Arnaldo Santos Leite
Arnaldo Santos Leite
Arnaldo Santos Leite
FACULDADE DE MEDICINA
Belo Horizonte
2009
ARNALDO SANTOS LEITE
Belo Horizonte
2009
Leite, Arnaldo Santos.
Morbidade e mortalidade de pacientes com choque séptico tratados com
L533m noradrenalina [manuscrito]; estudo multicêntrico . / Arnaldo Santos Leite.
- - Belo Horizonte: 2009.
153f.: il.
Orientador: José Carlos Serufo.
Área de concentração: Infectologia e Medicina Tropical.
Tese (doutorado): Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de
Medicina.
REITOR
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
PRÓ-REITOR DE PESQUISA
de minha vida:
minha mãe,
D. Maria;
minha esposa,
Ana Margarida;
e minha filha,
Ana Sophia.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. José Carlos Serufo, grande sábio, cujas lições extrapolaram o
ambiente acadêmico, agradeço profundamente o privilégio da boa convivência de
vários anos.
Aos grandes parceiros do trabalho, Dr. Carlito Rodrigues Fiebig, Dr. Celso
Renato Resende Silva, Dr. Hugo Corrêa Andrade Urbano, Dr. José Carlos
Versiani, Dr. Marco Antônio Soares Reis e Dr. Saulo Fernandes Saturnino,
coordenadores das UTIs dos hospitais participantes, cuja abnegação permitiram
a condução de trabalho tão longo e cansativo.
“A ciência não pode
Só pode prever
César Lattes
RESUMO
Among patients admitted into intensive care units (ICU), 9% present septic
shock. More than 50% of them die. The implementation of rapid treatment is
essential, with immediate usage of antibiotics, infectious focus elimination, if
applicable, and supportive treatment. First, the supportive treatment is based in
fluid resuscitation and the use of vasopressors. Other measures such as artificial
ventilation, nutrition, inotropic support, glucose control, corrections of electrolytic
and acid-basic imbalance are also essential for the patient’s recovery.
Norepinephrine has been the vasopressor of choice, used frequently above usual
doses. The aim of this study was to evaluate the morbidity and mortality of
patients with septic shock who used norepinephrine. The importance of other
intervening variables in the outcome of septic shock patients was also analyzed.
We enclosed 289 septic shock patients admitted in the ICUs of seven hospitals of
Minas Gerais between May 1 s t , 2004 and December 31 s t , 2005 who used
norepinephrine. The patients were followed everyday until the patient’s
discharge. It was possible to identify the site of infection in 93.4% (270/289) of
studied patients: lung (54.3%), abdomen (24.6%), urinary tract (6.6%), skin and
soft tissue (3.1%) and others (4.8%). In 6.6% of patients it was not possible to
identify the site of infection. The median of the index of APACHE II was 16.
Among the 289 patients, the ICU mortality was 68.9%. All the 65 patients who
used norepinephrine above 2.37 µg/kg/min died before being discharged from
ICU. W hen the patients were compared, the group which used higher doses of
norepinephrine used pulmonary artery catheter and intra-arterial catheter more
often, received more frequently artificial ventilation, dobutamine and midazolam,
had a higher APACHE II index, used higher dose and more time of dobutamine,
with lower time of use of central venous pressure monitoring and artificial
ventilation. W hen the different cut-off points of maximum dose of norepinephrine
are compared, a statistical difference in ICU mortality was also observed. The
maximum dose of norepinephrine among patients who survived in the ICU was
2.37 µg/kg/min. Among the nonsurvivors, norepinephrine was used until the dose
of 14.5 µg/kg/min. Also, the nonsurvivors had a higher APACHE II index, were
submitted to hemodialysis, intra-arterial catheter monitoring and artificial
ventilation more often, received a higher dose of dobutamine and developed
more often acute renal failure. This study showed that age, sex, hospital, site of
infection, use of corticoids, dopamine, dobutamine, fentanyl, midazolam, number
of co-morbidities, dose of dopamine, duration of norepinephrine use and
implement of haemodynamic monitoring were not associated with ICU mortality in
septic shock patients. The APACHE II index, the dose of norepinephrine and the
development of an acute renal failure were independently associated to a higher
ICU mortality rate. In this sample, the norepinephrine dose was a marker for ICU
mortality. Norepinephrine dose above 0,785 µg/kg/min pointed to bad outcome
and above 2.37 µg/kg/min did not show benefit because the ICU mortality in this
last group was 100%.
ACCP/SCCM American College of Chest Physicians and the Society of Critical Care
Medicine
APACHE Acute Physiology and Chronic Health Evaluation
CAP Cateter de artéria pulmonar
CS Choque séptico
CTI Centro de Tratamento Intensivo
CVP Central venous pressure
D.P. Desvio padrão
FC freqüência cardíaca
FiO 2 Fração inspirada de oxigênio
HPM Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais
ICU Intensive Care Unity
Irpm incursões respiratórias por minuto
mmHg milímetros de mercúrio
MODS Síndrome da Disfunção de Múltiplos Órgãos
MPM Mortality Probability Model
O2 Oxigênio
P25-75 Intervalo interquartil
PA Pressão arterial
PAM Pressão arterial média
PaO 2 pressão parcial de oxigênio arterial
PIA pressão intra-arterial
PTI púrpura trombocitopênica idiopática
PVC pressão venosa central
PW AP pressão capilar pulmonar
ROC Receiver Operating Characteristic
SAPS Simplified Acute Physiology Score
SIDA síndrome da imunodeficiência adquirida
SIRS Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
SNC Sistema Nervoso Central
SOFA Sepsis-related Organ Failure Assessment
SUPPORT Study to understand prognoses and preferences for outcomes and risks of
treatments
SUS Sistema Único de Saúde
UTI Unidade de Tratamento Intensivo
UTIs Unidades de Tratamento Intensivo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................15
2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................18
2.1 Introdução à sepse e ao choque séptico...............................................18
2.2 Nomenclatura......................................................................................18
2.3 Epidemiologia da sepse e do choque séptico........................................23
2.4 Etiologia da sepse...............................................................................24
2.4.1 Agentes microbianos...........................................................................24
2.4.2 Sítios de infecção................................................................................25
2.5 Fisiopatologia da sepse e do choque séptico........................................26
2.5.1 Difunção orgânica na sepse.................................................................28
2.5.2 Desempenho cardiovascular no choque séptico....................................30
2.5.3 Oferta de oxigênio na sepse................................................................31
2.6 Abordagem da sepse e do choque séptico............................................31
2.6.1 Diagnóstico e tratamento da infecção...................................................33
2.6.2 Expansão volêmica na sepse e no choque séptico................................35
2.6.3 Drogas vasoativas no choque séptico...................................................35
2.7 Noradrenalina no choque séptico.........................................................40
2.7.1 Efeito da noradrenalina no choque séptico............................................41
2.7.2 Noradrenalina e transporte de oxigênio................................................43
2.7.3 Noradrenalina e função renal...............................................................44
2.7.4 Titulação da dose de noradrenalina......................................................45
2.7.5 O problema da dose de noradrenalina..................................................46
2.8 Outras drogas vasoativas no choque séptico........................................48
2.8.1 Adrenalina..........................................................................................48
2.8.2 Dopamina...........................................................................................49
2.8.3 Dobutamina.........................................................................................50
2.8.4 Dopexamina........................................................................................51
2.8.5 Inibidores da fosfodiesterase...............................................................52
2.8.6 Vasopressina......................................................................................52
2.8.7 Outras drogas vasoativas....................................................................54
2.9 Qual o melhor vasopressor no choque séptico? ...................................55
2.10 Outras terapêuticas na sepse e no choque séptico................................59
2.11 Prognóstico da sepse e do choque séptico............................................60
2.11.1 Índices de prognóstico.........................................................................62
2.11.2 Limite de esforço terapêutico...............................................................65
3 OBJETIVOS........................................................................................67
3.1 Objetivo geral......................................................................................67
3.2 Objetivos específicos...........................................................................67
4 PACIENTES E MÉTODOS....................................................................68
4.1 Desenho do estudo..............................................................................68
4.2 Cálculo do tamanho da amostra............................................................68
4.3 Critérios de inclusão.............................................................................69
4.4 Critérios de exclusão............................................................................69
4.5 Critérios de perda................................................................................70
4.6 População estudada.............................................................................70
4.7 Variáveis estudadas.............................................................................72
4.8 Locais de desenvolvimento do estudo...................................................73
4.9 Coleta de dados...................................................................................75
4.10 Análise dos resultados.........................................................................76
4.11 Pesquisa bibliográfica..........................................................................78
4.12 Considerações éticas..........................................................................79
5 RESULTADOS.....................................................................................80
5.1 Caracterização dos pacientes...............................................................80
5.2 Caracterização do emprego de noradrenalina e outras drogas vasoativas..
.....................................................................................................................85
5.3 Mortalidade de acordo com as doses de noradrenalina...........................86
5.4 Complicações e mortalidade hospitalar de acordo com a dose de
noradrenalina utilizada durante o tratamento intensivo.....................................87
5.5 Associação entre variáveis clínicas e o tempo de uso de noradrenalina..89
5.6 Associação entre variáveis clínicas e a utilização de diferentes doses de
noradrenalina................................................................................................90
5.7 Associação entre variáveis clínicas e mortalidade...................................92
5.8 Fatores associados ao tempo até ocorrência do óbito.............................96
5.9 Valor preditivo da dose de noradrenalina como marcador de mortalidade em
pacientes com choque séptico........................................................................99
7 LIMITAÇÕES DO ESTUDO...................................................................133
8 CONCLUSÕES....................................................................................136
9 PROPOSIÇÕES...................................................................................138
REFERÊNCIAS....................................................................................140
APÊNDICES........................................................................................147
APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido ..................147
APÊNDICE B – Protocolo de coleta de dados........................................148
APÊNDICE C – Protocolo para verificação de dose de medicamentos de
infusão contínua..........................................................................................151
APÊNDICE D – Protocolo para verificação do balanço
hídrico.........................................................................................................152
1 INTRODUÇÃO
O choque sépt ico, a instância mais grave da sepse, é def inido como estado
de hipoperf usão e/ou disf unção orgânica causado por agente inf eccioso, que
cursa com hipotensão ref ratária a expansão volêmica adequada e conduz à
necessidade de agentes vasopr essores (ACCP/SCCM, 1992; BONE;
SIBBALD; SPRUNG, 1992; MUCKART; BHAGW ANJEE, 1997).
A exist ência de doentes com choque sépt ico ref ratário às medidas inst ituídas
que necessitam de doses progressivas de aminas vasoativas, é freqüente na
rotina do intensivist a. Em algumas situações, a inf usão de vasopressores é
aumentada indef inidamente, no af ã de se evitar, ou talvez adiar, por alguns
minutos ou horas, o óbito inexorável do paciente. Freqüent emente as doses
de nor adrenalina são aplicadas em níveis alt íssimos (DE BACKER; VINCENT,
2002), conduta que pode representar medida heróica no sent ido de se evitar
o óbito im inente do paciente. Outras vezes nada mais é do que simples
rotina em modo agressivo de abordag em ao pacient e cr ít ico. Não existe
resposta na lit eratur a para essa questão. Não f oi encontrado na literatura
trabalho que avalie a mortalidade e complicações relacionadas a essa
estratégia terapêutica. Da mesma f orma, não se tem controle de seqüelas
em médios e longos prazos, ou seja, após a alta hospitalar.
2 REVISÃO DE LITERATURA
A sepse é a causa mais comum de m orte em UTI não coronar iana par a
pacientes adultos ( RUSSEL, 2008). Trata-se de doença de alt a mortalidade e
de alt a morbidade. Sua incidência em elevação, as novas etiologias e o
surgimento em novas populações de pacientes têm sido associados ao
envelhecimento populacional, ao aumento do uso de antibióticos mais potentes e
de maior espectro, e de agentes imunossupressor es, assim como o emprego
de técnicas invasivas no tratamento de doenças inf lamatórias, inf ecciosas e
neoplásicas (PÓVOA et al., 2009).
2.2 NOMENCLATURA
SEPSE
SEPSE GR AVE
CHOQUE SÉPTICO
OUTROS TERMOS
Bacter iemia f oi def inida como a presença de bactér ias viáveis no sangue.
Quando vírus, f ungos, parasitas ou outros patógenos estiverem presentes no
sangue, a condição deve ser descrita de maneira sim ilar (vir emia, f ungemia,
parasitemia, etc.) (ACCP/SCCM, 1992).
Com o passar dos anos, inúmeras cr ít icas surgiram em relação aos cr itér ios
para as def inições propostas. No que se ref ere ao conceito de SI RS,
obser vou-se que o fato de pacientes preencher em maior número de critér ios
(entre os quatro critérios propostos) não está associado a maior mortalidade.
Isto enf atiza que o critério para a def inição de SIRS não m arca a gravidade
da repost a inf lamatória ( MUCKART; BHAGW ANJEE, 1997).
Tem sido muito dif ícil, também, def inir os limites entre inf ecção e sepse. É
possível que as duas ent idades mencionadas ant eriormente não tenham
lim ites tão bem def inidos conf orme proposto: inf ecção é o processo
relacionado à presença de m icroorganismos induzindo alguma resposta
localizada do hospedeir o ou sua presença em tecido normalmente estér il;
sepse é a resposta sistêm ica do hospedeiro à presença do microorganismo.
Para aumentar ainda mais a conf usão, nem todos os pacientes que par ecem
estar sépt icos demonstram alguma inf ecção. A pr oporção de pacientes com
sepse e inf ecção documentada pode ser muito baixa, chegando a apenas
22
50%. Essa dif iculdade pode ser explicada pelo uso de agentes
antim icrobianos mascarando o r esultado de cultur as. Por outro lado, é bem
conhecida a situação de pacientes que parecem sépt icos, mas realmente não
têm inf ecção demonstrável, como nos casos de trauma ou pancreat ite. A
introdução do termo SIRS objetivou cr iar um critério bastante sensível na
captura desses pacientes (VINCENT, 1997).
Observa-se, por ém, que os critér ios que def inem SIRS podem abarcar mais
de dois terços da população internada em UTI e uma boa parcela de
pacientes internados em outros setores do hospital. Vincent ( 1997) escreveu:
"Nós todos temos SIRS r egularment e, quando prat icamos esporte, corremos
para pegar o ônibus ou temos gripe, pois temos taquicardia e f ebre.”
Diversos pacientes na UTI podem se enquadrar nos cr itérios para SIRS, seja
por trauma, edema pulmonar, inf arto miocárdico ou embolia pulmonar.
Discute-se se o ter mo SIRS não ser ia sensível demais par a ser considerado
útil na pr ática clínica. Argumenta-se que sua utilização poder ia até ser
perigosa pelo f ato de reduzir o empenho do médico na busca de sít io de
inf ecção ao considerar que o paciente tem "simplesmente" SIRS, algo tão
comum na UTI (VINCENT, 1997).
Os pacientes com SIRS e inf ecção (classif icados apenas como sepse), ou
seja, com quadro séptico menos grave, apr esentam baixa mortalidade,
semelhante à mortalidade da população hospitalar em geral (LE GALL et al.,
1995).
Estat ísticas norte-americanas revelam que cada pacient e com disf unção de
múltiplos órgãos custa, em média, 100.000 dólares. Para aqueles pacientes
com disf unção de múltiplos órgãos que não sobrevivem, o custo médio
estimado é de 500.000 dólares por paciente (COOK et al., 2001).
Enterococos: 8%
25
Pneumococos: 4%
Klebsiella pneumoniae: 8%
Pseudomonas aeruginosa: 8%
o Anaer óbios: 2%
o Outros agentes:3%
Nos últimos 30 anos mudanças signif icat ivas ocorreram em relação aos
sítios pr imários de inf ecção em pacientes cr íticos. A cavidade abdom inal e o
trato urinár io f oram os sítios mais f reqüentes de inf ecção (27 e 21%,
26
o Sangue: 20%
o Outros: 5%
Um f ator estimulador da SIRS em pacientes sépt icos, por exem plo, alguma
toxina microbiana, estimula a pr odução de f ator de necrose tumoral e
inter leucina 1. Essas citocinas promovem adesão leucocitár ia ao endotélio,
liberação de proteases e de metabólitos do ácido aracdônico e ativação da
27
A síndrome da disf unção de múlt iplos órgãos ( MODS) é car acterizada pela
presença de f unção orgânica alterada em pacient es cr íticos (ACCP/ SCCM,
1992). Embora seja problema f reqüente em UTI, ainda não há consenso em
sua def inição e na classif icação de sua gravidade ( MARSHALL et al., 1995).
A disf unção é def inida como pr ocesso no qual a f unção orgânica não é capaz
de manter a homeostase. Pode ser f enômeno de caráter absoluto ou r elativo
e tem evolução cont ínua (ACCP/SCCM, 1992).
A descr ição específ ica do processo cont ínuo que caracter iza a disf unção
orgânica ainda não está disponível. Não estão claras quais variáveis irão
determinar um grau de disf unção que possa caract erizar a síndrome. Não
está def inida, por exemplo, qual a disf unção orgânica encontrada em
pacientes com débito cardíaco e of erta sistêm ica de O 2 normais, mas que
exibem evidências de oxigenação tissular inadequada (acidose lática, por
exemplo). A acur ácia das var iáveis individualmente ou agrupadas, assim
como os níveis de anormalidade, devem ser estabelecidos de maneira que
ref litam a prática clínica (ACCP/SCCM, 1992).
Os sete sist emas habitualment e descr itos na MO DS são o respiratór io, renal,
hepát ico, cardiovascular, hematológico, gastrintestinal e o sistema ner voso
central (SNC). Marshall et al. (1995), entretanto, ponderam que apenas cinco
desses sistemas apresentam variáveis já validadas quant o a cr itér ios de
disf unção:
2) renal (creat inina sérica é a melhor variável obser vada na lit eratura,
apesar de algumas imperf eições, com o possibilidade de ref letir quadro
crônico e de ser alt erada por diálise);
o Sistema respiratór io: uso de vent ilador com gradiente alvéolo-arter ial
maior que 250 mmHg ou shunt pulmonar maior que 20%;
de inf ecção e pode ser repr oduzida experimentalment e pela inf usão de uma
grande diversidade de mediadores inf lam atórios ( ACCP/SCCM, 1992).
O choque sépt ico é caracter izado por def eito distr ibut ivo e perda absoluta de
volume para o espaço intersticial decorr ente de aumento da permeabilidade
microvascular ( MARTIN et al., 1999). Uma important e disf unção orgânica em
pacientes com sepse é a instabilidade hemodinâmica. O apogeu da disf unção
hemodinâm ica na sepse é o choque sépt ico, o qual está associado a graves
alterações cardiovasculares, incluindo intensa vasodilat ação perif érica,
hipotensão arter ial e alterações na distr ibuição do f luxo sanguíneo r egional,
principalmente na circulação esplâncnica e nos rins (DE BACKER; VINCENT,
2002).
TABELA 1
grau de recomendação* e
conduta
qualidade da evidência**
introdução precoce de antibióticos, dentro da primeira hora do diagnóstico 1B
reconhecimento do sítio de infecção o mais rápido possível 1C
abordagem do foco infeccioso o mais rápido possível após reanimação inicial 1C
expansão volêmica com cristalóides ou colóides 1B
manter PVC ≥ 8 mmHg (≥ 12 mmHg se em ventilação artificial) 1C
manter PAM ≥ 65 mmHg 1C
vasopressores de escolha no tratamento inicial: dopamina ou noradrenalina 1C
adrenalina, fenilefrina e vasopressina não devem ser os vasopressores inicialmente 2C
adrenalina como primeira escolha quando não se observa resposta da PA à noradrenalina 2B
não empregar "dose protetora renal" de dopamina 1A
monitorar PIA tão logo quanto possível em pacientes necessitando vasopressores 1D
empregar dobutamina na presença de disfunção miocárdica (pressão de enchimento elevada e baixo débito cardíaco) 1C
não elevar o débito cardíaco para valores supranormais 1B
empregar hidrocortisona quando a resposta não é adequada à expansão volêmia e uso de vasopressores 2C
empregar proteína C ativada em pacientes com APACHE ≥ 25 ou em casos de disfunção de múltiplos órgãos 2B
transfusão de hemácias quando hemoglobina < 7,0 g/dL 1B
manter volume corrente de 6 mL/kg de peso ideal em pacientes com LPA/SDRA*** 1B
manter pressâo de platô ≤ 30 cm H2O 1C
manter PEEP (pressão positiva ao final da expiração) para evitar colapso pulmonar 1C
se não houver contraindicação, manter cabeceira do leito elevada em pacientes em ventilação artificial 1B
não empregar de rotina cateter de artéria pulmonar em pacientes com LPA/SDRA*** 1A
manter restrição hídrica em pacientes com LPA/SDRA*** que não apresentem sinais de hipoperfusão tecidual 1C
empregar protocolo de sedação com objetivos específicos em pacientes sob ventilação artificial 1B
despertar diário em pacientes com sedação contínua ou intermitente 1B
evitar emprego de bloqueadores neuromusculares 1B
controlar hiperglicemia com insulina endovenosa 1B
empregar protocolo de insulinoterapia objetivando manter glicemia < 150 mg/dL 2C
hemodiálise intermitente e hemofiltração veno-venosa contínua são equivalentes 2B
não corrigir acidose metabólica em pacientes com acidose lática por hipoperfusão e Ph ≥ 7,15 1B
profilaxia para trombose venosa profunda com heparina fracionada ou não-fracionada 1A
profilaxia para úlcera de estresse com bloqueador H2 1A
discutir plano terapêutico com pacientes e familiares 1D
Cerca de 10% dos pacientes com sepse não recebem prontamente terapia
antim icrobiana adequada para o patógeno responsável, aumentando a
mortalidade em 10 a 15% em relação àqueles que recebem antibiot icoterapia
adequada desde o início (W HEELER; BERNARD, 1999). Diver sos estudos
retrospect ivos demonstram que a administração precoce de antibiót icos
apropr iados reduz substancialmente a mortalidade em pacientes com
inf ecções sangüíneas por gram-negativos, assert iva que pode ser estendida
para inf ecções por bactérias gram-posit ivas ou agentes f úngicos (BOCHUD;
GLAUSER; CALANDRA, 2001).
No ent anto, estabelecer que determ inado paciente com SIRS tem inf ecção
como causa, portanto, sepse, e não outra causa para o quadro, pode ser
extremam ente dif ícil. Exist em vár ias causas não-inf ecciosas para SIRS:
lesão tecidual (cir urgia, trauma, hematoma, trombose venosa, inf arto
pulmonar e miocár dico, rejeição a transplante, pancreat it e, eritroderma),
causas metabólicas (crise tireotóxica, insuf iciência adrenal aguda),
hemoder ivados, anestésicos, síndrom e neurolépt ica maligna, opiáceos,
benzodiazepínicos, neoplasias (hipernef roma, linf oma, síndrome de lise
tumoral) e hemorr agia subaracnóidea (LLEW ELYN; COHEN, 2001).
Por f im, exist em várias outras situações dif icultador as do diagnóst ico de
inf ecção em pacientes com SIRS. Não exist e padr onização para a
abordagem diagnóstica de colecist ite acalculosa. No caso de busca
diagnóst ica de sinusite, há discrepância entre achados de im agem (presença
de líq uido em seios paranasais vist os pela radiograf ia, tomograf ia ou ultra-
som) e conf irmação microbiológica em líquido aspir ado após punção.
Também não exist e padronização para o diagnóst ico de candidíase
sistêm ica. Uma única colônia de Candida spp isolada de sít io estér il, como
35
sangue ou líq uor, é signif icat iva. Por ém, é dif ícil dif erenciar colonização ou
inf ecção quando Candida spp é isolada de sít ios não estér eis, como trato
respir atório ou f erida cirúrgica (LLEW ELYN; COHEN, 2001).
Em pacientes com sepse, caso a expansão volêmica adequada seja par cial
ou totalment e inef icaz no restabelecimento da perf usão tissular, os agentes
vasoat ivos deverão ser então instit uídos (BOCHUD; GLAUSER; CALANDRA,
2001; DASTA, 1990; HOTCHKISS; KARL, 2003; W HEELER; BERNARD, 1999;
HOLMES, 2005). Os agentes vasoativos tradicionalmente disponíveis para
suporte hemodinâmico ao paciente com choque séptico são: noradrenalina,
adrenalina, dopam ina e dobutamina ( HOFFMAN; LEFKOWITZ, 2006). Nos
últ imos anos, dopexam ina, inibidores da f osf odiesterase e vasopr essina,
novas drogas vasoativas, também f oram introduzidas para uso clínico, mas
com emprego ainda polêmico no choque sépt ico ( DELLING ER et al., 2008;
REINHART; SAKKA; MEIER-HELLMANN, 2000; RUSSEL, 2008) .
36
cr ítico. Aument ar a PA acima desse valor crít ico, em tese, não aumenta mais
o f luxo sanguíneo aos órgãos. Esse valor cr ít ico pode também var iar entre
os órgãos, e a sepse, em part icular, pode af etar de f orma dif erenciada essa
auto-regulação nos dif erentes órgãos (DE BACKER; VINCENT, 2002).
TABELA 2
receptores
droga dose
α1 arterial α1 venoso β1 β2 dopaminérgico
dose baixa + + ++++ ++++ 0
adrenalina
dose elevada ++++ ++++ 0
noradrenalina +++++ +++++ +++ ? 0
dose baixa 0 +++ +++ +++++ ++++
dopamina
dose elevada ++++ +++ +++++
dobutamina 5 µg/kg/min + ? ++++ ++ 0
isoproterenol 0,0015 µg/kg/min 0 0 +++++ +++++ 0
Fonte: Vasopressor use in septic shock: an update (LEONE; MARTIN, 2008)
Estudos têm conf ir mado que não há benef ício em se aum entar a pressão
arterial média acim a de 65 mmHg em pacientes com choque séptico.
Bourgoin et al. (2005) realizar am estudo exper imental e com pararam grupos
de pacientes mant idos com PA média em 65 ou 85 mmHg, de acor do com
ajuste na dose de noradrenalina. O lact ato arter ial e o consumo de oxigênio
não se alt eraram, assim como a f unção renal. Concluiu-se que o aumento da
PAM de 65 para 85 mmHg com nor adrenalina não af eta as variáveis
40
metabólicas nem melhor a a f unção renal, reaf irmando que não há benef ício
em se obter PAM mais elevada nesses pacientes.
Os agentes vasopr essores podem apr esentar ef eitos adversos de vár ias
f ormas. Podem levar à acidose lát ica, decorrent e de excessiva constr ição
arteriolar per if érica. A vasoconstrição pode aumentar a taxa metabólica por
si só, contrapondo o benef ício de uma elevação do débito cardíaco. Relatos
do passado (RUDIS; BASHA; ZAROWITZ, 1996) acerca de necrose de dedos e
pés, hoje, são menos encontrados (LEONE; MARTIN, 2008).
A noradr enalina é o principal neurotransmissor dos ner vos simpát icos pós-
ganglionares dos m am íf eros, sendo precursora endógena da adrenalina, ao
passo que dopamina é sua precursor a imediata. Noradrenalina interage com
receptores α e β −adrenérgicos. Nor adrenalina e adr enalina dif erem
principalmente em relação à ef icácia na estimulação dos receptores α e β 2,
sendo equipotentes na estimulação de r eceptores β 1. A noradrenalina é um
potente agonista α e prat icamente não exerce ef eito sobre os receptores β 2.
41
Provoca vasoconstr ição per if érica, com aumento signif icativo da resist ência
vascular sistêmica ( HOFFMAN; LEFKOWITZ, 2006; KASINSKI et al., 2006).
Até por volta de 1989, dopam ina era o agente vasopressor adotado no
tratamento do choque sépt ico. Naquela época, houve o que pode ser
chamado de renascimento da noradrenalina. Contudo, seu uso era lim itado,
pois se acr editava não ter inf luência sobre o volume sistólico e no débit o
cardíaco, e que poderia provocar constr ição da artér ia renal (SCHREUDER
et al., 1989).
É dif ícil dist inguir os ef eitos na elevação da PA de outros ef eitos específ icos
dos vasopressores. A noradrenalina não tem ef eito apenas α, mas também
pequeno ef eito β -adrenérgico. Em estudos exper imentais, obser vou-se
aumento no f luxo sanguíneo esplâncnico quando noradrenalina f oi
empregada para aumentar a PA média de 60 para 90 mmHg em modelo de
43
choque endot óxico. Esse mesmo ef eito f oi obser vado com isoproterenol (β -
adrenérgico), mas não com f enilef rina ( α-adrenérgico). Port anto, pode ser
postulado que o ef eito inicial da noradrenalina em m elhorar o f luxo
esplâncnico ser ia por essa ação β , e não exclusivamente pelo aument o da
PA média (DE BACKER; VINCENT, 2002; TREGGIARI et al., 2002).
É dif ícil certif icar-se clinicament e a adequação da perf usão tecidual. Por
isso, o princípio par a se titular a dose de nor adrenalina no choque séptico é
baseado na idéia de que a dose deve ser a mais baixa, capaz de manter PA
diastólica suf iciente para a perf usão cor onar iana e PA média adequada para
irrigar os tecidos vitais. Tem sido aceit o o valor de 70 mmHg como a PA
média adequada para esses f ins (TREGGIARI et al., 2002). Entretant o,
alguns def endem valor de PA maior como objetivo, alegando que isto poder ia
melhor ar ainda mais a perf usão dos órgãos (DE BACKER; VINCENT, 2002).
Em doses mais elevadas, o benef ício potencial pode ser sobrepujado pela
excessiva vasoconstricão, o que pode comprometer ainda mais a f unção
cardíaca e a perf usão em órgãos vitais ( TREGGIARI et al., 2002).
A expressão dos r eceptores adrenérgicos é dif erente nos diver sos leitos
vasculares. A vasculatura esplâncnica, talvez com exceção dos vasos em
músculos esquelét icos, é particularmente sensível à noradrenalina exógena.
Sob esse ponto de vista, o aumento da dose de noradrenalina pode acarretar
excessiva vasoconst rição e redistribuição do f luxo sanguíneo para longe dos
vasos esplâncnicos ( TREGGIARI et al., 2002).
Diante da dif iculdade em se est abelecer o objet ivo terapêut ico ao se titular a
dose de agentes vasopressores, diver sos dispositivos par a monitorização
têm sido propostos. A monitor ização hemodinâm ica e de variáveis
respir atórias para estabelecimento do metabolismo global de O 2 tem sido
tradicionalmente em pregada. Mais recentemente, técnicas de monitor ização
objetivando avaliar a perf usão regional f oram introduzidas para uso clínico.
Alguns autores sugerem o emprego da tonometria intest inal e da medida do
f luxo sanguíneo por döppler a laser como guia para tit ular a dose de
noradrenalina (TREGGIARI et al., 2002) .
Conf orme já expost o, a inf usão de nor adrenalina é titulada até se atingir
objetivos hemodinâmicos específ icos. Entretanto, doses de noradrenalina
muito acima das recomendadas pelo f abricante são necessár ias em
pacientes com choque séptico para at ingir tais objet ivos ( RUDIS; BASHA;
ZAROW ITZ, 1996).
séptico, poucos deles explor aram a r elação entre dose inf undida e o objetivo
que poder ia ser, por exemplo, a pressão arterial (PA) média a ser obt ida
(TREGGIARI et al., 2002).
TABELA 3
2.8.1 ADRENALINA
2.8.2 DOPAMINA
Alguns ef eitos adver sos da dopamina lim itam seu uso, incluindo aumento da
pressão capilar pulmonar (PW AP), que pode ser deletér io para pacientes
cardiopatas, e aum ento no shunt intrapulmonar, agravando hipoxemia na
presença de insuf iciência respiratór ia aguda, síndrome bastante prevalente
em pacientes com sepse ( MARTIN et al ., 1999).
2.8.3 DOBUTAMINA
Entretanto, até 54% dos pacientes com choque séptico não apresentam
aumento do índice cardíaco, do índice de volume sistólico ou da of erta de O 2
em resposta à inf usão de dobutamina. As hipót eses par a justif icar esse
achado são: 1) possível dessensibilização dos receptores β -1 induzida pela
sepse. 2) durante a sepse, os recept ores β -1 são menos responsivos à
estimulação por redução do cont eúdo de AMP cíclico m iocárdico ( MARTIN et
al ., 1999).
Tem sido proposto q ue em pacient es com choque séptico ref ratários mesmo
a doses elevadas de noradrenalina, a associação de dobutamina deve ser
considerada para aumentar o f luxo sanguíneo esplâncnico (DE BACKER;
VINCENT, 2002). Foi demonstrado que a associação de dobutam ina e
noradrenalina, quando comparada à dopamina isoladamente, tituladas at é
51
Vários autores suger em que dobutam ina seja a catecolamina de escolha para
aumentar a contrat ilidade miocárdica e atingir níveis supranormais de débit o
cardíaco e of erta de O 2 em decorrência de seu ef eito predominante agonista
β -1 adrenérgico (REINHART; SAKKA; MEIER-HELLMANN, 2000). A of erta e
consumo de O 2 em pacientes com choque sépt ico que recebem dobutam ina
devem ser cuidadosamente monitor izados. Métodos que demonstram
mudanças na oxigenação tecidual, tais como níveis de lactat o, produção de
CO 2 regional ou mudanças no consumo do O 2 devem ser empregados. Ainda
não está claro até q uanto a of erta de O 2 deve ser maximizada, e se existe
uma of erta de O 2 ótima para todos os pacientes sépt icos (REINHART; SAKKA;
MEIER-HELLMANN, 2000).
2.8.4 DOPEXAMINA
2.8.6 VASOPRESSINA
Foi r ealizado estudo random izado em 23 pacientes par a com parar os ef eitos
de noradr enalina e vasopressina nas var iáveis hemodinâmicas, disf unção
orgânica e eventos adversos em pacientes com choque sépt ico
hiperdinâm ico. Foi administrada vasopressina (0,04 – 0,20 U/min) ou
noradrenalina (0,1- 2,8 µg/kg/min) objetivando at ingir PAM acima de 70
mmHg. As duas dr ogas similarmente aumentaram a PAM durante 48 horas,
mas noradr enalina t eve que ser associada a 36% dos pacientes que estavam
usando apenas vasopressina dentro das 48 hor as. Vasopressina aument ou a
resistência vascular sistêm ica, reduziu a necessidade de noradr enalina,
reduziu o débito cardíaco ao abaixar a f reqüência cardíaca, aumentou o
clearance de creatinina e melhorou o escore SOFA. Um paciente em uso de
vasopressina desenvolveu síndrome coronariana aguda. Concluiu-se que,
durante a f ase hiper dinâmica inicial do choque sépt ico, o emprego de altas
doses de vasopr essina como vasopressor isolado f alha em elevar a PAM de
f orma adequada, mas ajuda a mantê-la com menor demanda de
noradrenalina (LAUZIER et al. , 2006).
Outro estudo recent e revelou maior mortalidade entre pacient es tratados com
vasopressina ( em associação a noradrenalina) quando comparados com
aqueles que receber am noradrenalina isoladamente ( MI CEK et al. , 2007).
Metaram inol f oi avaliado em dez pacient es com choque sépt ico quanto aos
ef eitos hemodinâm icos, em comparação com noradr enalina. Todos eles
f oram monitorados com cateter de artéria pulmonar e calorimetria indir eta.
As var iáveis hemodinâmicas f oram obtidas durant e inf usão de noradr enalina.
Depois, nor adrenalina f oi substituída por metaraminol em dose suf iciente
para manter a PAM constant e. Depois de 20 m inutos de PA estável, novas
medidas f oram realizadas. A PAM não dif eriu signif icativamente com
noradrenalina ou m etaraminol. Não se obser vou relação entre as doses de
noradrenalina e metaraminol. A troca de noradrenalina por metaraminol não
modif icou as var iáveis hemodinâmicas, t ais como f reqüência cardíaca, índice
de volum e sistólico, pressão de oclusão de artéria pulmonar e consumo de
oxigênio (NATALINI et al. , 2005).
A escolha do agent e vasoat ivo no trat amento do choque séptico tem sido
muito debat ida entre os especialistas (DE BACKER; VINCENT, 2002; LUCAS,
1994; MARTIN et al ., 1993; 1999; 2000; PATEL; BALK, 2007; REDL-W ENZL et
al ., 1994; REINHART; SAKKA; MEIER-HELLMANN, 2000; RUDIS; BASHA;
ZAROW ITZ, 1996; SCHREUDER et al ., 1989).
Ainda nesse est udo, durante o uso de noradr enalina houve signif icativo
aumento na r esistência vascular pulmonar em comparação com dopam ina,
resultando em aumento na pós-carga do ventr ículo direito, o que não f oi
obser vado com dopamina. Por outro lado, a demanda de O 2 pelo ventr ículo
direito quando empr egada dopamina f oi elevada. Noradrenalina pode levar a
menor demanda ao ventr ículo direito que dopam ina, mas esse ef eito é
anulado pelo aumento na pós-carga ao ventr ículo direito, atenuando
qualquer benef ício potencial sobre seu desempenho ( SCHREUDER et al .,
1989).
Ainda nesse estudo, dopam ina f oi ef icaz em atingir a meta t erapêut ica em 5
de 16 pacientes (31%). Por outro lado, noradrenalina f oi ef icaz em 15 de 16
pacientes (93%). Um paciente em cada grupo não respondeu à combinação
das duas drogas nas doses máximas propostas. Esses dois pacientes
morreram dentro de poucas horas em choque intratável, mesmo com a
associação de uma terceira amina: adrenalina a 5 µg/kg/min. Dez de 11
pacientes que não responderam à dopamina f oram tratados com sucesso
com a adição de noradrenalina. Em pacientes que receberam inicialmente
noradrenalina, houve signif icat ivo aumento na PA média, resistência
vascular sistêmica, of erta de O 2 e débito urinário. Essas mudanças se
mantiver am por seis horas. Uma signif icativa redução no lactato sanguíneo
também f oi obser vada. Dos 32 pacientes estudados, 15 receberam alta do
hospital ( MARTIN et al ., 1993).
Martin et al . (2000), relatam não ser possível obter pr essão de perf usão
tissular adequada em vár ios pacientes com o uso de dopamina, mesmo
58
Apesar de ext ensa literatura, ainda não se encontra def inido o vasopressor
mais adequado no choque sépt ico. Não existe o agente perf eito. Embora a
diretr iz corrente ( DELLINGER et al , 2008) recomende o emprego de
noradrenalina ou dopamina, a adrenalina também pode ser empregada com
resultados pr ovavelmente sim ilares. Novos estudos muit o aguardados estão
sendo r ealizados e objetivam compar ar os vasopressores, em especial
noradrenalina vesus dopam ina e o papel da vasopressina.
59
A terapia liberal da anemia em pacientes com sepse deve ser evitada. Uma
redução na hemoglobina para 8-10 g/dl é bem tolerada pela maior ia dos
pacientes. A redução na viscosidade sanguínea reduz a pós-carga cardíaca
e aumenta o retorno venoso, ambos elevando o débit o cardíaco. O emprego
de sangue estocado, contendo hemácias “velhas”, r íg idas, que traf egam com
dif iculdade na m icr ocirculação, reduz a disponibilidade de O 2 em nível
celular. Por f im, os riscos inerent es à hemoterapia, em especial as reações
transf usionais, devem ser consider ados na tomada da decisão de tratar a
anemia, condição muito f reqüente em pacientes com sepse (REINHART;
SAKKA; MEIER-HELLMANN, 2000).
Em geral, não é a inf ecção por si, mas o choque ou a insuf iciência orgânica
que é responsável pelo desf echo de pacientes com sepse. Tipicamente, 10%
de todas as mortes por sepse são decorrentes de insuf iciência cardíaca
ref ratária, 40% por insuf iciência circulatória ref ratária e 50% por f alência
orgânica múlt ipla irr eversível (REINHART; SAKKA; MEIER-HELLMANN, 2000).
61
Dessa f orma, todas as estrat égias t erapêuticas devem ser pesadas à luz da
prevenção e tratamento da miocardiopatia da sepse, vasculopatia da sepse e
f alência orgânica múltipla.
AP ACHE
Em 1981, f oi descr ito o acute physiology and chr onic health evaluation
(APACHE), um sistema de classif icação de gravidade de doenças em grupos
de pacientes de UTI. A classif icação f oi pr oposta par a ser executada nas
primeiras 32 horas em que o paciente é adm itido na UTI ( KNAUSS et al .,
1981).
AP ACHE II
O “ MOD score” f oi proposto por Mar shall et al . (1995) para mensurar o grau
de disf unção orgânica e o número de sistemas compromet idos na MO DS.
Existe f orte correlação entre “ MO D scor e” e mortalidade. Não houve morte
durante internação na UTI em pacientes com “ MOD score” = zer o. A
mortalidade na UTI f oi de 100% em pacientes com “ MOD score” > 20. A
mortalidade f oi de 25% (9-12), 50% (13- 16) e 75% (17-20). Foi obser vado que
esse escore teve maior valor em predizer mortalidade que o APACHE II
( MARSHALL et al ., 1995).
65
Esse estudo também revelou, em análise mult ivar iada, que a disf unção do
SNC f oi a que teve maior correlação com a mortalidade. Já a disf unção
hepát ica não teve impacto sobre a mortalidade. Esse achado f oi paradoxal
em relação a outros dados da literatura que atestam elevada mortalidade em
pacientes com disf unção hepát ica ( MARSHALL et al ., 1995).
A maioria dos escor es de gravidade e pr ognóstico avalia o desf echo dur ante
a permanência hospitalar. Um modelo de escore de gravidade f oi desenhado
para examinar o desf echo em até 180 dias após a adm issão na UTI de
pacientes crit icamente enf ermos, bem como auxiliar na tom ada de decisões
médicas. Denom inado SUPPORT ( study to understand prognoses and
preferences for out comes and r isks of treatments ), esse escore inclui a
impressão subj etiva do médico em relação ao potencial de sobrevida do
paciente, além de outras variáveis (doença subjacente, temperatura, PA
média, f reqüência cardíaca, f reqüência respiratór ia, gasometria arterial,
sódio, potássio, creatinina, hemat ócrito, leucograma, album ina, bilirrubina,
escala de Glasgow). Esse modelo não f oi criado especif icamente para
doentes com sepse, mas mostrou acurácia na pr evisão do desf echo também
nesses pacient es (KNAUSS et al ., 1995).
O lim ite de esf orço terapêut ico passa por três etapas: não reanimar, não
iniciar novas terapias e suspender tr atamentos já em uso. Portant o, a
retirada do suporte ao paciente é a medida mais extrema e a últim a
empregada no lim ite de esf orço (CHANG et al ., 1989).
66
3 OBJETIVOS
3.2.2 Determinar a distr ibuição dos pacientes com choque séptico conf orme
as dif erentes doses de noradrenalina ut ilizadas, assim como em relação ao
emprego de outras drogas vasoat ivas.
4 PACIENTES E MÉTODOS
Foi f eito estudo retrospectivo e obser vado que 62% dos pacientes com
choque sépt ico e que receberam noradr enalina precisar am de dose acima de
50 µg/min. Em 38% dos casos o pico de dose de noradrenalina f icou abaixo
de 50 µg/min. Foi obser vado ainda que a mortalidade na UTI dos pacient es
com choque sépt ico que receberam nor adrenalina f oi de 70% (mortalidade de
93% e 38% entre os pacientes que usaram pico de dose de noradr enalina
acima e abaixo de 50 µg/min, respectivamente) (LEITE, 2004).
Para a análise estat ística univariada, com nível de signif icância de 0,05 e
poder do teste de 95%, e considerando os dados obser vados no r ef erido
estudo, o tamanho da amostra f oi calculado em 26 indivíduos (13 para o
grupo que recebeu pico de dose de nor adrenalina maior que 50 µg/min e 13
para o grupo que r ecebeu pico de dose de noradrenalina menor que 50
µg/min).
o Idade;
o Doenças associadas;
o Pacientes que receberam noradr enalina por outro motivo que não
choque sépt ico: choque puramente cardiogênico, choque puramente
hipovolêm ico, choque neurogênico, choque anaf ilático e para a terapia
hipertensor a em pacientes com hipoperf usão cerebral.
Conf orme pode ser visto no f luxograma que se segue, 462 eventos
(episódios de choque e/ou uso de noradrenalina) f oram considerados para
possível inclusão no estudo, acometendo um total de 370 pacientes.
Entretanto, cem eventos f oram excluídos:
FLUXOGRAMA DA CASUÍSTICA
o Sexo.
o Idade.
Tonometria gástrica.
o Mortalidade hospitalar.
73
o Insuf iciência renal aguda: def inida como creatinina sérica igual ou
maior que 3,4 mg % (HEBERT et al ., 1993).
Dopam ina.
Dobut amina.
Noradr enalina.
Adrenalina.
o Balanço hídr ico: por meio de análise do balanço hídr ico calculado a
cada 12 hor as a partir da internação ou 48 hor as ant eriores ao
diagnóst ico do choque, de acor do com o protocolo (APÊNDI CE D).
O Hospital Municipal Odilon Behr ens é ref erência para as urg ências clínicas,
politraumas, cir urgias ortopédicas, ur ológicas, bucomaxilo-f acial, vasculares,
plásticas e partos de alto r isco. É um hospital-geral, com 402 leitos (sendo
135 distribuídos na unidade de urgência e emergência e 267 nas unidades
de internação). Faz parte da r ede própria do SUS, assistindo não só aos
cidadãos de Belo Horizonte, mas, também, aos pacientes de outras cidades
do estado.
Os dados f oram coletados pela equipe de pesquisador es, conf orme visita
diár ia às UTIs participantes durant e todo o per íodo de estudo, e com o
preenchimento do protocolo de coleta de dados ( APÊNDICE B). Os pacientes
f oram seguidos até a alta hospitalar.
Hospital Evangélico
Carolina Marquetti
Inicialmente f oi f eita análise descr itiva das var iáveis utilizadas no est udo.
Para as var iáveis categóricas, f oram f eitas tabelas de distribuição de
f reqüências. Já para as variáveis quantit ativas f oram utilizadas medidas de
tendência central e variabilidade.
Foi utilizada ainda a análise de regressão log ística binária para descrever a
relação entre as variáveis de int eresse ( variáveis independentes) e a
var iável resposta (óbito). Esse t ipo de análise tem como vantagem controlar
possíveis f atores de conf usão, isto é, f atores que podem inf luenciar no ef eito
de outras variáveis da análise. Para ent rada das var iáveis independentes no
modelo log ístico, utilizou-se um valor de p de até 0,20 e para permanência
da var iável no modelo f inal f oi adotado nível de 5% de signif icância. Foi
estimada a odds rat io , com seu inter valo de 95%. Para avaliar o ajuste do
modelo f oi utilizado o teste de Hosmer & Lemeshow.
Foi ut ilizada a ocorrência de óbito para def inição de um teste posit ivo, ou
seja, de um valor de corte da dose de noradrenalina.
5 RESULTADOS
Idade (e m anos )
30 o u meno s 16 (6%)
26 (9%)
31-40
41-50 35 (12%)
51-60 54 (19%)
61-70 64 (22%)
71-80 54 (19%)
81-90 33 (11%)
H. Militar 18,0%
H. Evangélico 5,2%
TABELA 4
5 ou mais nenhuma
4
4%(12) 13%(38)
9%(27)
3
20%(58)
1
29%(82)
2
25%(72)
TABELA 5
31-45
2-10
14 (5%)
21-30 56 (19%)
73 (25%)
11-20
146 (51%)
60% 54,3%
50%
percentual
40%
30% 24,6%
20%
6,6% 4,8% 6,6%
10% 3,1%
0%
e
s
ão
tro
a
o
e
m
in
id
ol
ou
do
ec
ur
m
l
pu
ab
h
s
on
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sc
pa
de
e
el
pe
TABELA 6
TABELA 7
noradrenalina (n=289):
pico de dose (em µg/kg/min) 0,04 14,53 1,65 (± 1,64) 1,13 (0,51-2,31)
tempo de uso do pico de dose (em horas) 1 114 9,8 (± 14,24) 4 (2-12)
dopamina (n=58):
pico de dose (em µg/kg/min) 1,31 25,48 13,72 (± 5,63) 13,96 (9,90-17,55)
dobutamina (n=147):
pico de dose (em µg/kg/min) 1,43 45,3 9,89 (± 7,56) 7,7 (5,01-11,41)
100%
90%
letalidade
80%
70%
60%
5
5
0
25
75
25
75
25
0,
1,
2,
>
>
>
0,
0,
1,
1,
2,
>
>
>
>
>
>
>
>
TABELA 8
Pico de dose de
noradrenalina empregada Mortalidade na Mortalidade
(em µg/kg/min) n UTI hospitalar
< 0,25 25 36,0 % (9/25) 44,0 % (11/25)
0,25├ 0,50 38 44,7 % (17/38) 55,3 % (21/38)
0,50├ 1,00 72 52,8 % (38/72) 62,5 % (45/72)
1,00├ 1,50 35 74,3 % (26/35) 80,0 % (28/35)
1,50├ 2,00 28 75,0 % (21/28) 78,6 % (22/28)
2,00├ 2,50 30 90,0 % (27/30) 93,3 % (28/30)
2,50├ 3,00 14 100,0 % (14/14) 100,0 % (14/14)
3,00├ 4,00 26 100,0 % (26/26) 100,0 % (26/26)
≥ 4,00 21 100,0 % (21/21) 100,0 % (21/21)
TOTAL 289 68,9 % (199/289) 74,7 % (216/289)
Alta hospitalar
25,3% (73)
TABELA 09
Comparação de sobr evida após a UTI com idade, empr ego de hemodiálise,
drogas vasoat ivas, número de doenças associadas e desenvolvimento de
insuf iciência renal aguda, estudo multicêntrico, 01/05/2004 a 31/12/2005
TABELA 10
Sim 61 6 (4-11)
hemodiálise < 0,001
Não 228 4 (3-6)
Sim 62 6 (4-10)
cateter de artéria pulmonar 0,001
Não 227 4 (3-6)
Sim 58 4 (2-6)
dopamina 0,09
Não 231 4 (3-8)
TABELA 11
Correlação* Valor-p
índice de APACHE II -0,03 0,6
cristalóide médio 0,14 0,02
colóide médio -0,06 0,4
idade 0,1 0,1
dias de emprego de dobutamina 0,18 0,002
dias de emprego de PVC 0,51 <0,001
dias de emprego de PIA 0,19 0,001
dias de emprego de cateter de artéria pulmonar 0,23 <0,001
dias de emprego de hemodiálise 0,28 <0,001
dias de emprego de ventilação artificial 0,49 <0,001
número de doenças associadas 0,05 0,4
diferença entre creatinina máxima e inicial 0,29 <0,001
TABELA 12
1 15 1,01 (0,66-1,74)
2 70 1,24 (0,63-2,28)
3 42 0,60 (0,38-1,71)
Hospital 4 52 1,63 (0,46-3,03) 0,07**
5 27 1,04 (0,75-1,91)
6 63 1,36 (0,55-2,81)
7 20 0,86 (0,36-2,09)
**Teste Kruskal-Wallis
92
TABELA 13
Correlação* p
Idade -0,08 0,2
Índice de APACHE II 0,12 0,05
Cristalóide médio 0,07 0,2
Colóide médio 0,05 0,4
Dias de emprego de dobutamina 0,19 0,001
Dias de emprego de dopamina 0 1,0
Dias de emprego de corticóide -0,09 0,1
Dias de emprego de PVC -0,3 <0,001
Dias de emprego de PIA 0,01 0,8
Dias de emprego de cateter de artéria pulmonar 0,1 0,1
Dias de emprego de hemodiálise 0,09 0,1
Dias de emprego de ventilação artificial -0,25 <0,001
Dose máxima de dobutamina em µg/kg/min 0,32 <0,001
Dose máxima de dopamina em µg/kg/min 0 1,0
Número de doenças associadas -0,11 0,1
Diferença entre creatinina máxima e inicial 0,06 0,3
TABELA 14
Mortalidade na UTI dos pacientes com choque séptico de acordo com o hospital
analisado (n=289), estudo multicêntrico, 01/05/2004 a 31/12/2005
Óbito na UTI
Hospital n p*
n (%)
1 15 10 (66,7%)
2 70 51 (72,9%)
3 42 25 (59,5%)
4 52 33 (63,5%) 0,1
5 27 20 (74,1%)
6 63 50 (79,4%)
7 20 10 (50,0%)
TABELA 15
Óbito na UTI
Sítio de infecção n p*
n (%)
abdominal 71 56 (78,9%)
outro 14 11 (78,6%)
TABELA 16
Óbito na UTI
Variável n p
Não (n=90) Sim (n=199)
sexo masculino 160 55 (61,1%) 105 (52,8%) 0,2**
uso de corticóide* 118 37 (56,1%) 81 (61,8%) 0,4**
uso de dobutamina 147 40 (44,4%) 107 (53,8%) 0,1**
uso de dopamina 58 15 (16,7%) 43 (21,6%) 0,3**
uso de fentanil 215 66 (73,3%) 149 (74,9%) 0,8**
uso de midazolan 257 78 (86,7%) 179 (89,9%) 0,4**
emprego de hemodiálise 61 7 (7,8%) 54 (27,1%) <0,001**
emprego de PVC 276 85 (94,4%) 191 (96,0%) 0,5***
emprego de PIA 192 52 (57,8%) 140 (70,4%) 0,04**
emprego de CAP 62 16 (17,8%) 46 (23,1%) 0,3**
emprego de ventilação artificial 277 80 (88,9%) 197 (99,0%) <0,001**
insuficiência renal aguda 89 11 (12,2%) 78 (39,2%) <0,001**
Nota: *em 92 pacientes não foi coletado a informação quanto ao uso de corticóide
** Teste Qui-quadrado de Pearson
***Teste exato de Fisher
TABELA 17
Óbito na UTI*
Variável p**
Não (n=90) Sim (n=199)
cristalóide médio (em mL/24 horas) 4.277 (3.461-5.389) 4.132 (2.988-5.109) 0,1
cristalóide máximo (em mL/24 horas) 5.962 (4.400-7.257) 5.650 (4.133-7.206) 0,4
colóide médio (em mL/24 horas) 150 (0-333) 167 (0-400) 0,1
colóide máximo (em mL/24 horas) 350 (0-500) 500 (0-1.000) 0,1
pico de dose de noradrenalina (em µg/kg/min ) 0,53 (0,30-0,88) 1,80 (0,81-2,96) <0,001
Análise multivariada
TABELA 18
Variável p OR IC (95%)
Insuficiência renal aguda
Não 1
<0,001
Sim 5,31 [2,47; 11,42]
TABELA 19
Tempo até a ocorrência do óbito por variável estudada, com o risco relativo e
respectivo IC95%, estudo multicêntrico (n=289), 01/05/2004 a 31/12/2005
Variável HR IC (95%) p
Sexo feminino 1,14 [0,86; 1,51] 0,4
Idade (em anos) 1 [ 0,99; 1,01] 0,6
Sem emprego de Hemodiálise 1,01 [0,73; 1,39] 0,9
Sem emprego de PVC 1,3 [0,64; 2,64] 0,5
Sem emprego de PIA 0,86 [0,63; 1,17] 0,3
Sem emprego de cateter de artéria pulmonar 1,16 [0,83; 1,62] 0,4
Sem emprego de ventilação artifical 0,4 [0,10; 1,63] 0,2
Sem emprego de corticóide 1,53 [1,07; 2,20] 0,02
Sem emprego de dobutamina 0,81 [0,61; 1,07] 0,1
Sem emprego de dopamina 0,9 [0,64; 1,27] 0,6
Sem emprego de midazolam 0,94 [0,59; 1,52] 0,8
Sem emprego de fentanil 1,16 [0,84; 1,60] 0,4
índice de APACHE II 1,03 [1,01; 1,05] 0,01
Cristalóide médio 1 [1,00; 1,00] 0,3
Colóide médio 1 [1,00; 1,00] 0,2
Número de doenças associadas 0,88 [0,79; 0,98] 0,02
Pico de dose de noradrenalina (em µg/kg/min) 1,22 [1,16; 1,29] <0,001
Dose de noradrenalina > 0,785 µg/kg/min 2,91 [2,09; 4,05] <0,001
Insuficiência renal aguda 1,35 [1,01; 1,80] 0,04
97
Número de
doenças
associadas
GRÁFICO 10: Curva de sobrevida para tempo até ocorrência do óbito entre
pacientes com diferentes números de doenças associadas, estudo multicêntrico
(n=289), 01/05/2004 a 31/12/2005
GRÁFICO 11: Curva de sobrevida para tempo até ocorrência do óbito entre
pacientes com ou sem insuficiência renal aguda, estudo multicêntrico, (n=289),
01/05/2004 a 31/12/2005
99
TABELA 20
variável p HR IC (95%)
TABELA 21
TABELA 22
óbito
Pico de dose de noradrenalina Total
Não sim
abaixo de 0,785 mcgr/kg/min 65 (72,2%) 47 (23,6%) 112 (38,8%)
acima de 0,785 mcgr/kg/min 25 (27,8%) 152 (76,4%) 177 (61,2%)
Total 90 (100%) 199 (100%) 289 (100%)
6.1 INTRODUÇÃO
Ref letindo a gravidade dos pacientes com choque sépt ico e a conseqüente
necessidade de instituição de medidas de suporte de vida, o est udo
constatou que parcela considerável, ou seja, 65 pacient es (22,5%) com
choque sépt ico receberam noradrenalina acima de 2,37 µg/kg/min, com
mortalidade na UTI de 100%. Alguns pacientes chegaram a receber doses de
noradrenalina alt íssimas, atingindo at é 14,5 µg/kg/min. O emprego de doses
tão elevadas de agente vasopressor não teve impacto posit ivo no desf echo
dos pacientes.
Foi obser vada alta incidência de insuf iciência renal aguda nos pacientes com
choque séptico que receberam noradrenalina (30,8%), embora não tenha
sido ver if icada associação entre dose de noradrenalina e desenvolvimento
de insuf iciência renal aguda. Cont udo, f oi demonstrado que a dose de
noradrenalina, o desenvolvimento de insuf iciência renal aguda e a gravidade
dos pacient es (medida pelo índice de APACHE II) se comportaram com o
marcadores independentes de mortalidade na UTI em pacient es com choque
séptico.
Esse estudo determ inou, ainda, um pont o de corte da dose de noradr enalina
(0,785 µg/kg/min) que sinalizou o desf echo óbito, com sensibilidade de
76,4% e especif icidade de 72,2%. Essa dose situa-se bem abaixo do nível
acima do qual todos f aleceram (2,37 µg/kg/min), podendo ser útil na tomada
de decisões.
104
obrigator iamente especif icam a cada hora as velocidades de inf usão das
diversas dr ogas de administração cont ínua. Também era ver if icada a
prescrição médica q uanto à diluição do medicamento par a exat a def inição da
dose empregada.
O consenso de 1992 def ine “choque séptico como a sepse grave cursando
com hipotensão ref ratária a expansão volêmica adequada e associada a
hipoperf usão ou disf unção orgânica” (ACCP/SCCM, 1992). Entretanto, esse
consenso não def iniu o que é expansão volêmica adequada, nem, tampouco,
os crit érios par a disf unção orgânica. I sso pode dif icultar o discerniment o
entre paciente com choque séptico e paciente com sepse grave. No est udo
atual, f oram incluídos apenas pacientes com choque sépt ico que usaram
noradrenalina. Os vasopressores f oram empregados quando se julgou
clinicament e que a expansão volêmica isoladament e f oi inef icaz em reverter
a hipotensão, o que por si já remete para a def inição de choque sépt ico.
Para respaldar ainda mais os critér ios empregados, o consenso de 1992
menciona que “pacientes recebendo inotrópicos ou vasopressores podem
não estar hipot ensos no momento em que manif estam a hipoperf usão ou a
disf unção orgânica, e, mesmo assim, podem ser classif icados como choque
séptico” (ACCP/SCCM, 1992). Schoenberg; Weiss e Radermacher (1998), para
inclusão em estudo, utilizar am como um dos critérios par a a def inição de
choque sépt ico a pr esença de sepse grave com necessidade de tratamento
vasopressor com noradrenalina ou adrenalina, a despeit o de adequada
expansão volêmica. Em nosso estudo, todos os pacientes incluídos
receberam noradrenalina como agent e vasopr essor, sem a inclusão,
portanto, de pacientes com sepse grave, deixando apenas aqueles
indivíduos classif icados como portadores de choque séptico.
Dif iculdade ainda maior é dif erenciar os pacientes com choque séptico
daqueles pacientes com choque por outr as causas. Não exist e def inição par a
os equivalentes não inf ecciosos para sepse grave e choque séptico.
eram extraídas dos prontuár ios e conf orme discussão com a coordenação
médica da UTI. Não f oi instituído protocolo específ ico para a def inição de
choque séptico nas diversas instituições part icipantes. Nessa situação, o
julgamento clínico, baseado em critér ios radiológicos, laboratoriais e de
evolução, não tão-somente a necessidade de emprego de antibiót icos, f oi
preponderante para a def inição de choque de origem inf ecciosa.
O estudo teve como objetivo avaliar o desf echo de pacient es que receberam
noradrenalina. Por isso, todos os pacientes que não usaram noradr enalina,
mesmo que tenham apresentado choque séptico, f oram excluídos do estudo.
Os pacientes que apresent aram choque por outras causas que não
inf ecciosas, mesmo tendo usado noradr enalina, f oram excluídos do estudo.
Conf orme discut ido anteriormente, muitas vezes, é dif ícil af astar a presença
de inf ecção em paciente com SIRS ou condição correlata. Contudo, entre os
pacientes excluídos por esse critério, as outras condições causador as da
instabilidade hemodinâmica (não inf ecciosas) eram óbvias, como no choque
exclusivament e hipovolêmico por hemor ragia e no choque exclusivament e
cardiogênico.
f oram incluídos pacientes com pelo menos 24 hor as de inter nação na UTI. O
f ato de não incluir pacientes sem consentimento r ef orça o compromisso ét ico
do estudo.
Foram selecionados para o estudo pacientes com idade mais avançada, com
mediana de 64 anos. Perf il da terapia int ensiva atual, que cada vez mais tem
uma clientela de pacientes mais idosos, esse achado também é explicado
pela incidência mais alt a de choque sépt ico nessa f aixa etár ia. Nesse grupo
de pacientes, há maior prevalência de f atores predisponent es para sepse,
tais como diabetes, neoplasias e doenças cer ebrovascular es. Obser vou-se
discr eto predom ínio de pacientes do sexo masculino (55,4%). Doenças
clínicas f oram os principais motivos de internação na UTI, representando
75,1% de todas as admissões.
No presente estudo, f oi possível identif icar o sítio de inf ecção em 93,4% dos
pacientes, achado comparável ao estudo de Bochud; Glauser e Calandra
(2001), que identif icaram o sítio de inf ecção em 92% dos pacientes com
sepse. A TAB. 23 compara as f reqüências dos sít ios de inf ecção obser vadas
no estudo em pauta com aquelas publicadas pelo autor citado.
TABELA 23
Sít ios de inf ecção em pacientes com sepse: compar ação dos result ados do
estudo atual com os achados de Bochud; Glauser e Calandra (2001)
Nota: o sít io sang uíneo não f oi ver ificado no estudo atual pela baixa
prevalência de hemoculturas posit ivas e pela dif iculdade em se associar
hemocultura posit iva ao sít io pr imário de inf ecção.
Conf orme esperado para pacientes com choque séptico, obser vou-se nos
pacientes estudados, já na adm issão à UTI, um elevado r isco calculado de
óbito, espelhado pelo alto índice de APACHE II (mediana = 16).
Foi também objet ivo do estudo mensurar a expansão volêm ica dos pacientes
estudados. Empregou-se pr ef erencialmente solução cristalóide na ter apia de
f luidos.
Redl-W enzl et al . (1994) est udaram 56 pacientes com choque sépt ico
decorrent e de inf ecção abdominal. Mediante protocolo de expansão volêmica
caracter izado por monitor ização hemodinâmica invasiva r igorosa, o balanço
hídr ico médio f oi positivo em 8.000 mL nas primeiras 24 horas de tratamento,
var iando de 3.000 a 21.000 mL.
Dasta ( 1990) relat ou que pacientes com choque sépt ico habitualmente
precisavam de doses de noradrenalina acima das usuais. Entretanto, não
def iniu quais ser iam as doses usuais, nem tampouco qual seria a dose
necessária ou suf iciente. O suporte hemodinâmico nesses doent es é
f reqüentemente dif icultado por baixa resposta vascular à noradrenalina
exógena. Embora a taquif ilaxia à noradrenalina repr esente pr oblema
signif icat ivo, a relação entre dose de noradrenalina e PAM na presença de
SIRS ainda não é bem compreendida. Em estudo prospectivo que avaliou a
resposta a doses crescentes de nor adrenalina em cobaias saudáveis e
endotoxêmicas, Lange et al . (2007) conf irmaram a presença de baixa
responsividade vascular à noradr enalina na presença de endotoxem ia. Tal
f enômeno se mostrou precoce, ocasionado por mecanismo independente da
droga, não por taquif ilaxia decorrente de administração prolongada.
de dose mant ido por até 114 horas. Esse pico var iou de 0,04 at é 14,5
µ g/kg/min. Treze pacientes receberam noradrenalina acima de 5 µ g/kg/min.
Doses tão alt as não f oram obser vadas em nenhum protoloco de tratam ento
descr ito na liter atura.
Em 50,9% dos pacientes f oi também adm inistrado dobutam ina com o objet ivo
de se obt er ef eito inotrópico cardíaco. O pico de dose de dobutamina var iou
de 1,43 a 45,3 µ g/kg/min. Nota-se, portanto, que alguns pacientes receberam
doses m ínimas de dobutamina, tão baixos quanto 1, 31 µ g/kg/min, sem ef eito
terapêut ico. Por outr o lado, doses de dobutamina acima de 30 µ g/kg/min não
possuem ef eito inotrópico adicional, apenas aumentando seus ef eitos
adversos.
O emprego de doses tão elevadas de cat ecolaminas não parece inf luenciar o
prognóstico destes pacientes que se conf iguram ref ratários ao tratamento.
De f ato, a inf lamação sistêm ica em pacient es com sepse causa
vasodilatação que impede a resposta usual a catecolaminas. Existem
evidências de que a vasorreat ividade alterada está associada à excessiva
produção de radicais livres. O ef eito antioxidante da n-acetilcisteína já f oi
estudado, obser vando-se o f luxo plasm ático renal e a resposta pressórica
sistêm ica ao emprego de noradrenalina durant e endotoxem ia exper imental.
Observou-se que est e agente atenua o aumento da temperat ura cor poral e a
concentração plasmática de f ator de necrose tumoral induzidas pela
endotoxina. Também melhora a responsividade à noradrenalina. Desta
f orma, altas doses de n-acet ilcist eina pode exercer ef eito protetor na
circulação sistêmica e na reatividade a catecolaminas em pacientes com
choque sépt ico ( SCHALLER et al ., 2007).
No presente estudo, f icou evidente que vár ios pacientes f izeram uso de
doses muito elevadas de noradrenalina, sem qualquer êxito, como medida de
desespero na tentativa de recuperar situação que muit o provavelmente já se
conf igurava ref ratária. Obser vou-se q ue 61 pacient es f izeram uso de
noradrenalina em dose acim a de 2,5 µ g/kg/min.
a alt a hospit alar. No estudo pôde ser comprovado que a ocorrência de óbito
após a alta da UTI esteve associada à idade mais avançada e a maior
número de doenças associadas. Por outro lado não f oi obser vada elevada
f reqüência de complicações no per íodo de seguimento, após a alta da UTI.
Não f oram registrados casos de acident e vascular encef álico, insuf iciência
arterial per if érica ou outras situações que pudessem ser atribuídas ao
emprego de drogas vasoativas. Excetuando-se os casos de óbito, a única
complicação obser vada f oi o desenvolvimento de hematoma hepático em
uma paciente, necessitando de inter venção cirúrgica. Esta ocorrência não
pôde ser relacionada ao emprego dos agentes vasoat ivos.
a alguns f atores como choque ref ratário, hipovolem ia não corr igida,
hemodiálise com depleção volêmica, insuf iciência supra-renal relat iva e uso
de medicamentos com ef eito hipotensor.
Uma das lim itações deste estudo f oi a inexistência de protocolo para nortear
a monitor ização dos pacientes incluídos. Nota-se a diversidade de condutas
em relação à monitorização de PVC, PIA e de emprego de cateter de artéria
pulmonar. Mesmo porque esta questão ainda é controversa na lit eratura.
Como exemplo, pode-se cit ar a monit orização da saturação venosa m ista,
var iável que não f oi controlada neste estudo. Na prát ica clínica, obser va-se
que a saturação venosa central tem sido empregada par a aj ustar a volem ia
do paciente sépt ico e a inf usão de dr ogas vasoativas. Entretanto, est udo
prospect ivo recente com 16 pacientes mostrou que, após a expansão
volêmica inicial, dur ante o tratamento do choque sépt ico na UTI, a saturação
venosa central não ref lete com f idelidade a saturação venosa mista
(VARPULA et al ., 2006).
maior f reqüência de suporte vent ilatório, mas por outro lado têm chance
maior de apresentarem o desf echo óbito mais rapidament e. É importante
salientar também o papel da ventilação artif icial em aumentar a demanda por
vasopressor por seu ef eito na redução do débito cardíaco e hipotensão
secundária.
Levy et al . (2005) avaliaram 110 pacientes com choque sépt ico em dez UTIs
de hospitais distintos. Dopam ina era titulada até 20 µ g/kg/min após
expansão volêmica, e, se a pressão ar terial média persistia menor que 70
mmHg, dopamina era prontamente trocada por noradrenalina ou adr enalina.
A mortalidade geral após 28 dias de internação hospitalar f oi de 54% para a
população como um todo. Na análise multivariada, uma variável pr editora
independente de mortalidade f oi a resist ência a dopamina e o escore para
f alência orgânica. Entre os pacient es do estudo, 60% f oram resistentes a
dopam ina. Nos pacientes sensíveis a dopamina, a mortalidade no D28 f oi de
16%, comparada com a mortalidade de 78% entre os pacientes resist entes a
dopam ina ( p = 0,0006). A capacidade da resistência a dopam ina em predizer
a mortalidade teve sensibilidade de 84% e especif icidade de 74%. Desta
f orma, o reconhecimento precoce da resistência a dopamina no choque
séptico pode indicar aqueles pacient es com prognóstico reservado.
No est udo atual, não f oi verif icado o tempo entre a adm issão hospitalar e a
internação na UTI. Mais relevante ainda ser ia def inir o tempo entre o início
da disf unção orgânica e a introdução de medidas de monitorização e de
tratamento específ ico, o qual não f oi f eito. Em estudo brasileir o, f oi
obser vado que a abordagem específ ica par a a sepse muitas vezes é
retardada, ref let indo sobremaneira no desf echo dos pacient es (FREITAS et
al. , 2008). Neste últ imo estudo f oi ver if icada mortalidade na UTI em
pacientes com choque sépt ico de 63,9%.
A idade não inf luenciou a mortalidade dos pacientes com choque sépt ico
durante a inter nação na UTI. Quando se comparou a mortalidade na UTI entre
dif erentes estrat os de idades, f ormados com cortes de 65 ou 75 anos, não
houve dif erença na mortalidade na UTI. Pacientes com mais de 65 anos e
mais de 75 anos representaram 49, 8% e 26, 3% de t oda a amostra,
respect ivament e. Estes achados são compat íveis com aqueles de outros
autores, que estudar am 67 pacient es com choque séptico e idade maior que
65 anos de f orma prospect iva (OLIVEI RA et al ., 2005). Observaram ausência
de relação entre idade e mortalidade na UTI nos pacient es com choque
séptico, justif icando o investimento nesse subgrupo de pacientes.
Apesar da heter ogeneidade das inst ituições part icipant es nesse estudo, com
níveis dif erentes de cobertura por planos de saúde e acesso a tecnologias
diversas, não se observou dif erença de mortalidade na UTI entre os hospitais.
O emprego de cort icóide tem sido indicado no trat amento de pacientes com
choque séptico. Embora este estudo não tenha sido desenhado para avaliar
os result ados dessa estratégia de tratamento, pôde-se obser var que não
123
O estudo atual também mostrou dif erença signif icativa entre os dois grupos
(sobreviventes e f alecidos) quant o ao desenvolvimento de insuf iciência r enal
aguda e, obviament e, também com a f reqüência de emprego de hemodiálise
(p < 0,001). A m ortalidade na UTI f oi maior entre os pacientes com
insuf iciência renal aguda e que receberam terapia renal substitut iva.
Schoenberg; W eiss e Radermacher (1998) registraram algo semelhante quando
73% dos pacientes com insuf iciência renal aguda e choque séptico
f aleceram, contrapondo com mortalidade geral de 40% em pacientes com
choque sépt ico.
Não f oi obser vada associação entre mor talidade na UTI e volume de f luidos
utilizados na expansão volêmica dos pacientes. Entret anto, as atuais
recomendações do "Sur viving Sepsis Campaign" indicam monitorização
precoce e expansão volêmica r igorosa. Em estudo que avaliou protocolo com
emprego de tais m edidas constatou-se redução na mortalidade em 16%,
chamando-se a atenção para o aumento signif icat ivo da inf usão de f luidos
nas pr imeir as seis horas, requerendo inclusive doses mais baixas de
noradrenalina (EL SOLH et al ., 2008).
O índice de APACHE II medido na adm issão da UTI teve relação direta com
a mortalidade na UTI. O índice de APACHE II mediano entre os pacientes
que sobreviveram f oi menor que a mediana daqueles que f oram a óbito (p =
0,003).
Foram vários os sist emas de escore de gravidade propostos até então para
utilização na terapia intensiva: APACHE, APACHE II, APACHE III, SAPS,
MO DS, SUPPORT, SOFA, etc.
houve dif erença est at íst ica. Estes dados contradizem os achados de Hersch,
Elstein e Zimran (1994), que relatar am maior sobrevida em pacientes
cirúrgicos em relação aos pacient es clínicos. Uma possível explicação para o
achado no presente estudo é a car acter ística dos hospitais estudados, nos
quais a maior parte das inter venções cirúrgicas tem carát er emergencial,
aumentando a gravidade desse paciente encaminhado para o pós-operatório
na UTI. Em UTIs cir úrgicas, onde as cir urgias elet ivas são mais f reqüentes,
espera-se menor gravidade dos doentes.
O grupo que evoluiu para o óbito usou doses mais altas de noradrenalina,
apresentou maior índice de APACHE II, recebeu mais f reqüentemente
suporte ventilatór io artif icial, tratament o hemodialít ico e monitor ização de
PIA e usar am doses mais elevadas de dobut amina. Objetivando avaliar o
peso de cada uma dessas var iáveis em sinalizar o óbit o dos pacient es, f oi
realizada análise m ult ivar iada (regressão log íst ica). O modelo revelou que
três destas var iáveis est iveram independentement e associadas ao óbito dos
pacientes com choq ue séptico: presença de insuf iciência renal aguda, maior
gravidade do paciente determinada pelo índice de APACHE II e maior pico
de dose de noradrenalina. Conf orme pôde ser visto na TAB. 18, pacientes
com insuf iciência r enal aguda têm aproximadamente cinco vezes mais
chance de ir à óbito que aqueles sem insuf iciência renal ag uda. O aumento
de uma unidade no índice de APACHE II aumenta a chance de óbito em 1,05
vezes. O aumento de cinco unidades no índice de APACHE II eleva a chance
de óbito em 5,25 vezes. O aumento de 1 µ g/kg/min no pico de dose de
noradrenalina eleva a chance de óbito em 4,4 vezes.
Pacientes mais graves conf orme avaliação pelo índice de APACHE II t ambém
f aleceram mais precocemente, além de apresentar em taxa de mortalidade na
UTI maior em relação àqueles menos graves conf orme pôde ser obser vado
anteriormente.
Conf orme o cr itério no qual o melhor ponto de corte deve ser aquele com
maior soma entre sensibilidade e especif icidade, o valor escolhido da dose
de noradrenalina f oi de 0,785 µ g/kg/min. Assim, doses de noradrenalina
super iores a esse valor é preditora par a o óbito, com 76,4% de sensibilidade
e 72,2% de especif icidade. Interpr eta-se, portanto, que 76,4% dos pacientes
que f aleceram usar am noradrenalina com pico de dose acima de 0,785
µ g/kg/min. Por outro lado, 72, 2% dos pacientes que sobreviveram receberam
noradrenalina com pico de dose abaixo de 0,785 µ g/kg/min. Entre os
pacientes que morreram apenas 23,6% receber am noradrenalina menor que
0,785 µ g/kg/min e apenas 27,8% dos pacientes que sobr eviveram receber am
noradrenalina maior que 0,785 µ g/kg/min.
A cur va ROC (GRAF. 12) para sensibilidade e especif icidade do pico de dose
de noradr enalina em ident if icar os pacientes sobreviventes ou não
sobreviventes revela alto poder de predição desta var iável. Isso pode ser
comprovado pelo valor da área abaixo da cur va ROC, que f oi bastante
elevado (ár ea = 0,804 – IC = 0,756 a 0, 855).
Foi interessante obser var que parcela considerável (22, 5%) dos pacientes
com choque séptico recebeu noradrenalina acima do valor de corte (2, 37
µ g/kg/min), com mortalidade na UTI de 100%. Alguns chegaram a receber
doses de noradrenalina alt íssimas, at ingindo até a 14,53 µ g/kg/min.
Os achados deste estudo podem ter conduzido à def inição do termo “dose
elevada de noradrenalina”. Sugere-se que o nível de dose elevada est eja em
torno de 2,37 µ g/kg/min, valor de corte que separou indivíduos com alguma
sobrevida daqueles com 100% de mortalidade na UTI. Entretanto, o estudo
131
não pôde ver if icar o motivo pelo qual a dose elevada de noradrenalina
esteve associada a 100% de mortalidade na UTI. É provável que óbit o seja o
desf echo conseqüente à gravidade inerente ao paciente, e não relacionado
ao tratamento demandado. Porém, não se pode af astar a possibilidade de
desequilíbr io ainda maior da homeostase ocasionado pelo elevado nível de
catecolam inas circulantes, comprometendo a f unção cardíaca e a perf usão
em órgãos vitais, devido à redistribuição do f luxo sanguíneo.
Vários f atores estão associados ao desf echo desf avorável em pacientes com
choque séptico: doenças associadas, sítio de inf ecção, neutropenia e
antibiot icot erapia inadequada. O presente estudo indica que a dose de
noradrenalina empr egada também possa ser considerada f ator preditor de
mortalidade na UTI nesses pacientes.
Um ef eito dose-r esposta pode determinar o limit e entre benef ício e ef eito
deletério da noradr enalina na perf usão regional em pacientes com choque
séptico. Sob esse viés, seria possível pensar em ef eitos dif erenciados da
noradrenalina no sistema vascular conf orme a dose, assim como f oi
classicamente proposto para dopamina. Ou seja, em doses mais baixas, a
noradrenalina ter ia ef eito predom inantemente α , mas também β -adrenérgico,
a ponto de preser var a circulação esplâncnica. Já em doses elevadas, o
ef eito alf a seria absolutamente preponderante a ponto de reduzir a perf usão
esplâncnica, provocando baixa perf usão em órgãos como f ígado e intestino.
Esse quest ionament o não f oi encontrado na literatura e deve ser investigado.
A lim itação de esf orço terapêut ico é medida polêmica. Não existe ainda
estratégia objet iva que melhor def ina o prognóstico, capaz de or ientar
decisões, de f orma individualizada, no sentido de se cont inuar ou suspender
inter venções terapêuticas. Obser vando- se a dif iculdade encontrada pela
ciência em predizer a real ef icácia de determinada terapia, é possível pr ever
que a própria sociedade encontre mais f acilmente meios para lim itar os
cuidados em pacient es cr ít icos. Os desejos de pacientes e f amiliares devem
ser respeitados ao se def inir os cuidados a serem empregados. Os sist emas
de escores de gravidade podem subsidiar a discussão e incr ementar os
argumentos par a que, aliados a outros preditores de prognóstico, médicos e
f amiliares possam decidir sobre o nível de terapia a ser instituída em
pacientes cr ít icos com choque séptico.
133
7 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Tratando-se de estudo obser vacional, não houve interf erência nas condut as
dos ser viços. Embora não tenham ocorrido dif erenças signif icat ivas na
mortalidade na UTI entre os dif erentes ser viços, a f alta de conduta
padronizada, que poderia comprometer seus resultados, tornou-se vant agem
ao permit ir a avaliação de benef ícios entre as dif erentes abor dagens.
Não havia protocolo específ ico para r ealização de exam es labor atoriais
necessários para cálculo exato do índice de APACHE II. As var iáveis para
cálculo do APACHE II f oram coletadas do pront uário dos pacientes. Isso
pode ter acarretado diminuição da qualidade da inf ormação. A f alta de
134
Para a def inição de choque sépt ico, f az-se necessária expansão volêm ica
adequada, a qual pode não ser t otalmente ef icaz sem monitor ização
hemodinâm ica mais agressiva, o que não é rotina ent re os serviços
pesquisados. Como vantagem, isso permitiu avaliar os benef ícios desta
condut a.
8 CONCLUSÕES
8.1 A mediana de idade foi de 64 anos e 55,4% eram homens. Houve predomínio
de pacientes clínicos (75,1%).
8.2 Noradrenalina foi empregada por um a 43 dias, com pico de dose entre 0,04 -
14,53 µ g/kg/min mantido por uma a 114 horas.
8.7.2 A mortalidade na UTI dos pacientes com choque séptico que usaram
noradrenalina não esteve associada ao hospital participante, sítio de infecção,
emprego de monitorização hemodinâmica, volume utilizado na expansão
volêmica, uso de corticosteróides, número de doenças associadas e idade.
8.8 Pacientes com menor número de doenças associadas, que não receberam
corticóide e que usaram doses mais elevadas de noradrenalina tiveram óbito
mais precoce na UTI.
8.9.2 Estabeleceu-se 2,37 µ g/kg/min como o valor de corte que caracter iza
dose elevada de noradrenalina, não def inida na literatura. Todos os
pacientes que receberam dose maior vieram a f alecer.
138
9 PROPOSIÇÕES
REFERÊNCIAS
GONZALES E. R.; KANNEW URF B. S.; HESS M. L. Inotropic therapy and the
critically ill patient. In: SHOEMAKER, W. C. et al . Textbook of critical care .
Philadelphia: W . B. Saunders Company, 2000. p. 1123-1130.
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patients: a meta- analysis including NICE-SUGAR st udy dat a. CMAJ , v. 180,
n. 8, p. 821-827. Apr . 2009.
HERSCH, M.; ELSTEIN, D.; ZIMRAN, A. Use of the APACHE II severity score in
an Israeli GICU. Critical Care Medicine , v. 30, n.11, p. 851-851, Nov. 1994.
KONOPAD, E. et al . Quality of life measures before and one year after admission
to an intensive care unit. Critical Care Medicine , v. 23, n. 10, p. 1653-1659, Oct.
1995.
ROGERS, J.; FULLER, H. D. Use of daily Acute Physiology and Chronic Health
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VAN DEN BERGHE, G. et al. Intensive insulin therapy in critically ill patients. The
New England Journal of Medicine , n. 345, p. 1359-1367, 2001.
146
VINCENT, J-L. Dear SIRS, I'm sorry to say that I don't like you… Critical Care
Medicine , v. 25, n. 2, p. 372-374, Feb. 1997.
VINCENT, J-L. Steroids in sepsis: another swing of the pendulum in our clinical
trials. Critical Care , v. 12, n. 2, p. 426, Apr. 2008.
APÊNDICES
TERMO DE CONSENTIMENTO:
Declaro ainda, que concordo em participar da investigação, e que não recebi qualquer
tipo de pressão para que isto ocorresse e que os custos dos exames eventualmente
_____________________________________________
Nome do paciente
_____________________________________________
Assinatura do paciente ou responsável
Nº. CI: ________________________
NOME: __________________________________________________________
RELAÇÃO COM O PACIENTE: _______________________________________
ENDEREÇO DO PACIENTE:
_____________________________________________________________________________________________________
_______________________________________
TELEFONES DE CONTATO: ___________________________________________
148
1 ____
APÊNDICE B – PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS 2 ________
3 __
4 ___
5 __ __ __ __ __
6 __ / __ / ____
PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS - FASE HOSPITALAR
7 __ / __ / ____
HOSPITAL: ________________________________________________________
8 __ / __ / ____
NOME: ____________________________________________________________ 9 __ / __ / ____
1- NÚMERO: ________ 10 __
2- REGISTRO: ________________ 11 __ / __ / ____
3- SEXO: ____ M(1) ____F(2)
12 __ / __ / ____
4- IDADE:______ anos.
5- DOENÇAS DE BASE: 13 __
DOENÇAS DE BASE: 14 __ / __ / ____
1ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL 15 __ / __ / ____
16 __
2AIDS
17 __ / __ / ____
3ALCOOLISMO
18 __ / __ / ____
4ARTRITE REUMATÓIDE 19 __
5DEMENCIA CEREBRAL 20 __ / __ / ____
6DIABETES 21 __ / __ / ____
7DPOC 22 __
23 __ / __ / ____
8HIPERTENSAO
24 __ / __ / ____
9HIPOTIREOIDISMO
25 __
10INSUFICIENCIA CARDIACA CONGESTIVA
26 __ / __ / ____
11INSUFICIENCIA CORONARIANA 27 __ / __ / ____
12INSUFICIENCIA RENAL CRONICA 28 __
13INSUFICIÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA 29 __ / __ / ____
0ABDOMINAL
1PELE E PARTES MOLES
2PULMONAR
3URINARIO
4AUSÊNCIA DE INFECÇÃO
5DESCONHECIDO
6OUTRO
o o
Temperatura corporal maior que 38 C ou menor que 36 C .
Freqüência cardíaca maior que 90 bpm.
Taquipnéia com freqüência respiratória maior que 20 irpm ou PaCO2 < 32 mmHg ou estar em
ventilação artificial
Leucocitose maior que 12.000 ou leucopenia menor que 4.000 ou desvio para esquerda (mais de
10% de neutrófilos imaturos).
1 11 21
2 12 22
3 13 23
4 14 24
5 15 25
6 16 26
7 17 27
8 18 28
9 19 29
10 20 30
150
Este caso deve ser excluído porque o paciente usou noradrenalina para:
____ Choque Exclusivamente Cardiogênico.
____ Choque Exclusivamente Hipovolêmico.
____ Choque Exclusivamente Neurogênico.
____ Outro Motivo: ____________________________________________
O B S ER V AÇ Õ E S:
__ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __
__ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __
__ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __
__ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ __ _ __ __ _ __ _ __ _ _ __ _ _
** colocar o código da complicação após alta da UTI (se for “outra”, discriminá-la).
______________________________________ _______________________________
RESPONSÁ VEL PELA COLETA DOS DADOS COORDENADOR DA UTI
151
DATA: ___ / ___ / _____ DATA: ___ / ___ / _____ DATA: ___ / ___ / _____
INFUSÃO INFUSÃO INFUSÃO
HORA (ml/hora) HORA (ml/hora) HORA (ml/hora)
07:00 07:00 07:00
08:00 08:00 08:00
09:00 09:00 09:00
10:00 10:00 10:00
11:00 11:00 11:00
12:00 12:00 12:00
13:00 13:00 13:00
14:00 14:00 14:00
15:00 15:00 15:00
16:00 16:00 16:00
17:00 17:00 17:00
18:00 18:00 18:00
19:00 19:00 19:00
20:00 20:00 20:00
21:00 21:00 21:00
22:00 22:00 22:00
23:00 23:00 23:00
0:00 0:00 0:00
01:00 01:00 01:00
02:00 02:00 02:00
03:00 03:00 03:00
04:00 04:00 04:00
05:00 05:00 05:00
06:00 06:00 06:00
152
BALANÇO HÍDRICO
DIA CRISTALÓIDE COLÓIDE DIURESE OUTRAS BALANÇO
PERDAS
1*
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
* DIA 1: primeiro dia de uso da Noradrenalina, se for o primeiro dia de internação no CTI, ou até 48 horas
anteriores à introdução da Noradrenalina, se esta não foi iniciada no dia da admissão no CTI.
153
ANEXO