Distorções Do TOC

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DISTORÇÕES COMUNS O TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

Pensamento mágico
Uma das crenças distorcidas mais comuns, relacionadas com supervalorizar o poder do pensamento
é o chamado pensamento mágico, em razão do qual você acredita que pode agir a distância, modificar o
futuro com o seu pensamento ou com alguma ação (ritual) que pratique, impedir que desastres venham a
acontecer, que o simples toque pode transmitir propriedades ruins (uma espécie de varinha mágica ao
contrário), em desacordo com as leis da física. No pensamento mágico a pessoa confunde a noção de
causa e efeito.
Acredita que pelo simples fato de dois acontecimentos ocorrerem ao mesmo tempo podem ser causa
um do outro. Por exemplo: o paciente estava de camisa preta quando um amigo se acidentou e morreu.
Pode pensar que a camisa preta provocou o acidente, ou que o time ganhou porque estava com a camisa
do time. No TOC esse tipo de raciocínio é usado geralmente para explicar desastres, e não acontecimentos
positivos, como, por exemplo, ganhar na loteria, passar num concurso. Os rituais mágicos
fundamentam-se nessa forma de pensar. Como exemplos dessas crenças podem-se citar o fato de o
portador de TOC acreditar que a realização de rituais pode impedir que desgraças aconteçam no futuro.
Ou que se tocar em certos indivíduos poderá se transformar neles. Muitas crenças e rituais religiosos se
baseiam nesses mesmos princípios. Por exemplo, é possível fazer mal a uma pessoa espetando um alfinete
em um boneco.

Fusão do pensamento e da ação


Devido à fusão do pensamento e da ação, pensar é indicativo de que se pode praticar os atos que
passam pela cabeça, ou pensar equivale moralmente a cometer ou desejar os referidos atos.
Exemplo clínico: Um paciente não comparecia de forma alguma a festas porque tinha o pensamento
de que, ao estender a mão para cumprimentar as pessoas, poderia lhes dar um soco no rosto. Evitava
especialmente ir a casamentos, segundo ele: “Porque posso dar um soco na noiva em vez de
cumprimentá-la. Quem pode me garantir que isso não vai acontecer?”. E insistia: “Se penso, é porque
posso vir a praticar”.

Supervalorizar a importância de controlar os pensamentos


Uma conseqüência imediata de exagerar a importância e o poder dos pensamentos e de perturbar-se
com a sua presença é a necessidade de controlá-los e afastá-los da mente. Controlar significa ser capaz de
afastar completamente os pensamentos indesejáveis sempre que eles invadem a mente. Para tanto, é
necessário aumentar a vigilância e a atenção, pois isso ajuda a perceber de imediato quando tais invasões
ocorrem. Os pacientes acreditam que o controle não só é possível como desejável. Entretanto, a moderna
psicologia demonstrou que a vigilância provoca o efeito paradoxal de aumentar a freqüência e a
intensidade dos pensamentos (o chamado efeito Urso Branco, que veremos melhor a seguir). Assim,
literalmente nesse caso: “quanto mais se pensa no demônio, mais ele aparece”.
A supervalorização da importância de controlar os pensamentos pode assumir diferentes formas de
crenças distorcidas:
• Devo estar sempre vigilante sobre o que se passa na minha mente, pois só assim posso controlar
totalmente meus pensamentos.
• Devo vigiar meus pensamentos pois vigiando poderei afastá-los.
• Não controlar os pensamentos equivale a praticá-los.
• Posso ter sucesso total no controle dos meus pensamentos.
• Se eu não conseguir afastar um pensamento ruim, ele acaba acontecendo.
• Ter pensamentos invadindo minha mente significa que estou fora de controle.
• Serei uma pessoa (moralmente) melhor se conseguir controlar por completo meus pensamentos.
O efeito Urso Branco e a hipervigilância
Nossa sociedade sempre desencorajou fortemente pensamentos violentos ou de natureza sexual,
reprimindo de maneira intensa tais pensamentos já que poderiam colocar a própria sociedade em risco.
Tanto na família como na igreja, ensinaram-nos a ser vigilantes e a tentar afastar tais pensamentos. Em
portadores de TOC, entretanto, essas orientações criam um ciclo interminável de pensamentos intrusivos
intensos, e tentativas fracassadas de suprimi-los. Como comentamos e como já ficou comprovado, quanto
mais os portadores tentam afastá-los e vigiam suas mentes (hipervigilância), mais intensos e frequentes os
pensamentos se tornam.
De acordo com a teoria de Wegner, todas as vezes em que tentamos suprimir determinado
pensamento ele volta com maior intensidade e com maior frequência, levando-nos a adotar medidas ativas
para suprimi-lo ou a não pensar em certo assunto.

Exagero do risco e da responsabilidade


Exagerar o risco de contrair doenças, de se contaminar ou de ocorrer desastres (“Se eu tocar no
dinheiro e não lavar as mãos depois, posso contrair doenças.” “Se eu usar o sabonete ou a toalha usados
pelos meus familiares posso contrair doenças”).
• Exagerar a responsabilidade que os pacientes acreditam ter no sentido de provocar e impedir
desastres (“Meu carro foi roubado, e a responsabilidade foi toda minha porque eu não verifiquei se a porta
estava fechada.” “Se eu não verificar a porta, ela pode não ter ficado bem fechada e se houver um roubo a
responsabilidade será toda minha”).
• Valorizar de forma excessiva os pensamentos e a necessidade de controlá-los (“Se passa pela
minha cabeça um pensamento impróprio existe um risco de que eu venha praticá-lo” ou “Passou pela
minha cabeça a cena de um desastre de carro e estou com medo de que isso possa fazer com que meu filho
se acidente”).
• Valorizar a necessidade de ter certeza para não cometer falhas (“Se eu falhar, não irão me perdoar”
ou “Se tiver certeza não cometo falhas!”).
• Perfeccionismo (“Não posso falhar” ou “É imperdoável cometer erros.” “As coisas tem que estar
no seu lugar”).

Questionamento socrático
• Tenho alguma evidência de que um dia vou praticar ou cometer o que passa pela minha cabeça?
• Que evidências são contrárias a esses meus medos (no passado fui uma pessoa violenta, briguenta,
assassina, excito-me com esses pensamentos ou eles me provocam horror ou repulsa)?
• Imagine se tudo o que eu penso acontecesse!
• Existe a possibilidade (entre 0 e 100%) de que eu venha a fazer o que pensei? Sou o tipo de pessoa
capaz de fazer o que me passa pela cabeça?
• Esses pensamentos são possíveis ou passam pela minha cabeça porque tenho TOC?
• Considere esses pensamentos como sintomas do TOC. São horríveis, assustadores, mas são uma
mentira, eles não correspondem à realidade. Tá tudo bem, é só um pensamento, posso me acostumar com
ele. Eu não sinto esses desejos, não tenho a intenção de praticá-los, são somente obsessões do TOC.
• Podemos controlar inteiramente nossos pensamentos?
• Posso ser responsabilizado moralmente por um pensamento, uma imagem ou uma lembrança que
não controlo nem desejo?
• Ter um pensamento mau é tão condenável quanto praticá-lo?
• Pense em uma celebridade e imagine que ela vai sofrer um acidente grave (de carro, queda de
avião, etc.). No dia seguinte, verifique se isso aconteceu.
EXERCÍCIO DE EPR

Recomendações gerais para as tarefas de exposição e prevenção de


rituais para pensamentos impróprios
Para vencer os pensamentos impróprios, você deve seguir as recomendações
a seguir, que o auxiliarão nas tarefas de exposição e prevenção de rituais:
• Deixar os pensamentos impróprios simplesmente virem à mente, não
tentar impedi-los, não lutar contra eles e não tentar afastá-los, lembrando
que são apenas pensamentos do TOC e nada mais.
• Evitar qualquer manobra de neutralização ou ritual com a finalidade de
anular o mau pensamento, como substituir um mau pensamento por um
bom, fazer algum ritual mental (rezar, repetir frases, fazer contagens),
ficar argumentando para si mesmo se o que pensa é verdade ou não,
realizar rituais como lavar-se ou tomar banho depois de a mente ser
invadida por um pensamento impróprio.
• Diminuir a vigilância, procurando não dar importância aos maus
pensamentos ou imagens violentas ou impróprias quando surgirem na
cabeça. Não ficar vigiando.
Exposição e prevenção de rituais para os maus pensamentos
No tratamento desses sintomas, podem ser usadas várias técnicas que
possibilitam a exposição na imaginação, descritas a seguir.
1. Evocação intencional do pensamento, palavra ou cena horrível
Um exercício simples que pode ajudar você a vencer esses sintomas é a
evocação intencional do pensamento incômodo. Para isso, você deve marcar
determinado horário ao longo do dia em que tenha tempo disponível. Chegado
o momento, procurará evocar propositalmente cenas, palavras, imagens ou
pensamentos horríveis, que lhe causam aflição, e ficará pensando neles o
tempo necessário para o desconforto desaparecer por completo. Esse
exercício deverá ser repetido várias vezes ao longo do dia, até que nenhum
desconforto seja sentido com sua realização (p. ex., durante 15 minutos, 3 a 4
vezes ao dia).

2. Escrever uma história horrível


Uma das técnicas mais efetivas para tratar pensamentos impróprios de
conteúdo agressivo é escrever uma pequena história com todos os detalhes de
uma cena horrível imaginada, de mais ou menos uma página, incluindo os
acontecimentos posteriores. Uma vez escrita a “história horrível”, você deverá
programar-se para repetir a leitura várias vezes, em diversas ocasiões ao longo
do dia (5 a 10 vezes, em três ocasiões por dia), durante vários dias, até a
aflição desaparecer por completo e a leitura não provocar mais qualquer
desconforto. A história deve conter todos os detalhes de um pensamento ou
uma cena horrível, eventualmente exagerando seus aspectos mais chocantes.
Um exemplo de história horrível
A paciente que escreveu esta história conseguiu eliminar seus pensamentos
horríveis – esfaquear os familiares quando eles chegassem em casa da rua –
após a leitura repetida do texto.
“À noite, enquanto todos estão dormindo, acordo, vou até a cozinha e abro a
gaveta dos facões. Escolho, dentre eles, o maior, de 30 a 40 cm. Afio o
facão muito bem. Pego também a tesoura. Primeiro vou ao quarto do meu
pai e corto-lhe a garganta; em seguida, corto a artéria da virilha, para ocorrer
uma grande hemorragia. Sei que assim não sobreviverá. Depois, corto a
garganta do meu irmão. Dou, ainda, diversas punhaladas no peito dos dois.
Abro a cabeça deles picotando com o facão freneticamente. Tiro o cérebro e
os olhos. Depois disso, faço algo parecido com uma necropsia. Corto o
corpo deles em forma de Y e retiro todas as vísceras em um bloco só. Os

corpos viram pedaços de carne. Espalho os pedaços pela casa e coloco par-
tes no forno para assar. Vou ao apartamento ao lado, pois tenho a chave.

Faço o mesmo com a mulher. Corto-lhe o pescoço, pico a cabeça, perfuro o


peito e extraio as vísceras. Tudo vai para o forno, e sinto um grande prazer
em mata-los, o que é o mais apavorante. Mas, depois de certo tempo, me
arrependo. Tento me matar cortando meu pescoço, mas não consigo dessa
forma. Atiro-me da janela de cabeça para baixo. Caio, espatifo minha cabeça
e morro”.

3. Exposição virtual
Pacientes que evitam cenas de conteúdo agressivo (p. ex., filmes ou
programa de TV) podem beneficiar-se com a exposição virtual: assistir várias

vezes a filmes, ou trechos de filmes que contenham cenas de conteúdo vio-


lento chocante, sangue ou corpos estraçalhados, até não produzirem aflição e

se tornarem estímulos neutros como por exemplo, assistir aos primeiros 20


minutos do filme O resgate do soldado Ryan, ou cenas de outros filmes como
O poderoso chefão, Os bons companheiros, Gangues de Nova York, Meu ódio
será tua herança, Pulp Fiction, Tropa de Elite, Onde os fracos não tem vez,
etc., se for o caso. Os filmes (ou partes deles) devem ser assistidos diversas
vezes, até ficarem monótonos e não provocarem mais aflição.

4. Exposição na imaginação assistida


Certos pacientes portadores de TOC grave ou com convicções muito
intensas sobre o conteúdo de suas obsessões são incapazes de realizar a
exposição na imaginação se não forem acompanhados por terapeuta. Nesses
casos, é interessante a terapia de EPR assistida (por terapeuta ou algum –
familiar).
Quando a exposição na imaginação não funciona
A exposição na imaginação não funciona quando:
• As cenas imaginadas provocam aflição intolerável. Nesse caso, paciente
e terapeuta devem combinar exposição que produza menos ansiedade.
• A exposição não produz nenhuma ansiedade. Deve-se revisar os
motivos. É possível que a cena imaginada não tenha nada a ver com
você, que não se sente incluído ou não se concentra o suficiente na
história.
• Você não consegue imaginar cenas suficientemente vívidas ou
aterrorizadoras para produzir algum grau de ansiedade.

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