2022 Rela Lulianesantos (TCC)
2022 Rela Lulianesantos (TCC)
2022 Rela Lulianesantos (TCC)
DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA
INSTITUTO DE HUMANIDADES E LETRAS DOS MALÊS
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
BANCA EXAMINADORA
Esse trabalho tem como objetivo apresentar e debater a intervenção pedagógica, intitulada “As
redes de Hilária Batista de Almeida - Tia Ciata (1854-1924) entre Bahia e Rio de Janeiro”,
realizada a partir de pesquisa e elaboração de exposição virtual homônima. A intervenção foi
planejada para ser executada no contexto da educação básica no município de Santo Amaro-
BA e centrada na apresentação e discussão em torno dos laços afetivos, religiosos e
consanguíneos de Hilária Batista de Almeida, mais conhecida como Tia Ciata, nascida no
Município de Santo Amaro-BA. Nascida e criada entre o século XIX e início do XX, sua
trajetória de vida na Bahia e no Rio de Janeiro contribui para (re)pensar a história das mulheres
negras no Brasil, tendo como mote específico o Recôncavo Baiano e, particularmente, o
município de Santo Amaro-BA. A investigação se debruçou nesta personagem, nos espaços de
memória relacionados a Tia Ciata, que compõem o cenário do Brasil escravocrata e do pós-
abolição, a partir de suas lutas, resistências e política do cotidiano, no âmbito da religião, do
trabalho e das artes. O presente estudo foi realizado com base em fontes iconográficas, jornais
impressos e bibliografias sobre Hilária Batista de Almeida. A pesquisa resultou na produção de
uma exposição virtual pensada para ser utilizada no ensino básico de Santo Amaro-BA. Nesse
sentido, durante a Intervenção Pedagógica, a exposição virtual foi apresentada e discutida em
roda de conversa com professores do município, no intuito de se construir futuras propostas
pedagógicas a partir dela. De forma geral, a Intervenção apontou novos caminhos para a
construção de materiais didáticos e atividades pedagógicas, com foco na educação patrimonial
atrelada à lei 10.639/03, e a partir de espaços de memória e de narrativas históricas sobre a vida
de mulheres negras em linguagem escrita e visual.
1 INTRODUÇÃO 7
2 ETAPAS DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA 10
2.1 DEFINIÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO 10
2.2 DISCUSSÃO TEÓRICA 14
2.2.1 De Santo Amaro da Purificação para o Rio de Janeiro 16
2.2.2 Hilária Batista de Almeida – Tia Ciata 17
2.3 INSTITUIÇÕES DE ENSINO DOS PROFESSORES PARTICIPANTES 20
DA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
2.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 22
2.5 OBJETIVOS 23
2.5.1 Objetivos específicos 23
2.6 IMPACTOS ESPERADOS 23
3 RELATO SOBRE A EXPOSIÇÃO VIRTUAL E A RODA DE 24
CONVERSA “AS REDES DE HILÁRIA BATISTA DE ALMEIDA -
TIA CIATA (1854-1924) ENTRE BAHIA E RIO DE JANEIRO”
4 ANÁLISE DA EXECUÇÃO E DIFICULDADES ENCONTRADAS 34
5 RESULTADOS OBTIDOS 34
5.1 DESDOBRAMENTOS DA EXPOSIÇÃO VIRTUAL E RODA DE 35
CONVERSA “AS REDES DE HILÁRIA BATISTA DE ALMEIDA -TIA
CIATA (1854-1924), ENTRE BAHIA E RIO DE JANEIRO”
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 38
Referências 40
Apêndices 43
7
1 INTRODUÇÃO
município de Santo Amaro, e suas contribuições a partir dos seus processos de resistência e da
sua política do cotidiano, no âmbito das estruturas e relações familiares consanguíneas e
afetivas (GEBARA, 2011; MARTINS, 2013).
Para a pesquisa, a exposição e, consequentemente, na intervenção, trouxe o tema da
família negra por ela representar o locus das atividades expressivas de Tia Ciata ligadas aos
campos da religião, da música e das festas. Os estudos sobre família negra, além de dialogarem
com a presente intervenção pedagógica, são relevantes também por nos sinalizar um
silenciamento ainda presente na produção acadêmica e na educação sobre o tema,
especialmente, levando em consideração sua diversidade estrutural.
A perspectiva desta intervenção é pautada nos gritos (orais e escritos) a nível mundial
que ecoam a necessidade de nós, mulheres negras, construirmos ações políticas para garantir
nossos direitos humanos, mas a partir dos nossos próprios olhares e indo ao encontro do que a
intelectual e ativista Angela Davis afirma: “Quando uma mulher negra se movimenta, toda a
estrutura social se movimenta com ela” (DAVIS, 2017)1. Partindo da premissa de que
compomos a base de uma pirâmide social e temos ainda poucas produções de mulheres negras
sobre mulheres negras, esse projeto visa desentalar e responder a crítica muito bem vinda de
Conceição Evaristo (2016)2 sobre nossa escrita: “A escrita das mulheres, a nossa história, a
história das mulheres negras e das classes populares, não está escrita, e se está, está escrita sob
a ótica das classes dominantes. A nossa escrita está engasgada” (EVARISTO, 2016).
Essa abordagem exige que nós, cada vez mais, nos aproxime das teorias da
interseccionalidade para pensar a discriminação de raça articulada à questão de gênero e os seus
resultantes epistemicídios, tal como nos inspira Lélia Gonzalez (1983), Beatriz Nascimento
(1989) e Sueli Carneiro (2005, 2003), intelectuais negras engajadas na luta antirracista e
antissexista. Segundo Kimberle Crenshaw (2002, p. 8), criadora da noção de
interseccionalidade,
1
Palestra “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”, realizada na Universidade
Federal do Recôncavo Baiano, na cidade de Cachoeira-BA, em 2017, sob organização do grupo feminista Odara
– Instituto da Mulher Negra.
2
Fala da escritora no documentário e web série “Empoderadas”, direção de Issis Valenzuela e Renata Martins,
2016.
9
Uma das informações mais difundidas sobre Tia Ciata é que em sua casa na região da
Praça Onze, no centro do Rio de Janeiro, se reuniram com regularidade diversos sambistas para
tocar e compor, como Donga, Pixinguinha, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, dentre outros.
(THEODORO, 2009; SILVA, 2014; RAPOSO et.al., 2014; MOURA, 1995).
No presente projeto de intervenção pedagógica, a temática da mulher negra é pontuada
de forma diversa, na exposição e na roda de conversa as categorias “mulher”, “mãe pequena”,
“irmã”, “tia”, são pensadas para pensar no protagonismo feminino exercido por Hilária a partir
de diferentes redes de sociabilidade. Apoio-me na ideia de pensar o protagonismo da mesma
para evidenciar outras histórias, rostos, nomes e, sobretudo, novas mulheres a partir da escrita
e da fotografia.
Hoje, Santo Amaro é um município brasileiro do Estado da Bahia com uma população
estimada em 60.131 habitantes. Desse número total, 51.665 declararam-se pardas e pretas,
portanto, quase a totalidade da população do município (IBGE, 2010). A trajetória de Hilária
3
Com esse termo me refiro aqui às trocas e às redes de sociabilidade ocorridas através de apoio mútuo construídas
na comunidade negra entre o século XIX e XX, para além da estrutura familiar patriarcal, como a rede em torno
da Tia Ciata que amparava os imigrantes baianos no Rio de Janeiro.
10
Batista Batista de Almeida, Tia Ciata, representa uma das experiências, dentre inúmeras, de
migrações de baianas e baianos para o sudeste, ainda no século XIX. É importante tratar desse
assunto considerando o deslocamento de Tia Ciata para Salvador e posteriormente para a cidade
do Rio de Janeiro, onde chega em 1876. Podemos sugerir, com base na literatura, que a
motivação para sua migração esteve fundamentada na fuga da perseguição religiosa e na
possibilidade de melhoria das condições de vida (CORREA, 2018; THEODORO, 2009;
SILVA, 2014; RAPOSO et al., 2020; MOURA, 1995).
A escolha por uma intervenção pedagógica em espaço virtual ocorreu em decorrência
da pandemia provocada pelo COVID-19 que demandou o distanciamento social. Já o formato
da ação como roda de conversa foi escolhida por ser uma prática presente nas culturas africanas,
afro-brasileiras e indígenas e por permitir a horizontalidade, propiciando uma maior
possibilidade de participação e de trocas entre o grupo. O público alvo da intervenção eram
professoras e professores que atuam no ensino fundamental 2 e no ensino médio de escolas de
Santo Amaro-BA. A intervenção aconteceu no dia 03 de fevereiro de 2022, às 19:00 horas, por
meio da plataforma do Google Meet.
Para realização do presente TCC, foi necessário passar pelas seguintes etapas:
Conheci a Tia Ciata na procura por personagens negras importantes do Recôncavo para
realização de uma pesquisa no âmbito da componente Tópicos em História da Bahia e do
Recôncavo Baiano do curso de História da Unilab. Em uma turma com mais de trinta alunos e
alunas, todas/os estavam centradas/os em contar uma história a partir de lugares, monumentos
e personagens masculinos. Eu achei importante trazer para o centro do presente estudo a
referência de uma mulher que se tornou uma das figuras mais conhecidas, sobretudo, na
comunidade negra e artística do Rio de Janeiro pelo seu poder religioso, mas também agregador
e de inestimável contribuição comunitária na passagem da escravatura para o pós-abolição. Na
presente intervenção, a noção de comunidade se faz presente em razão do papel de liderança
das "tias baianas", que se revelaram capazes de reunir, através de “centros” e “terreiros”,
espaços muito importantes para disseminção do conhecimento cultural e intelectual negro e
11
baiano no Rio de Janeiro e que também eram referências obrigatórias para os baianos recém-
chegados ao Rio (VELLOSO, 1990; BRITO, 2020).
Na Introdução do livro Ensinando a transgredir, a educação como prática da Liberdade
(2013), bell hooks, escritora e educadora afro-americana, afirma: “O campo acadêmico de
escrever sobre a pedagogia crítica e/ou a pedagogia feminista continua sendo antes de tudo um
discurso feito e ouvido por homens e mulheres brancos.” (p. 20). A partir da exposição virtual
e da intervenção pedagógica, pretendi também elaborar uma escrita que chegasse aos espaços
de convívio e de ensino, por isso o recorte racial e de gênero. Neste trabalho tenho a intenção
de contribuir com uma pedagogia crítica e feminista, contrariando a tendência exposta por bell
hooks.
Nesse sentido, inspiro-me nesta autora para pensar a educação como prática de
transgressão e de liberdade, somando minha voz ao apelo coletivo mencionado por ela:
(...) somo minha voz ao apelo coletivo pela renovação e pelo rejuvenescimento de
nossas práticas de ensino. Pedindo a todos que abram a cabeça e o coração para
conhecer o que está além das fronteiras do aceitável, para pensar e repensar, para criar
novas visões, célebro um ensino que permita as transgressões — um movimento
contra as fronteiras e para além delas. É esse movimento que transforma a educação
na prática da liberdade. (p. 23-24).
escravidão, que acontece todos os domingos do mês de julho pelas ruas de Acupe, distrito de
Santo Amaro - BA” (ALVES, 2019, p. 57).
Neste sentindo, para além de atender a uma demanda de produção de material didático
que conversa com o contexto do isolamento social, a exposição em formato virtual também
permite a circulação do material criado por diferentes ambientes públicos e espaços
educacionais. Sendo assim, o período pandêmico acabou exigindo que pesquisadoras(es) e
professoras(es) fossem capazes de alcançar lugares, pessoas e universos múltiplos, os(as)
chamados(as) “Intelectuais Mediadores(as)”, que são apontados(as) como “aqueles(as) que
constroem projetos, individuais ou coletivos, visando conscientemente criar produtos culturais
capazes de alcançar públicos diferenciados, o que, no nosso caso concreto, inclui o público
acadêmico, mas pode e deve ultrapassá-lo” (GOMES et al, 2021, p. 2). Em vista disso, elaborei
com a colaboração da minha orientadora, uma proposta de Intervenção Pedagógica que incluía
a criação de uma exposição virtual, produzida a partir de pesquisa prévia, mediada por mim em
um encontro com professores(as) do município de Santo Amaro.
Mudei-me para a cidade de Santo Amaro em 2018 com o desejo de terminar um projeto
de pesquisa intitulado: “Família negra, Laços afetivos e educação escolar na cidade de Simões
Filho-Ba”, defendido como TCC no Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (Unilab).
Simões Filho é a cidade onde eu fui criada, ela fica entre Salvador, cidade de meu nascimento
e Santo Amaro. Durante minha trajetória na Licenciatura em História mudei meu foco de
pesquisa para a compreensão da história de vida e do patrimônio histórico cultural a partir de
uma educação não-formal, sem deixar de contemplar a formação das famílias negras e os laços
afetivos cultivados nesses espaços. Já não estava interessada em realizar a pesquisa no ambiente
escolar. Porém, sei da importância de pensar o contexto escolar, a formação das famílias negras
e os laços afetivos cultivados nesses espaços e o interesse pela educação se manteve e sustenta
o presente trabalho. Aproximei-me da noção de educação não-formal a partir da importância
do seu sentido, acreditando que ela tem uma contribuição significativa no aspecto social e de
formação dos sujeitos e está presente no âmbito das famílias e dos espaços de sociabilidade,
como os terreiros de candomblé e nas irmandades.
A proximidade com a perspectiva de gênero já estava presente na formação como
Bacharela em Humanidades e foi acentuada com a minha participação na componente
Pensamento Feminista Negro, Intelectualidade e Escritas de si: Saberes Transgressores no
Ensino e Aprendizagem, do curso de História da Unilab. Pensando a importância da história de
novos sujeitos e da necessidade de um lugar de fala que coincide com uma maior proximidade
da história familiar, também produzi um novo projeto de pesquisa como proposta para o
13
personagem da Hilária, Tia Ciata, como personagem simbólico para História do Samba da
Bahia para o Rio de Janeiro. Na disciplina de Estágio Supervisionado III, desenvolvido na Casa
do Samba – ASSEBA, acreditava que iria me aprofundar nesse tema. A Casa do Samba consiste
em uma antiga mansão do século XIX, reconhecida como Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional pelo IPHAN. Sua ocupação pela ASSEBA se deu em 2007 e teve como objetivo a
criação de um centro de referência, pesquisa, treinamento, transmissão e vivência de uma das
manifestações culturais mais importantes da região e do Brasil que é o samba de roda, tombado
como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2005. Porém, a Casa do
Samba não possui um/a educador/a ou uma rotina de visitas acompanhada e requer do público
visitante uma autonomia na aquisição de conhecimento. É um espaço ligado à educação que
também pode promover silenciamentos, e, ao mesmo tempo, uma aprendizagem significativa
para a comunidade. Pensar esses espaços em dialógo com o ambiente escolar, possibilita que o
estudante seja incentivado e provocado a buscar respostas, a visitar lugares, a conversar sobre
o seu lugar de origem e suas próprias histórias, a localizar vestigios, fontes e fotos, a
desenvolver uma attitude historiadora. Um dos silenciamentos observados na Casa do Samba
diz respeito à memória da Tia Ciata. Sendo assim, perguntei: Quais os sentidos em torno deste
silenciamento? É um apagamento dado pelo correr do tempo e por falta de informações sobre
sua história na Bahia ou por um embate político regional? Qual a importância da memória ou
de investigar a presença de Tia Ciata nesse espaço, nessa cidade? Como essa memória aparece
no currículo do município?
Bahia. Assim, procuro respostas a essas lacunas, motivadoras para elaboração do presente
estudo.
Para aprofundar no tema foi preciso partir da leitura biográfica da Hilária Batista de
Almeida (1854-1924). As leituras me levaram a pensar uma bibliografia que dialogasse com o
tema. Então me debrucei em ler um pouco mais sobre o Recôncavo Baiano, sobre Santo Amaro
no século XIX, sobre o conceito de lugar de memória e sobre os/as negros/as na fotografia.
Algumas referências sobre família negras foram bagagem dos estudos para elaboração do
Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharel em Humanidades. Destaco aqui os principais
trabalhos que contribuíram na elaboração da exposição.
É importante ressaltar que a história da Tia Ciata também ocupa lugar no que Maurice
Halbwachs (2013) nomeou como “memória coletiva”. As memórias sobre Tia Ciata se
entrelaçam com as lembranças de um grupo de pessoas pertencentes à comunidade negra,
baiana e carioca, que seguem sendo transmitidas de geração a geração. No entanto, pelos
estudos até agora realizados, a história de Tia Ciata está pouco presente na memória pública da
cidade de Santo Amaro, e até mesmo no espaço de memória destinado à preservação do Samba
na Bahia, especificamente, na Casa do Samba, Associação de Sambadores e Sambadeiras do
Estado da Bahia – ASSEBA, localizada no centro de Santo Amaro.
A seguir, apresento brevemente a cidade de Santo Amaro da Purificação e o Recôncavo
Baiano, para então abordar algumas categorias relevantes para a pesquisa, como migração,
diáspora e diáspora baiana. Artículo tais conceitos no intuito de entendê-los a partir da relação
com a comunidade negra na Bahia oitocentista, na qual são notadas as estruturas das famílias
negras. Famílias essas marcadas pela presença de laços de parentescos simbólicos, rituais e ou
espirituais. A necessidade de pensar a família negra nesse trabalho se dá também porque durante
a discussão sobre um ideal de nação, a família negra foi colocada em oposição à família
patriarcal e pensada no contexto da miscigenação e do embranquecimento, enquanto
desestruturadas e estruturadas, respectivamente. Muitas vezes as famílias negras são nomeadas
como famílias extensas, estabelecidas por redes de apoios, onde agentes oriundos da família
biológica ou não podem fazer parte desde que participem do circuito de trocas de dinheiro,
comida, cuidados, religião etc, estabelecendo laços de solidariedade e consideração
(CASTILHO, 2008).
Considerei importante pensar a trajetória e os laços familiares de Tia Ciata de forma
ampliada. Tanto a história da família religiosa quanto a história da família consanguínea de Tia
Ciata que permaneceu na Bahia, provavelmente, na cidade de Salvador e no Recôncavo Baiano
foram levadas em consideração no presente estudo. Essas últimas informações, no entanto, não
16
A Vila de Santo Amaro da Purificação foi fundada pelos portugueses em 1557, fruto
das expedições comandadas por Mem de Sá, terceiro governador do Brasil, comprometido com
a consolidação do empreendimento colonial (MACHADO, 2014). Hoje, Santo Amaro é um
município brasileiro do Estado da Bahia com uma população estimada em 60.131 habitantes.
Desse número total, 51.665 declararam-se pardas e pretas, portanto quase a totalidade da
população do município (IBGE, 2010). O município também compõe a região que conhecemos
como Recôncavo Baiano, definido como região que integra a “Baía de Todos os Santos”
(CAROSO et al., 2011). De acordo com Ana Rita Machado (2014), o Recôncavo Baiano é uma
das regiões mais importantes do país, ou seja, ele é caracterizado pelas singularidades
socioculturais das populações, sobretudo dos povos afrodescendentes. O processos culturais do
Recôncavo foram marcados pela lógica dos processos históricos da colonização e da
escravidão. Quando abordamos o samba de roda no presente trabalho, estamos pensando em
festas e sociabilidades que aconteciam também neste contexto e na configuração de espaços de
expressão e difusão de um ethos cultural e religioso afrodiaspórico. As vivências que envolviam
tanto o samba quanto a religiosidade de matriz africana são consideradas aqui como práticas
também de resistência.
O Recôncavo Baiano foi palco de importantes episódios de resistência escrava, como
bem abordado por João José Reis, no artigo “Recôncavo Rebelde: Revoltas Escravas nos
Engenhos Baianos” (1992). Essa região também é considerada historicamente como o berço da
tradição do samba de roda. De acordo com Eloisa Domenici (2017), A maioria dos estudos
sobre o samba de roda focaliza sua ocorrência no Recôncavo Baiano, até mesmo devido ao fato
17
de que aquela região é considerada historicamente o epicentro dessa tradição, o que pode fazer
parecer que ela não ocorre em outras regiões do Estado, o que não é verdade. (p. 225). Nesse
sentido, Eloisa Domenici alerta para a presença do samba de roda em outras regiões do Estado,
especificamente no litoral Norte.
Com a experiência de migração dos baianos para o sudeste, ainda no século XIX, há um
deslocamento dessa tradição do samba para o Rio de Janeiro. É importante tratar desse assunto
considerando o deslocamento de Tia Ciata para Salvador e posteriormente para a cidade do Rio
de Janeiro, onde chega em 1876. Podemos sugerir, com base na literatura, que a motivação para
sua migração esteve fundamentada na fuga da perseguição religiosa e na possibilidade de
melhoria das condições de vida (CORREA, 2018; THEODORO, 2009; SILVA, 2014;
RAPOSO et al., 2020; MOURA, 1995). Roberto Moura, em seu livro “Tia Ciata e a pequena
África no Rio de Janeiro” (1995), se debruça a pensar a história da Tia Ciata atrelada à história
do grupo baiano, formado por baianos livres, em movimento de ocupação da área urbana do
Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, A população negra do Rio de Janeiro só
voltaria a crescer já na segunda metade do século XIX com a decadência do café no vale do
Paraíba e com as chegadas sistemáticas dos baianos que vêm tentar a vida no Rio de Janeiro
(MOURA, 1995, p. 44). Na perspectiva do autor, esse movimento gera uma nova “síntese da
cultura negra no Rio de Janeiro” (MOURA, 1995, p. 44). Esses negros e negras baiano/as livres
ou não eram muitas vezes líderes religiosos do candomblé, membros de irmandades ou de
grupos festeiros que traziam da Bahia uma imensa bagagem cultural que influenciaria e deixaria
marcas na comunidade carioca. Sampaio (2009) ao discorrer a respeito do movimento
migratório da região norte e nordeste para o sudeste, ressalta que entre 1850 e 1888, um número
expressivo de trabalhadores se moviam da região Norte e Nordeste rumo ao sudeste e esse
deslocamento deu lugar a consequências demográficas, sociais e culturais que influenciaram a
sociedade brasileira.
tempo Ciata teria passado em Salvador? Quais as relações foram estabelecidas na cidade? Qual
foi a rota realizada até o Rio de Janeiro? Essas são algumas lacunas na história de vida de Tia
Ciata que a pesquisa pretende se debruçar. Segundo (RAPOSO et al., 2020),
Em 1876, com apenas vinte e dois anos, chegou ao Rio de Janeiro, indo morar na rua
General Câmara” (MMV, p. 28). Esse movimento de viagem/fuga remete à diáspora
africana, cuja referência é a viagem forçada imposta aos negros, iniciada no período
da escravidão, a qual inevitavelmente trouxe a necessidade de novos contatos e a
reelaboração de costumes e comportamentos. É importante ressaltar que o episódio
narrado está relacionado a fatos históricos, sendo um deles a data da viagem e a idade
da personagem coincidindo com dados da biografia de Tia Ciata (p. 301).
de agosto e envolve a realização de missas e de samba de roda, podendo ser considerada uma
devoção sincrética do candomblé com o catolicismo. Nesta cidade, há relatos de que Tia Ciata
não só frequentava, mas pertencia a esta irmandade, como afirma Brito (2020),
por 16% de pessoas pardas e 4% de pessoas brancas, com idades entre 26 e 58 anos, nascidas
em Santo Amaro, Salvador e São Félix, município da região do Recôncavo Baiano.
A atividade contou com a presença de 13 participantes, em sua grande maioria, mulheres
(85%). Dentre os participantes, duas eram estudantes da Unilab, uma estudante do IFBA, um
era educador social e nove eram professoras/es da educação básica, sendo uma delas também
estudante da Unilab. Três professores participantes atuavam na Educação Infantil, três atuavam
no Ensino Médio, três atuavam no Ensino Fundamental 2. Os componentes curriculares
lecionados por essas e esses professores do Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio eram:
Matemática, Artes, História e Língua Portuguesa. Seguem abaixo as escolas representadas na
Intervenção a partir de seus professores:
fica localizada no distrito de São Braz. Tem apenas 04 salas, atua com turmas do
ensino Fundamental 2 e de EJA - Ensino Fundamental, anos iniciais.
2.5 OBJETIVOS
Criar uma uma visita mediada na Exposição Virtual “AS REDES DE HILÁRIA
BATISTA DE ALMEIDA - TIA CIATA (1854-1924) ENTRE BAHIA E RIO DE JANEIRO”,
dando destaque para suas atuações e contribuições no seio de sua família extensa na Bahia e no
Rio de Janeiro e debatê-la em uma roda de conversa com professoras(es) do Município de Santo
Amaro-BA, cidade de origem da Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata (1854-1924).
A história da Tia Ciata é maravilhosa, inspiradora para toda mulher negra, né? Para
todo povo negro. Então assim, a gente poder conhecer mais a historia dela, pra gente
poder tá passando essas mulheres e homens negros como inspiração para os jovens de
hoje porque a mídia não deixa isso tão aberto assim, tantas pessoas que inspiram, mas
só que tem tanta mulher negra, tanto homem negro inspirador que é escondido,
camuflado e a gente precisa conhecer. A história para que a gente possa divulgar
também e essas mulheres e esses homens negros lutadores que eles possam ser
também inspiração, para outras outras mulheres e para outros homens que a gente
possa estar sempre internalizando que nosso povo é riquissimo e que se deixarem a
gente vai longe.
Arnaldo é professor efetivo de Matemática, na escola Ana Judith, localizada no distrito de São
Braz, no município de Santo Amaro. Ele trabalha com grupos culturais, como samba de roda,
marujada, rancho, dentre outras. Afirmou que de todas as manifestações, o samba é o que mais
lhe tocava. Ele comentou que toca e canta nos grupos de samba de roda. Afirmou que para ele,
falar de Tia Ciata é falar da história do samba, e por esse motivo não queria perder essa
atividade. Também apontou que estava ali para ouvir e aprender um pouco mais e trocar ideias.
Agradeci pelas apresentações e afirmei que a roda de conversa seria exatamente isso,
uma troca e por esse motivo o formato pensado foi uma rodada de conversa e não apenas uma
apresentação de uma exposição virtual. Também apontei que nunca tinha ouvido falar dos
ranchos aqui na Bahia. Informei que na exposição abordava esse assunto a partir da diáspora
baiana no Rio de janeiro e que iríamos conversar sobre o mesmo a partir da experiência de
migração. Relatei que a presente exposição também estabelecia um diálogo entre o campo
acadêmico e a educação básica de ensino de Santo Amaro e expliquei que esse era o motivo da
seleção do público participante, mas que todos(as) eram bem vindos(as).
Dei sequência à apresentação e debate da exposição a partir do compartilhamento de
tela. Após uma breve introdução sobre meu trabalho de pesquisa, Arnaldo fez a leitura da
citação que abre a exposição: “É preciso imagem para recuperar a identidade, tem que tornar-
se visível, porque o rosto de um é o reflexo do outro. O corpo de um é o reflexo do outro e em
cada um reflexo de todos os corpos”. Beatriz do Nascimento, Documentário “Ôrí", 1989.
Informei que Beatriz do Nascimento foi uma historiadora muito importante, que seus estudos
se debruçavam sobre a temática da comunidade negra e que ela trouxe a sua percepção sobre a
imagem do povo negro e da importância da imagem na tentativa de recuperação de uma
identidade, o que dialogava diretamente com a exposição. Falei também que a escolha da
citação aponta para a importância da leitura de imagem a partir do corpo individual relacionada
a uma contextualização do coletivo, da sociedade. A ideia de que esse corpo individual também
faz parte de um coletivo e é por esse caminho que penso, pesquiso e narro a trajetória de Tia
Ciata e as redes que ela foi construindo ao longo da vida.
Além de abordar os conteúdos relacionados a cada página da exposição, fizemos a
leitura de todas as imagens expostas de forma coletiva e com a minha mediação. Algumas das
questões feitas por mim durante a visita mediada: Por que selecionei essa máquina do século
XIX? Segui informando que pensar o objeto no seu tempo possibilita adentrar no século XIX,
pensando também o meio para a produção de parte das fotografias apresentadas na exposição.
Na primeira parte da Exposição abordei o contexto de origem de Tia Ciata no Recôncavo
Rebelde, trazendo o mapa, que é uma representação do Recôncavo no séc. XIX e destaquei a
27
afirmação de Ubiraci sobre Salvador como parte do Recôncavo. Segui com uma narrativa a
partir dos estudos do João José Reis, da presença de revoltas escravas e da produção agrícola,
sobretudo de cana de açúcar e de tabaco na região.
A partir da imagem do cartão postal com a paisagem de Santo Amaro de 1904, enviado
para a França, conversamos sobre a comunicação por correspondência nos séculos XIX e XX,
e de como Santo Amaro era retratada. Sobre as referências a figuras importantes do município
citadas na exposição, perguntei se os participantes acrescentariam outros nomes e quais seriam.
Citaram o engenheiro Teodoro Sampaio, a professora Zilda Paim, o músico Roberto Mendes,
o compositor Márcio Valverde, o mestre de capoeira Sidney e o capoeirista Besouro Mangangá.
As imagens das paisagens de Santo Amaro também motivaram uma discussão sobre as
transformações na cidade e a importância do Rio Subaé, a presença da navegação a vapor assim
como a epidemia de cólera entre 1855-1856, que dizimou metade da população.
Partindo para a temática de Tia Ciata pela Bahia, falei sobre o tema da família negra e
dos espaços de sociabilidade, estabelecendo um diálogo com o trabalho de Isabel Reis sobre a
família negra na Bahia oitocentista. Apontei que muitas vezes a família negra é tida como
desestruturada por não seguir o modelo patriarcal-nuclear, pai, mãe e filho. Isabel traz a
importância dessas famílias, mas também aborda famílias negras no plural formada por laços
de sociabilidade, afetividade para além dos laços de consanguinidade. Foi a partir dessa
perspectiva que abordei a trajetória da Tia Ciata para além do lugar que ela nasceu.
Mencionei também o trabalho de Moura (1995) sobre a história de vida de Tia Ciata.
Ele afirma que a Tia Ciata fez parte de um terreiro chamado Casa Branca do Engenho Velho,
ainda na Bahia, que motivou minha pesquisa sobre o terreiro e a seleção de algumas imagens.
Apresentei fotografia do Século XIX, da igreja da Barroquinha, falei da reforma, citei seu ano
de fundação e informei que hoje é um espaço cultural. Informei que a igreja sediou a Irmandade
do Martírio e a Irmandade da Boa Morte (1820), e que a transferência da irmandade para
Cachoeira se deu na virada do séc. XIX para o séc. XX. Narrei que ao redor tinha um terreiro
conhecido como: Terreiro da Barroquinha que deu origem a três outras casas de candomblé
localizadas em Salvador e que um desses terreiros era a casa Branca do Engenho Velho, o
mesmo que a Tia Ciata foi iniciada quando ainda estava na Bahia. Trouxe a fotografia do
Terreiro Ilê Axé Nassô Oká, a Casa Branca do Engenho Velho, e fiz uma ligação com as
revoltas africanas, sobretudo com a Revolta dos Malês (1835), onde uma série de eventos
impulsionaram os rebeldes, um deles foi o leilão de um mestre africano, assim como a presença
de nagôs islamizados na Bahia. Continuei apontando que nas revoltas os africanos se
direcionaram para tomar o Recôncavo, pois precisavam ter o apoio dos numerosos
28
trabalhadores rurais concentrados nos engenhos da região. Informei que foi nesse contexto que
Isabel Reis (2007) traçou seus estudos sobre a estrutura familiar negra que foram estabelecidas
para além dos laços de sangue, apontando também a relação de apadrinhamento e de família de
santo.
Falando do tema da família de santo, iniciei uma exposição sobre as perseguições aos
terreiros de candomblé, apontando os jornais e o posicionamento da imprensa. Perguntei o que
os participantes podiam observar em relação à população negra nos recortes de jornais,
apontando a presença do candomblé, dos conceitos de ignorância, a noção de religiosidade, a
cultura africana ou afro-brasileira, a feitiçaria. Após a leitura, perguntei sobre as motivações
para aquele tipo de conteúdo etc.
Seguimos para o tema da Irmandade da Boa Morte, transferida para Cachoeira. Apontei
que é uma irmandade de mulheres e apresentei a fotografia de Aristides Alves que retrata o
cortejo da Festa da Boa Morte (1984). Segui narrando que a Tia Ciata ainda na Bahia fez parte
dessa irmandade e que com a transferência da mesma de Salvador para a cidade de Cachoeira
- BA, se instalou na Casa Estrela e depois mudou para uma sede maior localizada na rua Treze
de Maio. A casa ficou conhecida no séc. XIX pela sua forte movimentação de africanos. Na
sequência fizemos a leitura da fotografia de Adenor Gondim. Perguntei como podemos
perceber a expressão das mulheres da fotografia? O que vocês perceberam na foto? Vocês
trabalhariam com essa fotografia? Quais temáticas vocês usariam para trabalhar? Alguém
respondeu que pôde perceber vários aspectos, citando a beleza da mulher negra mais velha, a
estética, e a resistência. Outra participante apontou que a imagem passava a força da mulher
negra que conquistou um espaço.
Para pensar a Tia Ciata na fotografia, expus a fotografia de duas negras baianas
apontadas como sendo a Tia Ciata e a Tia Josefa. Perguntei qual ligação poderíamos fazer entre
a imagem apresentada e a irmandade, o que essas mulheres da fotografia têm em comum com
a Irmandade da Boa Morte? Partindo para outra fotografia que está presente no Acervo da Casa
da Tia Ciata, reconhecida por sua neta Lili e pela sua bisneta Gracy, como sendo a real
fotografia da Tia Ciata. Solicitei que fizéssemo a leitura de imagem juntos(as) e perguntei se
alguém conhecia os tecidos da roupa dela e como identificaríamos na fotografia o campo
religioso da mulher retratada. Apontei que a fotografia da Tia Ciata foge de um padrão de
fotografias de mulheres negras no seculo XIX, pois em sua maioria, as mulheres aparecem as
amas fotografadas junto às famílias brancas. Assim, temos muitas representações do corpo
negro a partir da amamentação do corpo branco e dos cuidados com corpos brancos. Outras
perguntas foram feitas, como: Essa é uma fotografia do dia-a-dia ou foi tirada em um estúdio
29
fotográfico? Quem a fotografou? Coloquei que a fotografia apresentada foi tirada por Rodolpho
Lindemann, e que a foto não aponta o nome da Tia Ciata. Na época, a maioria dessas fotografias
era registrada com a assinatura do fotógrafo e as mulheres eram identificadas como crioula ou
negra de tal lugar, como “negras da Bahia”. Na fotografia tirada por Ferrez, intitulada “Negra
da Bahia”, mencionei que a mulher da fotografia às vezes é apontada como sendo a Tia Ciata,
em outros momentos é apontada como sendo Aqualtune, porém a fotografia é do século XIX e
Aqualtune viveu em 1665. Perguntei quem seria aquela mulher e por que ela aparece sem nome.
Segui apresentando a temática da “Diáspora baiana no Rio de janeiro" e abordei a
religião de matriz africana presente na Pequena África a partir de Moura (1995). Exibi a
fotografia da Praça Onze em 1920 e a imagem do Cais do Valongo. Informei que o mesmo cais
foi transformado no Cais da Imperatriz, como mencionado na legenda da fotografia e os
sentidos dessas transformações. Apontei que no Cais existia um comércio de escravizados e
que o mesmo foi soterrado em 1843. Que deveríamos pensar a Pequena África como um
território de sociabilidade dos baianos que migraram para o Rio de Janeiro. Para pensar mais
sobre essa região da zona portuária do Rio, fiz a exibição da foto que retrata a lavagem
simbólica em homenagem aos ancestrais que ali desembarcaram, no séc. XIX. Em seguida,
apresentei a imagem do livro de Moura (1995), onde o mesmo utiliza na capa uma arte
produzida por Heitor dos Prazeres, um cantor, compositor e pintor que nasceu no Rio de Janeiro,
no seio da comunidade baiana. Apontei que as artes de Heitor dos Prazeres são elementos que
podem ser trabalhados em sala de aula, por narrar as festividades, a música, os modos de vida
e a cultura negra no Rio de Janeiro.
Partindo para a temática “Entre Família, Trabalho e Samba”, informei que esses
aspectos levaram a Tia Ciata a ficar conhecida no Rio de Janeiro, pela relação de trabalho como
quituteira e da sua vivência no samba, e na relação com sua família ampliada. A Tia Ciata vivia
em uma comunidade permeada de mulheres negras e estas eram conhecidas como as Tias.
Levantei o debate sobre o protagonismo da Tia Ciata como “porta de entrada” para trazer à tona
as histórias de outras mulheres ligadas ao grupo baiano na diáspora carioca. Mulheres que saem
da região do Recôncavo e vão para o Rio de Janeiro, como Iá Davina, Davina Maria Pereira
(Salvador 1880, Nova Iguaçu- RJ, 1964), que também integrou o terreiro da Casa Grande de
Mesquita. Essas são algumas das mulheres que compõem comunidades de terreiros no Rio de
Janeiro na virada do século XIX, porém existem muitas outras. Em seguida, apresentei a
fotografia de sambistas do Rio de Janeiro em 1920 e na leitura de imagem, perguntei se alguém
notava a presença das mulheres com instrumentos ligados ao universo do samba e perguntei se
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onde Tia Carmem menciona a experiência da chegada dos baianos e baianas ao Rio de Janeiro
à procura de melhoria de vida ou em fuga da perseguição religiosa. Em seu relato, a Tia Carmem
traz outros nomes, outras irmãs da Bahia, tanto da Boa Morte quanto da Casa Branca do
Engenho Velho.
Relatei que no Rio de Janeiro, a Tia Ciata se torna Yakeré, cargo equivalente à mãe
pequena do terreiro fundado pelo sacerdote João Alabá, frequentado também por Tia Carmem
do Ximbuca, (1878- 1988). Neste momento mostrei a foto da tia Carmem, informei o ano da
fotografia, o nome do fotógrafo, informei que a fotografia e o relato da Tia Carmem estão no
livro de Moura (1995) e mencionei que ela é considerada a última irmã da Tia Ciata, falecida
no século XX. Já partindo para a família consanguínea da Tia Ciata, apresentei a fotografia do
seu neto, Bucy Moreira, um famoso compositor, instrumentista e cantor, assim como apresentei
a fotografia da Dona Lili, Licínia da Costa Jumbeba, neta da Tia Ciata. Também exibi a
fotografia da sua bisneta Gracy Moreira, que lidera um movimento de preservação da memória
da Tia Ciata através da Casa da Tia Ciata, sede da Organização dos Remanescentes da Tia
Ciata.
Partindo para pensar o legado das Tias Baianas, mencionei os espaços que reconhecem
e homenageam as trajetórias e contribuições dessas mulheres, sobretudo Tia Ciata. Apresentei
imagens de praças, ruas, escola, pesquisas, documentário, jornal e diversas obras artísticas que
fazem referência a Hilária Batista de Almeida. Lemos e discutimos nesse momento um trecho
do samba enredo da Império Serrano de 1983 que homenageia Tia Ciata. Mostrei também a
fotografia de uma exposição recente com banner na Praça do Rosário, citada anteriormente, e
que exibe uma imagem de Tia Ciata, e perguntei se alguém a tinha visitado. Com a resposta
positiva de todos, perguntei o que conseguiram identificar na exposição e como aparecia a
identificação das mulheres retratadas. Mencionei que Tia Ciata, Nissinha e Dona Canô tem seus
nomes citados, mas muitas outras mulheres estão identificadas apenas com o nome do abrigo
que patrocinou a exposição. Elas tem história? Elas tem nome?
Solicitei que a gente pensasse em como trabalhar a exposição em sala de aula, assim
como as trajetórias de mulheres negras para além de um protagonismo reconhecido em
memórias públicas e a partir do que chamamos dos sujeitos(as) comuns. Esse tema foi
conectado com a imagem e o texto que abordam as minhas inspirações de pesquisas e de projeto
e apresentam minha avó, minha tia avó, e sua neta mais velha, mencionadas anteriormente.
Após a visita mediada, propus que conversássemos um pouco mais sobre como esse
material poderia ser trabalhado em sala de aula de forma interdisciplinar, considerando os
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diversos componentes curriculares trabalhados pelos participantes e abri também para questões
e comentários.
Ubiraci disse que ficou curioso com a trajetória da Tia Carmem do Ximbuca, que saiu
de Salvador, especificamente de Amaralina e apontou a importância da sua história. Narrou que
fez um trabalho resgatando a história deste bairro de Salvador. Falou que segundo a história
oral, o bairro se chamava Fazenda Alagoas, onde morava um homem chamado Amaral casado
com dona Lina. O casal migrou para Recife e em homenagem aos mesmos, fizeram a junção
dos seus nomes, resultando em Amaralina.
Se mostrou curioso em saber como aconteciam os deslocamentos de Salvador para o
Rio, perguntando qual o meio de transporte era utilizado? Em relação ao samba, citou que o
mesmo só teve reconhecimento a partir do registro feito por Donga e pediu que falasse mais
sobre esses temas. Segui apontando que a discussão era muito boa e que de fato existe um
embate político entre o Rio e a Bahia em torno da origem do samba, e que o suposto primeiro
samba registrado “Pelo Telefone”, ele foi criado na casa da Tia Ciata, e que o Donga aparece
como compositor. Após o primeiro registro, ele tenta mudar o endereço de origem que registrou
anteriormente e ficam os dois vestígios lá. Citei que existe um trabalho chamado “A
malandragem do Donga” devido a sua centralidade individual como compositor desta música
que ganhou a fama equivocada de primeiro samba. Para falar sobre os meios de transportes,
solicitei que fizéssemos uma reflexão sobre as imagens apresentadas e que lembrássemos das
conversas, pois falamos muito de cais, de rio, de navegação a vapor, notamos a presença de
embarcações e também citei as ferrovias.
A professora Marcia seguiu apontando que é interessante trabalhar a temática da rede
de apoio que se cria para além da biografia de Tia Ciata, principalmente agora na pandemia
COVID -19, que nos mostrou possibilidades de unir e ampliar as nossas redes de apoio a partir
da coletividade. Mencionou que a partir da exposição pode trabalhar a história do samba, a
história dos negros, das personalidades santamarenses, a participação feminina na história do
Brasil e na sua formação cultural, variando a abordagem a depender da série. A professora
apontou que a exposição é uma resposta, um alento para nosso tempo. Tamiles parabenizou a
exposição virtual e apontou que utilizaria o samba como gênero musical e textual para trabalhar
o conteúdo de interpretação de texto, a temática da discrimação racial, o respeito à diversidade,
e abordaria o samba na sala de aula como uma questão histórica para trabalhar a
representatividade negra.
Outra professora apontou que pode ser trabalhado a temática da igualdade de gênero,
desigualdade e feminismo. Ela ressaltou a crítica que se faz às mulheres feministas, na qual o
33
movimento feminista seria uma tentativa da mulher ser igual ao homem. Apontou que com a
visita à exposição, percebeu que outra temática que pode ser trabalhada, é a capoeira que
também tem histórico de criminalização e que os conteúdos podem ser apontados como formas
de resistência e de luta. A mesma professora também afirmou que a história da Tia Ciata pode
ser pensada como abertura de portas, já que ela ganhou notoriedade e também acolheu outras
mulheres baianas nessa experiência migratória do século XIX. Apontou que o tema tem muito
a ver com a atualidade e encerrou a fala parabenizando e agradecendo o convite para participar
da roda.
Eva comentou que o projeto é muito importante para valorização da nossa cultura,
informou que Santo Amaro tem várias personalidades que podem ser inseridas no ensino de
história a partir de diversos aspectos. Ela mencionou que os estudantes precisam conhecer esses
personagens e afirma ter trabalhado com muitos jovens que não conhece e nunca ouviu falar da
Tia Ciata. Assim, destacou que precisamos mostrar, trazer para a sala de aula e para as rodas de
conversa mais temas como esse. Parabenizou a exposição e o encontro e afirmou ter sido “um
evento maravilhoso”.
Ubiraci pontuou outros eventos históricos que achava importante para trabalhar o
conteúdo da exposição e citou a Independência do Haiti (1804) e sua influência a nível mundial,
o 02 de Julho que marca a Independência da Bahia (1823), assim como citou o ano de 1896,
em que a Etiópia vence a Itália, pontuando o nome do cantor Edson Gomes como transmissor
desse conhecimento a partir da música. Ele mencionou também que os temas da exposição
podem suscitar discussões sobre Eugenia e racismo científico, apontando os nomes de Nina
Rodrigues, Lombroso e Monteiro Lobato. O mesmo seguiu afirmando a importância de pensar
a trajetória da Tia Ciata e das outras Tias que aparecem na narrativa.
Outra participante abriu o microfone e apontou que a intolerância religiosa presente na
história da Tia Ciata poderia ser trabalhada em sala de aula. Seguiu perguntando por que as
mulheres não tinham seus nomes identificados nas fotografias. Respondi que outro dia ouvi
uma fala que dizia assim: “Vou dizer meu nome e o sobrenome porque senão os racistas vão lá
e nomeiam”. Falei que os fotógrafos do século XIX estavam inseridos em um contexto de
racismo científico e que as fotografias são de mulheres negras, mulheres religiosas, africanas
ou crioulas, escravizadas, libertas e forras. Os fotógrafos assinavam as fotografias como obras
de artes, transformavam em souvenir - cartões postais, vendiam e ganhavam dinheiro e não lhe
importava quem era a mulher negra fotografada. Ela era tida como exótica, era a imagem que
ele tinha para vender. Afirmei que notei a presença do racismo e dos estereótipos construídos a
partir da fotografia. Perguntei mais uma vez: Isso é reflexo de quê? Respondi que essa pergunta
34
é para pensarmos juntas (os), e que teremos essa discussão ao longo do tempo e não temos
como fugir dela. Agradeci pelas contribuições de todos(as) participantes. Informei sobre o envio
do formulário a respeito da Exposição Virtual e da Roda de Conversa a todos(as) participantes
e ressaltei que o seu preenchimento contribuiria com o relatório do Projeto de Intervenção
Pedagógica, defendido no dia 15 de fevereiro. O encontro foi finalizado às 21 horas.
5 RESULTADOS OBTIDOS
Como resultado para além do contato com os professores do município que atuam tanto
no segmento do ensino direto na sala de aula, estabeleci contato com professores coordenadores
que trabalham com implementação de projetos nas escolas. Dessa forma, vislumbrei a
continuidade de diálogos interdisciplinares em um caminho para descolonização na transmissão
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I) Após a visita à exposição virtual “As redes de Hilária Batista de Almeida -Tia Ciata
(1854-1924), entre Bahia e Rio de Janeiro” e participação na roda de conversa, o que
chamou mais a sua atenção e-ou despertou mais seu interesse?
II) Você já trabalhou com alguma temática relacionada a esta Exposição? De que forma?
III) Você utilizaria essa Exposição em uma atividade pedagógica? Se a resposta for sim,
de que forma? Caso sua resposta seja negativa, justifique.
IV) Pensando em uma aula de campo sobre o povo negro de Santo Amaro - BA (ou de
outro Município), em quais lugares você levaria seus alunos para uma visita? Quais
assuntos seriam trabalhados?
I - Após a visita a exposição virtual “As redes de Hilária Batista de Almeida -Tia Ciata (1854-
1924), entre Bahia e Rio de Janeiro” e participação na roda de conversa, o que chamou mais a
sua atenção e-ou despertou mais seu interesse?
conhecimento para muitos e muitos alunos . Ano passado trabalhei Tia Ciata no ensino remoto
e ver essa difusão através da academia é divino. c) O que mais me chamou atenção a dedicação
de tia Ciata pelo samba e como ela lutou pela cultura brasileira. d) Conhecer um pouco mais a
história de Tia Ciata e as fotografias antigas de Santo Amaro. e) Todo o legado de força,
coragem e luta de tia Ciata. Uma mulher a frente de seu tempo. f) A representatividade de Tia
Ciata para o povo negro e para as mulheres em especial. g) O enfoque dado: as redes de
solidariedade entre as mulheres negras do período. h) Pela história de força, resiliência, coragem
e o destaque.
II) Você já trabalhou com alguma temática relacionada a esta Exposição? De que forma?
III - Você utilizaria essa Exposição em uma atividade pedagógica? Se a resposta for sim, de
que forma? Caso sua resposta seja negativa, justifique.
RESPOSTAS: a) Sim, com toda certeza aprofundaria a temática com os alunos objetivando o
reconhecimento e a necessidade de valorizarem as mulheres pretas da sua região também e em
especial do seu lar. b) Utilizaria sim ,por ser um tema riquíssimo que trabalha a cultura
Brasileira e vários temas que faz parte da cultura da nossa região e que se expandiu por todo o
Brasil. c) Sim. Apresentando a importância do povo negro na formação de nosso país em
diversos aspectos, principalmente na cultura. A resistência do povo negro e sua força. d) Sim.
Através de projetos nas escolas. Destacando os feitos de negros que se sobressaíram através de
sua resiliência e luta no meio de uma sociedade desigual. e) Sim. Uso de fotografias, músicas,
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IV) Pensando em uma aula de campo sobre o povo negro de Santo Amaro - BA (ou de outro
Município), em quais lugares você levaria seus alunos para uma visita? Quais assuntos seriam
trabalhados?
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
oitocentista, assim como desenvolver a análise sobre os usos das fotografias no período
mencionado.
A título de conclusão, espero que este trabalho contribua com o desenvolvimento de
discussões para formação humana e cidadã, onde as narrativas e memórias de pessoas negras
possam servir de inspiração para construção de outras narrativas e que possibilitem acesso a
histórias e memória de novos (as) sujeitos (as). Para isso, foi preciso ir além e a partir de uma
exposição, criar um diálogo com temáticas importantes para a minha comunidade, para minha
família consanguínea, extensa, ampliada, local e regional. O trabalho apresentado possui
diversos desdobramentos para preencher os anseios de uma educação a partir das
subjetividades, da diversidade, do respeito às diferenças e das memórias individuais e coletivas.
O presente trabalho expressa também o meu desejo de estarmos juntos produzindo conteúdos a
partir de pesquisa e compartilhando no formato presencial ou virtual, escrito ou visual.
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Apêndices
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