HIV - Lizete
HIV - Lizete
HIV - Lizete
1.0 Introdução...................................................................................................................................2
1
1.0 Introdução
O presente trabalho de pesquisa tem como principal objectivo discutir as causas e estratégias de
prevenção e combate a violência baseada no género. O texto será apresentado na perspectiva de
diferentes autores, conceitos, definições, características e procedimentos que possibilitam a
adequada compreensão do tema em alusão, que se estrutura e se desenvolve a partir da produção
teórica de outros autores.
O Estado Moçambicano aderiu à Convenção das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Contra Mulheres (CEDAW), adoptou a Plataforma de Acção de
Beijing e ainda as Declarações relativas à Igualdade de Género e Promoção do Estatuto das
Mulheres, a nível do Continente e da Região, respectivamente na União Africana e na SADC.
2
3.2. Objectivos da pesquisa
c) Integrar o homem como agente activo na mudança de atitudes, valores e comportamentos que
perigam a vida da mulher e da sociedade.
A pesquisa científica apresenta várias modalidades, sendo uma delas a pesquisa bibliográfica que
será abordada no presente trabalho, expondo todas as etapas que devem ser seguidas na sua
realização. Esse tipo de pesquisa é concebida por diversos autores, dentre eles Marconi e Lakatos
(2003) e Gil (2002).
3
Salientar que os instrumentos que são utilizados na realização da pesquisa bibliográfica são:
livros, artigos científicos, teses, dissertações, anuários, revista, leis e outros tipos de fontes
escritas que já foram publicados.
Inicialmente o termo “género” era utilizado praticamente como sinónimo de “mulher”. Teve sua
origem no mundo acadêmico no momento em que pesquisadoras feministas, buscavam, através
dos chamados estudos sobre mulheres, desnaturalizar a condição da mulher na sociedade
(SIMIÃO, 2000).
... nesse sentido era preciso encontrar conceitos que permitissem diferenciar aquilo que as
mulheres tinham de natural, permanente, e igual em todas as épocas e culturas (o sexo) daquilo
que dava base para a discriminação e, por ser socialmente construído, variava de sociedade para
sociedade e podia mudar com o tempo (o género) (SIMIÃO, 2000, p.4-5).
Penso que a sociedade tem uma visão de elaboração simbólica que a cultura realiza sobre a
diferença anátomo-fisiológica, vejamos:
4
Género como uma variável Binária
A interpretação de género como uma variável binária (Homem X Mulher) enfoca a diferença
sexual como determinante na forma como homens e mulheres se comunicam, pois, segundo essa
visão, "(...) homens e mulheres têm essências diferentes, coisa que reflectiria na sua forma
diferente de utilizar a linguagem (os homens tenderiam a se expressar de forma mais directa e
autoritária e as mulheres dominariam uma linguagem mais cheia de nuances)" (Costa, in
SIMIÃO, 2000). De acordo com esta conceituação, todos os homens e mulheres são iguais, não
sendo levados em consideração a multiplicidade de masculinos e femininos e os diferentes usos
que homens e mulheres fazem da linguagem.
Os homens tenderiam a se expressar de forma mais directa e autoritária e as mulheres com mais
nuances, não havendo a possibilidade de que haja homens que se comuniquem com mais nuances
e mulheres que falem de maneira mais directa e autoritária. Portanto, o conceito de “género” fica
limitado às diferenças sexuais, não sendo levado em consideração todo o contexto sócio-
histórico-cultural que contribui na formação das identidades femininas e masculinas.
Os teóricos desta interpretação afirmam que homens e mulheres vivem em mundos separados. Já
na infância, meninos e meninas são educados para agir e se comunicar de forma diferenciada. A
eles são ensinados direitos e deveres diferentes, criando assim as subculturas e quando tentam
comunicar-se entre si geralmente são mal sucedidos (COSTA, 1994). Há que se tomar cuidado
com a noção de mundos diferentes. Ela pode obscurecer a visão e impedir que se perceba de
forma clara a dominação de um sobre o outro. Segundo Costa, "(...) o discurso sobre 'mundos
separados' põe demasiada ênfase na diferença, negligenciando as importantes semelhanças entre
os seres humanos" (COSTA, 1994, p.155). Essa perspectiva vê a cultura feminina como sendo
homogénea, como se todas as mulheres fossem iguais, não levando em consideração classe, raça,
etnia, idade, etc.
As pesquisas afirmam que hoje as mulheres têm mais habilidades e níveis de educação do que
nunca. Porém, mesmo nos 59 países onde elas agora têm melhores índices educacionais que os
homens, a diferença média de renda entre os géneros permanece em quase 40% a favor dos
homens, o que é inaceitável.
5
"Normas sociais que prejudicam os direitos das mulheres também são prejudiciais para a
sociedade de forma mais ampla, prejudicando a expansão do desenvolvimento humano. Na
verdade, a falta de progresso nas normas sociais de género está ocorrendo em meio a uma crise
de desenvolvimento humano: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) global diminuiu em
2020 pela primeira vez na história — e novamente no ano seguinte. Todos têm a ganhar ao
garantir liberdade e autonomia para as mulheres”, afirma o chefe do Escritório do Relatório de
Desenvolvimento Humano do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
global, Pedro Conceição.
“Um ponto importante para começar é reconhecer o valor económico do trabalho de cuidado não
remunerado. Isso pode ser uma forma muito eficaz de desafiar as normas de género em torno da
forma como o trabalho de cuidado é visto. Em países com os maiores níveis de preconceito de
género contra as mulheres, estima-se que as mulheres despendem acima de seis vezes mais tempo
do que os homens em trabalho de cuidado não remunerado”, afirma a directora da Equipe de
Género do Pnud global, Raquel Lagunas.www.contee.or.br
“Qualquer ato de violência baseada em género que resulte ou possa resultar em danos mentais ou
sexuais, ou sofrimento para a mulher, incluindo ameaças, como actos de coerção ou privação
arbitrária de liberdade, seja na vida pública ou privada”.
O Artigo 2 da Convenção de Eliminação de todas as formas de Discriminação Contra a Mulher
(CEDAW) explica que a violência contra a mulher inclui a violência sexual, física e psicológica.
6
Violência física
Entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal, nomeadamente,
bofetadas, puxar, empurrar, esmurrar, beliscar, morder, arranhar, socos, pontapés, agredir com
armas ou objectos.
Violência sexual
Entendida como qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coacção ou uso da força que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimónio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coacção, chantagem, suborno ou manipulação, ou que limite ou anule o exercício dos
seus direitos sexuais e reprodutivos;
Violência Psicológica
Entendida como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas acções,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento coercivo, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, ridicularizarão e exploração, ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação.
As mulheres pobres são mais vulneráveis a todas as formas de violência porque elas tipicamente
vivem em ambientes incertos e perigosos. A violência contra a mulher é o principal resultado das
desigualdades baseadas em género, criando consequências muito maiores para o bem-estar e a
autonomia das mulheres do que se pensava anteriormente. Isso é reconhecido no parágrafo 117
da Plataforma de Acção de Beijing:
7
“O medo da violência, incluindo o assédio, é um permanente constrangimento na mobilidade das
mulheres e limita o acesso delas aos recursos e às actividades básicas. Altos custos sociais, para a
saúde e para a economia dos indivíduos e da sociedade estão associados com a violência contra a
mulher. A violência contra a mulher é um dos mecanismos sociais cruciais pelo qual as mulheres
são forçadas a posições de subordinação...” (Nações Unidas: A Declaração de Beijing e a
Plataforma de Acção, 1996, p.75)
A violência baseada em gênero tem efeitos negativos de longo prazo na saúde reprodutiva das
mulheres. Entre os efeitos incluídos, estão a gravidez não-desejada, complicações na gravidez,
mortalidade materna, abortos, lesões e infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV/AIDS.
Intimidações e dominância masculina na família, exacerbadas pela violência baseada em género,
inibem as mulheres de procurar serviços de saúde reprodutiva e diminuem sua capacidade de
negociar relações sexuais seguras, bem como a quantidade e os intervalos entre filhos.
Na minha opinião a maioria dos casos para era causa vive-se nas zonas mais recônditas de alguns
distritos do nosso país, onde os homens têm a mulher como sua propriedade.
Os países estão intimados a identificar e condenar a prática sistemática de estupro e outras formas
de tratamento desumano e degradante às mulheres como um instrumento deliberado de guerra e
limpeza étnica e a tomar providências para assegurar que assistência integral seja oferecida às
vítimas de tais abusos, para sua reabilitação física e mental. - CIPD, Par. 4.10
8
A violência contra as mulheres durante situações de conflitos multiplica-se e intensifica-se muitas
vezes, pois os corpos das mulheres viram “campos de batalha” (16) onde forças opostas lutam
para obter controle. Como as mulheres não têm os mesmos direitos que os homens, elas
continuam sendo vítima de violência baseada no género e da discriminação.
Um exemplo perfeito, para este caso é o que se está a viver na província nortenha de Cabo
Delgado, as populações viveu e mesmo com regresso vivem esses casos de violência.
O Programa Quinquenal do Governo- 2015-2019 define como uma das prioridades a integração
da perspectiva de género nas políticas e estratégia do desenvolvimento do Pais e a realização de
acções para prevenir e combater a violência baseada no género. Neste contexto, o PNPCVBG
integra acções a serem realizadas pelos diferentes intervenientes visando a eliminação
progressiva da violência baseada no género tendo como prioridades estratégica:
9
Os meios de comunicação social: devem ser envolvidos nos processos de formação e
informação, disseminando mensagens positivas e ganhos alcançados no combate à violência,
tendo em conta que o acesso a informação através dos meios de comunicação social ainda é
limitado. O Inquérito Demográfico e de Saúde (2011) indica que 47.6% de mulheres de 15 a
49 anos de idade e 26% dos homens da mesma faixa etária não têm acesso ao jornal, televisão
ou rádio. Nas zonas rurais a situação é grave e afecta 57% de mulheres e 32% de homens. Os
esforços devem envolver organizações de base comunitárias e as iniciativas de formação e de
disseminação das normas, pois ainda não atingiram grupos de mulheres e homens que ainda
não aceitam às mudanças e a tomada de atitudes positivas.
Nos locais de trabalho e outras instituições: a prevenção e combate da violência nos locais
de trabalho é crucial e, deverá ser feita através da disseminação de leis, quer seja directamente
através de palestras ou indirectamente através de mensagens difundidas pelos meios de
comunicação social. O sector público, em particular, é guiado pela Estratégia de género na
função pública.
10
4.0 Considerações finais
A violência doméstica, sexual, familiar, a pouca presença das mulheres nos espaços públicos de
poder institucional, a responsabilidade feminina pelo espaço privado, o machismo manifesto e o
dissimulado, e o assédio sexual e moral no trabalho constituem-se alguns dos inúmeros
problemas sociais e sociológicos que passaram a ser tratados pela Sociologia sob a óptica de
género por meio de pesquisas empírico-teóricas (dissertações, monografias, livros), tornando
visíveis as implicações sociais, políticas e económicas da dominação masculina.
Assegurar que saúde reprodutiva e habilidades para a vida sejam incluídos no currículo
nacional de educação;
Aplicar a tolerância zero para todas as formas de violência contra mulheres e meninas.
11
5.0 Referências bibliográficas
Lakatos, E. M.; Marconi, M. A. (2003). Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo, SP:
Atlas.
União Africana. Julho 2004. Protocolo da União Africana sobre Direitos das Mulheres na África.
Ward, J. (2002). If not now when? Addressing gender-based violence in refugee, internally
displaced and post conflict settings. New York: Women’s Commission for Refugee Women and
Children, Internacional Rescue Committee
http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/AllDocsByUNID/40b847015485b34749256bfe0006e603
12