Métodos e Práticas Pedagógicas
Métodos e Práticas Pedagógicas
Métodos e Práticas Pedagógicas
pedagógicas:
estudos, reflexões
e perspectivas
Vol. 5
Denise Pereira
Karen Fernanda Bortoloti
Direção Editorial Executiva de Negócios
Prof.° Dr. Adriano Mesquita Soares Ana Lucia Ribeiro Soares
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Itajaí
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Universidade Federal do Amapá
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Modo de acesso: World Wide Web
ISBN: 978-65-5379-161-9
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149
CDD: 370.7
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Bruna Cristina Bonini - CRB 9/1347
SUMÁRIO 01
Os desafios da educação física escolar na modalidade
remota em tempos de Covid-19: revisão sistemática.10
Marizete Oliveira da Silva
Thalyne Abreu Santos
Eduardo dos Santos Pinheiro
Weslei Barbosa dos Santos
Cinthya Fernanda Costa Silva
Eliana Cardoso Lapis
Nivaldo de Jesus Silva Soares Júnior
Lilian Fernanda Pereira Cavalcante
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.1
02
Pedagogia crítica e EaD – repensar o ensino online
como instrumento passível de aprender diferentes
propostas pedagógicas.................................................23
Aníbal Moraes de Albuquerque Neto
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.2
03
Os desafios da gestão escolar na educação infantil em
tempos de pandemia......................................................33
Camila Mota de Fontes
Jordania Ferreira Soares dos Santos
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.3
04
A educação em tempos de pandemia- a discursividade
no fazer docente e a presença da intertextualidade nas
aulas remotas..................................................................43
Deise Leite Bittencourt Friedrich
Antônia Cristina Valentim da Luz
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.4
05
Ensino remoto: metodologias pedagógicas
usadas nas aulas de língua portuguesa no ensino
fundamental II na Escola Estadual Drª Zilda Arns
Neumann, Manaus-AM/Brasil, no período 2020-2021..53
Carmem Maria Dos Santos Rodrigues
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.5
06
Acciones científicas y educativas sobre medio
ambiente: su protección y cuidado desde la física.....74
Cruz Marina Martínez Betancourt
Jorge Diaz Frómeta
Náyade Sainz Amador
Adilson Tadeu Basquerote
Márcio Balbino Cavalcante
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.6
07
Ludicidade, educação sensível e inclusão escolar de
crianças com dificuldades: possibilidades por uma
ótica psicopedagógica...................................................92
Isabely Cristiny Morais de Araújo
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.7
08
Trabalho empírico sobre as estratégias de leitura tema
o lixo no planeta...........................................................100
Camila Mota de Fontes
Jordania Ferreira Soares dos Santos
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.8
09
Adaptação na educação infantil: práxis humanizadora..
........................................................................................ 114
Sislaine Vieira Barbosa
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.9
10
Abordagem triangular em sala de aula: reflexão a
partir da prática do ensino de arte.............................. 119
Adriano Pequeno Santos
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.10
11
Metodologias ativas como recurso de ensino...........127
Hosana Rodrigues da Silva
Isis Ester Cruz de Oliveira
Nazineide Brandão de Souza Lucas
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.11
12
As potencialidades da narrativa teatral em processos
de empoderamento de mulheres adolescentes.........143
Jemima Tavares de Medeiros
Sulian Vieira Pacheco
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.12
13
Ensinando e aprendendo ciências a partir das artes
circenses: uma análise autobiográfica.......................157
Renan Balthazar Diana
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.13
Organizadoras...............................................................178
Índice Remissivo..........................................................179
Apresentação
Nesta coletânea de “Métodos e práticas pedagógicas: estudos, reflexões e perspec-
tivas - Volume 5”, abrange diversas áreas da educação e do ensino, refletindo a percepção de
vários autores. Os métodos pedagógicos e suas relações com as práticas de ensino inovadoras
constituem os instrumentos fundamentais desta coletânea. Por que retomar a reflexão sobre a
relação entre metodologias pedagógicas e inovação? Especialmente porque ficou claro que a
função social de uma instituição educativa é instrumentalizar, por meio de competências e habi-
lidades técnico-científicos e habilidades socioemocionais os estudantes, garantindo-lhes o poder
de interpretar e transformar as suas condições materiais de existência.
Igualmente, torna-se natural cogitar existir um processo que reivindique postura e enten-
dimento mais ativos e dialógicos nesses espaços, em todos os níveis e modalidades de ensino,
sob a mediação docente e por meio de abordagens que coadunem os anseios, expectativas,
formas de vida e interação entre os sujeitos.
Esperamos que as leituras destes capítulos possam ampliar seus conhecimentos e ins-
tigar novas reflexões.
Boa leitura!
01
Os desafios da educação física
escolar na modalidade remota
em tempos de Covid-19: revisão
sistemática
The challenges of remote school
physical education in Covid-19 times:
a systematic review
Marizete Oliveira da Silva
Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
Thalyne Abreu Santos
Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
Eduardo dos Santos Pinheiro
Graduando do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
Weslei Barbosa dos Santos
Graduando do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
Cinthya Fernanda Costa Silva
Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
Eliana Cardoso Lapis
Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
Nivaldo de Jesus Silva Soares Júnior
Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
Lilian Fernanda Pereira Cavalcante
Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto de Ensino Superior Franciscano
-IESF.
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.1
RESUMO
ABSTRACT
The Covid-19 pandemic caused social distancing and, consequently, face-to-face classes be-
came remote, which caused numerous challenges for teachers who had to adapt and plan new
methodologies to continue the teaching-learning process. This bibliographic review aimed to pre-
sent the challenges experienced by physical education teachers during remote classes during
the COVID-19 pandemic. Google Scholar and Scielo databases were consulted, from February
to June 2022. Six articles were analyzed that address the challenges of school physical education
in remote teaching in times of covid-19. It was observed that, as remote teaching was something
emergency, it showed several weaknesses such as: digital exclusion, lack of access to content,
lack of interaction, lack of parental guidance, lack of school structures and lack of professionals
prepared for this teaching modality . However, it was observed that teachers were engaged in
seeking proposals to solve the difficulties imposed by remote teaching. Remote teaching in scho-
ol physical education proved to be viable in the pandemic context. However, it is insufficient for
moments of normality, as this is a discipline that requires practical and face-to-face experiences
for better interaction between students and teachers. In addition, it noted that teachers reported
that they were not prepared for remote teaching and thus recognize the importance of continuing
education in technological practices.
|Capítulo 01 |11
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
INTRODUÇÃO
Com o cenário global de pandemia do COVID-19, foi necessário o isolamento social para
combater a transmissão do vírus. Dentre as medidas preventivas teve-se o cancelamento das
aulas presenciais, consequentemente, sem aulas de educação física. Apesar de causar inquietu-
de entre filhos e pais, algumas alternativas de atividades remotas foram adaptadas ao ambiente
domiciliar (BRASIL, 2020).
Surgiram muitos desafios nas aulas de EF, pois é uma disciplina que envolve as aulas
práticas durante todo o ano letivo, e os professores tiveram que buscar novas metodologias para
transmitir as aulas. Além disso, as atividades adaptadas pelos professores tinham como objetivo
práticas simples de atividade física, com o auxílio do professor através do ambiente virtual (PA-
CHECO, 2021).
O êxito do ensino remoto, depende de diversos fatores como: disposição dos alunos,
capacitação dos professores, qualidade da tecnologia, objetivos de aprendizagem, estratégias
de ensino, e professor precisa ter domínio das tecnologias propostas pela instituição de ensi-
no. Além disso, os estudantes também precisam dominá-las e sentir-se dispostos a aprender a
distância. A tecnologia, por sua vez, precisa ser de qualidade para garantir que o processo se
efetive (GIL; PESSONI, 2020).
Nesse sentido, exercícios e atividades físicas se mostraram eficazes para amenizar esse
quadro emocional, ajudando a reduzir os níveis de hormônios estressantes, diminuindo a sensa-
ção de insatisfação e a regular a taxa de hormônios importantes para o bom funcionamento do
organismo dentre eles a endorfina que promove a sensação de bem-estar, além da liberação da
dopamina, que proporciona a sensação de relaxamento (BATISTA, 2020).
As aulas remotas têm mostrado ser bem eficazes, pois através das mesmas os alunos
|Capítulo 01 |12
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
têm trabalhado os movimentos em casa, influenciando até mesmo seus familiares à prática. Den-
tre tantos benefícios, a prática da atividade física remota também produz endorfina, hormônio
que tem como função proporcionar o prazer e o bem-estar (RAIOL, 2020).
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo apresentar os desafios vivenciados
pelos professores de Educação Física durante as aulas remotas ao decorrer da pandemia do
COVID-19. Torna-se relevante a compreensão de práticas pedagógicas na modalidade remota,
visto que tal experiência tem sido utilizada como recurso metodológico em diversos cenários
acadêmicos e possibilitará os docentes a refletirem sobre a elaboração do plano de ensino e
práticas no ambiente escolar.
MATERIAIS E MÉTODOS
Após análise dos resumos foram analisados 6 artigos, sendo 100% artigos Brasileiros,
num recorte temporal de 2020 a 2022. As informações chaves foram extraídas dos artigos sele-
cionados e organizadas no Quadro 1 (a seguir) e os temas centrais foram discutidos em forma
de texto.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quadro 1 – Resultados da revisão sistemática
Autor (Ano) Objetivo Métodos Resultados
- Difícil organização familiar para prática de
EDF.
- Entraves nas relações entre famílias, alunos
Compreender o modo e professores.
Questionário com 20
Machado et al. como a EDF no Rio - Dificuldade na falta de acesso e de conheci-
perguntas enviadas
Grande do Sul tem se mento sobre como operar com as tecnologias
(2020) por e-mail com per-
posicionado no cenário da informação e da comunicação.
guntas estruturadas.
das aulas remotas. - Valorização de saberes conceituais em
detrimento de saberes corporais e de saberes
atitudinais.
- Falta de interação entre os sujeitos.
|Capítulo 01 |13
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
|Capítulo 01 |14
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
ao tema.
Um dos cenários negativos vislumbrados pela imposição do ensino remoto está direta-
mente atrelado à dificuldade e deficiência enfrentada pelos docentes na própria prática pedagó-
gica, haja vista que a ausência de capacitação profissional e a carência de habilidades na atu-
ação perante o objetivo de passar conteúdos diversos remotamente aos seus alunos, intervêm
inteiramente nos preceitos pedagógicos no campo de conhecimento (MARTINS et al., 2022).
Vale ressaltar, que a inexperiência quanto ao modelo remoto vai além dos métodos di-
dáticos a serem desenvolvidos e aprimorados pelos professores. Voltando-se ainda aos recur-
sos tecnológicos, outra questão a ser inserida no rol de desafios enfrentados na implantação
da modalidade remota, está a carência e até mesmo ausência de intimidade e interação com a
utilização em si dos dispositivos eletrônicos (computadores, tabletes, celulares e outros) para o
êxito do processo de aprendizagem. (TELES; MOUTINHO, 2021).
Muitos dos educadores se veem diante da sua inexperiência e despreparo para manejar
as ferramentas de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) e os Ambientes Virtuais
de Aprendizagem. Vale salientar que neste cenário desconcertante estão inseridos tanto pro-
fessores quanto alunos, que foram forçados a tentarem acompanhar e se adaptarem às súbitas
alterações no sistema de ensino emergente. (TELES; MOUTINHO, 2021).
Além dos pontos já elucidados, também cumpre salientar que se restou evidenciado
que um percentual significativo de educandos sofre significativas perdas devido a ausência de
acesso à internet, o que propicia consequentemente o difícil acesso às plataformas de ensino,
|Capítulo 01 |15
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
bem como um impedimento quanto ao recebimento e envio das atividades relevantes para que
as aulas aconteçam de forma adequada (MACHADO et al., 2020).
Foram constatados também, casos mais extremos em que os discentes residem em lo-
cais mais afastados e não possuem (cumulativamente) acesso a nenhum dos recursos necessá-
rios para acessar ao novo sistema de aulas (internet e dispositivos eletrônicos). Em consonância
a este pensamento, Cruz Filho, Santiago e Freire (2020) revelam que, mediante o sistema supra-
mencionado, as aulas são elaboradas com diversas abordagens, contudo a falta de dispositivos
eletrônicos impossibilita a realização das aulas. Tal situação culminava com a necessidade dos
pais em se descolar até a unidade escolar para ter acesso aos conteúdos escolares.
Ademais, mesmo em casos mais amenos, ainda se pode listar limitações gerados pelo
ensino remoto, como é o exemplo de muitos universitários que precisam recorrer a ferramentas
digitais para a elaboração dos vídeos e a sua posterior edição, contudo, sem conhecimento pré-
vio para desenvolver a atividade com agilidade e rapidez. Somando a todos os pontos supraci-
tados, outros entraves podem ser vislumbrados dentre os empecilhos para realização das aulas
de educação física com eficácia, como baixa resolução da câmera do celular, espaço familiar
inadequado e a falta de habilidade com programas de computador para edição de vídeos (MAR-
TINS et al., 2022).
Voltando-se aos acadêmicos de Educação Física, Martins et al. (2022) também abordam
o conteúdo de maneira a salientar a notória falta de estrutura e despreparo das Universidades,
que não escondem as dificuldades encaradas constantemente pelo corpo docente alusivas às
inovações, vulnerabilidade no domínio da apresentação de conteúdos e hesitação na conduta,
porquanto este modelo de ensino nasceu de uma eventualidade, não havendo parâmetros de
vivência do mesmo outrora.
As aulas transmitidas por meio das TIC’S, as quais auferiram méritos por solucionar uma
necessidade emergencial no auxílio das práticas pedagógicas propiciou, também, em contrapar-
tida, a ausência visual entre o emissor e os receptores do conhecimento. Seja pela grande opo-
sição dos educandos em aparecer diante as câmeras, ou pela impossibilidade de inserir a todos
no pequeno espaço de uma única tela. Os dispositivos eletrônicos, além de enfraquecerem e
quase sempre zerarem o contato visual com os alunos, foram incapazes de: gerar a solidificação
de um recinto de experiência coletiva, de certificar a supostamente presença dos alunos on-line
e consequentemente garantir absorção dos conteúdos repassados. (MARTINS et al., 2022).
|Capítulo 01 |16
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Em equidade a estas disposições, Silva (2021), revela que antes mesmo do advento da
pandemia, o espaço escolar das zonas rurais, já apresentavam diversas debilidades, ocasio-
nadas por investimentos baixos, precariedade da estrutura perante as necessidades do corpo
social. E diante da covid-19 as condições precárias vivenciadas na educação sobressaíram-se,
ocasião em que os estudantes se revelaram incapazes de assimilar o ensino, ressaltando-se que
muitas vezes não compreendiam as aulas ministradas.
Vale salientar que a temática do uso adequado dos meios eletrônicos aplicados aos
estudos também merece seu devido destaque quando faz referência à educação infantil. Mar-
tins et al. (2022) abordam o fato de que alguns alunos carecem do auxílio de alguém presente
na execução das tarefas que muitas vezes se subdivide em mais de uma etapa. A necessidade
vai desde o direcionamento da sala virtual com o uso adequado das ferramentas tecnológicas
quanto sua disposição para buscar os materiais disponibilizados por instrutores e assim poderem
realizar as atividades propostas.
No entanto, sob o prisma desta conjuntura surgem novas barreiras dentro do próprio seio
domiciliar destes alunos, que não recebem a atenção necessária, seja por indisponibilidade de
tempo dos responsáveis, quer seja devido ao grau de escolaridade destes ou até mesmo moti-
vada por um baixo interesse dos mesmos em acompanhar a vida escolar do aluno (MARTINS et
al., 2022).
Ainda sob esta óptica das necessidades na educação infantil, onde a comunicação dos
professores ocorre por intermédio dos pais, muitos educadores se depararam com indagações
voltadas à eficiência dos métodos aplicados, gerados pelo fato de que os instrutores não sabiam
se as crianças compreendiam as temáticas, se tinham gerado dúvidas, ou se eles necessitavam
de qualquer amparo. Este foi um dos pontos também abordados por Cruz Filho, Santiago e Frei-
re (2020), que dentre os desafios elencados no ensino remoto destacou a ausência de acom-
panhamento dos familiares nos estudos das crianças, enfatizando a extrema importância dessa
aproximação para o desenvolvimento de diversas habilidades dos pequenos.
|Capítulo 01 |17
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Resta claro que massivas foram as consequências ocasionadas pela situação pandêmi-
ca em todo o contexto social, econômico e educacional. Valendo mencionar, que ao se desenvol-
ver a Educação Básica remotamente, perante esta situação repleta de enredamentos, ainda são
parcos os estudos concretizados ao se encarar a problemática, em especial os que permeiam a
área da Educação Física, visando o desenvolvimento de habilidades e capacidades físicas atra-
vés de práticas corporais (MARTINS et al., 2022).
Silva (2020) aponta que a falta de interação para educação básica pode vir a trazer
complicações devido à falta de socialização essencial para o desenvolvimento do ensino-apren-
dizagem. No entanto, o ensino remoto foi uma proposta emergencial viável para os alunos não
ficassem sem rede de ensino. Todavia, faz necessário que os professores de educação física
busquem uma formação continuada nesta modalidade de ensino, pois, é necessário ter profis-
sionais qualificados e capacitados para atuar no ensino remoto.
Nesse sentido, Cruz Filho, Santiago e Freire (2020) também constataram que a escola
conseguiu aumentar e garantir a permanência dos alunos às aulas remotas. Foi observado a
uma aproximação do corpo docente com os pais. Os professores realizavam visitas às famílias
para levar as atividades impressas para os alunos quando os pais ou responsáveis não conse-
guiam ir buscar. Sendo assim, fica evidente os esforços do corpo docente para diminuir os desa-
|Capítulo 01 |18
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Ressalte-se que, nesse momento, os pais encontram-se mais envolvidos com a vida es-
colar de seus filhos. Assim, Silva (2020) constatou em seu trabalho que os pais exercem grande
influência e apoio para seus filhos, e que a família aliada a escola tem um papel muito importante
no processo de ensino.
Martins et al. (2022) enfatizaram a necessidade de realizar uma ressignificação dos con-
teúdos e das metodologias já utilizadas para buscar novas didáticas, já que a disciplina de edu-
cação física é desenvolvida na maioria das vezes de forma prática. Dessa forma, na condução
dos ensinamentos educacionais teórico/prático à distância, tanto para professores formados na
área e atuantes quanto para os estagiários tiveram que usar toda sua criatividade e seus conhe-
cimentos para transmitir o conteúdo de forma remota.
Recursos como gravação e apresentação de vídeos aulas fizeram parte dessa nova
metodologia. Observa-se também que os estudantes puderam vivenciar uma nova forma de se
trabalhar a educação física e de certa maneira desenvolveram novos métodos de ensino/apren-
dizagem (MARTINS et al., 2022).
Dessa forma, os resultados das pesquisas conduzidas por Silva et al. (2021), Machado
et al. (2020), Martins et al. (2022), Silva (2020), Teles e Moutinho (2021) e Cruz Filho, Santiago
e Freire (2020) evidenciaram a notória dedicação por parte dos professores no processo de en-
sino-aprendizagem. Mesmo não tendo conhecimento prévio de como trabalhar através de ferra-
mentas digitais, os professores se dedicaram para aprender, se qualificando e dedicando mais
horas de seu tempo para o desenvolvimento de tarefas on-line. Os autores também destacaram
que se faz necessário a continuação do processo de qualificação por partes dos docentes.
|Capítulo 01 |19
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora tenha-se notado de forma mais evidente, a ênfase da modalidade remota du-
rante o curso da pandemia devido à Covid-19, nos últimos anos, já havia se revelado de forma
clara, não apenas em nosso país, mas mundialmente, o crescimento do modo de ensino remoto,
demostrando que a modalidade se adequá de forma acolhedora a algumas das necessidades e
anseios do processo educacional.
No que diz respeito às escolas públicas temos que historicamente as mesmas vêm so-
frendo com faltas de recursos gerais que possibilitem melhor desenvolvimentos da vida escolar.
Todavia, as escolas privadas também tiveram desafios, pois as mesmas não tinham planejamen-
to e nem mesmo métodos para lidar com ensino remoto.
Por fim, pode-se afirmar que a educação física escolar revelou-se ser insuficiente em
alcançar seus objetivos mediante o trabalho de forma remota, pois a mesma necessita de um
acompanhamento mediante contato presencial e visa garantir o desenvolvimento integral dos
alunos.
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Capítulo
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RESUMO
DESENVOLVIMENTO
A Educação a distância foi oficializada no Brasil, a partir do ano de 1996, através da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Decretos e Portaria Ministerial. Os seus precur-
sores, os cursos por correspondência, e mais recentemente os telecursos, ganharam nova vida
com o advento da Internet (GONZALEZ, 2005).
A Internet chegou para promover uma grande revolução, não apenas tecnológica, mas
também social e pedagógica na Educação.
Poucas são as pessoas que atualmente nunca ouviu falar sobre algum curso a distância,
seja uma palestra, um curso básico de poucas horas, um curso técnico, uma graduação ou até
mesmo uma pós-graduação. Existem inúmeras escolas que oferecem educação no ciberespaço
em todos os estados do Brasil e em diversas cidades.
Grande parte dos cursos possuem preços acessíveis, alguns são gratuitos, como é o
caso da Fundação Bradesco que oferta cursos livres das mais variadas áreas, como cursos de
administração, informática, educação e outros.
Perante esta realidade, a EaD atualmente já integra as políticas públicas que orientam as
inciativas pedagógicas nesta área. Sendo assim, o Ministério da Educação (MEC), implementa
inúmeros projetos de ensino a distância direcionados para vários níveis de ensino.
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É neste ponto que a educação online se sobressai: a rede integra nela todos os recur-
sos de todas as formas de comunicação. A linguagem da web2, a hipermídia3, a incorporação
de hipertextos, sons, imagens, gráficos e animações, favorecendo uma comunicação bastante
dinâmica e satisfatória. Segundo Galli (2004, p. 124):
O hipertexto é uma forma de comunicação eletrônica, e pode ser entendido como a liga-
ção de um determinado texto a um ou mais textos. Porém, um hipertexto é bem mais do que uma
simples ligação entre textos, o mesmo rompe com qualquer documento tradicional. O hipertexto
apresenta vários conteúdos de forma não-sequencial, em que o leitor obtém as informações ou
os conhecimentos desejados de maneira extremamente rápida. No modelo tradicional, como um
livro, por exemplo, o leitor segue as linhas com sua visão de acordo com a sequência em que o
conteúdo é apresentado, se desejar ler outro capítulo, o leitor precisará ir até o sumário e pro-
curar qual página está o assunto que lhe interessa e folhear o livro até chegar nesta informação
desejada. Através do hipertexto, isto ocorre de forma mais simples e rápida. Por meio de hiper-
links4, que são ligações eletrônicas, o leitor necessita apenas clicar com o mouse nas palavras
marcadas como hipertexto e será redirecionado até a informação desejada de forma automática.
Diversos autores, como Lévy (1999) e Silveira (2001), demonstram novos papéis para
docentes e discentes. Ou seja, o ciberespaço5 permite uma revisão das concepções tradicionais
destes atores - alunos e professores. Aquele docente possuidor do conhecimento, cujo papel é
o de mecanicamente transmitir os saberes acumulados por estudiosos sai de foco, proporcio-
nando espaço ao orientador da construção do conhecimento por parte do aluno. Notoriamente, a
rede pressupõe também um fim à passividade do discente, tornando viável a construção de sua
autoformação e de sua autonomia no processo de aprendizagem. A instituição de ensino, como
espaço sistematizador da aprendizagem, ganha nova dimensão: a virtualidade disponibiliza in-
formação o tempo todo através das interações com as tecnologias da informação e comunica-
ção, destacando-se, aí, o papel da internet.
2 Nome pelo qual a rede mundial de computadores internet se tornou conhecida a partir de 1991, quando se popularizou devido
à criação de uma interface gráfica que facilitou o acesso e estendeu seu alcance ao público em geral.
3 Documento em hipertexto que também é capaz de mostrar imagens e som.
4 São referências dentro de um documento em hipertexto a outras partes desse documento ou a outro documento.
5 É o espaço virtual para a comunicação disposto pelo meio de tecnologia.
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Pode-se dizer que a sociedade está vivendo uma quebra de paradigmas educacionais,
novos espaços estão abertos, novas formas de conceber e fazer educação, tendo o professor
mudanças no seu papel, nesse novo espaço: as salas de aulas virtuais. Pode-se caracterizar a
sociedade atual pelo imenso volume de informação existente, pelo fácil acesso a essas informa-
ções, pelo menos por aqueles que possuem e dominam os recursos tecnológicos e telemáticos
e, também, pela constante e rápida mudança da informação. Frente a essa realidade, faz-se
necessário refletir o papel do professor. O grande uso da internet na educação proporciona um
novo contexto de atuação para os professores – o ambiente online.
Ou seja, pode-se repetir a educação tradicional, apenas por meio de algo novo – a inter-
net com seus cursos à distância. Neste caso, quebram-se barreiras geográficas, mas sem haver
mudança de paradigma no que diz respeito à concepção de ensino aprendizagem.
Os papéis dos educadores estão constantemente sendo redefinidos pelo uso da tec-
nologia, envolvendo aspectos como formas de ensino, necessidade de controle pelo professor,
concepções da aprendizagem e a percepção da sala de aula como um sistema ecológico mais
amplo, em que os papéis de docentes e discentes estão em constantes mudanças (SHERRY,
1998).
A maioria dos docentes, que utiliza atividades de ensino a distância, prefere assumir o
papel de facilitador ou moderador das interações em vez do papel do especialista que transmite
conhecimento ao aluno, e isto é favorável para estimular o aluno a ser mais ativo na busca do co-
nhecimento ou para sanar suas dúvidas. Cabe ao professor decidir o seu grau de envolvimento
e intervenção nas mais variadas atividades e contextos de comunicação em rede, optando, por
exemplo, por se excluir de uma determinada discussão e dar mais liberdade para os alunos ou,
por outro lado, manter uma ostensiva presença na comunicação para corrigir, opinar, informar,
convidar os alunos para participarem.
Lévy (1999) também enfatiza quando afirma que o papel daquele que ensina – “ensinan-
te” – não pode mais ser de difundir conhecimento. Outros meios fazem isso com mais eficácia.
Sobre a função do docente no contexto das tecnologias, ele afirma (1999, p. 171):
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Segundo Maia et al. (2005, p.4) a avaliação em EaD, resumidamente, pode ocorrer de
três maneiras distintas:
• A distância: com aplicação de testes on-line: a avaliação é feita por meio de mecanis-
mos de testes on-line a serem respondidos e enviados posteriormente para o forma-
dor por meio de e-mail ou de formulários. O tempo e o local nesta modalidade são de
escolha do aluno, porém com datas, limites para entregar os trabalhos e atividades.
Normalmente são compostas por atividades que devem ser respondidas e enviadas
ao professor, através do correio, fax ou e-mail;
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cumprir uma exigência legal, mas, sobretudo, de contribuir de forma ética para o processo de
ensino-aprendizagem. (DIAS; LEITE, 2010)
É notório que, no estudo a distância, os alunos tornam-se cada vez mais responsáveis,
cumprindo prazos, interagindo com colegas e com o professor constantemente na busca do co-
nhecimento. O aluno fica comprometido com seus horários de estudos e sem dúvida, no futuro
se tornará um profissional responsável e preparado para enfrentar as dificuldades do mercado
de trabalho. Diferentemente, nos cursos presenciais, é notório que em qualquer curso que seja,
uma grande percentagem dos discentes se acomoda, estudam pouco, não cumprem prazos de
entrega de atividades, e grande parte dos discentes se “apoiam” nos colegas para entregar uma
determinada atividade. Os alunos de cursos tradicionais são mais acomodados; os que estudam
a distância empenham-se para aprender cada tema abordado de forma mais “profunda”, o mais
importante para estes são os conhecimentos que irão adquirir ao longo do curso, já nos cursos
presenciais, muitos só pleiteiam o diploma, deixando os conhecimentos para segundo plano.
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Desde que a educação a distância foi inserida ao sistema formal de ensino no Brasil, por
meio de sua menção na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB/1996, percebe-se que a
quantidade de alunos cresce em todas as regiões do país a cada ano. Em pouco mais de dez
anos da publicação da LDB, diversos cursos surgiram com os mais variados cursos, tanto na in-
ciativa pública quanto na inciativa privada, como no caso do Estado de Pernambuco, onde o Go-
verno do Estado criou e ampliou diversos cursos técnicos na modalidade online, e também várias
instituições de ensino particulares passaram a oferecer cursos técnicos e superiores via web.
As exigências legais culminaram com a apresentação dos pareceres a respeito dos indicadores
de qualidade para a educação a distância, nos mesmos moldes dos cursos realizados presen-
cialmente. Em vista disso, pode-se visualizar que em um futuro breve, poderá utilizar apenas a
palavra Educação para designar os processos educativos sistematizados, independente de qual
tipo de modalidade for, presencial ou EaD, abandonando esta divisão de “Educação Presencial”
e “Educação a Distância”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação a distância cresce a cada ano no Brasil e em centenas de outros países es-
palhados pelo mundo, e diversas ferramentas de ensino online são adotadas e aprovadas pelos
mais variados países.
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Por meio de um estudo, fora realizado uma análise da utilização de uma sala de aula
virtual através da ferramenta virtual Moodle, desde o seu planejamento até o seu uso na prática
por discentes e docentes, e tendo aprovação de mais de 90% dos alunos de um determinado
curso técnico a distância, em que eles responderam que fariam outro curso virtual por meio da
plataforma Moodle.
Este trabalho é de grande valia para o autor que o desenvolveu e principalmente para a
sociedade atual, pois está aumentando bastante o número de pessoas que tem interesse em se
matricular em um curso online e também diversas escolas tem interesse em implantar o ensino
a distância, porém “acreditam” que a implantação de tal processo seria difícil e com alto custo, o
que não é a realidade.
Através deste estudo fica claro que nos dias de hoje, com o grande crescimento de
pessoas interessadas em estudar através da modalidade online, gestores e professores inte-
ressados, devem conhecer os benefícios proporcionados pelas plataformas de ensino online,
sendo primordial conhecer seus recursos, funcionalidades e as diversas facilidades que cada
ferramenta dispõe.
REFERÊNCIAS
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Liberdade. Londrina, Paraná, Brasil, 2005.
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|Capítulo 02 |31
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
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|Capítulo 02 |32
Capítulo
03
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.3
RESUMO
O presente trabalho buscará discorrer sobre os desafios da gestão escolar no contexto pandê-
mico e pós pandemia, numa escola de Educação Infantil da cidade de Bananeiras, no estado da
Paraíba – PB. Demonstraremos os mecanismos utilizados através do sistema de ensino, junta-
mente com os professores e a gestão escolar, para tentar auxiliar na aprendizagem das crian-
ças evitando prejuízos à sua educação. A presente pesquisa buscará com seu objetivo geral:
Analisar os desafios da gestão na escola de Educação Infantil Tia Glauce em meio a pandemia,
demonstrando através da entrevista estruturada, relatos pessoais da gestora e de professoras
de uma escola de Educação Infantil, como também fundamentos teóricos partir de pesquisas bi-
bliográficas de alguns autores que falam sobre o tema. Com este trabalho pudemos perceber um
pouco das dificuldades que a gestão e os professores enfrentarão e enfrentam na sua atuação
como educador e como se agravou com a pandemia da Covid-19 afetando ainda mais o ensino.
INTRODUÇÃO
O presente esboço busca discorrer sobre os desafios da gestão escolar no contexto pan-
dêmico e pós pandemia, numa escola de Educação Infantil da cidade de Bananeiras, no estado
da Paraíba – PB. Para tal, demonstraremos os mecanismos utilizados através do sistema de
ensino, juntamente com os professores e a gestão escolar, para tentar auxiliar na aprendizagem
das crianças evitando prejuízos à sua educação. Como ressalta Panico; Perez (2022, p.30) “É
amplamente aceito pela sociedade que a escola representa espaços e tempos de aprendiza-
gens, de transformação para a vida”. Assim, podemos observar que todo esforço que é realizado
para assegurar uma educação de qualidade para os estudantes é de muita importância, a edu-
cação é o meio para o futuro dos estudantes e devemos auxiliá-los para darem o seu melhor, e
assim possam almejar seu espaço na sociedade.
Devido a pandemia da Covid-19 ficamos ‘presos’ em nossas casas, sem contato com
amigos, familiares, escola, trabalho, durante quase dois (2) anos. Aos poucos tivemos que ir
voltando a conviver com as pessoas ao nosso redor, no trabalho, na escola, com toda cautela
necessária. A pandemia nos fez reavaliar nossas atitudes, que antes jamais poderíamos pensar
em realizar pela/para a população. A pandemia nos fez reformular a maneira do ensino, de uma
forma em que todos os segmentos do ensino tivessem que se adaptar professor, alunos, a ges-
tão, adequaram-se para um bem maior para todos, buscando que os efeitos da pandemia não
fossem grandes para a educação.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
da Covid-19?
A presente pregunta nos questiona a alcançar o seguinte objetivo geral: Analisar os de-
safios da gestão na escola de Educação Infantil Tia Glauce em meio a pandemia, localizada na
área urbana do município de Bananeiras. Como também os objetivos específicos: Identificar o
cotidiano da escola Infantil e sua importância para a comunidade; demonstrar a mudança que
ocorreu no ensino em virtude do Covid-19, como afetou a gestão escolar e a prática pedagógica
dos professores; indicar quais as ações foram realizadas na escola com relação a realidade das
crianças para o seu aprendizado. Buscaremos a partir de entrevista com os relatos da gestora e
de professores, e fundamentos teóricos de alguns teóricos que falam sobre o tema, uma abor-
dagem mais ampla das dificuldades encontradas na gestão em meio a pandemia da Covid-19.
A gestão escolar é uma área de estudo que chama a atenção pela sua vasta função den-
tro do ambiente educacional, tornado um curioso local para pesquisa. Alguns fatores contribuí-
ram para a escolha desse tema, uma vivência de familiares que atuavam na gestão, experiências
na Universidade com professores, projetos, ao levantar esses pontos é importante ressaltar que
as experiências adquiridas na Universidade com relação a Assessoria Administrativa do Campus
III – CCHSA (Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias), possibilitou que buscasse co-
nhecer ainda mais a área da gestão, na procura de saber como agir na gestão de uma escola?
Essa é uma das dúvidas que surgem quando se pensa em gerir um ambiente escola.
DESENVOLVIMENTO
Em meio a procura para chegarmos ao objetivo desta pesquisa utilizamos o método cien-
tífico indutivo, que segundo Severino (2013, p. 76) “é uma forma de raciocínio em que o antece-
dente é dado e fatos particulares e o consequente uma afirmação mais universal. Na realidade,
há na indução uma série de processos que não se esquematizam facilmente”. Assim, utilizamos
essa forma de pesquisa para facilitar a sua realização.
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do município, apenas cinco (5) se localizam na cidade, sendo duas (2) creches entre elas, as
demais vinte e sete (27) escolas estão localizadas em áreas rurais, tendo duas (2) creches entre
elas. Esta pesquisa ocorreu com a participação da gestora e de uma das professoras da escola
de Educação Infantil Tia Glauce, localizado na área Urbana, num conjunto conhecida como Au-
gusto Bezerra. O local escolhido para a pesquisa se deu por conta da relação de proximidade da
pesquisadora com a comunidade em que a escola é inserida, a escolha de relatar a resposta da
gestora e de apenas uma professora ocorreu pelo motivo de que apenas esta quis participar da
entrevista.
Utilizamos nessa pesquisa uma abordagem qualitativa, pois, está procura demostra, os
fatos, o porquê do objeto que pretende ser estudado, não foca em quantidades, pois possui dife-
rentes formas de compreender o tema estudado, Gerhardt e Silveira, (2009, p. 33),
A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com
o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pes-
quisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende
um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua
especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria.
Portanto, pretendemos seguir e roteiro que foi pré-elaborado, entretanto, durante a en-
trevista pode ocorrer novas perguntas. Buscaremos através do estudo de caso que segundo Gil,
(2002, p. 54) “Consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que
permita seu amplo e detalhado conhecimento”. Para esta análise nos basearemos na pesquisa
bibliográfica, ressaltada por Gil. (2002, p. 44),
Por fim, buscaremos a partir da pesquisa bibliográfica aperfeiçoar a exposição das análi-
ses realizadas neste estudo, de forma a atribuir uma maior compreensão, e com isso oportunizar
um entendimento ainda mais profundo do tema e objetivos propostos.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Enquanto educadores, buscamos que o ser educando consiga desenvolver suas habi-
lidades, aprendizagens, e para que isso acontece espera-se que as escolas, juntamente com
seus profissionais adotem mecanismos para que essa educação de qualidade chegue a todos.
Educação essa que teve uma ruptura causada pela Pandemia da Covid-19, a escolarização so-
freu ainda mais com as desigualdades já existentes, isso porque a precariedade social em todos
nós vivemos ficou mais evidente nesse período que tivemos que buscar formas para evitar uma
grande interrupção no ensino, como ressalta Peres (2020, p. 21),
Podemos observar, o quanto temos que buscar formas de revolucionar o ensino com
recursos limitados, a pandemia nós obrigou a conhecer a tecnologia e nos habituar com ela para
que o ensino não parasse, mas além do educador, o educando também tinha que ter recursos
tecnológicos para isso, o que tornou num país como o nosso um grande obstáculo, já que a
maior parte da população não tem condições financeiras, sociais de obter esses mecanismos,
deixando assim, ainda mais difícil a maneiras de educar a distância. O que antes fazíamos em
sala de aula não dava mais para realizar, já que não tínhamos o contato diário e direto com os
estudantes.
Essa dura realidade foi ainda mais forte na Educação Infantil, pois, nessa fase de ensino
o contato, a troca entre professor-aluno-aluno é fundamental para o seu desenvolvimento, nessa
fase é importante trazer para a sala de aula a interação entre as crianças umas com as outras
pois,
Propiciar a interação quer dizer, portanto, considerar que as diferentes formas de sentir,
expressar e comunicar a realidade pelas crianças resultam em respostas diversas que são
trocadas entre elas e que garantem parte significativa de suas aprendizagens. (BRASIL,
1998, p. 31)
Realizar essa interação entre as crianças faz com que elas se apropriem de novos sa-
beres e entrem em um meio cheio de novas aprendizagens, que se torna significativo para elas,
gostam de conversar, de brincar, de falar, as crianças tem seu tempo e precisam estar em con-
tato com o outro para enriquecer seu conhecimento.
E para que isso ocorra é importante que se tenha uma mediação através do educador,
auxiliando as crianças em todo o processo de ensino, pois,
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Pode-se ver durante esse período, a luta da gestão escolar para equilibrar a relação do
professor com as tecnologias, com os alunos e assim com os pais já que se tratando de crianças
os pais foram o grande mediador desse ensino. A gestão encontrou nesse meio um amplo de-
safio, tentar adequar os recursos vindos para tecnologias, os professores com dificuldades em
trabalhar com essas tecnologias, os pais que não tinha acesso a tecnologias, consequentemente
as crianças não tinham esse acesso, embora as tentativas, a gestão não conseguia abranger
todas as necessidades advindas com a pandemia.
A falta de dispositivos e internet nos lares é um desafio apontado por 86% dos gestores
das escolas, segundo a pesquisa TIC Educação 2020, o que leva a inferir que muitos
estudantes só terão acesso à rede ou ao uso qualificado dela por meio de computadores,
notebooks ou tablets na escola ou em outros equipamentos públicos e comunitários. De
acordo com a mesma pesquisa, 93% dos gestores escolares entrevistados relataram a en-
trega de atividades impressas durante a pandemia, enquanto o uso de plataformas virtuais
foi mencionado por 58%, evidenciando a exclusão digital de grande parte das crianças,
adolescentes e jovens. (PANICO; PEREZ, 2022, p.94)
Como retratado, o mesmo aconteceu com a gestão desta escolaridade, para suprir as ne-
cessidades da comunidade a forma encontrada foi a entrega de atividades impressas, e mesmo
assim com dificuldades, pois, muitos pais não vinham buscá-las. Gerir um espaço escolar não é
uma tarefa fácil, sempre um novo desafio aparece, pode-se observar que a pandemia usou ainda
mais dos gestores, professores, entre outros envolvidos no processo de ensino aprendizagem.
Gestora: foi bem complicado...A nossa ação dentro da gestão buscou juntamente com as
professoras trabalhar para que as crianças mesmo a distância pudesse estar em contato
com materiais de ensino, porém a realidade da comunidade não permitia, por exemplo,
o professor não podia trabalhar com uma videoaula, pois os pais, assim as crianças não
tinham acesso. Nosso empenho enquanto gestão dentro desse período foi de ser um ca-
minho entre o professor e as crianças.
Professora: foi bem difícil...Elaborar métodos de ensino que utilizasse a internet era invi-
ável para essa comunidade, trabalhar as áreas de conhecimento via vídeo seria bem mais
produtivo para as crianças como para nós, pois estaríamos vendo seu desenvolvimento.
Mas infelizmente não conseguimos trabalhar assim, só por atividades impressas, foi a
forma encontrada pela gestão para mesmo a distancia as crianças permanecerem tendo
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Com o relato das entrevistadas, seguimos logo para a próxima pergunta: “E agora após
a pandemia, como está sendo o dia a dia de vocês com os alunos?”
Gestora: É uma nova adaptação, eu falo por mim, estou apenas a dois anos nessa área, e
com a pandemia ainda não tinha trabalhado com as crianças na creche, foi tudo novo, de
primeiro momento assustador(risos), o que notamos de primeira era que essas crianças
tinham muita dificuldade, estou falando aqui das de 4 e 5 anos, onde foi o foco querendo
ou não das atividades impressas, era uma forma de auxilia-los para quando chega-se
presencialmente, eles tivessem um conhecimento das letras, números, é claro que não es-
perávamos que já soubessem, mas que pelo menos reconhecessem algumas, o que não
foi o caso. Agora com eles aqui o foco é introduzi-los a esse mundo pedagógico, usando o
lúdico que era praticamente impossível enviando as atividades impressas.
Professora: Bem melhor (risos), não tem nada melhor do que esta lado a lado com as
crianças, sabemos onde devemos focar, o que devemos fazer para ajuda-los, o que cada
um necessita, o que não era possível na pandemia, pois as vezes os pais não pegavam as
atividades, ou não as devolviam para corrigi-las, e quando as devolvia víamos na maioria
que era outra pessoa que fazia, não era as crianças. Mas como analisar sem ter contato
com elas, era muito difícil, e assim presencial não podemos observar e ver a evolução das
crianças.
Podemos perceber o quão elas estavam receosas com as aulas remotas, sem ter conta-
to com as crianças, sem ver sua evolução, como Freire (2019, p. 42) diz que,
[...] uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições
em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a
professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e
histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos,
capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reco-
nhecer-se como objeto.
Para em educador a relação com o educando é necessária para dar todo o suporte que
a criança precise, e isso não estava sendo possível com a pandemia. A volta ao “normal” trouxe
novos desafios, mas, desafios esses que estavam desejando para o seu ser educador. Segui-
mos então para a próxima pergunta: Vocês já participaram de formações continuadas? Quais?
Auxiliaram durante esse período pré e pós pandemia?
Gestora: Sim, tivemos algumas formações continuadas para a área da gestão, sobre a
BNCC, a gestão pós pandemia. Todas realizadas após a pandemia. Mas embora, não te-
nha tido formações para a gestão na pandemia, sempre fomos muito bem auxiliadas pela
secretaria da nossa cidade.
Professora: Sim, algumas antes e após a pandemia, a secretaria sempre busca nos aper-
feiçoar, entre algumas, sobre a tecnologia, a avaliação, a educação inclusiva, todas muito
importantes para nossa formação.
Gestora: A gestão sempre foi muito ampla, não é só a parte “burocrática” da escola, mas
sim a junção de todas as partes da escola, a pedagógica, a administrativa, a financeira, o
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
que torna a missão da gestão muito importante para o bom andamento do ambiente esco-
lar. Então eu considero que a gestão é a parte da escola que gere as demais com a ajuda
de todos, dos professores, cozinheiras, porteiro, auxiliar, crianças, pais, todos juntos para
que a escola seja um local de aprendizado agradável para todos, não gere-se sozinho, a
participação de todos os envolvidos da escola que faz-se gerir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante este trabalho pudemos compreender um pouco das dificuldades que a gestão e
os professores enfrentarão e enfrentam na sua atuação como educador e como se agravou com
a pandemia da Covid-19 afetando ainda mais o ensino. Tanto a gestora como os professores ti-
veram de encontrar formas para que o ensino continuasse mesmo à distância, infelizmente, não
conseguiu que esse ensino chegasse a todos, embora a busca diária para atender as necessida-
des dos alunos, que já era difícil presencialmente, com a distância ficou ainda mais complicado,
encontraram no ensino remoto uma barreira muito grande, onde apenas na sala de aula conse-
guem oportuniza aprendizados significativo para as crianças.
REFERÊNCIAS
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GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Coordenado pela
Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica – Planejamento e
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|Capítulo 03 |40
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico [recurso eletrônico]. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale,
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REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1995. (Educação e conhecimento).
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2013.
Como foi a relação gestão e sala na pandemia e agora após a pandemia, como está
sendo o dia a dia de vocês com os alunos?
Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais
esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas. Estou ciente que:
As participantes deste estudo deverão: (a) ser educadoras na escola selecionada (b) ser
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
As informações obtidas a partir deste estudo serão utilizadas somente para fins acadê-
micos, e em caso de divulgação dos resultados ou publicações científicas. A fim de manter sua
privacidade, os dados pessoais não serão mencionados, sendo identificados apenas por codino-
mes ou iniciais. A entrevista será gravada em áudio.
Se, no transcorrer da pesquisa, tiver alguma dúvida ou por qualquer motivo necessitar
posso procurar a pesquisadora Camila Mota de Fontes.
E-mail: [email protected]
|Capítulo 03 |42
Capítulo
04
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.4
RESUMO
A crescente pandemia pelo Coronavírus trouxe-nos uma série de desafios e obstáculos em nos-
so fazer docente. A nova forma de trabalharmos em diferentes níveis de ensino requereu mais
do que aderir ao ensino remoto devido ao distanciamento social. Fez com que tivéssemos que
conhecer mais dos outros e de nós mesmos, na luta pela sobrevivência não só física, mas emo-
cional e, sobretudo, tentarmos também manter nossa saúde mental de forma mais tranquila. A al-
ternativa mais recorrente, entre diversas lideranças mundiais, foi a busca por tecnologias digitais
de comunicação e informação (TDIC), como amparo e meio para ocorrer educação. Este estudo
traz algumas interpelações com o intuito de ser provocativo; de nos fazer refletir sobre o que foi
nossa prática docente em tempos de pandemia entre 2020 e 2021. É primordial nesse trabalho
fazermos uma reflexão do fazer docente em tempos de isolamento social pelo novo coronaví-
rus, apontar através de charges a presença da intertextualidade na relação: professor- aluno e
evidenciar o ensino remoto como uma das alternativas no sistema educacional, em tempos tão
sombrios, que tivemos que atravessar. Assim, esse ato linguageiro requer levar em consideração
esse contexto sócio-histórico em que o ensino remoto foi adotado, a relação dos seres envolvi-
dos, a intencionalidade ou intencionalidades, e o que é que está sendo colocado em todas as
intenções e relações de poder dentro desses discursos.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este estudo traz algumas interpelações com o intuito de ser provocativo; de nos fazer
refletir sobre o que perpassou em nossa prática docente em tempos de pandemia, principalmen-
te entre 2020 e 2021. Também tem o objetivo de levar muito da polifonia dos educadores, que
encontraram nas conversas via celular com os colegas, apoio para dizer: “precisamos estar bem
e mostrarmos nosso otimismo na “web” aos nossos alunos”, “estamos exaustos e sobrecarrega-
dos, mas temos que continuar bem por eles e por nós mesmos”! “Vamos sobreviver”? “Vamos,
né gente?!” “Espero que todos estejam bem e com saúde”, “Ah, só para avisar já enviaram os
diários de classe”? “Só para lembrar, se não já viu o que sobra pra nós”! “A coordenadora já pos-
tou no grupo”. “Força colegas, temos família também!”
|Capítulo 04 |44
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Ao longo de nossa história temos registros de grandes epidemias e seus efeitos catastró-
ficos para todo os seres humanos em nível mundial. Como exemplo, podemos mencionar a Gri-
pe Espanhola que com a infecção de muitas pessoas entre os anos de 1918 e 1919 deixou mais
de 1 milhão de mortos. Em 09 de março desse ano de 2020 a Organização Mundial da Saúde
(OMS), por meio do Diretor-Geral Tedros Adhanom Ghebreyesus,em entrevista coletiva em Ge-
nebra na Suíça, declara que a COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo Sars-CoV-2
(coronavírus), que se espalha entre humanos, principalmente por meio de gotículas produzidas
quando uma pessoa infectada fala, tosse ou espirra. Dois dias depois, a OMS anuncia que a
COVID-19 se configura em pandemia, devido aos mais de 118 mil infectados, em 114 nações
naquela ocasião, sendo que 4.291 pessoas já haviam morrido pela doença. (OMS, 2020)
Devido as pandemias afetarem toda a ordem social, a sociedade como um todo teve que
buscar alternativas de como tentar conter o avanço do vírus e a segurança das pessoas em todo
o mundo. Porém, reorganizar-se em todos os seus aspectos, inclusive em relação ao sistema
educacional e viabilizar novas formas de atender o fazer didático-pedagógico, o que não está
sendo uma tarefa tão fácil para os professores em diferentes níveis de ensino.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou como medida de prevenção neste mo-
mento atípico, o máximo de distanciamento social, uma vez que as aglomerações fazem com
que o vírus se alastre. O que no dia a dia já se tornou bastante complicado, em termos de es-
colas e universidades teve-se que adotar medidas urgentes, a fim de evitar a proximidade en-
tre todo corpo escolar, uma vez que alunos e professores estão diretamente em contato, num
ambiente fechado, como a sala de aula em média com 35 pessoas. A Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),em 18 de março de 2020, afirmou que
pelo menos 85 países fecharam parcial ou totalmente as atividades presenciais nas escolas para
tentar conter a propagação do novo coronavírus, impactando mais de 776,7 milhões de crianças
e jovens estudantes, razão pela qual a organização optou por apoiar o ensino e aprendizado à
distância e inclusivo, sendo isso discutido em um evento virtual, do qual participaram os gover-
nos de 73 países. (UNESCO, 2020).
Diante dos desafios surgidos no novo desenrolar desse cenário educacional, e ainda
mais, nós brasileiros estarmos bem longe dos outros países na luta por termos uma vacina emer-
gencial, realidade bem distinta dos nossos vizinhos de Mercosul, para a felicidade deles e infor-
túnio nosso. Os companheiros de América Latina tão hostilizados pelo atual governo brasileiro:
Argentina, Bolívia, Chile, México, Uruguai e Venezuela já estão à frente do Brasil e começaram
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
a vacinar sua população, um respeito à integridade de seus cidadãos e, que deveria ser de todo
bom governante, garantir a sobrevivência de seu povo; porém, é somente escárnio o que o atual
“presidente” lega a toda essa nação. Enquanto essa população brasileira não reconhecer que
está à deriva, simplesmente largada a própria sorte ou ao acaso, uma amostra grátis do que um
governo fascista é capaz de fazer a uma nação, continuaremos a ser negligenciados em todos
os aspectos; sendo nós mesmos, os reféns de uma falsa democracia neste país.
Mais de mil pessoas estão morrendo por dia de Covid-19 no Brasil, não temos nenhum
respaldo do atual governo Bolsonarista que ainda usa das mídias para ironizar que a pandemia
é “apenas uma gripezinha”. Triste vermos pessoas queridas próximas padecendo nos hospitais,
em que muitos deles, já não os veremos mais. Tudo isso tem reflexo constante no fazer de nos-
sas atividades docentes, afinal estamos enclausurados em nossas casas, a fim de sobreviver-
mos e não nos contaminarmos, porém, estamos tentando nos conectar com os alunos e outros
colegas enquanto estamos nos revezando entre atividades domésticas, idas ao supermercado
e farmácias. Podemos elucidar com a charge abaixo de autor desconhecido, que circulou pelos
grupos de “Whatsapp”, o que representa o ensino remoto e o fazer docente na pandemia:
Figura 1- Charge de autor desconhecido - O fazer docente na pandemia
A relação da Charge com o fazer do professor no ensino remoto estão imbricadas nessa
relação semiótica. Essa relação em que o ato de linguagem não se esgota numa interpretação
primária da imagem e sua primeira significação explícita. Conforme Charaudeau (2008, p.17)
este explícito significa outra coisa além do seu próprio significado algo que é relativo ao contexto
sócio-histórico. Nesse sentido, um ato de linguagem como o que acima referenciamos pressu-
põe que nos interroguemos a seu respeito sobre as diferentes leituras que ele é suscetível de
sugerir. O que nos leva a considerá-lo como um objeto duplo, constituído de um Explícito (o que
é manifestado) e de um Implícito (lugar de múltiplos que dependem dessas circunstâncias de
comunicação)
Assim, esse ato linguageiro requer levar em consideração esse contexto sócio-histórico
em que o ensino remoto foi adotado, a relação dos seres envolvidos, a intencionalidade ou in-
tencionalidades, e o que é que está sendo colocado em todas as intenções e relações de poder
dentro desses discursos: a relação do fazer didático-pedagógico, as relações de sentido entre os
sujeitos, a interação entre os sujeitos e o uso da tecnologia, sem capacitação e a acessibilidade,
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e as atividades linguageiras dos sujeitos envolvidos em todo esse universo discursivo e de como
os docentes estão trabalhando as tecnologias digitais de comunicação e informação ( TDIC).
Perante este impasse, a sociedade vive uma verdadeira busca por alternativas para que
a educação seja ofertada de uma outra maneira, já que é necessário buscar novos meios de
ensinar, dada a orientação de isolamento social pela OMS. A alternativa mais recorrente, entre
diversas lideranças mundiais, foi a busca por tecnologias digitais de comunicação e informação
(TDIC), como amparo e meio para ocorrer educação.
Cabe salientar também que não somos contra à tecnologia, mas que se possa ter capa-
citação a todos os docentes a longo prazo, para que muitos deles já estivessem habituados ao
uso dela. Sabemos que a tecnologia é um mecanismo capaz de ampliar a eficiência de todas
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A educação brasileira vem passando por muitos sucateamentos e embates desde o ter-
rível golpe de 2015 impetrado contra à Presidente Dilma. Em que tínhamos um maior acesso a
recursos tecnológicos e capacitação, uma educação que fazia jus ao que está escrito em nossa
constituição federal. O ensino passou a ser um direito estendido a toda população, pois conforme
seu Art. 205: “A educação é um direito universal, sendo dever do Estado e da família garantir que
todos tenham acesso.” (BRASIL, 1988).
Já em 1996, temos o marco regulatório da EaD, que ocorreu com a promulgação da Lei
Nº 9.394, (LDB) e o estabelecido no Art. 80: “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e
a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino,
e de educação continuada.” (BRASIL, 1996, p. 43). Este Artigo foi regulamentado por meio do
Decreto Nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que trazia em seu texto uma definição da EaD
controversa, conforme o exposto no seu Art. 1º:
Nesse sentido, percebe-se claramente que a modalidade traz o estudante como sujeito
central do processo de ensino e aprendizagem, posicionando-o como autodidata ou autônomo,
apenas mediado por recursos didáticos e não volta o olhar para a qualidade do ensino, destacan-
do a EaD como uma alternativa de reforço na aprendizagem sem a presença de uma interação
e relação efetiva entre os sujeitos ali imbricados.
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Por outro lado, o que vivenciamos hoje em 2020 muito antes da pandemia nos atemo-
rizar é um total descaso e corte de verbas tanto dos Instituo Federais, como das universidades
Federais. Estamos sendo subjugados com corte de verbas e um verdadeiro sucateamento da
educação, com falta de recursos tecnológicos e humanos, para que uma educação pública e de
qualidade possa ser verdadeiramente e significativamente acontecer.
É fato de que na EaD “o estudante pode definir o melhor horário e local para estudar,
conforme seu ritmo e estilo de aprendizado, por meio de materiais didáticos que facilitem a me-
diatização dos conhecimentos e promovam a autoaprendizagem.” (COSTA, 2017, p. 61). Con-
tudo, de acordo com Lévy (2000), todas as relações humanas podem ser reinventadas por meio
das TDICs e a educação passa a ser inserida no hall dessas mudanças presentes na sociedade,
em tempos que as pessoas precisam se distanciar fisicamente.
A conectividade pode e deve ser utilizada como recurso educacional, mas requer um
plano de trabalho que permita ao estudante ser ativo no processo de ensino e aprendizagem. “O
que as novas tecnologias podem nos trazer são oportunidades ainda mais ampliadas, em meio
também a enormes riscos e desacertos.” (DEMO, 2009, p.53).
Seguindo esse mesmo raciocínio, Santos (2010, p.65) destaca que: “É certa a necessi-
dade de uma educação tecnológica, mas não tecnologizada, robotizada pelo engessamento de
conteúdos e técnicas que só serão capazes de formar o aluno uma extensão da máquina e não
o aluno gerente da máquina”. Pelos desafios das transformações do tempo presente, temos o
exemplo na Educação Básica que exige as condições de tempo e espaço próprios que devem
ser mediatizados pelo olhar, pelo encontro, pela relação da família com a escola, pela interdisci-
plinaridade, pelo conhecimento construído pela experiência.
Nesse sentido, o uso da tecnologia digital tem seu uso sendo indicado como alternativa
para suprir as lacunas deixadas diante da impossibilidade de realizar aulas presenciais, ou seja,
a educação pode ser mediada pelos recursos multimeios e o ensino remoto se constitui em uma
nova possibilidade de ensinar e aprender. Apresentar o ensino remoto como uma alternativa para
mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus na educação, pode ser um bom exemplo do
que tem sido feito em diversos países do mundo.
No entanto, o autor supracitado vem ressaltar que o ensino remoto não é sinônimo de
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
aula online, o que concordamos plenamente. O ensino remoto, não é EaD, mostra-se tão somen-
te como “uma ferramenta” que está sendo utilizada pelos professores, a fim de buscar estimular
a aprendizagem a distância. Por meio de atividades bem estruturadas, conteúdos bem equili-
brados, de acordo com o hall de disciplinas que podem ser ofertadas pelos cursos e que está
cumprindo seu papel perante a pandemia do novo coronavírus. O momento requer uma reflexão
acerca de inovação no sistema educacional que se espera almejar, requer um comprometimento
por parte do governo federal em garantir equipamentos tecnológicos e acesso à internet gratuita
à toda comunidade escolar, o que nem isso o governo tem feito. Trazemos a charge publicada
em 23 de julho de 2020 de Fraga, no Jornalistas Livres para uma exemplificação do que tem sido
para estudantes de diferentes realidades, o “ensino a distância”:
Figura 3 - Publicada por Fraga em 23 de julho de 2020 no site dos Jornalistas livres
Em seu livro, Khan (2013, p 23) defende a democratização da educação onde todas
as pessoas do planeta tenham acesso ao mesmo nível educacional, realidade muito distante
quando comparamos a rede pública em relação à rede privada ou de uma maneira mais global
o sistema de ensino dos países desenvolvidos e os subdesenvolvidos e percebe-se um vasto
abismo. A tecnologia permite a universalização da educação e para isso, a sociedade precisa
estar disposta a reformular o sistema de ensino, desde que tenhamos amparo de recursos por
parte do governo federal, fortalecendo-nos com recursos tecnológicos e capacitação eficiente
que deve permear todos os ambientes educacionais, com menos desigualdade social e garantia
de acesso à tecnologia para todos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a declaração pela OMS no início de 2020 que estávamos diante de uma de pan-
demia pelo novo coronavírus, o COVID-19, o distanciamento social foi e tem sido inevitável,
o cancelamento das aulas presenciais e o fechamento de escolas e universidades em todo o
mundo, levou-nos a uma interrupção abrupta de toda vida social e com as atividades escolares
presenciais não foi diferente, tivemos que nos adaptar a uma realidade imposta pelo vírus. O
que por sua vez tem sido um desafio tanto para os professores, como para toda comunidade
escolar, superar a ausência do convívio e do diálogo e do afeto que somente a presencial entre
professores e alunos é capaz de proporcionar. Nos deparamos, então, com a inadequação da
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sala de aula tradicional diante da realidade em que nos encontramos e os processos de ensino
e aprendizagem apropriaram-se do novo modelo: o ensino remoto, mediado pelas tecnologias,
em escalas não testadas e sem precedentes.
A tomada de decisões pelo núcleo de gestão escolar e universitária muitas vezes não foi
o do diálogo e do apoio, muitos dos colegas professores se sentiram engessados numa burocra-
tização, sem quase nada de capacitação e de compreensão no novo modelo. Ao mesmo tempo
os professores mais jovens e com domínio da tecnologia puderam compartilhar suas experiên-
cias com os mais antigos para conseguirem auxiliá-los.
Tivemos então que tentar solucionar questões aplicadas no que tangia a nossa organi-
zação de docente e o estímulo à análise da situação como um todo, bem como do pensamento
complexo estimulado por meio de momentos síncronos e assíncronos de troca de informações
entre professores, gestores e alunos. Nesse sentido, foi a boa interação e desempenho dos pro-
fessores e dos estudantes que se pode impactar positivamente de toda essa situação de ensino
remoto em plena pandemia.
O ensino remoto trouxe muitos percalços, obstáculos, mas também trouxe possibilida-
des na nova dinâmica do ensinar e aprender através da tecnologia interativa: compartilhamos
e elaboramos vídeos, podcasts, textos, fóruns, momentos síncronos e momentos de encontro
simultâneo via web, essenciais e adequados aos desdobramentos dos conteúdos bem como da
interatividade estudante/estudante, estudante/professor, e entre professor/professor. Mas, tudo
isso não foi e não tem sido fácil, muita falta de recursos e de grande desgaste emocional tanto
por parte de alunos, quanto pelo professor que em casa, multiplicou-se em muitos para exercer
seu fazer docente; terminamos uma fase ou podemos dizer aprendemos a sobreviver ao iniciar-
mos esse novo jeito de ensinar.
Finalizamos, com a certeza de que a educação perpassa por muitos desafios sendo o
maior deles em tempos de ensino remoto assolados pela pandemia: a falta da pessoa do outro,
do olhar, dos sorrisos e dos abraços, afinal a escola e a universidade são ambientes de luta sinô-
nimo e de transformação social. Um ambiente que nos congrega, provoca, incentiva a partilhar
novos saberes na interação professor-aluno. A situação pandêmica no Brasil está prestes de
terminar, devido a uma grande falta de leitura, de compreensão dos discursos, da avalanche das
“fake news” que continuam colocando governantes nesse país que são fascistas, homofóbicos,
machistas, negacionistas. Há um total desprezo pela pessoa do outro e com o espírito de coleti-
vidade e de senso de humanidade, a via contrária daqueles que fazem do seu fazer docente um
exercício de cidadania, justiça e comprometimento com o que é humano, por isso, caros colegas,
sobreviver à ignorância em tempos de pandemia, requer deixarmos nossa marca de amor e luta
por mais igualdade na educação e na vida, isso é continuar nossa luta pela sobrevivência diária.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
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Capítulo
05
Ensino remoto: metodologias
pedagógicas usadas nas aulas
de língua portuguesa no ensino
fundamental II na Escola Estadual Drª
Zilda Arns Neumann, Manaus-AM/
Brasil, no período 2020-2021
Carmem Maria Dos Santos Rodrigues
A autora é mestre em Ciências da Educação pela Universidad de La Integración de Las Américas -
UNIDA e professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Amazonas, Brasil.
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.5
RESUMO
ABSTRACT
Recent events resulting from the Covid-19 pandemic have precipitated a screening-like environ-
ment in which experienced faculty were forced to quickly convert courses to online locations. This
unexpected circumstance forced educators to adopt different theories of learning that they were
unaware of. The results were predominantly unsatisfactory for both the student and the educator
who provides perspectives on this unfortunate circumstance, describes the positive and negative
aspects of the experiences and presents best practices for deep online learning and challenges
Portuguese language educators to learn like the instructional design for online courses can be
leveraged. Thus, this study is a summary of the master’s thesis submitted to Universidad de La
Integración de Las Americas – UNIDA as a requirement to achieve the Master’s degree in Edu-
cational Sciences. The study aimed to analyze the methodologies used by Portuguese language
teachers of Elementary School II of Escola Estadual Drª Zilda Arns Neumann in remote classes
in the period 2020-2021. It presents as results that remote teaching was imposed on account of
the Covid 19 Pandemic, providing poor results in relation to the teaching and learning process. It
concludes that remote teaching is irreversible, but that it needs substantial modifications
INTRODUÇÃO
Como disciplina, a língua portuguesa difere muito tanto no conteúdo e em técnicas pe-
dagógicas. Dentro do ensino fundamental II, algum conteúdo bem adaptado ao formato de aula
expositiva/recitação de instrução pode ser primordial. Alguns cursos mais avançados, pode ser
mais adaptável à questão socrática e formato de resposta gerando discussões ricas.
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Assim este estudo teve como principal objetivo, analisar as metodologias utilizadas pelos
professores de língua portuguesa do Ensino Fundamental II da Escola Estadual Drª Zilda Arns
Neumann nas aulas remotas no período 2020-2021.
No contexto do surto do Covid-19, várias iniciativas políticas estão sendo lançadas por
governos e instituições terciárias em todo o mundo para continuar as atividades de ensino a fim
de conter o vírus. No entanto, há ambiguidade e desacordo sobre o que ensinar, como ensinar,
a carga de trabalho de professores e alunos, o ambiente de ensino e as implicações para a equi-
dade educacional.
Porém, apesar de algumas limitações, a situação atual exige ações para que a formação
dos alunos não seja afetada de forma alguma. Por exemplo, o Estado do Amazonas iniciou uma
política de suspensão de aulas sem interrupção do aprendizado para verificar se o aprendizado
não foi comprometido em nenhum momento durante o bloqueio da pandemia Covid-19. Esta é
uma das políticas que o Estado do Amazonas implementou para garantir que a aprendizagem
dos alunos fosse menos afetada durante os bloqueios nacionais e o fechamento de escolas.
Com o passar do tempo, 500 milhões de crianças e jovens ainda estão ameaçados de
não frequentar suas escolas devido aos bloqueios nacionais. As organizações internacionais co-
meçaram a dar atenção especial ao documento Resposta Educativa em Crises e Emergências.
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ENSINO REMOTO
Está bem documentado que a frequência escolar está associada ao desempenho, e aos
períodos nos quais os alunos não frequentam a escola (por exemplo, verão) resultam em pro-
gresso mínimo ou declínio no desempenho dos alunos (VALENTE et al., 2020).2
Esses declínios costumam ser maiores para crianças de grupos vulneráveis, como alu-
nos portadores de deficiência e alunos de baixa renda. Na crise atual, as secretarias de educa-
ção e distritos escolares fecharam temporariamente as escolas no ano de 2021 e alguns distritos
fizeram modificações substanciais no ano escolar de 2021, como instrução híbrida presencial/
remota ou 100% instrução remota (CUNHA et al., 2020).3
Isso significa que, além de abordar a tarefa monumental de ajudar os alunos a alcançar
onde estariam no início de um ano letivo típico, os professores podem diferenciar a instrução
mais do que normalmente faria, já que os alunos em sua sala de aula teriam uma gama mais
ampla de habilidades. A perda de progresso ou declínios no desempenho relacionado ao fecha-
mento de escolas em 2021 não seriam universais (CONSED, 2020).5
Em vez disso, em um modelo que abordou o provável cenário em que os alunos de esco-
las de alto nível socioeconômico receberiam mais instrução remota do que os alunos de escolas
de baixo nível socioeconômico, as lacunas de desempenho baseadas no nível socioeconômico
(NSE) em matemática e leitura foram projetadas para serem maiores no início de 2021 do que
seriam em um ano escolar típico. Dados que apoiam algumas das projeções feitas Kuhfeld et al.
(2020) 6 estão começando a surgir.
Por exemplo, um relatório das Escolas Públicas do Estado do Ceará que foi publicado
em um jornal local indicou que os alunos estão falhando nas aulas em uma taxa mais alta do que
antes do início do Covid-19. O relatório destaca padrões semelhantes de taxas de reprovação
1 MOREIRA, J. A. M.; HENRIQUES, S.; BARROS, D. Transitando de um ensino remoto emergencial para uma educação digital
em rede, em tempos de pandemia. Dialogia, São Paulo, n. 34, p. 351-364, jan./abr. 2020.
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4 CETIC. Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros – TIC Domicílios. São
Paulo, 2020. Disponível em: http://data.cetic.br/cetic/explore. Acesso em 20 jul. 2021.
5 CONSED. Ensino remoto. Brasília, 2020. Disponível em: https://consed.info/ensinoremoto/. Acesso em 12 jun. 2021.
6 KUHFELD, M.; SOLAND, J.; TARASAWA, B.; JOHNSONS, A.; RUZEK, E.; LIU, J. Projetar o impacto potencial do fechamento
de escolas Covid-19 no desempenho acadêmico. Pesquisador educacional, 49, 549-565, 2020.
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em outras secretarias de educação em todo o país, e aumentos ainda maiores nas taxas de
reprovação entre alunos com deficiência e alunos da língua portuguesa (NATANSON, 2020) 7.
Além disso, os dados são consistentes com a noção de que os alunos de escolas de
NSE superior provavelmente receberiam mais instrução remota do que os alunos de escolas de
NSE inferior. Especificamente, uma pesquisa nacional relatou que 97% das crianças em famílias
com renda anual acima de R$ 4.000,00 75.000 têm acesso regular à Internet, enquanto apenas
84% das crianças em famílias com renda anual inferior a R$ 4.000,00 têm acesso regular à In-
ternet (PONTE, 2020).8
Os resultados desta pesquisa indicaram que, em meados de 2020, mais de 75% dos alu-
nos tinham níveis de envolvimento mais baixos no ensino remoto em comparação com o ensino
presencial, e aproximadamente 20% dos alunos “faltavam essencialmente” (NATANSON, 2020).
7 NATANSON, H. As notas baixas aumentam no sistema escolar do Estado do Ceará à medida que a lacuna de aprendizagem
online surge em todo o país. Jornal o Estado do Ceará, 24 de novembro de 2020.
8 PONTE, J. P. da. Tecnologias de informação e comunicação na formação de professores: que desafios? Revista Ibe-roamericana
de educación, n. 24, p. 63-90, 2020. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/3993/1/00-Ponte%28TIC-
rie24a03%29.PDF. Acesso em 6 ago. 2021.
9 PRECIADO, M.; VELASQUEZ, I.; WARD, M. O que estamos aprendendo: Covid 19 e educação: descobertas notáveis e fontes
de dados. Fundação Gates. Disponível em https://gpp.gatesfoundation.org/news-and-insights/articles/what-we-re-learning-
Covid-19-and-education-notable-findings-and-data-sources Acesso em 12 de set de 2021.
10 SALAS, P. O malabarismo de ser mãe e professora na quarentena. Nova Escola. São Paulo, 2020. Disponível em: https://
novaescola.org.br/conteudo/19529/dupla-jornada-os-desafios-das-professoras-que-sao-maes-durante-a-qua-rentena. Acesso
em 20 jul. 2021.
11 SANTOS, E. EAD, palavra proibida. Educação online, pouca gente sabe o que é. Ensino remoto, o que temos para hoje.
Mas qual é mesmo a diferença? Revista Docência e Cibercultura, Sessão Notícias. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://
www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/announcement/view/1119. Acesso em 25 jun. 2021.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
nião sobre o trabalho concluído (HAMILTON et al., 2020).12 Os professores também relataram
que se sentiram despreparados para ensinar online quando as escolas mudaram inesperada-
mente para o ensino remoto no ano de 2020 (MARSHALL et al., 2020).13
Portanto, mais pesquisas são necessárias para caracterizar como a instrução acadêmica
dos professores mudou por causa da pandemia, como essas mudanças afetam diferentemente
os alunos de origens diversas ou memorizadas e quais práticas os professores acreditam serem
eficazes para maximizar a aprendizagem dos alunos em um ambiente de aprendizagem remota
(VALENTE et al., 2020). Embora outra pandemia dessa escala seja improvável que ocorra em
breve, entender como fornecer melhor instrução remota ou híbrida tem implicações importantes
para continuar a promover a aprendizagem dos alunos em outros tempos de crise (por exemplo,
desastres naturais) (CUNHA et al., 2020).
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Muitas instituições optaram por cancelar todas as aulas presenciais, incluindo experi-
ências de aprendizagem e determinou que os professores movessem seus cursos online para
ajudar a prevenir a propagação do vírus que causa o Covid-19. A lista de instituições escolares
que tomou essa decisão cresceu a cada dia. Instituições de todos os tamanhos e tipos, mudaram
suas aulas online. Mover a instrução online pode permitir a flexibilidade de ensino e aprendiza-
gem em qualquer lugar, a qualquer hora, mas a velocidade com a qual essa mudança para o
ensino online deve acontecer é sem precedentes e impressionantes (CURY, 2020).16
Na situação em que perdurou a Covid-19, esses indivíduos e equipes não foram capa-
zes de oferecer o mesmo nível de apoio a todos os professores em uma janela de preparação
tão estreita. O corpo docente podia sentir que as atividades instrucionais, tendo que improvisar
soluções rápidas em menos do que o ideal circunstâncias (NATANSON, 2020).
Não importava o quão inteligente uma solução poderia ser - e algumas muito inteligentes
soluções surgiram — muitos instrutores compreendem esse processo estressante. A tentação
de comparar a aprendizagem online com o ensino presencial nestas circunstâncias foi ótima
(FLORES EGAGO, 2020).18
Na verdade, um artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo convocou para “gran-
de experimento” fazendo exatamente isso. Esta foi uma sugestão altamente problemática. Em
primeiro lugar, a política de qualquer debate deve ser reconhecida (PRECIADO et al., 2021).
“Aprendizagem online” se tornou um termo politizado que assumiu qualquer número de signifi-
cados dependendo do argumento que alguém desejava apresentar. Na conversa sobre as lições
aprendidas quando as instituições mudaram as aulas online Hamilton et al. (2020, p. 3) começa
16 CURY, C. R. J. Educação escolar e pandemia. Pedagogia em Ação, Belo Horizonte, v.13, n. 1, 2020.
17 DARIDO DA CUNHA, M.; BIZELLI, J. L. Inovações tecnológicas e contexto escolar: reflexões necessárias. Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação, v. 10, p. 50-66, 2015. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/
view/7772/5350>.Acesso em: 25 de jul de 2021.
18 FLORES, M. A.; GAGO, M. Formação de Professores em Tempos de Pandemia de Covid-19 em Portugal: Respostas
Nacionais, Institucionais e Pedagógicas. ”Revista de Educação para o Ensino. doi: 10.1080 / 02607476.2020.1799709, 2020.
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A ideia de aprendizagem combinada foi desenhada nas agendas políticas sem prestar
atenção suficiente ao fato de que as instituições iriam tomar decisões diferentes e investir de ma-
neira diferente, resultando em soluções e resultados de uma instituição para outra (MOREIRA,
2020).19 Com um pouco dessa visão retrospectiva como sabedoria, buscou-se avançar algumas
distinções cuidadosas que se espera informar as avaliações e reflexões que certamente resul-
tarão dessa movimentação em massa ocorridas nas escolas, sejam de qualquer nível de ensino
(MARSHALL et al., 2020).
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida na Escola Estadual Drª Zilda Arns Neumann que se localiza
na Rua 212, Quadra 310 Cj Cidadã 5 - Nova Cidade, Manaus-Am, Brasil, que é uma escola que
conta com alimentação escolar para os alunos, água filtrada, água de poço artesiano, energia da
rede pública, fossa, lixo destinado à coleta periódica, acesso à Internet, banda larga, 13 salas de
aulas, sala de diretoria, sala de professores, laboratório de informática, laboratório de ciências,
quadra de esportes coberta, cozinha, biblioteca, sala de secretaria e refeitório. O tipo de pes-
quisa foi pesquisa bibliográfica e de campo que ouviu 6 professores de língua portuguesa que
trabalham no Ensino Fundamental II e 723 alunos no ensino fundamental II.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
cioeconômicas.
Mais de 80% dos professores realizaram reuniões ao vivo com os alunos e forneceram
experiências de aprendizado remoto que os alunos acessaram de forma independente. No en-
tanto, apenas 16,66% dos professores relataram realizar reuniões diárias ao vivo com os alunos,
com um adicional de 39% relatando realizar reuniões ao vivo com os alunos uma vez por sema-
na.
Isso é consistente com uma correlação negativa entre a porcentagem de alunos elegíveis
e a porcentagem relatada pelo professor de alunos que têm acesso regular à internet (72,00%).
Uma porcentagem muito maior de professores relatou fornecer atividades que os alunos
poderiam realizar de forma independente em casa (83,33%). Em média, os professores relata-
ram fornecer 3 tarefas por semana. No entanto, uma grande proporção de professores relatou
que as tarefas não foram avaliadas (83,33%).
Os professores relataram que, em média, apenas três em cada cinco de seus alunos
(60,00%) estavam preparados para avançar para o próximo nível de ensino na época em que
sua escola fechou no ano de 2020. Resultados de análises de regressão múltipla prevendo quais
alunos tinham as habilidades necessárias para a transição para o próximo nível de série e frequ-
ência de instrução de habilidades acadêmicas são relatados na Tabela 1.
Tabela 1 - Coeficientes de regressão padronizados para ligações entre a composição
demográfica da sala de aula, porcentagem de alunos prontos para a transição para o próximo
nível de série e frequência de instrução de habilidades acadêmicas.
Discriminação Transição Lendo Escrita
% FRPL 24 13 15
% Velocidade 16 02 05
% ELL 5 06 06
Observação. FRPL = Estudantes elegíveis. SPED = Alunos elegíveis para serviços de educação
especial. ELL = Alunos qualificados para serviços de aprendizagem da língua portuguesa
Fonte: Pesquisa de campo (2021)
Esse padrão de resultados foi semelhante em língua portuguesa para, em que 100.00%
dos professores relataram fornecer algum tipo de instrução remota diariamente. Cerca de 50.00%
dos professores relataram fornecer instrução direta em habilidades de língua portuguesa, en-
quanto 33,33% dos professores relataram nunca fornecer instrução direta.
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Dos professores que ministravam ensino à distância, 50,00% dos professores relataram
fornecer alguma forma de ensino de leitura diariamente (ou seja, instrução direta em habilidades
de leitura ou atividades de leitura independentes). Aproximadamente 33,33% os professores for-
neciam instrução direta em habilidades de leitura diariamente, enquanto 50,00% dos professores
relataram nunca fornecer instrução direta em habilidades de leitura. 83,33% dos professores
forneceram atividades de leitura independentes para os alunos completarem por conta própria
mais de uma vez por semana. As análises de regressão múltipla indicaram que os professores
que relataram ter um maior número de alunos elegíveis e um maior número de alunos brancos
também relataram fornecer instrução mais direta em habilidades de leitura.
O acesso à Internet pode contribuir para a relativa ineficácia do ensino à distância, pois
os professores relataram que, em média, 50,05% dos alunos remotos não tinham acesso confi-
ável à Internet. Da mesma forma, a grande maioria dos professores (83,33%) cuja escola usou
alguma forma de instrução remota relataram que os alunos remotos estavam menos envolvidos
na instrução do que os alunos presenciais. Informações adicionais que caracterizam a natureza
da instrução remota são fornecidas na Tabela 2.
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É uma nova forma de educar, a qual se fortalece a partir de uma nova infraestrutura
física e humana que tem como principal objetivo sintetizar as singularidades, tanto de natureza
espaço-temporal como no âmbito das subjetividades. A Constituição brasileira promulgada em 5
de outubro de 198820 admite a combinação de formas de educação. Neste sentido pretende-se
analisar os mecanismos institucionais das metodologias de professores e os problemas enfren-
tados por eles na aplicação de aulas remotas.
O primeiro problema aponta por 100,00% dos professores entrevistados faz referência
à infraestrutura de suporte para o aprendizado online dos alunos. O sucesso da aprendizagem
online não pode ser separado da disponibilidade de apoio à aprendizagem da infraestrutura
como: a disponibilidade de acesso estável à Internet, dispositivos de acesso com a tecnologia
mais recente, dispositivos utilizados para acesso à internet, bem como a presença de alunos que
residem em áreas onde não existe rede elétrica, de modo que a aprendizagem prática online é
muito difícil de implementar. Transporte de infraestrutura de dados de capacidade para eficácia
de aprendizagem online para alunos. As variáveis apontadas pelos professores são resumidas
nos Gráficos a seguir:
Gráfico 1 - Perfil de capacidade de apoio (%) de aprendizagem online dos alunos (acesso a
internet)
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Gráfico 2 - perfil de capacidade de apoio (%) de aprendizagem online dos alunos (dispositivo
de acesso)
Gráfico 3 - perfil de capacidade de apoio (%) de aprendizagem online dos alunos (rede elétrica)
Gráfico 4 - perfil de capacidade de apoio (%) de aprendizagem online dos alunos (como
acessar)
Gráfico 5 - perfil de capacidade de apoio (%) de aprendizagem online dos alunos (uso do
dispositivo)
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A partir dos dados dos Gráficos (1, 2, 3, 4, 5) verificou-se que em geral (50,00%) dos
alunos acessam a internet com uma capacidade de carga menos estável a instável. Essa é a
principal reclamação dos professores na aprendizagem online durante o período Covid-19.
Este fato é reforçado pelos dados de que apenas 50,00% dos alunos, segundos os pro-
fessores acessam a Internet em suas casas para estudar e concluir tarefas online de professo-
res, enquanto 16,67% segundo os professores procuram áreas com sinais fortes para acessar
a internet, na verdade ainda há 16,67% dos alunos que acessam a Internet pesquisando pontos
de acesso disponíveis. A condição mais triste é que ainda havia cerca de 16,67% dos alunos que
estavam apenas esperando por informações de outros alunos que primeiro obtiveram informa-
ções, especialmente tarefas online de professores.
Outra condição que contribuiu para a ineficácia do aprendizado online durante o Co-
vid-19 foi que quase todos os alunos (83,33%) acessaram a internet no aprendizado online
usando dispositivos móveis (celulares e tablets), em que a Internet está intimamente relacionada
com as redes públicas de computadores em todo o mundo, a internet fornece acesso a uma série
de serviços de comunicação, incluindo World Wide Web e transporta e-mails, notícias, entrete-
nimento e arquivo de dados.
Os dados também mostram que apenas uma pequena porcentagem (16,67% - Gráfico
5) dos alunos usam laptops enquanto estudam online, de modo que a velocidade de execução
de suas atribuições tem um tempo de atraso, então, esses fatores contribuem para o número de
reclamações de alunos relacionadas ao acúmulo de atribuições do professor ao mesmo tempo.
Esta condição certamente requer adaptação para alunos que estão se preparando para
futuro acesso online, embora esse obstáculo não possa ser separado da capacidade de carga
de infraestrutura de rede de internet na área de domicílio do aluno em aprendizagem online.
Não se pode negar que, em termos de acesso, o desafio do governo é quando a distância. O
aprendizado é realizado online e implementado em áreas onde acessibilidade, infraestrutura e a
alfabetização digital ainda são baixas. Com base nos resultados da Penetração Nacional de Usu-
ários da Internet, a distribuição de dados mostra que mais da metade dos usuários de Internet
no Brasil estão no Sudeste do Brasil (55,7%), Sul (21,6%), Centro Oeste (10,9%), Norte (6,6%)
e Nordeste (5,2%) (MENDES, 2018).
Foi perguntado aos professores: com qual frequência você trabalhou a leitura e a escrita
com os alunos nas aulas remotas? As respostas estão sintetizadas no Gráfico 6:
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A leitura deve ser trabalhada diuturnamente nas salas de aula em todas as disciplinas,
justamente porque dela depende o desempenho avaliativo. A leitura é fundamental não só
em língua portuguesa, mas em todas as disciplinas e precisa ser trabalhada todos os dias.
Para os professores “A” e “D” a leitura tem que ser diária. Para a professora “B” basta
uma vez por semana e a professora “C” confirma que faz dois dias da leitura com os alunos.
Assim evidencia-se que a leitura como um dos elementos principais na vida de uma pessoa é de
grande relevância para uma boa formação no processo de ensino aprendizagem. Neste sentido,
ver-se que trabalhar o ensino da leitura pode trazer resultados surpreendentes. Uma vez que,
é costume se pensar que o hábito de ler deve ser ensinado na infância para que assim, possa
desenvolver um leitor competente. Segundo afirma Silva (1998, p. 54 apud Sell 2009, p. 52):
O leitor pode ser formado em qualquer período de sua existência, desde que exista traba-
lho, gerador de história, neste sentido. Se for no período da infância, melhor, mas isso não
significa que, vencido este período o adolescente, o adulto ou o idoso não possa vir a se
interessar e sentir paixão pela leitura.
Deste modo, destaca-se o que Silva (2009)22 diz que pode contribuir em formar leitores
independentes de suas idades, pois o ensino da leitura e da escrita deve ser visto de forma que
ampliem as habilidades de desenvolvimento de qualquer indivíduo. Desde que haja um contato
com a leitura e a escrita tanto na escola como no seu cotidiano de aulas online, pois compreen-
de-se que ela não está somente no papel, mas está em tudo o que cerca as pessoas, seja em
forma de imagem, de áudios, de vídeos etc. A leitura e a escrita estão no dia a dia, de certo que
ninguém nasce sabendo ler, mas que se aprende tanto com a leitura de mundo quanto no am-
biente escolar. De acordo com Lajolo (2000, p.7 apud Sell, 2009, p.11):23
21 SANCHES E. A.; PÉREZ, J. R. G.; PARDO, J. R. Leitura na sala de aula. – Porto Alegre: Penso, 2012.
22 SILVA, S. da. Metodologia de ensino da literatura. Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial: Grupo Uniasselvi, 2009.
23 SELL, F. S. F, O ensino da leitura. Centro Universitário Leonardo da Vinci-Indaial: Grupo Uniasselvi, 2009.
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Ninguém nasce sabendo ler; aprende-se a ler à medida que se vive. Se ler livros geral-
mente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, na chamada
escola da vida: a leitura do vôo das arribações que indica a seca - como sabem quem lê
Vidas Secas de Graciliano Ramos- independente de aprendizagem formal e se perfaz na
interação cotidiana com o mundo das coisas e dos outros.
Diante disso reafirma-se o que autora coloca que a leitura e a escrita têm um papel cru-
cial no processo de ensino, tanto nas aulas de português como em outras disciplinas, porque
através dela entra-se em contato com os diversos conhecimentos, tanto adquiridos na escola-
rização quanto na aprendizagem informal. É com esse objetivo que se almeja alcançar novos
desafios no ensino da língua portuguesa, de maneira que os alunos consigam entender o valor
que ela tem nas aulas que são ministradas de forma presencial ou de forma remota.
Desta maneira, é importante que a escola ofereça fontes de recursos para prática da lei-
tura e da escrita, tendo livros que estejam disponíveis aos alunos. Em função disso, é necessário
que os professores gostem de ensinar a língua portuguesa e que sejam bons leitores.
Segundo Silva (1998, p. 22 apud Sell, 2009, p.35): “Sem professor que leiam que gostem
de livros, que sintam prazer na leitura e na escrita, muito dificilmente modifica-se a paisagem
atual da leitura e da escrita escolar. Mesmo com o preenchimento de todos os quesitos e ideias
para a efetivação da leitura e da escrita na escola mesmo de forma remota”, sem a presença
devidamente instrumentalizada na comunicação escrita, não existe a mínima possibilidade de
transformação e avanço.
Pode-se reafirmar o que o autor está dizendo, pois se o professor que não gosta de ler
é isso que vai ficar explícito em suas aulas e fará com que os seus alunos percam o gosto pela
leitura.
Por isso, é importante que ele seja o modelo de leitor em sala de aula remota mostrando
que sente prazer em ler para seus alunos, de forma que chame a atenção deles para os textos
que estão sendo lidos, e assim, fará com que a leitura seja mais prazerosa e eficaz em suas
vidas, onde aconteça uma interação de compartilhamento de conhecimentos dos envolvidos no
sistema educacional no ensino da língua portuguesa.
Portanto, se o professor não for um leitor assíduo ele certamente não será um bom pro-
fissional para desenvolver no aluno o gosto pela leitura, de acordo com Lajolo (1982, p. 53 apud
Sell, 2009, p. 35), “se a relação do professor com o texto não tiver significado, se ele não for um
bom leitor, são grandes as chances de que ele seja um mau professor”.
É com esse sentido que não pode falar de leitura sem antes mencionar os parâmetros
que lhe envolvem como a fluência, a velocidade, a compreensão e a precisão. Nessa perspec-
tiva, elenca-se esses pontos de maneira que venha contribuir para que este trabalho fique com-
pleto sobre a leitura na vida dos indivíduos.
Sabe-se que o trabalho pedagógico deve ser bem organizado pela equipe pedagógica
de uma escola e em cima desse aspecto realizou a seguinte pergunta: Esse ano a escola de-
senvolveu algum projeto na área de língua portuguesa? Se a resposta for sim, qual o nome? Os
professores assim responderam a pergunta formulada:
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Como se pode observar os professores deram a mesma reposta, ou seja, todas eles
estão cientes do seu papel enquanto professores e dos objetivos quanto ao ensino da língua
portuguesa, e isso leva a concluir o motivo de tantos alunos que ainda não sabem ler correta-
mente mesmo estando cursando o ensino fundamental concluindo o ciclo sem obter habilidades
e competências correspondentes ao seu ciclo.
Mas pode ser que a distância entre o que se faz e o que gostaríamos de fazer não seja à
única explicação para a dificuldade da mudança. A segunda conclusão, que permeia ao
longo de muitas passagens precedentes é que um professor que ouça ou leia sobre pro-
jetos de leitura e a quem se surgirá introduzir as leituras antecipando os temas que serão
trabalhados pode entender que estão lhe falando justamente daquilo que já faz todos os
dias em outras palavras, pode ser que não esteja totalmente consciente da sua prática.
Ao se observar as respostas percebe-se que há projetos que, são bem elaborados isso é
um ato importante para o desenvolvimento da língua portuguesa, mesmo de que forma remota,
com a compreensão tanto da disciplina de português quanto das outras disciplinas, pois investir
em projetos é importante estar sempre em processo de busca por formação continuada porque
isto ajuda no desempenho da qualidade do trabalho enquanto professor.
Ao discorrer sobre leitura e escrita, estar diante de um conceito muito amplo como leitura
de mundo, de imagens e de textos. Sem ela seria bem mais difícil se construir os significados
das coisas.
O ato de ler leva em conta a visão de um leitor como sujeito ativo produtor de sentidos
que compreende e interpreta o que está lendo, e assim passa a exercer função crítica na socie-
dade. Segundo Brasil (1998, p. 42 apud Sell, 2009, p. 59):
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o objetivo de formar cidadãos que farão a diferença na sua geração como agentes de transfor-
mação de um mundo melhor que somente através da educação é possível ser realizado. Sendo
assim foi perguntado se os professores de língua portuguesa haviam participado de alguma ca-
pacitação em sistema remoto de ensino. As mesmas responderam:
A = Não;
B = Não;
C = Não;
D = Não;
E = Não,
F = Não
Para se atuar com embasamento na sala de aula remota é preciso desenvolver habi-
lidades e competências que somente professores tem a partir dos conhecimentos adquiridos
durante anos de estudos, com formação de alunos fundamentada em princípios e valores e com
a prática pedagógica baseada na tendência progressista com o ideário libertador, historiador, cri-
tico social dos conteúdos, auto gestor focado na formação continuada de um cidadão profissional
adequado a contemporaneidade sem abrir mão dos valores democráticos, éticos e solidários
indispensáveis atualmente, entendendo que toda criança e adolescente tem direito, e por fim
deixar explícito que todos os professores são residentes na comunidade traz bons resultados na
qualidade de aprendizagem dos alunos. Partindo dessa compreensão foi perguntado: você co-
nhece os autores atuais que embasam a reflexão sobre o ensino da língua portuguesa de forma
remota?
A = Li um artigo de Douglas dos Santos Silva, Leane Amaral Paz Andrade e, Silvana Maria
Pantoja dos Santos;
B – Não;
C = Não conheço;
D = Não;
F = Não;
F = Não.
Como se pode verificar através das respostas dos professores ao mesmo não mas têm
embasamento teórico, sendo que apenas um deles leu um artigo sobre o tema, porém reco-
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nhecem que não tem obtido muito sucesso pelo fato dos pais não acompanharem seus filhos,
e como mostra os resultados da Avaliação Nacional de Língua Portuguesa, de 2018 mais de 2
milhões de alunos concluintes do Ensino Fundamental apresentaram desempenho insuficiente
no exame de proficiência em leitura.
Leitura e escrita andam juntos e é a partir deles que se obtêm resultados. Ler e escrever
é letrar, e letrar é ler e escrever, como então os professores conseguem ministrar aulas de língua
portuguesa sem saber o significado disto. Isso remete a uma reflexão. Segundo Soares (2017,
p. 40)24 ”é aquele que usa socialmente a leitura e à escrita prática, responde adequadamente as
demandas sociais de leitura e de escrita”, primeiramente por níveis que segundo Pícolli e Camini
(2013, p.30-34)25 expõem:
Nível 3 e 4- Hipótese silábica para alfabética, nesta fase a criança tenta atribuir um valor
sonoro a cada sílaba das palavras que registra. A exigência de uma quantidade mínima de
caracteres para escrever obrigaria a criança a tensionar sua análise silábica e aproximar
se de uma análise fonema a grafema.
Nível 5- Nessa fase a criança busca desenvolver uma análise fonética, produzindo escri-
tas com hipóteses alfabéticas. Demostraremos no quadro 10 abaixo: Diante disso ressal-
tamos a importância da leitura e do trabalho da gestão juntamente com o pedagógico estar
voltado para levar ao conhecimento desses professores as obras que embasam sobre a
reflexão do trabalho docente do professor alfabetizador.
Os professores responderam que nunca leram nenhum trabalho sobre o ensino da lín-
gua portuguesa de forma remota. Somente um professor respondeu que leu um artigo sobre o
tema. Já os professores “B” “C”, “D” “E” e “F”, afirmam que não tem conhecimento de nenhum
trabalho a respeito do tema, o que remete a uma reflexão, pois é necessário bastante conheci-
mento na área para atuar, porque estar diante da parte mais importante do ensino, a base para
o aluno continuar sua formação.
O olhar dos professores deve ser amplo quanto à importância do ensino da língua por-
tuguesa, mesmo que de forma remota, já que essa escola é a única escola na comunidade, pois
só se tem três escolas nessa comunidade, uma que atende fundamental I, (1º ao 5º ano); uma
de Fundamental II, e outra de Ensino Médio.
É possível que os aumentos nas percepções dos professores sobre o ensino à distân-
cia se devam à maior experiência no ensino à distância, mas também é importante notar que a
maioria dos professores não relatou ter recebido oportunidades de desenvolvimento profissional
24 SOARES, M. Alfabetização e letramento. 6ª ed. 6ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2014.
25 PICCOLI, L.; CAMINI, P. Práticas pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e corporeidade/Luciana Piccoli e Patricia
Camini; ilustrações de Eloá Guazzelli. - Erechim: Edelbra, 2012.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por exemplo, ao descrever o que seria eficaz para ajudar os alunos com dificuldades a
recuperar o atraso, um professor afirmou que “Precisamos de tempo para diagnosticar, defici-
ências e estabelecer instruções que preencham as lacunas”. Apenas avançar não eliminará a
lacuna, temos a oportunidade de realmente fazer algo pelas crianças que precisa de ajuda.
Esta é uma questão que se deve discutir em cada [reunião] em vez do que vem a seguir
no guia de ritmo. Esses tipos de comentários dos professores, junto com outras respostas, des-
tacam a necessidade de triagem e apoios individualizados ou para pequenos grupos que são
adaptados às necessidades de ensino individuais dos alunos.
Embora tal abordagem seja sempre aconselhável para ajudar os alunos com dificulda-
des, a atenção cuidadosa às necessidades dos alunos e o alinhamento da instrução com os
pontos fortes e fracos dos alunos podem ser particularmente importantes para reduzir as desi-
gualdades educacionais causadas pela pandemia. Assim provou-se que a hipótese de sustenta-
ção se confirmou constatou-se que os professores são os responsáveis pela aplicação do ensino
remoto em tempos de pandemia presumindo-se que as metodologias utilizadas no ensino de
língua portuguesa no Ensino Fundamental II produzissem resultados efetivos na aprendizagem
dos alunos.
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Capítulo
06
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.6
RESUMEN
ABSTRACT
The intention of this investigation finds in offering an analysis of several scientific and educatio-
nal actions that contribute to care, conservation of The Ambient midway from the curricular and
what’s extracurricular one belonging to Física’s race. In the same they offer some aspects about
the importance that has the protection of the ambient midway and the conception of the sustaina-
ble development. You counted on the elaboration of a teaching material for the need to contribute
to develop in the students’ mind a new way to assume it relating to the ambient midway, where
several instruments were applied like, poll, interviews and methods like the – Deductive, Historic
– Logic Inductive and Modulation: It allowed could have determined and planning the structure
that the educational actions to develop in the group sign, should have had taking into account the
educational needs of the students in terms of the knowledge that they were having on the theme
and the modes of acting related with the care of the ambient midway in the communal context and
student that you allow to enlarge his formation, the integration of the knowledge acquired, as well
as motivation and interest by the study of Physics.
INTRODUCCIÓN
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Por todo lo antes expuesto y la necesidad evidente que tiene la carrera de Educación,
Física en desarrollar acciones científicas y educativas que contribuyan a mejorar los modos de
actuación de los estudiantes en cuanto al cuidado del medio ambiente (GUIMARÃES, 2004) es
que los autores de este trabajo investigativo se proponen como objetivo general, la elaboración
de acciones científicas y educativas con los estudiantes de la carrera, licenciatura en Educación,
Física para contribuir a mejorar los modos de actuación en cuanto a la educación por el cuidado
del medio ambiente en el contexto comunitario.
MÉTODOS DE INVESTIGACIÓN
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experiencia, categoría académica y/o científica y especialidad de los docentes que forman parte
del colectivo del año, se emplearon métodos teóricos y empíricos de investigación (SAMPIERI;
COLLADO; LUCIO, 2006).
Análisis de documentos: Permitió hacer una revisión de los documentos que norman
la educación ambiental en el Ministerio de Educación para tomar ideas y llegar a conclusiones
sobre la aplicación más efectiva de las acciones educativas.
Encuesta: Permitió constatar según el criterio de los docentes sobre los estudiantes y
de los propios estudiantes en cuanto al conocimiento sobre cómo actuar para cuidar el medio
ambiente, determinar los modos de actuación que más predominan, así como la disposición para
hacer tareas de descontaminación medioambiental en la comunidad.
Modelación: Permitió poder determinar y planificar la estructura que debían tener las
acciones educativas que se iban a desarrollar en el grupo muestra a partir del diagnóstico hecho,
teniendo en cuenta las necesidades educativas de los estudiantes en función del conocimiento
que tenían sobre el tema en el contexto comunitario.
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por parte de los estudiantes en su radio de acción que incluye el contexto comunitario donde
desarrollas tu práctica laboral para contribuir con acciones concretas a la disminución de la
contaminación ambiental, forma una educación ambientalista capaz de fomentar el conocimiento
y la conciencia por el cuidado y conservación del medio ambiente.
DESARROLLO
• a medir las consecuencias de actos cotidianos que contribuyen al deterioro del medio
ambiente.
• las causas que agudizan los problemas medioambientales en este fin de siglo XX y
principios del XXI.
Por tanto,
La Educación Ambiental para Comunidades está dirigida en primer lugar a todos los
docentes que sienten la necesidad de ser participantes activos de un proceso de
transformación pedagógica; además les permite salir de los límites de la escuela, buscar
la solución de sus propios problemas ambientales y entregarles a los estudiantes, padres
y demás actores sociales de la comunidad, las herramientas para resolverlos (AICL, 2005,
p. 12).
Para realizar la Educación Ambiental para Comunidades es necesario posibilitar que los
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(CTSA) en las clases de Física, planteamos un problema ambiental actual, como es la contaminación
atmosférica, para observar y analizar las visiones de los estudiantes y pretendemos inculcar
una adecuada formación científica para favorecer una actitud de ciudadanos responsables.
Ella, afecta al medio ambiente directa e indirectamente. Por ejemplo, cuando los contaminantes
descienden con la lluvia, el suelo y el agua recogen ácidos, dependiendo la acidificación de estos
medios de la magnitud de los contaminantes y de la resistencia que tanto el suelo como el agua
ofrezcan a dicha acidificación.
Cuando este tópico fuera poco conocido, se puede convocar a los estudiantes que recurran
a consultas de libros, a información online, u otras fuentes de información, así como a materiales
especialmente preparados por los profesores de Física para presentarlo a los estudiantes.
Siendo así, se debe entender que el profesor actuará como un mediador entre el grupo y la tarea
indicada al educando, interviniendo en los momentos en que haya indecisión, falta de claridad o
de consenso. Su objetivo debe ser, dejar que el grupo, progresivamente, asuma mayor control
sobre su actividad. Entretanto y, principalmente, al iniciar cada tema nuevo, el profesor debe
monitorear muy cuidadosamente el progreso de los grupos (TORRES CONSUEGRA, 1996).
1. presentar situaciones problemáticas abiertas (con objeto de que los alumnos puedan
tomar decisiones para precisarlas) de un nivel de dificultad adecuado (correspondiente
a su zona de desarrollo próximo);
2. plantear una reflexión sobre el posible interés de las situaciones propuestas que dé
sentido a su estudio (considerando su relación con el programa general de trabajo
adoptado, las posibles implicaciones Ciencia-Técnica-Sociedad-Ambiente…);
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6. plantear el análisis detallado de los resultados (su interpretación física, fiabilidad, etc.)
a la luz del cuerpo de conocimientos disponibles, de las hipótesis manejadas y/o de
los resultados de otros equipos;
El cuidado del medio ambiente es un tema de trabajo que lleva una atención especial
desde el docente y organismos políticos y de masas del centro, que no será posible sin su apoyo
lograr la efectividad con los estudiantes en este sentido, tarea esta que se logra a partir de
actividades educativas que lleven implícito conocimiento teórico sobre la educación ambiental
y tareas prácticas en el contexto comunitario donde se encuentra la escuela de forma tal que
se eduque al estudiante en el cuidado del medio ambiente de su localidad y en especial en la
comunidad donde reside (LOUREIRO, 2012).
Para hacer un trabajo educativo según Kovaliov (1965, p. 188) “[…] la influencia orientada
y sistemática sobre el desarrollo de la persona, con el objeto de prepararla para cumplir una
determinada función social, para que desempeñe un papel en el sistema de relaciones sociales
se forma en la práctica”. En esta dirección, los autores retoman este criterio, pues las actividades
influyen de forma educativa sobre el estudiante de forma sistemática contribuyendo a ofrecerle
conocimiento y modos de actuación para influir de forma positiva sobre el medio social donde
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se desarrollan con acciones concretas. Por ello, el trabajo educativo en este caso relacionado
con la educación en el cuidado del medio ambiente, tiene que tener una influencia del docente
que sirva de base orientadora en cuanto al conocimiento de la importancia que tiene el cuidado
y la conservación del medio ambiente en el contexto comunitario, es una influencia sistemática
que lleva al estudiante a lograr la conciencia de actuar de forma independiente con acciones
concretas que influyan en el contexto social donde se desarrolla su convivencia para poder lograr
un resultado en este sentido.
Dentro de los cambios que hoy exige el sistema nacional de educación, está formar
una educación medioambientalista que se traduzca en formas y modos de actuación de los
estudiantes y jóvenes en cuanto a tomar decisiones y actitudes que vayan encaminadas a cuidar
el medioambiente de su entorno, así como a conservarlo dentro de las posibilidades, así como
influir con esa labor educativa y formadora en los ciudadanos que conviven en la comunidad,
contribuyendo de esta forma a la expansión de esta labor educativa en el contexto social y
comunitario, donde se actúa con acciones concretas a partir de los conocimientos y actividades
educativas que se realizan desde la escuela con los estudiantes, como agentes a transformar
para esta labor en la localidad donde se encuentra ubicado el centro educacional donde reciben
sus conocimientos.
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de influencia que se integran en complejas relaciones para dar vida a la educación, e incluimos
también como parte orgánica de la realidad educativa, las ideas, teorías, concepciones, actitudes,
valores, representaciones y formas de comportamiento cuya esencia es propiamente educativa,
y de los cuales son portadores todos los protagonistas de la educación (LOUREIRO, 2012). Así,
la realidad educativa, como objeto de estudio de las Ciencias de la Educación, forma parte de la
realidad social e integra desde esta perspectiva, factores objetivos y subjetivos dialécticamente
vinculados.
En la última década, hemos observado una evolución positiva en los docentes hacia
el tratamiento de las relaciones entre Ciencia, Tecnología, Sociedad y Ambiente (CTSA), en
la enseñanza en general y, sobre todo en la didáctica de las Ciencias. La incorporación en el
currículo de Educación Secundaria y Bachillerato de objetivos y contenidos CTSA, han potenciado
la formación científica de nuestro alumnado y la actitud positiva hacia los problemas ambientales.
• Incremento de las actividades educativas con las familias y comunidades, así como
la elaboración de publicaciones, videos y otros materiales educativos y medios de
enseñanza.
Este trabajo educativo se pone en práctica mediante la clase como vía esencial del
proceso docente educativo, a partir de la incorporación y tratamiento de la dimensión ambiental
como parte del currículo de la Educación de Cuba y del trabajo en las escuelas, pues se está
logrando que las clases, se vinculen directamente con los problemas ambientales, sus causas,
efectos y posibles soluciones, al abordar las temáticas en las diferentes asignaturas, cuyos
contenidos propician la vinculación y complementación de las estrategias curriculares.
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Las Actividades Educativas se elaboraron a partir de cumplir con los principios para la
dirección del proceso pedagógico tales como:
Actividad n°1
Orientaciones metodológicas.
- A los estudiantes se les da la posibilidad de traer cada uno una o dos interrogantes
relacionadas con el tema.
Desarrollo de la conferencia
Objetivo: Que los estudiantes conozcan la importancia que tiene el cuidado del medio
ambiente en el entorno donde viven y se desarrollan para contribuir de esa forma al desarrollo
local del municipio.
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se han puesto a disposición de la población, hace referencia a cómo las conductas inadecuadas
hacen que estos se deterioren por el mal trato que se les da por algunos estudiantes inconscientes
y miembros de la población.
Se ponen ejemplos de cómo se puede cuidar el medio ambiente en las escuelas y en las
aulas a partir de la conservación de la limpieza.
1. ¿Qué criterio tienes del joven que eche desechos en los lugares públicos? ¿Por qué?
2. ¿Qué opinión tienes de los micro vertederos que se hacen por los estudiantes
alrededorde la escuela? ¿Qué consecuencia trae esta acción al medio?
4. ¿Qué opinas de los jóvenes que deterioran el césped de los lugares públicos?
Conclusiones
Se hace una panorámica de los planteamientos más importantes y estos se colegian con
el apoyo de estudiantes y el docente que imparte la conferencia haciendo un resumen de cuáles
deben ser los modos de actuación de los jóvenes en cuanto al cuidado del medio ambiente.
Actividad n°2
Objetivos: Debatir los contenidos básicos necesarios que deben dominar los estudiantes
sobre las leyes de conservación del medio ambiente en nuestro país.
Procedimiento: Taller.
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Conclusiones.
2. ¿Cómo puedes aplicarla enel contexto escolar donde desarrollas la práctica laboral?
Actividad n°3
Procedimiento: Taller
Motivación.
2- ¿Quién lo destruye?
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• Se orienta hacer equipos por afinidad de no más de cinco estudiantes que integran
el grupo muestra.
• Se distribuyen tarjetas previamente elaboradas por equipo donde ellos tendrán que
discutir el tema que allí se le indica relacionado con determinadas partes de la Ley
Forestal.
• Se hace una actividad en sesión plenaria con el grupo donde cada estudiante va
adquirir los conocimientos necesarios a partir de su intervención teniendo en cuenta
las preguntas siguientes.
Cuestionario a responder.
Conclusiones
Actividad n°4
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Sugerencias metodológicas:
-Cada equipo tomará una precinta transparente adhesiva, la cual presionarán sobre un
muro expuesto en algún lugar de la calle después las pegarán en un papel en blanco.
-Comparar la situación del nivel de contaminación (suciedad) de cada calle a partir de las
huellas tomadas en cada caso para demostrar el nivel de contaminación.
- Los estudiantes llegarán a la conclusión sobre cuál es la vía por donde deben transitar
con menos contaminación.
Actividad n°5
Título: La importancia que tiene el cuidado del medio ambiente en el entorno local.
Objetivo: Demostrar de forma teórica y práctica la importancia que tiene el cuidado del
medio ambiente en el contexto local donde se encuentra la escuela.
Método: Conferencia.
Orientaciones metodológicas.
-Se hace una actividad práctica demostrativa donde los estudiantes puedan comprender
y ver la importancia que tiene el cuidado del medio ambiente en el contexto local y social donde
se desarrollan.
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-Se imparte la conferencia por el especialista donde se tratan los siguientes temas.
• Vectores que producen los desechos sólidos en microvertederos del área local donde
se encuentra la escuela.
• Labor que se debe realizar para conservar el medio ambiente del área local donde
está la escuela.
Actividad práctica.
Se trabaja por el personal especializado del mosquito, focos de Aedes egiptis, larvas,
etc., se toman muestras y se hace actividad demostrativa.
Conclusión:
-Se hace una conclusión por parte de los especialistas en cuanto a lo perjudicial que es
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Evaluación:
Se hace una evaluación de forma individual por estudiante donde los propios compañeros
que participan en la actividad dan sus criterios según respuestas de los participantes a las
interrogantes hechas por los especialistas, se dan la evaluación de B, R o M.
CONSIDERACIONES FINALES
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Capítulo
07
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RESUMO
O presente trabalho se trata de uma monografia cuja temática central se refere aos desafios,
assim como as expectativas existentes no processo de inclusão de alunos com dificuldades de
aprendizagem, primando por tecer considerações e perspectivas referentes aos saberes psico-
pedagógicos. O objetivo do estudo, versou sobre buscar promover reflexões e considerações
elucidativas sobre a importância que a educação tem como forma de promover a inclusão de
alunos e preconizam dificuldades de aprendizagem durante o transcorrer de sua vida escolar.
A inclusão escolar referente a dificuldade de aprendizagem tem sido caracterizada como um
elemento muito importante para a vida do aluno que apresenta tais características sendo in-
dispensável o apoio docente neste contexto. Deste modo, O estudo se caracteriza como uma
revisão de literatura, o que implica em ter natureza qualitativa e abordagem exploratória. Foram
realizados levantamentos bibliográficos para efetivação do estudo. A bibliografia abordada no
trabalho demonstra que um dos pontos de grande relevância para que a inclusão ocorra de ma-
neira significativa e efetiva, é preciso investir na formação continuada de professores que atuam
no âmbito da Educação Básica além de promover a educação sensível.
INTRODUÇÃO
O texto aqui apresentado consta pesquisa cujo tema principal diz respeito às contribui-
ções que a área da psicopedagogia pode conceder aos alunos em situações de dificuldade de
aprendizagem. É bem reconhecível que as ditas dificuldades de aprendizagem estão presentes
em praticamente todas as modalidades e tipos de instituições educacionais. Por outro lado, a
Pedagogia sendo um campo que articula saberes, práticas e conhecimentos do campo da psi-
cologia, bem como de muitos, muito tem a contribuir no que é relativo a uma considerável gama
de problemas que tangem à aprendizagem que por sua vez atingem uma significativa parcela da
população de estudantes.
Levando em consideração que a Psicopedagogia como um campo que busca dar res-
postas para inúmeros problemas e embates educacionais como é o caso das dificuldades de
aprendizagens, pesquisas neste sentido firmam sua importância e relevância para a sociedade
e para a educação de modo geral.
O objetivo principal que norteou a presente estudo diz respeito a buscar compreender a
importância e as contribuições que a psicopedagogia escolar tem a oferecer para efetivar melho-
rias em situações de dificuldades de aprendizagem. Ainda, tem-se como objetivos específicos:
I) apontar as principais dificuldades de aprendizagens descritas na literatura; II) refletir sobre o
papel da psicopedagogia escolar para melhoria dos processos educativos; III) descrever e ava-
liar o papel e as atribuições do psicopedagogo escolar.
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Do ponto de vista hipotético, concebe-se que sendo a Pedagogia assim como a Psico-
pedagogia áreas específicas da Educação e que abrangem uma considerável gama de proces-
sos, metodologias, saberes, práticas e perspectivas destinadas a promover a aprendizagem, o
seu uso e aplicabilidade no ambiente escolar já se comprovou trazer em si a potencialidade de
proporcionar muitas melhorias para variadas situações em casos como aqueles relacionados
às dificuldades de aprendizagem. Por isso, a Psicopedagogia de modo genérico, além da mera
possibilidade de identificar situações e problemas de aprendizagens, pode oferecer formas para
que o aluno venha superá-las e, se tornar o sujeito de sua própria aprendizagem, construindo
assim o seu caminho educacional, galgando autonomia.
A pesquisa almejada foi idealizada para ser procedida tendo como caminho metodo-
lógico uma revisão de literatura com natureza qualitativa e com uma abordagem exploratória.
Através de leituras apreciativas e analíticas realizadas em gêneros textuais como livros, artigos
de periódicos publicados em veículos nacionais e internacionais, assim como dissertações de
mestrado e teses de programas de doutorado, serão tecidas reflexões sobre a temática aborda-
da no estudo em perspectiva.
DESENVOLVIMENTO
Assim, como o autor acima Gomes (2019) assegura que a educação em todas suas
dimensões e modalidades precisa manter um diálogo interrupto com a arte. Visto que a arte já
traz imbuída em si a sensibilidade tanto da parte de que a produz quanto de quem a visualiza, no
campo educacional muito se pode contribuir como a junção da educação e sensibilidade como
instrumento de desenvolvimento e aperfeiçoamento das capacidades intelectivas. Para a autora
é o sensível que situa o homem como um ser capaz de criar beleza, registrar memórias e cons-
truir discursos e representações que estão para além da razão e lógica visível.
Sendo um dos maiores expoentes das artes visuais produzidas em solo brasileiro, a
artista nascida na Polônia, mas naturalizada brasileira Fayga Ostrower (1983), em seu livro con-
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siderado por muitos como obra-prima “Universos da Arte” mencionava que lidar com a obra esté-
tica é uma forma de acionar a sensibilidade. Para ela não é possível pensar em arte puramente
pelas vias da racionalização. A arte só é possível de ser vista ou mesmo sua mensagem só po-
derá ser captada e percebida por meio da sensibilidade humana.
Neste sentido, ao se buscar definir o que possivelmente seria uma educação sensível,
pode se valer do ponto de vista de Ribeiro (2017). Para esta autora, uma educação que pode ser
compreendida como sensível é aquela que reconhece na sensibilidade um caminho experiencial
que permite ao sujeito educando utilizar a sua capacidade de sentir e vivenciar a realidade a par-
tir das amplas e múltiplas possibilidades de se criar beleza através das habilidades, capacidades
e da criatividade humana.
Ainda segundo Ribeiro (2017), uma educação sensível, conota-se pela perspectiva que
a escola precisa abranger abordagens pedagógicas que vão além da logicidade ou da racionali-
dade. Para tanto, infere-se que educar para a sensibilidade implica em colaborar para que o ser
humano se torne cada vez mais humano. Nesta seara, é valioso atestar que sensibilidade con-
cerne ao sujeito ler além do que está escrito ou perceber muito mais do que está grafado ou dito.
A busca por uma educação sensível está baseada na ideia, na convicção de que o homem
não é só razão, essa razão instrumental aliada à ciência em função de pesquisas para
criação de tecnologias para enriquecer o capitalista. É a estrutura que a escola está sub-
missa, configurando-se assim como um aparelho de Estado, pois além de reproduzir este
funcionamento, reforça-o e perpetua-o – exemplo disso é a promoção de uma formação
para o mercado de trabalho, movida por essa razão instrumental. Em face disso, o sensí-
vel, que passa pela experiência do corpo, inexiste. A busca de uma educação sensível vai
ao sentido de desviar da razão instrumental, apostando que há muito mais a ser explorado
pelo ser humano (RIBEIRO, 2017, p. 26).
|Capítulo 07 |95
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A consciência estética permite um estranhamento a respeito de algo que nos afeta intima-
mente. A verdade obtida pela consciência estética é um modo lúdico de representação,
que se realiza no jogo, uma das experiências humanas mais fundamentais. A estética mo-
difica quem a vivencia e permite ver o mundo sob uma nova luz (HERMANN, 2005, p. 40).
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nos quais se torna possível transformar o ato de imaginar, criar, pensar, interagir, sentir e agir de
acordo com as formas subjetivas de ler e interpretar o mundo que circunda cada sujeito.
Qualquer tipo de atividade lúdica seja ela relacionada a brincadeiras, jogos, brinquedos
cantados, favorecem o processo de inclusão, pois durante a brincadeira há o processo de in-
tegração entre as crianças, elas estão aprendendo a compartilhar, a serem cooperativas umas
com as outras, a respeitar os limites impostos por elas mesmas que participam da brincadeira ou
jogo, “a ludicidade constitui um traço fundamental das culturas infantis. Brincar não é exclusivo
das crianças, é próprio do homem e uma das suas atividades sociais mais significativas” (SAR-
MENTO apud NHARY, 2006, p. 57)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na atualidade vigente do Século 21, a educação continua sendo idealizada como o cami-
nho mais seguro a ser seguido para a construção, edificação e manutenção da democracia. Dito
isto, é relevante lembrar que em um estado democrático de direito a educação se figura como
direito indispensável à todas as crianças. Por isso as dificuldades de aprendizagem têm contado
como um dos temas de debates mais plausíveis e assinalados no campo educativo, bem como
em várias esferas correlacionadas.
O estudo realizado em moldes de uma revisão de literatura, demonstrou que nem todas
as crianças conseguem aprender no mesmo ritmo. Na realidade, as dificuldades de aprendiza-
gem nada mais é que uma característica e não uma deficiência por assim dizer. Deste modo, é
papel dos docentes propiciar de diversas formas para que a criança possa aprender, seguindo
o seu caminho e o seu ritmo, sem imposições e rótulos. Devido aos inúmeros avanços que a
educação associada a uma gama de ciência foi galgando ao longo das últimas décadas, não é
mais aceitável segregar os alunos com base em suas dificuldades e nos obstáculos que estas
enfrentam no transcorrer do processo de ensino-aprendizagem.
Um ponto que merece destaque a respeito de algumas temáticas que foram tratadas
no transcorrer deste trabalho, refere-se à necessidade de a formação continuada ser uma das
diretrizes que norteiam a prática docente dando ênfase a estudos de cunho psicopedagógicos.
Olhando pelo fato de que a educação é uma construção social que vai se transformando ao lon-
go de sua historicidade, o ensino e as outras práticas pedagógicas relacionadas à educação é
um reflexo das mudanças e da evolução das ciências e das disciplinas que compõem a matriz
curricular dos cursos de licenciatura.
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ção contínua e ininterrupta para que através dos conhecimentos que vão sendo construídos ao
longo de sua carreira, possa dar uma resposta de modo a apoiar os alunos com dificuldades de
aprendizagem.
Dentre algumas possibilidades que fazem parte dos saberes, práticas, conhecimento e
habilidades docentes, o presente trabalho deixou em destaque a ludicidade e a educação sensí-
vel. Ambos os caminhos são reconhecidos pelos efeitos positivos que tem concedido a criança
com dificuldade de aprendizagem. Desta maneira, este estudo pode sugerir a elaboração de
novos trabalhos que evocam a mesma temática propondo novos olhares, perspectivas e pontos
de vistas sobre o tema que é de extrema relevância para a educação básica de modo geral.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
Brasília: SEF, 1998.
BUENO, J. G. S.; A Educação Inclusiva e as novas exigências para a formação de professores: Algumas
considerações. In. BICUDO; M. (Org.). Formação do Educador e Avaliação educacional. Formação
Inicial e continua. São Paulo. Unesp, 1999.
FRIEDMANN, A. Brincar: crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.
HERMANN, N. Ética e estética: a relação quase esquecida. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.
HUIZINGA, J. O jogo como elemento da Cultura. Trad. João Paulo Monteiro, São Paulo: Ed.
Perspectiva, 2010.
HUIZINGA, J. O jogo como elemento da Cultura. Trad. João Paulo Monteiro, São Paulo: Ed.
Perspectiva, 2000.
KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1994.
LIMA, J. M. O jogo como recurso pedagógico no contexto educacional. São Paulo: Cultura Acadêmica:
Universidade Estadual Paulista, Pró-reitora de Graduação, 2008
|Capítulo 07 |98
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
MANTOAN, M. T. E. Igualdade e diferenças na escola: como andar no fio da navalha. In: ARANTES, V.
A. (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus Editorial, 2006. p. 15-30.
PEREIRA, L. H. P. Bio expressão: a caminho de uma educação lúdica para a formação de educadores.
Salvador, Bahia. 403 p. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade
Federal da Bahia – UFBA, 2005.
PIAGET, Jean. Sobre a Pedagogia: Textos inéditos. São Paulo: casa do Psicólogo. 1998.
RIBAS, J. B. C. Viva a diferença: convivendo com nossas restrições ou deficiências. 3ªed. - São Paulo:
Moderna, 1995.
SANTOS, M. G. S. Educação especial. V2, 2 ed. Rio de Janeiro. Fundação: CECIERJ, 2005.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo, SP. Martins Fontes Editora LTDA,
1998.
|Capítulo 07 |99
Capítulo
08
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho foi realizado na Creche Tia Glauce, Localizada no Conjunto Major Augusto
Bezerra na cidade de Bananeiras, com a turma do Pré II no turno da manhã, o qual teve o obje-
tivo de desenvolver as estratégias de leituras com as crianças, inter relacionando o composição
do texto com as disciplinas aplicadas, a atividade aconteceu no ambiente da sala de aula, onde
as cadeiras é organizadas em formato de U, a sala contém a professora e uma auxiliar, é um
ambiente bem limpo e organizado, a turma é formada por 18 (dezoito) crianças que têm entre
4 e 5 anos de idade, nenhumas das crianças sabe ainda ler nem escrever, no dia do exposto
trabalho esteve presentes apenas 12 (doze) crianças. Como se trata de crianças na fase inicial
da escolaridade em que seu nível leitor ainda está em processo, é interessante nessa fase apre-
sentar às crianças o fascinante mundo da leitura, por essa razão na fase inicial como também no
fundamental é importante trabalhar com as crianças a contação de história, mantendo-as sempre
em contato com o texto, pois como diz Sousa e Bernadino (2011). “A escuta de histórias estimula
a imaginação, educa, instrui, desenvolve habilidades cognitivas, dinamiza o processo de leitura
e escrita, além de ser uma atividade interativa que potencializa a linguagem infantil”. Logo, apre-
sentar às crianças desde de cedo a leitura vai fazer com que ela tenha mais a frente uma maior
facilidade de compreensão e produção da leitura e escrita.
Embora na fase da educação infantil as crianças ainda não saibam ler, ao ouvir a leitura
de um texto elas já estão praticando o ato leitor, e isso é essencial para que elas se tomem gosto
pela leitura, que leiam por prazer, algo tão escasso nos dias de hoje onde as pessoas só leem
por obrigação. Por esse motivo, e embasada em Koch e Elias (2013), pretendemos trazer aqui
a análise realizada com as crianças do Pré II sobre as concepções de leituras, por isso é bom
ressaltar quais são as três concepções, a primeira com foco no autor que é aquela que pretende
que nós leitores compreendamos o que o autor está querendo, o seu pensamento sobre o texto,
a forma por ele criada, o que temos que fazer é o captar o que o autor diz. A segunda com foco
no texto, nós leitores devemos focar apenas na estrutura do texto, em decodificar algo criado por
outra pessoa, o que importa aqui é conhecer o código linguístico. E a terceira com foco na inte-
ração, nosso propósito neste trabalho, ele pretende que nós leitores construamos o sentido de
um texto, levando em conta o que compreendemos, os conhecimentos prévios, as experiências,
o que o autor disse e o que entendemos do texto,
É importante que haja essa interação, para que a compreensão do texto se torne algo
natural, facilitando assim a produção de sentido do leitor, e aplicar o ato de ler só se torna algo
prazeroso quando o texto traz um significado, não só para as crianças, mas para quem lê.
Para isso dentro dessa concepção interacionista, aplicamos durante a contação da his-
tória as estratégias de leitura ligadas a essa concepção interacionista onde,
O leitor não procede letra por letra, mas usa seu conhecimento prévio e seus recursos
cognitivos para estabelecer antecipações sobre o conteúdo do texto, fixando-se neste
para verificá-las. Assim, quanto mais informação possuir um leitor sobre o texto que vai
ler, menos o precisará se “fixar” nele para construir uma interpretação[...]. A partir das hi-
póteses e antecipações prévias, o texto é processado para sua verificação. (Solé. 1998,
p. 23-24).
|Capítulo 08 |101
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
DESENVOLVIMENTO
O tema deste trabalho foi O lixo no planeta, e a historinha escolhida para abordar esse
tema foi O ratinho Rói-Rói, que conta a história de uma família de ratos que se mudam para um
ambiente menos poluído com latões de lixos organizadas em lixo seco e orgânico, e que o rati-
nho rói-rói era o mais comilão, o ponto da história que as crianças mais comentaram foi do rapto
de um do ratinho o Rói- Rói.
Para a descrição da fala das crianças colocarei para cada criança uma numeração refe-
rente a quantidade de crianças presentes no dia do desenvolvimento do trabalho a ordem a ser
seguida é de acordo com a ordem alfabética da chamada, durante as falas me referenciei como
Disc (discente) que realizei a leitura.
Disc. pergunto às crianças o que elas acham que vai contar essa história, o ratinho rói-
-rói?
Criança 1: fala que ele não vai aprender as letras e a professora vai brigar com ele, ela
diz isso pois ela lembra a historinha do dia anterior que a professora passou.
Criança 3: diz que ele vai varrer a casa dele, e que ele depois vai varrer sua casa.
Criança 5: fala que ele vai comer o queijo todinho e vai passear depois.
|Capítulo 08 |102
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Ao começar a leitura mostro para eles as imagens da historinha e ele veem os desenhos
e as letrinhas da história e começam a dizê-las como o E de era uma vez, as letras que eles
falam são as que a professora vem trabalhando com eles que são as vogais, de vez em quando
dizem alguma consoante, poucas, só aquelas presentes no nome de algum deles.
Disc. Continuo a história pergunto se eles acham que vai acontecer o que eles disse-
ram?
Disc. Ao longo da história aparece uma rata e pergunto a eles quem é a tal de dona rata
zana?
As crianças falam que é a rata e a mãe deles. Mostrando assim que estão atentos a
história.
Os ratos encontram um novo lar para morar ao lado de duas lixeiras uma para lixo orgâ-
nico e outra para lixo seco tudo muito organizado.
As crianças 1, 2, 5, 6, dizem que sabem, falam que são o que jogamos no lixo que não
pode mais usar.
Explico o que é o lixo seco e o orgânico, e como é importante jogar o lixo no lixeiro assim
ajudar a natureza ao reciclar.
A criança 3: Lívia fala que a mãe dela guarda as garrafas de refrigerante para colocar
água na geladeira.
Ao falar isso a criança 1: diz que a mãe dela faz a mesma coisa,
Disc. Vocês acham que eles vão gostar de morar nesse novo lugar, saíram do bueiro
para uma toca funda na calçada?
Depois mudam de opinião por causa da criança 6, Henrique e dizem que sim.
Criança 2: fala que na casa dele tem um cachorro que rasga o lixo e deixa tudo sujo.
As crianças 1, 3, 9 e 10: falam que acontece o mesmo com elas só que na rua em frente
a suas casas.
|Capítulo 08 |103
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Ao longo da História aparece uma gata que observa os ratinhos comer, e quando falo o
nome dela que é Mini,
Disc. O que vocês acham que vai acontecer com esses ratinhos perto dessa gata?
Criança 4, 10: Falam que ela vai dar um susto neles e depois vai embora.
Na historinha a gata corre atrás dos ratos e acaba pegando um deles, e a mãe tenta
salvá-lo.
Disc. Porque?
Mas infelizmente ela não consegue, porque a gata dá um chute nela e foge com rói-rói.
|Capítulo 08 |104
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Criança 2: fala que tem dia que eu corro e caio tem dia que corro e não caio.
Criança 2: Fala isso porque acha que rói-rói vai correr e vai cair.
Rói-rói corre pela casa quando a gata o solta pois queria brincar com ele, e ele corre para
atrás do armário da casa.
Disc. Será que ele rói-rói vai fugir de detrás do armário, ou a gata vai pegar ele?
Disc. Depois de comer, ele conseguiu fugir? Ou gata pegou ele? Ou apareceu alguém?
Criança 3: Conta que a mãe varrendo a casa da avó achou debaixo do sofá um rato
morto.
Criança 11: Diz que ele correu para fugir e a mãe apareceu para ajudar.
|Capítulo 08 |105
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Disc. Vocês acham que ele escondido ali vai acontecer o que?
Criança 5: Que ele vai esperar a mãe dele aparecer para salvar ele.
Criança 9 e 11: Falam que ele vai dormir e a gata vai pegar ele.
A dona da casa ao ver rói-rói desmaia, e a família para ajudá-la abrem as portas e Rói-rói
foge.
Disc. Vocês acham que depois que ele fugiu ele conseguiu chegar em casa?
Criança 3: Ele está muito gordo e não vai conseguir chegar em casa.
Criança 11: Ele vai se perder e depois a mãe vai achar ele.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Criança 7: Quando a gata aparece e quando eles acham uma casa nova.
Criança 8: Da gata.
Vale ressaltar que a criança 12 presente na aula participou de todas as atividades exe-
cutadas, mas não quis falar em nenhum momento em que foi feito as perguntas, nem durante as
atividades realizadas após a leitura, devido ao fato de ter um certo nível de autismo. A professora
nos fala que a relação dela na turma é boa havendo só alguns poucos casos de brincadeiras
com a criança 12 pelas outras, que logo a professora intervém, nos fala que a criança 12 é muito
esperta e responde nas atividades de dizer as vogais e os números de 0 á 10 que está traba-
lhando com as elas, a criança 12 só responde quando sente vontade e apenas nesse momento
para falar os números e as letras, fala com os colegas e com as professoras mas pouca coisa,
como para pedir água, mostrar a atividade e pergunta se está bonito, ela têm muita dificuldade
na escrita e não sabe ainda escrever seu nome.
Finalizado da Historinha pude perceber como é importante trazer para a sala de aula
essa interação entre as crianças umas com as outras e envolver o texto pois,
Propiciar a interação quer dizer, portanto, considerar que as diferentes formas de sentir,
expressar e comunicar a realidade pelas crianças resultam em respostas diversas que são
trocadas entre elas e que garantem parte significativa de suas aprendizagens. (BRASIL,
1998, p. 31)
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Criança 3: Da menina que fala que não pode jogar o papel no rio.
Disc. Pergunto se elas acham certo o menino jogar lixo no rio? e o que pode acontecer
se jogar lixo no rio ou na rua?
As Crianças ligam muito o tema que abordo com a semana anterior, onde a professora
estava trabalhando sobre o dia mundial da água com eles, as perguntas feitas sempre coloca-
vam nas suas falas a água, as crianças ao colocarem essa questão, reforçava como é importante
não jogar o lixo em locais que não fossem certos, pois o lixo jogado em ambientes errados nos
afeta em tudo, principalmente na água, continuei conversando com as crianças e às disse que
existe a lixeira certa para jogar cada lixo,
Disc. respondi sim. E perguntei se eles não lembram que disse na historinha?
As outras ficam em silêncio e depois umas dizem que lembra e as outras que não lem-
bram.
Então repito que cada lixo tem uma lixeira certa para jogar o papel, o plástico, o metal, o
vidro, e os orgânicos.
As crianças ficaram olhando umas para as outras dizendo que sabia o que era, depois
olham para mim dizendo que jogam o lixo na lixeira.
Falo ainda para elas o que é o lixo Orgânico que é o lixo que não podemos utilizá-lo de-
pois, reciclá-lo, dou o exemplo da comida que não podemos usar de novo porque é orgânica, já a
garrafa PET, a de refrigerante podemos usar de novo, reciclando-a para fazer um joguinho como
o boliche que jogamos na semana passada.
|Capítulo 08 |108
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Criança 3: E podemos colocar água nela né tia, como minha mãe faz.
Coloco então, o jogo que foi feito de caixa de papelão com os cinco tipos lixeira, como
as crianças não sabe ler apresentei para elas as cores de cada lixeira, explicando que cada uma
tinha uma cor e que eles tinham que colocar as fotos de lixos na cor certa de cada lixeira.
Embora o joguinho consistisse em trabalhar as cores certas tornando-o mais fácil, fiquei
admirada por elas conseguirem lembrar na hora do jogo que a foto daquele lixo pertencia aquela
determinada cor de lixeira. Somente as crianças 2, 8, 10, 11 e 12 tiveram dificuldade de lem-
brar da cor, que com a minha intervenção, e em alguns momentos os colegas ajudavam, eles
colocavam na cor certa, exceto a criança 12. O joguinho que foi deixado na creche para que a
professora continue trabalhando com eles as cores, conteúdo que está sendo trabalhado com as
crianças na creche. Essa foi uma maneira lúdica de trabalhar a partir do jogo com as crianças as
cores e a importância de jogar o lixo no lugar certo, logo segundo Kishimoto (2011 p. 55) “No de-
senvolvimento das crianças, é evidente a transição de uma forma para outra através do jogo, que
é a imaginação em ação. A criança precisa de tempo e de espaço para trabalhar a construção do
real pelo exercício da fantasia.” É visível como as crianças têm mais facilidade de aprender com
jogos, interagindo a partir dele com os conteúdos trabalhados, com as outras crianças, e que
nessa ação coletiva eles aprendem ao mesmo tempo que brincam.
Ainda abordando a reciclagem passei uma atividade impressa para as crianças pintarem
a cor das lixeiras e os lixos referentes a ela, essa atividade teve em vista auxiliar na compreen-
são do tema envolvendo o lixo, como também o trabalhar com as cores onde algumas crianças
ainda encontram dificuldade de reconhecê-las, a atividade de pintura é algo que as crianças
gostam bastante, antes de mostrar a atividade elas perguntaram se ia ter atividade para pintar,
disse que sim e elas ficaram felizes, ao longo da pintura ajudava as crianças que estavam com
dificuldades em reconhecer as cores, dizia qual era a cor da lixeira e elas pintava e os lixos refe-
rentes a elas, uns com mais facilidades do que outros.
Imagem 4 - Pintando as lixeiras
Partimos então, para o último momento do trabalho envolvendo a geografia com o tema,
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
que consistia em criar com as crianças um conto sobre o lixo no mundo. Falo às crianças que
iremos criar uma historinha para lermos mais na frente, para ajudar as crianças na hora de criar
o conto, falo que elas devem pensar no que será que podemos fazer para que o mundo onde
moramos continue bonito e cheio de vida. Como as crianças não sabem escrever elas vão falar
e eu vou copiar o que elas irão criando ao longo da história, cada criança deve procurar uma ou
mais imagens e colar no mundo, na medida que escolherem a imagem devem dizer como se en-
caixa na historinha falando o que deve acontecer, ajudo as crianças em alguns momentos, mas
são as falas delas no conto, cada criança contou uma frase da história, exceto a criança 12 que
colou a imagem mas não quis dizer nada para a historinha, o relatado foi feito aleatoriamente não
seguindo a ordem alfabética, no início de cada frase colocarei o número referente a criança que
disse. A historinha feita pelas crianças foi a seguinte,
5 Um mundinho que tinha uma árvore e também duas casas, 11 no prédio tinha uma
boneca que se mexia, 3 ela se transformou em uma flor bem bonita que se sentia feliz porque
olhava para a lua. 4 Um dia a flor estava andando pela rua e encontrou uma lata na frente de uma
casa e também um coco, 1 depois de um tempo apareceu outra flor tão bela quanto a primeira
elas eram amigas, 8 junto dessas amigas tinha mais duas, 10 depois apareceu mais uma amiga.
7 O sol estava muito quente nesse dia, 6 porque não tinha nenhuma nuvem, mas aí chegou uma
nuvem que não choveu depois de um tempo começou a chover, 9 a flor foi para a casa dela,
mas não choveu só choveu na mata. 2 também havia uma floresta tinha árvore, maçã, casa e
uma estrela, choveu e o lixo todo foi parar na água e depois não tinha água mais e depois o povo
nunca mais tomou banho e bebeu água. FIM.
Imagem 5 - Mundinho feito pelas crianças e historinha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho traz meu primeiro contato em sala de aula com crianças da educação
infantil, estava ansiosa para esse primeiro momento como professora. Pude perceber como é
importante principalmente nessa fase inicial colocar em prática as concepções de leitura, nesse
caso, focando na interacionista onde por meio dela pudesse oportunizar essa interação entre o
texto e o leitor, como já mencionado as crianças não sabe ler, por isso ter levado esse mundo da
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leitura para as crianças foi muito significante não só para as crianças em ter esse contato com
a contação, mas para mim também ao ver nos olhares, na expressão corporal a alegria, o entu-
siasmo das crianças, em estar numa roda e poder interagir dar suas opiniões sobre o texto. Foi
muito interessante ver que elas além de falar do que achavam que ia acontecer durante o texto,
incorporaram suas vidas pessoais dentro desse momento de conversas, que por elas passaria
o dia todo conversando. O mesmo aconteceu na realização das atividades, essa interação entre
todos com o vídeo, o jogo, a criação da história. Percebi como é necessário ter uma base teórica
para poder realizar um trabalho de qualidade para os alunos, pois esses embasamentos nos
subsidiam dentro da prática educativa, mas embora essa base sinto que ainda falta aprender
muita coisa para eu me sentir capacitada para poder ser uma boa educadora.
REFERÊNCIAS
Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação/ Tizuko M. Kishimoto (org.); 14 ed. São Paulo: Cortez, 2011.
Koch, Ingedore Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto/Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria
Elias. 3 ed. 8° reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura/ Isabel Solé; trad. Cláudia Schilling - 6.ed. Porto Alegre: Artmed,
1998.
SOUZA, Linete Oliveira de; BERNARDINO, Andreza Dalla. A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO
ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL. Educere et
Educare revista de educação. Vol. 6 nº 12 jul./dez. 2011. p. 235-249. Disponível < http://e-revista.
unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/4643/4891 > Acesso em 28/04/2019
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ANEXOS
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
Objetivo geral:
Objetivos específicos:
Conteúdos:
Momentos
1° momento: Iniciar a aula com a acolhida e a rotina inicial da Creche, depois em uma
roda irei ler o texto “O ratinho Rói-Rói”, trabalhando as estratégias de leitura com as crianças, na
concepção interacionista, os questionando sobre os acontecimentos antes, durante e depois da
contação.
2° momento: Passarei um vídeo que fala de que “o lixo é no lixo”, pois é uma forma didá-
tica em que as crianças não têm dentro da sala de aula, fazendo com que elas aprendam com o
desenho, finalizado o vídeo, farei perguntas sobre ele relacionando com texto.
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Farei durante esse momento de atividade uma introdução do que podemos fazer com materiais
recicláveis e sua importância para o meio ambiente, levei exemplos de materiais reciclados,
como jogos feito com garrafas PET entre outros, sempre fazendo referência com o texto e o ví-
deo. Para maior fixação usarei uma atividade impressa em que eles têm que pintar o lixo da cor
correta e ligar o que é em que, como eles não conseguem fazer sozinho eu e minha colega de
estágio ficamos os auxiliando.
4° momento: Tendo em vista o tema abordado e com o auxílio do texto e do vídeo, farei
uma atividade em que as crianças irão colar imagens impressas no planeta e a partir das ima-
gens construir uma história sobre o planeta e sua importância.
Fotos
Historinha das crianças
Criança 8 Criança 12
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Capítulo
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RESUMO
RESUMEN
El objetivo de este estudiar es discutir el proceso de adaptación del niño en la educación infantil y
orientar esa adaptación de la forma más humanizadora posible, planteando la pregunta: ¿Cómo
hacer uso de las prácticas pedagógicas para facilitar la adaptación? ¿Cuál es el papel de las per-
sonas involucradas en este proceso escolar? Este proceso implica; padres de familia, alumnos y
comunidad escolar en su conjunto. Este estudio también busca comprender la concepción de los
docentes sobre el papel de la escuela en la humanización de los niños pequeños, para que haya
una formación omnilateral, su experiencia e interacción a lo largo de su proceso de desarrollo.
Para que cada niño tenga acceso al conocimiento elaborado y apropiación del mismo. Con la
propuesta de no disociar el desarrollo social del ser humano, mostrando siempre que la función
de la escuela es también formar ciudadanos autónomos, conscientes de sus derechos y deberes.
INTRODUÇÃO
A insegurança e receio dos pais também corroboram para que essa adaptação possa vir
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
a ser mais dificultosa, algumas vezes levando a criança até perceber tal situação. Onde algumas
crianças ao entender isso, fazem uso de chantagem emocional, algo que também precisa ser
trabalhado.
CONHECER O PROCESSO
Cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação de diálogo eu-tu, seja liber-
tadora, sinergética e construtora de aliança perene de paz de moralização.” Leonardo
Boff-Saber Cuidar.
A palavra acolher vem do latim ´´Acollegere´´ que significa: levar em consideração, re-
ceber proteção e refúgio. Na educação infantil esse momento de acolhimento passa a ser um
momento estratégico, pois ele tem o poder de fortalecer os vínculos de confiança entre a criança,
professores e família.
Quando a criança chega a educação infantil não é só ela que está em fase de adaptação,
os pais passam por essa fase, professores e a comunidade escolar também, todos os envolvidos
direta ou indiretamente a ela estão nesse processo. Análise a partir dos educadores, com obje-
tivo de promover com que criança se sinta confortável e a vontade no ambiente, para promover
novas aprendizagens e descoberta. Faz-se necessário uma análise das experiências e conhe-
cimentos que a criança já vivenciou e vive. Analisar não só os processos externos-contextuais,
estudar também os processos internos-intracriança os ambientais da mesma forma.
Por mais que o tempo de vivência da criança não tenha sido por muito tempo, mesmo
assim ela traz um ´´bagagem´´. e é baseada nela que a adaptação deve ser feita. Cada criança
teve e tem experiências baseadas no seu convívio familiar. A inserção da mesma, no âmbito es-
colar sem levar em conta o que ela viveu, o que vive, será fadada ao insucesso. A escola precisa
cada vez mais tomar conhecimento desses fatores, que acontece com cada criança, respeitan-
do, agregando e fortalecendo a confiança de si próprio e dos outros. Com isso desenvolvendo
sua coragem, paciência, persistência e resiliência. Fazendo-se necessário um acolhimento da
criança e de todo seu histórico, histórico esse que facilita para uma adaptação mais humaniza-
dora, contando com os pais nesse processo.
OS PAIS
A visita dos pais a escola e o tempo que disponibilizam nessa fase de adaptação é de
suma importância, pois são nesses momentos que os pais podem conhecer melhor os pro-
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
E os pais como se sentem? Segundo Balaban (1988), eles, geralmente, se sentem inse-
guros quanto à decisão de enviar seu filho à escola aos 2 anos; preocupação em deixá-lo
com pessoas estranhas; lembram de suas próprias experiências anteriores de separação;
têm medo que o filho goste mais da professora do que deles, estão excitados, emociona-
dos, apreensivos, tristes, alegres são adjetivos que ela utiliza para descrever os sentimen-
tos contraditórios que surgem nessa época.
Os pais devem estar preparados psicologicamente para essa separação, sentir seguran-
ça, pois isso influencia no comportamento da criança. Explicar a ela os benefícios que a escola
traz. Perguntar como foi o dia, o que a criança fez. Mostrar a importância que essa experiência de
estar frequentando a escola tem. Facilitando o processo de adaptação e torná-la mais humana.
As crianças têm necessidade de pão, do pão do corpo e do pão do espírito, mas ne-
cessitam ainda mais do seu olhar, da sua voz, do seu pensamento e da sua promessa.
Precisam sentir que encontraram em você e na sua escola, a ressonância de falar com
alguém que as escute, de escrever a alguém que as leia, ou as compreenda, de produzir
alguma coisa útil e de belo que é a expressão de tudo o que trazem nelas de generoso e
de superior. (FREINET, 2004).
As crianças são mais parecidas umas com as outras quando pequenas, o ato de falar
olhando nos olhos delas e pelo fato dela saber e sentir que está sendo observada, favorece mui-
to o grau de desenvolvimento cognitivo. Desenvolvimento que passa a ser mais perceptível ao
18 meses de idade, mesmo havendo percepção por parte dos adultos já no primeiro ano de vida,
tendo como base o convívio familiar, religioso ou convívio socioeconômico.
PROFESSOR FACILITADOR
Partindo das experiências vividas por cada criança, o papel do professor precisa ser de
facilitador/mediador, despertando segurança, preferencialmente no momento de adaptação, pro-
porcionando um espaço tranquilo, seguro e acolhedor.
O professor pode planejar a melhor forma de organizar o ambiente nestes primeiros dias,
levando em consideração os gostos e as preferências das crianças, repensando a rotina
em função de sua chegada e oferecendo-lhes atividades atrativas. Ambientes organizados
com materiais de pintura, desenho e modelagem, brinquedos de casinha, baldes, pás,
areia, água etc.- (RCNEI,1998).
Fazer uso das informações fornecidas pelos pais, também ajuda nesse processo como:
carinhos específicos , brinquedos preferidos.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
expresse. De acordo com Montessori, não devemos sufocar as expressões, pois elas são vida.
A dupla realidade, filosófica e psíquica, tem uma fonte eterna: a vida; e nós não devemos
viciar ou sufocar essas potencialidades misteriosas, mas antes guardar suas manifesta-
ções sucessivas. (MONTESSORI, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação se estende por toda vida, por isso a importância da parceria com a família,
isso leva a formação de sujeitos mais capacitados, com acontecimento e também com habilida-
des socioculturais, levando o mesmo a saber lidar com desafios e enfrentá-los assim contribuin-
do para o desenvolvimento da sociedade.
Portanto, este estudo possibilitou mais conhecimentos acerca das dificuldades que o
ser humano enfrenta em separações e, mais especificamente, sobre as crianças em processo
adaptação e como intervir na escola diante de certos desafios enfrentados pelos discentes, fami-
liares e corpo docente, de forma a buscar estratégias que possam contribuir com uma adaptação
adequada e de qualidade para as crianças e seus responsáveis.
Revelou ainda, que tanto a escola, quanto família devem trabalhar juntas, de forma que
a adaptação das crianças seja realmente significativa, prazerosa e tranquila. O papel da escola
infantil a partir do materialismo histórico dialético e da teoria histórico-cultural nos auxilia a com-
preender este espaço como lugar privilegiado no desenvolvimento e aprendizagem da criança
pequena, pois contribui muito para a humanização, em todos os aspectos.
REFERÊNCIAS
BOFF, Leonardo. Saber cuidar- A Ética Do Humano: A compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2017.
FREINET, Célestin. Pedagogia do Bom Senso. trad. J. Batista e Matins. Fontes- São Paulo, 2004.
MONTESSORI, Maria. A Descoberta da Criança: pedagogia cientifica. trad. Pé Cury Maria Azelio
Brunettei- Campinas, SP: KIrion, 2017
RÊGO, Maria Carmem Freire Diógenes. Recortes e Relatos: a criança de 2 e 3 anos no espaço escolar.
Natal, Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. RN. 1995
BALABAN, Nanci. O início da vida escolar: trad. Yeda Luci Sehm Berlin – Porto Alegre: Artes médicas,
1988.
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Capítulo
10
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.10
RESUMO
O ensino de arte por muito tempo foi desvalorizado e trabalhado de forma a não valorizar a
relação entre teoria e prática. Contrário a isso o presente trabalho tem por objetivo destacar a
Abordagem Triangular como alternativa para a melhoria do ensino de arte. E justifica-se devi-
do à necessidade de evidenciar alternativas ao ensino de arte nas escolas as quais ainda se
encontram atrasadas no que se refere às novas metodologias, pois, o fazer por fazer ainda é
predominante na maioria das instituições de ensino da educação básica, privando o alunado
de conhecimentos significativos e, consequentemente, não o reconhecendo como sujeito ativo
no processo de ensino aprendizagem. A metodologia utilizada segue os caminhos da pesquisa
qualitativa com foco na observação participante e na abordagem triangular tendo em vista que
essa é valiosa ao ensino de arte. E concluiu-se que o método triangular de Ana Mae Barbosa
proporciona melhorias significativas melhorias no ensino de arte e contribui para a construção de
conhecimento na disciplina. Assim, como auxiliou a apreensão dos conhecimentos incorporados
à teoria e a prática, de criar representações a partir do conteúdo.
INTRODUÇÃO
A arte tem suas origens nos primórdios à história humana como forma de representação
das ideias e leituras de mundo. Desse modo, seu surgimento se confunde com a origem do pen-
samento humano o qual é responsável pelo avanço artístico no decorrer dos tempos.
A arte é universal e está intrinsecamente relacionada a cultura dos povos e serviu como
meio de comunicação, ferramenta ideológica, registro histórico além de muitas outras aplicabi-
lidades. Nos dias de hoje o conhecimento entorno das artes se faz muito importante tendo em
vista o desenvolvimento integral do cidadão crítico e é a escola o espaço privilegiado para a
construção do saber artístico. Isso pode ser percebido quando se ressalta que:
“A arte abarca muito mais do que o simples fazer, pois não é um fazer solto, mas um fazer
criativo impregnado de lógica. Ela é uma forma de expressão, de comunicação e de rela-
cionar-se de forma concreta com o mundo. Ela se manifesta como meio de induzir formas
de pensar e se relacionar. Ela está por toda parte e se constitui como manifestação unâ-
nime da espécie humana, como consequência do pensar e se relacionar com a natureza
sob o nascimento da cultura. Desse modo, incorpora-se a tudo aquilo que é resultado do
trabalho humano em relação ao meio, mas com finalidades as mais variadas” (SANTOS,
2018).
Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo destacar a Abordagem Triangular
como alternativa para a melhoria do ensino de arte nas escolas. Tendo em vista que essa me-
todologia proporciona maior envolvimento dos estudantes e torna as aulas da disciplina mais
proveitosa e dinâmica. Buscar novas alternativas que visam aperfeiçoar a relação ensino-apren-
dizagem se torna de fundamental importância e é o arte-educador o principal organizador de
situações de promoção da construção do conhecimento em arte.
|Capítulo 10 |120
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Tal trabalho demonstra a preocupação com a situação que se encontra o ensino de arte e
o uso da Abordagem Triangular proporcionou maior participação dos estudantes e, consequente,
construção do conhecimento tendo em vista o tratamento da produção artística de desenhos/pin-
turas de representações da temática trabalhada. Pois, muito do que foi contextualizado durante a
aula, os estudantes conseguiram representar de forma significativa nos seus trabalhos artísticos.
DESENVOLVIMENTO
Materiais e Métodos
Em meio a essa abordagem, foi utilizada a observação participante, que, para alguns
autores, também é uma pesquisa onde em que há ação. Para Luke (1986, apud Santos, 2014),
a observação é utilizada como principal mecanismo de investigação podendo ser associada a
outras técnicas de coleta, possibilitando com isso um contato pessoal e estreito entre pesquisa-
dor e fenômeno estudado. “Esse procedimento metodológico representa, assim, um excelente
recurso para uma inserção mais densa nas práticas e representações vivenciadas, pois permite
ao pesquisador uma análise mais delimitada e específica” (PROENÇA, 2007, p. 9).
A abordagem triangular de Ana Mae Barbosa também se fez presente no decorrer a pes-
quisa, pois, consiste na análise de imagens baseada na contextualização (história a arte), leitura
da imagem e na criatividade do aluno. Para Barbosa (2002) a história da arte ajuda as crianças
a entender algo do lugar e tempo nos quais as obras e arte são situadas tendo em vista que ne-
nhuma obra de arte existe no vácuo, pois, parte de seu entendimento depende do seu contexto.
Ainda segundo a autora,
|Capítulo 10 |121
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Um currículo que interligasse o fazer artístico, a história a arte e a analise a obra de arte
estaria se organizando de maneira que a criança, suas necessidades, seus interesses
e seu desenvolvimento estariam sendo respeitados, e ao mesmo tempo, estaria sendo
respeitada a matéria a ser aprendida, seus valores, sua estrutura e sua contribuição espe-
cifica para a cultura (BARBOSA, 2002, p. 35).
No Brasil do início do século XX, houve uma remodelação do projeto educacional vigente
a fim de adequá-lo à nova política nacional é a modernização cultural que despontava em função
da crescente demanda pela industrialização. Com esse novo modelo de ensino, predominou
uma concepção utilitarista da arte. Os professores trabalhavam, basicamente, exercícios e mo-
delos convencionais selecionados em manuais e livros didáticos, voltando-se essencialmente
para o domínio das técnicas (BERNARDES e OLIVEIRA, 2011, p. 27).
Reforçando o que foi ressalto Gomes e Nogueira (2008) destacam que essa realidade
|Capítulo 10 |122
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
é questionadora, pois, na maior parte das circunstâncias, profissionais sem formação de nível
superior ocupam a função de docentes na área de arte carecendo de formação básica especifi-
ca e ao mesmo tempo abrangente. O que torna ainda mais necessária a crítica ao processo de
formação de professores.
Ainda nos dias atuais encontramos um ensino de arte deficiente em que a má formação
do corpo docente de algumas escolas reflete no ideário dos alunos uma visão da disciplina base-
ada apenas na prática de desenhos espontâneos que em nada contribuem para uma formação
cidadã. Nesse sentido, torna-se de fundamental importância a valorização do professor de arte e
seu processo de formação como profissional da educação.
Como já foi ressaltada a Arte é incluída no currículo a partir da Lei 5.692 de 1971 com
o título de Educação Artística e recebe um tratamento diferenciado das demais disciplinas, con-
siderada uma atividade educativa. Já no ano de 1996 a Lei nº 9.394 mais conhecida como LDB
(BRASIL, 1996) torna a arte componente curricular obrigatório tendo em vista a promoção da
formação cultural dos discentes das escolas.
A LDB de 1996 destaca, também, que o ensino de arte deve contemplar as diversas
linguagens artísticas entorno das artes visuais, da dança, da música e do teatro tratadas como
áreas básicas necessárias à formação escolar. Percebe-se que surge certa preocupação no que
se refere ao desenvolvimento cultural do aluno como sujeito crítico. Nesse sentido o ensino de
arte tem a função de proporcionar a “compreensão o ambiente natural e social, do sistema polí-
tico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade” (BRASIL 1996).
Já no ano de 1997 são publicados os PCNs com a finalidade de nortear e lançar propos-
tas para o ensino de arte nas escolas a partir de parâmetros e metas a serem alcançadas com
foco na formação do cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e
deveres. Segundo os PCNs,
Resultados e Discussão
O desenvolvimento das atividades na turma do 6º ano da ECIT Plinio Lemos foi organi-
zado em duas etapas baseadas na abordagem triangular, cada uma com duração de 50 minutos.
|Capítulo 10 |123
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Na primeira etapa buscou-se relacionar a leitura de imagem com o contexto histórico e na segun-
da etapa a representação através de desenho/pintura de elementos trabalhados anteriormente,
a critério dos estudantes tendo em vista o que representar (desde que relacionado ao que foi tra-
balhado na contextualização). A temática de destaque foi “Arte Paleolítica”, conteúdo abordado
a partir do contexto histórico em que viveram os grupos humanos do Paleolítico e suas primeiras
manifestações artísticas as quais foram ressaltadas intimamente relacionadas às necessidades
básicas daqueles indivíduos inseridos em um meio diferente do nosso, reflexo do modo de vida
nômade.
Foi solicitado aos estudantes que observassem imagens com pinturas rupestres que es-
tavam sendo reproduzidas por meio de uma TV, chamando a atenção para a figura representada,
as cores utilizadas, o material em que a obra se encontra. A partir daí deu-se início a contextu-
alização em que a curiosidade dos alunos e seus questionamentos tornaram-se a base para o
desenvolvimento da aula. O uso de recurso imagético é uma importante ferramenta no ensino de
arte e proporciona maior atenção do estudante quando contextualizada.
Na segunda etapa, fase de representação através de desenho tendo por base a temática
trabalhada, percebe-se que os estudantes em sua maioria buscaram representar o modo de vida
dos grupos humanos, alguns deles, inclusive, destacaram figuras humanas produzindo repre-
sentações em paredes ou confeccionando ferramentas. Cenas de caça também foram desenha-
das, o conteúdo abordado foi ao modo dos alunos muito bem destacada na produção realizada
(Figuras 1 e 2).
Figura 1 - Alunos do 6º ano produzindo Figura 2 - representação produzida por
representações. alunos do 6º ano ampliada.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
A aula tornou-se muito produtiva e mobilizou todos os alunos a partir da curiosidade de-
sencadeada devido ao uso de recurso imagético destacando pinturas rupestres. Isso demostra
a necessidade do arte-educador em mobilizar os conhecimentos necessários a partir da história
da arte, da leitura de imagens e do fazer criativo do aluno. De modo que haja consonância entre
o saber e o fazer significativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como base a Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa e sua aplicabilidade em
sala de aula chega-se à conclusão de que a mesma é fundamentalmente importante ao ensi-
no-aprendizagem em arte, pois, dinamiza a aula proporcionando a construção do conhecimento
significativo na disciplina.
REFERÊNCIAS
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Capítulo
11
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RESUMO
INTRODUÇÃO
Esta forma de uso dos recursos pedagógicos para inferir no desenvolvimento de softwa-
re continua sendo explorada de todas as formas, pois o computador tornou-se uma ferramenta
de aprendizagem necessária. Na nova sociedade, as metodologias ágeis se tornaram uma ferra-
menta cada vez mais imprescindível, sendo caracterizado como o agente de intercâmbio no pro-
cesso de relacionamento e no processo de transformação para a nova sociedade da informação.
|Capítulo 11 |128
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
O artigo apresentará uma revisão da literatura, em relação aos usos das metodologias
ativas no ensino onde se identifica com um conjunto de elementos pedagógicos que interagem
entre si, dando forma e conteúdo aos processos existentes.
METODOLOGIA
A busca foi realizada entre Junho e julho de 2021. Para serem incluídas no estudo, as
publicações deveriam atender ao período compreendido entre os anos de 2000 a 2020 (artigos)
1996 a 2020 (Livros) ou serem clássicos, possuindo textos completos e disponíveis on-line.
Como critério de exclusão de artigos durante a filtragem foram utilizados os seguintes critérios,
artigos publicados antes do ano de 2010, artigos que não estejam publicados em bases de dados
ou revistas científicas, artigos que não estivessem em língua portuguesa e artigos cujo tema não
fosse relevantes para a pesquisa e livros com publicações anteriores a 2005.
Aprendizagem
|Capítulo 11 |129
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
2012, p. 229).
Quando a aprendizagem na computação ela segue os mesmo mecanismos das duas (2)
escolas. Elas são resultados da conexão (associação) entre estímulo (impressões sensoriais) e
respostas e/ou são reorganização de percepções. No caso da aprendizagem associativa elas
funcionam como a associação dos conhecimentos repassados que invocam os estímulos sen-
soriais; já no caso da aprendizagem cognitiva elas se organizam a partir da percepções que o
conhecimento repassado proporcionam (FIALHO, et al., 2011).
O argumento de que o todo era mais que a simples justaposição ou soma de um grupo
separado de partes conduzia a entender a aprendizagem como uma relação significativa no
seu todo e a única abordagem possível só poderia ser a cognitiva. A metodologia utilizada era
a introspecção muito fácil de atacar quer na validade, quer na fiabilidade. Watson e os compor-
tamentalistas, não tinham objeções ao estudo de casos particulares, mas negavam o uso da
introspecção como válido na recolha de dados para estudo. Os únicos dados verdadeiramente
científicos no campo da psicologia eram as respostas observáveis (FIALHO, et al., 2011).
O conceito de consciência, na medida em que não podia ser visto, tocado ou observado,
não tinha lugar no campo da psicologia. Retiraram do vocabulário científico todos os “termos cuja
|Capítulo 11 |130
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
definição envolvia subjetividade, tais como, sensação, percepção, imagem, desejo, intenção e
até mesmo pensamento e emoção” (FIALHO, et al., 2011).
A motivação para aprender era desencadeada por reflexos tais como a fome e a exis-
tência de forças externas, como recompensas e punições. Concentram-se no estudo de com-
portamentos expressos que podem ser observados e medidos. Veem a mente como uma “caixa
negra” no sentido de que a resposta a estímulos pode ser observada quantitativamente, igno-
rando totalmente a possibilidade de ocorrência de processos de pensamento. Edward Thorndike
(1874-1949), discípulo de William James, fez investigação em comportamento animal antes de
se interessar pela psicologia (LEMOS, 2010).
Esta tarefa (de ensinar e aprender) é concebida de forma diversa consoante as crenças
que se mantém acerca do processo de aprendizagem e da organização de ambientes de apren-
dizagem. As relações entre professor de ciência da computação e sua correlações, alunos e
conteúdos são dinâmicas; por isso, a atividade de ensino deve ser um processo coordenado de
ações docentes, em que o professor deverá organizar, com o máximo de cuidado possível, suas
aulas, levando em conta sempre as reais necessidades dos seus alunos nos diversos tipos de
ambientes onde estão inseridos (GALANTE e BRITO, 2008).
|Capítulo 11 |131
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Não se pode esquecer que o ensino de ciências da computação com e qualquer área de
ciências exatas tem caráter bilateral, pois combina a atividade do professor – ensinar – com a
atividade do aluno – aprender. Assim sendo, deveria ser ensinada de modo a ser um estímulo à
capacidade de investigação lógica do educando, fazendo-o raciocinar. Neste contexto, a tarefa
básica do professor seria o desenvolvimento da criatividade, apoiada não só na reflexão sobre
os conhecimentos acumulados pela ciência em questão, mas também sobre suas aplicações às
demais ciências, à tecnologia e ao progresso social (BARROODY, 2013).
Quanto à escola, ela deve oferecer recursos materiais para tornar possível o trabalho
docente. Finalmente, o ensino de ciências da computação e suas correlações como em qual-
quer área de ciências exatas deveria estar apoiado em experiências agradáveis, capazes de
favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas, que, por sua vez, conduzirão a uma melhor
aprendizagem e ao gosto pela disciplina inferida (GALANTE e BRITO, 2008; BARROODY, 2013).
Metodologias ativas
A aprendizagem ativa passa pelo reconhecimento que esta ocorre apenas quando há
compreensão, que se baseia no conhecimento já existente, enfatizando a importância dos su-
jeitos terem controle da sua própria aprendizagem, não só como sujeitos ativos, mas também
desenvolvendo um conjunto de capacidades que lhes permitam predizer o desempenho em di-
versas tarefas e monitorizar o nível de compreensão (MITRE et al., 2008).
No contexto de um ambiente de ensino que se torna cada vez mais instável e imprevisí-
vel, dada à vertiginosa alteração de demandas sociais e estimulações tecnológicas, o primeiro
alerta para a sobrevivência é bem claro: “nada é mais perigoso do que o sucesso de ontem”
|Capítulo 11 |132
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Já a inovação é ago novo que se cria e a atual organização do trabalho escolar está
longe de favorecer a criatividade, já que manter todos que lá estão, são antes de promover a
criatividade, estimulados ao conformismo, a passividade e a imitação e a repetição do que os
outros fazem (TOMAÉL et al., 2005).
Muitas vezes as pessoas que propõem a novidade, aquilo que muda o que já existe, não
são bem aceitas por seus contemporâneos. A maioria das pessoas prefere a segurança
a se conhece à incerteza do desconhecido. Por isso reagem as novidades: Copérnico foi
acusado de blasfemo. Galileu quase foi queimado vivo, Darwin foi perseguido pelo clero.
Em muitos casos, as pessoas criadoras só são reconhecidas depois da morte. O pensa-
mento criador se caracteriza por ser exploratório, por buscar o desconhecido, o risco e a
incerteza.
Complementa o autor:
|Capítulo 11 |133
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
As metodologias ativas são as atividades que os alunos deverão realizar durante o seu
curso de formação, junto ao futuro campo de trabalho. Devem ser vinculadas aos compo-
nentes curriculares É uma exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(nº 9.394/96). É necessário à formação profissional a fim de adequar essa formação às
expectativas do mercado de trabalho. Assim as metodologias ativas dão oportunidade de
aliar a teoria à prática (PIMENTA e GONÇALVES, 2012, p. 21).
O uso de metodologias tem o objetivo de introduzir o aluno em contato direito com o co-
tidiano da sua futura atuação profissional em um intenso processo de interação das atividades
práticas e teóricas, que deve ser realizado, obrigatoriamente em um determinado número de
horas. Sua finalidade principal é apresentar, aos alunos os necessários significados do campo
teórico na prática profissional com acompanhamento de professor, denominados orientadores
que trabalham buscando relacionar as observações, às práticas e a teoria (BERBEL, 2011).
A utilização de metodologia consiste em teoria e prática tendo em vista uma busca cons-
tante da realidade para uma elaboração conjunta do programa de trabalho na formação do
futuro profissional. Desta forma, a metodologia ativa funciona como o eixo central na for-
mação, pois é através dela que o profissional conhece os aspectos indispensáveis para a
formação da construção da identidade e dos saberes do dia a dia (GUERRA, 2015, p. 33).
As metodologias ativas oferecem momentos de troca, nos quais é valorizado o ser social,
afetivo e cognitivo. Assim, pois, resgata-se a identidade de cada aluno ao mesmo tempo
em que lhe oferece a oportunidade de encontrar-se com si mesmo na profissão que deseja
seguir (SAUL, 2010, p. 43).
É no campo das metodologias ativas que esse confronto (conhecimento teórico x reali-
dade) se dará, pois a escola representa o ambiente ideal para a construção da experiência prá-
tica e teórica que se aprimora com as metodologias ativas. As metodologias ativas significam a
experimentação de sensações dantes desconhecidas, entre eles a de pesquisador que permita
investigar uma realidade nova. O que Libâneo (1999, p. 133) fala e da oportunidade de apren-
dizagem e experiência para os futuros professores que por analogia por ser transferido para
qualquer campo de formação:
Quem quer que deseje continuar a ser chamado de “educador”, não pode ignorar im-
portância dos processos educativos extraescolares, especialmente os de treinamento e
experiências, nos quais está implicado o processo pedagógico como um todo em sua
realidade.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
educativas, internas e externas, se coaduna com o pensamento de Saul (2010, p. 43) que diz
“que metodologias ativas é a observação, registro, reflexão, síntese, avaliações e elaboração de
planos como instrumentos metodológicos da formação”.
Em outra perspectiva de metodologias ativas, Jucius (2004) vai afirmar que o metodolo-
gias ativas devem estar atrelada aos objetivos de ensino e aprendizagem em primeiro plano, as
necessidades explícitas do aluno e, fundamentalmente a interação entre o campo de metodolo-
gias ativas e o futuro do profissional.
Observa-se que os objetivos gerais das metodologias ativas são: estabelecer uma rela-
ção proativa entre teoria e prática dentro de uma vinculação entre acadêmico, instituição respon-
sável pela formação, e orientado. A prática profissional requer a compreensão da própria gênese
do conhecimento, ou seja, de como se dá o ato de conhecer, ou seja, “o profissional ao repensar
a formação, está também repensando a sociedade. Não existe uma igualdade entre política e
educação: existe uma identidade” (FREIRE, 1996; PEREIRA e CONCEIÇÃO, 2013).
|Capítulo 11 |135
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Assim, o ensino por metodologia ativa tem fundamental importância na formação do indi-
víduo, pois de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs [Brasil, 1998], o aluno
deve sentir-se parte do ambiente em que vive, sendo capaz de identificar os elementos e suas
relações, com o objetivo de preservá-lo.
Segundo Pimenta e Gonçalves (2012, p. 34) eles tratam a questão como “ensino à dis-
tância”, ou seja, que muitas instituições de ensino dão maior importância a algumas disciplinas,
sem tornar intrínseco teoria e a prática, como se não houvesse importância em estar unidos
teoria e prática na caminhada de saber, mostrando com isso que a metodologia ativa é um mero
complemento. Para Pimenta e Gonçalves (2012, 34) o nexo entre teoria e prática é indispensá-
vel:
[...]a metodologia ativa tem de ser teórico-prática, ou seja, que a teoria é indissociável da
prática. Para desenvolver essa perspectiva, é necessário explicitar os conceitos de prática
e de teoria e como compreendemos a superação da fragmentação entre elas a partir do
conceito de práxis, o que aponta para o desenvolvimento d metodologia ativa o metodo-
logias ativas como uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na
vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade. (PIMENTA e GONÇALVES,
2012, p. 34).
|Capítulo 11 |136
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
[...] os homens são seres da práxis. São seres do que fazer... Se os homens são seres do
que fazer é exatamente porque seu fazer é ação e reflexão. É práxis. É transformação do
mundo. E, na razão mesma em que o que fazer é práxis, todo fazer do que fazer tem que
ter uma teoria que necessariamente o ilumine. O que fazer é teoria e prática. É reflexão e
ação [...] (FREIRE, 2001, p. 121).
Mesmo assim, metodologias ativas hoje em dia, é a principal ferramenta para os aca-
dêmicos, terem contato com a prática profissional “Este mecanismo é bastante eficiente uma
vez que a universidade pode avaliar o desempenho em seu contato direto com a profissão em
si. Halasi (2012, p. 1), cita uma frase do Prof. Cion Cassiano Basso do CEFFET-PR: “metodolo-
gias ativas quando adequadamente concebida, orientada, e avaliada, cria e aprimora benefícios
tangíveis para o aluno: melhorar a qualificação acadêmica; evidencia e aprimora qualidade pes-
soal; estimula à transição da adolescência a vida adulta; facilita a transição da vida acadêmica
à vida profissional; provoca o exercício da orientação vocacional; rompe a dicotomia do cordão
umbilical com a escola e proporciona um insubstituível início de vida profissional. Ou seja, para
Halasi (2012, p. 2), o aluno ao participar de metodologias ativas incorpora suas vivências dentro
da escola como também fora da escola. Assim todos os saberes deste aluno se incorporam ao
metodologias ativas de forma inerente a vivência de cada um.
A escola não deve exigir tanto, ou seja, exigir que realizem atividades de grande comple-
xidade conforme exigem para os professores. No entanto, quando o estagiário já está em certo
período, já se pode ter certo grau de experiência com ele adquirida na sala de aula da academia,
na exposição de trabalhos, nos seminários desenvolvidos, nas palestras, nos jogos aprendidos,
os quais poderão e serão utilizados em suas práticas de metodologias ativas conforme se apre-
sentem as necessidades da escola, pois, como eles vão conviver neste espaço real, é possível
professores titulares faltarem e os estagiários assumirem suas turmas durante aquele dia de me-
todologias ativas. Neste sentido, pode- se dizer que o metodologias ativas tem como finalidade
oportunizar ao estudante de informática, ciências de comutação, análise de sistemas e outros
cursos correlatos, acesso ao seu futuro campo de atuação profissional, num contato direto com
questões práticas e teóricas, pois, segundo Villar (2014, p. 23):
Apenas numa prática é possível atingir os máximos significados dos conceitos trabalha-
dos em sala de aula, e os encadeamentos complexos deles decorrentes, impossíveis de
serem verificados apenas na teoria. Assim, muitos questionamentos surgem e o aluno de
informática aprendem fora do ambiente acadêmico, o que contribui para uma grande atu-
alização e troca de informações entre ensino-aprendizado.
A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se en-
contrem ainda preparadas para vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, certo
número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamadas pela sociedade política, no
seu conjunto.
Da definição de Durkheim (1998) podem-se extrair duas (2) ideias importantes para a
prática do metodologias ativas como práxis inicial da vida profissional do aluno de informática,
ciências de comutação, análise de sistemas e outros cursos correlatos: a educação é ao mesmo
tempo múltipla e uma; e a educação consiste na socialização metódica das novas gerações. Não
|Capítulo 11 |137
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
se pode entender a educação ou o seu processo como algo isolado, à parte da dinâmica social
e de seus rumos, Infelizmente, a realidade do ensino brasileiro tem sido o inverso das demandas
sociais, das necessidades emergentes de um povo que se vê em duas (2) situações distintas,
porém de resultados igualmente ineficientes: aqueles que não têm acesso à escolaridade; e,
aqueles que têm, mas se debatem com uma ausência de conteúdo real ou na prática inexorável
no ensino nos dias atuais. Mas, essas questões não são o cerne deste trabalho, embora para o
aluno de informática, ciências de comutação, análise de sistemas e outros cursos correlatos o
necessite de plena consciência da situações quem vai enfrentar. Mas sem dúvida como prática
são essenciais, já o que o acadêmico, vai ter contato com infraestrutura física deficiente, profes-
sores desmotivados e desqualificados, gestores que só tem compromisso com o cargo que exer-
cem e outros profissionais profundamente atrelados a uma estrutura de atendimento deficiente.
Claro que existem exceções a essa situação geral, mas exceções são raras e casos pontuais,
valendo a regra geral de um educação profundamente deficiente como comprovam os resultados
de testes internacionais que colocam o país apenas em 146º lugar no mundo (REVISTA EXAME,
07/05/2012).
Lindgren (2015, p. 545) apresenta as conclusões de uma pesquisa que dão uma ideia da
inadequação da escola e do consequente “fracasso” dos alunos. Apresenta-se a seguir algumas
dessas conclusões:
1ª) Os alunos desfavorecidos são menos capazes de aprender por recomendações orais,
do que os alunos de classe média.
3ª) As experiências dos alunos desfavorecidos são mais limitadas no que se refere às
atividades escolares.
Esta é o ensino que exclui, que expulsa, que não serve que não é atrativa, que não in-
forma, que não forma. Este ensino “exclusiva”, não serve, não oferece nada, não motiva e, só
incentiva o abandono, a evasão, a prática da reprovação. Não é uma escola que aprova que
funciona que é elo entre o crescimento pessoal e a oportunidade de mudança, ou seja, é essa a
escola que o estagiário vai encontrar n sua prática inicial. Evidentemente que existem exceções,
mas exceções são exceções e não regra, ou seja, a realidade brasileira é de uma escola exclu-
siva.
Na realidade essas pesquisas tinham como pano de fundo, inserir o aluno neste contex-
to, mas acima de tudo tinham por objetivo inferir neles o espaço que vão encontrar no futuro. Cla-
ro que as escolas europeias e americanas são diferentes das escolas brasileiras, mas na década
de 1960, por exemplo, nos Estados Unidos havia diferença brutal entre escolas, principalmente
nas escolas para os negros. Essas pesquisas realizadas lá apresentavam o contexto das duas
(2) escolas, como informa Veiga e Veiga e Tavares (2008, p. 34):
As escolas para negros era, nas década anteriores a 1970, completamente desfiguradas
nos Estados Unidos, como aponta os estudos de Graham (1986), já que tinham infraestru-
tura física deficiente, professores desqualificados e nenhum compromisso com o processo
educacional. Sua ação era descompromissada com o futuro dos negros, já que eram con-
siderados classe inferior.
Como se pode observar essa era à realidade das escolas americanas para negros, até a
|Capítulo 11 |138
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
década de 1970, ou seja, muito parecida com a realidade das escolas brasileiras de hoje, sendo
desta forma, um campo fundamental para os futuros professores tomarem contato inicial com
essa realidade.
Dessa forma, as metodologias ativa pode ser o primeiro passo a ser dado, no sentido de
se combater o caos educacional, que passa por um processo bastante parecido com o sentido
lato da palavra participação. Isto significa basicamente, que elementos socais envolvidos devem
obrigatoriamente estar presentes no cotidiano do metodologias ativas , ou seja, o metodologias
ativas deve buscar um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito,
com um compromisso definido.
A luta por uma prática pedagógica mais libertadora deve se estender as outras frentes
da sociedade. Desta forma, o educador, “ao repensar a educação, está também repensando a
sociedade. Não existe uma igualdade entre política e educação: existe uma identidade” (FREI-
RE, 1999, p. 67).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu constatar que muitos dos complexos problemas enfrentados pelos
alunos estão ligados a relação teoria–prática. Essa relação teoria-prática pode ser adquirida na
própria escola através de projetos específicos voltados a aproximação entre a realidade do en-
sino universitário.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Espera-se que as informações levantadas nesse trabalho sirvam para fomentar o de-
bate acerca do tema, metodologias ativas-escola, como também, para serem utilizadas pelos
professores de metodologias ativas , direcionando suas ações e para a criação de novas formas
de atuação , mais próximas da realidade escolar e parcerias constantes e duradouras com as
comunidades, viabilizando novos desafios dentro das universidades e das escolas, quanto ao
desenvolvimento de novas práticas educativas.
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Capítulo
12
As potencialidades da narrativa
teatral em processos de
empoderamento de mulheres
adolescentes
The potential of theatrical narrative in
empowering adolescent women
Jemima Tavares de Medeiros
Sulian Vieira Pacheco
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.12
RESUMO
Este estudo busca apresentar e refletir sobre as potencialidades da narrativa em processos em-
poderamento feminino em mulheres adolescentes. Para isso, relizou-se em 2018 uma oficina
teatral no Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, CEMI, uma escola da rede
pública de ensino do Distrito Federal, localizada no Gama, cidade considerada periférica, como
resultado do Trabalho de Conclusão de Curso em Artes Cênicas desta autora. Por meio de um
processo coletivo, foram propostos jogos teatrais que fomentaram questionamentos e reflexões
sobre opressões relacionadas ao gênero feminino e outras interseccionalidades. A partir de rela-
tos pessoais das participantes e da biografia de mulheres que tiveram uma história de liderança
ou superação foram criadas narrativas conectando essas realidades. Ao final da referida oficina,
foi realizada uma apresentação das narrativas na 63º Mostra Semestral de Artes Cênicas do
Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília, Cometa Cenas. Tal experiência
nos permitiu reconhecer que a narrativa pode ser uma metodologia potente para o processo
de empoderamento de mulheres adolescentes ou ainda de outras mulheres do público. Nessa
experiência observamos que tal proposta tem condições de ser ampliada para outros grupos
minoritários.
ABSTRACT
This study seeks to present and reflect on the potential of the study of narrative for the collabora-
tion of female empowerment processes in adolescent women. For this, a theatrical workshop was
held at the Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, CEMI, a public school in
the Federal District, located in Gama, a region considered peripheral in 2018 as a result of the
Course Completion Work in Performing Arts by this author. Through a collective process, thea-
trical games were proposed that could encourage questions and reflections on issues related to
oppression of the female gender and their intersectionality. With the analysis of the personal sto-
ries of the participants and the study of the biography of women who had a history of leadership
or overcoming, narratives were made connecting these realities. At the end of the meetings, a
presentation of the narratives was held, as a result of the workshop, at the 63rd semester show
of the department of performing arts at the University of Brasília, Cometa Cenas. The realization
of the workshop allowed us to recognize that the narrative can be a powerful methodology for the
process of awareness in adolescents, as well as it can also reverberate in other people through
the moment of presentation of the narratives to the public. In this experience, we observed that
such a proposal can be extended to other minority groups.
INTRODUÇÃO
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mobilizaram a propor a realização de uma oficina teatral sobre empoderamento feminino, com
ênfase no trabalho com narrativas junto à estudantes adolescentes, no Centro de Ensino Médio
Integrado à Educação Profissional do Gama: CEMI, no ano de 2018. Assim o objetivo principal
desse artigo é relevar as potencialidades da narrativa como metodologia pedagógica e artística
no contexto de práticas teatrais com fins de fomentar processos de empoderamento feminino em
mulheres adolescentes.
Em Arco Iris do Desejo (1990), Augusto Boal1, fundamenta a força que o fazer teatral
possui na auto-observação, a partir do que ele chama de tríade:
Ao ver-se, percebe o que é, descobre o que não é, e imagina o que pode vir a ser. Percebe
onde está, descobre onde não está e imagina onde pode ir. Cria-se uma tríade: EU obser-
vador, EU em situação, e o Não-EU, isto é, o OUTRO (BOAL,1990, p. 27).
A partir da citação de Boal, entendo que vivência teatral potencializou minha capacidade
de reconhecer as opressões e privilégios que me rodeavam e identificar a qual lugar social eu
pertencia.
O termo lugar social, utilizado por vários autores para tratar de assuntos relacionados
às questões que envolvem relações de poder de cunho coletivo, nesse artigo é usado para ex-
pressar quais posições ocupo dentro da sociedade. Apesar de não ter identificado uma definição
precisa para o termo, mais adiante tento organizar uma definição considerando a forma em como
tem sido aplicado.
Eu sou de uma mulher, branca, de origem pobre, filha de professora, Sônia Tavares
Medeiros e garçom Joaquim Dantas de Medeiros Filho. Minha mãe, a segunda mais velha, de
uma família de 9 irmãos, foi a primeira deles a concluir um curso de nível superior aos 36 anos
de idade. Hoje, aos 30 anos, sou a primeira a ingressar em um curso superior em universidade
pública e concluir um mestrado.
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Cada um de nós pertence a um lugar social, uma construção histórica que representa um
conjunto de características físicas, econômicas e culturais que determinados grupos de pessoas
têm em comum e as colocam em situações de desigualdades e/ou privilégios. Vale ressaltar que
o lugar social não é escolhido por cada indivíduo, mas determinado pela sociedade a partir da-
quelas características citadas acima.
Por exemplo, posso dizer que o meu lugar social é de mulher, pobre e branca ao referir-
-me a gênero, classe e raça, respectivamente. Poderia citar aqui outras definições sociais que
de certa forma também caracterizam o lugar social ao qual pertenço, como idade, sexualidade e
etc., porém vamos nos ater a essas três, apenas.
Assim, por ser mulher, eu e todas as outras, já somos colocadas em um lugar subalterno
ao homem. Ser pobre também me coloca em desigualdade em relação a outros, uma vez que
me leva a ser vista como quem serve a quem tem poder e bens. Porém, apesar dessas duas
características, me colocarem em uma desvantagem social, eu sou branca. Essa definição me
coloca em lugar de opressora, por possuir privilégios em virtude da raça.
Djamila Ribeiro, apresenta Patricia Hill Collins no livro O que é Lugar de Fala? E nos con-
vida a refletir sobre as posições de poder demarcadas pelos lugares sociais. Para ela, O homem
branco com alto poder aquisitivo é o símbolo do padrão universal, ao passo que todas as outras
representações são vistas segundo esse referencial masculino.
[...] homens brancos poderosos definem-se como sujeitos, os verdadeiros atores, e classi-
ficam as pessoas de cor e as mulheres em termos de sua posição em relação a esse eixo
masculino branco (COLLINS apud RIBEIRO, 2017, p. 44).
Cabe dizer que essa explicação sobre lugar social não é apresentada para balizar com-
petições de opressões, e sim para demarcar algumas diferenças que nos fazem ter vivências
diversas sobre a realidade. Importa aqui relevar que, segundo Ribeiro, “as diferenças não são
necessariamente ruins. O problema está quando essas diferenças significam desigualdades”
(51- 2017).
Portanto, independente do lugar social que ocupamos, conscientes disso, podemos ser
capazes de criar táticas para transformações que façam da nossa sociedade um local mais justo
no qual, diante das diferenças, seja possível viver em igualdade social.
Uma das primeiras pessoas a ressignificar o termo empoderamento em nosso país foi
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Freire. O pedagogo refutou a ideia de que alguém seria capaz de dar poder a alguém, e desen-
volveu uma série de argumentações e estudos sobre como um grupo pode se empoderar. No
Dicionário Paulo Freire, Pedrinho Guareshi discorre sobre uma das definições do termo empo-
deramento:
Deve ser tomado não no sentido de dar poder a alguém, em que o sujeito “recebe” de
outro, algum recurso (com merecimento dele ou sem), dentro de uma perspectiva individu-
alista, mas no sentido de ativar uma potencialidade criativa de alguém, como também de
desenvolver e potencializar a capacidade das pessoas. [...] Central à visão de Freire está
o entendimento de que à medida que as pessoas tomam consciência (conscientização),
também vão se libertando, (libertação) (FREIRE, 1969). É impossível ser livre se não se
tem consciência. (GUARESHI, 2009, p.147-148).
Berth corrobora com a visão de Freire, apresentada por Guaresh, e avança reconhe-
cendo que o empoderamento não visa inverter os polos da opressão, mas sim “uma postura de
enfrentamento da opressão para eliminação da situação injusta e equalização de existências na
sociedade” (BERTH, 2018, p.16).
Com base em tais ideias, percebo que o empoderamento se realiza à medida que esses
dois processos coexistem: a tomada de consciência e a busca pela liberdade, assim como ob-
serva Freire, de acordo com Guareshi, retomando a ideia de que o empoderamento se dá nas
relações humanas:
Empoderamento é assim para Freire um processo que emerge das interações sociais em
que nós, os seres humanos, somos construídos e, à medida que, criticamente, problema-
tizamos a realidade, vamos nos “conscientizando”, descobrindo brechas e ideologias; tal
conscientização nos dá “poder” para transformar as relações sociais de dominação, poder
esse que leva a liberdade e à libertação (2009, p. 148).
Interseccionalidade
Berth e Tiburi partilham uma visão similar sobre o reconhecimento das intersecções de
opressões e da importância da interseccionalidade das lutas contra as opressões:
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A interseccionalidade das lutas nos leva a pensar que toda luta é luta quando é luta “junto
com” o outro, o companheiro contra um estado de coisas injusto (TIBURI, 2018, p. 55).
Ou seja, o feminismo interseccional nos mostra que a igualdade se torna mais plausível
diante do reconhecimento das interseccionalidades entre classe social, raça e gênero. Neste
sentido considero como fundamental questionar outras opressões que transpassam o gênero
durante a oficina.
Berth (2018, p. 39) considera ainda que: “Essa concepção é fundamental para pensar as
desigualdades por uma perspectiva de gênero, partindo dos lugares sociais das mulheres”. As-
sim, a partir da aceitação das somas de opressões que os grupos possuem, passa a ser possível
pensar o empoderamento a partir do lugar social de cada mulher.
A educadora musical Bia Bedran (2012, p. 25) compreende a narrativa como arte da
convivência, como um recurso vital para a sociabilidade e a consciência histórica dos sujeitos:
“O conto é uma memória viva da comunidade, em que encontramos lugares diferentes de olhar
e ler o mundo ao praticarmos a arte da convivência”.
Para Bedran, 2012, p. 43), por meio da narrativa homens e mulheres tomam consciência
de quem são enquanto indivíduos e coletivo:
Entendo que os atos de ouvir e contar histórias resgatam essa experiência visceral de
mergulho profundo nas percepções do entorno e na fruição desse mergulho. Com o fio da
narrativa, ouvinte e narrador tecem juntos um tecido invisível, porém absolutamente sensí-
vel, capaz de despertar o humano adormecido, entorpecido pelo ritmo acelerado imposto
pelos tempos de hoje.
Por este motivo escolhi a prática narrativa como metodologia pedagógica para o traba-
lho junto às adolescentes do Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional CEMI,
com o objetivo de que as participantes reconhecessem suas histórias, identidades e comparti-
lhassem suas experiências com o público. Intentei, assim, durante o processo propor reflexões
críticas sobre a condição de ser mulher, e sobre o lugar social que pertencemos a partir da ob-
servação das narrativas das alunas sobre algum momento de suas vidas, sobre suas famílias
e sobre mulheres que tiveram relevância, reconhecida ou não, para a construção da sociedade.
Assim, almejei que, a partir dessa experiência, as participantes desejassem compartilhar com
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O Projeto Mulheres Inspiradoras foi criado em 2014 pela professora Gina Vieira Ponte
de Albuquerque com o objetivo de estimular a leitura, a escrita autoral e o protagonismo juvenil
por meio de práticas que possibilitem a educação em e para os Direitos Humanos. Premiado na-
cional e internacionalmente, Mulheres Inspiradoras tornou-se política pública em Brasília a partir
da Portaria Nº 256 de 2021. O programa implementa projetos de leitura e escrita protagonizados
por escritoras e personagens femininas históricas, contemplando as diversidades narrativas de
mulheres negras, indígenas e periféricas, entre outras. Nesse sentido o programa criado por
Albuquerque foi uma inspiração para essa pesquisa, tanto por seus objetivos quanto pelos resul-
tados alcançados.
Conhecer o programa Mulheres Inspiradoras, foi essencial para compreender na, práti-
ca, como o recurso narrativo é potente, mesmo que no caso do programa seja usado, em grande
parte, na forma escrita, como metodologia pedagógica.
A oficina foi realizada com a participação de seis alunas do segundo ano do ensino
médio do CEMI, que possuíam em média 16 anos de idade à época, durante 8 encontros de 50
minutos de duração cada.
O CEMI é a escola na qual eu cursei o Ensino Médio. Por ter concluído meu ensino
médio nesta instituição, possuía uma boa relação com o corpo docente da escola. A orientadora
educacional, sugeriu que a oficina fosse realizada com seis alunas do segundo do ensino médio,
com a justificativa que elas faziam parte de um projeto na escola que discutia questões de gêne-
ro e sexualidade, portanto, poderiam estar interessadas em participar do processo.
Metodologia da Oficina
Como dito, a oficina, seria realizada num total de oito encontros com 50’ de duração
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cada, com seis alunas do 2º ano do Ensino Médio. Então, o desafio era elaborar um material
pedagógico que dialogasse com esse público para ser desenvolvida nesse intervalo de tempo.
• Abordagem Crítica
• Levantamento de Biografias
• Construção da Narrativa
Abordagem Crítica
Buscando uma experiência proveitosa para todas, foi necessário propiciar um ambiente
em que as alunas se sentissem seguras para falar sobre suas opressões e até mesmo sobre
seus privilégios. Portanto, no primeiro encontro, eu fiz questão de contarde forma detalhada
minha trajetória. O que tinha acontecido em minha vida para que eu decidisse estudar sobre em-
poderamento feminino a partir do trabalho com a narrativa. Sublinhei que o motivo de estar ali
fazendo aquele projeto, era para que refletíssemos juntas sobre o que era necessário fazer para
ir além dos fatores que nos condicionam e subordinam.
Matias (2010, p. 80) pondera sobre a essência da narração, observação que serviu como
base para esta fase inicial do trabalho:
Durante esse primeiro momento havia um receio de minha parte, de que esta etapa fos-
se para um foro muito íntimo, e as participantes passassem a enxergar aquele momento como
terapia de grupo. Isso não seria produtivo, visto que eu não tinha formação acadêmica necessá-
ria para lidar com essas questões de cunho psíquico. Por isso, todas as narrativas eram feitas
dentro de jogos teatrais, e sempre de uma perspectiva coletiva.
Dentro desses jogos eram apresentados temas que poderiam enriquecer a nossa capa-
cidade de abordagem crítica de algumas questões. Os questionamentos dentro dos jogos eram
relacionados às formas por meio das quais as participantes entendiam o que é ser mulher e as
opressões que cercam as pessoas desse gênero, a forma como elas se enxergam enquanto in-
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divíduos na sociedade e seus lugares sociais, a partir das narrativas que traziam de suas mães,
tias e mulheres que as cercavam.
Concluindo a primeira fase da oficina, percebi logo no início que eu deveria reformular os
planejamentos de aula. A quantidade de jogos que havia pensado inicialmente não era compatí-
vel com o tempo real que eu teria junto às estudantes, pois chegariam sempre com certo atraso
em relação ao horário agendado. O tempo destinado para o nosso trabalho, era o único horário
que elas tinham livre, para realizar atividades extraclasse, ou resolver outras questões pessoais.
Portanto, após o primeiro dia, refiz os planejamentos seguintes, onde optei por realizar somente
um jogo por encontro, visando um melhor aproveitamento da oficina.
Levantamento de Biografias
Dadas novas realidades de classe na nossa nação, fendas se alargando entre ricos e
pobres e a continua feminização da pobreza, nós desesperadamente necessitamos um
movimento feminista radical e de massas que possa construir-se na força do passado,
incluindo os ganhos positivos gerados por reformas, enquanto oferece questionamentos
significativos da teoria feminista existente (que foi simplesmente enganadora) e novas
estratégias.
hooks, apresenta um questionamento que converge com o que refletimos sobre femini-
nismo interseccional. A autora conecta as questões de classe e gênero. Alertando que o movi-
mento feminista necessita pensar nas intersecções que envolvem as mulheres. Essa organiza-
ção que reflete sobre o gênero feminino, de forma a delimitar melhor os lugares sociais, a autora
chama de feminismo radical.
Assim, pesquisamos sobre algumas mulheres que foram ou são reconhecidas por repre-
sentarem um marco para a sociedade, sendo consideradas como referencial positivo, principal-
mente para outras mulheres.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
forma despretensiosa, pois as alunas já estavam contando a história de uma mulher que elas
admiravam. Esse momento da oficina, foi muito significante: estar em roda e narrar sobre al-
guém que você admira. Ao contar essas histórias, também foram compartilhadas experiências
de força, onde todas as narrativas se conectavam, pois, falávamos de mulheres com história de
superação, que deixaram um legado para a humanidade.
As respostas me fizeram perceber, que todas as alunas já possuíam uma ampla visão
sobre as questões que envolvem preconceito de gênero. Esse fator me possibilitou conduzir a
oficina, com questionamentos um pouco mais profundos visto que as alunas, já tinham uma base
sólida sobre seu lugar social.
Na segunda fase da oficina, após o estudo sobre elas mesmas e as mulheres que faziam
parte do seu cotidiano. Apresentei para as alunas, outras mulheres que são exemplos de supe-
ração, que elas não haviam citado nesse primeiro momento. O intuito desse exercício, não foi
de desconsiderar os exemplos que elas haviam trazido, mas de ampliar o leque de referências
femininas das alunas. As biografias apresentadas foram: Malala, Elza Soares, Carolina de Jesus,
Marta Vieira e Irmã Dorothy.
Essas biografias, foram levadas por mim, no encontro número quatro. Escolhi essas
mulheres, pensando em abarcar mulheres em certa diversidade. Apesar de cada uma dessas
mulheres possuir uma história de luta diferente, elas se conectam, quando percebemos que, elas
tiveram um elemento potencializador para o seu empoderamento. Seja no esporte, na escrita, no
estudo, na arte ou na religião. Cada uma delas, encontrou algo como alavanca para um empo-
deramento individual, que tem contribuído para o empoderamento feminino.
Para realizar este trabalho escrito, procurei pontos de conexão entre as histórias que as
participantes me entregaram com as biografias das mulheres inspiradoras escolhidas buscando
sempre finalizá-las de forma as limitações ou opressões sublinhadas fossem superadas, sem-
pre. Todas as participantes escolheram mais de uma mulher para homenagear e Elza Soares era
a biografia em comum entre todas. A partir desse fato, sugeri como título para a apresentação
das narrativas: A Mulher do Fim do Mundo. Todas as alunas concordaram com a proposta.
Foi planejado que no 5º encontro eu entregaria as narrativas finalizadas, para que elas
aprovassem ou não o texto escrito. Contudo, no 5º encontro apenas duas das seis alunas esta-
vam presentes e chegaram bem atrasadas. As outras quatro não foram à escola ou não puderam
comparecer por motivos diversos. Portanto, eu entreguei as narrativas prontas para as alunas
presentes, solicitei que entregassem as outras para o restante das participantes. Comuniquei
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que poderiam decidir entre elas, como seria a distribuição das narrativas, ratificando o comando
no grupo em uma rede social digital, que usávamos para comunicação.
Devido a outros impasses do cotidiano das alunas não consegui encontrar as alunas
nos 3 encontros seguintes, mesmo com confirmação por mensagem virtual. E as alunas, já fa-
lavam sobre deixar a apresentação para o ano seguinte. Entretanto, naquele momento presumi
que, esperar mais um longo tempo talvez não fosse a solução mais viável para o projeto como
um todo. Então, sugeri as participantes, que apresentassem apenas na UnB, durante a mostra
semestral de Artes Cênicas 63º Cometa Cenas e o grupo concordou. Conseguimos organizar
nossas agendas para mais dois encontros antes da apresentação final que foram dedicados ao
trabalho com a memorização do texto, visando que as participantes se sentissem à vontade em
cena e sugestões de composições estéticas básicas para a apresentação como um todo.
Os dois últimos encontros tiveram duração de 50’ cada. Nos quais, no primeiro deles
tivemos a notícia de que uma das participantes não iria fazer a apresentação final por motivos
pessoais. Essa aluna também cantaria uma música que escolhemos na metade do processo.
Chamada: Mulamba, do grupo feminino Mulamba26. Ficamos um pouco abaladas com a falta
da participante, mas logo começamos a definir como seria a apresentação. Portanto, naquele
encontro decidimos que a música seria colocada na narrativa de forma eletrônica. Também deci-
dimos os conceitos que conduziriam a performance.
Sobre a temática que seria usada como orientação para a estética da apresentação,
decidimos que seria: Podemos escrever nossa própria história. Nesse sentido, adotamos uma
cenografia mínima na qual estariam colados na parede do fundo, nomes de várias mulheres ins-
piradoras que conhecíamos, fossem elas reconhecidas nacionalmente ou não. Se tratavam em
sua maioria, sobre nomes de mães, tias, avós, professoras... mulheres do nosso convívio que
decidimos homenagear naquele momento. Escrever aqueles nomes se fazia necessário, para
tentar gerar no público a percepção de que, mesmo que tenham sido invisibilizadas ao longo dos
séculos, as mulheres escreveram e escrevem suas próprias histórias.
Também fazíamos o uso de cinco cadeiras, nas quais cada uma das participantes es-
taria sentada enquanto outra estivesse contando sua narrativa, cada uma delas poderia decidir
também se narraria sua história em pé ou sentada. A opção pela cadeira na cenografia, foi uma
tentativa de deixar as alunas mais à vontade em cena. Tendo em vista o pouco tempo que tive-
mos para um preparo técnico constatei que ficando sentadas talvez elas se sentissem mais à
vontade com aquela situação.
Preparar essa apresentação não foi fácil, foram várias as complexidades que envol-
veram esse processo no qual, apenas uma semana antes da data apresentação, tivemos a
confirmação de que ela realmente poderia acontecer. Cada uma das participantes, tinha suas
questões pessoais para resolver, entretanto, todas nós escolhemos que seria uma prioridade
que aquela apresentação se realizasse. Percebo que maior do que o compromisso que as alu-
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nas fizeram comigo, o que as fez apresentar mesmo sem um treinamento relevante, foi o desejo
de contar para as pessoas suas histórias e histórias de outras mulheres tão importantes, como
Elza Soares e Marta Vieira.
Portanto a consciência do lugar social que a narrativa pode propiciar à pessoa, é im-
portante para o entendimento de que ninguém está só no mundo e que outras pessoas passam
pelas mesmas dificuldades e que existem formas de se lutar para diminuir as assimetrias entre
as existências.
No dia da apresentação, marcamos de nos encontrar na escola das alunas três horas
antes da apresentação. Tendo em vista que, iríamos de transporte coletivo e a escola fica na ci-
dade do Gama à uma distância de 35 km da Universidade de Brasília. Todas as meninas chega-
ram no horário, e estavam muito empolgadas com a apresentação. Chegamos no Departamento
de Artes Cênicas com uma hora de antecedência.
Por exemplo, ao final da apresentação as narradoras pediram para que o público escre-
vesse seus nomes em um papel, e que também colasse na parede. Entretanto, os homens pre-
sentes, escreveram os nomes de suas mães no papel, mesmo que em nenhum momento, lhes
tenham sido feitos tal pedido. Pelo contrário, as narradoras entregaram as canetas para eles, no
sentido de encorajá-los a escreverem suas histórias também. Tal gesto terá sido uma homena-
gem às mulheres inspiradoras deles?
Agora, relembrando esse processo, me sinto muito grata ao lembrar daquelas adoles-
centes que atravessaram meu caminho e me ensinaram tanto sobre empoderamento.
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos elementos que não reformularia numa próxima edição seria a relação horizontal
desenvolvida com as participantes na qual pudemos trabalhar de forma colaborativa comparti-
lhando saberes de forma democrática e generosa. Pensar em diferentes saberes ao invés de
pensar em uma hierarquia de conhecimentos, levando em consideração a formação escolar de
cada uma, foi fundamental para que o trabalho ocorresse de forma fluida.
Concluir essa pesquisa foi ato de resistência e redenção, visto que até mesmo nesta fase
final, alguns pensamentos que perpetuaram minha adolescência de que eu não conseguiria me
formar ou que eu não pertencia a esse lugar acadêmico, se fizeram presentes com muita força
nessa última etapa. Portanto, assim como Berth diz, é preciso encarar a educação como um ato
político, (2018-47) para que os adolescentes periféricos brasileiros consigam se enxergar desde
cedo como seres humanos capazes de superar seus condicionantes sociais.
REFERÊNCIAS
BEDRAN, B. A arte de cantar e contar histórias: narrativas orais e processos criativos. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2012
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
BOAL, A. O Arco-íris do desejo: método Boal de teatro e terapia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1990
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica, 2009, p. 147. HOOKS, B. Feminism is the
EVERYBOY. Londres: Pluto Press, 2000.
MATIAS, L. A Arte de Contar Histórias: abordagem poética, literária e performática. São Paulo: Ícone,
2010.
TIBURI, M. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos, 2018.
Sites:
FERRARI, M. Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência. Disponível em: https://
novaescola.org.br/conteudo/460/mentor-educacao-consciencia Acesso em 25/01/2018.
MENDES, Vanildo Projeto estimula equidade de gênero na rede pública de ensino https://www.
agenciabrasilia.df.gov.br/2017/02/06/projeto-estimula-equidade-de-genero- na-rede-publica-de-ensino/
Acesso em: 08 de junho de 2017
AGRADECIMENTOS
A minha mãe, Sônia Tavares de Medeiros eu agradeço por me ensinar a ser um tornado
para alcançar meus objetivos e brisa para saber aproveitá-los. Ao meu pai, Joaquim Dantas de
Medeiros Filho por ter plantado em mim o desejo de narrar. Ao meu irmão, Juan Tavares de Me-
deiros pela presença e apoio quando precisei. As minhas avós Ana Irineu do Nascimento Lima
(in memoriam) e Maria Cristina Medeiros Paiva por abrirem caminhos para que eu pudesse ser
quem eu sou sem medo de enfrentar o mundo. Aos meus avôs, José Tavares de Lima e Joaquim
Dantas de Medeiros (in memoriam) por me ensinarem a ser forte e decidida, sem perder a leveza.
Agradeço as alunas Milleny, Renata, Maria Rita, Juliany, Bruna Morine2 e Giovana, pela
disposição em participar dessa pesquisa de campo. As convidei para o processo acreditando que
poderia potencializar seus processos de tomada de consciência e no fim elas me ensinaram a
me empoderar. Agradeço também a Elia Martins e Francisca Mendes que, como parte da equipe
pedagógica do Centro de Ensino Integrado à Educação Profissional – CEMI, acolheram esse
projeto da melhor forma possível.
2 Bruna de Sousa Amorim, 22 anos, natural de Valparaíso - Goiás, residente a vida toda no Gama, membro do grupo vencedor
na Febratec na área da saúde no ano de 2018 com iniciação cientifica, sempre teve interesses diversos e encontrou na arte,
mais especificamente no teatro, uma paixão e um espaço onde cabem todas as conexões. Graduanda em Licenciatura em Artes
Cênicas pela UnB.
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Capítulo
13
DOI: 10.47573/aya.5379.2.149.13
INTRODUÇÃO
Este estudo científico está estruturado em 3 seções. A primeira seção relata uma breve
autobiografia do autor e a sua descoberta da arte/educação, descreve as origens do Palhaço
Tuca que é o personagem principal e a construção da docência durante o curso no IFCE de Pa-
racuru. A segunda seção apresenta o referencial teórico no qual cita os conceitos de inovações
na educação, arte em geral na educação e o circo na educação e finalizando temos a terceira
seção que trata do local de estudo e os relatos do projeto.
SOBRE O PESQUISADOR
Nascido em sete de junho de 1990, sendo natural de Porto Feliz do estado de São Paulo,
me chamo Renan Balthazar Diana, este sobrenome Diana é de origem italiana de uma tradicional
comunidade de Pordenone. Meus antepassados migraram para o Brasil em 1888 para trabalha-
rem com agricultura e carpintaria. Sou filho o mais velho de cinco irmãos, meu pai foi carpinteiro
desde sua infância seguindo a tradição familiar, mesmo ele sendo de família simples e humilde
sempre nos ensinou a importância do caráter humano e do respeito ao próximo, infelizmente em
2012 ele faleceu e a responsabilidade de cuidar dos meus irmãos e a referência paterna coube
a mim, nesse mesmo tempo me formei em Marketing em uma faculdade particular (CEUNSP).
Minha mãe sempre foi exemplar e atenciosa cuidando dos afazeres domésticos sendo formada
em pedagogia, porém nunca exerceu carreira.
Essa necessidade de falar de si como possibilidade de explicitar o não visto, o que não se
mostra a não ser por este movimento autobiográfico que Delory, chama de hermenêutica
prática para dar sentido à vida (bios), a si mesmo (auto) e à própria escrita (grafia). (De-
lory-Momberger, 2008)
Toda minha educação foi em escolas públicas da cidade de Porto Feliz, sendo o ensino
básico e fundamental em escolas municipais e o ensino médio em uma escola estadual. Tinha
sempre dificuldade de ter roupas adequadas para ir à escola e quase sempre usava roupas usa-
das. Desde os 12 anos de idade trabalhei na carpintaria com meu pai e meu avô, essa função
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Quando ingressei no ensino médio não tinha foco nos estudos, sendo um aluno regular
sem grandes ambições, realizei o ENEM em 2007 no ano de conclusão, mas não entendia o que
era o ENEM e quais oportunidades acadêmicas que eu poderia ter com essa prova,
No ano de 2008 consegui o meu primeiro emprego com carteira assinada em uma fábri-
ca de brinquedos (SID-NYL-LTDA) trabalhei nessa mesma empresa por 4 anos, assim seguindo
carreira e findando com o cargo de encarregado de expedição, pedi demissão no ano de 2013 e
busquei vagas de emprego na área de marketing em empresas da região, depois de algum tem-
po consegui uma oportunidade em uma multinacional muito reconhecida. No entanto, ao mesmo
tempo recebi uma proposta de cursar um curso integral na JOCUM de Campinas-SP, JOCUM é
uma instituição cristã que trabalha com crianças em riscos e formação circense, por esse motivo
rejeitei a proposta de trabalhar na área de marketing e segui o meu sonho de ser missionário,
nesse período aprendi sobre ferramentas para utilizar com crianças em riscos através das artes
circenses, finalizei minha trajetória na Jocum em 2015.
Em 2016 me mudei para Paracuru-Ce e me casei, minha esposa é natural desta cidade,
formada em enfermagem e colabora com os meus trabalhos sociais que são realizados com
crianças em comunidades carentes e escolas. No ano de 2017 ingressei no IFCE de Paracuru
no curso de ciências biológicas, que foi uma grande conquista e um tempo de aprendizagem
significativa em minha vida.
O trabalho com artes circenses e seu ensino faz parte de minha vida desde do ano de
2014 onde me formei na JOCUM de Campinas - SP (Jovens com uma Missão). Na mesma, par-
ticipei de um curso integral de seis meses onde desenvolvi aspectos em meu caráter pessoal e
profissional, sempre através de ensino bíblico, marketing pessoal, consultoria com psicólogos e
práticas docentes de ensino para crianças por meio das artes circenses. Durante e após a esse
curso, realizei apresentações de teatro e circo em várias cidades, escolas e associações do es-
tado de São Paulo e Ceará.
Imagem 1 - Escolas em Assis-SP, 2014 Imagem 2 - Escolas em Assis-SP, 2014
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Depois de minha passagem pela cidade de Paracuru-CE, passei a ter muito interesse em
conhecer outras regiões do nordeste brasileiro em especial o sertão Brasileiro. Com isso, realizei
trabalhos de palhaçarias em escolas e em ruas na cidade de Granjeiro-CE por um tempo de 2
meses. O Município de Granjeiro está sendo representado nas imagens 5 e 6, esta pequena ci-
dade do sertão nordestino, sofre com a falta de água e oportunidades de emprego. Foi um tempo
de aprendizado onde consegui entender contextos culturais e as dificuldades das escolas com
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as suas estruturas físicas, porém, mesmo com tantas dificuldades foi possível observar o esforço
dos professores para promoverem um ensino de qualidade em um ambiente sem estrutura.
Imagem 7 - Bairro de Itatinga, Campinas-SP, 2015
Outro projeto realizado foi em parceria com a empresa Toyota de Campinas que possui
uma associação em prol de crianças em risco do bairro Itatinga, segundo a uma reportagem da
G1 de 2015 esse bairro é considerado como o único bairro planejado para prostituição no Bra-
sil. Um bairro como qualquer outro, contendo posto de saúde e escolas, porem, o convívio das
crianças com o ambiente de prostituição é diário neste bairro. Por isso, foi realizada a promoção
das artes nesta associação com o objetivo de transmitir a alegria para as crianças, a imagem 7
ilustra o palhaço Tuca em uma apresentação.
Imagem 9 - Escola em Cruzeiro-SP, Imagem 8 - Escola em Cruzeiro-SP,
2015 2015
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|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
Todos esses trabalhos foram importantes para a minha prática de ensino para crianças
e para o meu futuro projeto em Paracuru, projeto que teve seu início no ano de 2016, sendo em
escolas e comunidades, promovendo o ensino de artes, música e o incentivo ao esporte. Como
disse Leonardo da Vinci: Aprender é a única coisa que a mente nunca cansa, nunca tem medo
e nunca se arrepende.
Muitos convites de escolas e associações de bairros surgiram a partir de 2016, fica claro
o quanto as artes foram relevantes para a minha comunicação com as escolas e para a realiza-
ção do meu estágio. A imagem 10 consegue demonstrar o alcance que as artes foram para os
meus projetos, essa foto também representa um marco para minha futura profissão como pro-
fessor, pois foram momentos como esses que me fizeram evoluir no aspecto de apresentações
em público e de como lidar com crianças, me tornando mais preparado para um convívio escolar.
Imagem 10 - Bairro da Volta em Paracuru-CE, 2015
Neste caso, a forma de linguagem utilizada para aprender e pensar e gerar a relação
interpessoal foi o teatro que atribuiu em todos os momentos das apresentações do palhaço Tuca
em minha vida artísticas e posteriormente em São José da Tapera.
ORIGEM DO TUCA
O palhaço Tuca foi criado no ano de 2014 durante o meu curso na JOCUM, onde aprendi
várias técnicas de palhaçaria, mágica e teatro. No início das minhas apresentações não havia
sido formada a personalidade do palhaço como a sua caracterização e voz, esse processo de
amadurecimento artístico foi sendo desenvolvido conforme as minhas apresentações e estudos
aconteciam. A minha primeira apresentação foi em uma escola da cidade de Assis-SP sendo um
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momento muito difícil, porém gratificante. Nessa escola foi apresentado uma esquete do Tuca
com a participação Palhaço Franjinha que está ilustrada na imagem 11. Fica claro pela a imagem
12 que a caracterização do personagem ainda não tinha sido solidificada, sendo uma fantasia
improvisada, mas que no entanto conseguiu chamar atenção das crianças.
Imagem 11 - Palhaço Tuca e Franjinha
A inspiração para a criação do personagem Tuca veio de meus estudos no ano de 2014
e de assistir apresentações de palhaços de ruas e personagens televisivos como o Kiko do Se-
riado Chaves e MR. Bean. Foi um longo processo para desenvolver a personalidade do palhaço
Tuca e as características de sua fisionomia. Levou cerca de 2 anos para o estabelecimento de
cada uma de suas características, expressões e personalidade.
No geral o palhaço Tuca é bem divertido, dinâmico e muda a sua personalidade confor-
me a idade e postura da plateia, as apresentações são planejadas e sempre ocorre algum tipo de
improviso. Os espetáculos atraem uma variedade de pessoas, do infantil até o adulto, é por isso
que cada apresentação é planejada conforme a o público alvo, alternando entre: dança, teatro,
mímica, canções e mágica.
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Como professor preciso me mover com clareza na minha prática. Preciso conhecer as
diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática, o que me pode tornar mais
seguro no meu próprio desempenho. (FREIRE, 1996, p. 68).
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Decidi estudar um curso que possui licenciatura pelo fato do mesmo poder somar com
meu trabalho artístico e para a minha aprendizagem teórica sobre pedagogia, tudo para poder
ter um trabalho mais produtivo. É um fato que sempre admirei a profissão de professor, pois são
eles que regem o futuro de uma geração.
O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do mo-
vimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar.
Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu
pensamento, surpreendem suas imaginações, suas dúvidas, suas incertezas. (FREIRE,
1996. 26)
Algo que me marcou foi uma professora de história do ensino médio, ela conseguia atrair
a atenção até dos alunos mais bagunceiros, essa educadora tinha uma metodologia que eu nun-
ca tinha visto antes, eram as melhores aulas de toda a escola, até os dias de hoje ela continua
sendo uma referência de professor para muitos alunos, me lembro de pensar que se um dia eu
fosse professor gostaria de ser igual a ela. Logo, para mim ser professor é um privilégio e uma
função necessária em nossa sociedade, pretendo exercer essa profissão com a maior dedicação
possível, pois sempre gostei de ensinar e aprender.
Outro fator que me fez escolher a biologia foi que sempre li a biografia do explorador e
missionário britânico David Livingstone, este homem fez descobertas no interior da áfrica e com-
bateu o tráfico de escravos que ja era proibido na Inglaterra. A sua história sempre me inspirou
e despertou admiração, tudo pela sua determinação de viver em um ambiente desconhecido e
pela sua empatia com o próximo.
Conta-se que, em Glasgow, depois de passar dezesseis anos na África, Livingstone foi
convidado a fazer um discurso perante o corpo discente da universidade. Os alunos resol-
veram vaiar esse “camaradamissionário’’, fazendo o maior barulho possível. Certa teste-
munha do acontecimento disse: “Contudo, desde o momento em que Livingstone Compa-
receu perante eles, magro e delgado, depois de cair trinta e uma vezes de febre nas matas
da África, e com um braço descansando numa tipoia, depois do encontro com um leão, os
alunos guardaram grande silêncio. Ouviram, com o maior respeito, tudo que o orador re-
latou a maneira como Jesus cumprira a sua promessa: “Eis que eu estou convosco todos
os dias, até a consumação dos séculos”.(BOYER, 1999, p. 117)
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parte do meu currículo de ensino. Portanto, no ano de 2017 o uso das artes continuou em cada
trabalho unido com a pedagogia e biologia em geral.
Em toda minha caminhada acadêmica a arte sempre esteve presente em meus traba-
lhos em diversas disciplinas, todas realizadas no campus do IFCE Paracuru, sendo: paródias
musicais, teatros e desenhos artísticos. Como também no período remoto realizei gravações de
músicas e jogos durante o meu estágio do ensino fundamental e médio.
Em 2019 fui convidado pelo IFCE de Paracuru para apresentar este teatro na campanha
brasileira de prevenção ao suicídio (Setembro Amarelo), ocorreram duas encenações, uma pelo
período da manha e outro pela tarde, uma grande plateia foi gerada em cada período que sendo
composta de professores, alunos e colaboradores. A encenação foi realizada no pátio da institui-
ção, foi possível notar muita emoção durante o decorrer da peça, pessoas emocionadas e que
no final aplaudiram e me parabenizaram, esse episódio me marcou e somou para minha carreira
artística e de docente.
Nesse mesmo ano apresentei esse teatro na escola do Riacho Doce onde eu estava
realizando o meu estágio do ensino fundamental, todos os alunos e colaboradores participaram,
além disso, após o teatro realizei uma breve ministração sobre o suicídio e a depressão, foram
momentos como esse que me fizeram entender a importância de um professor em buscar novos
conhecimentos e habilidades para ministração de aulas e da aprendizagem significativa para os
alunos.
O ensino do teatro é fundamental, pois, através dos jogos de imitação e criação, a criança
é estimulada a descobrir gradualmente a si própria, ao outro e ao mundo que a rodeia. E
ao longo do caminho das descobertas vai se desenvolvendo concomitantemente a apren-
dizagem da arte e das demais disciplinas. (OLGA REVERBEL, 1997, p. 25)
No ano de 2019 apresentação de teatro passou a ser frequente em minha vida acadê-
mica, nesse mesmo período realizei uma apresentação com o Palhaço Tuca na escola do Pro-
fessora Diná de Paracuru, esse projeto foi coordenado pelo professor Amaurício da disciplina de
Biofísica, o palhaço foi utilizado na abertura do evento e na recepção dos alunos, muita alegria
e risadas foram geradas no ambiente, o Tuca serviu para quebrar uma rotina habitual da sala de
aula.
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paródias e músicas na apresentação de trabalhos. Uma dessas paródias foi realizada no auditó-
rio do IF, com o tema de protozoários, criamos uma música (Protozoa Z) em equipe e se carac-
terizamos dos personagens do Dragon Ball, com a melodia no violão cantamos para o auditório.
A imagem 14 representa esse dia épico em minha formação.
Imagem 14 - Paródia apresentada No Ifce Paracuru, com Cosplay do Dragon Ball
Alguns trabalhos também foram realizados fora de sala de aula por conta própria, onde
realizei apresentações circenses e coloquei em prática as técnicas aprendidas em sala de aula.
Imagem 15 - Paracuru Beach, Paracuru-CE, 2018
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Nesse início de século XXI, todos os aspectos da vida social são atingidos pelas relações
alienadas e alienantes vividas sob a égide do capital; não é diferente em relação à arte. O
professor que irá trabalhar com as linguagens artísticas deve ter clareza a esse respeito,
tomando como critério para a seleção dos conteúdos curriculares não a arte banal, ligeira,
veiculada pela mídia — pelo menos não só. Tenho trabalhado, em educação musical, com
a ideia de tomar como ponto de partida as vivências musicais dos alunos, mas sempre
com o compromisso de ir além delas, ampliando-as para voltar posteriormente a elas, com
um olhar mais crítico e reflexivo (BARBOSA, 2017, p. 739
Essas atividades realizadas estão alinhadas com conteúdos estudados no curso de Ci-
ências Biológicas, que me ajudaram e forneceram uma base para a realização das apresen-
tações circenses com uma base pedagógica, não apenas fornecendo entretenimento, porém
gerando uma aprendizagem significativa por meio das artes.
REFERENCIAL TEÓRICO
Inovações na educação
Porém, para alguns docentes fica difícil a busca de uma formação inicial de qualidade,
pelo fato de que alguns não possuírem um poder aquisitivo para essa qualificação, gerando em
alguns a insatisfação e perda de ânimo pela profissão, fazendo com que não consigam exercer
de forma plena sua profissão.
Sabemos que não é fácil, no Brasil, sobreviver dessa profissão (salários baixos, jornada
extensa e condições materiais difíceis) nem, tampouco sobreviver nessa profissão, consi-
derando o desgaste físico, emocional e cultural (pouco tempo e estímulo para se atualizar
) a que os professores são, em geral, expostos em sua trajetória profissional. Essa reali-
dade torna-se bem mais explícita diante das recorrentes “ novas exigências “ criadas para
cumprimento pelos professores. Nesse contexto, não é fácil o professor desenvolver uma
imagem positiva da profissão docente. Mais difícil ainda se os próprios cursos reforçarem
essa imagem negativa do ser professor. (GUIMARÃES, 2006, p. 90)
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Essas experiências da minha formação inicial foram muito importantes para minha for-
mação acadêmica, tanto pelas teorias aprendidas em sala de aula, estágios e apresentações
culturais que influenciaram na forma de minhas ministrações no estágio com a utilização da fer-
ramenta artística. Esses desafios e inovações fizeram parte de todo meu processo de formação
e continuarão posteriormente em minha vida profissional.
As artes na educação precisam ser mais analisadas no currículo escolar, alguns profes-
sores apenas possuem os seus conhecimentos específicos de sua disciplina, porém o mercado
de trabalho é sempre concorrido e disputado, ter diferenciais em um currículo pode colocar em
vantagem um professor que busca ingressar em um concurso ou em uma escola renomada. A
formação continuada e a busca de novos conhecimentos é primordial para para docentes e sua
carreira profissional.
Essa aprendizagem não vai ser relevante apenas para a carreira profissional do profes-
sor, mas também para a aprendizagem dos alunos, podendo gerar expectativas e uma maior
interação do aluno com o professor, é um fato que os alunos sabem quando um docente se dedi-
ca para preparar um conteúdo, quando há comprometimento a resposta passa a ser positiva na
aprendizagem e na interação dos alunos em sala de aula, IAVELBERG afirma:
Aprender em arte implica desafios, pois a cultura e a subjetividade de cada aprendiz ali-
mentam as produções e a marca individual é aspecto construtivo dos trabalhos. O aluno
precisa sentir que as expectativas e as representações dos professores ao seu respeito
são positivas, ou seja, seu desenvolvimento em arte requer confiança e representações
favoráveis sobre o contexto da aprendizagem. (IAVELBERG, 2003, p. 11)
Entender e estudar a arte no processo de ensino pode ser fundamental para desenvolver
novos parâmetros e metas para a educação. No entanto a quebra de paradigmas com relação a
arte em sala de aula é necessário, compreender os seus benefícios na aprendizagem e de como
podemos utilizá-las de forma correta e eficaz. Duarte Júnior (2007) interroga sobre a relevância
da arte na educação:
Será que a arte, na vida do homem, não é algo mais do que simples lazer? (Se bem que
o lazer é importantíssimo). Será que, espremida entre as disciplinas “Sérias”, as aulas de
arte não estariam relegadas a segundo ou terceiro plano pelo próprio sistema educacio-
nal? Será que não haveria uma forma de a arte contribuir mais efetivamente para o nosso
desenvolvimento? (DUARTE JÚNIOR, 2007, p. 10)
Meu trabalho ao longo do tempo acadêmico tem sido composto de estudos teóricos es-
pecíficos de cada disciplina alinhado com as artes, sendo ela parodia, teatros e até conteúdos
de memorização com a música, sempre busquei novas ferramentas de trabalhos para ampliar
os meus conhecimentos artísticos e para poder repassar uma aula de qualidade para os alunos
ou plateias.
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O circo na educação
A utilização de técnicas circenses têm sido utilizadas em todo o meu decorrer acadêmi-
co tanto nos períodos dos meus estágios de regência e em trabalhos de algumas disciplinas.
Em todas as vezes que realizei uma apresentação circense unida com um conteúdo percebo o
quanto os alunos se sentem motivados e curiosos sobre o tema. Compreendo que a palhaçaria
pode servir de atração e motivação para com os alunos e pode ser usada como uma ferramenta
útil para a aprendizagem e para a minha qualificação profissional.
Os maiores desafios que me ficam é criar novos teatros que estejam relacionados com a
disciplina do ano letivo, criar a comunicação correta passa ser necessário para não ser apenas
um momento de diversão, mas sim um período aprendizagem, criando um elo entre professor e
aluno. Mas para que isso aconteça é necessário melhorar essa comunicação de docente entre
discentes, é por isso que tenho utilizado da linguagem do circo/teatro para o processo pedagó-
gico que visa beneficiar tanto o educador como o aluno. Silva descreve sobre a importância do
mesmo:
LOCAL DO ESTUDO
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Este município do nordeste brasileiro tem como o seu bioma a caatinga, o mesmo tem
sofrido com a falta de chuva e com o saneamento básico (IBGE,2019). Um fator para isso é que
grande parte da população não são residentes do centro urbano da cidade, pois o município
possui aproximadamente 65 sítios e 5 povoados que na sua maioria não tem o fornecimento de
água encanada, isso acaba fazendo com que grande parte dessa população dependa de poços
locais e de compra de água em caminhões pipas que são depositados em cisternas.
Imagem 18 - Informações Socioeconômicas de São José da Tapera
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Notei também que em algumas partes da cidade se encontravam muito sujas contendo
grande acumulação de lixo, foi esse fator que gerou a necessidade de colocar em minhas apre-
sentações um teatro sobre a importância da limpeza do meio ambiente.
Imagem 20 - Feira Local, Acúmulo de Material Orgânico e Resíduos Recicláveis
PROJETO REALIZADO
Minha chegada em São José da Tapera foi na manhã do dia 12 de julho de 2021, nes-
te mesmo dia dei entrada no hotel e pela tarde revisei a peça teatral que seria apresentada
em todas as localidades. Este teatro tinha por objetivo criar uma interação das crianças com
o palhaço Tuca, a mesma era uma esquete muito divertida e cheia de informações relevantes
sobre a coleta de lixo. O enredo do teatro seguia um cronograma estabelecido que poderia ter
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mudanças durante a apresentação, tudo dependia de qual forma seria a reação e participação
da plateia. Sempre no início das apresentações o palhaço Tuca saudava as crianças, dançava
e consequentemente sujava o ambiente propositalmente com itens que estavam dentro de uma
caixa de papelão, no findar ele pedia para as crianças o ajudarem com a limpeza do local e logo
as interrogavam e ensinava da importância de um ambiente limpo e da coleta de lixo seletiva.
Imagem 21 - Apresentação da coleta de lixo
No dia 14 de julho foi realizado um evento no Sítio Espírito Santo na varanda da casa
de um cidadão da comunidade, toda apresentação foi realizada conforme o planejado e no final
a orientação da coleta de lixo foi realizada. O público foi composto por moradores locais sendo
adultos e crianças, estavam todos muito animados, muitas das crianças dessa comunidade nun-
ca tinham assistido uma apresentação de circo, no entanto eles estavam totalmente abertos em
ouvir e assistir, esse foi o local em qual as pessoas mais interagiram com o palhaço Tuca, muita
risada, alegria e a mensagem foi passada com êxito.
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Em 15 de julho a mesma apresentação foi realizada no Sítio Pão de Açúcar que é uma
comunidade bem afastada da cidade, como nas outras comunidades algumas crianças e adultos
deste sítio nunca tinham visto uma apresentação circense pessoalmente. A plateia foi composta
por famílias de agricultores da região, pessoas muito simples, porém muito atenciosas que rece-
beram de bom grado os que lhe foi proporcionado, durante a apresentação houve participação
não apenas das crianças, mas também dos adultos. Senti um grande carinho e o sentimento de
dever cumprido.
Imagem 23 - Sítio União
A apresentação do dia 16 foi realizada ao ar livre no bairro Cohab dos catitas, uma gran-
de quantidade de pessoas compareceram ao local, sendo crianças e adultos. Como nas outras
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comunidades, o teatro da coleta de lixo foi utilizado com o público. O trabalho neste dia foi muito
gratificante, pois, era fácil notar a alegria da plateia. Porém, em alguns momentos tive que gritar
muito alto para realizar a apresentação, já que o mesmo foi realizado em ar livre.
Imagem 24 - Bairro COHAB dos Catitas
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execução deste artigo no sertão de Alagoas e as suas comunidades. Compreendo que expandir
a cultura e o ensino de ciências/biologia foram fundamentais nesse tempo tanto para a minha
experiência acadêmica quanto para a minha formação inicial
A realização deste trabalho se tornou mais fácil e eficaz pela reciprocidade do povo nor-
destino que me recebeu com todo carinho e admiração, em todas as localidades eu era convida-
do para almoços e jantas, conhecendo novos pratos típicos da região e a realidade econômica
em qual se encontravam. Mesmo com tantas dificuldades eles encontram motivos para sorrir e
aprender com todo respeito, além de ouvirem também me ensinaram de muitas maneiras, foi
uma troca de experiências que eu vou levar para toda a minha vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a execução deste trabalho consegui entender a importância de unir o estudo teórico
usado em sala de aula com o uso da prática de ensino de ciências, artes e circo. Por meio desse
processo formativo e criativo eu consegui ter experiências práticas do ensino de ciências, tudo
nesse tempo precioso em uma comunidade carente que estava disposta a ouvir e aprender.
Essas experiências despertaram o meu interesse pela busca contínua da minha for-
mação acadêmica e pelo estudo de novas técnicas circenses que serão utilizadas em salas de
aula e em futuros projetos sócio educativos que pretendo realizar. Portanto, toda essa trajetória
foi relevante para um ensino de qualidade e diferenciado com experiências reais que foram de
suma importância para minha conclusão de curso. Entendo que ensinar é um processo contínuo
e importante para qualquer profissional que busca uma melhoria contínua como docente, com
certeza essas vivências me marcaram e alinharam o ensino de ciências/biologia com as artes
cênicas que estarão presentes no decorrer de minha vida profissional
REFERÊNCIAS
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de Janeiro, RJ 15ª Edição – 1999, pg 117.
|Capítulo 13 |176
|MÉTODOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ESTUDOS, REFLEXÕES E PERSPECTIVAS - Vol. 5
BULEGON, Ana Marli; MUSSOI, Eunice Maria. Pressupostos Pedagógicos de objeto de aprendizagem.
In. Objetos de Aprendizagem: teoria e prática. Organização: Tarouco et al. Porto Alegre: Evangraf,
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RIBEIRO, A. M. Curso de Formação Profissional em Educação Infantil. Rio de Janeiro: EPSJV / Creche
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|Capítulo 13 |177
Organizadoras Denise Pereira
Mestre em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG), Especialista
em História, Arte e Cultura, (UEPG), Especialista em
Tecnologias Educacionais, Gestão da Comunicação e do
Conhecimento (CENSUPEG); Especialista em Docência
do Ensino Superior, Gestão e Tutoria EAD (FABRAS);
Especialista em Gestão Educacional (IBRA), Graduada
em História (UEPG) e Graduada em Pedagogia (IBRA).
Atualmente Professora/Tutora Ensino a Distância da UEPG,
Professora Orientadora de TCC da UFRN, Coordenadora
Geral Acadêmica da FASU.
C
cognitivas 12, 101
comunidade 140
construção 120, 121, 122, 125
Covid-19 10, 11, 14, 15, 20, 34, 35, 37, 38, 40, 46, 47, 54,
55, 56, 57, 58, 59, 60, 65, 71, 72
criança 115, 116, 117, 118
crianças 17, 34, 35, 37, 38, 39, 40, 45, 47, 55, 56, 57, 71,
92, 96, 97, 101, 102, 103, 104, 105, 107, 108, 109,
110, 111, 112, 113
D
desenvolver 12, 16, 18, 25, 28, 36, 37, 66, 67, 69, 70, 101
desenvolvimento 12, 16, 17, 18, 19, 20, 28, 35, 37, 38, 48,
66, 68, 70, 94, 102, 109, 115, 116, 117, 118
dificuldades 11, 14, 16, 20, 29, 34, 35, 36, 38, 40, 55, 65,
70, 71, 92, 93, 94, 96, 97, 98
digitais 14, 16, 19, 21, 44, 47, 52
distanciamento social 11, 15, 21, 44, 45, 50
docente 9, 16, 17, 18, 20, 21, 26, 27, 29, 43, 44, 46, 51,
52, 93, 94, 97
E
EaD 23, 24, 25, 26, 28, 30, 31, 32, 48, 49, 50
educação 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21,
22, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 37,
39, 40, 41, 42, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99
educação básica 120, 123
educação física 10, 11, 12, 13, 16, 18, 19, 20, 21, 22
educação infantil 17, 33, 35, 40, 42, 98, 101, 110, 111,
114, 115, 116
ensino 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23,
24, 25, 26, 27, 29, 30, 31, 34, 35, 37, 38, 40, 41, 44,
45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60,
61, 62, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 119, 120, 121,
122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 131, 132,
134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141
ensino de arte 119, 120, 121, 123, 124, 125
ensino remoto 11, 12, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22
escolar 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22
escrita 101, 107, 112
estratégias 12, 14, 22, 55, 56, 100, 101, 102, 112
F
formação continuada 11, 14, 18, 39, 68, 69, 93, 97
G
gestão 27, 33, 34, 35, 38, 39, 40, 41
H
habilidades 15, 17, 18, 37, 56, 58, 61, 62, 66, 68, 69, 79,
95, 98, 101
humanização 115, 118
humano 115, 116, 118
I
inclusão 20, 92, 93, 96, 97, 99
Infantil 34, 35, 36, 37, 38, 41
internet 14, 15, 16, 19, 24, 25, 26, 27, 30, 31
isolamento 12, 18, 20, 44, 47
J
jogos 144, 150, 151
L
leitura 9, 100, 101, 102, 103, 107, 110, 111, 112
língua portuguesa 53, 54, 55, 57, 60, 61, 62, 66, 67, 68,
69, 70, 71
Ludicidade 92, 96
M
metodologias 9, 11, 12, 19, 53, 54, 55, 63, 71, 128, 129,
134, 135, 136, 137, 139, 140
metodologias ativas 128, 129, 134, 135, 136, 137, 139,
140
mulheres 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 151, 152,
153, 154
N
narrativa 143, 144, 145, 148, 150, 151, 152, 153, 154
O
online 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32
P
pandemia 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22,
33, 34, 35, 37, 38, 39, 40, 41, 43, 44, 45, 46, 48, 49,
50, 51, 52
pedagógicas 13, 16, 21, 23, 24, 36, 53, 54, 70, 72, 93,
95, 97
prática 9, 119, 120, 121, 123, 126
práticas 5, 11, 12, 13, 14, 16, 18, 21, 54, 57, 58, 68, 70,
71, 93, 94, 97, 98
práticas pedagógicas 13, 16, 21, 93, 97
práxis 114, 115
professores 11, 12, 13, 14, 15, 17, 18, 19, 22, 24, 26, 27,
29, 31, 34, 35, 38, 40, 44, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 54,
55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 65, 66, 67, 68, 69,
70, 71, 72, 93, 98, 99
profissionais 11, 14, 18
projeto 22, 30
R
rede pública 144, 156
remoto 11, 12, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22
S
social 9, 11, 12, 14, 15, 17, 18, 21, 24, 28, 30, 32, 36, 37,
39, 44, 45, 47, 50, 51, 115
sociedade 25, 27, 29, 30, 31, 34, 128, 129, 133, 135,
136, 137, 139, 140, 144, 145, 146, 147, 148, 151
socio-construtivismo 24
software 128
T
TDIC 44, 47
teatro 144, 145, 155, 156
tecnologias 12, 13, 14, 17, 19, 24, 25, 26, 27, 38, 44, 47,
49, 51, 52
tecnológicas 11, 17
teoria 5, 120, 126
transformação social 44, 51
V
virtual 12, 17, 24, 25, 26, 27, 28, 30, 31, 32
VOZ e CENA
Introdução
Este artigo1 tem como objetivo discorrer sobre o tratamento dos relatos de mulheres
candangas2 levantados a partir do Programa de História Oral do Arquivo Público do Distrito
Federal (ArPDF) para a produção de uma videonarrativa. Descreveremos o desenvolvimento
estético do trabalho de pesquisa, apresentando a Abordagem Pragmática da palavra em
performance proposta por Silvia Davini (2006), compartilhada e continuada por Sulian Vieira
(2014) no contexto do Grupo de Pesquisa Vocalidade & Cena (V&C)3. Em consonância, serão
apresentadas considerações sobre a narrativa na perspectiva crítica de Walter Benjamin e a
estética desenvolvida pelo documentarista Eduardo Coutinho (1997), referência mobilizadora
do exercício de produção de videonarrativa apresentada neste artigo.
O processo de desenvolvimento histórico, conceitual e estético desta pesquisa foi
realizado a partir das seguintes etapas: visitas ao Arquivo Público do Distrito Federal
(ArPDF) para contato com as memórias de mulheres que fizeram parte da construção de
Brasília e do Distrito Federal4; imersão na leitura das entrevistas de mulheres realizadas pelo
Programa de História Oral do ArPDF, para compreender mais sobre a construção da Capital
Federal e a participação das mulheres nesse período a partir de suas próprias palavras; seleção
de trechos dos relatos das entrevistas que pudessem inspirar a produção de performances
narrativas com ênfase nas subjetividades das candangas entrevistadas.
O processo final de desenvolvimento da videonarrativa em questão se deu após todas
as etapas citadas acima, com o entendimento de que nesta pesquisa seria possível realizar a
produção de apenas uma narrativa. A história de Meiry Pires Amorim, gerou a videonarrativa
1
O artigo é parte da Dissertação de Mestrado de Jemina Tavares de Medeiros, Candangas Palavras: videonarrativas
a partir de relatos de experiências de mulheres presentes na construção de Brasília e de outras Regiões Adminsitrativas do Distrito
Federal, pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UnB, orientada por Sulian Vieira em 2022.
2
Pessoas que vieram para trabalhar na construção de Brasília, a grande maioria vinda do nordeste do país.
Inicialmente receberam este adjetivo de forma pejorativa que constrastava com o título de “pioneiros” dados
àqueles com profissões como engenheiros, arquitetos, entre outras.
3
O Grupo de Pesquisa Vocalidade & Cena foi registrado oficialmente no Diretório de Grupos do CNPq em 2003.
Além de diversos artigos sobre a voz e a palavra em performance, o grupo produziu algumas peças de Teatro.
Disponível em: https://www.youtube.com/VocalidadeCena
4
O Distrito Federal é formado pelo Plano Piloto, que engloba as Asas Sul e Norte. As regiões centrais que
formam a cidade de Brasília são: Lago Sul, Lago Norte, Setor Sudoeste, Octogonal, Cruzeiro Velho e Cruzeiro
Novo. Um pouco mais distante das áreas centrais, ficam as demais regiões administrativas (antigamente
chamadas de “cidades satélites”). Cidades de pequeno e médio portes, localizadas a uma distância variável de 6 a
45 km do Plano Piloto. As principais são: Gama, Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Planaltina, Paranoá,
Núcleo Bandeirante, Ceilândia, Guará, Samambaia, Santa Maria, São Sebastião, Recanto das Emas, Riacho
Fundo I e II e Candangolândia.
intitulada História das Bonecas - com maior carinho, maior amor, foi a escolhida para ser narrada ao
público pois condesava diversos atravessamentos que a tornava muito representativa para a
abordagem de opressões inteseccionadas que caracterizaram a vida das mulheres candangas e
que ecoam fortes nos dias atuais. Convidamos quem nos lê a assistir à videonarrativa antes de
prossseguir: https://www.youtube.com/watch?v=dj5U-wYKtG4
O Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) foi criado em 14 de março de 1985 pelo
Decreto n° 8.530. No espaço está reunida a documentação que retrata a história da Capital
Federal e das Regiões Administrativas do DF desde o período da interiorização, prevista na
Constituição de 1892, até os dias atuais. O acervo apresenta documentos textuais,
audiovisuais, cartográficos, entre outros formatos, bem como realiza projetos de pesquisa que
visam resgatar ou registrar memórias sobre o período de construção e consolidação de Brasília e
do DF como o Projeto de História Oral.
Nosso primeiro contato com o ArPDF deu-se no ano de 2019, tendo sido recebidas pelo
servidor público Elias Manoel da Silva5. Após o contato inicial, nos foi permitido o acesso às
transcrições de entrevistas realizadas pelo Programa de História Oral que estão disponíveis
de forma digital na biblioteca do órgão.
Tivemos acesso a 60 transcrições de entrevistas a mulheres. Após a leitura de todas elas,
foram selecionadas 40 que continham relatos sobre histórias pessoais, histórias de vida.
Depois dessa primeira seleção foi proposto um olhar mais focado àqueles relatos que
dialogavam com os nossos interesses de pesquisa: relatos que trazem a mulher como
protagonista das suas histórias; relatos de mulheres periféricas com menos referências que
valorizassem a noção de patriarcado. Com base nestes critérios, apenas 10 entrevistas
continham relatos que preenchiam todos os quesitos.
Essa seleção de material mostrou-se relevante para reconhecer, que mesmo em um
órgão institucional, que tem como uma de suas metas preservar a memória de participação do
5
Historiador do Arquivo Público desde 2005, atualmente é diretor da Diretoria de Pesquisa, Difusão e Acesso
do ArqPDF. Elias é bacharel e licenciado em História pela UNISUL - Universidade do Sul de Santa Cantarina e
Mestre em História Social pela UnB – Universidade de Brasília.
6
Meiry Pires Amorim, nascida em Roraima-RO. Feirante e advogada, possui grande importância no processo
deconsolidação da feira dos importados
7
Graduada em Licenciatura em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília. Tem como principal área de interesse
estudos pela narrativa - https://www.instagram.com/bianca.s.Vieira/
história e assim decide viver. O passado surge para ela como forma de reviver processos de
superação, uma vez que ela conta a sua história num momento de vida em que é proprietária
de uma banca de brinquedos na feira modelo de Sobradinho. Por isso, na construção da
História das Bonecas buscamos marcar o momento em que entendeu que escreveria ela mesma o
seu destino, mesmo que convivesse com fatores de opressão.
Apartir desse ponto, a autora principal Jemima narrará a sua experiência em primeira
pessoa, pois, apesar de compartilharmos muitos aspectos da pesquisa, outros foram
vivenciados exclusivamente por ela.
A adaptação do relato da entrevista deveria manter rigor técnico, necessário à
narrativa teatral, mas não podia perder em sua singularidade as noções de sentido relacionais
e históricos e, menos ainda, o sentido do humano que abarca todo caráter afetivo que
desejávamos preservar do relato de Meiry.
A chegada de Bianca Vieira para o processo de adaptação foi favorecido pelo nosso
compartilhamento de interesse pela exploração cênica do gênero narrativo. Por um lado, a
minha preocupação era adaptar a narrativa tirando descrições que sublinhavam ações que
poderiam deixar a narrativa muito dramática e, ao mesmo tempo trazer momentos do relato
de Meiry fundamentais para o trabalho, acrescentando aspectos das experiências de vida da
minha família que corroborassem a narrativa de Meiry e que pudessem favorecer a abertura
dos sentidos do relato original.
Bianca trouxe maior fluidez à narrativa a partir dos direcionamentos acima que
dialogavam com a proposta de Vieira (2014, 2016, 2018) e inspirações do trabalho de Coutinho
(2007) e de Walter Benjamin (1997, 2012) sobre narrativa e narradores.
Entretanto, observei que, mesmo após leituras e reescritas a narrativa ainda pareceu
muito informativa, a ênfase dada à experiência, aos afetos ainda não era suficiente. Assim,
busquei ainda mais abertura para os afetos e menos para as explicações, comecei a pensar que
a construção da narrativa deveria ser feita de forma não linear, iniciando o relato a partir do
presente e finalizando no presente. O resultado permitiu que as subjetividades e seus afetos,
estivessem presente na narrativa com tanta relevância quanto o contexto social.
Assim, a narrativa foi proposta em uma forma não linear, de modo que a narradora
começa pelo presente e no fluxo dos acontecimentos vai aproximando o público de sua
trajetória de vida, chegando ao final, em que termina com uma frase muito parecida com a que
disse no início.
Observo que o fato de a narrativa ter sido produzida de forma não linear não a torna
disruptiva. Pois foram estabelecidas conexões pelo encadeamento dos fatos da narrativa, pela
forma por meio da qual as narradoras contaram a história e pela edição do vídeo. Todos esses
fatores foram planejados para que o espectador conseguisse ir e voltar no tempo junto com as
narradoras, sem que sentisse rupturas dos sentidos.
Convido a quem nos lê a acessar a narrativa produzida aqui: A História das Bonecas.
Após a finalização da escrita fiz os primeiros ensaios solo e escutando a narrativa dita
por mim e já experimentada com diversas intenções e atitudes ainda sentia que faltava algo.
Talvez vivências de determinadas experiências trazidas na narrativa de Meiry. Contudo
reconheci que a minha avó Ana e Meiry dividiram de certa forma o mesmo destino. Eu queria
de alguma forma permitir que a história de Vó Ana também fosse ouvida. Comentei isso com a
minha mãe, Sônia Tavares, que de imediato se viu motivada a participar do processo de
construção da videonarrativa como uma das narradoras. Afinal, não por acaso, também viveu
longos processos de silenciamento pelas estruturas patriarcais.
Figura 1 - Bisavó materna: Figura 2 - Avó materna: Ana, Figura 3 - Mãe: Sônia, 1963. Figura 4 - Filha: Jemima, 1991.
Joana, 1925-1987. 1943-2015. Fonte: Arquivo Pessoal Fonte: Arquivo Pessoal
Fonte: Arquivo Pessoal Fonte: Arquivo Pessoal
Diante de tantas histórias de vida uma questão se colocava: como conduzir tais relatos
à experiências narrativas? A experiência narrativa exige, tanto de quem narra quanto dos
ouvintes, uma série de fatores para que ela aconteça de forma eficaz. O tempo dilatado, a
disposição de ouvir, o foco no presente, o desejo de contar uma história entre outros são
essenciais para a narrativa. Assim, como é possível buscar formas de narrar uma experiência
que vá além de seu sentido semântico e sintático e que possa gerar em quem escuta,
tensionamentos, reflexões e aproximações sobre o que está sendo narrado? Qual a forma mais
eficaz de narrar histórias de mulheres que fizeram parte da construção da Capital Federal lhes
dando o devido reconhecimento nesse processo e ressaltando suas subjetividades?
Neste ponto apresentamos como metodologia de tratamento de textos orais, a
Abordagem Pragmática, apoiada nos estudos do filósofo John Langshaw Austin (1911-1960)18,
proposta por Silvia Adriana Davini (1957- 2011)8, atriz, cantora e diretora, que vêm sendo
aplicada e estudada por Sulian Vieira.
Sobre os escritos de Austin, Vieira observa que o autor questiona a dimensão
significativa que a ciência linguística reforça em relação à palavra. Para Austin, segundo a
autora, não é possível pensar na linguagem de forma compartimentada, institucionalizada,
apenas a partir de seus significados sintáticos e semânticos (Austin, 1990 apud Vieira, 2013, p.
25).
Vieira observa que os escritos de Austin passam a considerar a palavra em uma
perspectiva pragmática, como ação e a considerar o potencial de sucesso em seus
agenciamentos. O autor observa que a fala deve ser abordada também a partir do contexto em
que está inserida, observando inclusive que a partir da fala o sujeito estabelece relações de
poder no contexto inserido (Austin, 1990 apud Vieira, 2013, p. 26).
A produção de linguagem por meio da palavra emancipa-se, pela perspectiva
pragmática, da dicotomia e abstração da relação entre significado/significante e integra o
8
Doutora em Teatro pela University of London, Queen Mary and Westfield College e graduada em Música com
especialidade em Canto pelo Conservatório Municipal de Buenos Aires. Em 1990 Davini passou a integrar o
corpo docente do Departamento de Artes Cênicas do Instituo de Artes da UnB, em 2003 ela fundou o grupo de
pesquisa Vocalidade & Cena no contexto do qual desenvolveu pesquisas estéticas e conceituais até 2011, ano em que
faleceu(Vieira, 2013, p.13).
contexto e as relações de poder dentro das quais fala e escuta acontecem. Conforme Ottoni,
podemos falar então de uma “visão performativa, na qual o sujeito não pode se desvincular de
seu objeto fala e, consequentemente, não é possível analisar este objeto fala desvinculado do
sujeito” (2002, p. 128).
Avaliamos, segundo proposto por Ottoni (2002) e Vieira (2013, 2014), que Austin
rompe com as distinções positivistas de ação/fala, tempo/história entre linguagem e corpo,
sujeito e objeto. Ao discutir ao mesmo tempo a linguagem humana e o humano, ele apontou
que a linguagem não é uma abstração distanciada da materialidade histórica e sensorial dos
corpos humanos e, consequentemente do contexto em que está inserida socialmente, que na
perspectiva performática o corpo e a linguagem se fundem.
A proposta de Abordagem Pragmática do V&C segundo Vieira (2014, 2016, 2018),
sugere que ao abordarmos materiais textuais (peças teatrais, narrativas, discursos ou outros
gêneros textuais) que identifiquemos objetivamente o que fazem/realizam os protagonistas ao
longo do transcurso ficcional.
Em uma Abordagem Pragmática interessa identificar não exclusivamente o significado
do que é dito, mas o que esse dizer produz sobre a realidade, considerando quem diz e de
onde diz. O foco da abordagem é o fenômeno, os sentidos relacionais e não os significados
literais descontextualizados. Nesse contexto, o que é mais relevante é o como se diz o que se
diz, é a forma (Vieira, 2014).
Assim, as intenções são considerdas como o objetivo, como o desejo, como o que
mobiliza quem diz a dizer, expressas por um verbo no infinitivo. Já as atitudes modulam as
intenções pois referem-se ao como, ao modo, expressos por advérbios diversos. Intenções e
atitudes formam um campo relacional entre quem atua e a plateia (Vieira, 2014).
Ao convidar Sônia para participar do exercício narrativo para essa pesquisa sua
resposta foi imediata: sim. Naquele momento eu tinha certeza que o fato dela não ser atriz não
diminuiria em nada a qualidade do trabalho. Isso porque acredito que o desejo de narrar
aquela história e a experiência com a narrativa seriam uma força motora potente para que ela
conseguisse memorizar a narrativa e estar presente em cena, fazendo com que aquele
momento de performance fosse capaz de gerar sentidos complexos em quem conta e escuta a
história.
Os momentos em ensaio juntas foram regados de muito afeto e seriedade. Apesar de
fisicamente me parecer mais com meu pai nossas personalidades, minha e da minha mãe, são
bem parecidas. A seriedade com que tratamos os compromissos assumidos fazem parte em
comum do nosso modo de atuar no mundo. Por isso, assim que soube que iria trabalhar no
exercício narrativo desta pesquisa, ela tratou de se esforçar para memorizar a narrativa e
conversarmuito comigo sobre como seria realizada a proposta.
Eu a orientei para que decorasse a narrativa de forma que tivesse o mínimo possível de
contato com a palavra escrita, a fim de se aproximar da palavra em performance, demanda da
videonarrativa. Ou seja, utilizando a gravação em áudio como recurso principal para
memorizar toda a história. Entretanto, ela achou por bem utilizar outras estratégias para
memorizar a sequência de palavras, como escrever à mão toda a narrativa. Essa metodologia
de escrever para memorizar pode trazer algumas problemáticas para quem vai atualizar a
narrativa, que serão verticalizadas adiante. Além disso, enquanto caminhava pela manhã, ela
ia dizendo as palavras da narrativa em voz alta, também como recurso de memorização.
Foram mais ou menos dois meses para memorizar, entretanto este tempo não foi
suficiente para que Sônia conseguisse dominar a narrativa por completo. A falta de
experiência aliada à apreensão de ter que atuar como “atriz” possivelmente contribuíram para
as dificuldades de assimilação da narrativa neste primeiro momento. As demandas com
atividades de trabalho e a distância física, uma vez que moramos em cidades diferentes,
também podem ter contribuído para a demora. Penso que se tivéssemos tirado um período de
pelo menos duas vezes por semana, cerca de uma hora por dia, para realizar esse trabalho
juntas, provavelmenteteria sido mais proveitoso.
Assim, para fazer o registro em vídeo da narrativa a alternativa encontrada foi realizar
as gravações em pequenos parágrafos, para que Sônia conseguisse performar pequenas partes
e se sentisse mais segura em frente à câmera.
A ideia inicial era gravar do lado de fora da casa do meu avô, onde minha mãe passou
sua infância e nossa família nuclear também morou. Naquela casa tinha uma história de
superação; portanto aquela locação nos permitiria trabalhar as histórias de Meiry conectadas
às nossas. Achamos que seria uma alternativa viável para o projeto, mas como era um dia de
feriado, fazia muito barulho e não conseguiríamos ter um áudio bom para o vídeo.
Entramos na casa, quando verifiquei a primeira dificuldade. A casa era um pouco
escura para o registro sem equipamento de luz apropriado e possuía uma decoração muito
contemporânea que poderia nos afastar da história que contaríamos. Decidimos então colocar
uma roupa mais simples, para ver se a vestimenta poderia trazer um contraste com a casa, o
que de fato não aconteceu.
O ambiente da casa que tinha uma iluminação mais adequada não trazia nenhum
significado para a narrativa e as texturas de parede, quadro, e almofadas não ficaram da forma
que eu imaginava.
Nesta fase da pesquisa tínhamos decidido que a narradora não falaria diretamente com
a câmera e sim falaria como se estivesse contanto para alguém ao lado. Verificamos que o
ângulo da câmera desfavorecia o olhar das atrizes na interação com os espectadores,
empobrecendo a performance e fazendo perder detalhes das atitudes das atrizes que fariam
falta ao resultado estético.
Além disso percebi ansiedade e nervosismo de Sônia na hora de narrar a história para
câmera. Portanto, optei por interferir o mínimo possível na atuação.
Um fator relevante sobre a atuação que vale ser destacado era que Sônia havia feito uma
oficina de teatro em 2018 com uma metodologia diferente para o processo de atuação. Naquela
ocasião, ela deveria, segundo ela, imaginar as imagens que o texto da narrativa trazia, bem
como dar uma ênfase nos adjetivos da frase.
Essa opção por imaginar, por exemplo, um ônibus distante, não ajudava na performance.
Ela ficava de olhos fechados repetindo “preciso imaginar o ônibus vindo, sentir o cheiro da
terra”, entretanto ao abrir os olhos e se deparar com a câmera, as intenções e atitudes não
eram bem desenvolvidas. Havia um medo inicial e compreensivo da câmera, mesmo que ela
não estivesse falando diretamente para o equipamento.
Entretanto, em uma Abordagem Pragmática, somos motivadas a partir do desejo de
dizer o que se tem a dizer, a permitir que a palavra soe dirigida por intenções e atitudes, não
necessariamente pela imagem literal da palavra. Avalio que a utilização dessa técnica faz
uma diferença potencial na hora da atualização da narrativa. Tendo em vista que ao desejar a
palavra, os gestos, atitudes e intenções ficam mais disponíveis a modulações e podem gerar
mais segurança na narradora ao estar em performance.
Como Sônia gravaria a narrativa por partes, optei por também gravar desta forma. Pois
assim, avaliei na época, seria melhor para realizar a edição do vídeo com os cortes entre uma
narradora e outra. Nesse momento foi importante realizar os cortes, pois pude estudar melhor
as atitudes e intenções já definidas anteriormente. Isso me deu uma sensação de segurança
maior na hora de narrar a história, pois tinha as atitudes e intenções bem definidas em trechos
curtos que ensaiava minutos antes de performar para a câmera. Conseguimos filmar quase
metade da narrativa, com muita dificuldade, mas também sentimos que foi uma etapa
necessária para o desenvolvimento do projeto.
Entretanto, avalio que nessa primeira experimentação a narrativa ficou densa,
dramática, com gestos e expressões muito caricatas e em demasia para o recurso com acâmera
que necessita de uma sutileza maior na atualização. Atualizando a narrativa com expressões
muito marcadas, excessivas, que não abriam espaço para que o espectador pudesse sentir suas
próprias emoções a partir da sua própria relação com a narrativa, uma vez que nós estávamos
atualizando no como narrávamos as emoções que desejávamos produzir na plateia.
Os resultados dos primeiros ensaios ainda na casa de Sônia, sem muito apego aos
Um dos espaços públicos que nos pareceu ser apropriado à proposta foi o Museu Vivo
da Memória Candanga9.
Figura 6 - Museu Vivo da Memória Candanga - Fonte: Toninho Tavares/Agência Brasília, 2015
O espaço é composto por uma arquitetura que muito se assemelha a algumas casas
que foram construídas ainda no início da construção da capital para abrigar migrantes que
vieram a Brasília. Visitamos o local e encontramos um cenário que poderia ser muito bem
utilizado para o trabalho, chamado de Casinha Azul pelos funcionários do próprio museu. O
espaço dispunha de uma exposição de fotografias Joaquim Paiva: Cor e Vida10 e um banco de
madeira que poderia ser utilizado pelas narradoras.
O primeiro momento em que chegamos ao local e decidimos gravar ali, foi de profunda
identificação: as paredes internas da Casinha Azul são de “forro paulista”, uma espécie de
madeira muito utilizada nos anos 1950 e 1960, período de construção de Brasília. As imagens
de Joaquim Paiva retratavam o cotidiano de pessoas e lugares comuns do Distrito Federal que
ambientavam uma sensação de que Brasília não era apenas os grandes traços arquitetônicos
9
Regido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) o Museu Vivo, localizado entre as Regiões
Administrativas de Candangolândia e Núcleo Bandeirante foi inaugurado no dia 26 de abril de 1990, com a
destinação de preservar o legado deixado pelos candangos na época da construção de Brasília. Disponível em:
https://www.cultura.df.gov.br/museu-vivo-da-memoria-candanga/
10
Joaquim Paiva: Cor e Vida. Disponível em: https://www.cultura.df.gov.br/fotos-mostram-cotidiano-poetico-%20da-cidade-
livre/
de Oscar Niemeyer.
Na hora de fazer o registro em vídeo, acessei a narrativa que já estava definido com os
blocos de sentidos (atitudes e intenções a serem performadas no decorrer da narrativa) e
passei a trabalhar com Sônia Tavares, explicando novamente quais eram as intenções e
atitudes de cada frase ou bloco de sentido, sempre abrindo espaço para que ela fizesse
sugestões. Após três ou quatro ensaios de cada parágrafo gravávamos a performance de Sônia.
Esse processo se repetiu até que terminássemos todo o texto narrativo.
Foi possível identificar algumas dificuldades nesse processo, como por exemplo o fato
de que Sônia memorizou a narrativa já com algumas intenções definidas ao invés de tentar
memorizá-lo da forma mais neutra possível, a fim de que no processo de direção estivesse
disponível para testar outras opções. Esse movimento fez com que fosse mais difícil mudar a
ênfase em algumas palavras-chave, que são geralmente os verbos da frase ou palavras que
estabelecemos como essenciais para o entendimento da sentença ou para flexibilizar alguns
parâmetros de som.
Um fator positivo foi perceber que no ambiente do Museu Vivo da Memória Candanga,
como já havia trabalhado os aspectos pertinentes à proposta de Abordagem Pragmática, Sônia
se sentiu muito mais segura e preparada para performar a narrativa do que na primeira
tentativa em sua casa. Pelo fato de estarmos em um local com uma exposição aberta, outras
pessoas poderiam entrar para ver a exposição. Em um dos momentos de gravação uma família
entrou e nesse momento a narrativa de Sônia foi totalmente potencializada pela presença das
pessoasque estavam naquele espaço, mesmo que não fosse para ouví-la.
Neste sentido, eram perceptíveis as modulações de Sônia a partir das palavras-chave.
Sônia foi orientada, inicialmente, a se apoiar nos verbos das frases ditas, entendendo que na
maioria dos casos eles indicam a ação e podem conduzir quem narra a levar a atenção do público
para a ação.
Como cenário para a narrativa desenvolvida por mim, pensamos em utilizar um local
aberto que também remetesse a um lugar público e à memória do processo de construção da
cidade, que não fosse o mesmo de Sônia. Não queríamos que o público pudesse ser levado a
uma ideia de comparação entre as duas atualizações. O local escolhido foi a Praça da Igrejinha
na Vila Planalto11. Um local com muitas árvores e que possui como plano de fundo uma igreja
recém revitalizada que tem ainda uma arquitetura antiga, da época da construção de Brasília.
Um dos pontos fundamentais para mim foi que ao ouvir várias vezes Sônia
atualizando a narrativa, tive pouco contato com o material escrito, que era consultado apenas
para me certificar das definições de blocos de sentido. Ao mostrar os vídeos de ensaio ou
durante um dos exercícios de gravação, a orientadora, Sulian Vieira, observou que aos finais
das frases minha voz perdia intensidade produzindo, mesmo sem intenção, um certo ritmo
dado pela repetição, que remetia à sensação de texto memorizado, drenando as possibilidades
de abertura de sentidos da narrativa. Sulian então me deu uma orientação que fez bastante
sentido naquele momento: “Performe cada frase como se fosse a única a ser dita ou a última que
você vai dizer. Isso pode favorecer a integridade de sua presença, sem que você diminua sua
intensidade de voz e presença aos finais das frases ou blocos de sentidos por, talvez, estar já
preocupada com a próxima frase”.
Os meus ensaios foram realizados no Museu Vivo da Memória Candanga e a gravação
oficial foi feita na Vila Planalto. No dia da gravação, eu já tinha decorado a narrativa toda e
decidi que iria gravá-la por completo e não em trechos, para evitar quebrar o fluxo da
presença cênica. Uma coisa que percebi foi que apesar de ter treinado bastante, o momento de
“gravação oficial” me gerou uma ansiedade grande e até uma falta de foco em alguns
momentos. Enquanto Sônia se sentia potencializada pela presença das pessoas no Museu
Vivo da Memória Candanga, eu me sentia um pouco desconfortável com as pessoas passando
no local, era como se o barulho tirasse o meu foco da história, da experiência narrativa e em
relação à câmera.
11
A Vila Planalto foi criada em 1957 e é um símbolo da resistência dos “pioneiros”, trabalhadores que ergueram a
cidade centro do poder no país. Surgiu da instalação dos acampamentos das várias construtoras que se
instalaramna cidade para a construção do Plano Piloto de Brasília de Lúcio Costa.
Somaram-se oito encontros até a produção final para registrar em vídeo as versões finais
das performances das duas atrizes para a edição. As cenas gravadas por Sônia somam 21 takes
de 2 a 3 minutos cada, uma vez que cada take foi repetido 03 vezes para que se pudesse escolhero
melhor trecho da narrativa.
No meu caso optei pela gravação direta da narrativa completa, repetindo também três
vezes o bloco narrativo para escolha posterior dos melhores takes para edição. O resultado final
da gravação geral somando a atualização das duas narradoras totalizaram 3 horas de gravações.
Figura 7 - Gravação, Museu Vivo da Memória Candanga - Figura 8 - Gravação, Praça da Igrejinha, Vila Planalto -
Fonte: YouTube 2021 Fonte: YouTube 2021
12
Editor de vídeo e motion graphic designer. Trabalha com arte 3D e desenvolve diferentes aplicativos para
dispositivos móveis. Site: https://vihartgames.com/ - Portfolio: https://www.behance.net/vihart
A narrativa foi produzida com o intuito de atingir diversos tipos de público, desde
adolescentes de ensino médio até pessoas de outros estados que não conhecem a história de
Brasília.
Ao buscar conhecer a avaliação do público eu tinha em mente compreender, a partir da
análise dos depoimentos, qual o impacto da videonarrativa sobre diferentes pessoas. Elucidar
as sensações, impressões e ideias que o público foi estimulado a desenvolver a partir do
contato com o texto narrativo e hipóteses formuladas sobre Meiry e tantas outras mulheres
que participaram do processo de construção e consolidação de Brasília e do Distrito Federal.
Seguem os comentários deixados na plataforma na qual o vídeo foi exibido:
A história das bonecas traz a narração de uma mulher sem rosto mas com nome,
Meiry Pires. Uma mulher que viveu o Distrito Federal com as suas nuances e
desigualdades e teve suas raízes arrancadas para ser arraigada na nova capital.
Jemima e Sônia fazem da memória dela, com a naturalidade dos rostos, dos gestos e
das vozes, uma narrativa acolhedora e dolorida que remete a história de tantas
famílias que chegaram aqui, inclusive os meus pais, que também são órfãos e que
fizeram dessa terra, mãe, para que assim, se tornassem os meus. Os que chegaram à
Brasília enfrentam às vezes a seca de quem enfrenta novos horizontes na solidão do
concreto, na busca incessante de laços. Brasília é terra de murici até hoje e que fez
muitos órfãos de suas terras, de seus lares, mas que também é uma mãe que abraça
os corajosos desbravadores em busca de colo e de chão. O vídeo emociona por
materializar a história de uma mulher invisibilizada pelo cotidiano simples, mas que
carrega consigo a dureza de se fazer gente junto com uma terra que se faz lar para
tanta gente. A história do Distrito Federal carrega a alegria de ainda poder registrar
memórias vivas de seus filhos adotados e quando não, se fazem vivas como esse
deleite proporcionado por Jemima e Sônia (Avaliação de Yaciara Mendes, Mestre em
Biblioteconomia e professora da SEEDF).
Uau!! Estou muito emocionado... Eu vi minha mãe Eu vi a minha tia avó que me
criou... Mulheres guerreiras que trabalhavam pra outras famílias e que estão só.
Chorei. Muito feliz por ela ter conseguido o que queria! Inspiradora! Parabéns!
Muito bonito o trabalho! Me transportei pra uma Brasília outra. Linda narrativa,
emocionante e que prende nossa atenção do início ao fim! Muito obrigado de
verdade! Já tô divulgando pra geral! Vou mostrar pras minhas mães! (Avaliação de
Pedro Lopes, Mestrando em Artes Cênicas).
Trabalho lindo! Tão sensível e tão potente!! Difícil não se identificar. Lembrei da
minha mãe cantando em falsete. Fiz uma atividade com turmas da EJA há uns 3 anos
e surgiram várias histórias assim. A relação atuação/presentificação tem uma
conotação política muito importante ao dar voz para as mulheres dentro dessa
dimensão estética e lúdica. Isso parece dilui um pouco o peso e a tristeza da história
mas sem perder a força, a beleza e a delicadeza da narrativa!! Tô doido pra ver mais
vídeos!! (Avaliação de Eduardo Fernandes - Professor da SEEDF e Mestrando em
Artes Cênicas Pela Universidade de Brasília).
Parabéns pelo trabalho, Jemima! Eu também fiquei com vontade de conhecer mais
dessas histórias! E vejo muita potência no formato audiovisual que você escolheu:
isso de entrelaçar narrações e perspectivas à luz de uma mesma história. Que massa!
Você já assistiu ao documentário Jogo de Cena (2007)? Acho que pode ser uma boa
fonte de livre inspiração para trabalhos futuros, em vários sentidos! Deixo aqui essa
minha recomendação/provocação criativa. Parabéns! Beijos! (Avaliação de Jorge
Marinho - Contador de historias e Mestre em Artes Cênicas pela Universidade de
Brasília)
Referências
ArPDF. Arquivo Público do Distrito Federal. Depoimentos de Histórias Orais I - Catálogo
2010
COSTA, Rafael Wagner dos Santos. Jogo de Cena: o jogo de encenação, fabulação e invenção.
Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. São Paulo: USP, v.3, n.1, pp 1-22,
2014. Disponível em: https://doi.org/10.22475/rebeca.v3n1.93 / Acessado em 06 mar 2020.
VIEIRA, Sulian; LIGNELLI, César. Narrativas atitudes e parâmetros do som: A voz e a palavra
em uma aproximação pragmática. Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 7, n. 2, p. 4-13, 2018. DOI:
10.20396/pita.v7i2.8651448. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/pit500/article/view/8651448 - Acesso em: 4
jan. 2022.
VIEIRA, Sulian. A voz como produção corporal: o Princípio Dinâmico dos Três
Apoios. Práticas Poéticas Vocais II. Uberlândia: Universidade de Uberlândia, 2016.
VIEIRA, Sulian. Composição da Memória: a letra, o corpo e a palavra em cena. Revista VIS:
Revista do Programa de Pós-Graduação em Arte. Brasília: PPG-Arte, v. 14, n. 01, pp. 19-34,
2015.
DOI: https://doi.org/10.26512/vozcen.v4i01.48498
i
Jemima Tavares - Mestre em Processos Composicionais para Cena pela Universidade de Brasília (2022).
Licenciada em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília (2018). Suas áreas de pesquisas abrangem os
seguintes temas: feminismo interseccional, narrativas, teatro, dramaturgia e direção.
[email protected] .
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9479722048361293
ORCID: https://orcid.org/0009-0003-1913-0796
ii
Sonia Tavares - Licenciada em Pedagogia desde 2000. Com especialização Lato-senso em orientação
educacional, políticas públicas de gênero e raça e filosofia e existência. É orientadora educacional na Secretaria
de Estado de Educação do Distrito Federal desde 2008. Atualmente dedica-se aos estudos e práticas envolvendo:
gênero, raça e interseccionalidades e arte-educação. [email protected] .
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4738222546040454
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-7094-4468
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Sulian Vieira - Doutora em Artes pela Universidade de Brasília, Mestre em Teatro Aplicado pela Univesity of
Manchester (UK) e Bacharela em Interpretação Teatral pela UnB. É professora do Departamento de Artes
Cênicas desde 2002, onde também atua no PPG-CEN. [email protected] .
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8105375243972897
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6688-9402
iv
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