,5°C), TAB. 10 ReSoMal.
HIPOTERMIA O volume a ser oferecido é de 5 ml/kg a cada 30 minutos por duas horas por
via oral ou sonda gástrica. Caso a desidratação persista, a solução deve
Crianças menores de 12 meses, portadoras de marasmo, grandes áreas de continuar sendo ofertada de forma intercalada com a alimentação.
pele lesada ou infecções graves são altamente suscetíveis à hipotermia. Se a
temperatura retal estiver abaixo de 35,5°C, ou se a temperatura axilar Deve-se atentar para sinais de sobrecarga hídrica, como aumento na
estiver abaixo de 35°C, a criança deve ser considerada portadora de frequência cardíaca e/ou respiratória, ou ingurgitamento da veia jugular.
hipotermia. As formas de prevenção de tratamento da hipotermia incluem
os seguintes cuidados: A oferta do líquido deve ser interrompida quando a criança estiver
hidratada: menos sede, urinando, sinal da prega cutânea desaparecendo
● A criança não deve ficar perto de janela ou em uma corrente de ar, e as
menos lentamente, olhos menos encovados, boca menos seca, menos
janelas devem ser fechadas durante a noite;
letárgica e menos taquicárdica.
● A criança deve estar adequadamente coberta com roupas, incluindo um
chapéu, e cobertores; A hidratação venosa nas crianças com desnutrição grave deve ser reservada
● Lavar a criança o mínimo necessário, e fazer isto durante o dia. Quando a para os casos de colapso circulatório causado por desidratação grave ou
criança for lavada, deve ser enxugada imediatamente e de forma choque séptico. Para a caracterização dos quadros de choque, a criança
adequada; deverá estar letárgica ou inconsciente, ter extremidades frias, e apresentar
tempo de enchimento capilar lentificado (maior que três segundos) ou
● A temperatura ambiental deve ser mantida em 25-30°C. Isto parecerá
pulsos rápidos e fracos. A solução usada nestes casos deverá ser composta
desconfortavelmente quente para o staff, ativo e totalmente vestido, mas
de solução salina 0,45%, soro glicosado 5% ou Ringer lactato com glicose a
é necessário para as crianças pequenas, imóveis e que facilmente podem
5%. Será administrado um volume de 15 ml/kg em uma hora. Da mesma
se tornar hipotérmicas;
forma, deve-se ter cuidado com os sinais de hiperidratação. Caso não ocorra
● Use a "técnica canguru", colocando a criança sobre a pele despida do melhora após uma hora de hidratação venosa, recomenda-se transfusão de
tórax ou abdome da mãe (pele a pele) e cobrindo ambos, ou vista bem a sangue total. A transfusão também é recomendada em alguns casos, como
criança (inclusive a cabeça), cubra com um cobertor aquecido e coloque será visto adiante.
uma lâmpada incandescente acima, mas não tocando o corpo da criança.
ÁCIDO FÓLICO
● Crianças sem sinais aparentes de infecção e sem complicações devem
receber amoxicilina VO 25 mg/kg/dose 12/12 horas por cinco dias. Todas as crianças desnutridas devem receber 5 mg de ácido fólico, VO, no
● Crianças com complicações (choque séptico, hipoglicemia, hipotermia, primeiro dia e 1 mg por dia, VO, a partir de então. Mínimo de duas
semanas.
infecções cutâneas, infecções do trato respiratório ou urinário, ou que
parecem letárgicas ou muito doentes) devem receber:
ZINCO
» Ampicilina 50 mg/kg IM ou IV a cada seis horas, por dois dias,
seguido por amoxicilina, 25-40 mg/kg de 8/8h durante cinco dias;
Dose recomendada de 2 mg/kg/dia. Mínimo de duas semanas.
» Gentamicina 7,5 mg/kg IM ou IV uma vez ao dia durante sete dias.
COBRE
DIETA
Dose recomendada de 0,2 mg/kg/dia. Mínimo de duas semanas.
O início da dieta na fase de estabilização deve ser cauteloso e gradual. A via
oral é sempre a via preferencial, sendo a nasogástrica restrita a apenas
Se a criança melhorar, o tratamento terá tido sucesso. A fase inicial do
algumas condições específicas, como quando não há aceitação do volume
tratamento terminará quando a criança voltar a ter apetite. Isso indicará
mínimo recomendado por via oral.
que as infecções estarão sendo controladas, e que anormalidades
metabólicas estarão melhorando. A criança agora estará preparada para
● Volume total (oral + venoso): 120-140 ml/kg/dia. começar a fase de reabilitação. Isso usualmente ocorre depois de sete
● Calorias: 80-100 kcal/kg/dia. dias.
Fórmulas com baixo teor de lactose também podem ser preferidas, haja
vista a frequência de intolerância à lactose associada aos quadros de VIDEO_07_PED3
desnutrição. Quando se suspeita de alergia à proteína do leite de vaca,
fórmulas a base de proteína extensamente hidrolisada podem ser indicadas.
SEGUNDA FASE
DURAÇÃO: 2 A 6 SEMANAS
MICRONUTRIENTES
Esta fase é chamada de reabilitação e seu objetivo é a recuperação
Diversas suplementações estão indicadas. Por mais que exista carência de nutricional através da administração de dieta hiperproteica, hipercalórica,
ferro, o mineral não está indicado nesta fase inicial. Os quadros de anemia com reposição de vitaminas e micronutrientes, para atingir um alto ganho de
grave serão tratados com transfusão quando há hemoglobina < 4 g/dl ou peso diário. Recomenda-se uma transição gradual da fórmula alimentar
quando há hemoglobina < 6 g/dl na presença de sinais de desconforto inicial para a fórmula de crescimento rápido, de modo a evitar a
respiratório. insuficiência cardíaca provocada pela superalimentação.
VITAMINA A Entende-se que a criança entra na fase de reabilitação quando seu apetite
volta e o edema periférico começa a regredir. Uma criança que esteja sendo
Crianças gravemente desnutridas estão em alto risco de desenvolverem alimentada por sonda nasogástrica não é considerada pronta para entrar na
cegueira devido à deficiência de vitamina A. Por essa razão, uma dose alta fase de reabilitação.
de vitamina A deve ser dada rotineiramente a todas as crianças desnutridas
no primeiro dia de internação, a menos que haja evidência segura de que
DIETA
uma dose de vitamina A tenha sido dada no mês anterior. A dose é como se
segue: 50.000 Unidades Internacionais (UI) por via oral para crianças
menores de 6 meses, 100.000 UI para crianças de 6 a 12 meses de idade e
200.000 UI oralmente para crianças maiores de 12 meses. Repetir estas
doses nos dias 2 e 14 nas crianças com manifestações de deficiência de
vitamina A.
Superada a fase de risco de vida, geralmente restrita aos primeiros sete dias,
TERCEIRA FASE
a criança deve receber alimentos suficientes para repor seus deficit e
DURAÇÃO: DA 7ª A 26ª SEMANA
retomar o crescimento. Nessa fase, mais do que dietas especiais, de
indicação bastante específica e, portanto, restritas, é importante garantir o Acompanha-se a criança e sua família, para prevenir a recaída e assegurar a
aporte necessário de calorias e outros nutrientes, por intermédio de uma continuidade do desenvolvimento emocional, físico e mental da criança.
dieta de alta concentração calórica e progressivamente variada, respeitando
a aceitação da criança. Como o risco de recaída é maior logo após a alta, a criança deve ser vista
regularmente. Se algum problema for encontrado, as visitas devem se tornar
A fórmula inicial usada na primeira fase deverá ser substituída pela fórmula mais frequentes, até que o problema tenha sido solucionado.
de crescimento rápido (100 kcal/100 ml com 2,9 g proteína/100 ml). As
seguintes recomendações deverão ser alcançadas: saiba mais
● Calorias: 150 a 220 calorias/kg/dia; A síndrome de recuperação nutricional ocorre durante o tratamento
correto dos casos de desnutrição grave, sendo mais exuberante nos casos
● Proteínas: 4 a 6 g de proteínas/kg/dia.
de kwashiorkor, observada entre o 20º e o 40º dia de tratamento. Cursa
com alterações que costumam regredir por volta da 10ª a 12ª semana após
Como já tínhamos visto, não se recomenda a suplementação de ferro na fase o início do tratamento.
aguda do tratamento da desnutrição, pois o ferro é cofator de uma série de
sistemas enzimáticos que aumentam a produção de radicais livres de
Não se sabe ao certo a etiologia dessas alterações. As manifestações
oxigênio, amplificando a reação inflamatória sistêmica do desnutrido. A
clínicas observadas nessa síndrome clínica variam de intensidade e as mais
suplementação de ferro somente deve ser iniciada na fase de reabilitação,
comumente encontradas são:
quando o doente já estiver com a infecção e o processo inflamatório
controlados, e ganhando peso. ● Hepatomegalia: à custa do lobo esquerdo, com maior aumento sendo
encontrado por volta da quinta semana após o início do tratamento;
VIDEO_08_PED3 ● Distensão abdominal: com circulação venosa colateral e ascite;
OBESIDADE
ETIOPATOGENIA
INTRODUÇÃO
A obesidade é o resultado de uma desregulação do equilíbrio entre oferta
A obesidade é um distúrbio nutricional caracterizado por um aumento do
calórica e gasto energético. É a expressão clínica de um balanço energético
tecido adiposo, com elevação do peso corporal. Pode-se observar um
positivo.
aumento tanto do número como do tamanho dos adipócitos.
É considerada uma doença genética influenciada por múltiplos fatores, FATORES GENÉTICOS
como, por exemplo, hábitos alimentares, culturais e psicossociais, prática de
exercícios e controle endocrino-metabólico. A história da evolução humana nos conta que nossos antecedentes pré-
históricos passaram por longos períodos de fome e escassez alimentar e,
Existem três períodos da vida em que ocorre de forma fisiológica uma pela teoria da seleção natural, os indivíduos de genótipo mais econômico
espécie de “rebote adiposo”, ou seja, um aumento no número de células (menor gasto energético) permaneceram na luta pela sobrevivência, em
adiposas. Por esse motivo, esses períodos são particularmente vulneráveis à detrimento daqueles com mais alta taxa metabólica. Atualmente, com as
instalação de obesidade. São eles: o último trimestre de vida intrauterina, o novas tecnologias alimentares, esse “benefício genético da evolução”
primeiro ano de vida e o início da adolescência, este último mais acentuado transformou-se em fator prejudicial no que tange o desenvolvimento da
nas mulheres. obesidade.
Na obesidade infantil e juvenil há um aumento constante do número e do Estudos realizados entre gêmeos homozigóticos, criados em famílias e
tamanho celular, enquanto na obesidade do adulto há aumento ambientes diferentes, mostraram que eles tendem a apresentar pesos
principalmente do tamanho celular. Por isso, a obesidade infantil responde semelhantes, reforçando a ideia de que a influência da genética sobre o
pior ao tratamento, pois conseguimos reduzir o tamanho da célula metabolismo é mais marcante que os fatores externos.
gordurosa, mas não o seu número. Sabemos que cerca de 70% das crianças
obesas transformam-se em adolescentes com tendência à obesidade. A ocorrência de obesidade nos pais aumenta muito o risco da
doença na prole: se um dos pais é obeso, o risco para a criança é
de 40%, e se ambos são, pai e mãe, esta taxa sobe para 80%.
EPIDEMIOLOGIA
O número de crianças e adultos obesos é cada vez maior, tanto em países FATORES PERINATAIS
pobres quanto em países ricos, e até mesmo em países que se caracterizam
por uma população magra, como é o caso do Japão. A OMS passou a
considerar a obesidade como um problema de saúde pública tão
preocupante quanto a desnutrição.
São considerados fatores de risco para obesidade infantil o ● Colecistoquinina: hormônio secretado pelo duodeno em resposta à
sobrepeso/obesidade materno antes da gestação, ganho de peso excessivo ingestão de proteínas e gorduras. Envia um sinal via nervo vago até o
durante a gestação, peso de nascimento elevado, e tabagismo materno. hipotálamo informando a “saciedade” após a refeição.
Além disso, o crescimento intrauterino restrito com catch up precoce é
● Grelina: neuropeptídeo secretado no estômago que estimula a secreção
também um fator de risco para adiposidade central e risco cardiovascular no
de neuropeptídeo Y no hipotálamo e, assim, estimula o apetite. Na
futuro. O temperamento negativo intenso de alguns lactentes também foi
síndrome de Prader-Willi parece haver um aumento dos níveis de grelina,
considerado predisponente para o aumento de peso no futuro. Por outro
o que pode explicar a hiperfagia e obesidade associadas à síndrome.
lado, o aleitamento materno e a autorregulação afetiva dos lactentes foram
considerados fatores protetores contra a obesidade.
TECIDO ADIPOSO
FATORES ALIMENTARES ● Leptina: hormônio secretado pelo tecido adiposo, que atua ao nível de
hipotálamo levando à inibição do apetite e ao aumento do gasto
Outros fatores, como desmame precoce e uso de dietas pouco balanceadas, energético. Os obesos parecem ter um aumento da leptina em função de
estão estreitamente relacionados à gênese da doença. sua massa adiposa, mas o apetite não está inibido em decorrência de uma
diminuição da sensibilidade hipotalâmica ao hormônio.
O consumo de alimentos com altas taxas calóricas, ricos em carboidratos
● Adiponectina: é um hormônio sintetizado pelo tecido adiposo com
simples e gorduras, e baixos teores de fibras e micronutrientes, são os
várias funções: antidiabética, antiteratogênica e anti-inflamatória. Quanto
combustíveis para o inflacionamento do peso. Vejam que exemplo
maior o grau de obesidade, menores os níveis de adiponectina.
preocupante: nos EUA, cerca de um terço das crianças come uma refeição
tipo fast food por dia, que contém em média 2.000 kcal, 84 gramas de
gordura e apenas 12 gramas de fibra. SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Os sabores doce e salgado são inatos da espécie humana, e a preferência por ● Neuropeptídeo Y: substância secretada pelo núcleo arqueado do
alimentos deste grupo já é esperada e tem uma razão evolutiva. Muitos hipotálamo em resposta ao jejum. Ele estimula o apetite.
vegetais e legumes possuem um sabor amargo, e a rejeição a este gosto ● TRH (hormônio estimulador da tireotrofina), CRH (hormônio
provavelmente foi uma adaptação evolutiva ao longo dos anos para estimulador da corticotrofina), MSH (hormônio melanócito-
preservar a espécie da intoxicação por plantas venenosas. estimulante): inibem o apetite.
através de hormônios, como a leptina e adiponectina. No sistema nervoso CAUSAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
central, neurotransmissores, como neuropeptídeo Y, participam de
informações que veiculam aumento do apetite, e a melanocortina ENDÓCRINAS
COMORBIDADES
Crianças e adolescentes com obesidade e sobrepeso apresentam várias Na última edição do Tratado de Pediatria da SBP, publicada em 2017,
comorbidades, que devem ser investigadas conforme orienta a Tabela 13. encontramos a recomendação para a realização dos seguintes exames:
dosagem de triglicerídeos, colesterol total e frações, glicemia e insulinemia
de jejum, AST, ALT, gama-GT, ultrassonografia hepática e avaliação da
TAB. 13 COMORBIDADES ASSOCIADAS À OBESIDADE. composição corporal.
DOENÇA MANIFESTAÇÕES
Cardiovascular SÍNDROME METABÓLICA
● Dislipidemia HDL ≤ 45, LDL ≥ 130, colesterol
A síndrome metabólica é uma importante comorbidade associada à
> 170.
obesidade. Os critérios diagnósticos que definem a SM variam bastante na
● Hipertensão arterial PA ≥ percentil 95 para idade,
literatura e, de acordo com o IDF (International Diabetes Federation),
sexo, estatura.
os principais índices são a circunferência abdominal, triglicerídeos, HDL,
Endocrinopatias glicemia de jejum e pressão arterial. Os critérios para adolescentes entre 10
● Diabetes mellitus 2 Acantose nigricans, poliúria, e 16 anos podem ser conferidos na Tabela 14. Em menores de dez anos, tal
polidipsia. diagnóstico não deve ser estabelecido. Crianças e adolescentes com
● Síndrome metabólica Adiposidade central, resistência síndrome metabólica possuem risco aumentado de doenças cardiovasculares
insulínica, dislipidemia, e diabetes mellitus tipo 2.
hipertensão arterial.
● Síndrome dos ovários Irregularidade menstrual,
policísticos resistência insulínica, hiperan‐ TAB. 14 SÍNDROME METABÓLICA (10-16 ANOS).
● Combata o sedentarismo.
ATIVIDADE FÍSICA
No período pós-natal, as fases de maior crescimento ocorrem na
lactância e puberdade, com velocidades de crescimento de 25
cm/ano no 1º ano de vida, 12 cm/ano no 2º ano de vida e cerca de
10 cm/ano durante a puberdade.
A fase de menor crescimento ocorre antes da puberdade,
geralmente na idade escolar, quando a velocidade de crescimento
pode chegar a 5 cm/ano.
VIDEO_14_PED3
BAIXA ESTATURA
INTRODUÇÃO DEFINIÇÕES
A baixa estatura é uma queixa familiar e um sinal clínico frequente nos Como já tínhamos visto na Tabela 2, considera-se baixa estatura a estatura
ambulatórios de pediatria, fazendo parte das síndromes de crescimento
abaixo do EZ-2 ou do percentil 3. Porém, tenha o seguinte cuidado:
linear. Neste momento, vale recapitularmos, rapidamente, alguns aspectos
podemos considerar que há crescimento deficitário quando o paciente se
referentes ao crescimento infantil que já estudamos há várias semanas.
encontra abaixo de seu alvo genético familiar. Outro dado que aponta para
um crescimento deficitário é uma alteração na velocidade de crescimento,
mesmo antes que exista a baixa estatura.
REGULAÇÃO DO CRESCIMENTO
Estatura Absoluta
Esta informação é importante para definirmos se, de fato, existe ou não Para ambos os sexos, utilizam-se variações para mais e para
baixa estatura. Lembre-se de que uma criança que esteja no percentil 15 da menos a partir da média de altura final. A literatura mostra
curva de estatura por idade, por definição, não terá baixa estatura, mas será variações de ± 5 cm, ± 8,5 cm, ± 10 cm e ± 13 cm. Na prática, o
mais baixa que boa parte das crianças de mesma idade e sexo. Além disso, a mais comum é usar a variação ± 8,5 cm.
estatura atual pode guardar alguma relação com condições patológicas, por
exemplo: uma criança cuja estatura está a três desvios-padrão abaixo da
média apresenta uma maior probabilidade de ter alguma doença do que
aquela criança que está a dois desvios-padrão abaixo da média. A maioria das crianças atinge uma estatura, quando adultas, dentro de
aproximadamente 5 cm para mais ou para menos equivalendo aos percentis
3 e 97 do alvo genético. Embora existam variações, é o cálculo deste
Velocidade de Crescimento Estatural
parâmetro que nos permite avaliar o potencial genético de crescimento de
O aspecto mais importante quando avaliamos o crescimento linear de uma um indivíduo.
criança é observarmos a variação de sua estatura no decorrer do tempo, que
nada mais é do que a velocidade de crescimento estatural.
Idade Óssea
Para uma maior acurácia desta medida, é necessário um tempo de Durante a infância, o processo de crescimento geralmente refere-se a um
observação mínimo de quatro a seis meses. aumento no comprimento dos ossos, que progride concordante com a
maturação esquelética.
Relação Peso-Altura
Idade-Estatural (IE)
A determinação da relação peso-altura em uma criança baixa, tem algum
valor diagnóstico. Em crianças portadoras de endocrinopatias como causa É a idade cronológica na qual a mediana da população (percentil 50)
de baixa estatura, o ganho ponderal geralmente encontra-se dentro da apresenta a estatura do paciente. Verifique o gráfico (Figura 7) que mostra
normalidade, com sobrepeso ou obesidade sendo observados em alguns a IE de um paciente de 14 anos. A IE deste paciente é de 11 anos e 3 meses.
casos. Por outro lado, na presença de doenças sistêmicas graves, o ganho
ponderal insuficiente é ainda mais importante do que o deficit de
crescimento linear, resultando em crianças com baixa estatura e
emagrecidas.
Pré-natal
● Síndromes genéticas:
» Síndrome de Silver-Russel;
» Síndrome de Noonan;
» Síndrome de Seckel;
» Síndrome de Bloom.
● Síndromes cromossômicas:
» Síndrome de Down;
» Síndrome de Turner.
FIG. 7 IDADE ESTATURAL. Um paciente de 14 anos de idade tem 1,45 m. Este valor é
Pós-natal
marcado no gráfico (círculo preto) e é projetado sobre a curva do percentil 50. Quando
esta projeção é comparada com a idade do eixo horizontal, descobre-se que a idade ● Doenças crônicas:
estatural está próxima de 11 anos e 3 meses.
» Gastrointestinais;
» Renais;
» Cardíacas;
» Respiratórias;
Estabelecimento da Proporção Corporal
» Hematológicas;
A relação entre o segmento superior e inferior do corpo (relação U/L –
Upper to Lower Body Segment ou SS/SI) pode nos fornecer algumas
» Infecções de repetição.
VIDEO_15_PED3 Sabemos que o crescimento fetal é influenciado por fatores como tamanho
uterino, nutrição materna, doenças fetoplacentárias e doenças maternas, mas
não pela altura dos pais. A criança com baixa estatura familiar apresenta-se
ETIOLOGIA com peso e estatura normais ao nascimento, e após os 2-3 anos apresenta
um desvio para baixo na sua curva de estatura, entrando no seu “canal de
Diferentes condições podem levar à baixa estatura. Você pode vê-las de crescimento genético”. Esta curva geralmente é paralela e está abaixo ou
forma sumarizada na Tabela 16. próxima do percentil 3, e assim permanece através da puberdade. A
velocidade de crescimento é normal e a idade óssea é compatível com a
idade cronológica. Ao final, o indivíduo alcançará uma estatura final
TAB. 16 CAUSAS DE BAIXA ESTATURA. compatível com seu alvo genético. Veja como isso se processa na Figura 8.
CAUSAS PATOLÓGICAS
DESPROPORCIONAL
● Osteocondrodisplasias.
PROPORCIONAL
FIG. 8 FIG. 9
VIDEO_16_PED3
ATRASO CONSTITUCIONAL DO CRESCIMENTO E
PUBERDADE (ACCP)
CAUSAS PATOLÓGICAS DE BAIXA ESTATURA
No atraso constitucional temos uma criança que também sofre uma
DESNUTRIÇÃO
desaceleração do crescimento após os 2-3 anos, produzindo uma curva
paralela e abaixo do percentil 3, com velocidade de crescimento normal ou
A DEP grave pode ter causas primárias ou secundárias, como já estudamos.
bem próxima do normal até a puberdade, de modo semelhante a da baixa
Nestas condições, o organismo modifica seu metabolismo no sentido de
estatura familiar. A grande diferença é que a idade óssea, neste caso, é
preservar suas reservas para sua bioquímica vital, em detrimento dos
atrasada em relação à idade cronológica. Quando chegam à adolescência,
processos de crescimento e desenvolvimento. Clinicamente, verificamos
estas crianças têm atraso na maturação sexual. Em outras palavras: há um
uma queda na velocidade de crescimento, idade óssea atrasada e retardo
retardo para desencadear a puberdade e o estirão do crescimento. São
puberal. As alterações endocrinológicas principais da desnutrição são a
crianças com crescimento e desenvolvimento mais lento, porém por um
redução da ligação do GH aos receptores hepáticos e do IGF-1, redução da
período mais prolongado, de modo a não haver prejuízo da estatura final.
insulinemia, hormônios tireoidianos e esteroides sexuais e aumento do
cortisol.
Tipicamente, a criança com ACCP é saudável e não apresenta anormalidade
fenotípica. É comum a existência de uma história familiar positiva, com
Com a nutrição adequada, o crescimento acelera-se (catch up growth),
algum dos pais tendo sido baixos quando crianças e apresentado um estirão
embora a altura na idade adulta possa ficar comprometida.
pubertário um pouco mais tardio.
HIPOTIREOIDISMO
VIDEO_17_PED3
Os principais exames complementares que podem ser solicitados para
investigação de baixa estatura patológica são:
OUTRAS CONDIÇÕES
1. Hemograma completo;
RESTRIÇÃO AO CRESCIMENTO INTRAUTERINO
2. VHS;
A Restrição ao Crescimento Intrauterino (RCIU) é o resultado de algumas
3. Glicemia de jejum;
condições patológicas e pode determinar o nascimento de um bebê Pequeno
para Idade Gestacional (PIG). 4. Lipidograma completo;
do esperado para média populacional ou canal genético por toda a infância. 7. Cálcio e fósforo;
As causas desta falta de recuperação ainda são pouco definidas. Alguns
8. Fosfatase alcalina;
estudos sugerem que estas crianças têm um padrão de liberação de GH
alterado, com pulsos menos frequentes e com menor amplitude com 9. Ureia e creatinina;
redução subsequente de IGF-1 e IGFBP3; outros aventam a possibilidade de
10. EAS;
uma relativa insensibilidade periférica à ação do IGF-1.
11. Parasitológico de fezes;
A idade óssea destes pacientes é geralmente atrasada, mas neste caso não se
12. T4 livre e TSH;
correlaciona com um bom prognóstico de estatura final. É, portanto, um
parâmetro que deve ser usado com cautela. 13. IGF-1 e IGF-BP3;
ETIOLOGIA
Da mesma forma que no tópico sobre baixa estatura, aqui veremos causas
benignas (variações da normalidade) e causas patológicas de alta estatura.
INTRODUÇÃO
ACELERAÇÃO CONSTITUCIONAL DA PUBERDADE
DEFINIÇÃO São crianças que iniciam e terminam a puberdade mais cedo que a média
populacional e, por isso, passam por um período de aumento na velocidade
Define-se crescimento excessivo como sendo aquele cuja velocidade de
de crescimento e um avanço na idade óssea (não mais que dois desvios-
crescimento excede dois desvios-padrão da média para idade e sexo.
padrão da normalidade). Ao término da puberdade, apresentarão estatura
final dentro do seu alvo genético, bem próximo à média. Na história
Aproximadamente 2,5% das crianças que excedem seu canal de crescimento familiar verificamos um padrão de crescimento e desenvolvimento
são absolutamente normais. Raramente, queixas de alta estatura chegam ao semelhante em um dos pais.
consultório pediátrico, constatação influenciada pela satisfação e
notoriedade que a estatura elevada dos filhos provoca na sociedade.
A conduta é expectante, e não requer tratamento.
PRIMÁRIA
Síndrome XYY
Síndrome de Marfan
SECUNDÁRIA
Obesidade
É a causa exógena mais comum de alta estatura. O excesso de gordura O tratamento é feito, preferencialmente, com cirurgia para ressecção do
acelera o crescimento linear, maturação óssea e leva ao aparecimento adenoma hipofisário. A terapia medicamentosa pode ser feita com agonistas
precoce da puberdade. A estatura final não é, contudo, maior que a média. dopaminérgicos (ex.: bromocriptina), análogos da somatostatina (ex.:
octreotide e lanreotide) e, mais recentemente, com o uso de antagonistas do
receptor de GH (pegvisomante).
Excesso de GH (Gigantismo)
DISTÚRBIOS DE
MICRONUTRIENTES
INTRODUÇÃO
MECANISMO DE AÇÃO
HIPERVITAMINOSE A
VIDEO_20_PED3 Na forma crônica, pode haver dor óssea; queda de cabelo; descamação
cutânea; anorexia; hepatomegalia; e pseudotumor cerebral. Malformações
congênitas são produzidas quando o ácido retinoico é tomado na dose de
CAUSAS 0,5-1,5 mg/kg no 1º trimestre de gravidez para tratamento de acne ou
câncer.
As principais causas de deficiência de vitamina A são a oferta inadequada
na dieta e as doenças que interferem na sua absorção (sistema biliar,
pancreático ou intestinal) ou no seu armazenamento (doenças hepáticas). VITAMINAS DO COMPLEXO B
As vitaminas do complexo B (B1, B2, B3, B5, B6, B7, B9 e B12) possuem
DIAGNÓSTICO a hidrossolubilidade e as fontes alimentares como características comuns.
Dificilmente, a carência de uma delas ocorre de forma isolada. Em geral, as
O deficit de visão no escuro e as manchas de Bitot são elementos clínicos DEP graves e dietas com restrição de alimentos de origem animal levam à
precoces da deficiência. carência de vitaminas do complexo B.
óptico. A rouquidão e a afonia são características marcantes da queilite ou estomatite angular (fissuras no canto da boca, recobertas por
hipovitaminose B1, e traduzem a paresia do nervo laríngeo recorrente. placas amareladas – Figura 16); queilose (rachaduras e lesões labiais –
Figura 15); glossite (língua avermelhada, dolorosa e edemaciada, com
Uma síndrome atáxica também pode se desenvolver.
hiper ou atrofia das papilas linguais); conjuntivite; ceratite; fotofobia;
● As manifestações cardiovasculares são secundárias a uma síndrome de lacrimejamento e dermatite seborreica (sulco nasolabial, região
insuficiência cardíaca de alto débito. Há aumento das cavidades cardíacas, retroauricular, temporal, vestíbulo nasal e períneo). A riboflavina interfere
principalmente à direita, por degeneração gordurosa dos miócitos. Os com o metabolismo do ferro e, por isto, podemos encontrar anemia
principais sinais e sintomas são: cianose; taquidispneia; taquicardia; completando o quadro clínico.
congestão venosa; hepatomegalia; edema periférico e derrames cavitários.
O ECG revela inversão da onda T e alargamento do intervalo QT.
CAUSAS
● Encefalopatia de Wernicke: caracterizada por confusão mental;
sonolência; irritabilidade; sinais oculares e ataxia. É rara em crianças. A arriboflavinose pode ser ocasionada por diversos fatores isolados ou em
combinação: ingestão inadequada; falha na absorção e utilização da dieta
por alteração do tubo digestivo; aumento das necessidades (crescimento e
CAUSAS
lactação, por exemplo); aumento da excreção (diabetes mellitus); e
Geralmente lactentes em uso de fórmula à base de soja, crianças em NPT alcoolismo.
prolongada sem reposição de tiamina e descendentes do Oriente, onde o
arroz é o alimento básico, são grupos de maior risco de hipovitaminose B1.
Outras causas: consumo de certo tipo de peixe rico em tiaminase, que pode
degradar a tiamina, e raramente pelo B. thyaminolyticus, parasita
intestinal descrito no Japão, que consome grandes quantidades de tiamina.
DIAGNÓSTICO
A dosagem de tiamina sérica tem pouco valor clínico, pois o método possui
baixa sensibilidade e especificidade. Pode-se dosar os níveis séricos de
transcetolase e a transcetolase eritrocitária, que na hipovitamina B1 estarão
em níveis baixos e elevados, respectivamente.
FIG. 15 Queilose.
TRATAMENTO
RIBOFLAVINA (B2)
FIG. 16 Estomatite angular.
FONTES ALIMENTARES
NIACINA (B3)
FONTES ALIMENTARES
MECANISMO DE AÇÃO
CLÍNICA
As manifestações mais precoces são vagas e inespecíficas: anorexia, FIG. 18 Pelagra nas mãos e ao redor do pescoço.
fraqueza, fadiga, sensação de queimação, tonteira e vertigem. Após um
longo período de deficiência, surge a tríade clássica da pelagra: dermatite,
demência e diarreia.
● Demência: depressão, desorientação, insônia e delirium. A anatomia
● Dermatite: pode se desenvolver abrupta ou insidiosamente, mas patológica mostra degeneração e desmielinização celular.
geralmente é desencadeada pela exposição solar. Inicia-se como uma Crianças pequenas e lactentes raramente desenvolvem o quadro completo
queimadura de sol, com eritema de superfícies expostas (Figura 17). de pelagra. Geralmente os sintomas gerais predominam: anorexia,
Podem aparecer vesículas e bolhas. Essas lesões cicatrizam, descamam e irritabilidade ou apatia. Diarreia e constipação podem alternar.
deixam a pele subjacente hiperpigmentada. É também muito comum a
localização em “botas”, em “luvas” e ao redor do pescoço (colar de Casal
– Figura 18). Podem estar associadas à glossite e à estomatite. CAUSAS
Histologicamente, são verificados edema e degeneração do colágeno da
A deficiência de niacina é rara atualmente, mas podemos destacar algumas
derme, infiltração linfocítica perivascular e hiperceratose da epiderme.
situações que predispõem a sua carência. Nos países em que a base da
● Diarreia: existe um espessamento e uma inflamação da parede do cólon; alimentação é o milho, pode ocorrer a deficiência dessa vitamina, haja vista
a mucosa está atrofiada e recoberta por uma pseudomembrana. o baixo teor de triptofano neste alimento. Além disso, a isoniazida também
interfere no seu metabolismo. Os pacientes com doença de Hartnup, em que
há um defeito congênito no transportador de triptofano a nível intestinal e
túbulos renais, manifestam sintomas típicos da pelagra.
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
É feito com 50-300 mg/dia via oral de nicotinamida ou 100 mg intravenosa Neonatos que iniciam crises convulsivas nos primeiros dez dias de vida,
para os casos mais graves. Outras vitaminas do complexo B deverão ser precedidas de hiperexcitabilidade e hiperacusia, em que os distúrbios
repostas. A exposição ao sol deverá ser evitada. etiológicos mais frequentes (cálcio, glicemia e infecção) foram descartados,
devem ser tratados empiricamente com piridoxina 10-100 mg intravenosa.
Ocorre melhora eletroencefalográfica imediata. Essas crianças são então
TOXICIDADE
classificadas como portadoras de epilepsia dependente de piridoxina,
A administração de grandes doses de ácido nicotínico através de doença pertencente ao imenso grupo dos erros inatos do metabolismo. Há
suplementos farmacológicos poderá causar sensação de queimação e flush outras condições metabólicas com boa resposta a altas doses de B6, como a
homocistinúria, cistationúria e algumas acidúrias orgânicas.
eritematoso na face, nos braços e no tórax. Outros efeitos adversos raros são
a icterícia colestática e a hepatotoxicidade.
CAUSAS
VIDEO_21_PED3
Dietas vegetarianas restritas, o uso de certas medicações (ex.: isoniazida,
penicilamina, corticoides, anticonvulsivantes, contraceptivos hormonais) e
diálise são algumas das situações que podem levar à deficiência de B6.
ÁCIDO PANTOTÊNICO (B5)
Lactentes de mães que receberam grandes quantidades de piridoxina (por
A vitamina B5 é amplamente encontrada em diversos alimentos e sua exemplo, para controle dos vômitos) durante a gestação podem apresentar
carência isolada é muito rara. Participa das reações do ciclo de Krebs como crise convulsiva em virtude da dependência desta vitamina.
precursor da coenzima A (CoA) para liberação de energia celular, bem
como da síntese de aminoácidos, ácido graxos, hormônios esteroides e
DIAGNÓSTICO
hemoglobina. As necessidades diárias de vitamina B5 são de 1,7 a 3 mg/dia
em lactentes e 4 a 10 mg/dia em crianças maiores, adolescentes e adultos. A medição da atividade eritrocitária das transaminases oxaloacético
glutâmica e pirúvico glutâmica está baixa na carência de B6. Outro
O quadro clínico é considerado inespecífico: cefaleia; irritabilidade; insônia; indicador é a dosagem sérica do piridoxal fosfato.
lesões descamativas de mucosa; emagrecimento e distúrbios de
crescimento. Laboratorialmente, pode-se solicitar a dosagem do ácido
TRATAMENTO
pantotênico sérico e urinário.
O tetra-hidrofolato participa das reações de síntese de DNA e da conversão DEFICIÊNCIA DE FOLATO CEREBRAL
da homocisteína a metionina. Por isso, seu requerimento é elevado nos
Autoanticorpos de alta afinidade contra o receptor de ácido fólico no plexo
tecidos de alto metabolismo e crescimento.
coroide impedem que este cofator penetre no sistema liquórico. A doença
manifesta-se em torno de 4-6 meses com: irritabilidade; microcefalia; atraso
CAUSAS no desenvolvimento neuropsicomotor; ataxia; piramidalismo; coreoatetose;
balismo e convulsões. Pode ocorrer cegueira por atrofia do nervo óptico. Os
INGESTÃO INADEQUADA níveis séricos e eritrocitários de tetra-hidrofolato são normais, em contraste
com sua baixa concentração no liquor. O tratamento com ácido folínico
Condições de rápido crescimento tecidual (ex.: gravidez e lactância),
aumento do turnover celular e metabolismo (ex.: psoríase, pode melhorar os sintomas.
Doenças que cursam com diarreia crônica, síndromes disabsortivas, doença CIANOCOBALAMINA (B12)
inflamatória intestinal e alcoolismo prejudicam a atividade da folato
FONTES ALIMENTARES
conjugase e, consequentemente, a absorção intestinal de folato.
● Fontes animais: a vitamina B12 está presente principalmente em
CLÍNICA E LABORATÓRIO
5. Receptores ileais de B12-FI. A deficiência de TC II é uma rara causa de carência de B12. É uma doença
de herança autossômica recessiva, que se manifesta precocemente, nas
Logo, quaisquer doenças ou condições que interfiram em uma dessas etapas primeiras semanas de vida. Caracteriza-se por dificuldade de ganho
provocará a deficiência da vitamina, conforme veremos a seguir. ponderal, vômitos, diarreia, glossite, anemia megaloblástica e alterações
neurológicas. Se não tratada, evolui para o óbito. Os níveis de TC I, III e
folato estão normais. O diagnóstico é estabelecido através de testes
A vitamina B12 participa das reações de conversão de homocisteína em
específicos para TC II. O tratamento é feito com doses grandes de B12,
metionina e metiltetra-hidrofolato para tetra-hidrofolato, influenciando
administradas duas vezes por semana, com o objetivo de ultrapassar a
desta forma a síntese de DNA.
deficiência de transporte.
INGESTÃO INADEQUADA são: infecção pelo H. pylori; uso de omeprazol levando à redução da acidez
gástrica e consequente diminuição da liberação da B12 das proteínas da
Como a vitamina B12 encontra-se amplamente distribuída nos alimentos, dieta; o uso de metformina leva à diminuição da absorção de B12 em 10 a
apenas vegetarianos estritos e naturalistas que não consomem qualquer 30% das pessoas que a utilizam, provavelmente por um mecanismo de
produto de origem animal desenvolvem esta deficiência vitamínica. Tanto antagonismo cálcio-dependente, que é revertido com a suplementação oral
que a carência de B12 não é comum nem no marasmo nem no kwashiorkor. deste mineral.
anticorpos anti-FI e anticélulas parietais, e nem as alterações imunológicas de reticulócitos é de normal a baixa. Neutropenia e plaquetopenia ocorrem
(ex.: candidíase cutânea) e endócrinas (ex.: hipoparatireoidismo). em casos avançados. O aspirado de medula óssea revela hiperplasia
eritroide megaloblástica e metamielócitos gigantes.
ABSORÇÃO DEFICIENTE
Os níveis de cobalamina estão reduzidos. A faixa considerada normal é ALTERAÇÕES ESQUELÉTICAS
maior que 300 pg/ml. Níveis < 200 pg/ml sugerem fortemente o diagnóstico
Existe um aumento da osteoporose na carência de B12, com risco elevado
de carência de B12. Após a cobalamina ser absorvida ao nível do íleo distal,
de fratura de quadril e coluna por supressão da atividade dos osteoblastos.
ela é transportada no plasma através de ligação com proteínas
(transcobalamina) até os órgãos. Na célula, a cobalamina participa de suas
reações químicas fundamentais: 1) participa como cofator da metionina- TRATAMENTO
sintetase, enzima que transforma o folato (MTHF) em sua forma ativa
(THF). Logo, a carência de B12 leva também a uma carência de folato. O tratamento de anemia perniciosa é feito com 100-1.000 mcg de
Nesta mesma reação é também formada a metionina a partir da cianocobalamina IM todos os dias, durante uma semana, seguido de 100-
homocisteína. Por isso, tanto na carência de folato, quanto na 1.000 mcg IM por semana durante um mês; e em caso de persistência, 100-
carência de b12, os níveis séricos de homocisteína estão 1.000 mcg IM por mês por toda a vida. É importante ressaltar que reações
elevados; 2) a segunda reação catalisada pela cobalamina é a anafiláticas são raras, mas podem ocorrer com a administração da vitamina
B12. Alguns estudos mostram que a administração da vitamina por via oral
transformação do metil-malonil-CoA em succinil-CoA. Por isso, apenas
é tão eficaz quanto a forma intramuscular. A resposta ao tratamento é
na deficiência de b12, os níveis séricos de ácido metilmalônico
rápida, verificando-se aumento dos reticulócitos dois a quatro dias após
estão elevados.
iniciado o tratamento.
ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS
ALTERAÇÕES CUTÂNEO-MUCOSAS
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ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS
ALTERAÇÕES HEMATOPOIÉTICAS
Pode ocorrer anemia por carência de ferro e folato, pois, como vimos, a
vitamina C participa da facilitação da absorção intestinal de ferro e da
conversão do ácido fólico em sua forma ativa.
DIAGNÓSTICO
VITAMINA D
FONTES
METABOLISMO
MECANISMO DE AÇÃO
A 1,25(OH)2D3 (calcitriol) possui receptores dentro do núcleo celular, OUTRAS CAUSAS
influenciando a síntese de RNAm e, portanto, a produção de proteínas
ligadoras de cálcio nas células dos seus órgãos-alvo. As principais funções Outras causas incluem o uso de alguns medicamentos (anticonvulsivantes,
Mecanismos Exemplos
cartilaginoso, que será futuramente substituído por tecido ósseo. Na porção Diminuição da síntese cutânea. ● Exposição solar adequada.
mais externa do mesênquima surgem fibroblastos produtores de colágeno
● Pele escura.
que têm por função aumentar a matriz cartilaginosa. Ao lado desse
crescimento, os condrócitos sofrem hiperplasia e hipertrofia, e a cartilagem ● Protetor solar.
cresce em comprimento e largura. ● Roupas que cubram quase
todo corpo.
Os condrócitos localizados na porção mais central da matriz passam a ● Poluição atmosférica.
sintetizar fosfatase, e com isto tem-se o início da mineralização. A
cartilagem calcificada leva os condrócitos à morte, gerando cavidades ● Latitude.
vazias em seu interior, que são rapidamente invadidas por capilares, Diminuição da ingesta. ● Aleitamento materno
osteoblastos e osteócitos. Ao mesmo tempo, os condrócitos e condroblastos exclusivo.
localizados mais externamente continuam proliferando. As células da
● Lactentes que ingerem
camada interna do pericôndrio conservam a sua capacidade de se diferenciar
menos de 1 litro/dia de
em condroblastos e condrócitos, fato este que permite a regeneração óssea
fórmula láctea fortificada com
após uma fratura.
vitamina D.
EXAMES COMPLEMENTARES
DEFICIÊNCIA NUTRICIONAL DE VITAMINA D
TRATAMENTO
DEFICIÊNCIA NUTRICIONAL DE VITAMINA D
O tratamento deve ser indicado para todos os indivíduos com a deficiência ● Náuseas, vômitos, dor abdominal, constipação, anorexia e pancreatite;
da vitamina, ainda que assintomáticos. O tratamento deve ser feito com a
● Hipertensão e arritmias (redução do intervalo QT);
reposição de colecalciferol que é um metabólito mais ativo do que o
ergocalciferol ou vitamina D2. Os esquemas variam conforme a referência ● Letargia, confusão, alucinações e coma;
utilizada, mas a Tabela 21 traz uma ideia de como isso pode ser feito. ● Poliúria, desidratação;
● Hipernatremia;
● Nefrolitíase e nefrocalcinose.
Na hipovitaminose D, a suplementação de cálcio é recomendada nos 4. Bifosfonados, que atuam inibindo os osteoclastos e, com isto, reduzem a
pacientes com diagnóstico de raquitismo, ou naqueles nos quais a ingestão reabsorção óssea;
de cálcio for insuficiente.
5. Eliminar qualquer fonte de vitamina D e reduzir a ingestão diária de
cálcio.
PREVENÇÃO
O efeito central da hipervitaminose D é a hipercalcemia, cuja fisiopatologia Essa doença é herdada de modo autossômico recessivo, e produz um deficit
parece estar relacionada ao aumento da reabsorção óssea de cálcio. As de absorção de lipídios a nível intestinal, por estar praticamente ausente a
manifestações clínicas são muito variadas: proteína Apo B-100. Cursa com baixíssimos níveis de colesterol e VLDL
séricos laboratorialmente, e clinicamente com deficiência de vitamina E.
Os prematuros também formam um grupo bastante vulnerável a essa
PROGNÓSTICO
deficiência. Os fundamentos fisiopatológicos que explicam tal
suscetibilidade são a grande transferência placentária de vitamina E que A anemia hemolítica responde bem à suplementação com vitamina E. Por
ocorre no terceiro trimestre gestacional, o oferecimento de fórmulas infantis outro lado, as anormalidades neurológicas podem não obter resolução,
ricas com alto teor de ácidos graxos poli-insaturados, que deixam a especialmente se a terapêutica for postergada. De qualquer modo, a
membrana do eritrócito mais sensível aos efeitos da oxidação, e a administração vitamínica previne a progressão da doença.
suplementação agressiva do sulfato ferroso, mineral que também aumenta a
produção de radicais livres.
HIPERVITAMINOSE E
HEMÓLISE VITAMINA K
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
TRATAMENTO
● Uso prolongado de antibióticos: levando a uma redução da flora ● Bebês com idade gestacional > 32 semanas e > 1.000 g: 1 mg
bacteriana intestinal e consequente diminuição da produção endógena da IM ou EV;
vitamina K. É o que frequentemente acontece durante internações ● Bebês com < 32 semanas e > 1.000 g: 0,5 mg IM;
prolongadas em UTI pediátricas.
● Bebês com < 1.000 g, independentemente da idade
gestacional: 0,3 mg IM.
CLÍNICA
Essa medida simples e eficaz tem se revestido em substancial redução nas
DOENÇA HEMORRÁGICA DO RECÉM-NASCIDO
taxas da doença no período perinatal.
Existem três formas da doença, a saber:
incorpora na molécula de tireoglobulina, que é sintetizada pela própria para o sistema imunológico. É componente de enzimas como a DNA-
polimerase e a RNA-sintetase. Podemos destacar outros sistemas
glândula. A produção de T3 e T4 é feita mediante proteólise desta
enzimáticos nos quais tem importante função: anidrase carbônica, fosfatase
macromolécula sob estímulo do TSH.
alcalina, desidrogenases e carboxipeptidades.
CLÍNICA
CAUSAS
A deficiência de iodo acarreta a formação do bócio, que é o aumento no
tamanho da tireoide em resposta ao estímulo produzido pelo TSH, que Dietas inapropriadas, doença de Crohn, anemia falciforme, doenças
hepáticas e renais são algumas entidades nosológicas associadas à
acontece quando os níveis de T3 e T4 caem. É, portanto, uma tentativa do
deficiência de zinco. Gostaria, neste momento, de chamar atenção para uma
organismo em compensar o deficit de hormônios tireoidianos.
condição chamada acrodermatite enteropática (Figura 27). Esta é uma
doença genética, autossômica recessiva, caracterizada por uma ineficaz
Inicialmente, o bócio é difuso, com aumento homogêneo de todos os
absorção de zinco intestinal. Os sintomas se iniciam no primeiro mês de
folículos. Em adultos, entretanto, algumas células foliculares sofrem
vida em bebês sob aleitamento materno ou uso de leite de vaca. As lesões
mutação: passam a proliferar mais do que outras, independente do estímulo
cutâneas podem ser do tipo vesicobolhosas, eczematosas, secas ou
do TSH, e tem-se o desenvolvimento do bócio nodular. Em alguns casos,
psoriaziformes, de distribuição simétrica em regiões perioral, perineal,
esses folículos TSH-independentes podem até mesmo desencadear um
bochechas, cotovelos, joelhos e tornozelos. Os cabelos têm uma coloração
hipertireoidismo, se a carência de iodo não for muito grave.
avermelhada e locais de alopecia são comuns.
EXAMES COMPLEMENTARES
PREVENÇÃO
ZINCO
FONTES ALIMENTARES
MECANISMO DE AÇÃO
CAUSAS
● Pele: hipopigmentação.
CLÍNICA
LABORATÓRIO
A deficiência de zinco está associada a:
Baixos níveis de cobre sérico e ceruloplasmina.
● Sistema imune: atrofia do tecido linfoide, diminuição da resposta à
hipersensibilidade cutânea retardada; diminuição de pool de células
produtoras de anticorpos e linfócitos natural killer; SELÊNIO
● Sistema endócrino: retardo de crescimento e hipogonadismo
FONTES ALIMENTARES
hipogonadotrófico com redução da espermatogênese;
É um mineral não metálico que se encontra ligado à cisteína em alimentos
● Epitélios: alopecia, dermatite bolhosa e diarreia crônica.
de origem animal (carnes e frutos do mar) e à metionina em alimentos de
origem vegetal (castanhas em geral, especialmente a castanha-do-pará).
TRATAMENTO
CAUSAS
A deficiência de selênio pode ocorrer em pacientes renais crônicos em Podem ser dosados os níveis séricos de selênio que refletem os estoques
hemodiálise prolongada, em uso de nutrição parenteral prolongada e em uso recentes ou o selênio eritrocitário, que reflete os estoques de longo prazo.
de fórmulas à base da proteína da soja.
CLÍNICA