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Scripta Nova

REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES


Universidad de Barcelona.
ISSN: 1138-9788.
Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. X, núm. 218 (34), 1 de agosto de 2006
A PRESENÇA DE DOIS DISTINTOS PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO AGRÁRIA MOLDANDO A REGIÃO DE
CANTAGALO,
PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO, NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX.
Rui Erthal
Universidade Federal Fluminense

Situada na Capitania do Rio de Janeiro, a histórica região de Cantagalo[1] possuía, no início do século XIX, uma área de 6.400 km²,
correspondendo a 14,6 % do território fluminense e tornou-se conhecida tanto pela produção cafeeira como pela experiência da colonização
européia. Nos dias atuais, a região apresenta um espaço agrário, de certo modo diversificado, sobressaindo a produção de hortifrutigranjeiros
(cinturão verde da cidade do Rio de Janeiro), leiteira e café (em novas bases produtivas). Por outro lado, suas atividades industriais se restringem,
basicamente, a dois pólos - cimenteiro (Cantagalo e Macuco) e de têxtil/confecção (Nova Friburgo). Ressalta-se que a indústria de moda íntima,
que tem maior concentração na cidade de Nova Friburgo e que alcança o mercado europeu e o norte-americano, é considerada, ao menos em
termos quantitativo, a mais expressiva da América Latina. As cidades de Nova Friburgo e Teresópolis também se destacam pela função turística,
em virtude do seu clima ameno.
Os primitivos habitantes, isto é a população pré-colombiana; vivendo há séculos na região, já estavam totalmente adaptados às condições de
tropicalidade reinantes, mas os novos postulantes à penetração e ao povoamento iriam deparar-se com uma paisagem tropical, exuberante em
formas, cores, aromas, e que imprimia nas mentes dos colonizadores sentimentos simultâneos de atração e temor. O conhecimento do meio
natural, mesmo que sucinto, torna-se fundamental ao entendimento das relações que se estabeleceram entre a sociedade e a natureza locais.

As condições naturais reinantes


A região de Cantagalo situa-se no Planalto Atlântico Brasileiro e, a despeito de suas particularidades, comporta-se genericamente como as
demais áreas desta mesma unidade morfoclimática.
Deste modo, a Zona Serrana Fluminense constitui-se num planalto movimentado (mar de morros e cristas monoclinais) cujo relevo, de modo
geral, apresenta cotas altimétricas superiores a 500m. Este expressa a ação de diastrofismos principalmente Laurenciano (períodos Arqueozóico
e Paleozóico) e Alpino (períodos Cretássico e Terciário) que estruturaram as suas rochas cristalinas, magmáticas e metamórficas em dobras (tipo
apalachiano), fraturas e falhas[2]. Este planalto, denominado genericamente de Serra do Mar, apresenta-se basculado na direção norte e as suas
bordas alinham-se na direção nordeste/sudoeste. Tais bordas, de origem tectônica, caem abruptamente sobre a planície litorânea, formando
paredões íngremes que chegam a atingir 2.245m (Serra dos Órgãos). Estes blocos elevados da borda do planalto constituem-se em verdadeiros
divisores de água.
Sobre o escudo pré-cambriano, adaptou-se uma densa rede hidrográfica, destacando-se as bacias dos Rios Grande e Negro, que formam o Rio
Dois Irmãos e as bacias dos Rios Paquequer (leste e oeste), todas elas tributárias da bacia do histórico Rio Paraíba do Sul (figura 1). Todos os
rios regionais apresentam os cursos adaptados à estrutura do relevo (dobrado e falhado), formando vales profundos, conformando o padrão em
treliça. Estes vales, esculpidos pelos rios, tiveram papel essencial como referência ao estabelecimento das primeiras sendas de penetração,
algumas delas já traçadas pelos indígenas.
Figura 1
Rede Hidrográfica da Região Centro-Norte Fluminense

Fonte: Mapa Rodoviário Turístico Escolar Polivisual.


Polimapas Editora Ltda. - 1987.
Assim, da Serra Boa Vista partem os Rios Grande, Macaé, Macucu e Macabu. Enquanto o Rio Grande constitui-se num dos principais rios que
descem o planalto em direção ao Paraíba, os três últimos, descendo a borda da Serra, procuram as baixadas litorâneas e alcançam o oceano. A
presença destas bacias, cujas cabeceiras encontram-se próxima uma das outras, teve papel fundamental na comunicação entre diferentes regiões
fluminenses -guanabarina, macaense, campista e serrana.
No território fluminense predomina o clima tropical úmido (com um índice anual médio de 1250 a 1500 mm) e com o regime tropical de chuvas
(concentração no verão). Mas, na área serrana com a altitude igual ou superior a 800m, as médias de temperatura são de 18 e 19º C,
principalmente no inverno (média do mês mais frio entre 10 e 15º C), daí a sua classificação de mesotérmico – Cwa, segundo Köppen, e brando
e superúmido com uma estação subseca (inverno), segundo Nimer (1977).
As condições naturais, principalmente climáticas (elevada umidade), ensejaram o desenvolvimento de uma luxuriante floresta tropical,
denominada, desde os primórdios da colonização, de Mata Atlântica; heterogênea e que continha uma fauna bastante variada e rica. Dentre as
espécies vegetais de grande valor econômico, destacavam-se o jacarandá, jatobá, sapucaia e canela.
A integração entre as rochas (gnaisses xistosos), o clima tropical úmido e a floresta tropical, resultou na formação, principalmente, do latossolo
que se apresenta sob diferentes variedades como, por exemplo, alaranjado, vermelho, vermelho-podzólico, possuindo certa fertilidade quando
devidamente utilizados.

Cantagalo entra no circuito colonial


Somente na segunda metade do século XVII, precisamente na década de 60, uma vasta área da Província Fluminense, “Os Sertões de Macacu”
(Figura 2), passa a ser, efetivamente, parte integrante da colônia.
Do ouro à agricultura
A região de Macacu, futura região de Cantagalo, encontrava-se entre as chamadas “áreas proibidas” e a primeira permissão oficial para a entrada
nesta área se deu através de concessão feita a Maurício J. Portugal (1763), tendo como objetivo a descoberta de jazidas auríferas. Mas a
concessão foi revogada (1765), quando foi detectada a presença de exploradores clandestinos. Desta expedição, foi confeccionada, em 1767,
uma “Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro” pelo Sargento-mor Manoel Vieira Leão. Repara-se que nesta Carta encontra-se
assinalada uma área denominada “Certão occupado por índios brabos”, a futura região de Cantagalo.
Entretanto, a área em questão foi novamente aberta (1784), por ordem do governador de Minas Gerais, visando estudos geológicos e
geográficos, inclusive segundo Veiga (1948), para definir os limites entre as duas Capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
A extração clandestina de ouro na área era realizada por garimpeiros vindos tanto da Baixada Guanabarina, via vale do Rio Macacu,
transpassando a Serra da Boa Vista, e do Sertão de Leste, atravessando o Rio Paraíba do Sul. Justamente esta última onda de penetração teve um
relevante papel para o iniciar do povoamento espontâneo.
No final da década de 1770, um bando de garimpeiros, sob o comando do português Manoel Henriques, descendo o Rio Pomba e cruzando o
Paraíba do Sul, na altura da futura Carmo, alcança o Rio Negro e ergue um arraial no meio da mata, passando a lavrar nos aluviões,
principalmente nos Córregos de São Pedro e Lavrinhas.
A notícia sobre a descoberta de ouro rapidamente se espalhou e, em breve, levas de aventureiros e suas famílias, oriundos de vários pontos do
território fluminense, dirigia-se ao Sertão de Macacu, o novo eldorado.
A erradicação das lavras clandestinas coube à Capitania de Minas Gerais. Em 1785, uma patrulha dos Dragões de Vila Rica e tropas Auxilares,
comandada por Pedro Afonso Galvão de São Martinho, se desloca ao Sertão de Macacu e, no ano seguinte, coloca por terra as pretensões dos
garimpeiros ao eliminar o arraial de São Pedro, o embrião de Cantagalo[3]. A partir de então, o governo toma a iniciativa de promover o
povoamento e, para tanto, cria infraestrutura para a exploração e escoamento do ouro.
Figura 2
Sertões de Macacu

Fonte: “Cantagalo - da miragem do ouro ao esplendor do café”. ERTHAL, C.


Elaborado pelo autor do artigo.
O Sertão de Macacu passa a ser chamado, no ano seguinte, de “Novas Minas do Macacu” e, logo depois, de “Cantagalo das Novas Minas dos
Sertões de Macacu”. Em 1787, estabeleceu-se a Superintendência que providenciou o estudo das potencialidades auríferas das bacias
hidrográficas e aberturas de caminhos para facilitar o acesso à área e o escoamento da produção. A administração, segundo Dias (1942: 49),
passou a doar, via sorteio, os primeiros “trinta e três lotes de trinta braças em quadra” ao longo dos citados Córregos.
A Estrada Real passou a fazer a ligação entre o Rio de Janeiro e Cantagalo, tendo como trajeto - do Rio de Janeiro à vila de Santo Antônio de
Sá-, através da Baía de Guanabara e do Rio Macacu. Seguindo próximo ao leito do rio, buscava-se a nascente (Serra da Boa Vista), atravessando
a borda íngreme da serra, procurava-se o Rio Bengalas e, em seguida, o Rio Grande. Mais adiante se buscava o Córrego Águas Claras, um dos
seus afluentes, pelo vale do Macuco. Enfim, atingia-se Cantagalo.
Uma das preocupações da Superintendência era o abastecimento da população que se dedicava à mineração. Neste sentido, D. Luiz de
Vasconcelos concedeu, em 1876, terras na região para atividades agropastoris. Mediam elas 1.089 ha, correspondendo a 400 alqueires
(27.255.000 m2), conforme Erthal (1992).
Os movimentos iniciais de euforia não foram compensados por grande produção de ouro. Percebeu-se, de imediato, a pobreza das lavras. E com
o objetivo de incentivar a atividade, o governo amplia a área destinada à extração, colocando à disposição as terras junto aos Rios Grande, Negro
e Macuco, incentivando também a criação de empresas mistas além de fornecer escravos e instrutores. Mesmo assim, muitos garimpeiros
voltaram às suas regiões de origem, enquanto outros optaram por dedicar às lides agrícolas, principalmente nos vales dos rios regionais, onde
foram feitas doações de terra. De início tais concessões eram efetivadas pela Câmara da vila de Santo Antônio de Sá e, num segundo momento,
pela própria Superintendência das Minas de Cantagalo, como atesta Erthal (1992).
Sobre tais doações de terra comenta Erthal:
Dadas as condições legais para a concessão de terras (1786), no ano seguinte já existia um sesmeiro na área. A partir de então, as sesmarias
começaram a ser doadas e a verocidade por terras se fazia com tal ímpeto que, ao entrarmos na década de 1820, praticamente já não existiam
muitas terras disponíveis a apropriar (2000, p. 155-156).
Assim, no vale do Rio Grande implantaram-se diversas sesmarias nas décadas de 1780 e 1790, inclusive aquelas que iriam formar a fazenda
Morro Queimado, onde se implantaria a colônia suíça de Nova Friburgo.
Por não satisfazer as condições legais, muitos dos pretendentes à aquisição de terras tornaram-se posseiros, isto é, ocupavam terras abrindo
clareiras, cultivavam o solo e construíam benfeitorias. Uma vez estabelecidos, solicitavam a regulamentação fundiária via titulação. Esta prática
comum no Brasil foi uma das causas do surgimento da pequena propriedade voltada à policultura e à criação de pequenos animais responsável
pelo abastecimento interno[4].
As sesmarias irão dar origem às grandes e médias propriedades que, de início, estavam voltadas a produção de gêneros alimentares que
abasteciam o mercado do Rio de Janeiro em expansão, desde que a cidade passara a ser capital da Colônia (1763) e, em 1808, com a chegada da
Corte Portuguesa, aos poucos, passam a produzir café destinado ao mercado externo.
O comércio entre a cidade do Rio de Janeiro e o arraial e depois a vila de Cantagalo (1814), passa a ser feito de maneira regular utilizando-se
das tropas de burro, apesar das péssimas estradas.
As tropas de burro[5] desempenharam um serviço essencial na ligação e integração entre o litoral e a serra, isto é, foi elemento fundamental para
a realização do circuito econômico entre as duas unidades citadas. Os seus proprietários, além de pessoas bem postadas socialmente e homens de
recursos, eram pessoas que “ocupavam cargo de responsabilidade e confiança absoluta, como o único traço de união entre as zonas que
atravessavam; todas as transações monetárias e os negócios encaminhavam-se por seu intermédio”, esclarece Veiga (1948:40).
As trocas desciam em direção à baixada com variados produtos - milho, feijão, fumo, carne, banha, toicinho, ovos, madeira, aguardente,
rapadura e anil. Por outro lado, subiam com toda a sorte de produtos elaborados procedentes, principalmente, do grande entreposto comercial
que se tornou o Rio de Janeiro, desde o século XVIII. Naturalmente, a parte mais difícil do trajeto era o trecho da íngreme serra. Porto das
Caixas, perto de Santo Antônio de Sá, foi assumindo importante posição de entreposto comercial entre a região cantagalense e o Rio de Janeiro.
A partir deste porto fluvial, faluas eram utilizadas para o transporte dos produtos pelo Rio Macacu e pela Baía de Guanabara.
Assim, “Garantiam as tropas, por um lado, o alimento dos citadinos cariocas e, por outro, colocavam à disposição dos ricos fazendeiros o luxo
e o conforto da cidade” lembra Erthal (2000, p. 158).

A importância do café
Se a atividade mineira colocou Cantagalo no mapa fluminense e brasileiro, a economia cafeeira foi o fator principal da efetiva ocupação da
região e, indubitavelmente, projetou a região até no exterior. Em relação aos pioneiros[6] empreendedores que atuavam na região, observa
Erthal que, entre eles, “alguns imbuídos de visão profética, preferiram dedicar-se ao café, cultura ainda nova, mas altamente promissora”
(1992, p. 95).
A cultura cafeeira vai-se, rapidamente, expandido sobre solos de mata e estruturando uma verdadeira agricultura comercial escravocrata, a
plantagem, naturalmente dirigida ao mercado externo. Mas, apesar de ser a responsável pelo efetivo povoamento regional, pela criação de
riquezas que estava concentrada principalmente nas mãos dos poderosos fazendeiros, pelo estabelecimento de estrada de ferro (década de 1870),
o trato cultural dado à rubiácea era bastante precário. Utilizava-se da queimada como forma de facilitar a retirada de floresta e “fertilizar” o solo.
As mudas de café eram plantadas em fileiras, segundo a maior inclinação do terreno. Estas práticas facilitavam a lixiviação e a erosão dos solos,
originalmente não muito férteis, acelerando a pauperização dos mesmos.
Já na década de 1840, os cafezais substituíam, substancialmente, as matas nativas, transformando radicalmente a paisagem. Assim, nos mares de
morros cobertos por cafezais, erguem-se belos e confortáveis solares aristocráticos, substituindo o casario simplório erguido na fase anterior, e
cujos proprietários exibem um novo estilo de vida. Do seio da sociedade que vai se estabelecendo, emerge uma nobreza que desempenhará
importante papel político no Império, a exemplo do empresário Conde de Nova Friburgo. Enfim, a fama de Cantagalo chega à Europa.
Vilas e freguesias vão surgindo em diversos cantos das bacias dos Rios Grande, Negro e Paquequer e irão desempenhar, principalmente, funções
político-administrativa, religiosa e comercial (figura 1). Mas, apesar da riqueza regional, esses centros urbanos não reúnem força suficiente para
carrear, para si, os recursos produzidos e, desse modo, promover o seu desenvolvimento econômico, urbanístico e cultural. A riqueza e poder
dos grandes fazendeiros voltavam-se para seus interesses imediatos, pouco investido nos núcleos urbanos que iam se erguendo, produzindo uma
situação ímpar, isto é, a zona rural criando e acumulando riquezas enquanto os centros urbanos vivendo modestamente. Em outras regiões
cafeeiras do Vale do Paraíba do Sul, como a de Vassouras, Valença, Barra do Piraí, observa-se uma maior desenvoltura de seus centros urbanos.
A vila de Cantagalo, com um desenvolvimento urbano pífio, constitui-se no exemplo mais bem acabado deste descaso da rica aristocracia local
em atuar como agente de promoção do desenvolvimento urbano regional.
Enquanto a economia cafeeira penetrava e se firmava no rincão cantagalense, mudando a sua estrutura socioeconômica e espacial, um novo
padrão de organização agrária tomará assento na região de Cantagalo. Afinal, os imigrantes suíços e, logo a seguir, os alemães entraram em
cena, vindos de uma Europa bastante conturbada do ponto de vista econômico e político, causando sérios problemas sociais.

Nova Friburgo, uma nova experiência de colonização


A colônia de Nova Friburgo é fruto da conjugação de distintos interesses da Suíça e da Coroa Portuguesa. Por um lado, as crises de ordem
econômica - principalmente industrial, política - retorno ao conservadorismo, agiram no sentido de potencializar as migrações internas e externas
na Europa, após a derrocada do Império Napoleônico. Acrescente-se, no caso suíço, as oscilações da temperatura e umidade afetando, negativa-
mente, as colheitas Do lado do Brasil, a Coroa visava estimular a entrada de imigrantes europeus tendo objetivos econômico, político,
demográfico, moral, educacional entre outros. Em outras palavras, segundo Carneiro (1948) e Chaia (1969), pretendia ela intensificar o
povoamento e crescimento populacional para assegurar a soberania lusa sobre o vasto território, dinamizar as potencialidades econômicas,
conseguir homens capacitados para ingressar nas forças armadas, criar camadas médias rurais, fazer com que a população aprendesse técnicas
mais desenvolvidas dos europeus, entre outras razões.

A Convenção de 1817
Sébastien Gachet, figura proeminente neste contexto migratório, suíço do distrito de Gruyères no Cantão de Fribourg, resolve se estabelecer no
Brasil não só como fazendeiro, mas também como negociante, visando intermediar a venda de produtos industrias helvécios ao Brasil. A grave
situação socioeconômica local certamente o despertou para elaborar um projeto de estabelecimento de colônias de suíços no Brasil. Por outro
lado, as autoridades do Cantão de Fribourg viram no projeto de Gachet uma excelente oportunidade para se livrar da pesada carga que
representava para os cofres públicos a assistência aos pobres e apátridas. Através de uma Carta Patente, Gachet foi credenciado representante do
Cantão junto à Coroa Portuguesa
Em novembro de 1817, Gachet é recebido, na Corte sediada no Rio de Janeiro, por D. João VI. Em sua fala afirma a vantagem para o Brasil da
presença de colonos suíços, enaltecendo a qualidade do seu povo.
O próprio Gachet indica as condições naturais ideais, como o clima semelhante ao da Suíça, e a posição geográfica para a localização da colônia,
isto é, junto a rios navegáveis, objetivando o escoamento da produção. Assim, a região indicada era justamente o litoral catarinense. Por outro
lado, os colonos prestariam juramento de fidelidade a S. M., seriam isentos do pagamento de dízimos e outros impostos por dez anos, receberiam
subsídios monetários por dois anos. Além das atividades rurais, poderiam dedicar-se às minas, comércio, indústrias e serem recrutados ao
serviço militar.
Das negociações foi firmado um tratado (Convenção de 1818), em 11 de maio, com 24 artigos. Em resumo, alguns artigos tratam do número de
famílias (um total de 100), da religião católica; entre os colonos deveria haver diversos artesãos; seriam todos naturalizados portugueses; o
governo iria pagar as passagens da Suíça até Cantagalo; cada família receberia uma propriedade rural sem quaisquer encargos, sementes, mudas
e gados; os homens solteiros com idade entre 18 e 24 anos, através de sorteio anual, seriam recrutados para regimentos de linha; os colonos
teriam a possibilidade de se desligar da colônia e voltar à Suíça.
Mesmo antes da assinatura do acordo, isto é, em 6 de maio, S. M., através de uma Carta Régia, criar condições objetivas à colonização. De início
estabelece a Inspetoria da Colonização, dirigida pelo Desembargador do Paço, Pedro Machado de Miranda Malheiros (Monsenhor Miranda),
situada no Rio de Janeiro, subordinada à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino e, também, solicitava aos súditos o levantamento de
fundos ao empreendimento.

A localização da colônia
A decisão de escolha da localização da colônia deu-se após discussões entre o representante suíço e as autoridades brasileiras. O Município de
Cantagalo foi escolhido para o empreendimento e, através de um decreto, foram adquiridas quatro sesmarias denominadas, em seu conjunto, de
Fazenda Morro Queimado, situada ao sul e sudoeste do município, distando 24 léguas da capital. Assim, foi criada a Freguesia de São João
Batista de Nova Friburgo cujo território abrigou a colônia (figura 3)
Figura 3
Localização Municipal de Nova Friburgo e de Cantagalo (1820)

Fonte: Elaboração própria do autor.


Duas das quatro sesmarias, tinham áreas equivalentes e eram contíguas, mediam de comprimento (leste/oeste) 19,8 km e de largura (norte/sul)
6,6 km, configurando uma área semelhante a um paralelogramo retangular. Esta área, destinada às atividades rurais, foi dividia em 120lotes
regulares em tamanho e forma, medindo, cada um, 108,9 há, isto é, 1.650m x 660m (figura 4).
Figura 4
Divisão da Área Colonial Rural de Nova Friburgo em 120 lotes (1820)

Fonte: Elaboração própria do autor.


À noroeste desta área ficavam as outras duas sesmarias, medindo cada uma delas 6,6 km x 6,6 km. Naquela situada mais a oeste, foi estabelecida
a vila de Nova Friburgo, ponto de apoio político-administrativo, pois aí funcionava, entre outras, a Diretoria da Colônia, um armazém geral, o
Cofre, a Câmara Municipal, capela, moinhos, fornos, etc. A vila, banhada pelo Rio Bengalas, era composta por três núcleos habitacionais - Praça
do Pelourinho (14 casas), “village” de cima (48 casas) e “village” de baixo.(38 casas).

A migração ao Brasil
Com a ratificação do Tratado de Colonização pelo Conselho de Estado de Fribourg, em outubro de 1818, deu-se partida para o recrutamento de
100 famílias católicas do referido cantão. Na verdade, famílias de outros cantões franceses e alemães, católicos e reformados, também, foram
recrutadas, perfazendo um total de 261 famílias contendo 2.006 pessoas. Fribourg (830 emigrantes - 41,37%), Berna (500 emigrantes - 24,92% ),
Valais (160 emigrantes - 7,97%), Argóvia (143 emigrantes - 7,12%), Lucerna (140 - 6,96%) foram os cantões que mais forneceram
contingentes populacionais. Em termos de estrutura etária,57,02% eram jovens, 41,87% adultos e 1,10 % senis. Levando-se em
consideração a origem profissional, 47,02% eram de agricultores, 48,02% artesãos e 4,72 % ligados ao setor terciário
Observa-se que grande parte dos artesãos estava voltada às necessidades rurais e ao beneficiamento de matérias-primas provenientes do campo
muito ligados às lides do campo, assim sendo, pode-se reafirmar como o fez Nicoulin (1992: 116) - “tratar-se de uma emigração tipicamente
rural”.
A viagem dos emigrantes desde a Suíça à Holanda efetuou-se através do Rio Reno, a partir de 4 de julho de 1819. O contingente de colonos
parte do porto de Dordrecht em 7 navios, no período que vai de 11/09 a 10/10 e chega ao porto do Rio de Janeiro de 04/11/1819 a 08/02/1820. A
longa estadia nos solos encharcados dos Países Baixos e a vivência em tendas que abrigavam várias famílias trouxeram graves conseqüências à
saúde física e mortal dos suíços. Tal fato é refletido na elevada mortandade observada no local e que se estende aos navios que os transportaram
ao Brasil e que atingiram principalmente a faixa jovem (67,4%). Dos embarcados na Holanda, somente 1.631 chegam à colônia de Morro
Queimado.
Uma vez na vila da colônia, os imigrantes foram divididos pela direção colonial em 100 pequenas casas, de acordo com o grau de parentesco,
relações de amizade e de modo arbitrário pela direção da colônia. As condições impróprias das moradias, com excessivo número de pessoas por
unidade (18 em média), facilitaram a promiscuidade e propagação de doenças já adquiridas na Holanda.
Em 17 de abril foram eleitos os vereadores e instalou-se a Câmara Municipal, composta por suíços e luso-brasileiros, mas o poder verdadeiro
estava nas mãos da Diretoria Colonial. Enquanto aguardavam o sorteio dos lotes rurais, os colonos foram requisitados para trabalho espontâneo e
depois compulsório em obras públicas na vila. Em 23 de abril ocorre o sorteio de 97 lotes entre as famílias (artificiais) que estavam juntas nas
casas da vila. Os lotes de número 101 a 120 ficaram de reserva para quaisquer eventualidades.
Uma vez realizado o sorteio, os chefes de família partiram para identificar, demarcar e desmatar os seus respectivos lotes, além de edificar suas
casas e anexos. Tarefas difíceis para os estreantes no ambiente tropical totalmente desconhecido para eles. Para a derrubada da cerrada mata
virgem foi utilizada a queimada (técnica indígena) e finalmente o plantio.
Uma vez assentados no campo, houve um esvaziamento natural da agitação na vila que ganhava o seu movimento somente nos finais de
semana.
Alguns chefes de família, ao se defrontarem com a realidade dos seus lotes, logo sentiram sua incapacidade de produção. A seguir, solicitaram
mudança de seu lote, mas somente três pedidos foram aceitos e cujos lotes foram trocados pelos os de número 101, 102 e 103.
Muitos colonos também solicitaram licença para investir em atividades não agrícolas, como o comércio e manufaturas, Assim, muitos
estabelecimentos de secos e molhados foram abertos na vila. A venda de pão, carne e toicinho, certamente realizada de modo ambulante,
também foi licenciada. Outros preferiram arrendar os dois moinhos e os dois fornos de pão construídos pela Diretoria na própria vila. Alguns
outros, mostrando espírito empreendedor, estabeleceram serraria, moinho, fábrica, ferraria e serralheria.
Apesar do otimismo, a primeira safra agrícola ficou muito aquém do esperado, desestabilizando os agricultores e comprometendo o futuro da
colônia. Atribuiu-se o infortúnio às chuvas de verão excessivas, afetando as plantas em fase de crescimento.
Muitos colonos, principalmente aqueles ligados a ofícios artesanais, solicitaram licença para exercer suas profissões no Rio de Janeiro e nas vilas
de Praia Grande, Cantagalo e Campos, antes de iniciar a nova estação agrícola.
Com a frustrada colheita, muitos colonos voltaram a pressionar a Diretoria Colonial no sentido de obter melhores lotes e ela, sem alternativa, cria
uma comissão para estudar as reivindicações. Mas as causas do fracasso inicial da colônia são várias, incluindo aquelas ligadas às condições
naturais, limitado tamanho da propriedade, ausência de infraestrutura como estradas que ligassem a produção ao mercado, o término do auxílio
pecuniário que cada colono recebia, inexperiência dos colonos ao meio tropical, parcos ou nulos recursos financeiros dos colonos, ausência de
um efetivo sistema de comercialização, inexperiência de muitos artesãos.
Os primeiros movimentos migratórios dos colonos foi dentro da própria área colonial e, até 1830, ainda havia colonos movimentando-se, em
busca de melhores lotes. Num segundo momento, desiludidos com as condições reinantes da área colonial, muitas famílias ultrapassaram os
limites da colônia fixando em sua periferia imediata, inclusive ao quente vale do Rio Macaé. Grande número dos que partiram, buscaram as
terras quentes mais ao norte, na esperança de se integrarem à economia cafeeira, como fazendeiros. Um outro grupo de colonos optou por partir
para áreas bem mais distantes como o Rio de Janeiro e Campos.
Em 1824, chegam 342 colonos alemães ao Brasil, basicamente originários de Hesse. Ao invés de serem encaminhados às colônias de
Leopoldina e Frankenthal no vale dos Rios Caravelas e Viçoso, na Bahia, direcionados compulsoriamente pela Inspetoria da Colonização à
Nova Friburgo. Pretendia-se que eles ocupassem os lotes deixados pelos colonos suíços. Genericamente, os alemães receberam lotes maiores do
que os antecessores. Apesar disto, muitos colonos germânicos também abandonaram seus lotes e seguiram as sendas trilhadas pelos pioneiros
suíços.
Apesar das dificuldades e das defecções de muitos colonos, tanto suíços quanto alemães, em busca de seu eldorado, a colônia conseguiu se
reerguer a médio e longo prazo, firmou-se e passou a cumprir os objetivos estipulados pela Coroa Lusitana.
A colônia se caracterizou pela pequena propriedade, mão de obra familiar, inovação técnica, produção de hortifrutigranjeiros voltada à
regularização do abastecimento da cidade do Rio de Janeiro, passando por grandes transformações desde que se tornou a capital da colônia, em
1763.
Salienta-se também que, no próprio processo de implantação da colônia, foi se edificando uma legislação que iria subsidiar uma política de
imigração e colonização para o Brasil, agora país independente e que incentivará a imigração.

O relacionamento entre os dois padrões de organização agrária


Embora a organização agrária ligada à economia cafeeira fosse “oposta” àquela estabelecida pela colonização européia em Nova Friburgo,
convivendo numa mesma região, os padrões lançaram, mutuamente, laços de ligação de diversa natureza. Aqui será feito um esforço para
sistematizar a natureza destas ligações e algumas de suas manifestações. Salienta-se que este tema, ainda pouco explorado, já está despertando a
atenção de pesquisadores, como Pedro (1998) que tratou do aspecto político, em Nova Friburgo.
A presença real da colônia suíça e alemã, trazendo novidades étnico-cultural, organizacional, técnica, religiosa e econômica; numa área
tradicional, vai influenciar todo o contexto pré-existente, como também ficará exposta a receber os impactos da formação dominante
socioeconômica pré-existente.
A valorização das áreas junto à colônia atraiu inúmeros investidores luso-brasileiros à Nova Friburgo que passaram a aplicar capitais em compra
de terras (urbanas e rurais), no comércio etc. Por outro lado, os imigrantes que saíram da área colonial buscavam condições melhores de vida,
inclusive, adquirindo terras e estabelecendo-se nas vilas com suas habilidades artesanais.
É importante lembrar que a localização da colônia, junto ao divisor de água (Serra Boa Vista), constitui-se num elemento vital ao mundo de
relações da colônia com vastas áreas fluminenses - Baixada Guanabarina, via Rio Macacu, Região de Campos, via Rio Macabu, Região de
Macaé, via Rio Macaé, Vale do Paraíba do Sul, via Rios Grande e Negro.
O contato entre as duas distintas formações socioespaciais, que levaram à integração e à complementaridade dos dois modelos, nem sempre foi
de cordialidade. Há momentos em que tal contato se realiza sob tensão, principalmente no ramo da política, quando determinados grupos
manifestam seus interesses.
A presença da colônia será um fator de valorização da área sul e sudoeste da região cantagalense. Por outro lado, as terras mais quentes ao norte
foram um fator atrativo aos imigrantes que buscavam seu eldorado.
A seguir, discorre-se sobre a natureza desses contatos e as formas de viabilização e complementaridade entre os dois modelos.

Relação política
A formação da colônia européia em Nova Friburgo atraiu inúmeros luso-brasileiros que viviam principalmente na vila e na zona rural do vasto
município de Cantagalo. À medida que esta população chegava à vila de Nova Friburgo galgando poder, uma parcela significativa dos colonos
ia se retirando, assim, foi-se configurando um novo desenho político em favor dos recém-chegados. Aliás, Tschudi frisa que os colonos “não
conseguem nenhuma influência na política, nem na administração do município, dada a ativa vigilância dos brasileiros e o exaltado e zeloso
sentimento de nativismo” (1976, p. 88).
Em função de certo vazios políticos deixados pelos colonos, muitos dos luso-brasileiros voltaram-se à política a fim de exercer cargos
importantes na Câmara Municipal de Nova Friburgo e na própria Diretoria Colonial, naturalmente objetivando avançar e consolidar os seus
interesses políticos e econômicos.
O por que da pequena participação dos suíços e alemães nas instâncias de poder político na freguesia friburguense, isto é, na Câmara Municipal,
deveu-se a um conjunto de fatores, como por exemplo: - (a) - “o indiferentismo e a falta de coesão” interna, segundo Tschudi (p. 88), pois não
havia uma unidade lingüística, cultural e étnica entre eles; b) - o desconhecimento da língua portuguesa e das leis do Brasil; c) - o trabalho árduo
pela difícil sobrevivência que os absorvia; d) - o descrédito com que os órgãos públicos eram vistos, tendo como espelho a Diretoria Colonial; e)
- “animosidade existente contra o elemento estrangeiro, embora naturalizado”, completa Tschudi (p. 89). Ressalta-se que os europeus
naturalizados eram a parcela demográfica dominante na área colonial (gleba e vila) embora a população escrava fosse a dominante na freguesia
em 1824.
Assim, a composição numérica do colégio eleitoral, era francamente favorável aos colonos. Mas, apesar disto, entre as dez legislaturas que
existiram entre 1820 e 1829, somente em quatro delas os colonos foram diretamente representados, afirma Pedro (1998). Na última composição
da Câmara de 1829, antes da colônia ser formalmente desativada, a presença de quatro colonos entre seis vereadores possíveis, nas palavras de
Pedro (p. 100), “ao que tudo indica, não representavam a essa época o melhor interesse de seus concidadãos. Eram funcionários do Estado,
possuindo os maiores salários da freguesia”, referia-se o autor ao médico, Doutor Bazet e ao pároco, Padre Jacob Joye, funcionários da
administração colonial.
Enfim, os agentes sociais que se assenhorearam do processo político da freguesia estavam direta ou indiretamente ligados aos interesses de uma
sociedade escravocrata já existente na região, por ocasião da chegada dos imigrantes.
Dos interesses diferenciados surgem tensões na área política, quando nos pleitos à Câmara em 1822 e 1826, houve tentativa de negar a condição
de cidadania dos colonos eleitores e candidatos a cargos eletivos, como comenta Pedro.
Na década de 1840, tais questões voltam à baila, quando os alemães, sem documentação de cidadania então detida nos arquivos coloniais, foram
questionados sobre seu direito ao sufrágio. Fato que “interrompeu a tranqüilidade de Nova Friburgo, incitando ódio e inimizade entre a
população indígena (nativa) e colonial”, aponta Cansansão de Sinimbu (1852, p. 21).
Por outro lado, observa-se na Câmara Municipal de Cantagalo, já em 1821, a presença do vereador Jean Baptiste Lapaire, originário do Cantão
de Berna. Ele será o primeiro de uma série de representantes políticos de europeus naturalizados no seio do fórum político atado, fortemente aos
interesses dos grandes latifundiários escravocratas.

Relação econômica
À medida que muitos colonos procuravam terras mais quentes para se inserir na sociedade local, como cafeicultores, muitos luso-brasileiros
deixam a vila de Cantagalo com vastas terras e buscam investir capitais na vila de Nova Friburgo e seus arredores, seja em terra rural ou então
em lotes e casas urbanas, justamente atraídos pela valorização fundiária local.
Registra-se que, de 1820 a 1831, 21 deles investiram na sede ou no interior da Freguesia de São João Batista de Nova Friburgo, em casas
comerciais ligadas principalmente ao ramo de secos e molhados (80% ), e também em boticas, alfaiataria, ferraria e capotaria e selaria.
Uma vez em Cantagalo, muitos colonos passaram a comprar terras objetivando o estabelecimento como fazendeiros produtores de café.
Observa-se que muitos colonos, cooptados pela mentalidade dominante e necessitados de mão-de-obra, passaram a adquirir escravos,
principalmente, para trabalho no campo e serviços residenciais. A compra e a venda de terra contribuíram para o movimento do mercado de
terras. Alguns colonos, pela freqüência de compra e vendas de terras, parecem inclinar-se para o negócio de corretagem. Outros, porém, fixaram-
se na vila de Cantagalo e passaram a exercer suas profissões de origem, estabelecendo-se como carpinteiros, tanoeiro mecânico, moleiro e
tecelão.
É importante ressaltar que, apesar da diversidade da produção dos colonos nas suas glebas, houve uma tendência natural à concentração na
produção de milho. Fato explicado pela demanda deste produto por parte dos animais componentes das numerosas “tropas-de-burro”, que se
deslocavam, freqüentemente, carregando mercadorias agrícolas entre Cantagalo e o Rio de Janeiro, via Porto das Caixas, retornando a Cantagalo
com produtos industriais.
Registra-se que a pequena e a média propriedade são, hoje, módulos fundamentais na estrutura fundiária regional, e isto, certamente, relaciona-se
com a herança deixada pelos colonos; que o disseminaram por onde passaram e se fixaram.

Relação étnica
Um outro ponto interessante da integração entre estes dois mundos diz respeito à união matrimonial. Pelos registros paroquiais católico e
luterano, entre 183 casamentos realizados entre 1820 e 1831 , 17 deles foram celebrados entre colonos suíços e alemães com luso-brasileiros na
vila de Nova Friburgo. O número mostra-se acanhado, porém significativo, lembrando-se a existência de diversos tipos de barreiras entre
colonos e a população nativa. Certamente, o número de uniões será muito acrescido na medida em que se avança ao longo do século XIX.
A integração étnico-cultural, ao longo dos séculos XIX e XX , foi de tal monta que praticamente se reconhecem descendentes dos imigrantes
pelo biótipo (alpino) e sobrenome que ostentam, muitos deles sendo corruptelas dos originais.
A primeira vista, tudo indica que os colonos foram assimilados, pois não há vestígios fortes de sua presença. Assim, as línguas francesa e alemã
entraram em desuso, a alimentação típica não se sobrepôs, os aspectos arquitetônicos parecem não implantados no espaço. No entanto, há
necessidade de pesquisa para recuperar o que de fato permaneceu e encontra-se submerso ou desfigurado.

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