Recurso em Sentido Estrito
Recurso em Sentido Estrito
Recurso em Sentido Estrito
• Atenção: O RESE não é cabível de toda e qualquer decisão interlocutória, mas tão
somente das decisões interlocutórias previstas no art. 581 do CPP.
Art. 593, § 4o Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso
em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra.
Poderá, portanto, ocorrer uma situação na qual uma das hipóteses de cabimento
previstas no rol do art. 581 seja objeto de decisão dentro de uma sentença
(condenatória ou absolutória). Nesses casos, não será cabível o RESE, mas sim o
recurso de apelação, pois, como já vimos, este último é o recurso utilizado para
atacar sentença.
Com uma breve leitura do art. 581 já se percebe que muitas das decisões ali
previstas são de competência do juízo das execuções penais. Ocorre, contudo,
que essas hipóteses estão tacitamente revogadas pela Lei n.º 7.210/84 (Lei de
Execução Penal – LEP).
Deste modo, como a LEP é posterior ao CPP, as decisões previstas no art. 581, de
competência do juiz das execuções penais, não são mais atacadas por RESE, mas
sim por agravo em execução.
Houve, portanto, a revogação tácita dos seguintes incisos do art. 581: XI, XII, XVII,
XIX, XX, XXI, XXII, XXIII e XXIV.
Recomendamos que você passe, de modo sutil, um traço sobre esses dispositivos
em seu Vade Mecum.
Já vimos que o RESE é cabível das hipóteses previstas no art. 581 do CPP. Contudo,
vimos também que o RESE é residual em relação ao recurso de apelação, bem
como algumas hipóteses do art. 581 foram tacitamente revogadas e hoje são
atacadas por agravo em execução, em razão do advento do art. 197 da LEP.
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Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.
Dito isso, é possível dizer que existe uma espécie de regra para eliminar todas as
dúvidas acerca do real cabimento do RESE. Basta, para tanto, seguir a seguinte
lógica:
Entretanto, importante destacar que, até hoje, em todas as vezes que a FGV cobrou o
RESE, foi para atacar uma decisão de pronúncia (art. 581, inciso IV ). Assim, nessas
provas, a FGV sempre deixou evidente que a decisão a ser atacada seria a pronúncia2.
Vejamos:
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Atenção: a decisão de pronúncia é apenas uma dentre as decisões atacadas por RESE. E, embora a banca
tenha manifesta preferência pela pronúncia, nada impede que ela aborde outras hipóteses de cabimento.
tendo como base apenas os elementos fornecidos, elabore o recurso cabível e date-
o com o último dia do prazo para a interposição.
(31º Exame de Ordem) – (...) Os autos foram para conclusão, e foi proferida
decisão pronunciando o réu nos termos da denúncia. Pessoalmente intimado, o
Ministério Público se manteve inerte. A defesa técnica e Rômulo foram intimados
em 10 de março de 2020, uma terça-feira. Considerando apenas as informações
expostas, na condição de advogado(a) de Rômulo, apresente a peça jurídica
cabível, diferente de habeas corpus e embargos de declaração, apresentando
todas as teses jurídicas de direito material e direito processual cabíveis. A peça
deverá ser datada no último dia do prazo para interposição, considerando que de
segunda a sexta-feira são dias úteis em todo o país. (Valor: 5,00).
3. A PEÇA
3.1. COMPETÊNCIA
Trata-se de peça dupla. Portanto, a peça de interposição deve ser nomeada como
recurso em sentido estrito; e a peça de razões deve ser nomeada como razões do
recurso em sentido estrito.
O fundamento legal do RESE será o art. 581 do CPP, devendo sempre ser utilizado
um de seus incisos, de acordo com a decisão que será atacada.
3.4. TEMPESTIVIDADE
Além de datar a peça no fechamento com o último dia do prazo, a FGV passou a
atribuir pontuação, a partir do 35º Exame de Ordem, ao candidato que discorresse
acerca da tempestividade da peça.
Por isso, após o preâmbulo e antes do tópico dos fatos, abra um simples parágrafo
para expor que a peça está sendo juntada dentro do prazo legal (verifique o
modelo ao final deste material).
II) O RESE não será cabível da decisão que jugar procedente a exceção
de suspeição, por expressa determinação legal.
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Isso não impede, todavia, que essa decisão seja atacada por habeas corpus. Contudo, o HC nunca foi
cobrado na era FGV, em razão de sua abrangência. Assim, leve esse conhecimento para a sua prática
profissional, após aprovação no Exame de Ordem.
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Isso não impede, todavia, que essa decisão seja atacada por habeas corpus.
f) Inciso VII – Decisão que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor:
Trata-se, também, de decisão judicial. E, nesse sentido, as hipóteses de
quebra de fiança estão localizadas nos seguintes artigos do CPP, os quais
recomendamos a leitura: 327, 328 e 341.
g) Inciso VIII – Decisão que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo,
extinta a punibilidade: Lembre-se de que as causas extintivas da
punibilidade estão previstas no art. 107 do Código Penal, em um rol
exemplificativo. Atente-se também para o caráter residual do RESE, o qual
já estudamos no item 1.2 da presente aula.
k) Inciso XIV – Decisão que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir:
Trata-se da lista prevista no art. 426 do CPP, o qual também recomendamos
a leitura.
Todavia, quando esse recurso denegado for uma apelação, dessa decisão
caberá o RESE, com fundamento neste inciso.
Nesse sentido, o art. 28-A, §7º, do CPP5, estabelece que o juiz poderá recusar
a homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando
não for realizada a adequação a que se refere o §5º deste artigo.
• Atenção: Embora o rol do art. 581 do CPP seja taxativo, existem algumas hipóteses
de cabimento do RESE previstas fora do CPP. São três as decisões e a leitura dos
seguintes dispositivos é obrigatória:
• Atenção: As situações previstas nos incisos do art. 581 do CPP não são,
propriamente, as teses que você irá trabalhar, mas sim hipóteses de cabimento do
recurso, isto é, decisões que serão atacadas por RESE. Ocorre que, como já
mencionado, a tese principal do seu RESE provavelmente estará relacionada com
a hipótese de cabimento.
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Art. 28-A, § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou
quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
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Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da
ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público
ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da
permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. Parágrafo
único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do
Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo.
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Art. 6º Quando qualquer do povo provocar a iniciativa do Ministério Público, nos termos do Art. 27 do
Código do Processo Penal, para o processo tratado nesta lei, a representação, depois do registro pelo
distribuidor do juízo, será por este enviada, incontinenti, ao Promotor Público, para os fins legais.
Parágrafo único. Se a representação for arquivada, poderá o seu autor interpor recurso no sentido estrito.
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Art. 2º, III - Do despacho, concessivo ou denegatório, de prisão preventiva, ou de afastamento do cargo
do acusado, caberá recurso, em sentido estrito, para o Tribunal competente, no prazo de cinco dias, em
autos apartados. O recurso do despacho que decreta a prisão preventiva ou o afastamento do cargo terá
efeito suspensivo.
• Atenção: Conforme determina o inciso I do art. 581, da decisão que não recebe a
denúncia/queixa caberá o RESE. Excepcionalmente, contudo, se o processo estiver
tramitando nos Juizados Especiais Criminais, da decisão que rejeita a inicial
acusatória (denúncia/queixa-crime) não caberá o RESE, mas sim recurso de
apelação, conforme determina o art. 82 da Lei n.º 9.099/959.
3.6. PEDIDOS
Observe como esses pedidos são feitos no modelo ao final deste material.
3.7. PRAZO
Conforme determina o art. 586 do CPP, o prazo para interpor o recurso em sentido
estrito será de 5 (cinco) dias. Esse prazo deve ser utilizado tanto na peça de
interposição quanto na peça de razões. E isso deve ser feito porque, embora o
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Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser
julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede
do Juizado.
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Juízo de retratação: O juízo de retratação é um instituto peculiar do recurso em sentido estrito e
encontra previsão legal no art. 589 do CPP. Ele permite que o juiz reforme a própria decisão, sem que
seja necessário remeter o recurso interposto ao tribunal. É, basicamente, o juiz considerando os
argumentos da parte recorrente e reavaliando a sua decisão. E, para a sua prova de segunda fase, o juízo
de retratação é item a ser pontuado. Basta, para tanto, que na peça de interposição você escreva um
pequeno parágrafo requerendo que o juiz realize o juízo de retratação, nos moldes da peça modelo que
está no final deste material.
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Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois
dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe
parecerem necessários.
prazo da peça de razões seja de 2 (dois) dias (art. 588 do CPP), no Exame de Ordem
você está apresentando as duas peças juntas. Então, por lógica, deve haver
tempestividade em relação ao prazo da interposição (5 dias, pelo art. 586 do CPP).
4. CASO PRÁTICO
Jerusa, atrasada para importante compromisso profissional, dirige seu carro bastante
preocupada, mas respeitando os limites de velocidade. Em uma via de mão dupla, Jerusa
decide ultrapassar o carro à sua frente, o qual estava abaixo da velocidade permitida.
Para realizar a referida manobra, entretanto, Jerusa não liga a respectiva seta luminosa
sinalizadora do veículo e, no momento da ultrapassagem, vem a atingir Diogo,
motociclista que, em alta velocidade, conduzia sua moto no sentido oposto da via.
Não obstante a presteza no socorro que veio após o chamado da própria Jerusa e das
demais testemunhas, Diogo falece em razão dos ferimentos sofridos pela colisão.
Instaurado o respectivo inquérito policial, após o curso das investigações, o Ministério
Público decide oferecer denúncia contra Jerusa, imputando-lhe a prática do delito de
homicídio doloso simples, na modalidade dolo eventual (art. 121 c/c art. 18, inciso I,
parte final, ambos do Código Penal). Argumentou o ilustre membro do Parquet a
imprevisão de Jerusa acerca do resultado que poderia causar ao não ligar a seta do
veículo para realizar a ultrapassagem, além de não atentar para o trânsito em sentido
contrário.
A denúncia foi recebida pelo juiz competente e todos os atos processuais exigidos em
lei foram regularmente praticados. Finda a instrução probatória, o juiz competente, em
decisão devidamente fundamentada, decidiu pronunciar Jerusa pelo crime apontado na
inicial acusatória.