Broad Autism Phenotype Questionnaire - BAPQ-Br
Broad Autism Phenotype Questionnaire - BAPQ-Br
Broad Autism Phenotype Questionnaire - BAPQ-Br
Introdução
indivíduos com TEA são bastante heterogêneas no que se refere à gravidade dos
mais graves apresentam retardo mental e indivíduos com sintomas mais leves
um nível subclínico.
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Qualidades Psicométricas da versão brasileira da escala Broad Autism Phenotype Questionnaire (BAPQ-Br)
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estudos (Bolton et al., 1994; Piven et al., 1997; Bishop et al., 2004; Sasson et al., 2013).
características da amostra.
utilizaram entrevistas extensas sobre o histórico familiar (Bolton et al., 1994), estruturas
avaliação: o Autism Spectrum Quotient (AQ) (Baron-Cohen et al., 2001), que possui
versão para crianças, adolescentes e adultos, o Social Responsiveness Rating Scale - Adult
Version (SRS-A), possui também outra versão para avaliar crianças e adolescentes
autismo em amostras não clínicas (Baron-Cohen et al., 2001; Constantino et al., 2005).
consideram algumas diferenças relevantes entre os grupos clínico e não clínico. Por
em geral, não costumam apresentar movimentos motores repetitivos, assim como não
alterar a rota do trabalho, por exemplo (Piven e Sasson, 2014). Apesar de ambos os
presentes em indivíduos com TEA. Além desta vantagem, diferente dos outros
interna satisfatória para o escore total (alfa de cronbach superior a 0.70), porém, o AQ
foi menos confiável do que o BAPQ e SRS-A, visto que seus fatores apresentaram
estudo original (três dimensões). Porém, o mesmo não ocorreu com os outros dois
Ingersoll et al. (2011) sugeriu três ou quatro fatores. De acordo com os autores, o BAPQ
seria o melhor instrumento para avaliar o FAA, pois apresentou adequada consistência
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fatores, e comparar as médias dos escores entre os grupos de pais de crianças com
captar mais traços de autismo no grupo de pais de crianças com TEA do que nos outros
dois grupos.
Método
Participantes
Participaram deste estudo 327 indivíduos, sendo 122 homens (37,31%) e 205
mulheres (62,69%) com idade variando entre dezessete e setenta e três anos (Média=
34,11, DP= 11,29 anos). Destes, 64 (19,6 %) eram pais de crianças com TEA, 30 (9,2 %)
eram pais de crianças com síndrome de Down e 233 (71,2%) eram pessoas da
Infantil João Paulo II, instituição vinculada à Fundação Hospitalar do Estado de Minas
Down foram recrutados nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).
típico.
Tabela 1. Descritivas gerais
Table 1. General description
Escolaridade - n (%)
Primário Fundamental Médio Superior Pós-Graduação Não declararam
7 (2,1%) 18 (5,6) 99 (30,6) 167 (51,5) 33 (10,2) 3 (0,9)
Grupos - n (%)
População geral Pais (crianças com TEA) Pais (crianças com síndrome de Down)
233 (71,2%) 64 (19,6%) 30 (9,2%)
Instrumentos
Questionnaire) (Hurley et al., 2007): É uma escala do tipo likert, elaborada para avaliar
traços de autismo em adultos. É dividido em três fatores com 12 itens cada, sendo eles:
afirmativa se aplica a ele (ex: “Eu gosto de estar com outras pessoas”). As respostas
das duas versões (autorrelato e informante) é somada e é calculado uma média para
cada um dos três fatores e para o valor total. Alguns itens (1,3,7,9,12, 15, 16, 19, 21, 23,
25, 28, 30, 34, 36) apresentam escores invertidos. O BAPQ possui uma correlação
foi acima de 70% para todas as três subescalas e aproximadamente 80% para a
pontuação total do questionário (Hurley et al., 2007). Para evitar possíveis vieses, o
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Ampliado do Autismo.
pessoas fizeram a tradução para o português (um dos pesquisadores (LC) e uma
autores do instrumento (MP) e foram feitas algumas alterações até o momento em que
se percebeu que o questionário estava com o mesmo sentido que o original. Após esta
etapa, seis pais de indivíduos com TEA e cinco pessoas da população em geral
Autism Phenotype Questionnaire- Br, para evitar possíveis vieses de respostas, visto que
à síndrome é referida no título de forma bastante explícita. Porém, nesta pesquisa foi
informante.
Lidia de Lima Prata, Walter Camargos Junior, Maycoln Leôni Martins Teodoro, Fabio Lopes Rocha
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Procedimentos éticos
pais e mães de crianças com autismo infantil”. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
Livre e Esclarecido.
Resultados
A análise fatorial exploratória foi realizada com método dos Eixos principais
(Principal Axis Factoring) e rotação Oblimin. A solução para três fatores foi escolhida
apresentada na tabela 2.
Tabela 2. Cargas fatoriais, variância explicada e alfas de Cronbach para os escores da escala
BAPQ-Br (n = 328)
Table 2. Factorial loadings, explained variance, and Cronbach’s alpha for the BAPQ-Br scores
(n = 328)
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Fator
IS R LP
9. Eu gosto de estar em situações sociais 0,720 0,420
36. Eu gosto de bater papo com as pessoas 0,698
16. Eu gosto muito de situações em que posso conhecer novas pessoas 0,681 0,387
25. Eu sinto que estou realmente interagindo com as pessoas 0,680 0,256 0,286
1. Eu gosto de estar com outras pessoas 0,655 0,277
5. Eu prefiro conversar com as pessoas para pedir informação do que 0,587 0,335
para me relacionar socialmente
28. Sou caloroso e simpático nas minhas relações com os outros 0,583
31. Eu prefiro estar sozinho a estar com os outros 0,583 0,346
23. Eu sou bom em puxar conversa sobre assuntos do dia a dia 0,582
11. Eu tenho dificuldade de me entrosar com as pessoas nas conversas * 0,580 0,384
18. Quando participo de conversas é apenas por educação 0,570
12. As pessoas acham fácil se aproximar de mim 0,533
27. Conversas me entediam 0,526 0,303
7. Eu me sintonizo com a outra pessoa durante uma conversa * 0,517 0,321
11. Eu tenho dificuldade para me expressar com naturalidade (deixar 0,494 0,328
fluir)*
10. Eu tenho uma voz sem emoção ou monótona quando falo * 0,445 0,312
29. Eu deixo acontecer longas pausas em minhas conversas * 0,359 0,344
22. Eu tenho dificuldade para lidar com mudanças em minha rotina 0,281 0,654
24. Sou uma pessoa sistemática (tenho hábitos rígidos) 0,525
30. Eu altero a minha rotina diária experimentando coisas diferentes 0,506
26. As pessoas ficam frustradas com minha relutância em ser flexível 0,489 0,300
19. Gosto muito de experimentar coisas novas 0,345 0,486
13. Eu sinto uma grande necessidade de rotina no dia a dia 0,482
33. Eu gosto de seguir uma rotina rígida quando trabalho 0,478
8. Eu tenho que me adaptar à ideia de visitar um local desconhecido 0,319 0,453
6. As pessoas têm que me convencer a experimentar alguma coisa nova 0,447
35. Eu continuo a fazer as coisas da forma como sei, mesmo que de outra 0,384 0,318
maneira possa ser melhor
3. Eu fico à vontade com mudanças inesperadas de planos 0,274 0,377
15. Eu sou flexível em relação a como as coisas devem ser feitas 0,299
4. Eu tenho dificuldade em não me desviar do assunto nas conversas 0,297 0,433
34. Eu consigo perceber quando é hora de mudar de assunto nas 0,270 0,408
conversas
17. Já me disseram que eu falo demais sobre certos assuntos 0,408
32. Quando estou conversando com as pessoas eu me desvio do assunto 0,400
principal
14. As pessoas me pedem para eu repetir o que disse porque não me 0,339 0,378
entendem
20. Eu falo muito alto ou muito baixinho 0,307
21. Eu consigo reconhecer quando alguém não está interessado no que 0,292
eu estou dizendo
Alfa de Cronbach 0,882 0,772 0,720
% Variância explicada 20,40 5,24 4,38
Lidia de Lima Prata, Walter Camargos Junior, Maycoln Leôni Martins Teodoro, Fabio Lopes Rocha
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Nota: Análise fatorial com o método dos componentes principais (Principal Axis Factoring) e
rotação Oblimin. Foram apresentadas as cargas fatoriais maiores do que 0,20. As siglas entre
parêntesis representam o fator original do item no artigo de Hurley et al. (2007). (IS): Interesse
Social; (R): Rigidez; (LP): Linguagem Pragmática. * itens que pertenciam originalmente ao fator
Linguagem Pragmática
Note: Factor analysis with principal axis factoring and Oblimin rotation. Factorial loads greater
than 0.20 were presented. The acronyms in brackets represent the original factor of the item in
the article by Hurley et al. (2007). (IS): Social Interest/Aloof; (R): Rigidity; (LP): Pragmatic
Language. * Items that originally belonged to the Pragmatic Language factor.
com os fatores do estudo original, sendo que os itens dos fatores Interesse social e
foram divididos em três fatores, sendo 12 itens em cada um. Na versão brasileira, 5
fatorial superior no fator Interesse Social e também carga fatorial superior a 0,30 no
Rigidez 0,772; Linguagem Pragmática 0,720 e o alfa total da escala foi de 0,883. Foram
com Linguagem Pragmática (r= 0,63, p <0,001), Linguagem Pragmática com Rigidez
(r=0,44, p<0,001), e Rigidez com Interesse Social (r= 0,42, p<0,001). Todos os fatores
também apresentaram correlações positivas com o escore total (Interesse Social r=856,
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Qualidades Psicométricas da versão brasileira da escala Broad Autism Phenotype Questionnaire (BAPQ-Br)
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crianças com TEA, pais de crianças com síndrome de Down e pais de crianças com
Quanto mais alta a média, mais traços de autismo naquele fator. Os pais de
crianças com TEA apresentaram escores mais altos em todos os três fatores e também
no escore total. No fator Interesse Social, pais de crianças com TEA (PTEA)
apresentaram médias mais altas que pais de crianças típicas (PT) ou pais de crianças
Lidia de Lima Prata, Walter Camargos Junior, Maycoln Leôni Martins Teodoro, Fabio Lopes Rocha
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com síndrome de Down (PSD). Não houve diferença entre os grupos PT e PSD. No
fator Linguagem Pragmática, observa-se que não houve diferença entre os grupos
PTEA e PT, nem entre os grupos PT e PSD. Porém, o grupo PTEA apresentou médias
superiores que o grupo PSD. No fator Rigidez, observa-se que não houve diferença
significativa entre os grupos. No escore geral, não houve diferença entre os grupos
PTEA e PT, nem entre os grupos PT e PSD. Porém, o grupo PTEA apresentou médias
Discussão
al. 2007). Porém, pesquisadores de outros países também utilizaram este instrumento
em seus estudos. Em Israel, Seidman et al. (2012) realizaram uma comparação dos
escores entre pais e mães de crianças com autismo e seus resultados sugeriram que os
pais são mais retraídos socialmente que as mães, e as mães são mais rígidas que os pais.
Shi et al. (2015) verificaram que pais de crianças com TEA apresentaram mais
características de FAA que pais de crianças com desenvolvimento típico. Além disso,
verificaram correlação entre o FAA dos pais com as dificuldades sociais dos filhos. Na
pesquisas utilizaram os pontos de corte sugeridos pelos autores (Hurley et al., 2007;
também se dividiu em três domínios conforme a escala original (Hurley et al. 2007),
o mesmo não seja utilizado para avaliar o FAA. Já os outros dois domínios apresentam
Porém, no estudo original (Hurley et al., 2007) os 36 itens foram divididos em três
manteve no estudo de Ingersoll et al. (2011), mas não se manteve nos estudos de Sasson
do questionário.
com seus respectivos itens, e alguns itens do fator Linguagem Pragmática migraram
como nos estudos de Sasson et al. (2013) e Godoy-Gimenez et al. (2017) apresentaram
cargas fatoriais mais altas no fator Interesse Social, fazendo com que primeiramente, a
escala brasileira fosse dividida da seguinte forma: Interesse Social, 17 itens; Rigidez,
Lidia de Lima Prata, Walter Camargos Junior, Maycoln Leôni Martins Teodoro, Fabio Lopes Rocha
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como pode-se observar: item 2: “Eu tenho dificuldade para me expressar com
naturalidade (deixar fluir)”; item 7: “Eu me sintonizo com a outra pessoa durante uma
conversa”; item 10: “Eu tenho uma voz sem emoção ou monótona quando falo”;
item11: “Eu tenho dificuldade de me entrosar com as pessoas nas conversas”; item 29:
Visto que na versão brasileira alguns itens migraram de fator, a proposta inicial
resultado ficou confuso, visto que o fator 1 apresentava itens sobre interação social e
linguagem. Após identificar que os autores do instrumento optaram por não alterar a
tenham migrado para Interesse Social, optou-se por manter o instrumento brasileiro
segunda, uma pessoa próxima responde sobre o participante. Os itens são os mesmos,
muda-se somente o pronome (Exemplo: “Eu gosto de estar entre as pessoas”, muda
para “Ele gosta de estar entre as pessoas”). Os resultados são avaliados calculando-se
a média dos escores das duas versões. No estudo de Sasson et al. (2013) apesar de
alguns itens da versão de autorrelato terem apresentado cargas fatoriais mais altas em
outro fator, quando analisada a versão do informante, todos permaneceram nos seus
observou-se que os resultados foram bem semelhantes. Sendo assim, optou-se por não
de autismo, segundo o DSM-IV, eram divididos em três domínios, sendo eles, (1)
atividades (APA, 2002). O BAPQ foi elaborado baseando-se nessa tríade de sintomas.
pragmática se mistura com interesse social, novos estudos são necessários para
identificar se esta fusão ocorre por alguma falha do instrumento original, por erros no
objetivo verificar a média entre os grupos de pais. Os pais de crianças com TEA
apresentaram as médias mais altas em todos os três domínios, porém, não foi
que os pais de crianças com TEA tivessem médias significativamente mais altas que
pais de crianças típicas e pais de crianças com síndrome de Down, assim como não era
esperado diferença entre estes dois últimos subgrupos. O grupo de pais de crianças
com síndrome de Down foi selecionado para esta subamostra, devido ao estresse de
inclusão deste grupo para realizar comparações nos estudos de FAA em pais de
estatísticas entre os pais de crianças típicas e pais de crianças com TEA somente no
fator Interesse Social. Mas foi observada diferença entre os pais de crianças com TEA
e pais de crianças com síndrome de Down nos fatores Interesse Social e Linguagem
visto que este foi parcialmente capaz de captar a diferença entre os grupos e também
fator Linguagem Pragmática, e do fato de o instrumento não ter sido capaz de verificar
típicas e pais de crianças com TEA, os resultados deste estudo são promissores. Além
de ter se dividido em três fatores como no estudo original, a versão brasileira do BAPQ
instrumento poderá contribuir amplamente para as pesquisas sobre TEA, tanto nos
estudos sobre genética quanto nos estudos que avaliam o comportamento e perfis de
autores, ambas as versões são válidas, apesar do relato do informante ter apresentado
Além disso, consideramos uma limitação o fato de a seleção amostral ter sido por
conveniência.
para FAA fácil de ser aplicado, que poderá contribuir com o desenvolvimento de
Referências
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