A Longa Constituinte Dos Policiais Milit 231206 154724
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A Longa Constituinte Dos Policiais Milit 231206 154724
JuarEz tavarEs
Catedrático de Direito Penal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Brasil
Luis LóPEz GuErra
Magistrado do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Catedrático de Direito Constitucional da
Universidade Carlos III de Madrid - Espanha
owEn M. Fiss
Catedrático Emérito de Teoria de Direito da Universidade de Yale - EUA
toMás s. vivEs antón
Catedrático de Direito Penal da Universidade de Valência - Espanha
ISBN: 978-85-9477-242-8
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DIREITO, HISTÓRIA E
POLÍTICA NOS 30 ANOS DA
CONSTITUIÇÃO:
EXPERIÊNCIA E REFLEXÕES SOBRE O
CONTEXTO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO
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ESA/OAB-GO e PPGDP-UFG
Coordenadores:
Rafael Lara Martins
Saulo Pinto Coelho
A LONGA CONSTITUINTE DOS POLICIAIS
MILITARES: DA PREPARAÇÃO PARA A
ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE À
REVISÃO DE 1993
Bruno César Prado Soares1
1. INTRODUÇÃO
O objetivo do presente trabalho é verificar como as polícias
militares compreenderam e se portaram no processo de elaboração
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, desde a
convocação da Assembleia Nacional Constituinte até a Revisão Cons-
titucional de 1993. Para isso, a pesquisa se divide em três partes. A
primeira parte trata da presença das polícias militares na Comissão
Provisória de Estudos Constitucionais. Na segunda parte, descreve-se
a participação das polícias militares na Assembleia Nacional Cons-
tituinte, desde a Subcomissão de Defesa do Estado, da Sociedade e
da sua Segurança até a aprovação do texto. Por fim, são trazidos os
encontros entre comandantes das polícias militares que tiveram como
objetivo preparar as instituições para a revisão de 1993. A análise
documental é precedida de revisão bibliográfica sobre o processo de
convocação da Assembleia Nacional Constituinte.
Busca-se aprofundar a construção do artigo 144 da Constitui-
ção a partir de um grupo de atores da Segurança Pública. Isso porque,
os estudos sobre a maneira como as polícias militares se inseriram
1 Doutorando em Direito pela Universidade de Brasília. Mestre em Ciência Política, com con-
centração em Direitos Humanos, Cidadania e Violência, pelo Centro Universitário Euro-A-
mericano. Professor do Instituto Superior de Ciências Policiais (ISCP/PMDF). E-mail: bruno.
[email protected].
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11 Nelson Jobim acredita que Sarney não tinha força política para enviar o Anteprojeto para
a Constituinte. Em decorrência desse fato, “a Constituinte partiu do zero – sem prejuízo da
utilização, como consulta, do projeto da Comissão dos Notáveis” (JOBIM, 2017, p. 202). O
documento circulou na Assembleia e várias partes foram copiadas na elaboração de propostas
por parte de constituintes (ROCHA, 2013, p. 64).
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12 Wellington Corsino do Nascimento era Capitão da Polícia Militar do Distrito Federal e atuou
como assessor parlamentar na Assembleia Nacional Constituinte. Ao desenvolver o trabalho
de conclusão do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, requisito para ascensão ao oficialato
superior, optou por dar conhecimento à instituição da forma como se desenvolveram os tra-
balhos de assessoramento e pressão política das polícias militares na constituinte, “mostrando
os seus erros e acertos”. (1988, p. 25, 60). O oficial citava ainda “o pesadelo da proposta do
Ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, denominado ‘Sistema Nacional de Segurança Públi-
ca’”. Sobre essa proposta, não foram encontrados documentos.
13 Para Nascimento (1988, p. 36), o documento traria algumas reivindicações equivocadas e um
“nítido tom de sobrevivência”.
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14 Como lembra Jobim, dos 559 constituintes, foram retirados os seis membros da mesa e depois
separados os constituintes em 8 comissões, cada uma com 3 subcomissões, com 21 constituin-
tes cada. Os demais 49 foram nomeados para a Comissão de Sistematização. Para a definição
das Comissões e Subcomissões, foram recortados os títulos e capítulos das constituições oci-
dentais, publicadas em uma coleção pelo Senado Federal. Aos títulos e capítulos que se repe-
tiam em todas as Constituições foi dado o nome de “temas absolutamente constitucionais”.
Para os que apareciam na maioria das Constituições, “temas relativamente constitucionais”.
Os últimos foram nomeados “temas idiossincrasicamente constitucionais” (JOBIM, 2015, p.
103-104; 2017, p. 204)
BRUNO CÉSAR PRADO SOARES 117
18 Nesse sentido, foi passada às mãos do presidente da Comissão pelo oficial de São Paulo a obra
“Direito Administrativo da Ordem Pública” (BRASIL, 1987a, p. 54). A obra foi coordenada
por José Cretella Júnior e reunia textos de Álvaro Lazzarini, Caio Tácito, Diogo de Figueiredo
Moreira Neto, Hely Lopes Meirelles, José Cretella Júnior e Sergio de Andrea Ferreira (CRE-
TELLA JR [org.], 1998).
120 DIREITO, HISTÓRIA E POLÍTICA NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO
23 Em entrevista, José Sarney informou que a redação da Constituição que estava sendo impressa
não trazia a possibilidade das Forças Armadas intervirem na ordem interna. Informado pela As-
sessoria, o ministro do Exército chamou a sua residência os ministros da Marinha, da Aeronáuti-
ca e o Chefe do Estado-Maior e determinou que os assessores convidassem o relator para o local.
Talvez sem saber que o Exército conhecia a mudança do texto, Bernardo Cabral acompanhou os
assessores à residência do ministro. Lá, o general Leônidas teria dito: “Você só sai daqui quando
a Constituição estiver com o texto que nós combinamos” e avisou aos assessores que estavam
no Congresso: “Vocês só saiam daí quando estiver impresso”. Em entrevista, o General Leônidas
negou os fatos (SARNEY, 2017, p. 51-52; GONÇALVES, 2017, p. 65).
24 Nascimento (1988, p. 33, 38-39) acredita que tenha faltado “doutrina, união e visão de futuro”
a vários Comandantes das Polícias Militares. Essa situação teria levado à falta de planeja-
mento, improvisação e heterogeneidade de doutrinas da instituição durante a Constituinte.
Possuiriam planejamento apenas as polícias militares de São Paulo e de Minas Gerais, além
da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.
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25 “Centrão” é a forma como ficou apelidado o bloco parlamentar que se denominava “Centro
Democrático”, formado no final de 1987. O grupo teria sua origem na insatisfação com os
quóruns de deliberação e com a dificuldade de mudanças do texto aprovado na Comissão de
Sistematização pelo plenário da Constituinte (JOBIM, 2017, p. 206; ROCHA, 2013, p. 81).
Dentro do bloco, teriam auxiliado as Polícias Militares os deputados Ricardo Fiuza e Hélio
Rosas (NASCIMENTO, 1988, p. 14)
26 O texto aprovado era o seguinte: Art. 169. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) III – polícias militares e corpos
de bombeiros militares. (...) §3º Às polícias militares, forças auxiliares e reservas do Exército,
cabe exercer o policiamento ostensivo e assegurar a preservação da ordem pública; subordi-
nam-se, juntamente com os corpos de bombeiros militares e as polícias civis, ao Governo dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (BRASIL, 1987h, p. 63)
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Assembleia Nacional Constituinte representou um momento
em que diversas instituições puderam defender seus pontos de vista,
buscar melhorias institucionais e melhorias para a sociedade como
um todo. Dentre essas instituições, estavam as polícias militares. As
polícias militares buscavam manter seu status constitucional, existente
desde 1934, e incorporar no texto atribuições que antes eram infra-
constitucionais, como a preservação da ordem pública.
As reuniões preparatórias das polícias militares teriam se ini-
ciado em agosto de 1985. Como resultado, o Comandante da Polícia
Militar de Minas Gerais apresentou a posição institucional perante
a Comissão Afonso Arinos. Os esforços das polícias militares foram
ignorados e a instituição correu o risco de redução considerável de suas
competências. Porém, o anteprojeto foi arquivado e serviu apenas de
consulta informal por parte dos constituintes.
As polícias militares se reuniriam novamente, desta vez atentas ao
risco de novo resultado negativo. As conclusões do III Congresso Brasi-
leiro de Polícias Militares, ocorrido em fevereiro de 1987, distribuídas
a todos os constituintes, mostram uma tentativa de vinculação com o
Exército, provavelmente em razão da força política que a instituição
ainda possuía.32 As movimentações das polícias militares se mantiveram
durante o processo e garantiram, mesmo com baixa representatividade
política, a redação de um texto sobre segurança pública que não sofreu
31 Uma rápida busca pela internet mostra a atuação, cursos e eventos promovidos pelas Assesso-
rias Parlamentares das demais Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares no Brasil
até os dias atuais.
32 É necessário aprofundamento para verificar essa hipótese. Outras hipóteses também podem
ser testadas em pesquisas futuras. Entre as variáveis está o conteúdo dos cursos obrigatórios
de carreira, a identidade institucional, a experiência profissional e as redes de contato adquiri-
das entre 1964 e a Constituinte.
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REFERÊNCIAS
AFFONSO, Leonel Archanjo. Polícia Militar e Constituição. Posição da Polícia Militar de
Minas Gerais apresentada na Comissão de Estudos Constitucionais, Comitê “Defesa do
Estado, da Sociedade Civil e das Instituições Democráticas”, em 22 de janeiro de 1986, no
Rio de Janeiro. O Alferes, Belo Horizonte, n. 9, p.99-107, abr./jun. 1986.
ARINOS, Afonso. O Anteprojeto da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais. Re-
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