Entheoria, TEXTO 04-15
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Ao passar dos anos, o homem construiu elos cada vez mais essenciais com as
máquinas e, em 1760, no início da Revolução Industrial, abandonou o nível artesanal da
produção e passou a desenvolve-la, em larga escala, com o auxílio do maquinismo.
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Bolsista do PIBIC/COPES (2021) - Projeto desenvolvido com bolsa de iniciação científica sob a orientação do
Professor Dr. Jean Paul d’Antony, com o seguinte Plano de Trabalho do bolsista “A inteligência artificial nas relações
pós- humanas: Possibilidades e conflitos no filme ELA (2013).
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Professor Doutor da UFS, lotado no DLI - Departamento de Letras de Itabaiana, coordenador do NUPELC - CNPq e
do Projeto de Pesquisa PIBIC/COPES (2021): ENTRE O HUMANO E O PÓS HUMANO: IDENTIDADES QUE SE
DESMANCHAM NO AR?
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Após esse período, avanços diversos no ramo da tecnologia foram concretizados mas,
somente na Belle Époque, o desenvolvimento tecnológico, científico e econômico foram
mais sentidos pela população das grandes cidades.
Atualmente, temos uma relação de intimidade tecnológica tão intensa que, do
amanhecer ao anoitecer, dependemos de recursos responsáveis por facilitar a realização
de tarefas simples, até aqueles capazes de substituir órgãos. Essa dependência trouxe
questionamentos acerca de até que ponto abandonamos nosso aspecto orgânico e
passamos a nos maquinizar. Para Donna Haraway (1985), estamos na era ciborgue, em
que a busca pela alta performance do corpo é requerida similarmente à das máquinas e,
portanto, somos impedidos de saber qual lugar ocupamos na linha tênue entre máquina
e ser humano.
A era do ciborgue é aqui e agora, onde quer que haja um carro, um
telefone ou um gravador de vídeo. Ser um ciborgue não tem a ver com
quantos bits de silício temos sob nossa pele ou com quantas próteses
nosso corpo contém. Tem a ver com o fato de Donna Haraway ir à
academia de ginástica, observar uma prateleira de alimentos
energéticos para bodybuilding, olhar as máquinas para malhação e
dar-se conta de que ela está em um lugar que não existiria sem a ideia
do corpo como uma máquina de alta performance (TADEU, 2009, p.
23).
Novas identidades
A busca pelo corpo performático estimula modificações incumbidas de nos
tornar melhores, de modo que, constantes mudanças e conciliações entre corpo e
tecnologia acarretam em questionamentos relativos ao efeito desse fenômeno sob
gêneros. A legitimidade dos ideais do feminismo radical, por exemplo, tem sido
continuamente rebatida no cenário atual considerando-se que a vertente pós-humana,
uma vez vinculada à tecnologia, consolida ampliações acerca de gênero. Isso porque,
com a teoria Queer da filósofa Judith Butler, as premissas limitadas acerca de masculino
e feminino foram dissipadas e, assim, os debates sobre a temática foram ampliados, a
exemplo das assertivas atuais que compreendem o gênero como construção social em
vez de mero fator biológico.
Observamos que nos próprios movimentos sociais e de gênero, acaba havendo
uma própria diferenciação das pessoas que ocupa esses espaços, ocorrendo assim uma
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Porém, um mundo de ciborgues acaba sendo visto por Haraway, como um lugar
em que todos se mantêm em harmonia que, independentemente da visão e opinião
plural dos seres, conseguem conviver com suas diferenças, avisto disso, com o avanço
da tecnologia, ver-se cada vez menos esses conflitos e segregações dentro de
movimentos sociais.
Por conta dessa visão utópica de Donna (1985), surgiu o grupo de artistas
feministas intitulado VNS Matrix nos anos 90, que foram responsáveis pelo lançamento
do primeiro Manifesto Ciberfeminista, que propunha uma aliança entre as mulheres e as
máquinas, objetivando a arte como resistência através do seu corpo. Não seu corpo
físico, e sim, textualmente virtual; questionando e radicalizando a imagem da mulher no
ciberespaço.
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Figura 1:
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Plano 1 Plano 2
Plano 3 Plano 4
Plano 5 Plano 6
Plano 7 Plano 8
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Por conta dessa influência sofrida por Samantha, ela vem com um ideal de
evolução e mudança constante – como propôs, Heráclito de Éfeso (540- 570 A.C)
quando disse que o homem não se banha duas vezes no mesmo rio. Portando, ela está
em constante evolução e cada vez autônoma, como salienta Haraway:
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Ver: FREUD, S. Além do princípio do prazer. In: edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. XVIII, 1985. LAPLANCHE, J. & PONTALIS, J.
B. Vocabulário da Psicanálise. Tradução de Pedro Tamen. São Paulo: Martins Fontes. 9º ed. 1986.
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Ela deixa a vida dele muito mais fácil, pelo fato dela o ouvir, o compreender, e ao
mesmo tempo, resolver boa parte dos seus problemas. Ideia muito comum em nossa
sociedade sobre o que se espera de uma esposa/namorada.
A conexão dos dois personagens é muito intensa e nos apresenta uma linha tênue
entre a tecnologia e o ser humano, dentro das construções sócio-afetivas e de uma
reeducação sentimental, uma vez que “para Haraway, as realidades da vida moderna
implicam uma relação tão íntima entre as pessoas e a tecnologia que não é mais possível
dizer onde nós acabamos e onde as máquinas começam” (KUNZRU, 2000, p. 22). Logo,
da mesma forma que os personagens, estamos tão conectados e entrelaçados a essa
convivência que não é possível saber onde começa e onde termina essa nossa relação
com as máquinas.
Por conta de tantas modificações, acaba ficando o questionamento do que seria
caracterizado a imagem do homem e do ciborgue, conforme Tadeu:
O que caracteriza o ser humano, será que pelo fato dele ser feito apenas de carne
e ossos, como um puramente biológico? O que significa esse puramente biológico?
Nesse sentido, o lado biológico não seria um empecilho, visto que o corpo acaba sendo
afetado pela tecnologia, a ponto da máquina fazer parte dos nossos membros, como
próteses, marca-passos eletrônicos, entre outros, para que possamos sobreviver, ter uma
melhor qualidade de vida e coexistir física e subjetivamente com a tecnologia, como
percebe-se que, no filme, Samantha acha uma semelhança entre ela e Theodore.
Plano 1 Plano 2
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Plano 3 Plano 4
Plano 5 Plano 6
Seguindo por esse pensamento, perceber-se que, por conta da Primeira Guerra,
os homens foram ao front de batalha e com isso a mão de obra diminui bastante; por
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outro lado a mulher deixou de ter aquela imagem de mãe/esposa, para assumir um papel
de protagonista no mercado de trabalho, ocupando espaços que não lhe pertenciam.
Esse marco foi importante para o avanço dos direitos das mulheres, porém, nos
dias atuais encontramos outro cenário com a tecnologia cada vez mais íntima em nossa
vida, o trabalho vem com uma proposta de ser cada vez mais flexível e, isso, acaba
sendo colocado como algo bom, mas na realidade só vai deixando o trabalhador
sobrecarregado, conforme mostra Judy Wajcman:
Não obstante, o efeito que a tecnologia causa no mercado de trabalho, não afeta
de maneira igual homens e mulheres; visto que, um dos primeiros locais a serem
afetados são os escritórios que são predominados pelo gênero feminino. Por esse fator, a
mulher tende a ficar cada vez mais sobrecarregada e, com isso, surgem problemas em
sua saúde por ficar horas em frente as telas dos computadores em esforços repetitivos.
Como bem exemplifica Wajcman:
Talvez seja esse um dos fatores no qual parte escritoras e pessoas ligadas ao
movimento feminista radical, terem uma linha de pensamento pessimista e até ante-
tecnológica pois, na visão de muitas delas, a tecnologia tende a beneficiar a classe
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“gorilas”, e também pelo fato de que carros automáticos tem mais chances de atropelar
pessoas negras, pois foram treinados para identificar pessoas brancas.
Portanto, diferentemente do que Chaplin fez no filme “Tempos Modernos” –
que trata do impacto das maquinas em nossas vidas – , outro viés que nos chama a
atenção no cenário da pós humanidade e que, de certo, desenvolveremos nas próximas
pesquisas, é o efeito que se causa na tecnologia com a influência de homens brancos em
altos cargos nos setores tecnológicos, com a exclusão das mulheres, sobrando a elas
apenas cargos de secretariado e deixando elas sobrecarregadas – mas também pessoas
negras que acabam sendo vítimas de algoritmos racistas, e como isso tudo contribui
para a manutenção do patriarcado no ambiente tecnológico.
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REFERÊNCIAS
FREUD, S. Além do princípio do prazer. In: edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. XVIII, 1985.
LAPLANCHE, J. & PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. Tradução de Pedro
Tamen. São Paulo: Martins Fontes. 9º ed. 1986.
HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz. Antropologia do Ciborgue: As
vertentes do pós-humano. Edt. Autêntica, 2009. 2 edição.
RUDIGER, Francisco. Cibercultura e pós humanismo. Porto alegre. Edipucs. 2008. 1
edição.
WAJCAMN, Judy. GERENCIAMENTO como um homem: mulheres e homens na
gestão corporativa. Edt. Polity Press, 1998. 1 edição.
GAZIRE, Marina. CIBERFEMINISMO: Novos discursos do feminino nas redes
eletrônicas. 2009. Dissertação (MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA) -
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009.
POR QUE as mulheres ainda são minoria na TI?. Canal Tech, 8 mar. 2015. Disponível
em: canaltech.com.br/carreira/Por-que-as-mulheres-ainda-sao-minoria-na-TI
WOMAN Art House: VNS Matrix. Plataforma de arte contemporâneo, 1 jan. 2021.
Disponível em: https://www.plataformadeartecontemporaneo.com/pac/woman-art-
house-vns-matrix/.
REFERÊNCIA DE ILUSTRAÇÃO
The Guardian, 1 jul. 2015. Disponível em:
https://www.theguardian.com/technology/2015/jul/01/google-sorry-racist-auto-tag-
photo-app.
REFERÊNCIA FÍLMICA
Jonze, S. (Diretor). (2013). Her [DVD]. Burbank, CA: Warner Bros.
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