ARTIGO LEONARDO-UNISUL - Ok PDF
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RESUMO: O presente trabalho discorre acerca da Lei n° 10.826 de dezembro de 2003, chamada de
“Estatuto do Desarmamento”, e tendo em tese a Ineficácia da Redução da Criminalidade, por tanto, obtendo
como área de conhecimento o Direito penal, em especial o direito de portar arma de fogo, na qual tem
pessoas que defendem a tese das armas de fogo para o uso pessoal, como por exemplo, manter sua
segurança em áreas de maiores riscos, e, também as que entendem que o uso de armas é apenas dever
das autoridades. O Estatuto do Desarmamento foi o referendo realizado no dia 23 de outubro de 2005, no
qual, por meio de votação a população decidiu sobre a venda de armas e munições no Brasil, desde então
vem sendo um tema muito polêmico e discutido no meio da sociedade. Abordaremos ainda durante os
capítulos a baixo, a evolução das armas de fogo contendo um breve estudo histórico, desde tempos
imemoriáveis até os dias atuais, o conceito das armas e diferenciando ainda as de cano longo e as de cano
curto, a evolução das leis das mesmas, do registro e enfim o estatuto do desarmamento, contendo análise
da lei e a ineficácia da mesma, seguido da conclusão. O método de estudo do referido trabalho abordado foi
feito através de pesquisas bibliográficas, referencias legais, jurisprudenciais e doutrinárias.
ABSTRACT: The present work deals with Law No. 10.826 of December 2003, called the "Statute of
Disarmament", and taking into account the Inefficiency of Reducing Crime, thus obtaining, as an area of
knowledge, criminal law, in particular the right to carry firearms in which there are people who defend the
thesis of firearms for personal use, such as maintaining their safety in areas of greater risk, and also those
who understand that the use of firearms is only a duty authorities. The Disarmament Statute was the
referendum held on October 23, 2005, in which, through a vote the population decided on the sale of arms
and ammunition in Brazil, since then it has been a very controversial topic and discussed in the middle of
society . We will also cover, during the chapters below, the evolution of firearms containing a brief historical
study, from time immemorial up to the present day, the concept of weapons and differentiating still from long
barrels and short barrels, the evolution of the laws of and the disarmament statute, containing analysis of the
law and its ineffectiveness, followed by the conclusion. The method of study of the mentioned work was done
through bibliographical research, legal, jurisprudential and doctrinal references.
1
Acadêmico do curso de Direito da UNISUL – Continente; rede Anima Educação. E-mail:
[email protected] Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de
Graduação em Direito da UNISUL – Continente. Ano 2023/1. Orientador. Profº. Mário Davi José Barbosa,
Msc. em Direito.
1. INTRODUÇÃO
2. PRECEDENTES HISTÓRICOS
Até 1997 vigorou no Brasil o Decreto- Lei 3.688/41, que tipificava o delito do porte
ilegal de armas de fogo como contravenção penal. Porém, pequena importância
que se dava ao uso de armas de fogo e a aplicação de penas insignificantes
diante da conduta geradora de grande intranquilidade social urgiam tomadas de
medidas condizentes com a gravidade que representava.
Como se pode observar foram várias as modificações da referida lei, porém ela
ainda manteve grandes falhas, recebendo também críticas doutrinárias e da opinião
pública, o que culminou, em 2003, na elaboração de um dispositivo mais rigoroso. Fala-
se da Lei nº 10.826, promulgada no mesmo ano, e mais conhecida como Estatuto do
Desarmamento.
Sobre a Lei nº 9.437/97, vale destacar a opinião de Gomes e Oliveira (2002, p. 20),
segundo os quais após ela:
Ainda conforme estes estudiosos, um dos acertos da legislação foi o cadastro das
armas de fogo, somado ao registro de seus respectivos proprietários. Em
complementaridade, Teixeira (2001, p. 23) aponta que, independentemente das falhas do
texto legal, ele teve a sua importância pelas discussões que levantou, já que seu objetivo
central era reduzir as taxas de criminalidade e coibir a violência.
Um ponto de vista mais crítico é apresentado por Facciolli (2010, p. 16), que aduz:
Vários avanços puderam ser sentidos ao longo de pouco mais de seis anos da
vigência da Lei, tais como: criminalizou o porte de arma de fogo; disciplinou o
registro e o porte; estabeleceu objetivos programáticos para o sistema; inaugurou
a “Política Nacional de Controle de Armas de Fogo”, dentre outros. A sociedade
esperava mais… – ou melhor, aspirava apenas à redução da violência armada, o
que acabou não acontecendo! A frustração social foi o principal fator que
contribuiu para ruírem as estruturas do 1º SINARM.
2. O ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Art. 19 - Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença
da autoridade:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis
a três contos de réis, ou ambas cumulativamente.
§ 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente já foi condenado,
em sentença irrecorrível, por violência contra pessoa.
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de
duzentos mil réis a um conto de réis, quem, possuindo arma ou munição:
a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quando a lei o determina;
b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexperiente no manejo de
arma a tenha consigo;
c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apodere facilmente
alienado, menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manejá-la. (BRASIL, 1941)
Artefato que tem por objetivo causar dano, permanente ou não, a seres vivos e
coisas. Arma de fogo, por sua vez, é: arma que arremessa projéteis empregando a
força expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado
em uma câmara que, normalmente, está solidária a um cano que tem a função de
propiciar continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade
ao projétil. (BRASIL, 2000).
[…] XVII – arma de uso permitido: arma cuja utilização é permitida a pessoas
físicas em geral, bem como a pessoas jurídicas, de acordo com a legislação
normativa do Exército; XVIII – arma de uso restrito: arma que só pode ser utilizada
pelas Forças Armadas, por algumas instituições de segurança, e por pessoas
físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Exército, de acordo
com legislação específica. (BRASIL, 2000).
Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de
declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:
I – Comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de
antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral
e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que
poderão ser fornecidas por meios eletrônicos;
II – Apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência
certa;
III – Comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o
manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.
§ 1º O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os
requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma
indicada, sendo intransferível esta autorização.
§ 2º A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à
arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. (BRASIL,
2008)
Por esta dimensão de análise, um dos efeitos positivos da lei foi ter conferido
caráter indispensável para a compra de maneira legal de uma arma que o cidadão
apresente seus documentos pessoais, certidões negativas no âmbito de todas as
instâncias judiciais, com o propósito de comprovação de que o mesmo não responde a
nenhum inquérito policial ou processo criminal, e apresente ainda, comprovante de
residência, e submeta-se a exames de natureza psicológica e de capacidade técnica
para manejo e manipulação de uma arma de fogo.
Facciolli (2010 p. 80), por sua vez, critica a “declaração de efetiva necessidade”,
dado seu cunho subjetivo. Nas suas palavras:
Vale dizer que, o certificado que registra a arma de fogo concede apenas ao seu
proprietário o direito de possuir a arma, direito este que abrange tão somente o interior
de sua residência. O que significa dizer que, o proprietário não poderá, portanto,
transportar a arma fora de seu domicílio, sob pena de responder na esfera penal por este
ato.
O Estatuto veta, desta forma, o porte de armas de fogo em todo território nacional,
ao mesmo tempo em que apresenta algumas exceções taxativas, em casos de
legislações próprias, bem como aquelas que o próprio estatuto permite autorização
específica, nos caso de: integrantes das forças armadas e das polícias federal, civil,
militar, rodoviária e ferroviária; profissionais que atuam como guardas municipais dos
Municípios, agentes de segurança, polícia do legislativo federal, agentes e guardas
prisionais, guardas portuários, entre outros, sendo que, tal autorização é outorgada, em
geral, com uma delimitação temporária e territorial d e validade. Além disso, ‘’ainda
dependerá da observância de alguns critérios, tais como a comprovação da real
necessidade, seja pelo exercício da profissão, seja por algum risco ou ameaça efetiva à
sua integridade física. ’’ (BRASIL, 2003).
Outro ponto controvertido do Estatuto comumente apontado por especialistas
trata-se da idade mínima para compra de uma arma de fogo, que, segundo a antiga Lei
nº 9.437/97, era de 21 (vinte e um) anos e que com o Estatuto passa a ser de 25 (vinte e
cinco) anos, conforme disciplina o artigo 28, in verbis : “É vedado ao menor de 25 (vinte
e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades
constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei”.
No tocante a este assunto, Facciolli (2010, p. 331) afirma criticamente que:
A intenção do legislador foi clara: desarmar as faixas etárias com idade inferior a
25 anos por acreditar que, com esta medida reduziria os níveis de violência e
homicídios no Brasil. A idade – 25 anos – por si só não pode ser usada como
termômetro para avaliar o grau de maturidade ou de responsabilidade do cidadão.
O uso de armas é atividade técnica, que, por si só, contribui para disciplinar o
indivíduo. O tiro não é uma modalidade desportiva?
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena –
reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a
arma de fogo estiver registrada em nome do agente. Percebe-se diante do
exposto, que a lei procurou abranger qualquer possibilidade de porte ou posse
irregular de uma arma de fogo. (BRASIL, 2003).
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não
tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4
(quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é
inafiançável. (BRASIL, 2003).
O agente que realiza disparos em áreas rurais, campos, matas e demais locais
desabitados não incorre no tipo descrito. O mesmo não ocorre com quem executa
disparos apontando uma arma para cima, nas periferias da cidade, em ruas
desabitadas ou vias públicas com pouco movimento.
Sabe-se que a eficácia da norma jurídica, consoante ao que leciona Maria Helena
Diniz (2021, p. 51) trata-se da eficácia vem a ser a qualidade do texto normativo vigente
de poder produzir, ou irradiar, no seio da coletividade, efeitos jurídicos concretos,
supondo, portanto, não só a questão de sua condição técnica de aplicação, observância,
ou não, pelas pessoas a quem se dirige, mas também de sua adequação em face da
realidade social, por ele disciplinada, e aos valores vigentes na sociedade, o que
produziria ao seu sucesso.
Com efeito, na perspectiva da análise da conceituação da autora, pode-se inferir
que a Lei nº 10.826/03 – Lei de Armas, muito embora tenha sido fomentada pelas altas
taxa de crimes perpetrados por armas de fogo no país, é ainda mais conhecida devido
ao fato de que sua aplicação no decorrer do tempo não alcançou sua finalidade, ou seja,
não gerou efeitos positivos na diminuição dos índices de violência.
Nesse sentido, Turessi (2014, p. 67), mencionando o mapa da violência 2013,
aponta alguns dados trazidos pelo instituto de pesquisa Sangari. Nas palavras do autor:
Paradoxalmente, o mapa da violência 2013 apresentado pelo instituto Sangari
aponta o crescimento global de 11,2% do número de óbitos por arma de fogo na década
2000/2010 em todo o território nacional. Aponta, também, que, nessa mesma década, a
mortalidade por armas de fogo na região Norte cresceu 195,2% e, na região Nordeste,
92,2%. Já na região Centro-Oeste, os quantitativos permaneceram praticamente
estagnados e, na região Sul, apresentaram crescimento de 53,6%.
Ainda de acordo com o Instituto Sangari, a única região a evidenciar quedas na
última década é a Sudeste, cuja redução foi de 39,7%. Em suas considerações finais,
este órgão pesquisador destaca que o vírus da imunodeficiência humana, (HIV),
responsável pela AIDS, apenas no ano de 2010, matou 12.151 pessoas de todas as
idades, sendo que, nesse mesmo ano, o número total de mortes por arma de fogo foi de
38.892 pessoas.
Na visão deste autor, deve-se levar em consideração que um dos objetivos do
Estatuto, qual seja, o de reprimir a circulação de armas lícitas (legais) foi minimamente
alcançado. Entretanto, não se pode ignorar que nenhum reflexo pode ser observado em
relação às armas de fogo ilícitas (ilegais), que são as que, de fato, povoam o território
nacional, principalmente, sabendo-se que o crime organizado não respeita fronteiras.
(TURESSI, 2014).
Para Franco (2011), o Brasil ainda ocupa um lugar de protagonista no contexto do
tráfico de armas no mundo e mesmo assim não se percebe o levantamento de um
debate sério sobre o assunto no país. Nessa linha, afirma-se que, enquanto não for
compreendida a relação objetiva entre o tráfico de drogas e as máfias transnacionais
responsáveis por municiar os conflitos armados pelo globo, inclusive os narcotráficos
cariocas, ou seja, enquanto não se levar em consideração a participação do crime
organizado transnacional nesta conta, não será possível coibir a violência e a violência
no Brasil.
Dessa feita, pode-se dizer que, embora a legislação seja rigorosa, e preveja a
existência de órgãos fiscalizadores da produção e do comércio de armas de fogo em
todo o país, com competência para distinguir as características e a propriedade de cada
uma delas, por meio do cadastro nacional com o registro da arma e do proprietário,
diversas pesquisas apontam que são justamente as armas de caráter ilegal que
movimentam a indústria do crime.
Nesse sentido, destaca-se que é visível a ineficácia do Estatuto, já que, mesmo
com a previsão de inúmeras sanções, os números indicados em pesquisas demonstram
uma realidade na qual o país ocupa um lugar entre os campeões mundiais em números
de homicídios causados por arma de fogo, e com o fator complicador de que a maioria
destes casos são praticados com uso de armas ilegais, que em parte, entram
clandestinamente pelas fronteiras do país. (SOU DA PAZ, 2015).
Segundo o Mapa da Violência de 2006, visualiza-se que em 2004, ano em que
efetivamente passou a vigorar o Estatuto do Desarmamento, o Brasil teve o número
alarmante de 48.374 homicídios. Conforme pesquisa realizada pelo IBGE, naquele ano a
população brasileira era de 180 milhões de habitantes, o que dá um índice de 26,9
homicídios para cada 100 mil habitantes.
Do ano de 1994 até o ano de 2003, dez anos anteriores ao Estatuto, o número de
homicídios registrados era de 32.603 para 51.043, um crescimento acima de 56%, sendo
três vezes maior que o aumento populacional do período que era de 18,4%. Assim sendo,
a taxa de homicídios em 1994, que já era baixa, sendo de 21,4 para cada 100 mil
habitantes, apresentava um problema sério de segurança, e que só viria a piorar ainda
mais, até os dias de hoje. (QUINTELA; BARBOSA, 2015).
Destaca-se que, no decorrer dos anos, os Mapas da Violência no Brasil, estudo
científico e especializado na evolução dos homicídios por armas de fogo no país, só
vieram demonstrando, a cada ano, um aumento no índice de homicídios e também de
outros delitos perpetrados com uso de arma de fogo.
O Atlas da Violência, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FPSP), em 2016, mostrou que o
Brasil atingiu a marca recorde de 59.627 mil homicídios em 2014, uma alta de 21,9% em
comparação aos 48.909 óbitos registrados em 2003. A média de 29,1 para cada grupo
de 100 mil habitantes também foi a maior já registrada na história do país, representando
uma alta de 10% em comparação à média de 26,5 registrada em 2004. No mundo, os
homicídios representam cerca de 10% de todas as mortes no mundo, e, em números
absolutos, o Brasil lidera a lista desse tipo de crime. (IPEA, 2016).
Vale destacar também que, de acordo com o Ministério da Justiça, mais da
metade das cerca de 16 milhões de armas de fogo que existem no país não se
encontram registradas no Sistema Nacional de Armas (SINARM). No mesmo sentido,
uma pesquisa feita pelo instituto Sou da paz, alertou para fato de que cerca de 73% das
armas curtas (revólveres e pistolas) ilegais são fabricadas dentro do país. Enquanto isso,
armamentos com poder de fogo mais elevado, como fuzis e metralhadoras chegam do
exterior, também de maneira ilegal. (SOU DA PAZ, 2015).
Assim, parece comprovado que o Brasil não vem enfrentando o assunto da
maneira mais eficaz, sendo que, a realidade mais problemática apontada pelos estudos
consultados está no comércio clandestino de armas, que adentram as fronteiras do
Brasil com armamento e munições, e sob as quais o Estatuto do Desarmamento não é
eficaz para exercer controle efetivo, assim como das armas fabricadas nacionalmente,
dado o alto índice de ilegalidade.
Nessa perspectiva, diz-se que o maior objetivo do Estatuto do Desarmamento era
proibir totalmente qualquer tipo de comercialização, circulação e porte de armas de fogo,
salvo apenas as exceções dispostas em lei. Porém, de acordo com todas as evidências
trazidas no presente trabalho, percebe-se que as taxas de violência, decorrentes de
crimes cometidos com porte de arma de fogo só crescem dia a dia. Assim, ao mesmo
tempo em que a lei forçou a promoção do desarmamento dos cidadãos que
voluntariamente entregaram suas armas para controle e registro, não foi possível
evidenciar ações planejadas para exercício da mesma regulamentação e controle
daquelas armas que provém do contrabando, bem como do uso ilegal de armas pelas
quadrilhas e pelos criminosos.
CONCLUSÃO
Diante de tudo que foi exposto no presente artigo, pode-se dizer que o objetivo
central do mesmo foi alcançado com êxito, uma vez que, através dos dados, análises e
discussões críticas levantadas, foi possível apontar a ineficácia do Estatuto do
Desarmamento no contexto brasileiro.
Dessa maneira, após compreender os precedentes históricos do controle do uso
de armas de fogo no Brasil, principalmente os contornos legislativos do tratamento
estatal dado ao assunto no decorrer dos anos, marcado em especial pela Lei nº 9.437/97
e pela Lei nº 10.826/03, foi possível analisar criticamente a aplicação das normas
relativas a este controle.
Com o Estatuto e o seu extremo rigor para aquisição e porte de armas de fogo,
pode-se constatar que um pequeno e seleto grupo de indivíduos conseguiria obtê-las de
forma legal, e um número mais restrito ainda, pode fazer o uso diário das mesmas
através do porte, estimulando de forma direta o comércio ilegal de armas e munições.
Não se pode ignorar que, o número de homicídios e os índices de violência
crescem ano a ano, trazendo cada vez mais o sentimento de insegurança social. É fato
evidente e comprovado que o Estatuto do Desarmamento teve um efeito diverso do
esperado, sendo que, pode-se analisar que só foi capaz de desarmar efetivamente o
cidadão seguidor das leis.
Vale ressaltar também que, o Estatuto teve papel importante para estabelecer
determinadas regras quanto à capacitação para manipulação de arma de fogo, sendo
importante salientar que, sem dúvidas, um indivíduo que pretende adquirir uma arma de
fogo, tem de saber manuseá-la precisamente para que dela possa fazer uso sem colocar
a segurança coletiva em risco, devido a isso, torna-se indispensável a exigência de curso
de capacitação para a aquisição de arma de fogo, assim como ocorre quando um
indivíduo necessita obter a carteira de habilitação, tendo obrigatoriamente que se sujeitar
a aulas teóricas e práticas.
Apesar dos efeitos positivos quanto ao registro e a regulamentação, é imperioso
concluir que, inúmeras são as falhas desta Lei, pois conforme dados coletados, as armas
registradas nas mãos de civis honestos, não estão ligadas aos índices de criminalidade,
sendo que, o problema maior a ser enfrentado está no crime organizado e coligado com
o tráfico de drogas.
Assim, em síntese, considerando o entendimento quanto à eficácia de uma norma
jurídica como sua aplicação e execução no âmbito social, devendo esta gerar os efeitos
para o qual foi pensada, atingindo assim seu objetivo final, pode-se dizer que, analisando
a lei 10.826/03, verifica-se que mesmo possuindo um ideal relevante o Estatuto não teve
resultado positivo, pois após vinte anos em que a referida lei foi promulgada, a
população brasileira continua a sofrer com o aumento substancial e alarmante da
violência.
É necessário encontrar novos meios para alcançar a redução da criminalidade e
violência no país, meios para restringir e coibir o tráfico ilegal de armas de fogo que é de
conhecimento de toda população. Os investimentos no setor de segurança pública são
cruciais para propiciar a baixa nos números de criminalidade, investimentos em
inteligência policial, capacitação das autoridades policiais, fornecimento treinamentos
técnicos, em prevenção de crimes, etc.
O presente tema sempre será alvo de discussões e controvérsias, diversas vias
para resolução dos problemas mencionados, no entanto, exige-se um olhar crítico sobre
a perspectiva do Brasil, criação de novas leis ou modificações da já existente, mas deve
ser resguardado o direito de cada cidadão de exercer sua liberdade de optar por possuir
ou não uma arma de fogo.
Por fim, a pesquisa realizada não anseia esgotar o assunto, sobretudo, envolvido
com enormes complexidades sociais, políticas e econômicas, mas sim, ressaltar e trazer
à tona uma alteração importante na legislação referente às armas de fogo, que conforme
comprovado no presente trabalho, foi ineficaz na busca de seu objetivo.
REFERÊNCIAS
_______. Decreto- Lei 2.848 de 2007 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível
em: <http://www6.senado.gov.br/> Acesso em: 10 mai. 2023.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 1 - 38ª Edição, 2021.
FACCIOLLI, Ângelo Fernando. Lei das Armas de Fogo. 5ª ed. Curitiba: Juruá, 2010.
GOMES, Luiz Flávio; OLIVEIRA, Willian Terra de. Lei das Armas de Fogo. 2ª ed. rev.
atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
TEIXEIRA, João Luís Vieira. Armas de Fogo: São elas as culpadas? São Paulo: LTr,
2001.
AGRADECIMENTOS