Beijupira News Ano 3 No 8
Beijupira News Ano 3 No 8
Beijupira News Ano 3 No 8
BEIJUPIRÁ NEWS
EDITORIAL
Ante as mudanças de comando no Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA, nos
pareceu oportuno publicar nesta edição uma coletânea das Entrevistas apresentadas Editorial 1
em cada um dos sete últimos Beijupirá News, acrescentando a Entrevista correspon-
dente ao presente Boletim, realizada com o diretor do Instituto de Ciências do Mar da INFORMAÇÕES DO SASHIMI 1
Universidade Federal do Ceará - LABOMAR/UFC, o professor Luis Parente Maia.
LUIS PARENTE MAIA 2
Cremos que se existe interesse em desenvolver a piscicultura marinha por parte
das novas autoridades federais, não será necessário recorrer a muitas fontes para sa- ITAMAR DE PAIVA ROCHA 3
ber o que pode e deve ser feito. Nessas entrevistas do Beijupirá News estão os cami-
nhos a serem trilhados. Se de fato existe o desejo firme de realmente expandir a ativi- JOMAR CARVALHO FILHO 4
dade no território brasileiro, ações concretas deverão ser iniciadas para saber como e
onde intervir para que o Brasil passe de um país das potencialidades, para outro bem BERNARD TWARDY, FERNAN- 5
diferente, que consiga usufruir concretamente das suas enormes vantagens comparati- DO BARROSO E ELCIO NAGA-
vas e competitivas, principalmente nas regiões norte e nordeste. Aliás, o MPA já vem NO
apoiando a piscicultura marinha, faltando agora transformar as informações e conheci-
FELIPE MATARAZZO SUPLICY 6
mentos gerados em produção, empregos e receitas. A partir daí podemos falar em de-
senvolvimento.
CARLOS WURMANN 7
Ainda, nesta edição tínhamos a firme intenção de publicar alguns resultados das
pesquisas financiadas pelo MPA através do CNPq sobre o cultivo de beijupirá, que es- OYVIND KARLSEN 8
tão sendo realizadas em mais de quinze universidades. Entretanto, como até o fecha-
mento da edição não conseguimos nenhuma informação, resolvemos ocupar o espaço ALBERTO NUNES 9
reservado com matérias de cultivo de beijupirá de outros países, acreditando que na
próxima edição possamos mostrar aos interessados os avanços alcançados nas pes- INFORMAÇÕES DA ÍNDIA 10
quisas brasileiras.
INFORMAÇÕES DO MÉXICO 10
Boa leitura.
bom senso e maturidade. Não é porque o e burocráticos para o cultivo do beijupirá off-
Quais os principais motivos para que a piscicul-
meu experimento com o peixe “x” apontou shore?
tura marinha brasileira ainda não tenha se de-
um possível potencial zootécnico que eu
senvolvido? O cultivo da Aqualider foi atropelado por uma
passarei a atacar qualquer outra proposta de
suporte para o peixe “y” ou “z”. Isso vem embarcação. Faltou o que? Carta náutica com
Um dos principais motivos, certamente, é a falta
acontecendo veladamente e pode ser perce- sinalização? Sinalização do próprio empreendi-
de maturidade e a pouca capacidade de organiza-
bido em algumas conversas que tenho ouvi- mento? Para se estar seguro com estruturas
ção de todos os envolvidos com esse tema. Po-
do. Não é assim que se constrói uma política em mar aberto é preciso muitas coisas, inclusi-
rém, parece-me que isto está sendo resolvido
voltada para a utilização da costa brasileira ve antevê-las. Sobre a burocracia, não me pare-
agora com o beijupirá. A aquicultura brasileira
para a produção de pescado cultivado. É ce que tenha sido tão complicado se obter o
ainda não tem tradição para desenvolver metodo-
claro que todas as espécies com um bom licenciamento. Difícil foi explicar que o empre-
logicamente de “A a Z”, tudo que deve ser feito
perfil zootécnico merecem toda a atenção. endimento não ia se apossar do litoral pernam-
para estruturar a cadeia produtiva de um deter-
Mas há que haver sabedoria para atribuir bucano como foi alardeado até pela imprensa
minado organismo. E estamos pagando um preço
prioridades para o empreendimento funcio- culta local.
alto por isso. Cada um acha que sabe como fazer
e muitos saem tentando por conta própria. Na nar. De um lado exigimos muito que o gover-
no apóie ações de fomento, de outro o que Tendo o Brasil, principalmente o Nordeste, um
prática, é isso que tem ocorrido por aí. Tanto clima privilegiado, riqueza de espécies nativas
pesquisadores, como centros de pesquisa, algu- vemos é que quando o governo apóia decla-
radamente algo, logo é criado um grupo nobres e localização estratégica, porque não
mas empresas privadas e o governo, acabam “se tem havido interesse de empresários estran-
virando” do jeito que acham que devem. Em ge- forte e contrário. Foi assim com o beijupirá.
geiros em investir na piscicultura marinha em
ral, isso acaba desperdiçando muito dinheiro. Se nossa costa?
O beijupirá é uma boa escolha? Por quê?
conversarmos com pessoas de diferentes partes
do País, veremos que surgirão mais de uma deze- Acho que está entre as melhores escolhas. A Eu arriscaria dizer que se tivéssemos uma in-
na de espécies que, na opinião dessas pessoas, espécie tem ótimos predicados. Numa ocasi- dústria, ainda que acanhada, com empresas
deveriam estar recebendo um tratamento priori- ão passei quase uma semana na costa cea- brasileiras em plena ação, seria fácil ver empre-
tário para se transformar na espécie principal da rense para escrever um artigo e, de propósi- sários estrangeiros interessados. Mas o setor
piscicultura marinha brasileira. E o curioso é que, to, optei por comer beijupirá todos os dias e ainda está aparando as arestas para então dar
na medida em que essas opiniões ou convicções em todas as refeições, exceto no café da seu salto inicial. Os investidores estrangeiros ou
não são ouvidas ou atendidas, são criados torce- manhã. Comi beijupirá de todas as formas – brasileiros certamente preferem encontrar um
dores apaixonados por uma determinada espécie, frito, cozido, ensopado – só não o comi na caminho razoavelmente pavimentado.
que se tornarão rivais de torcedores do “time” de forma de sashimi. É gostoso demais! E sob o
outra espécie. Foi o caso do beijupirá quando, ponto de vista zootécnico, não se discute a Se estivesse no governo, quais seriam suas
tempos atrás, passou a receber apoio do governo. sua capacidade de conversão alimentar e de atitudes para despertar os investidores estran-
Vi muita gente falar mal dessa espécie sem mes- engordar. Problemas? Claro que existem. geiros e nacionais a implantarem projetos de
mo a conhecer, só porque a Secretaria de Aqui- Porém, nossos pesquisadores estão aí para cultivo de beijupirá offshore?
cultura e Pesca (SEAP), hoje Ministério de Pesca e trazerem as respostas que os futuros produ-
Aquicultura (MPA), decidiu apoiar o seu cultivo. tores necessitarão para criar o beijupirá de Não acredito que o governo tenha “cartas na
forma sustentável. manga” para atrair investimentos neste mo-
Você acredita no futuro sucesso do setor de pro- mento. Ele vem tornando claras as regras para
dução aquícola? Por favor, justifique sua respos- O Brasil dispõe de outras espécies de peixes o licenciamento ambiental e para os registros
ta. marinhos com potencial zootécnico e merca- de produção, e participa ativamente apoiando
dológico semelhante ou superior ao beijupi- financeiramente os programas de pesquisa,
Acredito, e muito. Acho que o setor está amadu- apostando que isso vá, como disse, pavimentar
rá?
recendo. O encerramento das atividades da Aqua- o caminho para os investidores e gerar benefí-
lider, empresa pernambucana em que todos de- Pesquisas com algumas outras espécies cios para a sociedade. Não creio que, além
positavam uma grande esperança, uma vez que também apontam para bons resultados disso, o governo tenha algo a mais em suas
desempenharia o papel de empresa âncora, trou- zootécnicos. Publicamos na Panorama da mãos capaz de despertar investidores.
xe uma inesperada insegurança. Por outro lado, Aquicultura há algum tempo um importante
esse episódio ajudou a manter mais abertos os artigo do professor Ronaldo Cavalli, onde ele Algumas pessoas dizem que a produção de
olhos de quem está comprometido com o fomen- faz um ranking dessas espécies onde apare- peixes marinhos não ocorre porque não há
to da piscicultura marinha, para que ela se profis- cem, além do beijupirá, o robalo, a cioba, a quem produza comercialmente alevinos. Outras
sionalize sem traumas. Tivemos também a trágica garoupa, o linguado, o pargo, entre outras. afirmam que não existem laboratórios produ-
experiência do laboratório da Ilha Comprida, no Apesar da pouca abundância de peixes, a zindo alevinos porque não há demanda. Quem
litoral paulista, construído para a produção do costa brasileira tem uma grande diversidade, está correto?
beijupirá. Muito dinheiro público foi injetado e é natural que tenhamos várias boas espé-
nesse projeto sem que e a piscicultura marinha cies. Mas é justamente isso que não pode O problema é outro. Quem fala isso tem uma
brasileira tenha visto retorno algum. Mas, apesar ser usado como desculpa para não se dar a visão muito simplificada de um setor que traz
disso, eu acredito que estamos bem próximos de devida atenção para espécies como o beiju- em si bastante complexidade. Não basta ter
ver novos investimentos privados no setor aquí- pirá, por exemplo, em que já se dispõe de alevinos disponíveis para se produzir peixes no
cola. informações capazes de dar suporte a um mar. Quem fala isso talvez não saiba que mui-
cultivo comercial. Um exemplo disso se dá tas outras questões importantes estão envolvi-
Quais ações você recomendaria para o desenvolvi- das, como as necessidades nutricionais das
na área de alimentos. Embora persistam
mento da piscicultura marinha offshore brasilei- espécies com potencial, a fisiologia da reprodu-
críticas sobre a qualidade das rações até
ra? ção dessas espécies, o comportamento de
então elaboradas para o beijupirá no Brasil,
não se pode negar que a indústria já avan- grandes estruturas flutuantes em águas rasas
Para começar eu apostaria num diálogo de alto com uma certa dinâmica. Enfim, quem afirma
nível entre as principais instituições – pesquisa, çou muito acerca das necessidades nutricio-
nais dessa espécie. isso só pode estar querendo fazer uma provo-
extensão, fomento, iniciativa privada, setor de cação.
alimentos – destituído de paixão e repleto de
Quais são os principais entraves tecnológicos
ENT REVIST A ( Bei j u p i rá New s An o 2 No . 5)
5 Bernard Twardy, Fernando barroso e Elcio Nagano—Consultores em gastronomia, Fortaleza.CE)
Qual foi sua percepção do beijupirá cultiva- melhor usar o fresco. Em criatório, os processos poderão ser
do frente ao beijupirá proveniente da pesca, controlados, gerando um produto de exce-
em termos de odor, textura, cor, sabor e Indique o tipo de preparações culinárias lência. Neste caso não teria concorrente na
aparência geral? que você prefere quando compra o pro- categoria.
duto resfriado ou o congelado.
Bernard Twardy
A degustação foi um sucesso de ponta a pon- Bernard Twardy Elcio Nagano
ta. O odor do beijupirá comprado na Beira- O peixe eviscerado sem cabeça pode ser Acho que ele tem que ser mais barato que
Mar se propagou pelo ambiente, o que não usado para preparar ensopados. O filé o robalo, pois para sushi o beijupirá é um
ocorreu com aquele obtido do cativeiro, que sem pele é adequado para servir na for- pouco inferior. O preço da pescada amare-
teve odor ausente. A firmeza da carne surpre- ma de sashimi, ceviche, poché e grelha- la poderia ser uma referência.
endeu a todos: agradavelmente firme e, con- dos. Com o peixe em postas podem ser
trariando o que se pensa, não é seca, o que preparados ensopados e grelhados na Indique e pondere os aspectos positivos e
era de se esperar de um peixe grande. Li que brasa. negativos do beijupirá cultivado em ter-
o beijupirá adulto marmoriza otimamente a mos de seus atributos culinários.
gordura quando atinge 35 kg. A cor clara, que Fernando Barroso
era o que eu mais esperava, foi constatada. O O peixe eviscerado com cabeça pode ser Bernard Twardy
processo de sangria do peixe é vital e talvez temperado com sal grosso e cozido ao Quanto aos aspectos positivos, a textura, o
possa ser melhorado. Este é um fator deter- forno. O filé com pele e sem pele pode sabor, a cor e o frescor são muito impor-
minante para o consumidor final, que associa ser servido grelhado, assim como na tantes.
peixe-alvo com qualidade. A tilápia, por e- forma de sashimi e ceviche, respectiva-
xemplo, quando bem processada, alcançou mente. O peixe em posta se presta bem
um salto de qualidade. Fernando Barroso
para preparar peixadas. O custo da pesca na nossa costa é muito
elevado em função dos recursos existentes,
Fernando Barroso Qual seria a faixa de preço, por kg, que clima e, especialmente, a falta de uma fro-
O fator determinante da qualidade é o pro- o beijupirá de cultivo, eviscerado, com ta pesqueira adequadamente armada com
cessamento, o manuseio e a cadeia de frio. adequado sangramento, estocagem tecnologia para preservação e processa-
Assim, o peixe cultivado foi despescado e resfriada ou congelada poderia ser ven- mento do pescado com qualidade. Consi-
processado corretamente, mantendo uma dido? derando essa realidade, o pescado cultiva-
melhor qualidade quanto ao odor, textura,
do apresenta o caminho mais viável. O
cor e sabor. O peixe proveniente da pesca
Bernard Twardy beijupirá demonstra um forte potencial,
sofreu o desgaste da inadequada cadeia de
O beijupirá acima de 5 kg pode ser ven- tanto no quesito qualidade quanto na via-
frio, manuseio e processamento.
dido entre 23 e 26 reais/kg. bilidade econômica, pois é peixe de rápido
ganho de peso e demonstrou ser de quali-
Elcio Nagano dade.
Fernando Barroso
O beijupirá cultivado é muito superior em
Apontar pesos ideais no momento seria
todos os aspectos Elcio Nagano
impróprio. Necessitaríamos avaliar uma
série de testes para uma melhor apura- Quanto aos aspectos positivos, o frescor e
O beijupirá cultivado fresco (24 h no gelo) ção dos custos e resultados. Os peixes a suavidade do sabor é muito importante.
comparado com o beijupirá cultivado conge- oriundos da pesca tradicional com peso Com relação aos aspecto negativo, a textu-
lado (com cinco meses de estocagem em acima de 20 kg têm uma marmorização ra pouco dura tem uma importância relati-
frigorífico) apresentou diferenças significati- (finos veios de gorduras internas) maior, va.
vas nos atributos descritos acima? gerando mais sabor e melhor rendimen-
to para ser filetado. As postas da amos- Onde você acredita que o beijupirá cultiva-
Bernard Twardy tra fresca apresentaram um excelente do produzido no Brasil seria mais consumi-
A cadeia de frio foi correta e resultou em um resultado, especialmente se considerada do/vendido? (em casa, fora de domicílio
bom produto. Não foram perceptíveis dife- a faixa de peso do peixe que foi testado. ou para exportação).
renças entre os peixes.
Elcio Nagano Bernand Twardy
Fernando Barroso Resfriado entre R$10,00 a R$ 15,00/kg. Tanto em domicílios como fora de casa, e
Observou-se uma boa qualidade no beijupirá também na exportação.
congelado, mas o peixe fresco revelou os A que espécie de peixe o beijupirá se
melhores atributos porque, com cinco meses aproximaria mais em termos de preço? Fernando Barroso
de estocagem, ocorreu a desidratação natural
Com qualidade o beijupirá poderá ser con-
do produto congelado. Se tivesse sido emba-
Bernard Twardy sumido nos três segmentos.
lado a vácuo teria perdido menos umidade.
Pescada-amarela e congro-rosa.
Elcio Nagano
Elcio Nagano
Fora do domicílio.
As diferenças não foram significativas, mas
Fernando Barroso
para a comida japonesa (sushis@sashimis) é
O beijupirá tem características próprias.
ENT REVIST A ( Bei j u p i rá New s An o 2 No . 4)
6 F el i p e Matarazzo Su p li cy, CEO d a Mari n e Aq u i p men t L td a .
Mencione dois aspectos relevantes na implan- Existem outros aspectos importantes a este nome, conseqüentemente não se estará
tação de projetos de piscicultura marinha. serem considerados? arcando sozinho com os custos de marketing
de um bijupirá, beijupirá ou parambijú, só
Localização correta - a localização da fazenda Dispor de um bom laboratório – é im-
conhecidos comumente no Brasil. Há que
deve considerar a proximidade de um ponto de prescindível que ter controle sobre a
haver também cuidado na apresentação do
apoio em terra, além de uma área livre de con- produção e entrega de alevinos para a-
produto. O beijupirá é um peixe nobre e
flitos com outros usuários dos recursos costei- tender a demanda. Isto é ainda mais im-
precisa ser posicionado como tal no merca-
ros, isenta de poluição e com reduzido trânsito portante no Brasil onde, atualmente, não
do. Uma vez que se tenha investido e traba-
de embarcações. Na aquicultura marinha, mais existem laboratórios em operação que
lhado tanto para produzir esse peixe, o mes-
do que em qualquer outra atividade de produ- possam prover grandes quantidades de
mo não deve ser comercializado
ção animal, é preciso manter uma constante alevinos na qualidade e quantidade ne-
“embrulhado em jornal”. Deve-se procurar
administração de riscos. Vazamentos de óleo, cessárias. Não se precisa dispor de uma
nichos de mercado e obter uma apresenta-
de produtos químicos, ocorrência de marés- laboratório enorme com elevados custos
ção impecável do produto.
vermelhas, colisões com embarcações, furacões de manutenção, mas sim de uma planta
sub-tropicais, predadores, doenças, roubos e pequena, bem localizada e desenhada, Que fazer para não cometer os mesmos
vandalismo estão entre os principais riscos. No que permita um controle total da qualida- erros?
Brasil, alguns empresários pensam em instalar de da água. O emprego de sistemas de
A aquicultura é uma indústria em rápido e
seus empreendimentos em mar aberto para recirculação de água para os setores de
constante aprimoramento, na qual os sistemas
fugir de problemas relacionados à poluição, maturação de reprodutores, larvicultura e
de produção utilizados no passado certamente
entretanto, projetos off-shore oferecem maior alevinagem é fundamental para adquirir
mudarão no futuro. Por isto, mais do que em
risco de colisão, maiores custos operacionais e controle da situação e não ser afetado
qualquer outro negócio, é importante que não
dificuldade de acesso nos meses com mar agita- por alterações repentinas na qualidade
se tente reinventar a roda e que se compreen-
do. É importante observar que ainda não exis- de água em seu ponto de captação.
da que não há vantagens em repetir os erros
tem projetos comerciais de piscicultura mari- Usar equipamentos corretos – um erro que algum outro já cometeu. O empreendedo-
nha off-shore em operação em país algum. Esta freqüente consiste em não dar o valor rismo tem um custo alto uma vez que tudo
é uma nova fronteira e tudo ainda é experimen- merecido a um bom equipamento e achar ainda está por ser definido em termos de roti-
tal. Os países que estão buscando essa opção, que este pode ser substituído por algo nas no processo produtivo. Qualquer empresá-
possuem décadas de experiência em piscicultu- bem mais barato e disponível localmente. rio que pretende ingressar nessa atividade
ra marinha, já esgotaram sua disponibilidade de Ao se comprar um equipamento, o pro- precisa buscar as melhores informações sobre
áreas abrigadas e começam a ter problemas dutor deve considerar não somente o seu manejo, preferencialmente de projetos comer-
sanitários ou ambientais. No Brasil dispomos de preço, mas sim quantos kg de produto ele ciais já estabelecidos e em operação. Da mes-
regiões costeiras recortadas com ilhas e abrigos poderá produzir ao longo de sua vida útil, ma forma, é preciso aprender não só com os
e, enquanto ainda somos iniciantes nessa ativi- a redução de custos com mão-de-obra e que estão fazendo a coisa certa, mas também
dade, deveríamos explorar essas áreas antes de com manutenção que ele proporcionará. com os erros cometidos pelos que ousaram
partirmos para os desafios e elevados riscos e Além disso, deve ser considerado os ris- desenvolver sua própria forma de cultivar esse
custos da maricutura off-shore. cos da opção mais barata falhar justa- peixe e não foram bem sucedidos.
Respeitar a biologia do peixe – o beijupirá mente quando mais se precisar, o que
Como fazer uma pequena fortuna com o
ainda é uma espécie recente para a aquicultu- geralmente ocorre quando a fazenda está
cultivo do beijupirá?
ra e uma série de ajustes ainda estão sendo próximo da despesca, com capacidade
realizados em relação ao seu manejo. Portan- máxima, e com inadiáveis compromissos A resposta é: começar com uma grande
to, é recomendável uma postura conservadora de entrega. fortuna! Baixa capitalização é a causa núme-
para evitar a exposição à maiores riscos do ro um da falência de empresas aquícolas.
E os aspectos de mercado?
que os já inerentes à atividade. Por exemplo, Deve-se estar preparado para despesas ex-
não é aconselhável utilizar elevadas densida- Como não existe uma grande oferta tras e imprevistas. Se não se dispõe de reser-
des de estocagem logo nos primeiros ciclos. O de beijupirás capturados através da pesca, vas para passar por algum imprevisto, é me-
beijupirá não é um peixe habituado a grandes de maneira geral, os consumidores não lhor não iniciar o negócio. Um detalhado
concentrações em cardumes. É preferível co- conhecem este peixe. Isto não ocorre só Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica
meçar com densidades mais baixas e ir au- no Brasil, mas em todos os países ociden- (EVTE) e um Plano de Negócio são pontos
mentando à medida que se conquista experi- tais. A maior empresa de produção de críticos para quem busca o sucesso. Além do
ência com a espécie. Da mesma forma, esse beijupirá em operação no mundo, a Mari- que, bancos e investidores não emprestarão
peixe se reproduz naturalmente na primavera ne Farms, mantém uma bem elaborada dinheiro para quem não possuir um projeto
e verão e forçar reproduções e estocagem de campanha na Europa para apresentar esse claro e confiável. Não se deve gastar recurso
juvenis no inverno certamente não é a melhor novo peixe e para ensinar o consumidor a financeiro algum no projeto antes de possuir
abordagem, se o objetivo é obter melhor ren- prepará-lo. Se o nome “Cobia” for adota- um bom EVTE e plano. Se não se sabe como
dimento e sobrevivência com menores custos do, haverá o favorecimento de que todas e para onde ir, nunca se chega ao objetivo
e riscos. as campanhas em andamento no Brasil e almejado.
no exterior para divulgar o peixe usam
ENT REVIST A ( Bei j u p i rá New s An o 1 No . 3)
7 Carl o s Wu rman n— Co n su l to r I n tern aci o n al d e Pesca e Aq u i cu l tu ra
Pode falar um pouco sobre o recente projeto valoração econômica da espécie, formas ações corretivas e programadas, quando se
aprovado pelo CNPq/MPA sobre nutrição, de apresentação do produto, mercado fizerem necessárias. Dentro das minhas atri-
sanidade e valor do beijupirá que o senhor disponível, rentabilidade do negócio. Que- buições estão também às competências
coordena? remos responder estas questões básicas legais definidas no Edital MCT/CNPq/CT-
durante a execução de nossa pesquisa Agronegócio/MPA No 036/2009, dentre elas
Primeiro escolhemos estudar o beijupirá por
que concentrará esforços nas áreas de a prestação de contas financeiras e a consoli-
ser, neste momento, a espécie marinha com a
nutrição e engorda, sanidade e biossegu- dação do relatório técnico final referente à
maior possibilidade de alavancar a maricultura
rança, beneficiamento, mercado e valor Sub-Rede em questão.
no Brasil. Alevinos da espécie já são produzidos
agregado.
em pelo menos três laboratórios no Nordeste, Quais são os recursos envolvidos e o tempo
em escala próxima a comercial. Ensaios de Quais serão as instituições participantes de execução do projeto?
Pescadores foram expulsos da executados os estudos para a referido projeto. Dev-se lembrar que
praia e isso afeta o projeto. reprodução de alevinos. há alguns meses, o Ministério das
cooperativa "Ilha Branca", que executado pela cooperativa e com a ajuda da Marinha do México,
provocou a perda de mais de 600 apesar de que esta primeira etapa ordenou o despejo de mais de 600
engorda do beijupirá poderá sofrer propriedade privada que ainda Embora a disputa continua, os
atraso embora a primeira parte do pertencem aos pescadores dessa próprios pescadores reconhecem
i nv estim ent o desti na -se à cooperativa, o espaço disponível é que o problema poderá levar anos
Desde o começo de 2001, a Assim depois de 20 anos de mares, a produção de pescado torna-
comercializadora e processadora de existência, esta empresa sem dispor va-se cada vez mais escassa e só a
pescados e mariscos Antillana S.A. de matérias primas para processa- inovação e a inclusão de novas tec-
iniciou uma batalha para assegurar mento, teve que recorrer a estratégias nologias podiam abrir um norte dife-
sua sobrevivência. Os efeitos de mercadológicas inovadoras. Estas rente à empresa.
mudanças na taxa de cambio afeta- incluíam a importação de pescado
ram negativamente a maioria das para manter sua sobrevivência e não (A presente matéria foi traduzida do arti-
go “Cobia, La opción productiva de Antil-
fazendas de cultivo de camarão na “afogar-se” num mar de incertezas. lana” elaborada pelo jornalista Hermes
Colômbia, paralisando 29 das 31 Figueroa, e publicada no Jornal Universal
Enquanto esta mudança de de Cartagena – Colômbia, em 12/fev./12).
operações existentes, as quais a-
rumos comprometia seus fornecedo-
basteciam o mercado nacional. TEXTO COMPLETO
res pela falta de matéria prima, nos
11 Jesualdo Pereira Farias
Reitor da U FC
Luis Parente Maia
Diretor do LABOMAR/UFC
Alberto Jorge Pinto Nunes
Coordenador Geral Projeto Beijupirá/CNPq
Raúl Mario Malvino Madrid
Coordenador Sub-projeto Economia e Mercado
[email protected]
REALIZAÇÃO
APOIO
FINANCIAMENTO