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As preocupações sociais sobre a má orientação sexual entre crianças e adolescentes em

casa revelam a falta de diálogo familiar sobre o assunto. Em março de 2007, o Senado
Brasileiro divulgou o Projeto de Lei nº 284/06, conhecido como Lei de Planejamento
Familiar, que propõe regular a Educação Sexual no ensino fundamental e médio,
visando melhor qualidade de vida, cidadania e educação, com foco no planejamento
familiar.
Nunes e Silva (2000) destacam que a escola, como parte da sociedade, tem o papel de
formar indivíduos completos, capazes de se integrar plenamente na condição humana e
no mundo do trabalho, da cultura e das experiências sexuais realizadoras. Isso implica
reconhecer a importância da escola como espaço institucional e os limites e condições
para abordar a sexualidade como tema curricular.
Nunes, C., & Silva, M. (2000). Educação sexual na escola: um olhar sobre a prática
pedagógica. Revista Brasileira de Educação, 13(37), 11-20.

A educação desempenha um papel crucial na construção de uma sociedade mais


inclusiva e justa, especialmente ao lidar com questões de violência baseadas em gênero
e orientação sexual. A escola desempenha um papel importante na formação da
identidade de gênero, e, portanto, a diversidade de gênero e orientação sexual deve ser
um tema central nos currículos escolares e na formação de professores. É importante
reconhecer que muitas escolas e instituições de ensino enfrentam dificuldades ao lidar
com a diversidade, muitas vezes reproduzindo preconceitos e silenciando vozes. É
comum os professores se sentirem incapazes de abordar a homofobia em sala de aula.
Portanto, é crucial destacar a importância de enfrentar essas situações, e este relato se
concentra na experiência de um estudante de licenciatura em lidar com a homofobia na
escola (LOPES, 2010).
LOPES, R. O papel da educação na construção de uma sociedade mais humana, justa e
democrática: o combate à homofobia na escola básica. In: Congresso Brasileiro de
Educação, 2010, São Paulo. Anais do Congresso Brasileiro de Educação, São Paulo,
2010.

O conceito de gênero refere-se à identificação e diferenciação entre homens e mulheres


com base em características consideradas masculinas e femininas. Essas questões se
baseiam nos significados atribuídos ao que é ser mulher e ao que é ser homem, ou seja,
como as diferenças sexuais são compreendidas socialmente em um contexto histórico e
cultural específico.
Braga afirma que (2009), o aprendizado sobre gênero começa antes mesmo do
nascimento, pois assim que se sabe o sexo da criança, tudo passa a ser organizado de
acordo com esse fator: cor das roupas, decoração do quarto, brinquedos, nomes, além de
amplas expectativas sociais diferenciadas para meninas e meninos.
BRAGA, Eliane Rose Maio; SANTOS, Ednéia Francisco dos. A questão de gênero nas
Brincadeiras infantis: Um estudo de caso. Revista Latino- Americana de Geografia e
Gênero, Ponta Grossa, V.4, n.1, p.113; jan/jul. 2013. Disponível em:
www.revistas2.uepg.br/index.php/rlagg/article/download/3569/pdf_42.

A sexualidade infantil confronta o adulto com sua própria infância perdida, colocando-o
diante de um dilema: aceitá-la, o que possibilita acompanhar as crianças em seu
desenvolvimento subjetivo, ou rejeitá-la, para evitar lidar com suas próprias frustrações,
conflitos e desejos infantis. Valorizar a concepção freudiana sobre a sexualidade infantil
é reconhecer sua importância singular e estruturante: singular porque está ligada à
formação da subjetividade a partir da representação psíquica da relação corporal com o
outro; e estruturante porque revela as influências das relações interpessoais que servem
como referências para uma posterior elaboração narrativa (ZORNIG, 2008).
ZORNIG, Silvia Maria Abu-Jamra. Reflexões sobre teorias sexuais infantis na
atualidade. Psicologia em Estudo, v. 13, n. 1, p. 74, 2008. ISSN 1413-7372.

A educação sexual, tradicionalmente vista como responsabilidade dos pais, passou a ser
atribuída à escola nos dias de hoje. Com a crescente distância entre pais e filhos, a
família deixou de desempenhar seu papel de formação, transferindo essa
responsabilidade para a escola. Nos dias de hoje a escola é considerada um espaço para
a prevenção da medicina higiênica, sendo encarregada de cuidar da sexualidade de
crianças e adolescentes para promover comportamentos considerados normais (VIDAL,
1998).

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a escola deve abordar o


tema da sexualidade de forma ampla e inclusiva, contemplando as diferenças,
estereótipos, tabus, preconceitos, conceitos e crenças presentes na sociedade. É
importante que esses temas sejam discutidos de forma objetiva e respeitosa, mantendo
um distanciamento das opiniões pessoais e aspectos individuais do professor.
os PCNs destacam a importância de se promover uma educação sexual que seja
baseada em informações científicas atualizadas, respeitando a diversidade de
experiências e visões de mundo dos estudantes. O objetivo fundamental é desenvolver
uma consciência crítica e reflexiva sobre a sexualidade, contribuindo para o
desenvolvimento integral dos alunos.
Em resumo, os estudos acadêmicos têm se concentrado nos preconceitos sexuais sob
uma ótica social e cultural, com pouca integração com a perspectiva psicogenética de
sua formação. A complexidade da sexualidade na infância, que inclui temas como a
origem dos bebês, diferenças anatômicas e de gênero, requer uma análise que não seja
dicotômica, considerando tanto sua dimensão biológica (físico-anatômica) quanto a
sociocultural (Delval, 2007).
DELVAL, J. Aspectos de la construcción del conocimiento sobre la sociedad. Educar,
Curitiba n. 30, 2007,

Piaget (2005) ressaltou que a construção do conhecimento sobre sexualidade é


fortemente influenciada pelas características do ambiente sociocultural no qual a criança
está inserida. Isso faz com que o desenvolvimento desse conhecimento ocorra em um
ritmo diferente daquele dos objetos lógico-matemáticos (Piaget, 2005). Dessa forma, as
tendências do conhecimento sexual construído na infância são moldadas pela
experiência subjetiva em contextos culturais, que podem tanto promover quanto limitar
o conhecimento sexual e os preconceitos. Essas tendências são também influenciadas
pelos modos básicos de organização cognitiva do desenvolvimento.

De acordo com Kohlberg (1966) e Jagstaidt (1987), os resultados indicam algumas


tendências na construção do conhecimento sexual que refletem processos típicos do
desenvolvimento infantil. Por exemplo, no grupo etário de 4 a 6 anos, a ideia de
conservação da invariante “órgão sexual”, como critério de classificação dos grupos
homem x mulher ainda não está completamente estabelecida. As diferenças sexuais
tornam-se mais claras para crianças mais velhas ao perceberem que essas diferenças não
mudam com base em atividades ou na utilização de objetos estereotipados.

Esses aspectos ressaltam a importância da dimensão sociocultural na construção do


conhecimento sobre sexualidade e gênero. No entanto, essa dimensão tem sido pouco
abordada em algumas pesquisas, que tendem a focar mais na construção psicogenética
do conhecimento infantil, retratando a criança como um sujeito “epistêmico” universal,
apolítico e abstrato. Essa abordagem acaba por isolar o desenvolvimento cognitivo
proposto por Piaget, desconsiderando a influência cultural. Essa interpretação
equivocada da obra piagetiana contribui para a visão errônea de que ela é uma teoria
universalista e maturacionista, deixando os educadores e o contexto social em um papel
passivo na espera de uma construção espontânea do conhecimento. Conforme salientado
por Piaget (2005), o tabu histórico em torno da sexualidade destaca a importância dos
elementos sociais para promover uma interação que possa tanto estimular a curiosidade
infantil e a construção lúdica de hipóteses sobre o tema quanto reforçar a cristalização, a
rigidez e a repetição dos nós hegemônicos e dos preconceitos relacionados ao sexismo,
à violência de gênero e à heteronormatividade.
PIAGET, Jean. A representação do mundo na criança. São Paulo, Ideias&Letras, 2005
[1926]
Kohlberg, L. (1966). A cognitive-developmental analysis of children’s sex-role concepts
and attitudes. In: Maccoby, E. (Ed.), The development of sex differences. Stanford, CA:
Stanford University Press.
JAGSTAIDT, V. A sexualidade e a criança. São Paulo, Ed. Manole Ltda, 1987.

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