Apostila Psicodrama
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Apostila Psicodrama
AnaEsteves
INTRODUÇÃO
O Psicodrama vem ao longo de sua história se tornando uma
prática constante dentro das mais diversas instituições. Portanto
suas técnicas devem ser um instrumento de apoio pedagógico e
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psicopedagógico, podendo assim auxiliar na compreensão e no
desenvolvimento das relações humanas. As atividades
desenvolvidaspeloprópriogruposãovivenciasquefazempartedo
processodeformaçãoeautoconhecimentodopsicopedagogo.
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REFERENCIALTEÓRICOMORENIANO
Jacob Levy Moreno (1889-1974), o criador do Psicodrama, era de
família judia, originária da península ibérica, radicada naRomênia.
Eletinhacincoanosdeidadequandosuafamíliafixou-seemViena,
onde mais tarde estudou Filosofia e Medicina. Desde muito cedo,
Moreno dedicou-se a trabalhos experimentais, utilizando o teatro
como metodologia e, discutindo problemas sociais com grupos de
pessoas.
Em1921,fundouo"stegreiftheater"(teatrodaespontaneidade)cujo
objetivoeradesenvolveracapacidadecriadoraeaespontaneidade
do ser humano. Em 1923, ele descobriu a ação terapêutica da
dramatização, fundando o teatro terapêutico. Em 1925, emigrou
paraosEUA,ondecriouapsicoterapiadegrupo,asociometriaeo
psicodrama público. Em 1934, Moreno publicou "Who shall
survive?",suaobramaisimportante,reeditadaem1953comotítulo
"Fundamentos de la sociometria", em Buenos Aires. Em 1942,
fundouoInstitutoMorenodeNewYorkeaSociedadeAmericanade
Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Daí para frente houve uma
expansão mundial de suas teorias, para as quais criou um projeto
amplochamadode“ProjetoSocionômico”.
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etimologicamente,oconceitocarregaosentidodaprópriadefinição
que Moreno lhe dá como sistema teórico-prático: as leis do
desenvolvimento social e das relaçõessociais.ComaSocionomia,
Moreno pretendia verificar como a interrelação indivíduo-grupo se
realizava, se cristalizavaousetransformavanarealidadeconcreta,
a partir de como era vivenciada por cada indivíduo nogrupo.Para
isto,aSocionomiafoisistematizadaemtrêspartes:asociometria,a
sociodinâmica e a sociatria, de forma que a investigação e o
investigador fossem ativos e dinâmicos, participando e, se
envolvendocomofenômenoaserconhecido.
Moreno descobriu que há um processo catártico no psicodrama e
que o princípio comum produtor da catarse é a espontaneidade.
Paraele,acatarsepodeserentendidacomoamovimentaçãotélica
existente entre dois ou mais indivíduos, quer dizer, aqueles
conteúdos que estavam afastados da consciência,apartirdaação
psicodramática vêm à tona e possibilitam a clareza de
possibilidades existenciais para os participantes da sessão, quer
seja individual ou em grupo. A catarse éavisãoeaviabilidadedo
novo, quer seja no nívelsomático,mental,individualougrupal.Ela
é esta integração que possibilita a formação da identidade ou sua
rematrização e é propiciada pela representação de papéis de
maneiraespontâneacriadora.
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ESPONTANEIDADE
AespontaneidadeparaMorenoéumfenômenoprimárioepositivo,
ou seja, não é derivado de nenhum outro impulso. A
espontaneidade é definida como: a resposta do indivíduo a uma
nova situação, ou uma nova resposta a uma situação antiga, de
modoadequado.”Deve-seatentarparaotermoadequadoqueestá
aqui, nem com o sentidodeadaptadoenemdeajustado,massim
de integrado. Dar respostas de um modo integrado significa
perceber claramente a si mesmo e a situação no aqui-agora,
procurando transformar seus aspectos insatisfatórios.”
(VIEIRA,1992,p.)
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É dessa maneira que acontece a emergência de um protagonista
que, naquele momento, manifesta o contexto psicodramático. Ele,
protagonista, "traz a mente para fora", objetivando-a na
dramatização, de tal forma que, os componentes subjetivos
tornam-sediretamentevisíveis,observáveisemensuráveis.Apartir
dessa objetivação é que se dá a dessubjetivação, ou seja, a
reintegração psicodinâmica. A dramatização possibilita uma
realidadetangível,ondeopsicodramatistapossaparticipar,afimde
juntocomoprotagonistapossibilitaroencontro.
O caráter transformador da ação espontânea é o que garante ao
indivíduo a sua condição de criador, ou seja, é o que permite as
modificações na sua relação com o mundo. O ato criador é
antagônicoàconservacultural.
Ele acontece no momento presente, no durante, e não no produto
acabado. Ao preferir valorizar a obra acabada, o Homem esquece
de observar as mudanças que ocorreram em si mesmo durante o
processo de criação. NaspalavrasdeMoreno:"Ohomemprimitivo
viveu e criou no momento mas logo que os momentos de criação
passaram, ele mostrou-se muito mais fascinadopeloresultadodos
atos criadores pretéritos: sua cuidadosa conservação e avaliação
doseuvalor,doquepelamanutençãoecontinuaçãodosprocessos
da própria criação. Pareceu-lhe ser um estágio mais elevado de
cultura desprezar o momento, sua incerteza e desamparo e
empenhar-se em obter conteúdos, proceder à sua seleção e
idolatrá-los, lançando assim os alicerces de um novo tipo de
civilização,acivilizaçãodaconserva."(MORENO,1974,p.43)
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Nesta filosofia do ato criador não há lugar para a diferença entre
consciente einconsciente,jáque"oinconscienteéumreservatório
continuamenteenchidoeesvaziadopelos‘indivíduoscriadores'.Foi
criado por eles e portanto, pode ser desfeito e substituído. Assim
podemos encontrar cinco características no ato criador: a
espontaneidade, a sensação de surpresa ou de inesperado, a
irrealidade, o atuar sui-generis e, a consubstanciação mimética. O
agente criador encontra seu ponto de partida no estado de
espontaneidade, que é uma entidade psicológica independente.
Além disso, o ‘estado' não surge automaticamente: não é
preexistente. É produzido por um ato de vontade. Surge
espontaneamente. Não é criadopelavontadeconsciente,queatua
freqüentemente como barreira inibitória, mas por uma libertação
que, de fato, éolivresurgimentodaespontaneidade."(MORENO,
1974,p.86)
Quantoàgênesedaespontaneidade,Morenoéfavorávelàidéiade
que ela é um fatorpsicológico,oucomoelenomeia:ofator‘e'não
é, estritamente, um fator hereditário nem, estritamente um fator
ambiental. "No atual estado das pesquisas biogenéticas e sociais,
parece ser mais estimulante supor que, no âmbito da expressão
individual, existe uma área independente entre ahereditariedadee
o meio ambiente, influenciada mas não determinada pela
hereditariedade (genes) e asforçassociais(tele).Ofator‘e'teriaa
sua localização topográfica nessa área. É uma área de relativa
liberdade e independência das determinações biológicas e sociais,
uma área em que são formados novos atos combinatórios e
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permutações, escolhas e decisões, e daqualsurgeainventivaea
criatividadehumanas."(MORENO,1974,p.101)
novaseadequadas,porquesemelaséprovávelquenãosobreviva.
Daíparafrente,odesenvolvimentodaespontaneidadeestaráligado
ao desenvolvimento da criança, que se dá a partir de dois
importantes processos: o desenvolvimento da matriz de identidade
atravésdodesenvolvimentodeseuspapéis.
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TEORIADOSPAPÉIS
”O papel é a forma de funcionamento que o indivíduo assume no
momento específico em que reage a uma situação específica, na
qualoutraspessoasouobjetosestãoenvolvidos”(MORENO,1990,
p.27). Segundo ele, os indivíduos têm três tipos fundamentais de
papéis: os psicossomáticos, os sociais e os psicodramáticos. Nos
primeiros,háaformataçãobiológicadoscontatossensoriaisentrea
criançaeseumundo,atéaconstituiçãodeumeuparcialfisiológico,
responsável pelas relações com o corpo. Os papéis sociais se
encarregam da reprodução da cultura em que o indivíduo está
inserido, o que dá forma à conserva cultural, constituindo um eu
parcial social, responsável pelas relações com a sociedade; e,
somente nos últimos, nos psicodramáticos, é possível a utilização
conscientedaespontaneidadeedacriatividade,constituindoumeu
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parcialpsicodramático,responsávelpelasrelaçõescomapsique.A
contínua interação entre os papéis e sua integração através de
vínculos operacionais vai proporcionar a emergência de um eu
inteiro,integradoem“euemim”.1
O que precisa ser reafirmado é que esse processo de
desenvolvimentodeum“eu”nãosedáindividualmente,poisnãohá
como os papéis serem desempenhados sem seus contra-papéis,
dessa forma, os papéis complementares são de fundamental
importância na constituição da identidade humana. Mas essa
constituição não assegura a permanência, pois as pessoas
desenvolvem muitos papéis e muitos contra-papéis, que ficam em
contínua interação, possibilitando, em última instância, momentos
de identidade. Essa constante aprendizagem de novos papéis é
possível através da constante interação entre o eu e suas
circunstâncias, passando por um processo que vai desdeoensaio
do novo papel, seudesempenho,apercepçãoquesetemdeleaté
a representação propriamente dita. Essas etapas que são
nomeadas pelo psicodrama de: role-taking, role-playing e
role-creating, acontecem para quase todos os novos papéis. Para
aqueles que não passam pelas três etapas, há a consideração de
umaatuaçãodepapelenãodesuarepresentaçãoverdadeira.
A atuaçãodepapelaconteceporfaltadeespontaneidadecriadora,
ou por que o indivíduo está em um “campo tenso”, ou seja,
vivenciando uma situação ameaçadora, ou por que sua
espontaneidade está em um estado patológico, distorcendo suas
percepções, dissociandoarepresentaçãodospapéis-contrapapéis
einterferindonaintegraçãodoeu.Comoospapéissãounidadesde
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ação tangíveis, eles podem ser medidos pela sociometria e
classificados segundo suas qualidades: papel rudimentar, papel
normal, papel hiperdesenvolvido, papel ausente, papel pervertido
etc. Assim, em psicodrama os comportamentos regressivos são
considerados patologias do papel e necessitam de tratamento
atravésdasociatria.
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FORMAÇÃODAIDENTIDADE
Moreno considera a criança como um gênio em potencial, que
nasce como um bebê despreparado para o mundo externo e por
isso necessita de ajuda,poissaideummundoparasitárioparaum
mundo de iniciativas, que requer logo de início o primeiro ato de
espontaneidade criadora. O parto, nessa forma de conceber o
homem, não pode ser um fato traumático, como dizem outros
psicólogos; sair do útero materno é um ato espontâneo, realizado
para sair de um contexto que já nãoatendemaisasnecessidades
desseserqueestánascendo.
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socialeasociométrica,queemvezdeiremsesubstituindodurante
o processo de desenvolvimento humano, vão se integrando umas
às outras, sem contudo desaparecer. Esse processo evolutivo é
possível através da representação dos papéis. Assim, as ações
humanas (papéis)sãocaracterizadaspelasinterrelações(vínculos)
presentesemcadaumaetodasasmatrizeshumanas.
Segundo Moreno, após o nascimento, a criança passa da matriz
materna, que é existencial e não experimentada, para a matriz de
identidade,quesedáemduasfasescomplementares.
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Há, em princípio, um eu latente, metapsicológico que vai se
constituindo durante a evoluçãodamatrizdeidentidade.Istosedá
através dos papéis psicossomáticos, que são os embriões
precursores do eu, pois há nesses papéis um esforço para se
agruparem,seunificarematravésdosvínculosquevãosefazendo.
l-Fasedaidentidadetotalouunidade
Na primeira fase, chamada de primeiro universo, onde através da
interação (arranques físicos) desenvolvem-se os papéis
psicossomáticos, há dois tempos : o período da identidade total,
quandoamatrizédesignadadecaóticaeindiferenciada,ondenão
é percebido nenhum tipo de diferenciação entre o ser e o mundo,
onde só há o presente, a proximidade e a “fome de atos”, e onde
nãohánenhumsonho(pelomenoscomoosconcebemosnosenso
comum)e,nemmesmodiferenciaçãoentrefantasiaerealidade.
No segundo tempo do primeiro universo, a matriz é designada de
identidade total e diferenciada, ou de realidade total. Aqui, já
começam os sonhos e as primeiras diferenciações entre o ser e o
mundo (eu-tu) e já há a presença da tele-sensibilidade. Quando a
criança se reconhece, ela cria a brecha e separa a fantasia da
realidade.
II - Matriz de identidade da brecha entre fantasia e realidadeEsse
segundo universo, ou matriz familiar, é a fase de se usar a
experiência (arranques mentais) de estabelecer diferenças parase
conseguir a inversão de papéis. Aqui os papéis psicossomáticos
dão sustentação aos papéis originários (pai-mãe-filho), que serão
transformados em papéis sociais, relacionados aos atos de
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realidade e papéis psicodramáticos, relacionados aos atos de
fantasia,poisapartirdasdiferenciaçõesentreoeueotu,acriança
vai ficando possibilitada de reconhecer suas necessidades e os
papéis complementares com os quais irá interagir, a fim de
satisfazê-las.Tambémdiminuia“fomedeatos”eteminícioa“fome
detransformação”.
Apósalgunsestudos,Morenosistematizaaformaçãodaidentidade,
emtrêsetapasdedesenvolvimento:
2.reconhecimentodoeu,éabuscadaidentificação,éomovimento
parachegarao“eusoueu”,quecorrespondeàtécnicadoespelho,
pois como fantasia e realidade ainda se misturam, através do
solilóquio a criançasereconhecenoespelho.Valelembrarqueem
psicodrama, identidade e identificação são diferentes. A
identificação é o movimento de se assemelhar aos outros, e só
acontecedepoisdaidentidadeformada.Oreconhecimentodoeusó
sedáapartirdadiferenciaçãodotu.
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3.reconhecimentodotu,quecorrespondeàtécnicadainversãode
papéis, pois só é possívelconhecerooutro,colocando-senolugar
dele. É aqui que pode aparecer as relações télicas e/ou
transferenciais, porque as pessoas podem perceber a si e aos
outros,ouentão,transferirsentimentosdeumarelaçãodopassado
para uma relação presente (papel complementar patológico, por
relaçãotransferencial).
Com relação ao conceito de grupo, pode-se perceber que essas
designações têm sua investigação iniciada, após a primeiraguerra
mundial, principalmente com Kurt Lewin, com seus fundamentos
sobre Dinâmica de Grupo. Moreno também começou a se
interessar pelo assunto na mesma época e elaborou os
fundamentos da Sociometria, onde pode conceituar o grupo como
uma área de integração de um certo número de pessoas, que
através de seus vínculos interrelacionados estruturam-se e
organizam-se em função de seus propósitos sociais e afetivos.
SegundoMoreno,esseestadodegrupomantémuma“interpsique”,
que engloba suas tele-relações e seus estados co-conscientes e
co-inconscientes. “ Os estados co-conscientes e co-inconscientes
são, por definição, aqueles que os participantes experimentaram e
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produziram conjuntamente e que, por conseguinte, só podem ser
reproduzidos ou representados em conjunto.” (MORENO, 1990,
p.31)
Asetapasdedesenvolvimentodamatrizdeidentidadegrupalentão
ficaramcomessaseqüência:
1.indiferenciação
2.simbiose
3.reconhecimentodoeuereconhecimentodotu
4.corredor
5.pré-inversãodepapel
6.triangulação/circularização
7.inversãodepapéis
Todo grupo inicia seu desenvolvimento a partir da etapa de
indiferenciação, onde os participantes estão apenas se aquecendo
para os atos espontâneos, necessitando de técnicas de
aquecimento físico para entrar em ação. Asimbioseacontececom
as partes psicológicas não desenvolvidas nos participantes do
grupo,háumamisturaentreoeueotu.Nestaetapa,oego-auxiliar
tem a função de guia para retratar papéis, a fim de tranquilizar a
ansiedade; senão a dependência que há nesta etapa leva à
consequência da idealização, com uma visão parcial de si e do
outro,regredindoaspessoasparasentimentosradicaisde“tudoou
nada”,“amorouódio”,etc.
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Aetapadereconhecimentodoeuedotucorrespondeàdemesmo
nome na teoria de Moreno. As etapas seguintes são etapas de
evolução de relação somente em par (eu e tu) para, relações em
três(eu-tu-ele)ecommaisdetrêsaomesmotempo(nós).Aúltima
etapa de inversão de papéis corresponde à de mesmo nome na
teoriadeMoreno.
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EXPANSIVIDADEAFETIVA
Como Moreno define a tele como “a menor unidade de afeto
transmitida de um indivíduo a outro em sentido duplo” , podemos
supor que afetividade e sensibilidade são termos utilizados
igualmente por ele, e que estão diretamente relacionados com o
fatortele.
Dessa forma, queremos acreditar que junto e em paralelo com a
matriz de identidade desenvolve-se uma matriz afetiva,
possibilitando níveis diferentes de expansividade afetiva para
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diferentespessoas,equeirásemodificandoduranteoprocessode
seu desenvolvimento, o que da mesma forma acontece com o
desenvolvimento de um processo grupal. Essa matriz afetiva se
encontra de forma integrada com asoutrasmatrizesjádelineadas,
formando um universo de interrelações que dão fundamento a
representaçãodospapéis.
Portrásdesseconceitodeexpansividadeafetivaestáaconcepção
de vínculo, que no psicodrama é a unidade humana, e portanto, é
mais que uma relação, é uma inter-relação afetivo-perceptual. De
acordocomMenegazzo,aexpansividadeafetivaéaenergiaafetiva
de uma pessoa, numa determinada situação vincular e num
momentoespecíficodoprocessogrupal.Éaforçademanutençãoe
captação que o indivíduo do grupo retém carismaticamente dos
outros indivíduos de sua mesma constelação grupal por um
determinadoperíodo.”(MENEGAZZO,1995,p.210)
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unidade contextual. “Tampouco o grupo humano está formado por
unidades individuais; é o conjunto e a integração de cada um dos
vínculosestabelecidosquepalpitamdentrodomesmogrupo.Cada
grupo é uma constelação afetiva composta por muitas unidades
relacionais entretecidas umas ás outras, formando como que uma
rede. Falando deoutromodo,assimcomocadaparoudíadeéum
átomo, cada grupo se comporta à maneira de uma molécula de
humanidade, no interior do tecido social mais amplo. Essas
constelações humanas se mantém como tais precisamenteporque
estão em constante intercomunicação afetiva.” (MENEGAZZO,
1995,p.217)
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ilimitada, e com toda segurança é maior que a do adulto. A
influência do grupo familiar se exerce, não somente sobre a
qualidade dos interesses afetivos, mas também sobre sua
quantidade, quer dizer, sobre sua expansividade. A família que
agrupaumpequenonúmerodepessoasobrigaobebêaconcentrar
sua atenção na elaboração de um pequeno número de relações
sociais que se vinculam com seus pais e irmãos. Sua sede de
expansão está, desta forma, convenientemente contida e
canalizada; adquire o hábito de contentar-se com um pequeno
número de relações. Ao crescer, só conseguem participar de um
pequeno número derelaçõestambém.Defato,oquantumdesuas
relações afetivas raramente está colocado acima ou abaixo dessa
média. Se ele tiver novos amigos ou inimigos,deixará de
interessar-se por um número igual de amigos e inimigos antigos.
Presumivelmente, seu equilíbrio não poderá manter-se acima de
certolimite."(MORENO,1972,p.72)
Não se pode pensar ou estudar a pessoa separando-se as suas
partes, nem tão pouco considerando-a imutável então, é preciso
estudar o seu processodedesenvolvimento,ondeação,emoçãoe
pensamento não existem separadamente, mas articulados. O
sentimento é uma informação sobre o significado das coisas para
as pessoas e, seu estudo, através da expansividade afetiva, é um
caminho para a investigação da consciência dos indivíduos. A
investigação da tele de um grupo pode esclarecer as relações
sociaisexistentesnasuaorganização.
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INTERVENÇÕESPSICODRAMÁTICAS
A sociometria foi sistematizada com a finalidade de "medir a
intensidade e a expansão das correntes psicológicas, que se
infiltram no seio das populações, através de uma investigação
metódica acerca da organização e evolução dos grupos e da
posição dos indivíduos nos mesmos".(MORENO, 1990, p. 62)
FazempartedaSociometria:otestesociométrico,emsuasdiversas
modalidades;otestedeexpansividadeafetiva,eosociograma,que
evidencia a estrutura grupal, suas congruências e incongruências,
suasrelaçõestélicasetransferenciais.Édentrodasociometriaque
encontramos o conceito de rede sociométrica, que é uma dada
organização de relações vinculares, resultante das interrelações
psicossociais dos indivíduos. Estes vínculos perceptuais e afetivos
são motivados pelas escolhas, espontâneasounão,baseadasnos
critérios dos indivíduos naquele momento. Assim, é possível
ocorrerem vários tipos de configurações sociométricas, quesãoas
figuras expressas pela situação pessoal decadaumedetodosos
indivíduospertencentesàrede.
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A Sociodinâmica pode ser entendida como a ligação entre a
Sociometria e a Sociatria e seu principal método são os jogos de
Papéis (Role-playing), que é empregado na exploração dos vários
vínculos grupais em que umindivíduoseencontraatravésdeseus
diversospapéis.
A Sociatria tem a finalidade de realizar tratamentos dos sistemas
sociais. Fazempartedela:apsicoterapiadegrupo,opsicodramae
o sociodrama. Moreno afirmava que com esses métodos de
tratamento, poder-se-ia atingir a cura do social mais amplo da
humanidade. O sociodrama, assim como o psicodrama, é um
método de intervenção e/ou tratamento das relações sociais,
entretanto há algumas diferenças entre eles no que tange ao foco
do trabalho com o protagonista, poisnopsicodramaháumsentido
estritonainvestigaçãodospapéisdoátomoculturaloriginário.
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trabalha contratualmente apenas com papéis sociais,semremexer
na fantasmática íntima; é o procedimento ideal para trabalhar
clinicamente com vínculos reais habituais (sociodrama de casal,
sociodrama de família) e comdiagnósticoeprevençãoinstitucional
(sociodramainstitucional).”(MENEGAZZO,1995,p.173)
criadora, a participação desinibida de todos os membros do grupo
naproduçãodramáticaenacatarseativa".(MORENO,1974,P.38)
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dá dentro de uma estrutura, que é a rigor tipicamente do
psicodrama,compostapor:3contextos,4etapas,4instrumentose
5 técnicas básicas.Assimconsidera-seque,emumpsicodramaos
indivíduos estão inseridos em três contextos diferentes: o social,
onde estão suas vinculações com a sociedade e a cultura onde
vivem; o grupal, onde estão as vinculações com os outros
indivíduos dos grupos a que pertencem; e, opsicodramático,onde
estãoas
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dentro do grupo; o protagonista, que é o elemento emergente
espontâneo que irá representar uma cena; e, a platéia, que é o
grupocomquemoprotagonistairáserelacionar.
Toda a movimentação do psicodrama se faz através de técnicas
vivenciaisderepresentaçãodepapéis,dasquaiscincosãobásicas:
o duplo, o espelho, a inversão de papéis, o solilóquio e a
interpolação de resistências. As intervenções psicodramáticas
praticadas em organizações empresariais seguem as
sistematizações criadas por Moreno na elaboração do Projeto
Socionômico, entretanto, reforçam a necessidade de se trabalhar
dentro do campo dos papéis profissionais, e não aceitar o
aprofundamento das atividades para o campo dos papéis
originários, pois dessa forma, estaria havendo uma invasão (ainda
que solicitada pelo participante), em seu núcleo interno
psicodinâmico, o que deve ser reservado para atendimentos
psicoterapêuticos.
Em outras palavras, não é recomendável que se faça terapia na
empresa,poisasrelaçõesdepoderedehierarquiaburocráticanão
permitemaconfidencialidadenecessáriae,nemsempre,respeitam
ocontratoafetivodegrupo.
O que é preciso é estar consciente que democracia nas
organizações empresariais praticamente não existe, pois a grande
maioriadelaspreferemoautoritarismojáqueestãointeressadasna
velocidadedosresultados.Eopsicodramatistanecessitaterclareza
dequaissãoascondiçõesemqueirádesenvolversuasações.
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É verdade que com a ênfase atualmente dadaparaaglobalização
na Economia, algumas estratégias administrativas, como a Gestão
da Qualidade Total, este paradigma de ritmo e volume sofreram
modificações, causando conflitodevalores,oqueabriuumespaço
para a negociação, como rudimento de democracia. Entretanto,
esse fenômeno social chamado de globalização e atualmente tão
em moda, faz parte do cotidiano das pessoas e, enquanto tal é o
espaço da alienação social mas também da superação dessa
alienação.Énessatensãoentreaalienaçãoeasuasuperaçãoque
a intervenção psicodramática propõe-se a buscar melhoria para a
qualidade de resposta no trabalho, através da melhoria na
qualidadedevidadotrabalhador.
Nas organizações empresariais, o estado em que se encontra a
espontaneidade criadora das pessoas vai interferir na
representação de seus papéis profissionais, facilitando ou
dificultando essas ações. Como os papéis profissionais são
conscientes, os trabalhadores mesmo com suas identidades
comprometidas, continuarão a atuar neles, levando sua vida para
estadosdedesgasteedestress.
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Assim, para realizar uma intervenção psicodramática será
necessário, utilizando-se de todo o referencial teórico
psicodramático, desenvolver duas etapas principais: a
pré-intervenção ou diagnóstico e, a intervenção psicodramática
propriamentedita.
Na primeira etapa, serão diagnosticados o momento e a condição
sócio-afetiva em que se encontra a organização empresarial dos
trabalhadores participantes, quanto a três aspectos básicos: a
história de sua organização (fases das matrizes); seu cotidiano
organizacional ( papéis e redes ); e seu clima organizacional
(espontaneidadeeexpansividadeafetiva)
Na segunda etapa, serão negociados com o grupo as formas da
intervençãopsicodramáticaesuasdisponibilidadesorganizacionais,
a fim de promover o “encontro organizacional”, utilizando-se para
isso os argumentos do referencial moreniano que buscam, em
última instância, a saúde social. São os próprios trabalhadores
organizados que vão estabelecer os critérios da intervenção, ou
seja, o grupo vai “dizer” qual é sua demanda, e a intervenção
psicodramática será organizada de maneira a questionar as
condições do momento, as origens das necessidades grupais, as
escolhasdecaminhosapercorrereosobjetivosquesequeratingir.
Na verdade não há um único tipo de intervenção psicodramática,
ela é uma metodologia que tem a mesma base
teórica-metodológica, mas que não tem um “script” pronto, ela vai
variar em sua ação pela influência da espontaneidade e da
criatividade do grupo, incluindo nesse grupo os psicodramatistas.
Seria mais ou menos uma construção em grupo,oqueimplicaem
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váriostiposdeconsequências,ouváriostiposderiscos,desdenão
se saber onde vai dar o trabalho, até no impasse entre a ética do
psicodramatista e a dos outros participantes. Portanto, parece ser
muito importante conscientizar-se de quais sãoosprincípioséticos
que envolvem as intervenções psicodramáticas, quais são suas
propostasdeaçãoequalésuaideologia.Nelaexisteahipótesede
que há a possibilidade de discutir, questionar, de criticar e de
esclarecerasrelaçõessociaisdentrodeumaempresa,comosefaz
no cotidiano fora da empresa, nos chamados grupos informais, e
por conta disso desvelar as relaçõesdeexploração,queexisteme
queestãoaíentrecapitaletrabalho.
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SESSÃOEPSICODRAMACLÁSSICO
Habitualmente,umasessãodepsicodramaclássicatemaduração
de 60-90 minutos e pressupõe três fases distintas: Preparação,
Dramatização e Partilha. Cada uma representa um momento
diferentenoprocesso(Moreno,1964/2006).Masvejamos,deforma
sucinta, como Moreno descreve uma sessão de Psicodrama
Clássico: O Psicoterapeuta após ter orientado o grupo e o
protagonista durante a fase de Preparação, retira-se de cena,
mantendo-secomoumobservadorpassivoduranteafaseseguinte,
Dramatização. Nessa altura entram em cena outras personagens
próximas do universo do protagonista representadas pelos
egos-auxiliares. À medida que a representação progride e que o
protagonista pode ver os outros e a si próprio segundo outra
perspectiva, o seu Eu reorganiza-se, é ganho um sentimento de
força interior, e é alcançada a purificação através da catarse de
integração. E esta segunda fase termina com a retirada dos
egos-auxiliares. Na fase que se inicia, Partilha, o público passa a
controlar a sessão. Os membros do grupo exprimem os seus
sentimentos e falam da sua própria experiência em conflitos
semelhantes aos expostos durante a representação. Atinge-se
assim uma catarse de grupo (Moreno, 1964/2006). É neste
momento que os conteúdos da cena adquirem significado
(Mesquita, 2000). As sessões de Psicodrama são geralmente
gravadas, assim como o momento de partilha. O visionamento faz
parteintegrantedaanálisequeogrupofazdasessão.ParaMoreno
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esta possibilidade foi considerada uma grande conquista (Moreno,
1964/2006).
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PSICODRAMADEHIPÓLITO
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as Seis Condições Necessárias e Suficientes e a não diretividade
(Hipólito, 2000).Começandopelas“seiscondições”quesereferem
basicamenteaotipoderelaçãoterapêuticaeàatitudedoterapeuta
face ao cliente, assentesnosprincípiosdecompreensãoempática,
de um olhar incondicional positivo, decongruêncianarelaçãoeda
demonstração clara ao cliente dessas mesmas condições
necessárias e suficientes ao sucesso terapêutico, poderemos
perceber que é este setting o principal facilitador do processo
reestruturante do cliente/grupo. E isto porquê? Porque segundo a
teoria de Rogers (1951/2004) todo o homem/organismo segue a
TendênciaAtualizante.Ouseja,oclientetememsiacapacidadede
sereestruturar,temacapacidadededesenvolveroseupotencialao
máximo, de acordo com as condições ao dispor. Desta forma, um
setting de tolerância e compreensão permitirão condições
favoráveis ao autodesenvolvimento e reestruturação.Sendoassim,
compreende-se a não-diretividade, pois o terapeuta acredita no
potencial“auto-atualizante”docliente.
Em relação à catarse, o psicodrama humanista, não a rejeita mas
não a provoca (Hipólito, comunicação pessoal, 2010). Igualmente
para Moreno, a catarse deve surgir como fazendo parte de um
processo conduzido pelo protagonista, ou seja, o fenômeno que
desencadeia a catarse é a espontaneidade, a ação dramática
espontânea (Moreno, 1964/ 2006). Pelo que percebemos, a
diferença será Moreno considerar que a catarse deverá surgir
inevitavelmente desde que a espontaneidade seja encontrada,
sendo este processo o objetivo do psicodrama; e para Hipólito a
catarsenãoécondiçãonecessáriaparaumasessãobemsucedida.
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Aliás,paraopsicodramahumanistaaRepresentação/Dramatização
não énecessáriaaobomdecorrerdoprocesso.Sendo,nestecaso
discutido em conjunto, o que poderá ter impedido os membros do
grupo de chegarem a um consenso em relação ao temaescolhido
(Hipólito, comunicação pessoal, Março, 2010). Tal facto
afigura-se-nos uma diferença abissal entre os dois métodos
psicodramáticos,justificada,pensamos,peladiferençadeatitudedo
Director/Facilitador.Masestepontoserádiscutidomaisàfrente.Em
relação à espontaneidade, Hipólito (comunicação pessoal, Março,
2010) considera que está subjacente a qualquer aplicação da
AbordagemCentrada,noentantodiscordacomaopçãodeMoreno,
porconsiderarquenopsicodramamorenianoareaprendizagemda
espontaneidade é provocada pelo “papel activo do terapeuta ao
desencadear momentos de actualização emocional” (Hipólito,
2000). Neste ponto, o da Dramatização, segundo Moreno
(1964/2006), embora o Diretor esteja num papel passivo na ação,
os Egos-auxiliares poderão funcionar como agentes catalisadores.
EmrelaçãoaoTele,emboraHipólito(2000)nadadiga,referequeo
Psicodrama Humanista está baseado nas seis condições
necessárias. Sendo assim, o conceito de empatia estará então
presente. Embora, para Moreno, Tele, seja empatia nos dois
sentidos e o movimento empático promotor do Encontro,
poderemos considerar que o conceito Tele se mantém nesta
abordagem, observado na compreensão empática do terapeuta e
napercepçãodestamesmacompreensãodoterapeutaporpartedo
cliente.
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PSICODRAMACENTRADOEMGRUPO
VejamoscomoHipólito(2000)descreveoseuPsicodramaCentrado
na Pessoa: O Psicodrama desenvolvido por João Hipólito, à
semelhança da TerapiaCentradanoClientedeCarlRogers,segue
a abordagem centrada no grupo. Assim sendo, o clienteéogrupo
que sendo constituído por pessoas, distintas entre si, pressupõe
uma actuação centrada primeiramente na pessoa/cliente e depois
no seu sistema sócio-antropológico. Encontramos aqui alguma
equivalênciacomoPsicodramadeMorenoquenãosóactuasobre
o indivíduo mas neste inserido no seu átomo social.Segundoesta
perspectiva, umasessãodepsicodramapressupõedoismomentos
distintos: o momento da desordem, quando os vários participantes
propõem temas vários para a posterior Representação, e o
momento do reordenamento, quando é alcançado um objetivo
comum e a unidade. As regras de funcionamento são explicitadas
ao grupo pelo Facilitadornoiníciodasessão;sãoindispensáveisà
criação de um clima de confiança e segurança psicológica. São
elas:presençaemtodasassessões,participardasaídadefinitivae
confidencialidade. São definidos igualmente, horários e local para
ostrabalhos.
Após este primeiro momento, cabe aos participantes a escolha do
tema para a Representação. Esta escolha é feita por consenso. É
então definido o Protagonista, o autor do tema, e os outros
actores/participantes, assumidos pelos participantes ou
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observadores-participantes.Importasalientarque,àsemelhançado
psicodramamoreniano,todospodemrecusarparticiparactivamente
como actores ou representar determinado papel. O início da
Representação é dada pelo Facilitador assim como o final. Todos
participam, embora com funções diferentes. Mesmo quem não foi
escolhidoparadesempenharnenhumpapeleselimitaàfunçãode
espectador participante pode sempre intervir, assumindo um novo
personagem ou dobrando uma das personagens propostas no
início, ou seja, exprimindo verbalmente aquilo que percebe que o
ator sente mas não diz. O próprio Facilitador pode, em caso de
necessidade, assumir a dobragem ou mesmo tocar o Protagonista
(Hipólito,comunicaçãopessoal,Março2010).Igualmenteoperíodo
de reflexão sobre a Representação e o vivido, conta com a
participação de todos (Hipólito, 2000). No final da sessão o
Facilitador faz uma síntese do que se passou na sessão,
enquadrando-a dentro dosobjectivospropostos.Apósafinalização
dos trabalhos, a equipe, facilitador e observadores-participantes,
realiza entre si um período de reflexão, essencial à supervisão ou
intervisão. As sessões assim como o períododereflexãodogrupo
podem ser gravados em vídeo, permitindo a confrontação(Hipólito
usa confrontação) com uma imagem objectiva da representação
(Hipólito, 2000). Convém salientar que este método foi igualmente
utilizado por Moreno que o considerava uma grande inovação.
Assim, em todo este processo, cada pessoa encontra-se em
relação consigo mesma, com cada um dos membros do grupo e
com o grupo, em si; diversas dimensões são trabalhadas, numa
relaçãoeu-tu-nós.Destaformaosonhopessoal,éosonhoemque
todos participam. Para Hipólito (2000) o psicodrama surge não só
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no contexto terapêutico, como meio de desenvolvimento pessoal;
mas igualmente como um modelo de formação para “técnicos e
equipes de trabalho no âmbito da psiquiatria social e do trabalho
comgrupos”(p.90).Nocontextocomunitário,comoinstrumentode
intervenção, tendo ainda a sua utilidade em psiquiatria social, ou
seja, em comunidades terapêuticas e de saúde mental, em
psicoterapiadegrupoouemanimaçãopedagógica(Hipólito,2000).
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PSICODRAMAPARACRIANÇAS
SegundoaPsicopedagogaePsicodramatista,RosaMariaSilvestre
Santos, a escola, precioso elemento de apoio, precisa rever
continuamente a metodologia aplicada e investir na formação
continuadadeseusprofessores.ComoafirmaAlíciaFernándezpara
que a criança possa aprender, nós devemos deixá-la ensinar, da
mesmaformaparaqueaquelequeensina(professor)possaensinar,
devemos deixá-lo aprender.Dificuldades de aprendizagem,
psicomotoras, separações prolongadas, perdas traumáticas e
relações conflitivas são alguns dos fatores que motivam cada vez
maispaiseprofessoresàprocuraporatendimentopsicológicopara
suascrianças.Enquantoacriançaestáenfrentandoalgumasdestas
dificuldades os seus mecanismos de defesa são acionados e
mesmo depois de aliviados por um momento, o sofrimento
emocionalnãoterminaeumadasformasdelesemanifestarocorre
através de alterações no seu comportamento. Essas Questões
ultrapassamoslimitesdofrágilpsiquismoinfantil,poissuaestrutura
psíquica ainda é muito primitiva e dificilmente ela irá suportar esta
fasesozinha.Atravésdaajudadeumterapeuta,juntamentecomos
pais, professores e outros profissionais da área de saúde, ela
poderá processar e elaborar conflitos conscientes e inconscientes,
sem contradições com o que sente, pensa e age.O Psicodrama
surgecomoumateoriapsicológicaeummétodoterapêutico,ondea
criança é compreendida como ser ativo, social e sujeito da sua
história,responsável por seus atos. Tem como instrumento a
dramatizaçãoeaaçãosimbólicaquesebuscaobjetivar,permitindo
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investigarosvínculosinterpessoaisesuascaracterísticas.Oespaço
da terapia é uma oportunidade para a criança se expressar
realmenteno“aqui-agora”eativaraindamaissuaespontaneidade
e criatividade. Através de técnicas específicas assim como Jogos
Psicodramáticos, a terapia possibilita a expressão de possíveis
angústias,pensamentos e percepções do que vivencia, além de
intervir na prevenção de distúrbios relacionais a longo prazo. Leo
Buscaglia acredita que o professor precisa se transformar
urgentementedeprofessorafetuoso,precisacolocaraçúcareafeto
na sua prática, despertar o aluno para o desejo de aprender, se
interessar por ele, rir, chorar, tocar,abraçar, olhar nos olhos e
qualificarsuapresença.
AfirmaAlíciaFernándezquealibertaçãodainteligênciaaprisionada
dar-se-á através do encontro com o perdido prazer de aprender.
Muitas vezes, uma criança precisa ser encaminhada para um
psicopedagogopararesgataresteprazer,envolvendooprofissional,
a família eaescola.APsicopedagogiaaliadaaoPsicodramabusca
resgatar o saber que a criança tem e não se dá conta que tem e
propiciarautoriadepensamento,darespaçoevozparaouviroque
a criança tem a dizer. Através dos jogos e dramatizações as
crianças elaboram suas angústias e dão novo significado aos
sofrimentos, trabalhando, na fantasia, os sentimentos reprimidos e
as cenas da vida real.A Psicopedagogia busca desenvolver os
aspectos sadios dafamíliaedacriançaeencontranoPsicodrama,
uma fonte inesgotável de recursos, porque investe no resgate da
espontaneidade e da alegria e no prazer de sentir-se uma criança
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única, original, interessante, recuperando a auto-estima perdida
pelascobrançasdiantedeinsucessos.