Apostila Psicodrama

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‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭INTRODUÇÃO‬

‭O‬ ‭psicodrama‬ ‭trabalha‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭dramatização‬ ‭de‬ ‭situações‬ ‭do‬


‭dia-a-dia,‬ ‭construção‬ ‭de‬ ‭histórias‬ ‭familiares‬ ‭etc.,‬ ‭sendo‬ ‭possível‬
‭sentir‬ ‭como‬ ‭é‬ ‭visto‬ ‭pelo‬ ‭meio‬ ‭social‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭vive‬ ‭e‬ ‭tomar‬
‭consciência‬ ‭de‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭individuo‬ ‭vem‬ ‭agindo‬ ‭nesse‬ ‭meio.‬ ‭Pode,‬
‭então,‬ ‭promover‬ ‭as‬ ‭mudanças‬ ‭desejadas‬ ‭de‬ ‭comportamentos,‬
‭adquirindo‬ ‭maior‬ ‭confiança‬ ‭e‬ ‭segurança.‬ ‭A‬ ‭psicoterapia‬ ‭clareia‬ ‭e‬
‭conscientiza‬ ‭o‬ ‭objeto‬ ‭de‬ ‭busca‬ ‭na‬ ‭medida‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭norteia‬ ‭o‬
‭individuo‬ ‭sobre‬ ‭as‬ ‭faltas‬ ‭externas;‬ ‭ajuda‬ ‭a‬ ‭conscientizar‬ ‭sobre‬ ‭o‬
‭medo‬‭de‬‭mudar,‬‭de‬‭correr‬‭o‬‭risco‬‭do‬‭novo‬‭e‬‭desconhecido,‬‭entender‬
‭as‬ ‭frustrações;‬ ‭possibilita‬ ‭a‬ ‭orientação‬ ‭adequada‬ ‭e‬ ‭aceleração‬
‭sistematizada‬ ‭do‬ ‭processo‬ ‭de‬ ‭busca,‬ ‭recuperando‬ ‭a‬ ‭criatividade‬ ‭e‬
‭espontaneidade.‬ ‭A‬ ‭dramatização‬ ‭terapêutica‬ ‭leva‬ ‭a‬ ‭algo‬ ‭mais‬ ‭do‬
‭que‬‭a‬‭mera‬‭repetição‬‭de‬‭papéis,‬‭tais‬‭como‬‭são‬‭desempenhados‬‭do‬
‭cotidiano.‬‭A‬‭ação‬‭dramática‬‭permite‬‭insights‬‭profundos‬‭por‬‭parte‬‭do‬
‭paciente‬ ‭e/ou‬ ‭do‬ ‭grupo‬ ‭a‬ ‭respeito‬ ‭do‬ ‭significado‬ ‭dos‬ ‭papéis‬
‭assumidos‬ ‭durante‬ ‭a‬ ‭vida.‬ ‭Para‬ ‭o‬ ‭psicodrama,‬ ‭toda‬ ‭ação‬ ‭é‬
‭interação‬ ‭por‬ ‭meio‬ ‭de‬ ‭papéis.‬ ‭Assume-se,‬ ‭no‬ ‭decorrer‬ ‭da‬ ‭vida,‬
‭papéis‬ ‭para‬ ‭cada‬ ‭situação‬ ‭enfrentada:‬ ‭Pai,‬ ‭Mãe,‬ ‭Filho,‬ ‭Chefe,‬
‭Empregado,‬ ‭Marido,‬ ‭Esposa,‬ ‭Professora,‬ ‭Aluno,‬ ‭Amigo,‬ ‭Forte,‬
‭Sensível,‬‭etc.‬‭Uma‬‭das‬‭maneiras‬‭de‬‭compreender‬‭a‬‭si‬‭mesmo‬‭e‬‭ao‬
‭outro‬ ‭é‬‭procurar‬‭entender‬‭a‬‭forma‬‭de‬‭comportamento‬‭assumido‬‭em‬
‭cada‬‭papel.‬

‭O‬ ‭Psicodrama‬ ‭vem‬ ‭ao‬ ‭longo‬ ‭de‬ ‭sua‬ ‭história‬ ‭se‬ ‭tornando‬ ‭uma‬
‭prática‬ ‭constante‬ ‭dentro‬ ‭das‬ ‭mais‬ ‭diversas‬ ‭instituições.‬ ‭Portanto‬
‭suas‬ ‭técnicas‬ ‭devem‬ ‭ser‬ ‭um‬ ‭instrumento‬ ‭de‬ ‭apoio‬ ‭pedagógico‬ ‭e‬
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‭psicopedagógico,‬ ‭podendo‬ ‭assim‬ ‭auxiliar‬ ‭na‬ ‭compreensão‬ ‭e‬ ‭no‬
‭desenvolvimento‬ ‭das‬ ‭relações‬ ‭humanas.‬ ‭As‬ ‭atividades‬
‭desenvolvidas‬‭pelo‬‭próprio‬‭grupo‬‭são‬‭vivencias‬‭que‬‭fazem‬‭parte‬‭do‬
‭processo‬‭de‬‭formação‬‭e‬‭autoconhecimento‬‭do‬‭psicopedagogo.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭REFERENCIAL‬‭TEÓRICO‬‭MORENIANO‬

‭Jacob‬ ‭Levy‬ ‭Moreno‬ ‭(1889-1974),‬ ‭o‬ ‭criador‬ ‭do‬ ‭Psicodrama,‬ ‭era‬ ‭de‬
‭família‬ ‭judia,‬ ‭originária‬ ‭da‬ ‭península‬ ‭ibérica,‬ ‭radicada‬ ‭na‬‭Romênia.‬
‭Ele‬‭tinha‬‭cinco‬‭anos‬‭de‬‭idade‬‭quando‬‭sua‬‭família‬‭fixou-se‬‭em‬‭Viena,‬
‭onde‬ ‭mais‬ ‭tarde‬ ‭estudou‬ ‭Filosofia‬ ‭e‬ ‭Medicina.‬ ‭Desde‬ ‭muito‬ ‭cedo,‬
‭Moreno‬ ‭dedicou-se‬ ‭a‬ ‭trabalhos‬ ‭experimentais,‬ ‭utilizando‬ ‭o‬ ‭teatro‬
‭como‬ ‭metodologia‬ ‭e,‬ ‭discutindo‬ ‭problemas‬ ‭sociais‬ ‭com‬ ‭grupos‬ ‭de‬
‭pessoas.‬

‭Em‬‭1921,‬‭fundou‬‭o‬‭"stegreiftheater"‬‭(teatro‬‭da‬‭espontaneidade)‬‭cujo‬
‭objetivo‬‭era‬‭desenvolver‬‭a‬‭capacidade‬‭criadora‬‭e‬‭a‬‭espontaneidade‬
‭do‬ ‭ser‬ ‭humano.‬ ‭Em‬ ‭1923,‬ ‭ele‬ ‭descobriu‬ ‭a‬ ‭ação‬ ‭terapêutica‬ ‭da‬
‭dramatização,‬ ‭fundando‬ ‭o‬ ‭teatro‬ ‭terapêutico.‬ ‭Em‬ ‭1925,‬ ‭emigrou‬
‭para‬‭os‬‭EUA,‬‭onde‬‭criou‬‭a‬‭psicoterapia‬‭de‬‭grupo,‬‭a‬‭sociometria‬‭e‬‭o‬
‭psicodrama‬ ‭público.‬ ‭Em‬ ‭1934,‬ ‭Moreno‬ ‭publicou‬ ‭"Who‬ ‭shall‬
‭survive?",‬‭sua‬‭obra‬‭mais‬‭importante,‬‭reeditada‬‭em‬‭1953‬‭com‬‭o‬‭título‬
‭"Fundamentos‬ ‭de‬ ‭la‬ ‭sociometria",‬ ‭em‬ ‭Buenos‬ ‭Aires.‬ ‭Em‬ ‭1942,‬
‭fundou‬‭o‬‭Instituto‬‭Moreno‬‭de‬‭New‬‭York‬‭e‬‭a‬‭Sociedade‬‭Americana‬‭de‬
‭Psicoterapia‬ ‭de‬ ‭Grupo‬ ‭e‬ ‭Psicodrama.‬ ‭Daí‬ ‭para‬ ‭frente‬ ‭houve‬ ‭uma‬
‭expansão‬ ‭mundial‬ ‭de‬ ‭suas‬ ‭teorias,‬ ‭para‬ ‭as‬ ‭quais‬ ‭criou‬ ‭um‬ ‭projeto‬
‭amplo‬‭chamado‬‭de‬‭“Projeto‬‭Socionômico”.‬

‭Segundo‬ ‭Moreno,‬ ‭para‬ ‭compreender-se‬ ‭o‬ ‭significado‬ ‭da‬ ‭palavra‬


‭Socionomia,‬ ‭é‬ ‭necessário‬ ‭desmembrá-la‬ ‭em‬ ‭"sócio"‬ ‭-‬ ‭derivado‬ ‭do‬
‭latim‬‭"socius",‬‭cujo‬‭significado‬‭é‬‭companheiro:‬‭e,‬‭"nomia"‬‭-‬‭derivado‬
‭do‬‭grego‬‭"nomus"‬‭,‬‭que‬‭significa‬‭regra,‬‭lei,‬‭aquilo‬‭que‬‭regula.‬‭Assim,‬
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‭etimologicamente,‬‭o‬‭conceito‬‭carrega‬‭o‬‭sentido‬‭da‬‭própria‬‭definição‬
‭que‬ ‭Moreno‬ ‭lhe‬ ‭dá‬ ‭como‬ ‭sistema‬ ‭teórico-prático:‬ ‭as‬ ‭leis‬ ‭do‬
‭desenvolvimento‬ ‭social‬ ‭e‬ ‭das‬ ‭relações‬‭sociais.‬‭Com‬‭a‬‭Socionomia,‬
‭Moreno‬ ‭pretendia‬ ‭verificar‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭interrelação‬ ‭indivíduo-grupo‬ ‭se‬
‭realizava,‬ ‭se‬ ‭cristalizava‬‭ou‬‭se‬‭transformava‬‭na‬‭realidade‬‭concreta,‬
‭a‬ ‭partir‬ ‭de‬ ‭como‬ ‭era‬ ‭vivenciada‬ ‭por‬ ‭cada‬ ‭indivíduo‬ ‭no‬‭grupo.‬‭Para‬
‭isto,‬‭a‬‭Socionomia‬‭foi‬‭sistematizada‬‭em‬‭três‬‭partes:‬‭a‬‭sociometria,‬‭a‬
‭sociodinâmica‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭sociatria,‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭investigação‬ ‭e‬ ‭o‬
‭investigador‬ ‭fossem‬ ‭ativos‬ ‭e‬ ‭dinâmicos,‬ ‭participando‬ ‭e,‬ ‭se‬
‭envolvendo‬‭com‬‭o‬‭fenômeno‬‭a‬‭ser‬‭conhecido.‬

‭Moreno‬ ‭descobriu‬ ‭que‬ ‭há‬ ‭um‬ ‭processo‬ ‭catártico‬ ‭no‬ ‭psicodrama‬ ‭e‬
‭que‬ ‭o‬ ‭princípio‬ ‭comum‬ ‭produtor‬ ‭da‬ ‭catarse‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭espontaneidade.‬
‭Para‬‭ele,‬‭a‬‭catarse‬‭pode‬‭ser‬‭entendida‬‭como‬‭a‬‭movimentação‬‭télica‬
‭existente‬ ‭entre‬ ‭dois‬ ‭ou‬ ‭mais‬ ‭indivíduos,‬ ‭quer‬ ‭dizer,‬ ‭aqueles‬
‭conteúdos‬ ‭que‬ ‭estavam‬ ‭afastados‬ ‭da‬ ‭consciência,‬‭a‬‭partir‬‭da‬‭ação‬
‭psicodramática‬ ‭vêm‬ ‭à‬ ‭tona‬ ‭e‬ ‭possibilitam‬ ‭a‬ ‭clareza‬ ‭de‬
‭possibilidades‬ ‭existenciais‬ ‭para‬ ‭os‬ ‭participantes‬ ‭da‬ ‭sessão,‬ ‭quer‬
‭seja‬ ‭individual‬ ‭ou‬ ‭em‬ ‭grupo.‬ ‭A‬ ‭catarse‬ ‭é‬‭a‬‭visão‬‭e‬‭a‬‭viabilidade‬‭do‬
‭novo,‬ ‭quer‬ ‭seja‬ ‭no‬ ‭nível‬‭somático,‬‭mental,‬‭individual‬‭ou‬‭grupal.‬‭Ela‬
‭é‬ ‭esta‬ ‭integração‬ ‭que‬ ‭possibilita‬ ‭a‬ ‭formação‬ ‭da‬ ‭identidade‬ ‭ou‬ ‭sua‬
‭rematrização‬ ‭e‬ ‭é‬ ‭propiciada‬ ‭pela‬ ‭representação‬ ‭de‬ ‭papéis‬ ‭de‬
‭maneira‬‭espontânea‬‭criadora.‬
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‭Ana‬‭Esteves‬

‭ESPONTANEIDADE‬

‭A‬‭espontaneidade‬‭para‬‭Moreno‬‭é‬‭um‬‭fenômeno‬‭primário‬‭e‬‭positivo,‬
‭ou‬ ‭seja,‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭derivado‬ ‭de‬ ‭nenhum‬ ‭outro‬ ‭impulso.‬ ‭A‬
‭espontaneidade‬ ‭é‬ ‭definida‬ ‭como:‬ ‭a‬ ‭resposta‬ ‭do‬ ‭indivíduo‬ ‭a‬ ‭uma‬
‭nova‬ ‭situação,‬ ‭ou‬ ‭uma‬ ‭nova‬ ‭resposta‬ ‭a‬ ‭uma‬ ‭situação‬ ‭antiga,‬ ‭de‬
‭modo‬‭adequado.‬‭”Deve-se‬‭atentar‬‭para‬‭o‬‭termo‬‭adequado‬‭que‬‭está‬
‭aqui,‬ ‭nem‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭sentido‬‭de‬‭adaptado‬‭e‬‭nem‬‭de‬‭ajustado,‬‭mas‬‭sim‬
‭de‬ ‭integrado.‬ ‭Dar‬ ‭respostas‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭modo‬ ‭integrado‬ ‭significa‬
‭perceber‬ ‭claramente‬ ‭a‬ ‭si‬ ‭mesmo‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭situação‬ ‭no‬ ‭aqui-agora,‬
‭procurando‬ ‭transformar‬ ‭seus‬ ‭aspectos‬ ‭insatisfatórios.”‬
‭(VIEIRA,1992,p.‬‭)‬

‭A‬ ‭espontaneidade,‬ ‭segundo‬ ‭as‬ ‭pesquisas‬ ‭morenianas,‬ ‭amplia‬ ‭o‬


‭estado‬ ‭de‬ ‭consciência‬ ‭dos‬ ‭indivíduos,‬ ‭levando-os‬ ‭a‬ ‭um‬ ‭estado‬ ‭de‬
‭co-consciente‬ ‭grupal,‬‭que‬‭só‬‭é‬‭possível‬‭a‬‭partir‬‭de‬‭relações‬‭télicas.‬
‭Moreno‬ ‭propõe‬ ‭que‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭espontaneidade‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭fenômenos‬
‭psíquicos‬‭são‬‭novos‬‭e‬‭flexíveis,‬‭porque‬‭ela‬‭lhes‬‭confere‬‭a‬‭qualidade‬
‭de‬ ‭momentaneidade.‬ ‭Mesmo‬ ‭reconhecendo‬ ‭a‬ ‭possibilidade‬ ‭de‬
‭estruturas‬‭psíquicas‬‭estereotipadas,‬‭ele‬‭aponta‬‭a‬‭fluidez‬‭repetida‬‭do‬
‭"fator‬ ‭e",‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭leva‬ ‭à‬ ‭existência‬ ‭criadora.‬ ‭"Por‬ ‭outras‬ ‭palavras,‬ ‭é‬
‭devido‬‭à‬‭operação‬‭de‬‭um‬‭fator‬‭‘e'‬‭que‬‭pode‬‭ter‬‭lugar‬‭uma‬‭mudança‬
‭na‬ ‭situação‬ ‭e‬ ‭que‬ ‭uma‬ ‭novidade‬ ‭é‬ ‭percebida‬ ‭pelo‬ ‭sujeito.‬ ‭Uma‬
‭teoria‬‭do‬‭momento‬‭é‬‭inseparável‬‭de‬‭uma‬‭teoria‬‭da‬‭espontaneidade.‬
‭Numa‬ ‭teoria‬ ‭do‬ ‭comportamento‬ ‭e‬ ‭da‬ ‭motivação‬ ‭humanos,‬ ‭o‬ ‭lugar‬
‭central‬‭deve‬‭ser‬‭dado‬‭à‬‭espontaneidade."(MORENO,1990,p.61)‬
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‭Ana‬‭Esteves‬
‭É‬ ‭dessa‬ ‭maneira‬ ‭que‬ ‭acontece‬ ‭a‬ ‭emergência‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭protagonista‬
‭que,‬ ‭naquele‬ ‭momento,‬ ‭manifesta‬ ‭o‬ ‭contexto‬ ‭psicodramático.‬ ‭Ele,‬
‭protagonista,‬ ‭"traz‬ ‭a‬ ‭mente‬ ‭para‬ ‭fora",‬ ‭objetivando-a‬ ‭na‬
‭dramatização,‬ ‭de‬ ‭tal‬ ‭forma‬ ‭que,‬ ‭os‬ ‭componentes‬ ‭subjetivos‬
‭tornam-se‬‭diretamente‬‭visíveis,‬‭observáveis‬‭e‬‭mensuráveis.‬‭A‬‭partir‬
‭dessa‬ ‭objetivação‬ ‭é‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭dá‬ ‭a‬ ‭dessubjetivação,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭a‬
‭reintegração‬ ‭psicodinâmica.‬ ‭A‬ ‭dramatização‬ ‭possibilita‬ ‭uma‬
‭realidade‬‭tangível,‬‭onde‬‭o‬‭psicodramatista‬‭possa‬‭participar,‬‭a‬‭fim‬‭de‬
‭junto‬‭com‬‭o‬‭protagonista‬‭possibilitar‬‭o‬‭encontro.‬

‭O‬ ‭caráter‬ ‭transformador‬ ‭da‬ ‭ação‬ ‭espontânea‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭garante‬ ‭ao‬
‭indivíduo‬ ‭a‬ ‭sua‬ ‭condição‬ ‭de‬ ‭criador,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭permite‬ ‭as‬
‭modificações‬ ‭na‬ ‭sua‬ ‭relação‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭mundo.‬ ‭O‬ ‭ato‬ ‭criador‬ ‭é‬
‭antagônico‬‭à‬‭conserva‬‭cultural.‬

‭Ele‬ ‭acontece‬ ‭no‬ ‭momento‬ ‭presente,‬ ‭no‬ ‭durante,‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭no‬ ‭produto‬
‭acabado.‬ ‭Ao‬ ‭preferir‬ ‭valorizar‬ ‭a‬ ‭obra‬ ‭acabada,‬ ‭o‬ ‭Homem‬ ‭esquece‬
‭de‬ ‭observar‬ ‭as‬ ‭mudanças‬ ‭que‬ ‭ocorreram‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭mesmo‬ ‭durante‬ ‭o‬
‭processo‬ ‭de‬ ‭criação.‬ ‭Nas‬‭palavras‬‭de‬‭Moreno:‬‭"O‬‭homem‬‭primitivo‬
‭viveu‬ ‭e‬ ‭criou‬ ‭no‬ ‭momento‬ ‭mas‬ ‭logo‬ ‭que‬ ‭os‬ ‭momentos‬ ‭de‬ ‭criação‬
‭passaram,‬ ‭ele‬ ‭mostrou-se‬ ‭muito‬ ‭mais‬ ‭fascinado‬‭pelo‬‭resultado‬‭dos‬
‭atos‬ ‭criadores‬ ‭pretéritos:‬ ‭sua‬ ‭cuidadosa‬ ‭conservação‬ ‭e‬ ‭avaliação‬
‭do‬‭seu‬‭valor,‬‭do‬‭que‬‭pela‬‭manutenção‬‭e‬‭continuação‬‭dos‬‭processos‬
‭da‬ ‭própria‬ ‭criação.‬ ‭Pareceu-lhe‬ ‭ser‬ ‭um‬ ‭estágio‬ ‭mais‬ ‭elevado‬ ‭de‬
‭cultura‬ ‭desprezar‬ ‭o‬ ‭momento,‬ ‭sua‬ ‭incerteza‬ ‭e‬ ‭desamparo‬ ‭e‬
‭empenhar-se‬ ‭em‬ ‭obter‬ ‭conteúdos,‬ ‭proceder‬ ‭à‬ ‭sua‬ ‭seleção‬ ‭e‬
‭idolatrá-los,‬ ‭lançando‬ ‭assim‬ ‭os‬ ‭alicerces‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭novo‬ ‭tipo‬ ‭de‬
‭civilização,‬‭a‬‭civilização‬‭da‬‭conserva."(MORENO,1974,p.43)‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭Nesta‬ ‭filosofia‬ ‭do‬ ‭ato‬ ‭criador‬ ‭não‬ ‭há‬ ‭lugar‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭diferença‬ ‭entre‬
‭consciente‬ ‭e‬‭inconsciente,‬‭já‬‭que‬‭"o‬‭inconsciente‬‭é‬‭um‬‭reservatório‬
‭continuamente‬‭enchido‬‭e‬‭esvaziado‬‭pelos‬‭‘indivíduos‬‭criadores'.‬‭Foi‬
‭criado‬ ‭por‬ ‭eles‬ ‭e‬ ‭portanto,‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭desfeito‬ ‭e‬ ‭substituído.‬ ‭Assim‬
‭podemos‬ ‭encontrar‬ ‭cinco‬ ‭características‬ ‭no‬ ‭ato‬ ‭criador:‬ ‭a‬
‭espontaneidade,‬ ‭a‬ ‭sensação‬ ‭de‬ ‭surpresa‬ ‭ou‬ ‭de‬ ‭inesperado,‬ ‭a‬
‭irrealidade,‬ ‭o‬ ‭atuar‬ ‭sui-generis‬ ‭e,‬ ‭a‬ ‭consubstanciação‬ ‭mimética.‬ ‭O‬
‭agente‬ ‭criador‬ ‭encontra‬ ‭seu‬ ‭ponto‬ ‭de‬ ‭partida‬ ‭no‬ ‭estado‬ ‭de‬
‭espontaneidade,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭entidade‬ ‭psicológica‬ ‭independente.‬
‭Além‬ ‭disso,‬ ‭o‬ ‭‘estado'‬ ‭não‬ ‭surge‬ ‭automaticamente:‬ ‭não‬ ‭é‬
‭preexistente.‬ ‭É‬ ‭produzido‬ ‭por‬ ‭um‬ ‭ato‬ ‭de‬ ‭vontade.‬ ‭Surge‬
‭espontaneamente.‬ ‭Não‬ ‭é‬ ‭criado‬‭pela‬‭vontade‬‭consciente,‬‭que‬‭atua‬
‭freqüentemente‬ ‭como‬ ‭barreira‬ ‭inibitória,‬ ‭mas‬ ‭por‬ ‭uma‬ ‭libertação‬
‭que,‬ ‭de‬ ‭fato,‬ ‭é‬‭o‬‭livre‬‭surgimento‬‭da‬‭espontaneidade‬‭."‬‭(MORENO,‬
‭1974,‬‭p.‬‭86)‬

‭Quanto‬‭à‬‭gênese‬‭da‬‭espontaneidade,‬‭Moreno‬‭é‬‭favorável‬‭à‬‭idéia‬‭de‬
‭que‬ ‭ela‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭fator‬‭psicológico,‬‭ou‬‭como‬‭ele‬‭nomeia:‬‭o‬‭fator‬‭‘e'‬‭não‬
‭é,‬ ‭estritamente,‬ ‭um‬ ‭fator‬ ‭hereditário‬ ‭nem,‬ ‭estritamente‬ ‭um‬ ‭fator‬
‭ambiental.‬ ‭"No‬ ‭atual‬ ‭estado‬ ‭das‬ ‭pesquisas‬ ‭biogenéticas‬ ‭e‬ ‭sociais,‬
‭parece‬ ‭ser‬ ‭mais‬ ‭estimulante‬ ‭supor‬ ‭que,‬ ‭no‬ ‭âmbito‬ ‭da‬ ‭expressão‬
‭individual,‬ ‭existe‬ ‭uma‬ ‭área‬ ‭independente‬ ‭entre‬ ‭a‬‭hereditariedade‬‭e‬
‭o‬ ‭meio‬ ‭ambiente,‬ ‭influenciada‬ ‭mas‬ ‭não‬ ‭determinada‬ ‭pela‬
‭hereditariedade‬ ‭(genes)‬ ‭e‬ ‭as‬‭forças‬‭sociais‬‭(tele).‬‭O‬‭fator‬‭‘e'‬‭teria‬‭a‬
‭sua‬ ‭localização‬ ‭topográfica‬ ‭nessa‬ ‭área.‬ ‭É‬ ‭uma‬ ‭área‬ ‭de‬ ‭relativa‬
‭liberdade‬ ‭e‬ ‭independência‬ ‭das‬ ‭determinações‬ ‭biológicas‬ ‭e‬ ‭sociais,‬
‭uma‬ ‭área‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭são‬ ‭formados‬ ‭novos‬ ‭atos‬ ‭combinatórios‬ ‭e‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭permutações,‬ ‭escolhas‬ ‭e‬ ‭decisões,‬ ‭e‬ ‭da‬‭qual‬‭surge‬‭a‬‭inventiva‬‭e‬‭a‬
‭criatividade‬‭humanas."(‬‭MORENO,‬‭1974,‬‭p.101)‬

‭Entretanto,‬ ‭deve-se‬ ‭aqui‬ ‭fazer‬ ‭uma‬ ‭pontuação:‬ ‭a‬ ‭espontaneidade‬


‭não‬ ‭é‬ ‭em‬‭si‬‭uma‬‭energia,‬‭não‬‭fica‬‭armazenada‬‭no‬‭indivíduo‬‭ou‬‭em‬
‭algum‬ ‭reservatório‬ ‭inconsciente.‬ ‭A‬ ‭espontaneidade‬ ‭é‬ ‭variável‬
‭dentre‬ ‭os‬ ‭indivíduos‬ ‭e‬ ‭dentre‬ ‭as‬ ‭situações‬ ‭do‬ ‭momento.‬ ‭Ela‬
‭funciona‬‭como‬‭um‬‭catalisador‬‭psicológico.‬‭Para‬‭as‬‭situações‬‭novas,‬
‭o‬ ‭indivíduo‬ ‭recorre‬ ‭à‬ ‭sua‬ ‭espontaneidade,‬ ‭dosando‬ ‭a‬ ‭quantidade‬
‭necessária‬ ‭e‬ ‭adequada‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭situação‬ ‭vivida.‬ ‭"A‬ ‭espontaneidade‬
‭só‬ ‭funciona‬ ‭no‬ ‭momento‬ ‭de‬ ‭seu‬ ‭surgimento,‬ ‭assim‬ ‭como,‬ ‭falando‬
‭metaforicamente,‬ ‭se‬ ‭acende‬ ‭uma‬ ‭luz‬ ‭numa‬ ‭sala‬ ‭e‬ ‭todas‬ ‭as‬ ‭suas‬
‭partes‬‭se‬‭tornam‬‭claras.‬‭Quando‬‭se‬‭apaga‬‭a‬‭luz,‬‭a‬‭estrutura‬‭básica‬
‭da‬ ‭sala‬ ‭continua‬ ‭sendo‬ ‭a‬ ‭mesma‬ ‭e,‬ ‭no‬ ‭entanto,‬ ‭desapareceu‬‭uma‬
‭qualidade‬‭fundamental."‬‭(MORENO,‬‭1974,‬‭p.136)‬

‭Assim‬ ‭entendida,‬ ‭a‬ ‭espontaneidade‬ ‭surge‬ ‭no‬ ‭próprio‬ ‭ato‬ ‭do‬


‭nascimento,‬ ‭quando‬ ‭para‬ ‭responder‬ ‭a‬ ‭uma‬‭situação‬‭nova‬‭(o‬‭parto)‬
‭o‬‭bebê‬‭busca‬‭respostas‬

‭novas‬‭e‬‭adequadas,‬‭porque‬‭sem‬‭elas‬‭é‬‭provável‬‭que‬‭não‬‭sobreviva.‬
‭Daí‬‭para‬‭frente,‬‭o‬‭desenvolvimento‬‭da‬‭espontaneidade‬‭estará‬‭ligado‬
‭ao‬ ‭desenvolvimento‬ ‭da‬ ‭criança,‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭dá‬ ‭a‬ ‭partir‬ ‭de‬ ‭dois‬
‭importantes‬ ‭processos:‬ ‭o‬ ‭desenvolvimento‬ ‭da‬ ‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬
‭através‬‭do‬‭desenvolvimento‬‭de‬‭seus‬‭papéis.‬
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‭Ana‬‭Esteves‬

‭TEORIA‬‭DOS‬‭PAPÉIS‬

‭Os‬ ‭papéis‬ ‭são,‬ ‭segundo‬ ‭Moreno,‬ ‭os‬‭embriões‬‭e‬‭os‬‭precursores‬‭do‬


‭“eu”,‬‭porque‬‭há‬‭neles‬‭um‬‭esforço‬‭para‬‭se‬‭agruparem,‬‭integrando-se‬
‭em‬ ‭uma‬ ‭unidade‬ ‭existencial.‬ ‭Eles‬ ‭estão‬ ‭presentes‬ ‭desde‬ ‭o‬
‭nascimento‬ ‭e,‬ ‭segundo‬ ‭Moreno,‬ ‭surgem‬ ‭antes‬ ‭da‬ ‭linguagem,‬ ‭pois‬
‭as‬ ‭matrizes‬ ‭de‬ ‭ação‬ ‭são‬ ‭anteriores‬ ‭às‬ ‭matrizes‬ ‭verbais.‬ ‭Estes‬
‭papéis‬ ‭carregam‬ ‭consigo‬ ‭as‬ ‭regras‬ ‭sociais,‬ ‭características‬ ‭e‬
‭peculiaridades‬‭próprias‬‭da‬‭cultura‬‭em‬‭que‬‭se‬‭estruturam.‬

‭Moreno‬ ‭considera‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭homem‬ ‭encontra-se‬ ‭cindido‬ ‭entre‬ ‭os‬


‭desejos‬‭de‬‭sua‬‭pessoa‬‭privada‬‭e‬‭a‬‭dimensão‬‭social‬‭dos‬‭papéis‬‭que‬
‭desempenha‬‭no‬‭cotidiano.‬

‭”O‬ ‭papel‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭forma‬ ‭de‬ ‭funcionamento‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭indivíduo‬ ‭assume‬ ‭no‬
‭momento‬ ‭específico‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭reage‬ ‭a‬ ‭uma‬ ‭situação‬ ‭específica,‬ ‭na‬
‭qual‬‭outras‬‭pessoas‬‭ou‬‭objetos‬‭estão‬‭envolvidos”‬‭(MORENO,‬‭1990,‬
‭p.27).‬ ‭Segundo‬ ‭ele,‬ ‭os‬ ‭indivíduos‬ ‭têm‬ ‭três‬ ‭tipos‬ ‭fundamentais‬ ‭de‬
‭papéis:‬ ‭os‬ ‭psicossomáticos,‬ ‭os‬ ‭sociais‬ ‭e‬ ‭os‬ ‭psicodramáticos.‬ ‭Nos‬
‭primeiros,‬‭há‬‭a‬‭formatação‬‭biológica‬‭dos‬‭contatos‬‭sensoriais‬‭entre‬‭a‬
‭criança‬‭e‬‭seu‬‭mundo,‬‭até‬‭a‬‭constituição‬‭de‬‭um‬‭eu‬‭parcial‬‭fisiológico,‬
‭responsável‬ ‭pelas‬ ‭relações‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭corpo.‬ ‭Os‬ ‭papéis‬ ‭sociais‬ ‭se‬
‭encarregam‬ ‭da‬ ‭reprodução‬ ‭da‬ ‭cultura‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭indivíduo‬ ‭está‬
‭inserido,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭dá‬ ‭forma‬ ‭à‬ ‭conserva‬ ‭cultural,‬ ‭constituindo‬ ‭um‬ ‭eu‬
‭parcial‬ ‭social,‬ ‭responsável‬ ‭pelas‬ ‭relações‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭sociedade;‬ ‭e,‬
‭somente‬ ‭nos‬ ‭últimos,‬ ‭nos‬ ‭psicodramáticos,‬ ‭é‬ ‭possível‬ ‭a‬ ‭utilização‬
‭consciente‬‭da‬‭espontaneidade‬‭e‬‭da‬‭criatividade,‬‭constituindo‬‭um‬‭eu‬
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‭Ana‬‭Esteves‬
‭parcial‬‭psicodramático,‬‭responsável‬‭pelas‬‭relações‬‭com‬‭a‬‭psique.‬‭A‬
‭contínua‬ ‭interação‬ ‭entre‬ ‭os‬ ‭papéis‬ ‭e‬ ‭sua‬ ‭integração‬ ‭através‬ ‭de‬
‭vínculos‬ ‭operacionais‬ ‭vai‬ ‭proporcionar‬ ‭a‬ ‭emergência‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭eu‬
‭inteiro,‬‭integrado‬‭em‬‭“eu‬‭e‬‭mim”.1‬

‭O‬ ‭que‬ ‭precisa‬ ‭ser‬ ‭reafirmado‬ ‭é‬ ‭que‬ ‭esse‬ ‭processo‬ ‭de‬
‭desenvolvimento‬‭de‬‭um‬‭“eu”‬‭não‬‭se‬‭dá‬‭individualmente,‬‭pois‬‭não‬‭há‬
‭como‬ ‭os‬ ‭papéis‬ ‭serem‬ ‭desempenhados‬ ‭sem‬ ‭seus‬ ‭contra-papéis,‬
‭dessa‬ ‭forma,‬ ‭os‬ ‭papéis‬ ‭complementares‬ ‭são‬ ‭de‬ ‭fundamental‬
‭importância‬ ‭na‬ ‭constituição‬ ‭da‬ ‭identidade‬ ‭humana.‬ ‭Mas‬ ‭essa‬
‭constituição‬ ‭não‬ ‭assegura‬ ‭a‬ ‭permanência,‬ ‭pois‬ ‭as‬ ‭pessoas‬
‭desenvolvem‬ ‭muitos‬ ‭papéis‬ ‭e‬ ‭muitos‬ ‭contra-papéis,‬ ‭que‬ ‭ficam‬ ‭em‬
‭contínua‬ ‭interação,‬ ‭possibilitando,‬ ‭em‬ ‭última‬ ‭instância,‬ ‭momentos‬
‭de‬ ‭identidade.‬ ‭Essa‬ ‭constante‬ ‭aprendizagem‬ ‭de‬ ‭novos‬ ‭papéis‬ ‭é‬
‭possível‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭constante‬ ‭interação‬ ‭entre‬ ‭o‬ ‭eu‬ ‭e‬ ‭suas‬
‭circunstâncias,‬ ‭passando‬ ‭por‬ ‭um‬ ‭processo‬ ‭que‬ ‭vai‬ ‭desde‬‭o‬‭ensaio‬
‭do‬ ‭novo‬ ‭papel,‬ ‭seu‬‭desempenho,‬‭a‬‭percepção‬‭que‬‭se‬‭tem‬‭dele‬‭até‬
‭a‬ ‭representação‬ ‭propriamente‬ ‭dita.‬ ‭Essas‬ ‭etapas‬ ‭que‬ ‭são‬
‭nomeadas‬ ‭pelo‬ ‭psicodrama‬ ‭de:‬ ‭role-taking,‬ ‭role-playing‬ ‭e‬
‭role-creating,‬ ‭acontecem‬ ‭para‬ ‭quase‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭novos‬ ‭papéis.‬ ‭Para‬
‭aqueles‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭passam‬ ‭pelas‬ ‭três‬ ‭etapas,‬ ‭há‬ ‭a‬ ‭consideração‬ ‭de‬
‭uma‬‭atuação‬‭de‬‭papel‬‭e‬‭não‬‭de‬‭sua‬‭representação‬‭verdadeira.‬

‭A‬ ‭atuação‬‭de‬‭papel‬‭acontece‬‭por‬‭falta‬‭de‬‭espontaneidade‬‭criadora,‬
‭ou‬ ‭por‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭indivíduo‬ ‭está‬ ‭em‬ ‭um‬ ‭“campo‬ ‭tenso”,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬
‭vivenciando‬ ‭uma‬ ‭situação‬ ‭ameaçadora,‬ ‭ou‬ ‭por‬ ‭que‬ ‭sua‬
‭espontaneidade‬ ‭está‬ ‭em‬ ‭um‬ ‭estado‬ ‭patológico,‬ ‭distorcendo‬ ‭suas‬
‭percepções,‬ ‭dissociando‬‭a‬‭representação‬‭dos‬‭papéis-contra‬‭papéis‬
‭e‬‭interferindo‬‭na‬‭integração‬‭do‬‭eu.‬‭Como‬‭os‬‭papéis‬‭são‬‭unidades‬‭de‬
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‭ação‬ ‭tangíveis,‬ ‭eles‬ ‭podem‬ ‭ser‬ ‭medidos‬ ‭pela‬ ‭sociometria‬ ‭e‬
‭classificados‬ ‭segundo‬ ‭suas‬ ‭qualidades:‬ ‭papel‬ ‭rudimentar,‬ ‭papel‬
‭normal,‬ ‭papel‬ ‭hiperdesenvolvido,‬ ‭papel‬ ‭ausente,‬ ‭papel‬ ‭pervertido‬
‭etc.‬ ‭Assim,‬ ‭em‬ ‭psicodrama‬ ‭os‬ ‭comportamentos‬ ‭regressivos‬ ‭são‬
‭considerados‬ ‭patologias‬ ‭do‬ ‭papel‬ ‭e‬ ‭necessitam‬ ‭de‬ ‭tratamento‬
‭através‬‭da‬‭sociatria.‬
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‭FORMAÇÃO‬‭DA‬‭IDENTIDADE‬

‭Moreno‬ ‭considera‬ ‭a‬ ‭criança‬ ‭como‬ ‭um‬ ‭gênio‬ ‭em‬ ‭potencial,‬ ‭que‬
‭nasce‬ ‭como‬ ‭um‬ ‭bebê‬ ‭despreparado‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭mundo‬ ‭externo‬ ‭e‬ ‭por‬
‭isso‬ ‭necessita‬ ‭de‬ ‭ajuda,‬‭pois‬‭sai‬‭de‬‭um‬‭mundo‬‭parasitário‬‭para‬‭um‬
‭mundo‬ ‭de‬ ‭iniciativas,‬ ‭que‬ ‭requer‬ ‭logo‬ ‭de‬ ‭início‬ ‭o‬ ‭primeiro‬ ‭ato‬ ‭de‬
‭espontaneidade‬ ‭criadora.‬ ‭O‬ ‭parto,‬ ‭nessa‬ ‭forma‬ ‭de‬ ‭conceber‬ ‭o‬
‭homem,‬ ‭não‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭um‬ ‭fato‬ ‭traumático,‬ ‭como‬ ‭dizem‬ ‭outros‬
‭psicólogos;‬ ‭sair‬ ‭do‬ ‭útero‬ ‭materno‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭ato‬ ‭espontâneo,‬ ‭realizado‬
‭para‬ ‭sair‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭contexto‬ ‭que‬ ‭já‬ ‭não‬‭atende‬‭mais‬‭as‬‭necessidades‬
‭desse‬‭ser‬‭que‬‭está‬‭nascendo.‬

‭Para‬ ‭ele‬ ‭identidade‬ ‭e‬ ‭personalidade‬ ‭são‬ ‭diferentes,‬ ‭mas‬ ‭a‬


‭identidade‬ ‭é‬ ‭que‬ ‭vai‬ ‭ser‬‭alvo‬‭de‬‭sua‬‭atenção‬‭maior.‬‭Mesmo‬‭assim,‬
‭ele‬‭explica:‬‭“a‬‭personalidade‬‭pode‬‭ser‬‭definida‬‭como‬‭uma‬‭função‬‭de‬
‭genes,‬‭espontaneidade,‬‭tele‬‭e‬‭meio”‬‭(MORENO,1984,p.102)‬

‭No‬ ‭pressuposto‬ ‭moreniano,‬ ‭a‬ ‭identidade‬ ‭é‬ ‭formada‬ ‭durante‬ ‭um‬


‭processo‬ ‭de‬ ‭desenvolvimento‬ ‭evolutivo‬ ‭humano‬ ‭que‬ ‭tem‬ ‭sua‬
‭fundação‬ ‭na‬ ‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade.‬ ‭Este‬ ‭conceito‬ ‭de‬ ‭“matriz”‬ ‭é‬ ‭um‬
‭dos‬‭pilares‬‭na‬‭obra‬‭moreniana.‬‭Com‬‭ele‬‭Moreno‬‭quer‬‭estabelecer‬‭a‬
‭ideia‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭há‬ ‭um‬ ‭universo‬ ‭fundante‬ ‭de‬ ‭interrelações‬ ‭que‬ ‭dá‬
‭origem‬ ‭às‬ ‭qualidades‬ ‭humanas.‬ ‭Não‬ ‭é‬ ‭apenas‬ ‭uma‬ ‭fôrma‬
‭modeladora‬ ‭mas,‬ ‭um‬ ‭espaço‬ ‭virtual‬ ‭onde‬ ‭há‬ ‭uma‬ ‭possibilidade‬ ‭de‬
‭concepção‬ ‭existencial,‬ ‭um‬ ‭locus‬ ‭e‬ ‭um‬ ‭status‬ ‭nascendi.‬ ‭Esse‬
‭conceito‬ ‭possibilita‬ ‭a‬ ‭Moreno‬ ‭estabelecer‬ ‭um‬ ‭processo‬ ‭evolutivo‬
‭humano‬ ‭a‬ ‭partir‬ ‭das‬ ‭vinculações‬ ‭psicossociais‬ ‭humanas,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬
‭há‬ ‭mais‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭matriz‬ ‭:a‬ ‭materna,‬ ‭a‬ ‭de‬ ‭identidade,‬ ‭a‬ ‭familiar,‬ ‭a‬
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‭social‬‭e‬‭a‬‭sociométrica,‬‭que‬‭em‬‭vez‬‭de‬‭irem‬‭se‬‭substituindo‬‭durante‬
‭o‬ ‭processo‬ ‭de‬ ‭desenvolvimento‬ ‭humano,‬ ‭vão‬ ‭se‬ ‭integrando‬ ‭umas‬
‭às‬ ‭outras,‬ ‭sem‬ ‭contudo‬ ‭desaparecer.‬ ‭Esse‬ ‭processo‬ ‭evolutivo‬ ‭é‬
‭possível‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭representação‬ ‭dos‬ ‭papéis.‬ ‭Assim,‬ ‭as‬ ‭ações‬
‭humanas‬ ‭(papéis)‬‭são‬‭caracterizadas‬‭pelas‬‭interrelações‬‭(vínculos)‬
‭presentes‬‭em‬‭cada‬‭uma‬‭e‬‭todas‬‭as‬‭matrizes‬‭humanas.‬

‭Encontramos‬ ‭em‬ ‭Menegazzo‬ ‭a‬ ‭explicação‬ ‭dessa‬ ‭postura‬ ‭teórica:‬


‭“Para‬‭Moreno,‬‭essas‬‭ideias‬‭transcendem‬‭a‬‭preocupação‬‭de‬‭apenas‬
‭esboçar‬ ‭um‬ ‭modelo‬ ‭evolutivo‬ ‭operacional‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭atividade‬
‭psicodramática.‬ ‭Vão‬ ‭muito‬ ‭além,‬ ‭inclusive,‬ ‭de‬‭seus‬‭novos‬‭achados‬
‭clínicos.‬ ‭Essa‬ ‭concepção‬ ‭de‬ ‭matriz‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭das‬ ‭idéias‬ ‭capitais‬ ‭de‬
‭seu‬ ‭pensamento‬ ‭e‬ ‭se‬ ‭projeta‬ ‭como‬ ‭elemento‬ ‭fundamental‬ ‭da‬
‭cosmovisão‬‭totalizante‬‭de‬‭seu‬‭próprio‬‭mundo‬‭pessoal.”‬‭E‬‭ainda‬‭nos‬
‭esclarece‬‭que‬‭:‬‭“Isso‬‭permite‬‭compreender‬‭por‬‭que‬‭a‬‭antropologia‬

‭moreniana‬ ‭concebe‬ ‭o‬ ‭homem‬ ‭com‬ ‭um‬ ‭ser‬ ‭fundamentalmente‬


‭vincular‬‭e,‬‭como‬‭tal,‬‭em‬‭suas‬‭múltiplas‬‭formas‬‭de‬‭se‬‭vincular,‬‭como‬
‭um‬ ‭ser‬ ‭complexo‬ ‭e‬ ‭misto.‬ ‭É‬ ‭esta‬ ‭concepção‬ ‭antropológica‬ ‭que‬
‭permite‬ ‭a‬ ‭Moreno‬ ‭superar‬ ‭as‬ ‭taxonomias‬ ‭psicopatológicas.‬ ‭A‬
‭proposta‬ ‭terapêutica‬ ‭de‬ ‭Moreno‬ ‭é,‬ ‭essencialmente,‬ ‭apresentar‬ ‭no‬
‭cenário‬ ‭psicodramático‬ ‭um‬ ‭locus‬ ‭nascendi‬ ‭e‬ ‭um‬ ‭status‬ ‭nascendi‬
‭resolutivo,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭uma‬ ‭nova‬ ‭matriz‬ ‭reestruturadora.”‬
‭(MENEGAZZO,1995,p.125)‬

‭Segundo‬ ‭Moreno,‬ ‭após‬ ‭o‬ ‭nascimento,‬ ‭a‬ ‭criança‬ ‭passa‬ ‭da‬ ‭matriz‬
‭materna,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭existencial‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭experimentada,‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭matriz‬ ‭de‬
‭identidade,‬‭que‬‭se‬‭dá‬‭em‬‭duas‬‭fases‬‭complementares.‬
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‭Há,‬ ‭em‬ ‭princípio,‬ ‭um‬ ‭eu‬ ‭latente,‬ ‭metapsicológico‬ ‭que‬ ‭vai‬ ‭se‬
‭constituindo‬ ‭durante‬ ‭a‬ ‭evolução‬‭da‬‭matriz‬‭de‬‭identidade.‬‭Isto‬‭se‬‭dá‬
‭através‬ ‭dos‬ ‭papéis‬ ‭psicossomáticos,‬ ‭que‬ ‭são‬ ‭os‬ ‭embriões‬
‭precursores‬ ‭do‬ ‭eu,‬ ‭pois‬ ‭há‬ ‭nesses‬ ‭papéis‬ ‭um‬ ‭esforço‬ ‭para‬ ‭se‬
‭agruparem,‬‭se‬‭unificarem‬‭através‬‭dos‬‭vínculos‬‭que‬‭vão‬‭se‬‭fazendo.‬

‭l‬‭-‬‭Fase‬‭da‬‭identidade‬‭total‬‭ou‬‭unidade‬

‭Na‬ ‭primeira‬ ‭fase,‬ ‭chamada‬ ‭de‬ ‭primeiro‬ ‭universo,‬ ‭onde‬ ‭através‬ ‭da‬
‭interação‬ ‭(arranques‬ ‭físicos)‬ ‭desenvolvem-se‬ ‭os‬ ‭papéis‬
‭psicossomáticos,‬ ‭há‬ ‭dois‬ ‭tempos‬ ‭:‬ ‭o‬ ‭período‬ ‭da‬ ‭identidade‬ ‭total,‬
‭quando‬‭a‬‭matriz‬‭é‬‭designada‬‭de‬‭caótica‬‭e‬‭indiferenciada,‬‭onde‬‭não‬
‭é‬ ‭percebido‬ ‭nenhum‬ ‭tipo‬ ‭de‬ ‭diferenciação‬ ‭entre‬ ‭o‬ ‭ser‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭mundo,‬
‭onde‬ ‭só‬ ‭há‬ ‭o‬ ‭presente,‬ ‭a‬ ‭proximidade‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭“fome‬ ‭de‬ ‭atos”,‬ ‭e‬ ‭onde‬
‭não‬‭há‬‭nenhum‬‭sonho‬‭(pelo‬‭menos‬‭como‬‭os‬‭concebemos‬‭no‬‭senso‬
‭comum)‬‭e,‬‭nem‬‭mesmo‬‭diferenciação‬‭entre‬‭fantasia‬‭e‬‭realidade.‬

‭No‬ ‭segundo‬ ‭tempo‬ ‭do‬ ‭primeiro‬ ‭universo,‬ ‭a‬ ‭matriz‬ ‭é‬ ‭designada‬ ‭de‬
‭identidade‬ ‭total‬ ‭e‬ ‭diferenciada,‬ ‭ou‬ ‭de‬ ‭realidade‬ ‭total.‬ ‭Aqui,‬ ‭já‬
‭começam‬ ‭os‬ ‭sonhos‬ ‭e‬ ‭as‬ ‭primeiras‬ ‭diferenciações‬ ‭entre‬ ‭o‬ ‭ser‬ ‭e‬ ‭o‬
‭mundo‬ ‭(eu-tu)‬ ‭e‬ ‭já‬ ‭há‬ ‭a‬ ‭presença‬ ‭da‬ ‭tele-sensibilidade.‬ ‭Quando‬ ‭a‬
‭criança‬ ‭se‬ ‭reconhece,‬ ‭ela‬ ‭cria‬ ‭a‬ ‭brecha‬ ‭e‬ ‭separa‬ ‭a‬ ‭fantasia‬ ‭da‬
‭realidade.‬

‭II‬ ‭-‬ ‭Matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬ ‭da‬ ‭brecha‬ ‭entre‬ ‭fantasia‬ ‭e‬ ‭realidade‬‭Esse‬
‭segundo‬ ‭universo,‬ ‭ou‬ ‭matriz‬ ‭familiar,‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭fase‬ ‭de‬ ‭se‬ ‭usar‬ ‭a‬
‭experiência‬ ‭(arranques‬ ‭mentais)‬ ‭de‬ ‭estabelecer‬ ‭diferenças‬ ‭para‬‭se‬
‭conseguir‬ ‭a‬ ‭inversão‬ ‭de‬ ‭papéis.‬ ‭Aqui‬ ‭os‬ ‭papéis‬ ‭psicossomáticos‬
‭dão‬ ‭sustentação‬ ‭aos‬ ‭papéis‬ ‭originários‬ ‭(pai-mãe-filho),‬ ‭que‬ ‭serão‬
‭transformados‬ ‭em‬ ‭papéis‬ ‭sociais,‬ ‭relacionados‬ ‭aos‬ ‭atos‬ ‭de‬
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‭realidade‬ ‭e‬ ‭papéis‬ ‭psicodramáticos,‬ ‭relacionados‬ ‭aos‬ ‭atos‬ ‭de‬
‭fantasia,‬‭pois‬‭a‬‭partir‬‭das‬‭diferenciações‬‭entre‬‭o‬‭eu‬‭e‬‭o‬‭tu,‬‭a‬‭criança‬
‭vai‬ ‭ficando‬ ‭possibilitada‬ ‭de‬ ‭reconhecer‬ ‭suas‬ ‭necessidades‬ ‭e‬ ‭os‬
‭papéis‬ ‭complementares‬ ‭com‬ ‭os‬ ‭quais‬ ‭irá‬ ‭interagir,‬ ‭a‬ ‭fim‬ ‭de‬
‭satisfazê-las.‬‭Também‬‭diminui‬‭a‬‭“fome‬‭de‬‭atos”‬‭e‬‭tem‬‭início‬‭a‬‭“fome‬
‭de‬‭transformação”.‬

‭Após‬‭alguns‬‭estudos,‬‭Moreno‬‭sistematiza‬‭a‬‭formação‬‭da‬‭identidade,‬
‭em‬‭três‬‭etapas‬‭de‬‭desenvolvimento:‬

‭1.‬ ‭indiferenciação,‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭busca‬ ‭da‬ ‭identidade,‬ ‭ou‬‭a‬‭identidade‬‭com‬‭o‬


‭próprio‬ ‭cosmo,‬ ‭já‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭há‬ ‭limites‬ ‭entre‬ ‭o‬ ‭eu‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭mundo‬ ‭e‬ ‭a‬
‭criança‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭micro-universo‬ ‭dentro‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭macrocosmo,‬ ‭que‬ ‭vive‬
‭apenas‬‭o‬‭momento,‬‭corresponde‬‭à‬‭técnica‬‭do‬‭duplo,‬‭que‬‭é‬‭a‬‭função‬
‭da‬ ‭mãe.‬ ‭Segundo‬ ‭o‬ ‭psicodrama,‬ ‭o‬ ‭homem‬ ‭vive‬ ‭em‬ ‭função‬ ‭desta‬
‭fase.‬‭Sua‬‭saúde‬‭é‬‭conseguida‬‭na‬‭medida‬‭em‬‭que‬‭ele‬‭recupera‬‭esta‬
‭fase‬‭para‬‭fazer‬‭o‬‭movimento‬‭para‬‭a‬‭última‬‭etapa,‬‭é‬‭onde‬‭o‬‭indivíduo‬
‭vai‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭possibilidade‬ ‭do‬ ‭“encontro”,‬‭para‬‭a‬‭saúde.‬‭O‬‭movimento‬
‭contrário,‬‭de‬‭retroação,‬‭é‬‭para‬‭a‬‭doença.‬

‭2.‬‭reconhecimento‬‭do‬‭eu,‬‭é‬‭a‬‭busca‬‭da‬‭identificação,‬‭é‬‭o‬‭movimento‬
‭para‬‭chegar‬‭ao‬‭“eu‬‭sou‬‭eu”‬‭,‬‭que‬‭corresponde‬‭à‬‭técnica‬‭do‬‭espelho,‬
‭pois‬ ‭como‬ ‭fantasia‬ ‭e‬ ‭realidade‬ ‭ainda‬ ‭se‬ ‭misturam,‬ ‭através‬ ‭do‬
‭solilóquio‬ ‭a‬ ‭criança‬‭se‬‭reconhece‬‭no‬‭espelho.‬‭Vale‬‭lembrar‬‭que‬‭em‬
‭psicodrama,‬ ‭identidade‬ ‭e‬ ‭identificação‬ ‭são‬ ‭diferentes.‬ ‭A‬
‭identificação‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭movimento‬ ‭de‬ ‭se‬ ‭assemelhar‬ ‭aos‬ ‭outros,‬ ‭e‬ ‭só‬
‭acontece‬‭depois‬‭da‬‭identidade‬‭formada.‬‭O‬‭reconhecimento‬‭do‬‭eu‬‭só‬
‭se‬‭dá‬‭a‬‭partir‬‭da‬‭diferenciação‬‭do‬‭tu.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭3.‬‭reconhecimento‬‭do‬‭tu,‬‭que‬‭corresponde‬‭à‬‭técnica‬‭da‬‭inversão‬‭de‬
‭papéis,‬ ‭pois‬ ‭só‬ ‭é‬ ‭possível‬‭conhecer‬‭o‬‭outro,‬‭colocando-se‬‭no‬‭lugar‬
‭dele.‬ ‭É‬ ‭aqui‬ ‭que‬ ‭pode‬ ‭aparecer‬ ‭as‬ ‭relações‬ ‭télicas‬ ‭e/ou‬
‭transferenciais,‬ ‭porque‬ ‭as‬ ‭pessoas‬ ‭podem‬ ‭perceber‬ ‭a‬ ‭si‬ ‭e‬ ‭aos‬
‭outros,‬‭ou‬‭então,‬‭transferir‬‭sentimentos‬‭de‬‭uma‬‭relação‬‭do‬‭passado‬
‭para‬ ‭uma‬ ‭relação‬ ‭presente‬ ‭(papel‬ ‭complementar‬ ‭patológico,‬ ‭por‬
‭relação‬‭transferencial).‬

‭Há‬ ‭outro‬ ‭psicodramatista,‬ ‭muito‬ ‭importante‬ ‭no‬ ‭movimento‬


‭psicodramático‬ ‭de‬ ‭hoje,‬ ‭que‬ ‭realizou‬ ‭uma‬ ‭revisão‬ ‭da‬ ‭teoria‬ ‭sobre‬
‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬ ‭moreniana‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭atualizou‬ ‭para‬‭nossos‬‭tempos.‬
‭Fonseca‬ ‭sistematizou‬ ‭o‬ ‭desenvolvimento‬ ‭da‬ ‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬
‭em‬‭sete‬‭etapas‬‭e,‬‭acrescentou‬‭a‬‭essa‬‭teoria‬‭que‬‭o‬‭desenvolvimento‬
‭da‬ ‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬ ‭grupal,‬ ‭que‬ ‭segundo‬ ‭ele,‬ ‭também‬ ‭segue‬
‭esse‬‭mesmo‬‭processo‬‭evolutivo.‬

‭Com‬ ‭relação‬ ‭ao‬ ‭conceito‬ ‭de‬ ‭grupo,‬ ‭pode-se‬ ‭perceber‬ ‭que‬ ‭essas‬
‭designações‬ ‭têm‬ ‭sua‬ ‭investigação‬ ‭iniciada,‬ ‭após‬ ‭a‬ ‭primeira‬‭guerra‬
‭mundial,‬ ‭principalmente‬ ‭com‬ ‭Kurt‬ ‭Lewin,‬ ‭com‬ ‭seus‬ ‭fundamentos‬
‭sobre‬ ‭Dinâmica‬ ‭de‬ ‭Grupo.‬ ‭Moreno‬ ‭também‬ ‭começou‬ ‭a‬ ‭se‬
‭interessar‬ ‭pelo‬ ‭assunto‬ ‭na‬ ‭mesma‬ ‭época‬ ‭e‬ ‭elaborou‬ ‭os‬
‭fundamentos‬ ‭da‬ ‭Sociometria,‬ ‭onde‬ ‭pode‬ ‭conceituar‬ ‭o‬ ‭grupo‬ ‭como‬
‭uma‬ ‭área‬ ‭de‬ ‭integração‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭certo‬ ‭número‬ ‭de‬ ‭pessoas,‬ ‭que‬
‭através‬ ‭de‬ ‭seus‬ ‭vínculos‬ ‭interrelacionados‬ ‭estruturam-se‬ ‭e‬
‭organizam-se‬ ‭em‬ ‭função‬ ‭de‬ ‭seus‬ ‭propósitos‬ ‭sociais‬ ‭e‬ ‭afetivos.‬
‭Segundo‬‭Moreno,‬‭esse‬‭estado‬‭de‬‭grupo‬‭mantém‬‭uma‬‭“interpsique”,‬
‭que‬ ‭engloba‬ ‭suas‬ ‭tele-relações‬ ‭e‬ ‭seus‬ ‭estados‬ ‭co-conscientes‬ ‭e‬
‭co-inconscientes.‬ ‭“‬ ‭Os‬ ‭estados‬ ‭co-conscientes‬ ‭e‬ ‭co-inconscientes‬
‭são,‬ ‭por‬ ‭definição,‬ ‭aqueles‬ ‭que‬ ‭os‬ ‭participantes‬ ‭experimentaram‬ ‭e‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭produziram‬ ‭conjuntamente‬ ‭e‬ ‭que,‬ ‭por‬ ‭conseguinte,‬ ‭só‬ ‭podem‬ ‭ser‬
‭reproduzidos‬ ‭ou‬ ‭representados‬ ‭em‬ ‭conjunto.”‬ ‭(MORENO,‬ ‭1990,‬
‭p.31)‬

‭As‬‭etapas‬‭de‬‭desenvolvimento‬‭da‬‭matriz‬‭de‬‭identidade‬‭grupal‬‭então‬
‭ficaram‬‭com‬‭essa‬‭seqüência:‬

‭1.‬‭indiferenciação‬

‭2.‬‭simbiose‬

‭3.‬‭reconhecimento‬‭do‬‭eu‬‭e‬‭reconhecimento‬‭do‬‭tu‬

‭4.‬‭corredor‬

‭5.‬‭pré-inversão‬‭de‬‭papel‬

‭6.‬‭triangulação/‬‭circularização‬

‭7.‬‭inversão‬‭de‬‭papéis‬

‭Todo‬ ‭grupo‬ ‭inicia‬ ‭seu‬ ‭desenvolvimento‬ ‭a‬ ‭partir‬ ‭da‬ ‭etapa‬ ‭de‬
‭indiferenciação,‬ ‭onde‬ ‭os‬ ‭participantes‬ ‭estão‬ ‭apenas‬ ‭se‬ ‭aquecendo‬
‭para‬ ‭os‬ ‭atos‬ ‭espontâneos,‬ ‭necessitando‬ ‭de‬ ‭técnicas‬ ‭de‬
‭aquecimento‬ ‭físico‬ ‭para‬ ‭entrar‬ ‭em‬ ‭ação.‬ ‭A‬‭simbiose‬‭acontece‬‭com‬
‭as‬ ‭partes‬ ‭psicológicas‬ ‭não‬ ‭desenvolvidas‬ ‭nos‬ ‭participantes‬ ‭do‬
‭grupo,‬‭há‬‭uma‬‭mistura‬‭entre‬‭o‬‭eu‬‭e‬‭o‬‭tu.‬‭Nesta‬‭etapa,‬‭o‬‭ego-auxiliar‬
‭tem‬ ‭a‬ ‭função‬ ‭de‬ ‭guia‬ ‭para‬ ‭retratar‬ ‭papéis,‬ ‭a‬ ‭fim‬ ‭de‬ ‭tranquilizar‬ ‭a‬
‭ansiedade;‬ ‭senão‬ ‭a‬ ‭dependência‬ ‭que‬ ‭há‬ ‭nesta‬ ‭etapa‬ ‭leva‬ ‭à‬
‭consequência‬ ‭da‬ ‭idealização,‬ ‭com‬ ‭uma‬ ‭visão‬ ‭parcial‬ ‭de‬ ‭si‬ ‭e‬ ‭do‬
‭outro,‬‭regredindo‬‭as‬‭pessoas‬‭para‬‭sentimentos‬‭radicais‬‭de‬‭“tudo‬‭ou‬
‭nada”,‬‭“amor‬‭ou‬‭ódio”,‬‭etc.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭A‬‭etapa‬‭de‬‭reconhecimento‬‭do‬‭eu‬‭e‬‭do‬‭tu‬‭corresponde‬‭à‬‭de‬‭mesmo‬
‭nome‬ ‭na‬ ‭teoria‬ ‭de‬ ‭Moreno.‬ ‭As‬ ‭etapas‬ ‭seguintes‬ ‭são‬ ‭etapas‬ ‭de‬
‭evolução‬ ‭de‬ ‭relação‬ ‭somente‬ ‭em‬ ‭par‬ ‭(eu‬ ‭e‬ ‭tu)‬ ‭para,‬ ‭relações‬ ‭em‬
‭três‬‭(eu-tu-ele)‬‭e‬‭com‬‭mais‬‭de‬‭três‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭(nós).‬‭A‬‭última‬
‭etapa‬ ‭de‬ ‭inversão‬ ‭de‬ ‭papéis‬ ‭corresponde‬ ‭à‬ ‭de‬ ‭mesmo‬ ‭nome‬ ‭na‬
‭teoria‬‭de‬‭Moreno.‬

‭“Essa‬ ‭matriz‬ ‭sofre‬‭uma‬‭evolução‬‭e‬‭durante‬‭este‬‭processo‬‭evolutivo‬


‭a‬‭criança‬‭(ou‬‭o‬‭grupo)‬‭vai‬‭sendo‬‭envolvida‬‭no‬‭emaranhado‬‭da‬‭rede‬
‭de‬ ‭papéis‬ ‭sociais.‬ ‭O‬ ‭percurso‬ ‭da‬ ‭matriz‬ ‭é‬ ‭retomado‬ ‭a‬ ‭cada‬ ‭novo‬
‭papel‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭indivíduo‬ ‭desenvolve‬ ‭e,‬ ‭ao‬ ‭fazê-lo,‬ ‭utiliza-se‬ ‭da‬
‭experiência‬ ‭adquirida‬ ‭na‬ ‭aquisição‬ ‭de‬ ‭outros‬ ‭papéis‬ ‭semelhantes‬
‭(efeito‬ ‭cacho).‬ ‭Dessa‬ ‭forma,‬ ‭a‬ ‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬‭evolui‬‭até‬‭uma‬
‭matriz‬ ‭social,‬ ‭onde‬ ‭há‬ ‭mais‬ ‭independência‬ ‭e‬ ‭autonomia,‬ ‭sem‬
‭contudo‬ ‭ser‬ ‭abandonada.‬ ‭Ao‬ ‭contrário,‬ ‭a‬ ‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬ ‭fica‬
‭internalizada,‬ ‭dando‬ ‭o‬ ‭tônus‬ ‭télico‬ ‭e/ou‬ ‭transferencial‬ ‭aos‬ ‭seus‬
‭futuros‬‭átomos‬‭sociais.”‬‭(VIEIRA,1992,p.‬‭)‬

‭Por‬ ‭átomo‬ ‭social‬ ‭podemos‬ ‭entender‬ ‭o‬ ‭entrelaçamento‬ ‭de‬ ‭vínculos‬


‭pessoais,‬‭reais‬‭ou‬‭imaginários,‬‭percebido‬‭pelo‬‭indivíduo‬‭como‬‭mais‬
‭próximo,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭como‬ ‭afinidades‬ ‭recíprocas‬ ‭entre‬ ‭pessoas‬ ‭e/ou‬
‭coisas.‬ ‭Essas‬ ‭interrelações‬ ‭são‬ ‭mutáveis,‬ ‭têm‬ ‭muitos‬ ‭níveis‬ ‭de‬
‭preferências‬ ‭e,‬ ‭podem‬ ‭ter‬ ‭determinações‬ ‭sócio-econômicas‬ ‭e/ou‬
‭aproximações‬ ‭afetivas‬ ‭(fator‬ ‭tele);‬ ‭ou‬ ‭melhor‬ ‭dito‬ ‭por‬ ‭Moreno‬ ‭:‬ ‭“‬
‭átomo‬‭social‬‭é‬‭a‬‭configuração‬‭social‬‭das‬‭relações‬‭interpessoais‬‭que‬
‭se‬‭desenvolvem‬‭a‬‭partir‬‭do‬‭nascimento”‬‭(MORENO,1988).‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭EXPANSIVIDADE‬‭AFETIVA‬

‭Como‬ ‭Moreno‬ ‭define‬ ‭a‬ ‭tele‬ ‭como‬ ‭“a‬ ‭menor‬ ‭unidade‬ ‭de‬ ‭afeto‬
‭transmitida‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭indivíduo‬ ‭a‬ ‭outro‬ ‭em‬ ‭sentido‬ ‭duplo”‬ ‭,‬ ‭podemos‬
‭supor‬ ‭que‬ ‭afetividade‬ ‭e‬ ‭sensibilidade‬ ‭são‬ ‭termos‬ ‭utilizados‬
‭igualmente‬ ‭por‬ ‭ele,‬ ‭e‬ ‭que‬ ‭estão‬ ‭diretamente‬ ‭relacionados‬ ‭com‬ ‭o‬
‭fator‬‭tele.‬

‭Por‬ ‭tele,‬ ‭pode-se‬ ‭entender‬ ‭a‬ ‭capacidade‬ ‭de‬ ‭se‬‭perceber,‬‭de‬‭forma‬


‭subjetiva,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭ocorre‬ ‭nas‬ ‭situações‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭passa‬ ‭entre‬ ‭as‬
‭pessoas‬ ‭(é‬ ‭uma‬ ‭empatia‬ ‭bilateral),‬ ‭ou‬ ‭ainda,‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭conjunto‬ ‭de‬
‭processos‬ ‭perceptivos,‬ ‭uma‬ ‭tele-sensibilidade.‬ ‭Ao‬ ‭contrário‬ ‭,‬ ‭a‬
‭transferência‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭patologia‬ ‭do‬ ‭fator‬ ‭tele,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭causa‬ ‭de‬
‭distorções‬ ‭ou‬ ‭equívocos‬ ‭nas‬ ‭relações‬ ‭interpessoais.‬ ‭Neste‬ ‭caso,‬
‭não‬ ‭há‬ ‭possibilidade‬ ‭de‬ ‭ocorrer‬ ‭o‬ ‭"encontro",‬ ‭pois‬ ‭ele‬ ‭é‬
‭essencialmente‬ ‭a‬ ‭experiência‬ ‭da‬ ‭relação‬ ‭télica‬ ‭(percepção‬ ‭mútua‬
‭profunda).‬ ‭Segundo‬ ‭Menegazzo‬ ‭“‬ ‭o‬‭fenômeno‬‭tele‬‭manifesta-se‬‭na‬
‭vincularidade‬ ‭grupal‬ ‭como‬ ‭energia‬ ‭de‬ ‭atração,‬ ‭rejeição‬ ‭e‬
‭indiferença,‬‭e‬‭evidencia‬‭uma‬‭permanente‬‭atividade‬‭de‬‭comunicação‬
‭co-inconsciente‬ ‭e‬‭co-consciente.‬‭Ele‬‭possibilita‬‭aos‬‭seres‬‭humanos‬
‭-‬ ‭vinculados‬ ‭em‬ ‭constelações‬ ‭afetivas‬ ‭mediante‬ ‭a‬ ‭operação‬
‭constante‬ ‭das‬ ‭funções‬‭pensar-perceber‬‭e‬‭intuir-sentir‬‭de‬‭cada‬‭um‬‭-‬
‭o‬‭‘conhecimento’‬‭da‬‭situação‬‭real‬‭de‬‭cada‬‭indivíduo‬‭e‬‭dos‬‭outros‬‭na‬
‭matriz‬‭relacional‬‭de‬‭um‬‭grupo.”‬‭(MENEGAZZO,1995,p.207)‬

‭Dessa‬ ‭forma,‬ ‭queremos‬ ‭acreditar‬ ‭que‬ ‭junto‬ ‭e‬ ‭em‬ ‭paralelo‬ ‭com‬ ‭a‬
‭matriz‬ ‭de‬ ‭identidade‬ ‭desenvolve-se‬ ‭uma‬ ‭matriz‬ ‭afetiva,‬
‭possibilitando‬ ‭níveis‬ ‭diferentes‬ ‭de‬ ‭expansividade‬ ‭afetiva‬ ‭para‬
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‭Ana‬‭Esteves‬
‭diferentes‬‭pessoas,‬‭e‬‭que‬‭irá‬‭se‬‭modificando‬‭durante‬‭o‬‭processo‬‭de‬
‭seu‬ ‭desenvolvimento,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭da‬ ‭mesma‬ ‭forma‬ ‭acontece‬ ‭com‬ ‭o‬
‭desenvolvimento‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭processo‬ ‭grupal.‬ ‭Essa‬ ‭matriz‬ ‭afetiva‬ ‭se‬
‭encontra‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭integrada‬ ‭com‬ ‭as‬‭outras‬‭matrizes‬‭já‬‭delineadas,‬
‭formando‬ ‭um‬ ‭universo‬ ‭de‬ ‭interrelações‬ ‭que‬ ‭dão‬ ‭fundamento‬ ‭a‬
‭representação‬‭dos‬‭papéis.‬

‭Como‬ ‭já‬ ‭dissemos,‬ ‭a‬ ‭expansividade‬ ‭afetiva‬ ‭dos‬ ‭indivíduos‬ ‭é,‬


‭segundo‬ ‭Moreno‬ ‭:...‬ ‭"a‬ ‭energia‬ ‭afetiva‬ ‭que‬ ‭permite‬ ‭que‬ ‭um‬ ‭sujeito‬
‭‘retenha'‬‭o‬‭afeto‬‭de‬‭outros‬‭indivíduos‬‭durante‬‭um‬‭período‬‭de‬‭tempo‬
‭dado."(MORENO,‬ ‭1972,‬‭p.63)‬‭Além‬‭do‬‭que,‬‭ela‬‭é‬‭influenciadora‬‭da‬
‭espontaneidade‬ ‭e‬ ‭criatividade,‬ ‭ajudando‬ ‭ou‬ ‭dificultando‬ ‭o‬
‭desempenho‬ ‭dos‬ ‭papéis‬ ‭pertencentes‬ ‭a‬ ‭cada‬ ‭um‬ ‭desses‬
‭indivíduos,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭sugere‬ ‭que‬ ‭ela‬ ‭está‬ ‭totalmente‬ ‭implicada‬ ‭na‬
‭formação‬‭e‬‭funcionamento‬‭das‬‭suas‬‭identidades.‬

‭Por‬‭trás‬‭desse‬‭conceito‬‭de‬‭expansividade‬‭afetiva‬‭está‬‭a‬‭concepção‬
‭de‬ ‭vínculo,‬ ‭que‬ ‭no‬ ‭psicodrama‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭unidade‬ ‭humana,‬ ‭e‬ ‭portanto,‬ ‭é‬
‭mais‬ ‭que‬ ‭uma‬ ‭relação,‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭inter-relação‬ ‭afetivo-perceptual.‬ ‭De‬
‭acordo‬‭com‬‭Menegazzo,‬‭a‬‭expansividade‬‭afetiva‬‭é‬‭a‬‭energia‬‭afetiva‬
‭de‬ ‭uma‬ ‭pessoa,‬ ‭numa‬ ‭determinada‬ ‭situação‬ ‭vincular‬ ‭e‬ ‭num‬
‭momento‬‭específico‬‭do‬‭processo‬‭grupal.‬‭É‬‭a‬‭força‬‭de‬‭manutenção‬‭e‬
‭captação‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭indivíduo‬ ‭do‬ ‭grupo‬ ‭retém‬ ‭carismaticamente‬ ‭dos‬
‭outros‬ ‭indivíduos‬ ‭de‬ ‭sua‬ ‭mesma‬ ‭constelação‬ ‭grupal‬ ‭por‬ ‭um‬
‭determinado‬‭período.”‬‭(MENEGAZZO,1995,p.210)‬

‭Dessa‬ ‭forma‬ ‭não‬ ‭há‬ ‭como‬ ‭trabalhar‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭individualidade,‬


‭enquanto‬ ‭polo‬ ‭singular‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭relação,‬ ‭é‬ ‭preciso‬ ‭considerar-se‬ ‭a‬
‭totalidade,‬ ‭não‬ ‭como‬ ‭uma‬‭simples‬‭soma‬‭de‬‭partes‬‭individuais,‬‭mas‬
‭como‬‭indivíduo‬‭e‬‭sujeito,‬‭uma‬
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‭unidade‬ ‭contextual.‬ ‭“Tampouco‬ ‭o‬ ‭grupo‬ ‭humano‬ ‭está‬ ‭formado‬ ‭por‬
‭unidades‬ ‭individuais;‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭conjunto‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭integração‬ ‭de‬ ‭cada‬ ‭um‬ ‭dos‬
‭vínculos‬‭estabelecidos‬‭que‬‭palpitam‬‭dentro‬‭do‬‭mesmo‬‭grupo.‬‭Cada‬
‭grupo‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭constelação‬ ‭afetiva‬ ‭composta‬ ‭por‬ ‭muitas‬ ‭unidades‬
‭relacionais‬ ‭entretecidas‬ ‭umas‬ ‭ás‬ ‭outras,‬ ‭formando‬ ‭como‬ ‭que‬ ‭uma‬
‭rede.‬ ‭Falando‬ ‭de‬‭outro‬‭modo,‬‭assim‬‭como‬‭cada‬‭par‬‭ou‬‭díade‬‭é‬‭um‬
‭átomo,‬ ‭cada‬ ‭grupo‬ ‭se‬ ‭comporta‬ ‭à‬ ‭maneira‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭molécula‬ ‭de‬
‭humanidade,‬ ‭no‬ ‭interior‬ ‭do‬ ‭tecido‬ ‭social‬ ‭mais‬ ‭amplo.‬ ‭Essas‬
‭constelações‬ ‭humanas‬ ‭se‬ ‭mantém‬ ‭como‬ ‭tais‬ ‭precisamente‬‭porque‬
‭estão‬ ‭em‬ ‭constante‬ ‭intercomunicação‬ ‭afetiva.”‬ ‭(MENEGAZZO,‬
‭1995,‬‭p.‬‭217)‬

‭Para‬ ‭estudar‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭de‬ ‭expansividade‬ ‭afetiva,‬ ‭Moreno‬


‭baseou-se‬‭na‬‭tese‬‭de‬‭que‬‭a‬‭expressão‬‭quantitativa‬‭dos‬‭sentimentos‬
‭de‬ ‭simpatia‬ ‭ou‬ ‭antipatia‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭facilmente‬ ‭medida.‬ ‭Além‬ ‭disso,‬
‭afirmava‬‭que‬‭um‬‭indivíduo‬‭teria‬‭sua‬‭expansividade‬‭afetiva‬‭diferente‬
‭de‬ ‭outro,‬ ‭porque‬ ‭as‬ ‭pessoas‬ ‭dispensam‬ ‭sua‬ ‭energia‬ ‭afetiva‬ ‭mais‬
‭para‬ ‭quem‬ ‭se‬ ‭sentem‬ ‭espontaneamente‬ ‭atraídas,‬ ‭influenciando‬
‭diretamente‬ ‭a‬ ‭organização‬ ‭de‬ ‭seu‬ ‭grupo.‬ ‭Através‬ ‭de‬ ‭seu‬ ‭estudo‬
‭pode-se‬ ‭chegar‬ ‭ao‬ ‭processo‬ ‭vincular‬ ‭social‬ ‭dos‬ ‭indivíduos‬ ‭e‬ ‭de‬
‭seus‬‭grupos,‬‭e‬‭a‬‭partir‬‭dele,‬‭à‬‭possibilidade‬‭da‬‭superação‬‭dos‬‭seus‬
‭conflitos‬ ‭existenciais,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭o‬ ‭resgate‬ ‭de‬ ‭sua‬ ‭espontaneidade,‬
‭que‬‭no‬‭psicodrama‬‭é‬‭o‬‭caminho‬‭da‬‭saúde.‬

‭Esta‬ ‭expansividade‬ ‭afetiva‬ ‭tem‬ ‭sua‬ ‭origem‬‭no‬‭início‬‭da‬‭vida,‬‭como‬


‭explica‬ ‭o‬ ‭próprio‬ ‭Moreno:‬ ‭"A‬ ‭família‬ ‭é‬ ‭a‬‭instituição‬‭social‬‭que‬‭mais‬
‭contribui‬ ‭para‬ ‭desenvolver‬ ‭a‬ ‭sociabilidade‬ ‭do‬ ‭homem‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭dar‬
‭forma‬ ‭própria‬ ‭a‬ ‭sua‬ ‭necessidade‬ ‭de‬ ‭expansividade‬ ‭afetiva.‬ ‭Sem‬
‭dúvida,‬ ‭a‬ ‭plasticidade‬ ‭do‬ ‭bebê‬ ‭recém-nascido‬ ‭é‬ ‭virtualmente‬
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‭Ana‬‭Esteves‬
‭ilimitada,‬ ‭e‬ ‭com‬ ‭toda‬ ‭segurança‬ ‭é‬ ‭maior‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭do‬ ‭adulto.‬ ‭A‬
‭influência‬ ‭do‬ ‭grupo‬ ‭familiar‬ ‭se‬ ‭exerce,‬ ‭não‬ ‭somente‬ ‭sobre‬ ‭a‬
‭qualidade‬ ‭dos‬ ‭interesses‬ ‭afetivos,‬ ‭mas‬ ‭também‬ ‭sobre‬ ‭sua‬
‭quantidade,‬ ‭quer‬ ‭dizer,‬ ‭sobre‬ ‭sua‬ ‭expansividade.‬ ‭A‬ ‭família‬ ‭que‬
‭agrupa‬‭um‬‭pequeno‬‭número‬‭de‬‭pessoas‬‭obriga‬‭o‬‭bebê‬‭a‬‭concentrar‬
‭sua‬ ‭atenção‬ ‭na‬ ‭elaboração‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭pequeno‬ ‭número‬ ‭de‬ ‭relações‬
‭sociais‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭vinculam‬ ‭com‬ ‭seus‬ ‭pais‬ ‭e‬ ‭irmãos.‬ ‭Sua‬ ‭sede‬ ‭de‬
‭expansão‬ ‭está,‬ ‭desta‬ ‭forma,‬ ‭convenientemente‬ ‭contida‬ ‭e‬
‭canalizada;‬ ‭adquire‬ ‭o‬ ‭hábito‬ ‭de‬ ‭contentar-se‬ ‭com‬ ‭um‬ ‭pequeno‬
‭número‬ ‭de‬ ‭relações.‬ ‭Ao‬ ‭crescer,‬ ‭só‬ ‭conseguem‬ ‭participar‬ ‭de‬ ‭um‬
‭pequeno‬ ‭número‬ ‭de‬‭relações‬‭também.‬‭De‬‭fato,‬‭o‬‭quantum‬‭de‬‭suas‬
‭relações‬ ‭afetivas‬ ‭raramente‬ ‭está‬ ‭colocado‬ ‭acima‬ ‭ou‬ ‭abaixo‬ ‭dessa‬
‭média.‬ ‭Se‬ ‭ele‬ ‭tiver‬ ‭novos‬ ‭amigos‬ ‭ou‬ ‭inimigos,deixará‬ ‭de‬
‭interessar-se‬ ‭por‬ ‭um‬ ‭número‬ ‭igual‬ ‭de‬ ‭amigos‬ ‭e‬ ‭inimigos‬ ‭antigos.‬
‭Presumivelmente,‬ ‭seu‬ ‭equilíbrio‬ ‭não‬ ‭poderá‬ ‭manter-se‬ ‭acima‬ ‭de‬
‭certo‬‭limite."(MORENO,‬‭1972,‬‭p.72)‬

‭Não‬ ‭se‬ ‭pode‬ ‭pensar‬ ‭ou‬ ‭estudar‬ ‭a‬ ‭pessoa‬ ‭separando-se‬ ‭as‬ ‭suas‬
‭partes,‬ ‭nem‬ ‭tão‬ ‭pouco‬ ‭considerando-a‬ ‭imutável‬ ‭então,‬ ‭é‬ ‭preciso‬
‭estudar‬ ‭o‬ ‭seu‬ ‭processo‬‭de‬‭desenvolvimento,‬‭onde‬‭ação,‬‭emoção‬‭e‬
‭pensamento‬ ‭não‬ ‭existem‬ ‭separadamente,‬ ‭mas‬ ‭articulados.‬ ‭O‬
‭sentimento‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭informação‬ ‭sobre‬ ‭o‬ ‭significado‬ ‭das‬ ‭coisas‬ ‭para‬
‭as‬ ‭pessoas‬ ‭e,‬ ‭seu‬ ‭estudo,‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭expansividade‬ ‭afetiva,‬ ‭é‬ ‭um‬
‭caminho‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭investigação‬ ‭da‬ ‭consciência‬ ‭dos‬ ‭indivíduos.‬ ‭A‬
‭investigação‬ ‭da‬ ‭tele‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭grupo‬ ‭pode‬ ‭esclarecer‬ ‭as‬ ‭relações‬
‭sociais‬‭existentes‬‭na‬‭sua‬‭organização.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭INTERVENÇÕES‬‭PSICODRAMÁTICAS‬

‭Os‬ ‭projetos‬ ‭morenianos‬ ‭para‬ ‭as‬ ‭intervenções‬ ‭psicodramáticas,‬


‭podem‬ ‭ser‬ ‭apresentados‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭sistematizada,‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭seguir,‬
‭entretanto,‬ ‭essas‬ ‭separações‬ ‭são‬ ‭apenas‬ ‭didáticas,‬ ‭pois‬ ‭no‬
‭decorrer‬ ‭dos‬ ‭processos‬ ‭de‬ ‭intervenções,‬ ‭os‬ ‭participantes‬ ‭podem‬
‭passar‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭forma‬ ‭para‬ ‭outra,‬ ‭conforme‬ ‭a‬ ‭necessidade‬ ‭e‬ ‭o‬
‭momento‬‭grupal,‬‭sem‬‭que‬‭esse‬‭movimento‬‭seja‬‭inadequado.‬

‭A‬ ‭sociometria‬ ‭foi‬ ‭sistematizada‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭finalidade‬ ‭de‬ ‭"medir‬ ‭a‬
‭intensidade‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭expansão‬ ‭das‬ ‭correntes‬ ‭psicológicas,‬ ‭que‬ ‭se‬
‭infiltram‬ ‭no‬ ‭seio‬ ‭das‬ ‭populações,‬ ‭através‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭investigação‬
‭metódica‬ ‭acerca‬ ‭da‬ ‭organização‬ ‭e‬ ‭evolução‬ ‭dos‬ ‭grupos‬ ‭e‬ ‭da‬
‭posição‬ ‭dos‬ ‭indivíduos‬ ‭nos‬ ‭mesmos".(MORENO,‬ ‭1990,‬ ‭p.‬ ‭62)‬
‭Fazem‬‭parte‬‭da‬‭Sociometria:‬‭o‬‭teste‬‭sociométrico,‬‭em‬‭suas‬‭diversas‬
‭modalidades;‬‭o‬‭teste‬‭de‬‭expansividade‬‭afetiva,‬‭e‬‭o‬‭sociograma,‬‭que‬
‭evidencia‬ ‭a‬ ‭estrutura‬ ‭grupal,‬ ‭suas‬ ‭congruências‬ ‭e‬ ‭incongruências,‬
‭suas‬‭relações‬‭télicas‬‭e‬‭transferenciais.‬‭É‬‭dentro‬‭da‬‭sociometria‬‭que‬
‭encontramos‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭de‬ ‭rede‬ ‭sociométrica,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭dada‬
‭organização‬ ‭de‬ ‭relações‬ ‭vinculares,‬ ‭resultante‬ ‭das‬ ‭interrelações‬
‭psicossociais‬ ‭dos‬ ‭indivíduos.‬ ‭Estes‬ ‭vínculos‬ ‭perceptuais‬ ‭e‬ ‭afetivos‬
‭são‬ ‭motivados‬ ‭pelas‬ ‭escolhas,‬ ‭espontâneas‬‭ou‬‭não,‬‭baseadas‬‭nos‬
‭critérios‬ ‭dos‬ ‭indivíduos‬ ‭naquele‬ ‭momento.‬ ‭Assim,‬ ‭é‬ ‭possível‬
‭ocorrerem‬ ‭vários‬ ‭tipos‬ ‭de‬ ‭configurações‬ ‭sociométricas,‬ ‭que‬‭são‬‭as‬
‭figuras‬ ‭expressas‬ ‭pela‬ ‭situação‬ ‭pessoal‬ ‭de‬‭cada‬‭um‬‭e‬‭de‬‭todos‬‭os‬
‭indivíduos‬‭pertencentes‬‭à‬‭rede.‬
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‭Ana‬‭Esteves‬
‭A‬ ‭Sociodinâmica‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭entendida‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭ligação‬ ‭entre‬ ‭a‬
‭Sociometria‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭Sociatria‬ ‭e‬ ‭seu‬ ‭principal‬ ‭método‬ ‭são‬ ‭os‬ ‭jogos‬ ‭de‬
‭Papéis‬ ‭(Role-playing),‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭empregado‬ ‭na‬ ‭exploração‬ ‭dos‬ ‭vários‬
‭vínculos‬ ‭grupais‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭um‬‭indivíduo‬‭se‬‭encontra‬‭através‬‭de‬‭seus‬
‭diversos‬‭papéis.‬

‭A‬ ‭Sociatria‬ ‭tem‬ ‭a‬ ‭finalidade‬ ‭de‬ ‭realizar‬ ‭tratamentos‬ ‭dos‬ ‭sistemas‬
‭sociais.‬ ‭Fazem‬‭parte‬‭dela:‬‭a‬‭psicoterapia‬‭de‬‭grupo,‬‭o‬‭psicodrama‬‭e‬
‭o‬ ‭sociodrama.‬ ‭Moreno‬ ‭afirmava‬ ‭que‬ ‭com‬ ‭esses‬ ‭métodos‬ ‭de‬
‭tratamento,‬ ‭poder-se-ia‬ ‭atingir‬ ‭a‬ ‭cura‬ ‭do‬ ‭social‬ ‭mais‬ ‭amplo‬ ‭da‬
‭humanidade.‬ ‭O‬ ‭sociodrama,‬ ‭assim‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭psicodrama,‬ ‭é‬ ‭um‬
‭método‬ ‭de‬ ‭intervenção‬ ‭e/ou‬ ‭tratamento‬ ‭das‬ ‭relações‬ ‭sociais,‬
‭entretanto‬ ‭há‬ ‭algumas‬ ‭diferenças‬ ‭entre‬ ‭eles‬ ‭no‬ ‭que‬ ‭tange‬ ‭ao‬ ‭foco‬
‭do‬ ‭trabalho‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭protagonista,‬ ‭pois‬‭no‬‭psicodrama‬‭há‬‭um‬‭sentido‬
‭estrito‬‭na‬‭investigação‬‭dos‬‭papéis‬‭do‬‭átomo‬‭cultural‬‭originário.‬

‭“Nesse‬ ‭sentido‬ ‭mais‬ ‭estrito,‬ ‭distingue-se‬ ‭mais‬ ‭minuciosamente‬ ‭o‬


‭procedimento‬ ‭do‬ ‭psicodrama‬ ‭dos‬ ‭outros‬ ‭procedimentos,‬ ‭também‬
‭dramáticos,‬ ‭denominados‬ ‭sociodrama‬ ‭e‬ ‭jogos‬ ‭de‬ ‭papel.‬ ‭Esta‬
‭diferenciação‬ ‭é‬ ‭não‬ ‭apenas‬ ‭vital,‬ ‭mas‬ ‭necessária‬ ‭para‬ ‭assegurar‬
‭maior‬ ‭limpeza‬ ‭metodológica‬ ‭e‬ ‭melhor‬ ‭precisão‬ ‭operacional.‬ ‭O‬
‭psicodrama‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭procedimento‬ ‭dramático‬ ‭específico‬ ‭que,‬ ‭apesar‬
‭de‬ ‭sustentado‬ ‭por‬ ‭conceitos‬ ‭teóricos‬ ‭diferentes,‬ ‭os‬ ‭quais‬
‭convergem‬ ‭em‬ ‭uma‬ ‭visão‬ ‭antropológica‬ ‭vincular‬ ‭similar,‬ ‭estuda‬ ‭as‬
‭condutas‬ ‭humanas‬ ‭entendidas‬ ‭como‬ ‭desenvolvimento‬ ‭de‬ ‭papéis‬
‭(sempre‬ ‭em‬ ‭relação‬ ‭a‬ ‭seus‬ ‭contrá‬ ‭papéis‬ ‭ou‬ ‭papéis‬
‭complementares).‬ ‭Esse‬ ‭procedimento‬ ‭visa‬ ‭especificamente‬ ‭a‬
‭investigação‬ ‭das‬ ‭dificuldades‬ ‭os‬ ‭entraves‬ ‭ao‬ ‭desempenho‬ ‭livre,‬
‭espontâneo,‬ ‭criativo‬‭e‬‭responsável‬‭de‬‭tais‬‭papéis.”...”O‬‭sociodrama‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭trabalha‬ ‭contratualmente‬ ‭apenas‬ ‭com‬ ‭papéis‬ ‭sociais,‬‭sem‬‭remexer‬
‭na‬ ‭fantasmática‬ ‭íntima;‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭procedimento‬ ‭ideal‬ ‭para‬ ‭trabalhar‬
‭clinicamente‬ ‭com‬ ‭vínculos‬ ‭reais‬ ‭habituais‬ ‭(sociodrama‬ ‭de‬ ‭casal,‬
‭sociodrama‬ ‭de‬ ‭família)‬ ‭e‬ ‭com‬‭diagnóstico‬‭e‬‭prevenção‬‭institucional‬
‭(sociodrama‬‭institucional).”‬‭(MENEGAZZO,‬‭1995,‬‭p.173)‬

‭“O‬ ‭projeto‬ ‭psicodramático‬ ‭se‬ ‭contrapõe‬ ‭à‬ ‭exclusividade‬ ‭da‬


‭individualidade‬ ‭como‬ ‭forma‬ ‭de‬ ‭ação,‬ ‭por‬ ‭isso‬ ‭é‬ ‭basicamente‬ ‭uma‬
‭abordagem‬ ‭grupal,‬ ‭que‬ ‭tem‬ ‭seu‬ ‭núcleo‬ ‭central‬ ‭nas‬ ‭relações‬
‭estabelecidas‬ ‭na‬ ‭ação‬ ‭dramática.‬ ‭O‬ ‭drama‬ ‭explicitado‬ ‭no‬ ‭contexto‬
‭dramático‬ ‭emerge‬ ‭da‬ ‭estrutura‬ ‭aberta‬ ‭do‬ ‭grupo‬ ‭e,‬ ‭representa‬ ‭o‬
‭drama‬ ‭originado‬ ‭no‬ ‭contexto‬ ‭social.‬ ‭O‬ ‭protagonista,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭o‬
‭emergente‬ ‭do‬ ‭grupo‬ ‭coloca‬ ‭no‬ ‭palco‬ ‭a‬‭realidade‬‭e‬‭a‬‭fantasia,‬‭para‬
‭poder‬ ‭posteriormente‬ ‭discriminá-las.”‬ ‭A‬ ‭utilização‬ ‭das‬ ‭técnicas‬
‭psicodramáticas‬ ‭possibilita‬ ‭aos‬ ‭indivíduos,‬ ‭que‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭ação,‬
‭possam‬ ‭ir‬ ‭percebendo‬ ‭o‬ ‭real‬ ‭concretizado,‬ ‭no‬ ‭aqui‬ ‭e‬ ‭agora‬ ‭do‬
‭contexto‬ ‭dramático.‬ ‭Essa‬ ‭abertura‬ ‭perceptiva‬ ‭fornece‬ ‭uma‬
‭ampliação‬‭de‬‭suas‬‭potencialidades‬‭de‬‭ação,‬‭entre‬‭as‬‭quais‬‭ele‬‭pode‬
‭optar‬ ‭por‬ ‭uma.‬ ‭Assim,‬ ‭há‬ ‭um‬ ‭processo‬ ‭de‬ ‭escolha,‬ ‭subjacente‬ ‭à‬
‭ação‬ ‭espontânea,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭permite‬ ‭um‬ ‭corte‬ ‭na‬ ‭repetição‬ ‭cega‬ ‭do‬
‭passado.‬ ‭"O‬ ‭fundamento‬ ‭do‬ ‭psicodrama‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭princípio‬ ‭da‬
‭espontaneidade‬

‭criadora,‬ ‭a‬ ‭participação‬ ‭desinibida‬ ‭de‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭membros‬ ‭do‬ ‭grupo‬
‭na‬‭produção‬‭dramática‬‭e‬‭na‬‭catarse‬‭ativa".(MORENO,1974,‬‭P.38)‬

‭Apesar‬ ‭das‬ ‭diferenciações‬ ‭técnicas‬ ‭e‬ ‭processuais‬ ‭que‬ ‭a‬


‭fundamentação‬ ‭teórica‬ ‭socionômica‬ ‭pretende,‬ ‭na‬ ‭prática‬ ‭esses‬
‭procedimentos‬ ‭se‬ ‭interpõem‬ ‭e‬ ‭seguem‬ ‭as‬ ‭necessidades‬ ‭que‬ ‭o‬
‭momento‬‭dramático‬‭exige.‬‭Sua‬‭realização‬‭se‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭dá‬ ‭dentro‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭estrutura,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭rigor‬ ‭tipicamente‬ ‭do‬
‭psicodrama,‬‭composta‬‭por‬‭:‬‭3‬‭contextos,‬‭4‬‭etapas,‬‭4‬‭instrumentos‬‭e‬
‭5‬ ‭técnicas‬ ‭básicas.‬‭Assim‬‭considera-se‬‭que,‬‭em‬‭um‬‭psicodrama‬‭os‬
‭indivíduos‬ ‭estão‬ ‭inseridos‬ ‭em‬ ‭três‬ ‭contextos‬ ‭diferentes:‬ ‭o‬ ‭social,‬
‭onde‬ ‭estão‬ ‭suas‬ ‭vinculações‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭sociedade‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭cultura‬ ‭onde‬
‭vivem;‬ ‭o‬ ‭grupal,‬ ‭onde‬ ‭estão‬ ‭as‬ ‭vinculações‬ ‭com‬ ‭os‬ ‭outros‬
‭indivíduos‬ ‭dos‬ ‭grupos‬ ‭a‬ ‭que‬ ‭pertencem;‬ ‭e,‬ ‭o‬‭psicodramático,‬‭onde‬
‭estão‬‭as‬

‭vinculações‬ ‭com‬ ‭os‬ ‭integrantes‬ ‭do‬ ‭sociodrama.,‬ ‭no‬ ‭momento‬ ‭de‬


‭sua‬‭existência.‬‭Desta‬‭forma,‬‭pode-se‬‭dizer‬‭que‬‭o‬‭indivíduo‬‭faz‬‭parte‬
‭de‬‭uma‬‭realidade‬‭virtual‬‭(no‬‭sentido‬‭de‬‭existencial),‬‭composta‬‭pelos‬
‭três‬‭contextos‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo.‬

‭Seu‬ ‭desenvolvimento‬ ‭se‬ ‭dá‬ ‭em‬ ‭quatro‬ ‭etapas:‬ ‭1)‬ ‭aquecimento‬


‭inespecífico,‬‭que‬‭é‬‭por‬‭onde‬‭o‬‭método‬‭se‬‭inicia,‬‭visando‬‭estabelecer‬
‭o‬‭vínculo‬‭psicodramático‬‭e‬‭facilitar‬‭a‬‭emergência‬‭do‬‭protagonista.‬‭2)‬
‭aquecimento‬ ‭específico,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭a‬‭preparação‬‭da‬‭cena,‬‭do‬‭cenário‬‭e‬
‭do‬ ‭clima‬ ‭trazido‬ ‭pelo‬ ‭protagonista‬ ‭para‬ ‭serem‬ ‭dramatizados,‬ ‭além‬
‭dos‬ ‭personagens‬ ‭que‬ ‭serão‬ ‭representados‬ ‭pelos‬ ‭ego-auxiliares.‬‭3)‬
‭dramatização,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭representação‬ ‭dos‬ ‭papéis‬ ‭"como‬ ‭se"‬ ‭fosse‬
‭realidade,‬‭utilizando-se‬‭das‬‭técnicas‬‭básicas‬‭e‬‭alternativas,‬‭a‬‭fim‬‭de‬
‭facilitar‬ ‭a‬ ‭espontaneidade,‬ ‭a‬ ‭relação‬ ‭télica‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭encontro.‬ ‭4)‬
‭comentários,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭a‬‭última‬‭etapa‬‭necessária‬‭ao‬‭compartilhamento‬
‭entre‬ ‭o‬‭grupo,‬‭das‬‭emoções‬‭e‬‭vivências,‬‭assim‬‭como,‬‭das‬‭catarses‬
‭ocorridas‬‭na‬‭sessão.‬

‭Para‬ ‭a‬ ‭realização‬ ‭do‬ ‭psicodrama‬ ‭também‬ ‭são‬ ‭necessários‬ ‭quatro‬


‭instrumentos‬‭básicos:‬‭o‬‭diretor,‬‭que‬‭é‬‭o‬‭psicodramatista‬‭que‬‭conduz‬
‭a‬ ‭sessão;‬ ‭o‬ ‭ego-auxiliar,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭papel‬ ‭complementar‬ ‭do‬ ‭diretor‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭dentro‬ ‭do‬ ‭grupo;‬ ‭o‬ ‭protagonista,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭elemento‬ ‭emergente‬
‭espontâneo‬ ‭que‬ ‭irá‬ ‭representar‬ ‭uma‬ ‭cena;‬ ‭e,‬ ‭a‬ ‭platéia,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭o‬
‭grupo‬‭com‬‭quem‬‭o‬‭protagonista‬‭irá‬‭se‬‭relacionar.‬

‭Toda‬ ‭a‬ ‭movimentação‬ ‭do‬ ‭psicodrama‬ ‭se‬ ‭faz‬ ‭através‬ ‭de‬ ‭técnicas‬
‭vivenciais‬‭de‬‭representação‬‭de‬‭papéis,‬‭das‬‭quais‬‭cinco‬‭são‬‭básicas:‬
‭o‬ ‭duplo,‬ ‭o‬ ‭espelho,‬ ‭a‬ ‭inversão‬ ‭de‬ ‭papéis,‬ ‭o‬ ‭solilóquio‬ ‭e‬ ‭a‬
‭interpolação‬ ‭de‬ ‭resistências.‬ ‭As‬ ‭intervenções‬ ‭psicodramáticas‬
‭praticadas‬ ‭em‬ ‭organizações‬ ‭empresariais‬ ‭seguem‬ ‭as‬
‭sistematizações‬ ‭criadas‬ ‭por‬ ‭Moreno‬ ‭na‬ ‭elaboração‬ ‭do‬ ‭Projeto‬
‭Socionômico,‬ ‭entretanto,‬ ‭reforçam‬ ‭a‬ ‭necessidade‬ ‭de‬ ‭se‬ ‭trabalhar‬
‭dentro‬ ‭do‬ ‭campo‬ ‭dos‬ ‭papéis‬ ‭profissionais,‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭aceitar‬ ‭o‬
‭aprofundamento‬ ‭das‬ ‭atividades‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭campo‬ ‭dos‬ ‭papéis‬
‭originários,‬ ‭pois‬ ‭dessa‬ ‭forma,‬ ‭estaria‬ ‭havendo‬ ‭uma‬ ‭invasão‬ ‭(ainda‬
‭que‬ ‭solicitada‬ ‭pelo‬ ‭participante),‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭núcleo‬ ‭interno‬
‭psicodinâmico,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭deve‬ ‭ser‬ ‭reservado‬ ‭para‬ ‭atendimentos‬
‭psicoterapêuticos.‬

‭Em‬ ‭outras‬ ‭palavras,‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭recomendável‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭faça‬ ‭terapia‬ ‭na‬
‭empresa,‬‭pois‬‭as‬‭relações‬‭de‬‭poder‬‭e‬‭de‬‭hierarquia‬‭burocrática‬‭não‬
‭permitem‬‭a‬‭confidencialidade‬‭necessária‬‭e,‬‭nem‬‭sempre,‬‭respeitam‬
‭o‬‭contrato‬‭afetivo‬‭de‬‭grupo.‬

‭O‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭preciso‬ ‭é‬ ‭estar‬ ‭consciente‬ ‭que‬ ‭democracia‬ ‭nas‬
‭organizações‬ ‭empresariais‬ ‭praticamente‬ ‭não‬ ‭existe,‬ ‭pois‬ ‭a‬ ‭grande‬
‭maioria‬‭delas‬‭preferem‬‭o‬‭autoritarismo‬‭já‬‭que‬‭estão‬‭interessadas‬‭na‬
‭velocidade‬‭dos‬‭resultados.‬‭E‬‭o‬‭psicodramatista‬‭necessita‬‭ter‬‭clareza‬
‭de‬‭quais‬‭são‬‭as‬‭condições‬‭em‬‭que‬‭irá‬‭desenvolver‬‭suas‬‭ações.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭É‬ ‭verdade‬ ‭que‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭ênfase‬ ‭atualmente‬ ‭dada‬‭para‬‭a‬‭globalização‬
‭na‬ ‭Economia,‬ ‭algumas‬ ‭estratégias‬ ‭administrativas,‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭Gestão‬
‭da‬ ‭Qualidade‬ ‭Total,‬ ‭este‬ ‭paradigma‬ ‭de‬ ‭ritmo‬ ‭e‬ ‭volume‬ ‭sofreram‬
‭modificações,‬ ‭causando‬ ‭conflito‬‭de‬‭valores,‬‭o‬‭que‬‭abriu‬‭um‬‭espaço‬
‭para‬ ‭a‬ ‭negociação,‬ ‭como‬ ‭rudimento‬ ‭de‬ ‭democracia.‬ ‭Entretanto,‬
‭esse‬ ‭fenômeno‬ ‭social‬ ‭chamado‬ ‭de‬ ‭globalização‬ ‭e‬ ‭atualmente‬ ‭tão‬
‭em‬ ‭moda,‬ ‭faz‬ ‭parte‬ ‭do‬ ‭cotidiano‬ ‭das‬ ‭pessoas‬ ‭e,‬ ‭enquanto‬ ‭tal‬ ‭é‬ ‭o‬
‭espaço‬ ‭da‬ ‭alienação‬ ‭social‬ ‭mas‬ ‭também‬ ‭da‬ ‭superação‬ ‭dessa‬
‭alienação.‬‭É‬‭nessa‬‭tensão‬‭entre‬‭a‬‭alienação‬‭e‬‭a‬‭sua‬‭superação‬‭que‬
‭a‬ ‭intervenção‬ ‭psicodramática‬ ‭propõe-se‬ ‭a‬ ‭buscar‬ ‭melhoria‬ ‭para‬ ‭a‬
‭qualidade‬ ‭de‬ ‭resposta‬ ‭no‬ ‭trabalho,‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭melhoria‬ ‭na‬
‭qualidade‬‭de‬‭vida‬‭do‬‭trabalhador.‬

‭As‬ ‭pessoas‬ ‭têm‬ ‭necessidades‬ ‭a‬ ‭serem‬ ‭satisfeitas,‬ ‭não‬ ‭as‬


‭necessidades‬ ‭da‬ ‭sociedade‬ ‭de‬ ‭consumo,‬ ‭mas‬ ‭as‬ ‭suas‬
‭necessidades‬ ‭radicais;‬ ‭sem‬ ‭elas,‬ ‭as‬ ‭pessoas‬ ‭comprometem‬ ‭seu‬
‭eixo‬ ‭pessoal,‬ ‭ficam‬ ‭com‬ ‭suas‬ ‭identidades‬ ‭comprometidas,‬ ‭saindo‬
‭do‬ ‭estado‬ ‭que‬ ‭os‬ ‭administradores‬ ‭insistem‬ ‭em‬ ‭chamar‬ ‭de‬
‭“motivação”.‬ ‭Essa‬ ‭“motivação”‬ ‭para‬ ‭as‬ ‭intervenções‬
‭psicodramáticas‬ ‭se‬ ‭assemelham‬ ‭à‬ ‭espontaneidade‬ ‭criadora,‬ ‭que‬‭é‬
‭um‬‭catalisador‬‭psicológico‬‭verdadeiro.‬

‭Nas‬ ‭organizações‬ ‭empresariais,‬ ‭o‬ ‭estado‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭encontra‬ ‭a‬
‭espontaneidade‬ ‭criadora‬ ‭das‬ ‭pessoas‬ ‭vai‬ ‭interferir‬ ‭na‬
‭representação‬ ‭de‬ ‭seus‬ ‭papéis‬ ‭profissionais,‬ ‭facilitando‬ ‭ou‬
‭dificultando‬ ‭essas‬ ‭ações.‬ ‭Como‬ ‭os‬ ‭papéis‬ ‭profissionais‬ ‭são‬
‭conscientes,‬ ‭os‬ ‭trabalhadores‬ ‭mesmo‬ ‭com‬ ‭suas‬ ‭identidades‬
‭comprometidas,‬ ‭continuarão‬ ‭a‬ ‭atuar‬ ‭neles,‬ ‭levando‬ ‭sua‬ ‭vida‬ ‭para‬
‭estados‬‭de‬‭desgaste‬‭e‬‭de‬‭stress.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭Assim,‬ ‭para‬ ‭realizar‬ ‭uma‬ ‭intervenção‬ ‭psicodramática‬ ‭será‬
‭necessário,‬ ‭utilizando-se‬ ‭de‬ ‭todo‬ ‭o‬ ‭referencial‬ ‭teórico‬
‭psicodramático,‬ ‭desenvolver‬ ‭duas‬ ‭etapas‬ ‭principais:‬ ‭a‬
‭pré-intervenção‬ ‭ou‬ ‭diagnóstico‬ ‭e,‬ ‭a‬ ‭intervenção‬ ‭psicodramática‬
‭propriamente‬‭dita.‬

‭Na‬ ‭primeira‬ ‭etapa,‬ ‭serão‬ ‭diagnosticados‬ ‭o‬ ‭momento‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭condição‬
‭sócio-afetiva‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭encontra‬ ‭a‬ ‭organização‬ ‭empresarial‬ ‭dos‬
‭trabalhadores‬ ‭participantes,‬ ‭quanto‬ ‭a‬ ‭três‬ ‭aspectos‬ ‭básicos:‬ ‭a‬
‭história‬ ‭de‬ ‭sua‬ ‭organização‬ ‭(fases‬ ‭das‬ ‭matrizes);‬ ‭seu‬ ‭cotidiano‬
‭organizacional‬ ‭(‬ ‭papéis‬ ‭e‬ ‭redes‬ ‭);‬ ‭e‬ ‭seu‬ ‭clima‬ ‭organizacional‬
‭(espontaneidade‬‭e‬‭expansividade‬‭afetiva)‬

‭Na‬ ‭segunda‬ ‭etapa,‬ ‭serão‬ ‭negociados‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭grupo‬ ‭as‬ ‭formas‬ ‭da‬
‭intervenção‬‭psicodramática‬‭e‬‭suas‬‭disponibilidades‬‭organizacionais,‬
‭a‬ ‭fim‬ ‭de‬ ‭promover‬ ‭o‬ ‭“encontro‬ ‭organizacional”,‬ ‭utilizando-se‬ ‭para‬
‭isso‬ ‭os‬ ‭argumentos‬ ‭do‬ ‭referencial‬ ‭moreniano‬ ‭que‬ ‭buscam,‬ ‭em‬
‭última‬ ‭instância,‬ ‭a‬ ‭saúde‬ ‭social.‬ ‭São‬ ‭os‬ ‭próprios‬ ‭trabalhadores‬
‭organizados‬ ‭que‬ ‭vão‬ ‭estabelecer‬ ‭os‬ ‭critérios‬ ‭da‬ ‭intervenção,‬ ‭ou‬
‭seja,‬ ‭o‬ ‭grupo‬ ‭vai‬ ‭“dizer”‬ ‭qual‬ ‭é‬ ‭sua‬ ‭demanda,‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭intervenção‬
‭psicodramática‬ ‭será‬ ‭organizada‬ ‭de‬ ‭maneira‬ ‭a‬ ‭questionar‬ ‭as‬
‭condições‬ ‭do‬ ‭momento,‬ ‭as‬ ‭origens‬ ‭das‬ ‭necessidades‬ ‭grupais,‬ ‭as‬
‭escolhas‬‭de‬‭caminhos‬‭a‬‭percorrer‬‭e‬‭os‬‭objetivos‬‭que‬‭se‬‭quer‬‭atingir.‬

‭Na‬ ‭verdade‬ ‭não‬ ‭há‬ ‭um‬ ‭único‬ ‭tipo‬ ‭de‬ ‭intervenção‬ ‭psicodramática,‬
‭ela‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭metodologia‬ ‭que‬ ‭tem‬ ‭a‬ ‭mesma‬ ‭base‬
‭teórica-metodológica,‬ ‭mas‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭tem‬ ‭um‬ ‭“script”‬ ‭pronto,‬ ‭ela‬ ‭vai‬
‭variar‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭ação‬ ‭pela‬ ‭influência‬ ‭da‬ ‭espontaneidade‬ ‭e‬ ‭da‬
‭criatividade‬ ‭do‬ ‭grupo,‬ ‭incluindo‬ ‭nesse‬ ‭grupo‬ ‭os‬ ‭psicodramatistas.‬
‭Seria‬ ‭mais‬ ‭ou‬ ‭menos‬ ‭uma‬ ‭construção‬ ‭em‬ ‭grupo,‬‭o‬‭que‬‭implica‬‭em‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭vários‬‭tipos‬‭de‬‭consequências,‬‭ou‬‭vários‬‭tipos‬‭de‬‭riscos,‬‭desde‬‭não‬
‭se‬ ‭saber‬ ‭onde‬ ‭vai‬ ‭dar‬ ‭o‬ ‭trabalho,‬ ‭até‬ ‭no‬ ‭impasse‬ ‭entre‬ ‭a‬ ‭ética‬ ‭do‬
‭psicodramatista‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭dos‬ ‭outros‬ ‭participantes.‬ ‭Portanto,‬ ‭parece‬ ‭ser‬
‭muito‬ ‭importante‬ ‭conscientizar-se‬ ‭de‬ ‭quais‬ ‭são‬‭os‬‭princípios‬‭éticos‬
‭que‬ ‭envolvem‬ ‭as‬ ‭intervenções‬ ‭psicodramáticas,‬ ‭quais‬ ‭são‬ ‭suas‬
‭propostas‬‭de‬‭ação‬‭e‬‭qual‬‭é‬‭sua‬‭ideologia.‬‭Nela‬‭existe‬‭a‬‭hipótese‬‭de‬
‭que‬ ‭há‬ ‭a‬ ‭possibilidade‬ ‭de‬ ‭discutir,‬ ‭questionar,‬ ‭de‬ ‭criticar‬ ‭e‬ ‭de‬
‭esclarecer‬‭as‬‭relações‬‭sociais‬‭dentro‬‭de‬‭uma‬‭empresa,‬‭como‬‭se‬‭faz‬
‭no‬ ‭cotidiano‬ ‭fora‬ ‭da‬ ‭empresa,‬ ‭nos‬ ‭chamados‬ ‭grupos‬ ‭informais,‬ ‭e‬
‭por‬ ‭conta‬ ‭disso‬ ‭desvelar‬ ‭as‬ ‭relações‬‭de‬‭exploração,‬‭que‬‭existem‬‭e‬
‭que‬‭estão‬‭aí‬‭entre‬‭capital‬‭e‬‭trabalho.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭SESSÃO‬‭E‬‭PSICODRAMA‬‭CLÁSSICO‬

‭Habitualmente,‬‭uma‬‭sessão‬‭de‬‭psicodrama‬‭clássica‬‭tem‬‭a‬‭duração‬
‭de‬ ‭60-90‬ ‭minutos‬ ‭e‬ ‭pressupõe‬ ‭três‬ ‭fases‬ ‭distintas:‬ ‭Preparação,‬
‭Dramatização‬ ‭e‬ ‭Partilha.‬ ‭Cada‬ ‭uma‬ ‭representa‬ ‭um‬ ‭momento‬
‭diferente‬‭no‬‭processo‬‭(Moreno,‬‭1964/2006).‬‭Mas‬‭vejamos,‬‭de‬‭forma‬
‭sucinta,‬ ‭como‬ ‭Moreno‬ ‭descreve‬ ‭uma‬ ‭sessão‬ ‭de‬ ‭Psicodrama‬
‭Clássico:‬ ‭O‬ ‭Psicoterapeuta‬ ‭após‬ ‭ter‬ ‭orientado‬ ‭o‬ ‭grupo‬ ‭e‬ ‭o‬
‭protagonista‬ ‭durante‬ ‭a‬ ‭fase‬ ‭de‬ ‭Preparação,‬ ‭retira-se‬ ‭de‬ ‭cena,‬
‭mantendo-se‬‭como‬‭um‬‭observador‬‭passivo‬‭durante‬‭a‬‭fase‬‭seguinte,‬
‭Dramatização.‬ ‭Nessa‬ ‭altura‬ ‭entram‬ ‭em‬ ‭cena‬ ‭outras‬ ‭personagens‬
‭próximas‬ ‭do‬ ‭universo‬ ‭do‬ ‭protagonista‬ ‭representadas‬ ‭pelos‬
‭egos-auxiliares.‬ ‭À‬ ‭medida‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭representação‬ ‭progride‬ ‭e‬ ‭que‬ ‭o‬
‭protagonista‬ ‭pode‬ ‭ver‬ ‭os‬ ‭outros‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭si‬ ‭próprio‬ ‭segundo‬ ‭outra‬
‭perspectiva,‬ ‭o‬ ‭seu‬ ‭Eu‬ ‭reorganiza-se,‬ ‭é‬ ‭ganho‬ ‭um‬ ‭sentimento‬ ‭de‬
‭força‬ ‭interior,‬ ‭e‬ ‭é‬ ‭alcançada‬ ‭a‬ ‭purificação‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭catarse‬ ‭de‬
‭integração.‬ ‭E‬ ‭esta‬ ‭segunda‬ ‭fase‬ ‭termina‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭retirada‬ ‭dos‬
‭egos-auxiliares.‬ ‭Na‬ ‭fase‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭inicia,‬ ‭Partilha,‬ ‭o‬ ‭público‬ ‭passa‬ ‭a‬
‭controlar‬ ‭a‬ ‭sessão.‬ ‭Os‬ ‭membros‬ ‭do‬ ‭grupo‬ ‭exprimem‬ ‭os‬ ‭seus‬
‭sentimentos‬ ‭e‬ ‭falam‬ ‭da‬ ‭sua‬ ‭própria‬ ‭experiência‬ ‭em‬ ‭conflitos‬
‭semelhantes‬ ‭aos‬ ‭expostos‬ ‭durante‬ ‭a‬ ‭representação.‬ ‭Atinge-se‬
‭assim‬ ‭uma‬ ‭catarse‬ ‭de‬ ‭grupo‬ ‭(Moreno,‬ ‭1964/2006).‬ ‭É‬ ‭neste‬
‭momento‬ ‭que‬ ‭os‬ ‭conteúdos‬ ‭da‬ ‭cena‬ ‭adquirem‬ ‭significado‬
‭(Mesquita,‬ ‭2000).‬ ‭As‬ ‭sessões‬ ‭de‬ ‭Psicodrama‬ ‭são‬ ‭geralmente‬
‭gravadas,‬ ‭assim‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭momento‬ ‭de‬ ‭partilha.‬ ‭O‬ ‭visionamento‬ ‭faz‬
‭parte‬‭integrante‬‭da‬‭análise‬‭que‬‭o‬‭grupo‬‭faz‬‭da‬‭sessão.‬‭Para‬‭Moreno‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭esta‬ ‭possibilidade‬ ‭foi‬ ‭considerada‬ ‭uma‬ ‭grande‬ ‭conquista‬ ‭(Moreno,‬
‭1964/2006).‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭PSICODRAMA‬‭DE‬‭HIPÓLITO‬

‭Segundo‬ ‭João‬ ‭Hipólito‬ ‭(2000)‬ ‭quando‬ ‭Carl‬ ‭Rogers‬ ‭escreveu‬‭sobre‬


‭as‬ ‭possíveis‬ ‭aplicações‬‭da‬‭Terapia‬‭Centrada‬‭no‬‭Cliente‬‭destacou‬‭o‬
‭Psicodrama‬ ‭como‬ ‭algo‬ ‭de‬ ‭interessante‬ ‭e‬ ‭promissor,‬ ‭“‬ ‭(…)‬ ‭uma‬
‭tentativa‬ ‭estimulante‬ ‭para‬ ‭utilizar‬ ‭os‬ ‭princípios‬ ‭da‬ ‭terapia‬ ‭por‬
‭caminhos‬ ‭novos”‬ ‭(Rogers,‬ ‭1974,‬ ‭citado‬ ‭por‬ ‭Hipólito,‬ ‭2000,‬ ‭p.89).‬
‭Este‬ ‭facto‬ ‭encorajou‬ ‭Hipólito‬ ‭a‬ ‭desenvolver‬ ‭um‬ ‭modelo‬ ‭de‬
‭psicodrama‬ ‭com‬ ‭os‬ ‭fundamentos‬ ‭da‬ ‭Abordagem‬ ‭Centrada‬ ‭na‬
‭Pessoa‬ ‭(Hipólito,‬ ‭2000).‬ ‭Para‬ ‭Hipólito‬ ‭(comunicação‬ ‭pessoal,‬
‭Março,‬ ‭2010)‬ ‭o‬ ‭psicodrama‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭limita‬ ‭a‬‭ser‬‭uma‬‭terapia‬‭verbal;‬
‭tem‬ ‭também‬ ‭a‬ ‭vantagem‬ ‭de‬ ‭ultrapassar‬ ‭a‬ ‭palavra‬ ‭e‬ ‭passar‬ ‭ao‬
‭“acto”‬ ‭usando‬ ‭a‬ ‭linguagem‬‭corporal.‬‭Ora‬‭este‬‭processo‬‭permite‬‭um‬
‭alargamento‬ ‭do‬ ‭campo‬ ‭experiencial,‬ ‭onde‬ ‭não‬ ‭só‬ ‭é‬ ‭possível‬ ‭uma‬
‭vivencia‬ ‭emocional‬ ‭da‬ ‭experiência‬ ‭passada,‬‭como‬‭a‬‭sua‬‭adequada‬
‭actualização,‬ ‭aqui‬ ‭e‬ ‭agora.‬ ‭Para‬ ‭além‬ ‭disso,‬ ‭a‬ ‭memória‬ ‭do‬ ‭corpo‬
‭ajuda‬ ‭a‬ ‭cimentar‬ ‭a‬ ‭reconstrução.‬ ‭Para‬ ‭Hipólito,‬ ‭(2000)‬ ‭são‬ ‭estas‬
‭algumas‬ ‭das‬ ‭principais‬ ‭razões‬ ‭para‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭possa‬ ‭considerar‬ ‭o‬
‭psicodrama‬ ‭como‬ ‭um‬‭instrumento‬‭muito‬‭poderoso‬‭de‬‭mudança.‬‭No‬
‭psicodrama‬ ‭o‬ ‭desejado‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭só‬ ‭expresso‬‭verbalmente,‬‭é‬‭também‬
‭experienciado‬‭e‬‭desta‬‭forma‬‭actualizado‬‭(Hipólito,‬‭2000).‬

‭Assim‬ ‭sendo,‬ ‭o‬ ‭Psicodrama‬ ‭humanista‬ ‭tendo‬ ‭nos‬ ‭seus‬ ‭aspectos‬


‭técnicos,‬ ‭as‬ ‭suas‬ ‭raízes‬ ‭em‬‭Moreno,‬‭Lacan‬‭e‬‭Anzieu,‬‭entre‬‭outros,‬
‭tem‬ ‭como‬ ‭suporte‬ ‭teórico‬ ‭a‬ ‭Abordagem‬ ‭Centrada‬ ‭na‬ ‭Pessoa‬ ‭de‬
‭Carl‬ ‭Rogers,‬ ‭nomeadamente‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭de‬ ‭Tendência‬ ‭Atualizante,‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭as‬ ‭Seis‬ ‭Condições‬ ‭Necessárias‬ ‭e‬ ‭Suficientes‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭não‬ ‭diretividade‬
‭(Hipólito,‬ ‭2000).‬‭Começando‬‭pelas‬‭“seis‬‭condições”‬‭que‬‭se‬‭referem‬
‭basicamente‬‭ao‬‭tipo‬‭de‬‭relação‬‭terapêutica‬‭e‬‭à‬‭atitude‬‭do‬‭terapeuta‬
‭face‬ ‭ao‬ ‭cliente,‬ ‭assentes‬‭nos‬‭princípios‬‭de‬‭compreensão‬‭empática,‬
‭de‬ ‭um‬ ‭olhar‬ ‭incondicional‬ ‭positivo,‬ ‭de‬‭congruência‬‭na‬‭relação‬‭e‬‭da‬
‭demonstração‬ ‭clara‬ ‭ao‬ ‭cliente‬ ‭dessas‬ ‭mesmas‬ ‭condições‬
‭necessárias‬ ‭e‬ ‭suficientes‬ ‭ao‬ ‭sucesso‬ ‭terapêutico,‬ ‭poderemos‬
‭perceber‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭este‬ ‭setting‬ ‭o‬ ‭principal‬ ‭facilitador‬ ‭do‬ ‭processo‬
‭reestruturante‬ ‭do‬ ‭cliente/grupo.‬ ‭E‬ ‭isto‬ ‭porquê?‬ ‭Porque‬ ‭segundo‬ ‭a‬
‭teoria‬ ‭de‬ ‭Rogers‬ ‭(1951/2004)‬ ‭todo‬ ‭o‬ ‭homem/organismo‬ ‭segue‬ ‭a‬
‭Tendência‬‭Atualizante.‬‭Ou‬‭seja,‬‭o‬‭cliente‬‭tem‬‭em‬‭si‬‭a‬‭capacidade‬‭de‬
‭se‬‭reestruturar,‬‭tem‬‭a‬‭capacidade‬‭de‬‭desenvolver‬‭o‬‭seu‬‭potencial‬‭ao‬
‭máximo,‬ ‭de‬ ‭acordo‬ ‭com‬ ‭as‬ ‭condições‬ ‭ao‬ ‭dispor.‬ ‭Desta‬ ‭forma,‬ ‭um‬
‭setting‬ ‭de‬ ‭tolerância‬ ‭e‬ ‭compreensão‬ ‭permitirão‬ ‭condições‬
‭favoráveis‬ ‭ao‬ ‭autodesenvolvimento‬ ‭e‬ ‭reestruturação.‬‭Sendo‬‭assim,‬
‭compreende-se‬ ‭a‬ ‭não-diretividade,‬ ‭pois‬ ‭o‬ ‭terapeuta‬ ‭acredita‬ ‭no‬
‭potencial‬‭“auto-atualizante”‬‭do‬‭cliente.‬

‭Em‬ ‭relação‬ ‭à‬ ‭catarse,‬ ‭o‬ ‭psicodrama‬ ‭humanista,‬ ‭não‬ ‭a‬ ‭rejeita‬ ‭mas‬
‭não‬ ‭a‬ ‭provoca‬ ‭(Hipólito,‬ ‭comunicação‬ ‭pessoal,‬ ‭2010).‬ ‭Igualmente‬
‭para‬ ‭Moreno,‬ ‭a‬ ‭catarse‬ ‭deve‬ ‭surgir‬ ‭como‬ ‭fazendo‬ ‭parte‬ ‭de‬ ‭um‬
‭processo‬ ‭conduzido‬ ‭pelo‬ ‭protagonista,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭o‬ ‭fenômeno‬ ‭que‬
‭desencadeia‬ ‭a‬ ‭catarse‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭espontaneidade,‬ ‭a‬ ‭ação‬ ‭dramática‬
‭espontânea‬ ‭(Moreno,‬ ‭1964/‬ ‭2006).‬ ‭Pelo‬ ‭que‬ ‭percebemos,‬ ‭a‬
‭diferença‬ ‭será‬ ‭Moreno‬ ‭considerar‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭catarse‬ ‭deverá‬ ‭surgir‬
‭inevitavelmente‬ ‭desde‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭espontaneidade‬ ‭seja‬ ‭encontrada,‬
‭sendo‬ ‭este‬ ‭processo‬ ‭o‬ ‭objetivo‬ ‭do‬ ‭psicodrama;‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭Hipólito‬ ‭a‬
‭catarse‬‭não‬‭é‬‭condição‬‭necessária‬‭para‬‭uma‬‭sessão‬‭bem‬‭sucedida.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭Aliás,‬‭para‬‭o‬‭psicodrama‬‭humanista‬‭a‬‭Representação/Dramatização‬
‭não‬ ‭é‬‭necessária‬‭ao‬‭bom‬‭decorrer‬‭do‬‭processo.‬‭Sendo,‬‭neste‬‭caso‬
‭discutido‬ ‭em‬ ‭conjunto,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭poderá‬ ‭ter‬ ‭impedido‬ ‭os‬ ‭membros‬ ‭do‬
‭grupo‬ ‭de‬ ‭chegarem‬ ‭a‬ ‭um‬ ‭consenso‬ ‭em‬ ‭relação‬ ‭ao‬ ‭tema‬‭escolhido‬
‭(Hipólito,‬ ‭comunicação‬ ‭pessoal,‬ ‭Março,‬ ‭2010).‬ ‭Tal‬ ‭facto‬
‭afigura-se-nos‬ ‭uma‬ ‭diferença‬ ‭abissal‬ ‭entre‬ ‭os‬ ‭dois‬ ‭métodos‬
‭psicodramáticos,‬‭justificada,‬‭pensamos,‬‭pela‬‭diferença‬‭de‬‭atitude‬‭do‬
‭Director/Facilitador.‬‭Mas‬‭este‬‭ponto‬‭será‬‭discutido‬‭mais‬‭à‬‭frente.‬‭Em‬
‭relação‬ ‭à‬ ‭espontaneidade,‬ ‭Hipólito‬ ‭(comunicação‬ ‭pessoal,‬ ‭Março,‬
‭2010)‬ ‭considera‬ ‭que‬ ‭está‬ ‭subjacente‬ ‭a‬ ‭qualquer‬ ‭aplicação‬ ‭da‬
‭Abordagem‬‭Centrada,‬‭no‬‭entanto‬‭discorda‬‭com‬‭a‬‭opção‬‭de‬‭Moreno,‬
‭por‬‭considerar‬‭que‬‭no‬‭psicodrama‬‭moreniano‬‭a‬‭reaprendizagem‬‭da‬
‭espontaneidade‬ ‭é‬ ‭provocada‬ ‭pelo‬ ‭“papel‬ ‭activo‬ ‭do‬ ‭terapeuta‬ ‭ao‬
‭desencadear‬ ‭momentos‬ ‭de‬ ‭actualização‬ ‭emocional”‬ ‭(Hipólito,‬
‭2000).‬ ‭Neste‬ ‭ponto,‬ ‭o‬ ‭da‬ ‭Dramatização,‬ ‭segundo‬ ‭Moreno‬
‭(1964/2006),‬ ‭embora‬ ‭o‬ ‭Diretor‬ ‭esteja‬ ‭num‬ ‭papel‬ ‭passivo‬ ‭na‬ ‭ação,‬
‭os‬ ‭Egos-auxiliares‬ ‭poderão‬ ‭funcionar‬ ‭como‬ ‭agentes‬ ‭catalisadores.‬
‭Em‬‭relação‬‭ao‬‭Tele,‬‭embora‬‭Hipólito‬‭(2000)‬‭nada‬‭diga,‬‭refere‬‭que‬‭o‬
‭Psicodrama‬ ‭Humanista‬ ‭está‬ ‭baseado‬ ‭nas‬ ‭seis‬ ‭condições‬
‭necessárias.‬ ‭Sendo‬ ‭assim,‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭de‬ ‭empatia‬ ‭estará‬ ‭então‬
‭presente.‬ ‭Embora,‬ ‭para‬ ‭Moreno,‬ ‭Tele,‬ ‭seja‬ ‭empatia‬ ‭nos‬ ‭dois‬
‭sentidos‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭movimento‬ ‭empático‬ ‭promotor‬ ‭do‬ ‭Encontro,‬
‭poderemos‬ ‭considerar‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭Tele‬ ‭se‬ ‭mantém‬ ‭nesta‬
‭abordagem,‬ ‭observado‬ ‭na‬ ‭compreensão‬ ‭empática‬ ‭do‬ ‭terapeuta‬ ‭e‬
‭na‬‭percepção‬‭desta‬‭mesma‬‭compreensão‬‭do‬‭terapeuta‬‭por‬‭parte‬‭do‬
‭cliente.‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭PSICODRAMA‬‭CENTRADO‬‭EM‬‭GRUPO‬

‭Vejamos‬‭como‬‭Hipólito‬‭(2000)‬‭descreve‬‭o‬‭seu‬‭Psicodrama‬‭Centrado‬
‭na‬ ‭Pessoa:‬ ‭O‬ ‭Psicodrama‬ ‭desenvolvido‬ ‭por‬ ‭João‬ ‭Hipólito,‬ ‭à‬
‭semelhança‬ ‭da‬ ‭Terapia‬‭Centrada‬‭no‬‭Cliente‬‭de‬‭Carl‬‭Rogers,‬‭segue‬
‭a‬ ‭abordagem‬ ‭centrada‬ ‭no‬ ‭grupo.‬ ‭Assim‬ ‭sendo,‬ ‭o‬ ‭cliente‬‭é‬‭o‬‭grupo‬
‭que‬ ‭sendo‬ ‭constituído‬ ‭por‬ ‭pessoas,‬ ‭distintas‬ ‭entre‬ ‭si,‬ ‭pressupõe‬
‭uma‬ ‭actuação‬ ‭centrada‬ ‭primeiramente‬ ‭na‬ ‭pessoa/cliente‬ ‭e‬ ‭depois‬
‭no‬ ‭seu‬ ‭sistema‬ ‭sócio-antropológico.‬ ‭Encontramos‬ ‭aqui‬ ‭alguma‬
‭equivalência‬‭com‬‭o‬‭Psicodrama‬‭de‬‭Moreno‬‭que‬‭não‬‭só‬‭actua‬‭sobre‬
‭o‬ ‭indivíduo‬ ‭mas‬ ‭neste‬ ‭inserido‬ ‭no‬ ‭seu‬ ‭átomo‬ ‭social.‬‭Segundo‬‭esta‬
‭perspectiva,‬ ‭uma‬‭sessão‬‭de‬‭psicodrama‬‭pressupõe‬‭dois‬‭momentos‬
‭distintos:‬ ‭o‬ ‭momento‬ ‭da‬ ‭desordem,‬ ‭quando‬ ‭os‬ ‭vários‬ ‭participantes‬
‭propõem‬ ‭temas‬ ‭vários‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭posterior‬ ‭Representação,‬ ‭e‬ ‭o‬
‭momento‬ ‭do‬ ‭reordenamento,‬ ‭quando‬ ‭é‬ ‭alcançado‬ ‭um‬ ‭objetivo‬
‭comum‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭unidade.‬ ‭As‬ ‭regras‬ ‭de‬ ‭funcionamento‬ ‭são‬ ‭explicitadas‬
‭ao‬ ‭grupo‬ ‭pelo‬ ‭Facilitador‬‭no‬‭início‬‭da‬‭sessão;‬‭são‬‭indispensáveis‬‭à‬
‭criação‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭clima‬ ‭de‬ ‭confiança‬ ‭e‬ ‭segurança‬ ‭psicológica.‬ ‭São‬
‭elas:‬‭presença‬‭em‬‭todas‬‭as‬‭sessões,‬‭participar‬‭da‬‭saída‬‭definitiva‬‭e‬
‭confidencialidade.‬ ‭São‬ ‭definidos‬ ‭igualmente,‬ ‭horários‬ ‭e‬ ‭local‬ ‭para‬
‭os‬‭trabalhos.‬

‭Após‬ ‭este‬ ‭primeiro‬ ‭momento,‬ ‭cabe‬ ‭aos‬ ‭participantes‬ ‭a‬ ‭escolha‬ ‭do‬
‭tema‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭Representação.‬ ‭Esta‬ ‭escolha‬ ‭é‬ ‭feita‬ ‭por‬ ‭consenso.‬ ‭É‬
‭então‬ ‭definido‬ ‭o‬ ‭Protagonista,‬ ‭o‬ ‭autor‬ ‭do‬ ‭tema,‬ ‭e‬ ‭os‬ ‭outros‬
‭actores/participantes,‬ ‭assumidos‬ ‭pelos‬ ‭participantes‬ ‭ou‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭observadores-participantes.‬‭Importa‬‭salientar‬‭que,‬‭à‬‭semelhança‬‭do‬
‭psicodrama‬‭moreniano,‬‭todos‬‭podem‬‭recusar‬‭participar‬‭activamente‬
‭como‬ ‭actores‬ ‭ou‬ ‭representar‬ ‭determinado‬ ‭papel.‬ ‭O‬ ‭início‬ ‭da‬
‭Representação‬ ‭é‬ ‭dada‬ ‭pelo‬ ‭Facilitador‬ ‭assim‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭final.‬ ‭Todos‬
‭participam,‬ ‭embora‬ ‭com‬ ‭funções‬ ‭diferentes.‬ ‭Mesmo‬ ‭quem‬ ‭não‬ ‭foi‬
‭escolhido‬‭para‬‭desempenhar‬‭nenhum‬‭papel‬‭e‬‭se‬‭limita‬‭à‬‭função‬‭de‬
‭espectador‬ ‭participante‬ ‭pode‬ ‭sempre‬ ‭intervir,‬ ‭assumindo‬ ‭um‬ ‭novo‬
‭personagem‬ ‭ou‬ ‭dobrando‬ ‭uma‬ ‭das‬ ‭personagens‬ ‭propostas‬ ‭no‬
‭início,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭exprimindo‬ ‭verbalmente‬ ‭aquilo‬ ‭que‬ ‭percebe‬ ‭que‬ ‭o‬
‭ator‬ ‭sente‬ ‭mas‬ ‭não‬ ‭diz.‬ ‭O‬ ‭próprio‬ ‭Facilitador‬ ‭pode,‬ ‭em‬ ‭caso‬ ‭de‬
‭necessidade,‬ ‭assumir‬ ‭a‬ ‭dobragem‬ ‭ou‬ ‭mesmo‬ ‭tocar‬ ‭o‬ ‭Protagonista‬
‭(Hipólito,‬‭comunicação‬‭pessoal,‬‭Março‬‭2010).‬‭Igualmente‬‭o‬‭período‬
‭de‬ ‭reflexão‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭Representação‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭vivido,‬ ‭conta‬ ‭com‬ ‭a‬
‭participação‬ ‭de‬ ‭todos‬ ‭(Hipólito,‬ ‭2000).‬ ‭No‬ ‭final‬ ‭da‬ ‭sessão‬ ‭o‬
‭Facilitador‬ ‭faz‬ ‭uma‬ ‭síntese‬ ‭do‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭passou‬ ‭na‬ ‭sessão,‬
‭enquadrando-a‬ ‭dentro‬ ‭dos‬‭objectivos‬‭propostos.‬‭Após‬‭a‬‭finalização‬
‭dos‬ ‭trabalhos,‬ ‭a‬ ‭equipe,‬ ‭facilitador‬ ‭e‬ ‭observadores-participantes,‬
‭realiza‬ ‭entre‬ ‭si‬ ‭um‬ ‭período‬ ‭de‬ ‭reflexão,‬ ‭essencial‬ ‭à‬ ‭supervisão‬ ‭ou‬
‭intervisão.‬ ‭As‬ ‭sessões‬ ‭assim‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭período‬‭de‬‭reflexão‬‭do‬‭grupo‬
‭podem‬ ‭ser‬ ‭gravados‬ ‭em‬ ‭vídeo,‬ ‭permitindo‬ ‭a‬ ‭confrontação‬‭(Hipólito‬
‭usa‬ ‭confrontação)‬ ‭com‬ ‭uma‬ ‭imagem‬ ‭objectiva‬ ‭da‬ ‭representação‬
‭(Hipólito,‬ ‭2000).‬ ‭Convém‬ ‭salientar‬ ‭que‬ ‭este‬ ‭método‬ ‭foi‬ ‭igualmente‬
‭utilizado‬ ‭por‬ ‭Moreno‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭considerava‬ ‭uma‬ ‭grande‬ ‭inovação.‬
‭Assim,‬ ‭em‬ ‭todo‬ ‭este‬ ‭processo,‬ ‭cada‬ ‭pessoa‬ ‭encontra-se‬ ‭em‬
‭relação‬ ‭consigo‬ ‭mesma,‬ ‭com‬ ‭cada‬ ‭um‬ ‭dos‬ ‭membros‬ ‭do‬ ‭grupo‬ ‭e‬
‭com‬ ‭o‬ ‭grupo,‬ ‭em‬ ‭si;‬ ‭diversas‬ ‭dimensões‬ ‭são‬ ‭trabalhadas,‬ ‭numa‬
‭relação‬‭eu-tu-nós.‬‭Desta‬‭forma‬‭o‬‭sonho‬‭pessoal,‬‭é‬‭o‬‭sonho‬‭em‬‭que‬
‭todos‬ ‭participam.‬ ‭Para‬ ‭Hipólito‬ ‭(2000)‬ ‭o‬ ‭psicodrama‬ ‭surge‬ ‭não‬ ‭só‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭no‬ ‭contexto‬ ‭terapêutico,‬ ‭como‬ ‭meio‬ ‭de‬ ‭desenvolvimento‬ ‭pessoal;‬
‭mas‬ ‭igualmente‬ ‭como‬ ‭um‬ ‭modelo‬ ‭de‬ ‭formação‬ ‭para‬ ‭“técnicos‬ ‭e‬
‭equipes‬ ‭de‬ ‭trabalho‬ ‭no‬ ‭âmbito‬ ‭da‬ ‭psiquiatria‬ ‭social‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭trabalho‬
‭com‬‭grupos”‬‭(p.‬‭90).‬‭No‬‭contexto‬‭comunitário,‬‭como‬‭instrumento‬‭de‬
‭intervenção,‬ ‭tendo‬ ‭ainda‬ ‭a‬ ‭sua‬ ‭utilidade‬ ‭em‬ ‭psiquiatria‬ ‭social,‬ ‭ou‬
‭seja,‬ ‭em‬ ‭comunidades‬ ‭terapêuticas‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭saúde‬ ‭mental,‬ ‭em‬
‭psicoterapia‬‭de‬‭grupo‬‭ou‬‭em‬‭animação‬‭pedagógica‬‭(Hipólito,‬‭2000).‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬

‭PSICODRAMA‬‭PARA‬‭CRIANÇAS‬

‭Segundo‬‭a‬‭Psicopedagoga‬‭e‬‭Psicodramatista,‬‭Rosa‬‭Maria‬‭Silvestre‬
‭Santos,‬ ‭a‬ ‭escola,‬ ‭precioso‬ ‭elemento‬ ‭de‬ ‭apoio,‬ ‭precisa‬ ‭rever‬
‭continuamente‬ ‭a‬ ‭metodologia‬ ‭aplicada‬ ‭e‬ ‭investir‬ ‭na‬ ‭formação‬
‭continuada‬‭de‬‭seus‬‭professores.Como‬‭afirma‬‭Alícia‬‭Fernández‬‭para‬
‭que‬ ‭a‬ ‭criança‬ ‭possa‬ ‭aprender,‬ ‭nós‬ ‭devemos‬ ‭deixá-la‬ ‭ensinar,‬ ‭da‬
‭mesma‬‭forma‬‭para‬‭que‬‭aquele‬‭que‬‭ensina(professor)‬‭possa‬‭ensinar,‬
‭devemos‬ ‭deixá-lo‬ ‭aprender.Dificuldades‬ ‭de‬ ‭aprendizagem,‬
‭psicomotoras,‬ ‭separações‬ ‭prolongadas,‬ ‭perdas‬ ‭traumáticas‬ ‭e‬
‭relações‬ ‭conflitivas‬ ‭são‬ ‭alguns‬ ‭dos‬ ‭fatores‬ ‭que‬ ‭motivam‬ ‭cada‬ ‭vez‬
‭mais‬‭pais‬‭e‬‭professores‬‭à‬‭procura‬‭por‬‭atendimento‬‭psicológico‬‭para‬
‭suas‬‭crianças.‬‭Enquanto‬‭a‬‭criança‬‭está‬‭enfrentando‬‭algumas‬‭destas‬
‭dificuldades‬ ‭os‬ ‭seus‬ ‭mecanismos‬ ‭de‬ ‭defesa‬ ‭são‬ ‭acionados‬ ‭e‬
‭mesmo‬ ‭depois‬ ‭de‬ ‭aliviados‬ ‭por‬ ‭um‬ ‭momento,‬ ‭o‬ ‭sofrimento‬
‭emocional‬‭não‬‭termina‬‭e‬‭uma‬‭das‬‭formas‬‭dele‬‭se‬‭manifestar‬‭ocorre‬
‭através‬ ‭de‬ ‭alterações‬ ‭no‬ ‭seu‬ ‭comportamento.‬ ‭Essas‬ ‭Questões‬
‭ultrapassam‬‭os‬‭limites‬‭do‬‭frágil‬‭psiquismo‬‭infantil,‬‭pois‬‭sua‬‭estrutura‬
‭psíquica‬ ‭ainda‬ ‭é‬ ‭muito‬ ‭primitiva‬ ‭e‬ ‭dificilmente‬ ‭ela‬ ‭irá‬ ‭suportar‬ ‭esta‬
‭fase‬‭sozinha.Através‬‭da‬‭ajuda‬‭de‬‭um‬‭terapeuta,‬‭juntamente‬‭com‬‭os‬
‭pais,‬ ‭professores‬ ‭e‬ ‭outros‬ ‭profissionais‬ ‭da‬ ‭área‬ ‭de‬ ‭saúde,‬ ‭ela‬
‭poderá‬ ‭processar‬ ‭e‬ ‭elaborar‬ ‭conflitos‬ ‭conscientes‬ ‭e‬ ‭inconscientes,‬
‭sem‬ ‭contradições‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭sente,‬ ‭pensa‬ ‭e‬ ‭age.O‬ ‭Psicodrama‬
‭surge‬‭como‬‭uma‬‭teoria‬‭psicológica‬‭e‬‭um‬‭método‬‭terapêutico,onde‬‭a‬
‭criança‬ ‭é‬ ‭compreendida‬ ‭como‬ ‭ser‬ ‭ativo,‬ ‭social‬ ‭e‬ ‭sujeito‬ ‭da‬ ‭sua‬
‭história,responsável‬ ‭por‬ ‭seus‬ ‭atos.‬ ‭Tem‬ ‭como‬ ‭instrumento‬ ‭a‬
‭dramatização‬‭e‬‭a‬‭ação‬‭simbólica‬‭que‬‭se‬‭busca‬‭objetivar,‬‭permitindo‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭investigar‬‭os‬‭vínculos‬‭interpessoais‬‭e‬‭suas‬‭características.O‬‭espaço‬
‭da‬ ‭terapia‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭oportunidade‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭criança‬ ‭se‬ ‭expressar‬
‭realmente‬‭no‬‭“aqui‬‭-‬‭agora”‬‭e‬‭ativar‬‭ainda‬‭mais‬‭sua‬‭espontaneidade‬
‭e‬ ‭criatividade.‬ ‭Através‬ ‭de‬ ‭técnicas‬ ‭específicas‬ ‭assim‬ ‭como‬ ‭Jogos‬
‭Psicodramáticos,‬ ‭a‬ ‭terapia‬ ‭possibilita‬ ‭a‬ ‭expressão‬ ‭de‬ ‭possíveis‬
‭angústias,pensamentos‬ ‭e‬ ‭percepções‬ ‭do‬ ‭que‬ ‭vivencia,‬ ‭além‬ ‭de‬
‭intervir‬ ‭na‬ ‭prevenção‬ ‭de‬ ‭distúrbios‬ ‭relacionais‬ ‭a‬ ‭longo‬ ‭prazo.‬ ‭Leo‬
‭Buscaglia‬ ‭acredita‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭professor‬ ‭precisa‬ ‭se‬ ‭transformar‬
‭urgentemente‬‭de‬‭professor‬‭afetuoso,‬‭precisa‬‭colocar‬‭açúcar‬‭e‬‭afeto‬
‭na‬ ‭sua‬ ‭prática,‬ ‭despertar‬ ‭o‬ ‭aluno‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭desejo‬ ‭de‬ ‭aprender,‬ ‭se‬
‭interessar‬ ‭por‬ ‭ele,‬ ‭rir,‬ ‭chorar,‬ ‭tocar,abraçar,‬ ‭olhar‬ ‭nos‬ ‭olhos‬ ‭e‬
‭qualificar‬‭sua‬‭presença.‬

‭Afirma‬‭Alícia‬‭Fernández‬‭que‬‭a‬‭libertação‬‭da‬‭inteligência‬‭aprisionada‬
‭dar-se-á‬ ‭através‬ ‭do‬ ‭encontro‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭perdido‬ ‭prazer‬ ‭de‬ ‭aprender.‬
‭Muitas‬ ‭vezes,‬ ‭uma‬ ‭criança‬ ‭precisa‬ ‭ser‬ ‭encaminhada‬ ‭para‬ ‭um‬
‭psicopedagogo‬‭para‬‭resgatar‬‭este‬‭prazer,‬‭envolvendo‬‭o‬‭profissional,‬
‭a‬ ‭família‬ ‭e‬‭a‬‭escola.A‬‭Psicopedagogia‬‭aliada‬‭ao‬‭Psicodrama‬‭busca‬
‭resgatar‬ ‭o‬ ‭saber‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭criança‬ ‭tem‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭dá‬ ‭conta‬ ‭que‬ ‭tem‬ ‭e‬
‭propiciar‬‭autoria‬‭de‬‭pensamento,‬‭dar‬‭espaço‬‭e‬‭voz‬‭para‬‭ouvir‬‭o‬‭que‬
‭a‬ ‭criança‬ ‭tem‬ ‭a‬ ‭dizer.‬ ‭Através‬ ‭dos‬ ‭jogos‬ ‭e‬ ‭dramatizações‬ ‭as‬
‭crianças‬ ‭elaboram‬ ‭suas‬ ‭angústias‬ ‭e‬ ‭dão‬ ‭novo‬ ‭significado‬ ‭aos‬
‭sofrimentos,‬ ‭trabalhando,‬ ‭na‬ ‭fantasia,‬ ‭os‬ ‭sentimentos‬ ‭reprimidos‬ ‭e‬
‭as‬ ‭cenas‬ ‭da‬ ‭vida‬ ‭real.A‬ ‭Psicopedagogia‬ ‭busca‬ ‭desenvolver‬ ‭os‬
‭aspectos‬ ‭sadios‬ ‭da‬‭família‬‭e‬‭da‬‭criança‬‭e‬‭encontra‬‭no‬‭Psicodrama,‬
‭uma‬ ‭fonte‬ ‭inesgotável‬ ‭de‬ ‭recursos,‬ ‭porque‬ ‭investe‬ ‭no‬ ‭resgate‬ ‭da‬
‭espontaneidade‬ ‭e‬ ‭da‬ ‭alegria‬ ‭e‬ ‭no‬ ‭prazer‬ ‭de‬ ‭sentir-se‬ ‭uma‬ ‭criança‬
‭PSICODRAMA‬‭PSICANALÍTICO‬

‭Ana‬‭Esteves‬
‭única,‬ ‭original,‬ ‭interessante,‬ ‭recuperando‬ ‭a‬ ‭auto-estima‬ ‭perdida‬
‭pelas‬‭cobranças‬‭diante‬‭de‬‭insucessos.‬

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