Múltiplas Alternativas

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Múltiplas Alternativas: diversidade econômica da Vila de Santo

Antonio de Sá de Macacu - Século XVIII

Márcia Amantino∗
Vinicius Maia Cardoso∗

RESUMO: O objetivo principal dos autores é discutir as diferenciadas formas de produção da


Vila de Santo Antonio de Sá, na Capitania do Rio de Janeiro, no século XVIII, tendo como
base documentos originais produzidos pelas administrações coloniais. O artigo enfatiza a
produção da farinha de mandioca e a exploração de madeiras na região, relacionando-as a
outras formas de produção para subsistência e dados a respeito da organização social,
demografia e de relações escravistas que pautavam àquela sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Capitania do Rio de Janeiro, Santo Antonio de Sá, mandioca, madeira.

ABSTRACT: The main goal of the authors is to discuss the different ways of production in
the vila of Santo Antonio de Sá, in Rio de Janeiro Captaincy during the XVIII century, using
the originals documents made by the colonial administration. It also relates other forms of
production for subsistence and data regarding social, demographic and slaves relations in this
society.

KEY WORDS: Rio de Janeiro Capitany, Santo Antonio de Sá, manioc, wood.


Professora do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).

Bolsista da FAPERJ no Programa de Mestrado em História do Brasil – Universidade Salgado de Oliveira
(UNIVERSO)
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

Introdução

No século XVIII, a região do vale do rio Macacu, na capitania do Rio de Janeiro,


constituía-se, no panorama socioeconômico do recôncavo da baía da Guanabara, como lócus
privilegiado na produção de gêneros alimentícios, em especial a farinha de mandioca.
Juntamente com outros produtos como arroz, milho e feijão, uma produção de açúcar e
aguardente também tinha curso, completando o quadro geral da sua produção agrária. A
atividade extrativista de madeira, ao lado da lavoura, se configurou também de grande
importância, principalmente após a criação do Arsenal de Marinha, no Rio de Janeiro, em
1763.
Essa produção de gêneros alimentícios não se destinava apenas para consumo dos
‘macacuanos’, sendo parte comercializada como gênero de abastecimento interno para a
cidade do Rio de Janeiro, caracterizando a região como importante celeiro de cereais no
Recôncavo.
O objetivo deste artigo é o de apresentar a conjuntura socioeconômica do vale do
Macacu a partir de uma particular fonte primária, a Discripção do que contém o Districto da
Vila de Santo Antônio de Sá de Macacu feita por ordem do vice-rei do Estado do Brasil,
conde de Resende [D. José Luís de Castro]1, de 1797, existente no Arquivo Histórico
Ultramarino, na cidade do Rio de Janeiro.
No organizado trabalho de levantamento de informações que integra a fonte,
acompanhada de relatório escrito provavelmente pelo coletor dos dados, o anônimo autor
apresenta pequena história da origem da Vila de Santo Antônio de Sá de Macacu e seus
limites geográficos:

He este Districto bastantemente dilatado e o seu assento hé revestido de Varges e


Montes, circulado e guarnecido por uma parte das grandiosas Serras chamadas
dos Orgaons, que principiam nas Caxoeiras do Rio Guapimirim e finalisa esta
Cordilheira nas Caxoeiras do Rio chamado Macacu, por onde passa a Estrada que
se dirige ao Canta Galo, e descahindo pela outra parte por terras menos

1
Discripção do que contém o distrito da Vila de Santo Antônio de Sá de Macacu feita por ordem do vice-rei do
estado do Brasil, conde de Resende [D. José Luís de Castro]. 07 de abril de 1797. Arquivo Histórico
Ultramarino-Rio de Janeiro. Cx. 165, doc. 62 e AHU_ACL_CU_017, Cx.161, D. 12071. Contém anexo com
mapas (planilhas).
Existe uma cópia deste mesmo documento, catalogado com outro título e sem os mapas: Memorial descritivo da
Vila de Santo Antônio de Sá de Macacu (Cachoeiras de Macacu) com: localização, portos, estradas, produção,
população e dois quadros demonstrativos. O primeiro refere-se ás madeiras da região, indicando-se-lhes a
utilidade; o segundo contém dados sobre engenhos, instituições, habitantes e contingentes militares. Sf. 7 de
abril de 1797. 61 p. IEB/USP – COL.ML, 88.1. A primeira fonte será a utilizada para este trabalho, doravante
denominada apenas como Discripção...

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montuozas, vem ate ai os seus Limites na Vila de S. Jozé d´El Rey, que parte com o
Districto de Tapacorá. (DISCRIPÇÃO...)

O relatório também traz uma análise da capacidade produtiva da terra, listagens e


características das espécies vegetais e animais, uma breve discussão de problemas observados
para a produção agrícola, as possibilidades hídricas da região do Macacu para transporte e os
problemas que os rios traziam com as suas regulares enchentes, as pragas que infestavam as
lavouras, estradas de terra e rios disponíveis para escoamento da produção, disponibilidade de
áreas para o plantio além de outras informações.
Em suma, este artigo buscará demonstrar, num estudo comparativo entre esta fonte
básica, além de outras como o relatório do Marquês do Lavradio, de 1778 e as observações de
Lisboa para a mesma região para o ano de 1790, que Macacu constituía-se como dinâmico
centro produtor, consumidor e abastecedor de alimentos para a cidade do Rio de Janeiro. No
atendimento dessa demanda, não apenas de alimentos, a mão-de-obra escrava por sua vez
constituiu-se como fator de produção importante, embora se deva ressaltar que nem todos os
produtores dispunham dela.

Macacu: braço estendido da colonização

A conquista, ocupação e colonização portuguesa na região fluminense teve início com


a chegada das primeiras famílias ao recôncavo da baía da Guanabara na segunda metade do
século XVI. No intuito de identificar esse processo, Fragoso (2001:33) demarcou três recortes
temporais buscando explicar a constituição da elite colonial dona de terras e escravos nessa
região em particular: de 1565 e 1600, famílias conquistadoras; de 1601 a 1620, primeiros
povoadores e, de 1621 a 1700, senhores de engenho, oferecendo um cálculo que mensura as
famílias atuantes na formação da elite rural do Rio de Janeiro:

de 1565 a 1700, temos a seguinte cronologia para a chegada de famílias que se


tornariam senhoriais no decorrer do século: 14 desembarcaram entre 1565 e
1600, 13 de 1601 a 1620, e depois desta data, 67 famílias. (...) 61% das 197
famílias que possuíram engenhos – em algum momento do seiscentos – tiveram seu
começo antes de 1620; trata-se, portanto, do núcleo fundador da futura elite
senhorial. As demais 77 ou 39% chegaram ao Recôncavo depois dessa época.
(FRAGOSO,2001:33)

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Segundo este autor, várias foram as formas de acumulação de capital mercantil na


constituição dessa mesma elite: produção e comercialização de açúcar, a venda de cativos
africanos e outras possibilidades, além do que

a constituição das fortunas daquelas famílias baseou-se na combinação de três


práticas/instituições vindas da antiga sociedade lusa: a conquista/terras – prática
que nos trópicos se traduziria em terras e homens, a “baixos custos”, porque
foram apossados das populações indígenas; a administração real – fenômeno que
lhes dava, além do poder em nome del Rey, outras benesses via sistema de mercês;
o domínio da câmara – instituição que lhes deu a possibilidade de intervir no dia-
a-dia da nova colônia.(FRAGOSO, 2001:33)

Concentrando sua pesquisa para o Rio de Janeiro, este autor demonstra também que no
processo de constituição das fortunas desses homens, os mesmos nem sempre vieram para cá
ricos, mas justamente em busca de riquezas, títulos e privilégios concedidos por El Rey, e que
possibilitaram a acumulação a muitos que demonstraram disposição para a conquista. Entre
estes privilégios, estava o acesso a cargos e o controle administrativo das câmaras municipais,
instituições onde se expressava o poder local.

No que diz respeito à origem social dos conquistadores da Guanabara, antes de


mais nada é bom lembrar alguns fenômenos, entre os quais o fato de que, a
princípio, a grande aristocracia titulada considerava que suas obrigações
militares paravam no Marrocos. Ao sul do Marrocos, os principais agentes da
coroa eram da pequena nobreza. No Oriente, este quadro só lentamente começaria
a se alterar com a militarização crescente do Estado da Índia, como forma de
assegurar o comércio asiático. Desse modo, é pouco provável que os Grandes de
Portugal tenham, antes de 1620, conhecido a baía da Guanabara.
(FRAGOSO,2001:36)

Boxer (2002: 101) explica que dado o desinteresse da alta nobreza portuguesa na nova
colônia ‘descoberta’, estando esta mais voltada para as rotas do leste, os primeiros donatários
das concessões de terras em 1534 nem sempre pertenciam a elevados estamentos sociais, nem
tampouco eram integrantes do grupo mercantil mais rico. Pelo contrário, muitos eram mesmo
homens despossuídos de ‘cabedal’ que facultasse uma empresa mais segura nas novas terras,
mesmo face aos privilégios jurídicos e fiscais.
A aplicação da nomenclatura de Fragoso (2001:33) pôde ajudar a se buscar também
demarcar a constituição da elite senhorial na região do Vale do Macacu, como formada na
esteira do processo de conquista do recôncavo do Rio de Janeiro após sua consolidação na
baía da Guanabara – braço estendido da colonização em direção aos sertões.

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No contexto dessa conquista, a subjugação das tribos indígenas do recôncavo e seu


entorno, mediada pelo conflito direto e os efeitos de uma ‘política de alianças’ com
determinadas etnias indígenas, teve papel estratégico determinante nesse processo. Em outros
casos, a extinção de grupos hostis aos colonos foi o meio comumente empregado.
Os resultados dessa conquista, foram a destruição de milhares de indígenas por guerras
e disseminação de doenças “européias”, a tomada, pelos conquistadores, de hectares de terras
férteis controladas pelos indígenas e a arregimentação das populações nativas em aldeamentos
jesuíticos.
Procedeu-se a um continuado movimento de conquista dos sertões em direção a serra
dos Órgãos, que no século XIX ainda atraía a admiração dos viajantes europeus. Tal horizonte
de belezas, descortinado à vista dos portugueses quando entraram na baía em 1500, não seria
alcançado sem antes os povoadores se ocuparem da posse das muitas léguas de terras
existentes entre a serra e o mar.
No conjunto dessas primeiras terras, doadas em sesmaria no recôncavo da baía da
Guanabara após a expulsão dos franceses no século XVI, outro ‘rival’ a ser eliminado da
disputa pelo território, estão as cedidas a Cristóvão de Barros e Miguel de Moura, já em 1567,
pouco menos de um ano após a fundação do Rio de Janeiro e a consolidação do processo de
ocupação portuguesa nessa região.
Esse último, fidalgo português, recebeu a primeira grande sesmaria em Macacu,
solicitada ao governador-geral Mem de Sá por Cristóvão de Barros. A sesmaria possuía
quatro léguas de comprimento por três de largura, com o Macacu correndo ao meio.2 Segundo
Serrão, a mais vasta doação de terras que até então se fizera no Rio de Janeiro. (SERRÃO,
1965:132)
Moura não deu às terras de Macacu nenhum destino produtivo, e conforme as
Ordenações Manuelinas3, que o obrigavam a aproveitá-las num determinado prazo de anos,
estava fadado a perdê-las caso não o fizesse. Moura fez doação da sua sesmaria de Macacu à
Companhia de Jesus em fins de 1571.
Terras doadas e confirmadas, mas ainda a serem conquistadas às tribos indígenas.
Nada “colonizáveis”, os tamoios só entregariam com sangue as férteis terras do vale do
Macacu, ainda desconhecidas dos portugueses. A disputa atrasou por sua vez o processo de

2
O Macacu seria retificado nos anos 1930 pelo Governo Federal, para erradicação das febres palustres que
grassavam na região, devido ao seu natural trasbordamento durante a época das cheias, formando pântanos e
brejos. Tal medida também valorizaria as terras do vale do Macacu, acarretando nas décadas seguintes,
profundos conflitos entre posseiros e grileiros pela posse das mesmas.
3
Ordenações Manuelinas, Livro IV, Título 67, Das Sesmarias. Disponível em
<http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/manuelinas/l4p164.htm> Acesso em 13 abril 2008.

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medição, indispensável para a feitura do documento final de posse da terra. Os jesuítas


tiveram que, talvez não tão pacientemente, aguardar o desfecho da contenda.
Depois de encerrada a ‘guerra’ com os índios, os jesuítas passaram à anteriormente
frustrada medição das suas terras macacuanas em julho de 1579, tendo sido as mesmas
encerradas vinte anos após. Terras estas ambicionadas por sua força de produção, concernente
à intenção da Companhia em estabelecer ali seu estrutural sistema de aldeamento para
concentração dos indígenas e fazenda para produção de alimentos.
A Discripção do que contém o Districto da Vila de Santo Antônio de Sá de Macacu,
fonte objeto do presente artigo, produzida no final do século XVIII, apresenta informações
que ajudam a avaliar a fertilidade das terras de Macacu:

a terra do Districto de Macacu na maior parte bastantemente fértil, principalmente


as que são mais próximas ás Caxoeiras de todos os Rios já mencionados e o seo
Clima temperado pª a produção das Plantas de donde tirão os Lavradores grandes
vantagens nas Colheitas q. fazem das suas Lavouras, sendo as principaes a Cana,
o Arroz, o Milho, o Feijão e a Mandioca, q. são os gêneros em q. elles mais se
empregão e em q. tem formado os seus estabelecimentos. (DISCRIPÇÃO...)

Deve-se levar em consideração que, ao final dos setecentos essas terras já deveriam ter
oferecido aos plantadores várias safras anuais dos produtos agrícolas explorados: cana-de-
açúcar, arroz, feijão, milho e mandioca, esta última para o fabrico de farinha. Mesmo assim,
no final do século XVIII, sua força produtiva ainda suscitava elogios.
O mesmo documento também menciona que, apesar de sua fertilidade, muitas áreas
em Macacu, mormente nas terras mais baixas, eram facilmente alagáveis ou encontravam-se
cobertas de brejos, o que atrapalhava sobremaneira a atividade agrícola. Mesmo assim,
ocorreram disputas internas entre os colonizadores pela posse da terra de Macacu.
Um exemplo destes conflitos é o que se deu entre os jesuítas e os herdeiros do
conquistador Baltazar Fernandes, que se revelaram ser aos inacianos rivais bem menos
perigosos e fáceis de derrotar, do que os tamoios. Segundo Belchior,

quando Mem de Sá concedeu a extensa sesmaria para Miguel de Moura, por


inadvertência nela incluiu 600 braças de terras, que um mês antes outorgara a
Baltasar Fernandes. Os herdeiros deste morador, posteriormente reclamaram, e
na demanda judicial que se seguiu, ganharam em primeira instância, mas viram a
sentença reformada em favor dos jesuítas. Todavia o visitador Cristovão de
Gouveia, em 1585, penalizado com a situação de pobreza dos legítimos donos,
sugeriu que as 600 braças lhes fossem entregues, pois “doía a consciência” com
elas ficar. (BELCHIOR, 1965:334-335)

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Baltasar Fernandes era tabelião do público, judicial e notas, provido em 22 de


fevereiro de 1567, e um dos primeiros que tinham vindo povoar o Rio de Janeiro com a
mulher e os filhos. Para ocupar o cargo, que estava vago pela morte de um tal Miguel Ferrão,
outro conquistador, Gomes Enes, certamente de maior cabedal, em 11 de março de 1567,
prestou fiança a favor de Fernandes, que parecia não dispor de recursos para almejar tal cargo,
sendo homem pobre e que teve o mesmo destino de muitos conquistadores, morrendo em
combate contra os indígenas. Seus herdeiros iriam manter questão com os jesuítas pelas terras,
localizadas na agora parte da sesmaria jesuítica de Macacu. (BELCHIOR,1965:334-335)
Leite comenta sobre a diferença de opiniões de dois padres frente ao caso: contra os
Fernandes, o padre Beliarte, provincial jesuíta; e a favor, padre Cristóvão de Gouveia,
visitador, que tinha ordenado em 1585 que as 600 braças – realmente pouco - se entregasse
aos herdeiros de Baltazar Fernandes. Gouveia, em carta de 11 de setembro de 1585, sobre o
caso, declarava que

son seis o siete hombres pobres, que conquistaron aquella tierra com mucho
trabajo, y no tienem otras de que pueden sustentarse, y por la justicia “saltem” en
el foro interior estar por sua parte dellos e por el grande escândalo que auria em
les echar fuera y auver muchos años que estan de posse com suas grangearias y
principalmente por que la tierra no ualdra, mas que hasta quarenta ducados y a
los Padres sobran lãs tierras, y que allende desta data tiene outra cerca de la
ciudad, y los hombres no tiene adonde labrar por el coll.º tener lo mas e meior
delas tierras.(BELCHIOR,1965:190)

Sensível à pobreza dos Fernandes, que dependiam do que pudessem arrancar de


alimentos das suas terras, já que provavelmente com o patriarca falecido não puderam mais
contar com o usufruto do seu cargo de tabelião. Gouveia lançou, sem sucesso, o argumento de
que a Companhia possuía já muitas e excelentes terras na região. No final, os herdeiros de
Fernandes, segundo ainda Belchior, terminaram como arrendatários dos padres. Contudo, na
ampla doação de sesmarias que se procedeu no Brasil, outros por sua vez receberam grandes
extensões de terra.

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Através de uma relação de recebedores de sesmarias no recôncavo da Guanabara


compilada por Pizarro, foi possível montar uma listagem, de 1565 a 1700, dos que unicamente
receberam terras na região dos rios Macacu e Guapiaçu4.
Esses sesmeiros não tinham certamente muita noção do que recebiam, dada a
extensão de seus lotes, ou, em alguns casos, sua distância em relação ao Rio de Janeiro, tendo
também que redobrar-se em esforços para conquistá-las e sujeitos ao risco corrido por
Baltazar Fernandes.(WETZEL,1972:17).
Medir, confirmar e ocupar as terras era empresa que deveria ser custeada com recursos
próprios. Entretanto, deve-se levar em conta que nem tudo seria tão difícil como parece, a
esses homens, já que o simples fato de obter terras, léguas em alguns casos, ‘de graça’, já
significava um primeiro e grande passo no caminho da obtenção do status e da acumulação
mercantil desejada. Com os dados montou-se o seguinte quadro:

QUADRO 01 – Sesmarias concedidas nos rios Macacu e Guapiaçu (Séc. XVI e XVII)

1555 a 1600 1601 a 1620 1621 a 1700


7 sesmeiros 22 sesmeiros 27 sesmeiros
Domingos da Silva, Pedro Bentes,
Vicente Bentes, Miguel Bentes, Leonor
Bentes, João Gomes Sardinha (o Moço),
Braz Sardinha, Paschoal Sardinha,
Francisco Alves (o Moço), Antonio
Gaspar Sardinha, João Fernandes
Fernandes Góis, Lázaro Fernandes, padre
Fontes, Gonçalo Fernandes, Gaspar de
Antonio Pinto, Balthasar de Seixas Rabelo,
Magalhães (o Moço), Miguel Carvalho,
Cristóvão de Barros, Miguel Jorge de Souza, João Danhaja, Pedro da
João Gomes Sardinha, Manoel
de Moura, Jerônimo Silva, Sebastião Gonçalves, Pedro de
Fernandes dos Ouros, Magdalena André,
Fernandes, Alexandre Dias, Azevedo, João Nunes Monrroi, Antonio
Constantino de Paiva e outros, Capitão
Gonçalo de Aguiar, Diogo Soares Louzada, Francisco de Pina, Gonçalo
Gonçalo de Murros, Domingos de
Ferreira, Antonio Fernandes. de Pina, Francisco Viegas, Antonio Andrade,
Murros, Capitão Manoel de Aguila
Antonio Soares, Manoel Quinteiro, Jerônimo
Elqueta e outros, Assenço Vaz Tenreiro,
Vieira, Ambrosio de Paiva, Alexandre Lopes,
Gabriel da Rocha Ferreira, Francisco
Pedro Bentes de Souza.
João, Gabriel da Rocha Silva, Manoel de
Coimbra, Antonio Gonçalo Meira,
Gabriel da Rocha Freire e outros,
Ignácio Correia de Magalhães.
Fonte: Lista de Sesmarias Extraídas dos Livros do Cartório do Tabelião Antônio Teixeira de Carvalho – IHGB (Lata 90
Pasta 2).

4
Cf. Lista de Sesmarias Extraídas dos Livros do Cartório do Tabelião Antônio Teixeira de Carvalho – IHGB
(Lata 90 Pasta 2). Acrescentou-se sesmarias doadas no rio Guapiaçu, pelo fato deste e do Macacu se constituírem
como os principais que cortam de norte a sul a região.

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A tabela, na qual se considera o número de recebedores como mínimo e em cuja


montagem aplicou-se a periodização proposta por Fragoso, percebe-se significativo aumento
de doações de terras em direção à serra dos Órgãos.
Tem-se o exemplo de Pedro, Vicente, Miguel e Leonor Bentes: provavelmente uma
mesma família, recebedora de 6.000 braças (13.200 m) no rio Macacu, em 10 de junho de
1624. Há também casos de sesmeiros de sobrenomes distintos, possivelmente aparentados por
casamento entre famílias, como no caso de Francisco e Gonçalo de Pina, Francisco Viegas e
Antonio Andrade, que receberam em 06 de junho de 1614, nove mil braças (19.800 m) no
“Rio Papocaia”. É plausível supor também a formação de ‘sociedades’ entre homens não
aparentados para a obtenção e exploração de uma dada extensão de terras.
Das concessões listadas que tiveram extensões mencionadas, nenhuma foi menor que
as 1.500 braças (3.300 m) dadas a Antonio Soares Louzada no Rio de Guapiaguasu em 31 de
agosto de 1612. A ocupação do vale do Macacu pelos homens listados no período que vai de
1621 a 1700, ao que indica a fonte, parece ter alcançado seu limite extremo já no começo do
século XVIII. Em 14 de março de 1692, Ignácio Correia de Magalhães havia recebido Terras
nas Caxoeiras de Macacu athe onde chamão o Salto do Peixe.
Na primeira metade do século XVIII, as concessões de terras já alcançavam a serra dos
Órgãos: Antonio Pacheco de Oliveira recebeu 5.000 braças (11 mil metros) em 18 de agosto
de 1725 nas cabeceiras do Rio Macacu. Decorridos trinta e oito anos, Matheus Antonio da
Silva, em 13 de agosto de 1763, recebeu 3000 braças em quadra nos sertoens e Matos Geraes
do Rio de Macacu.
Nesse ínterim, era fundada entre os rios Macacu e Cacerebu, a primeira vila do
Recôncavo, Santo Antônio de Sá, por ato do governador da Capitania do Rio de Janeiro, Artur
de Sá e Menezes, em 05 de agosto de 1697.5
Em suma, a ocupação do vale do Macacu como área propícia à aquisição de terras e
conseqüente expansão agrícola e a formação de sua elite senhorial pode ser resumida de
acordo com o que demonstrou Sampaio (2003:21-23), ao estabelecer alguns critérios para a
formação da estrutura socioeconômica do agro fluminense para finais do século XVIII e início
do XIX.
Havia uma grande autonomia da economia fluminense em relação às conjunturas
internacionais para o período enfocado, desvinculando a sua análise das antigas teorias que

5
Cf. Auto de ereção da vila de Santo Antônio de Sá, antiga Macacu. 05 de gosto de 1697.6 p. Cópia. Original no
Arquivo Nacional. Notação Final DL 04.017. Notação Original DL 4.74. Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro – IHGB, Rio de Janeiro.

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estabeleciam uma dependência absoluta da economia colonial às rígidas regularidades do


mercantilismo, onde a agroexportação não teria gerado um mercado interno significativo e
nem, portanto, setores produtivos coloniais ligados ao seu abastecimento. (FRAGOSO,
1998:63)
Essa autonomia, segundo Sampaio (2001:21-23), seria gerada por fatores ligados à sua
formação:
1- Aquisição de mão-de-obra de baixo custo, ou seja, escrava, para a produção de
alimentos e as atividades monocultoras da plantation;
2- Baixo custo dos alimentos produzidos com formas não-capitalistas de produção,
gerando um mercado interno no qual se abasteciam as plantations escravistas;
3- Baixo-custo da aquisição de terras, obtidas através em grande parte através de
concessões reais, fator que promoveu uma acumulação desse fator de produção por
um pequeno grupo de agraciados;
4- A presença de forte acumulação endógena de capital gerado no setor mercantil.
Entretanto, todo este quadro, de formação de uma estrutura socioeconômica de base
agrária e escravista e que tinha no comércio uma possibilidade de acumulação de capital,
tinha este mesmo capital mercantil não vinculado à sua própria reprodução. Não se trata aqui,
de uma sociedade capitalista, com valores burgueses, pois,

A acumulação ocorrida na esfera mercantil significava, na verdade, uma


apropriação contínua na circulação de riquezas que, numa sociedade pré-
capitalista, são geradas essencialmente na atividade agrária. O que torna possível
essa esterilização de recursos, sem que essa atividade seja destruída, são seus
baixos custos. (SAMPAIO, 2003:24)

O comércio, de escravos e de gêneros produzidos pelo setor agrário pelo braço cativo,
foi gerador de fortunas as quais se voltaram, mesmo com a expansão desse capital mercantil,
não para sua própria reprodução, mas para a reiteração da hierarquia social, calcada na
manutenção e reprodução do próprio sistema agrário, escravista e excludente.
A aquisição de status social era o objetivo último de muitos homens e famílias ao
adquirir terras coloniais, em especial no que tange a este artigo em áreas fluminenses.
Portanto, esse capital, concentrado em sua origem mercantil, ao retornar á paisagem rural
cria necessariamente uma estrutura agrária igualmente concentrada. (SAMPAIO, 2003:24)
Sampaio relaciona esta mecânica das relações socioeconômicas coloniais à própria
formação, no agro fluminense, da futura atividade cafeeira, onde se destacaram as atividades
de caráter rentista. Mesmo assim, semelhante ao agrarismo dos séculos anteriores ao café, o

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resultado era mais uma vez a reiteração de uma ordem social fortemente hierarquizada e
excludente, na qual os mecanismos de acumulação estavam concentrados em pouquíssimas
mãos. (SAMPAIO, 2003:24)

Macacu: celeiro de grãos


A Discripção... demonstrou ser, ao menos até agora, o melhor e mais minucioso
documento produzido pelas autoridades coloniais a respeito da economia do vale do Macacu,
reunindo, numa única fonte, dados que demonstram essa região possuir em fins do século
XVIII uma sólida estrutura de produção agrícola, extrativista e artesanal. Além destes
gêneros, outros produtos constavam de sua agenda de produção – madeiras, tijolos, telhas -
realizada por famílias de proprietários e não proprietários de terras. Vale conhecer, de forma
detalhada, o conteúdo desta fonte.
Aparecem listadas relações nominais de proprietários de engenhos de açúcar, fábricas
de farinha, olarias, o número de fogos (residências) e dos chamados ‘cabeças de família’
dessas unidades domiciliares. Também aparecem relações de ‘Oficciaes de officios’, ou seja,
trabalhadores especializados, juntamente com serradores e taverneiros.
Em relação aos donos de terras, sejam estes proprietários de engenho de açúcar,
fábrica de farinha, lavrador, serrador, oficial ou taverneiro, é apresentada a extensão de suas
propriedades, em léguas ou braças, conforme o caso. Indicou-se também o estado civil,
número de filhos por sexo e faixa etária de cada homem ou mulher listado, havendo o
levantamento da sua respectiva escravaria, indicada através do sexo e grupo etário, ou seja, se
crianças (escravos ‘pequenos’) ou adultos (escravos ‘grandes’).
As produções de açúcar, farinha de mandioca, aguardente, arroz, milho e feijão são
relacionadas para aquele ano de 1797, aparecem cada qual numa respectiva unidade de
medida: arrobas para o açúcar, pipas para a aguardente e alqueires para as demais. Estão
também criteriosamente detalhadas a quantidade de bois, cavalos, ovelhas, “bestas muares” e
poldros (potros) possuídos por cada listado.
Uma intensa atividade econômica se desenvolvia nos 27 engenhos de açúcar, 02
fábricas de beneficiamento de arroz, 238 engenhos de farinha e 10 olarias. Um total de 649
lavradores produzia em especial farinha de mandioca. Distribuíam-se pela região 30 oficiais
de ofício, 55 serradores e 66 proprietários de tavernas.
A produção gerada importou, para 1797, em 28.795 arrobas de açúcar, 582 pipas de
aguardente, 71.111 alqueires de farinha, 3.676 de feijão, 19.269 de arroz e 4.472 de milho.

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As arrobas foram mais simples de transpor para nosso sistema de medidas, importando
em 431.925 kg, já que uma arroba corresponde a praticamente quinze quilogramas. As 582
pipas de aguardente correspondem a 14.550 almudes. Estes por sua vez equivalem a 464.436
litros da bebida. Para os alqueires, optou-se em utilizar o fator de conversão proposto por
Luna & Klein (2001: 4) segundo a seguinte tabela para a conversão alqueires/quilogramas:

TABELA 01: Fatores de conversão

Unidade Em Em
Produto Produto/Densidade
Original Litros quilos
Milho Alqueire 0,8333 36,27 30,225
Feijão Alqueire 0,8333 36,27 30,225
Arroz Alqueire 0,8333 36,27 24,180

Portanto, de acordo com o fator de densidade desses grãos (0,8333) e calculando com
base na relação de quantos quilogramas estão presentes em um litro de milho, arroz ou feijão,
tem-se que para estes dois últimos deve-se multiplicar o valor em alqueires por 30,225,
enquanto que para o arroz, o cálculo a ser feito é através do fator 24,180.
A produção de arroz equivale então a 465.924 kg; a de feijão e milho,
respectivamente, 111.107 e 135.166 kg. A farinha é o produto-rei da região. Usando a mesma
relação de 30, 225 para a farinha de mandioca, chega-se a uma estimativa de valor máximo de
produção, para um ano, correspondente a 2.149.329 kg do produto.
A farinha superou em 1.717.404 kg a produção de açúcar de cana. Definitivamente,
pelo que informa a fonte, a região de Macacu não tinha a agromanufatura do açúcar como
atividade econômica principal. Mesmo adotando-se o menor fator, de 24,180, utilizado para o
arroz, a farinha ainda assim alcançaria uma produção de 1.719.463 kg, ou seja, 1.255.027
quilogramas a mais de farinha que de açúcar.
Ainda com relação à produção, o relator da Discripção... faz menção à mentalidade
das populações em relação ao processo produtivo na agricultura:

Na plantação destes gêneros estão formados os estabelecimentos destes Lavradores em q.


achão ou tirão a sua maior conveniência e não procurão adiantar com outra qualquer Lavoura, talvez
por q. se lhe não faça precizo ou por q. vivem aferrados ao uso e custume dos seus antecessores e não
pela qualidade da terra, q. sertam.e [certamente] he boa...(DISCRIPÇÃO...)

88
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

Macacu: sociedade escravista

Um motivo de preocupação para os habitantes da região era, segundo a Discripção..., a


questão da mão-de-obra, já que “n’estes mesmos escravos consiste o cabedal destes
lavradores”. A principal queixa dos que se dedicavam a agricultura era o preço exorbitante
dos negros bem como sua grande mortandade. Alguns, inclusive, haviam ficado pobres em
decorrência da quantidade de cativos que perderam. A ociosidade e vadiação de uns foi
justificada em função destas perdas. Como não havia condições de trabalho por falta de
braços, desistiam de tudo e passavam a viver de caridade.
A fonte traz, em suas últimas páginas, um “Resumo Geral dos Engenhos, Fogos,
Almas, Rendimento etc da Vila de Santo Antonio de Sá de Macacu”, que indica a Vila com a
presença de 11.538 moradores (Almas) e 1.159 casas (Fogos), este idêntico ao de ‘cabeças de
família’ (chefes de família). (DISCRIPÇÃO...)

Portanto, o caráter escravista na sociedade macacuana, pode ser reforçado tomando-se


por base a própria Discripção..., que registra a presença, no interior do conjunto da população
de Santo Antonio de Sá, de 6.831 cativos (59,2%), em contraste com 4.707 livres, número
equivalente ao percentual de 40,7 %, o que dá, em média, pouco mais de um cativo (1,4), para
cada livre. Deve-se, porém, ressaltar o cuidado que se deve ter com a exatidão das
informações destes ‘censos populacionais’ coloniais.

A população da região caracterizava-se por ser em sua maioria, formada por pequenos
e médios proprietários com pouco ou nenhum escravo. Pode-se inferir que a maior parte da
mão-de-obra cativa estaria concentrada nas grandes propriedades. Mesmo assim, os dados
fornecidos pelas fontes mostram a predominância da mão-de-obra cativa. Todavia, isto poderá
ser comprovado à medida que as pesquisas avançarem.
Adotando um critério comparativo, segundo o relatório do marquês do Lavradio, em
1778, a Vila de Macacu (Santo Antonio de Sá) e suas freguesias, possuíam já perto de 17.329
habitantes, sendo 8.371 livres, 8.958 escravos e 2.085 residências (fogos), numa área total de
1.500 km².6

6
Relatório do Marquês do Lavradio – 1778.

89
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

TABELA 02- Produção agrícola da Vila e Município de Santo Antônio de Sá.

FREGUESIA AÇÚCAR CACHAÇA FARINHA FEIJÃO MILHO ARROZ


360.000 14.400 18.000 108.000
Santo Antº de Sá 73 caixas 52 pipas
Litros Litros Litros litros
1 milhão 79.200 61.200 126.000
Ssma Trindade 26 caixas 15 pipas
Litros Litros Litros litros
324.000 72.000 7.200 90.000
Guapimirim 50 caixas 5 pipas
Litros Litros Litros litros
54.000 36.000 2.880 21.000
Itambi 115 caixas 180 pipas
Litros Litros Litros litros
838.620 289.440 405.900 103.284
S.J. de Itaboraí 290 caixas 160 pipas
Litros Litros Litros Litros
Uma arroba = 15 kg Uma caixa = 35 arrobas
Fonte: Relatório do Marquês do Lavradio – 1778.

De um total de 4.011.124 litros, ou 1.819.103 kg (100%) de gêneros produzidos


(menos o açúcar e a aguardente), a farinha de mandioca correspondeu a 64,2% da produção
(2.576.620 litros ou 1.168.535 kg ); o milho, 12,3% (495.180 ou 224.571 kg); o feijão, 12,2%
(491.040 ou 222.693 kg) e o arroz 11,1% (448.284 litros ou 203.303 kg).
Se considerado o milhão de litros de farinha produzidos na Santíssima Trindade, no
vale do Macacu, se alcança o montante de 453.514 kg de farinha, correspondente a 24,93% de
toda a produção de Santo Antônio de Sá. Considerando-se unicamente a farinha, alcança-se o
índice de 38,8% da totalidade do produto fabricado apenas nessa freguesia.
Lisboa (1967) informa que em 1790 a Vila, ou seja, suas freguesias, já se encontravam
povoadas por um número próximo a trinta mil pessoas. Esses moradores produziam cana-de-
açúcar e as safras beiravam em torno de novecentas a mil caixas, produzidas do trabalho de
2,273 escravos. Contava ainda 126 fábricas de anil, nas quais estavam alocados quinhentos e
trinta escravos de serviço, com os quais faziam 540 arrobas do produto, sendo responsáveis
também pela criação de 12 olarias

da mais excellente argila de diversas variedades, que sendo preparadas


como convinha á indústria e riqueza Nacional fornecerião a mais rica
porcelana em vez dos rudes trabalhos da louça mal cozida que fabricam,
occupando utilmente muitos braços, e produzindo variados objetos do
Comercio de honesto trafico. (LISBOA, 1967)

90
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

Os dados de Lisboa destoam de forma gritante dos apresentados pelo marquês do


Lavradio e pela Discripção..., de 1797, referentes à produção do anil em Macacu. Enquanto
Lavradio em nada informa sobre o produto, a Discripção... limitou-se ao registro de pequena
e desanimada nota à página 28 do documento:

O Anil dá em algumas das partes deste Districto; porém mal e segundo as


experiências q. se tem feito não faz conta por q. o seu rendimento he muito
diminuto, q. lhe serve mais de prejuízo, do q. de conveniência; e por isso não usão
della. (DISCRIPÇÃO...)

Quanto ao número de escravos, que é dado na Discripção..., como sendo de 6.827


cativos no todo, Lisboa fala de apenas 2.803. Mesmo assim, esse autor não deixou de apontar,
embora em tom ufanista, para a pujança econômica da região de Macacu.
Com relação à produção de açúcar, os dados do marquês do Lavradio indicam,
incluindo Itaboraí, a produção de um total de 554 caixas do condimento, o que a 35 arrobas
por caixa alcança o montante de 19.390 arrobas, ou seja, uma produção de quase 291
toneladas. Lisboa aponta para uma produção de, no mínimo, 900 caixas, 31.500 arrobas (472
toneladas e meia). Se considerado o máximo, mil caixas, pode-se calcular uma safra de açúcar
de 525 toneladas. Os dados da Discripção..., mencionam a produção total de 28.795 arrobas,
ou seja, 822,71 caixas, perfazendo quase 432 toneladas do produto.
Tem-se então, algo entre 291 toneladas de açúcar para 1778, 472 a 525 toneladas para
1790 e as 432 para o ano de 1797. Dados que não possibilitam apresentar com segurança uma
regularidade na produção das safras de açúcar para Macacu. Tal circunstância talvez possa ser
explicada através da Discripção... pelo fato de que

os Lavradores da Cana, porem, os q. não possuem terra mais forte e própria para
a plantação da Cana e q. não tem terras cem abundancia são os q. extrumão os
Canaviaes com o bagasso da mesma Cana, depois de muhido e podre com a
continuação do tempo. (...) mas este condimento não he geralmente sempre certo,
he conforme a qualidade da terra ou lugar e conforme corre a Estação do anno,
porem a terra chamada Massapé, q, jhe barrenta e vizcoza, sempre he a milhor e
mais própria para esta plantação q. de ordinário o seo assento he em Varges beira
Rio. N´esta plantação há annos q. os Lavradores experimentão grandes prejuízos,
huns por cauza das enchentes, quando estas são extraordinárias tendo os
Canaviaes em terras baixas, estando ainda pequenas as Canas de pouco tempo
plantadas por q. as mata e outros por cauza de huns pequenos Insetos a q. os
Lavradores chamão Baratas (...) Além d´este prejuízo, segue-se mais quando a
Estação he Tórrida experimentarem alguma falta de Condimento, quando esta
Plantação hé feita em terras arientas e montuozas. (DISCRIPÇÃO...)

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Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

Lisboa não oferece dados sobre a produção de farinha, arroz, feijão e milho, não sendo
possível estabelecer qualquer critério comparativo com esta fonte neste caso.
Com respeito às olarias, os dados se aproximam da Discripção..., que menciona a
haver 10 olarias que produziram 88 mil telhas e 179 mil tijolos. Nada desprezível para apenas
um ano de produção, numa média aproximada de 7.300 telhas e 14.900 tijolos/mês.
Pelo menos seis dessas olarias eram pertencentes a senhores de engenho listados: D.
Ângela Rita Gago da Câmara, Marcos da Costa Falcão, Antonio de Oliveira Braga e os
capitães Manoel Velho da Silva, Braz Carneiro Leão e José de Souza Lobo.
Tal volume de produção cerâmica pode indicar que seriam as telhas e tijolos
produzidos comercializados no Rio de Janeiro e adjacências. Uma atividade certamente
corriqueira e tradicional no cenário econômico do vale. Tanto o é, que durante sua visita na
região, à fazenda Rio das Pedras, no avançado ano de 1846, Thomas Ewbank (1973:359)
relatou que

Nesta fazenda fazem-se grandes quantidades de tijolos e telhas. Sob um telheiro


encontravam-se negras jovens e de meia-idade, apenas cobertas por um saiote,
algumas com crianças presas às costas, a meterem dentro dos moldes a argila que
lhes cobre os braços e as pernas e lhes lambuza a cara. (EWBANK, 1973:359)

A Discripção... identifica que a região possuía, além dos produtos já citados, algumas
poucas plantações de café em propriedades pequenas e médias utilizando para isso, pouco ou
nenhum escravo. O informante salienta que esta era uma prática local por tratar-se de
proprietários pobres e como a terra era boa o suficiente para não precisar de preparo, apenas
uma pessoa podia plantar e colher o café. Observa-se que o café não apareceu na lista de
produtos analisados pelo Marquês do Lavradio. Pode-se inferir tratar-se mesmo de uma
pequena produção voltada para o consumo local e sem representatividade econômica.
O documento salienta que havia muitas terras devolutas na região e as que ficavam
cansadas devido ao constante uso eram abandonadas em busca de novas. Todavia, esta
informação precisa ser relativizada, pois desde o século XVI ocorriam constantes disputas por
terras na área. As disputas eram comuns porque parte das terras disponíveis ficavam
inundadas durante grade parte do ano, impossibilitando seu cultivo.
Na Discripção..., percebe-se que apesar da relativamente expressiva produção de cana-
de-açúcar, esta não era boa planta para a região e os agricultores experimentavam há anos
constantes prejuízos, não só por causa do excesso de águas como também porque a umidade
favorecia o aparecimento de pragas que destruíam os pés ainda novos. Cita também as

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Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

plantações de arroz e milho, mas para ele, a mandioca era a principal lavoura da região e era
em seu cultivo que a maior parte dos lavradores estavam empregados. Ainda assim, havia
também constantes perdas por causa das enchentes e do calor excessivo.

Macacu: exportador de farinha


No manuscrito Correspondência e documentos relativos às novas Minas de Macacu,7
produzido também no final do século XVIII (1786-1790), acerca de notícias veiculadas da
existência de ouro nos sertões de Cantagalo, na capitania do Rio de Janeiro, encontra-se uma
listagem de lavradores a quem o Estado comprou farinha para abastecimento das tropas de
milícias encarregadas de controlar o acesso, e o contrabando do metal amarelo nas rotas de
acesso às ambicionadas, e supostas, minas.
Tal produção era armazenada no ‘paiol da Caxoeira’, localidade estabelecida junto à
subida da serra dos Órgãos. Segundo a fonte, o sargento-mor Joaquim José da Fonseca
comunicava ao vice rei do Brasil, Luís de Vasconcelos e Sousa, conde de Figueiró (1778-
1790), através de três cartas, datadas de 14 de janeiro, 13 de fevereiro e 22 de maio de 1786, a
aquisição de 899 (27.172 kg) alqueires de farinha de mandioca por compra aos lavradores das
freguesias da Vila de Santo Antonio de Sá, pelo preço global de quatrocentos e vinte e três
mil cento e vinte réis (423$120). Com dados existentes nas cartas do sargento-mor foi
possível construir a tabela abaixo:

TABELA 03: Informações sobre produção de farinha de mandioca na Vila de Santo Antonio de Sá.

Menor preço Maior preço Menor Maior


Alqueires Número de
(réis (réis entrega entrega Valor total
de farinha produtores
p/alqueire) p/alqueire) (alqueires) (alqueires)
14.01.1786 210 29 $360 $500 01 24 87$960
13.02.1786 467 121 $320 $520 01 32 218$720
22.05.1786 222 46 $400 $640 01 20 116$440
Fonte: Novas Minas de Macacu. Original Manuscrito – 1786

7
Correspondência e documentos relativos as novas Minas de Macacu, do Rio de Janeiro, de que era
superintendente Manuel Pinto da Cunha e Souza – 1786 a 1790. Seção de Manuscritos. Biblioteca Nacional.
Catálogo 09,3,017-021.

93
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

Entre os 196 produtores listados8, foi observada a presença de 22 mulheres (11,2%)


proprietárias de terras e plantações. Faria, em sua tese sobre a família no cotidiano colonial,
para Campos dos Goitacazes, afirma ser comum haver mulheres chefiando lares no mundo
colonial, mas relativiza essa informação, considerando sua maior incidência nas áreas
urbanas, já que a mulher sozinha, com filhos consumidores, dificilmente conseguiria
sobreviver enquanto ‘cabeça de família’ em área rural, sem escravos ou agregados. (FARIA,
1998:53).
Foi possível subdividir as entregas de farinha em três grupos: um primeiro e grande
grupo com capacidade de fornecimento de 01 até 04 alqueires por lavrador, formado por 142
entregas; um segundo grupo, de 6 a 10 alqueires, com 28 entregas e um terceiro grupo, de 12
a 32 alqueires, formado por 18 entregas, configurando-se a existência de uma hierarquia entre
estes lavradores de farinha, sendo o maior fornecedor o padre Francisco da Silva Ferreira,
vendedor da única entrega de 32 alqueires, ao preço de $480 réis por alqueire, perfazendo
15$960 (quinze mil novecentos e sessenta réis). O menor fornecedor foi Francisco Lopes,
com apenas meio alqueire, a $400 réis o alqueire, em 13 de fevereiro.
Para a abordagem do segundo ponto, nos apoiamos em Schwartz (2001:166)

O cultivo da mandioca era a agricultura dos pobres, sempre organizado como


produção de roça. Embora alguns agricultores de subsistência auto-suficientes
estivessem envolvidos nessa lavoura, a produção de gêneros alimentícios para o
mercado, oriunda de pequenas roças, caracterizava o mercado baiano
(SCHWARTZ, 2001:166).

Dado o exposto na fonte utilizada, percebem-se características similares ao contexto


baiano no tocante ao quadro social dos produtores de farinha: produção nas mãos de roceiros,
com baixa aplicação de mão-de-obra cativa e propriedade de pequenas áreas de terra, próprias
ou arrendadas.
Os preços estipulados para a compra apresentam uma lógica interessante. Tomando-se
como exemplo onze fornecedores de oito alqueires no dia 13 de fevereiro, dois receberam 400
réis por alqueire; um apenas, o forro Francisco, 440 réis; quatro, 480 réis e outros quatro, 500
réis por alqueire de farinha. Brígida Vieira, no mesmo dia, recebeu 520 réis pelo único
alqueire entregue ao sargento-mor Joaquim José da Fonseca, ao passo que Joana
Emerenciana, no dia 12 de janeiro, lucrara menos: 320 réis por também um único alqueire.

8
Foi desconsiderada, nas três listagens, a repetição de nomes, sendo analisadas em seu conjunto e abordadas as
três datas de compra como listagens independentes entre si, buscando caracterizar a possibilidade de oferta do
produto na região.

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Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

Infelizmente, os dados disponíveis não permitem elucidar quais regras ou negociações


regularam o preço da farinha nesses três meses de fornecimento.
Uma oscilação de preços, ligada à quantidade de produtores/mês pode ser observada
no valor do alqueire da farinha indicado pela Tabela 03. Para os produtores que venderam
maiores quantidades, o preço do alqueire foi valorizando durante os três meses de
fornecimento: em janeiro, 500 réis; fevereiro, 520 e maio, chegava a 640 réis por alqueire. No
caso dos menores fornecedores, em janeiro o alqueire estava ‘cotado’ a 360 réis, diminuindo
esse valor para 320 em fevereiro, mês em que maior número de fornecedores entregou
remessas do produto e em maio, subiu para 400 réis. Talvez a capacidade de oferta do produto
fosse baixando, já que a produção da farinha está associada ao tamanho das roças de cada
produtor e o tempo de maturação da raiz para que pudesse ser submetida ao processo de
fabricação.
A listagem dos 196 produtores de farinha, como se disse, para abastecimento das
tropas de milícias encarregadas de vigiar os caminhos e buscar coibir o contrabando de ouro
das Minas de Macacu, não representa nem de longe o número dos produtores apresentado pela
Discripção.... Neste último documento, considerando-se os 27 senhores de engenho de açúcar
(que também produziam farinha), 238 donos de ‘fábricas de farinha’ e 649 lavradores, tem-se
um total de 887 produtores, o que ultrapassa aquela primeira listagem em 691 indivíduos, o
que talvez possa ser explicado pelo fato das autoridades coloniais terem um limite para as
compras de farinha para tropas que talvez não fossem tão numerosas assim.
Se é possível perceber similaridade dessa atividade ‘farinheira’ com o caso baiano, no
ponto onde Schwartz (2001:166) caracterizou essa produção como alternativa dos pobres,
essa característica reforça-se quando associada a outro caso, o de Paranaguá, no Sul do Brasil.
Leandro (2003:267) discutiu formas de produção econômica para essa região litorânea
e portuária da província do Paraná. Além da produção do mate, o autor apresentou a farinha
como produto largamente produzido e de melhor acesso por parte dos pobres, que pela posse
– ou arrendamento - de pequenas áreas de terra, o que condiciona a quantidade possível de
covas plantadas, pouco poderia produzir. Quanto mais colocar à venda um volume
comercializável de produção excedente.

Nos inventários post-mortem rurais e mistos, cujos inventariados possuíam


propriedade escrava, vimos que a mandioca e a farinha dela extraída se
destacavam quando comparadas a outras culturas agrícolas. Da mesma forma,
pode-se afirmar que aqueles que não possuíam cativos, e que conseqüentemente
estavam mais próximos ao cotidiano da pobreza, também viviam "presos" à
civilização da mandioca. (...) A partir de todos os inventários analisados, com ou

95
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

sem propriedade escrava, é possível concluir que o principal traço do ambiente


rural da comarca de Paranaguá era a vinculação das suas propriedades agrícolas
ao cultivo da mandioca e sua transformação em farinha. Quase todas as
propriedades inventariadas possuíam utensílios relacionados ao mundo da
farinha, aquilo que o jesuíta José Rodrigues de Melo chamou, no final do século
XVIII, de "bens que o uso reclama. (LEANDRO, 2003: 268)

O autor comenta sobre os produtores que não tinham posses suficientes, nem recursos
financeiros, para a abertura de inventário e, portanto, não detentores de utensílios necessários
para produzir farinha que verificou presentes nos bens dos inventariados – roda, prensa, forno
e tacho (de cobre). Sugere ainda a presença de formas alternativas para a produção de farinha
por parte dos não possuidores desses utensílios, embora não tenha encontrado menção a estas
formas na documentação por ele analisada, mas é plausível sua argumentação de que de
alguma forma, dada a universalidade da produção da farinha pela população da comarca de
Paranaguá, estas pessoas deveriam produzir a sua própria.
Por sua vez, Hebe Castro, em trabalho para Capivari (atual município de Silva
Jardim), na província do Rio de Janeiro, faz menção a estas formas alternativas de se elaborar
farinha. Capivari era freguesia integrada à região de Macacu, para onde Castro menciona três
tipos de preparo da raiz da Maniot utilissima, atividade de transformação relacionada à maior
ou menor possibilidade de aquisição dos utensílios necessários. Estes três tipos relacionam-se
respectivamente à produção dos tipos farinha d´água ou farinha gorda, farinha d´água de
mistura e farinha seca. (CASTRO, 1987:86)

No primeiro caso, apenas o forno era requerido para a última etapa, sendo
primeiramente a mandioca amolecida em água exposta ao sol, espremida à mão e
coada em peneira grossa. No segundo caso, o forno de cobre e a roda de ralar
eram indispensáveis: "a mandioca é primeiramente ralada e depois misturada com
água, espremida à mão e passada em peneira fina, misturando então o que
'passou' e o que ficou na peneira, de modo a formar novamente uma só massa, de
novo espremida e levada ao forno". No terceiro caso, entravam em cena os
utensílios mais comuns no preparo da chamada "farinha seca": "a mandioca
raspada é lavada e ralada em um ralador que pode ser movido à mão ou a água,
submetida neste estado durante várias horas à ação de uma prensa, passada em
peneira fina e levada ao forno ou tacho para ser cozida e torrada. (CASTRO,
1987:86)

Sendo assim, quem não possuía os utensílios, poderia utilizar-se de um ou outro


método ou mesmo nenhum, o que oferecia possibilidades baratas de produção. A proximidade
entre Capivari e Macacu sugere uma possibilidade de difusão destas técnicas.
A falta de recursos levara os pobres a ‘improvisar’ criando novas formas de produção,
e vale ressaltar que os indígenas, de onde o colonizador português aprenderia primeiramente a
96
Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

comer, e depois a produzir farinha, certamente desconheciam roda, tacho e ‘forno’, na sua
produção.
Possivelmente, Francisco Lopes, lavrador em Macacu, que forneceu apenas meio
alqueire de farinha (15 kg) às tropas coloniais, o único a fornecer tão pouco, de acordo com a
segunda listagem de fornecedores, de 13 de fevereiro de 1786, recebendo 200 réis, utilizou-se
de um destes três métodos.
Leandro (2007:15) apresenta, para Paranaguá, em Santa Catarina, que:

No mundo rural da comarca de Paranaguá, nas unidades agrícolas de


proprietários de escravos e nas unidades agrícolas daqueles que a historiografia
rotulou como "livres pobres", foi possível observar a existência de um modo de
vida cujo trabalho ao redor da mandioca e da farinha da mandioca encontrou sua
expressão máxima. A mandioca garantia os mínimos vitais da população livre
pobre e escrava. Estes a tinham como a sua principal referência alimentar, a sua
primordial fonte calórica disponível à época. (LEANDRO, 2007:15)

É bem provável que esta relação também se desse para a região de Macacu, dado que
em 1797, segundo a Discripção..., ao menos para os 649 lavradores listados pode-se montar o
seguinte quadro:
QUADRO 02: Quantidade de escravos por cada produtor
Nº de 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09
Escravos
Nº de 206 89 79 65 43 35 22 18 16 08
,
Produtores
Nº de 10 11 12 13 14 15 16 17 19 10
Escravos
Nº de 16 13 03 04 05 03 02 01 01 16
Produtores
Nº de 17 19 21 22 23 24 27 31 34 41
Escravos
Nº de 01 01 03 02 02 01 01 01 01 01
Produtores

Enquanto 206 produtores não possuíam, cada um, nenhum escravo, apenas 03, vão
possuir respectivamente 31, 34 e 41 cativos. Todos esses 649 lavradores produziram um total
de 26.548 alqueires de farinha (802.413,3 kg). Já dos listados como donos de “fabricas de
farinha”, portanto possivelmente possuidores de roda, tacho e forno, ou seja, todos os
utensílios necessários, apenas 13 não possuíam nenhum cativo. O maior detentor de escravos

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Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 3 Nª 5 Jul-Dez 2008

contará a propriedade de 90 cativos, produzindo 960 alqueires do produto (29.016 kg). Este
grupo, com apenas 238 produtores, produziu por sua vez um total de 38.633 alqueires
(1.167.682 kg).
Outrossim, o documento produzido em Macacu revelou que, de forma subsidiária,
aquela produção farinheira gerou uma peculiar atividade econômica: o aluguel de sacos para
acondicionamento do produto. Relata o sargento-mor, em carta de 12 de janeiro, que a farinha
era acondicionada em sacos de aluguer. Na carta de 13 de fevereiro, anotou que

pelo Ajudante Ângelo Soares Gomes de Proensa, recebi oitenta e sete mil nove
centos e secenta reis, com que satisfiz aos Fazendeiros as suas respectivas
quantias condicionada somente, quinhentos sincoenta e quatro alqueires em huma
talha de madeira, que mandei aprontar e fazer a fim de ficarem asim mais bem
acondicionadas, e os donos dos sacos não sentirem prejuízo, ficando de fora da
.9
dita talha cento e trinta e trez alqueires em sacos.

Infere-se que respeitadas as peculiaridades regionais, a produção de farinha


representava atividade econômica para sustento das famílias e uma potencialidade comercial,
sendo alimento basilar na Colônia, independente da distância existente entre as áreas
analisadas: Salvador no Nordeste; Paranaguá, no Sul e a Vila de Santo Antônio de Sá,
demonstrando o caráter generalizado da cultura da mandioca no mundo colonial.
Portanto, a farinha de mandioca era largamente produzida de norte a sul no Brasil
oitocentista, e mesmo sendo produto que concentrava sua produção nas mãos da multidão dos
mais pobres, constituía-se gênero básico na alimentação de todos, livres, libertos ou cativos,
ricos ou pobres, além de possuir valor de troca ou venda, conforme o caso.
Alimento tão essencial e cotidianamente presente na dieta colonial, que até mesmo os
viajantes que por aqui passaram e que a viram sendo produzida em várias regiões do país,
fizeram questão de registrá-la em seus escritos. Dentre eles, estão John Lucock (1942), para o
Rio de Janeiro; Henry Koster (1942), para o Nordeste e Maximiliano Neuwied (1940),
príncipe de Wied, em sua viagem entre o Rio e a Bahia (AGUIAR, 1982).
Todos, de uma forma ou de outra, identificaram ser a farinha de mandioca o principal
alimento das camadas populares e mesmo de grande parte das elites brasileiras.

9
Correspondência e documentos relativos às Novas Minas de Macacu (1786-1790). op. cit.

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A exploração das madeiras e o comércio

Além da agricultura, a Discripção... aponta para outra atividade que tinha papel
relevante na economia da região de Macacu: a extração e o comércio das madeiras,
abundantes e presentes em variadas espécies. Essas madeiras rendiam bom lucro aos
extratores: Ella he de tal interece, q. sendo laborioza e pezada a sua factura, e conducção
para os Portos de Embarque, nem por isso deixão de continuar com as fabricar...
(DISCRIPÇÃO...)
Em 1797, segundo ainda o documento, Macacu produzira 1.482 dúzias de tábuas,
‘conssoeiras’, vigas, ‘frexaes’, ‘páos de prumo’, ‘pernas’, caibros e curvas, perfazendo um
total de 17.784 peças, indicando também a presença de 55 ‘serradores’.
Cortar e transportar as madeiras do interior das matas, puxadas por bois, era trabalho
duro e difícil, mas os lucros compensavam. Trazidas aos portos nas margens dos rios, eram
vendidas a negociantes que as vinham buscar e que também garantiam seus lucros como
“atravessadores” dessas madeiras.
Segundo Cabral,

apesar de haver registros de extrativismo madeireiro no Vale do Paraíba , na ilhas


da Baía de Guanabara e na Baía da Ilha Grande, o grosso da fibra lenhosa, ao
longo do século XVIII, parece ter sido extraído das médias e altas porções das
grandes bacias hidrográficas da Baixada Fluminense – como as do Macacu, do
São João, do Macaé e do Muriaé – onde ainda remanesciam, pouco modificados,
vultosos estoques de Mata Atlântica primária. (CABRAL, 2007:133-162)

A extração das madeiras de Macacu é considerada por Cabral como atividade


desenvolvida desde a época de Martim Afonso de Souza, no século XVI, e tão importante
quanto a produção de cana-de-açúcar e a farinha de mandioca no XVIII, tomando impulso a
partir da criação do Arsenal de Marinha, em 1763, ano em que ocorreu a transferência da
capital da Colônia de Salvador, na Bahia, para o Rio de Janeiro, por motivo do controle da
extração, e extravio, do ouro das Gerais. Com esta criação, “a madeira necessária ao
empreendimento foi encomendada às “pessoas que assistem no termo de Macacu, e
costumam fazer negócio em madeiras”, segundo o Conde da Cunha. (CABRAL, 2007:147)
Esse comércio madeireiro estava intimamente relacionado ao regime das águas dos
rios, já que no período de cheias o transporte das mesmas pelos pequenos rios até os portos
maiores se tornava mais fácil. Caso contrário,

não só com seos Escravos, como com homens e jornaleiros, a quem pagão
vencendo a difficuldade da navegação naquelles lugares aonde não chegão as
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Embarcaçoens de Maior Porte, pela falta de águas, em as conduzir em Canoas e


em Balsas, q. são bem semelhantes as Jangadas e tão seguras q. sustentão homens
q. as conduzem com Varas ate os lugares em q. se achão as Embarcaçõens pª as
receber, o q. lhes he mais suave e menos penozo nas occazioens de abundancia
d´aguas. (DISCRIPÇÃO...)

Na mesma fonte encontra-se um levantamento das madeiras existentes na região,


apresentando o nome e a utilidade de cada espécie, numa listagem de sentido muito racional e
utilitário, “não se fazendo menção de outras de q. se não sabe os nomes e préstimos, q. por
não haver necessidade não se tem uzado dellas”.(DISCRIPÇÃO...)
A biodiversidade das matas, em se tratando das diversas espécies vegetais presentes
nas matas das freguesias da Vila de Santo Antônio de Sá era com toda certeza muito maior, já
que só se listou o que interessava de imediato ao comércio.
O levantamento em Macacu não se preocupou em listar unicamente madeiras para
corte, mas também plantas para uso medicinal, revelando um grande conhecimento das
potencialidades extrativas da floresta tropical:

Nestes mesmos Mattos e Campos se encontra a Puaya, o Sipó-Almecida, o


Fedegozo brabo, a Bulica e a Salsa da terra: todas Medicinaes; como também o
Urucum, q. das suas frutas se extrae tinta encarnada e a .........., tinta amarela do
seo Sipo [cipó], q. também são Midicinais. (DISCRIPÇÃO...)

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Fonte: CABRAL, Diogo de Carvalho.A bacia


hidrográfica como unidade de análise em
história ambiental. Revista de História
Regional.12 (1):133-162, Verão, 2007

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Outra forma de comércio era o realizado nas vendas de beira de estrada ou nas
localidades onde mais ou menos há o Surtimento para a sustentação deste Povo ordinário.
Uma economia, entretanto, realizada não exclusivamente pela compra com dinheiro,
mas também à base de troca de produtos entre os lavradores e os comerciantes, estes
recebendo madeiras e alimentos em troca de outros produtos.

A esta negociação acresce também aos Vendeiros a utilidade q. tirão em venderem


o Mantimento a troco de Madeiras, farinha, Milho, Feijão e Arroz, no q.
acrescentam o seo negocio, recebendo muitas vezes por preço moderado, mais do
Ordinário, a q. sevem obrigados seos donos (os q. são pobres) pª remediarem a
sua necessidade. (DISCRIPÇÃO...)

Além das madeiras e dos produtos comprados ou intercambiados nas vendas, a


população explorava também outras formas de subsistência e comércio:

Também nas Aves domesticas e Ovos fazem o seu interece alguns destes
moradores, principalmente as mulheres, por serem as q. cuidam mais na criação
dellas, em as vender aos Quitandeiros q. vem a este lugar e em as mandar pª a
Cidade, e outros também percebem algum lucro na vendage de alguns Porcos e
Carneiros; como também do Fumo, formado em Molhos, a q. chamão Fumo de
folha. (DISCRIPÇÃO...)

Analisando a formação social dos oficiais, serradores e taverneiros, vai-se encontrar na


Discripção... aqueles subdivididos em atividades especializadas ligadas ao setor madeireiro:
10 carpinteiros, 03 marceneiros e 2 tamanqueiros. No setor de ‘serviços’, 04 ferreiros, 02
pedreiros, 03 alfaiates, 03 sapateiros, 01 calafate, 01 latoeiro e 01 cabeleireiro. Exceto
Francisco José da Silva, sapateiro, casado e com um filho menor, que possuía um lote com
4.840 m², nenhum deles apareceu como possuidor de terras. Escravos, muito poucos, havendo
20 cativos para todo o grupo de 30 ‘oficiais’.
Sobre os donos de tavernas, espécie de birosca ou venda, a Discripção... oferece uma
lista de 66 taverneiros que exerciam essa atividade e detinham a posse, em conjunto, de 166
cativos. Desses, 17 (25,75%) não possuíam nenhum escravo.
Os dois maiores taverneiros donos de cativos eram Manoel João e Francisco de Abreu,
com 17 escravos cada um. O primeiro era viúvo com 04 filhos adultos (3 homens e 1 moça) e
proprietário de um lote com 6,53 km². Produziu com seus escravos 20 alqueires de farinha, 60

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de feijão, 40 de arroz e 100 de milho. Possuía um plantel de 6 vacas, 12 ovelhas e 2 cavalos.


Já Francisco de Abreu era casado, 04 filhos (1 homem e 3 moças). Não produziu nenhum
cereal naquele ano e possuía 04 bois, 03 vacas, 02 novilhas e 04 cavalos. Seu terreno possuía
uma área de 1,66 km².
Por sua vez, Gabriel Martins, solteiro, possuía 05 cativos, sendo que destes somente
02 eram homens adultos. Sua produção agrícola foi a maior de todos os taverneiros tomados
isoladamente, calculada em 100 alqueires de farinha, a mesma medida de feijão e arroz e 90
de milho. Sua propriedade tinha uma área de 2,90 km².
Pode-se inferir que esses taverneiros proprietários de terras poderiam produzir os
gêneros que comercializavam, arrendar suas terras para essa produção ou mesmo não dispor,
em suas vendas, do comércio de cereais.
A fonte apresenta que parte das populações que viviam e produziam em Macacu
constituía-se de pessoas muito pobres, trabalhando em pequenas extensões de terras próprias
ou cedidas. Um número de 401 agregados pôde ser também ser identificado. Pode-se inferir
que parte dessa produção nem sempre podia satisfazer as necessidades do mercado de farinha,
mas apenas garantir o seu sustento.

Macacu: outras informações


A tração, transporte, produção de carne e leite, segundo a Discripção... era
possibilitada pelo considerável número de bois, vacas, novilhos, ovelhas, mulas, burros e
cavalos existentes na região e que aparecem enumerados na fonte: 1.821 bois, 1.186 vacas,
590 novilhos, 855 carneiros e ovelhas, 839 cavalos, 565 ‘bestas muares’ e 32 poldros.
Integra-se a essas informações um acurado levantamento das tropas coloniais
aquarteladas no referido Districto. Uma força de 1.330 homens, entre oficiais superiores,
praças e soldados estava subdividida em dois grupamentos: um Terço da Ordenanças, e um
Terço de Infantaria Auxiliar.
No tocante ao aspecto religioso, a fonte informa existirem no distrito de Macacu 04
freguesias onde se distribuíam 8 capelas e 20 oratórios. Para o atendimento do ‘pasto
espiritual’, atuavam 04 vigários, 03 padres coadjutores (auxiliares) e 13 clérigos. Na Vila de
Macacu, principal localidade da região, estabelecia-se o convento franciscano de São
Boaventura de Macacu possivelmente abrigando os 11 frades listados e mais 02 donatos. Para
os serviços desse convento, a fonte informa estarem disponíveis 21 escravos.

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O caprichoso funcionário do conde de Resende não esqueceu de mencionar os


costumes locais, a administração e a oferta de aulas régias, ‘política educacional’ promovida
pelo marques de Pombal após expulsão dos Jesuítas da Colônia em 1759/60.
Diz a fonte que Há nella [na Vila] duas Aullas Regias, huma das Primeiras Letras,e
outra de Gramática e são os seos habitadores, como também os de todo o Contorno
pertencente á ditta Villa Regidos pelos Juizes Ordinários e mais Officiaes da Câmara.
(DISCRIPÇÃO...)
Numa alusão ao modo de vestir, o relatório apresenta como aquela sociedade
constituía-se com bem demarcados limites entre seus corpos sociais, mencionando que

o trajar de todo o Povo he honesto e descente e cada hum conforme a sua


graduação ou estado assim se ornão a saber os de maiores possibilidades, sempre
se distinguem na qualidade do vistuario, não só, homens como mulheres, quazi a
forma do uzo da Cidade. (DISCRIPÇÃO...)

Há informações a respeito do que restou dos índios outrora espalhados pela região e
aldeados em finais do século XVI em São Barnabé pelos jesuítas, que à época do documento
já havia se constituído na Vila de São José d´El Rei. Em 1797, a população indígena
remanescente era constituída por uma população de gente pobre,

cujo numero de Fogos são 81 e em 430 Almas de maior a menor os quaes são
regidos pelo seo Director, o Ajudante Leonel Antonio de Almeida, sendo-lhe
determinada esta Regência no anno de 1779. Todos se empregão, huns na
Agricultura, outros na Pescaria, e outros em fazer Ballayos. Esteiras e outras
curiozidades de Palhas e Taquaras, pintadas de diferentes cores, e Panelas de
barro e n´isto estabelecem o seo Comercio. (DISCRIPÇÃO...).

Conclusão
Pode-se afirmar que a Vila de Santo Antonio de Sá de Macacu, ao longo do século
XVIII, caracterizava-se por apresentar em conjunto com algumas plantations uma economia
doméstica de produção variada, que englobava o cultivo do arroz, do feijão, da farinha, do
milho, do fumo, a exploração das madeiras, a criação de aves e a conseqüente
comercialização dos seus ovos, além da criação de porcos.
Toda esta produção tinha parte consumida na própria Vila e parte exportada para as
localidades vizinhas, inclusive a cidade do Rio de Janeiro. Para esta exportação, em muito
auxiliaram os rios, que desembocavam diretamente na Baía da Guanabara.
A maior parte da população da Vila era formada por pequenos e médios proprietários
de pequenos plantéis de escravos ou mesmo nenhum cativo. A riqueza concentrava-se em

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uma elite diminuta que também produzia os mesmos produtos, só que em grandes
quantidades. Aí estava a grande diferença.

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