Técnica de Hulse Modificada para Estabilização Intra-Articular Do Joelho de Cães: 15 Casos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

https://doi.org/10.31533/pubvet.v16n05a1121.

1-6

Técnica de Hulse modificada para estabilização intra-articular do


joelho de cães: 15 casos
Renato do Nascimento Libardoni1* , Natália Fantinel de Mattos2 , Roberta do Nascimento
3 3
Libardoni , Andressa Spengler , Emanuel Tres Bernicker4 , Amanda Suder4 ,
Roberta Anelise Angnes da Costa4 , Lucas Krusch Bello5 , Laura Beatriz Rodrigues9
1
Docente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF). Passo Fundo–RS Brasil.
2
Médica Veterinária Especializada em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais pelo Programa de Residência Integrada em Medicina
Veterinária da UPF, Hospital Veterinário. Passo Fundo–RS Brasil.
3
Médica Veterinária Residente do Programa de Residência Integrada em Medicina Veterinária da UPF, Hospital Veterinário. Passo Fundo–RS Brasil.
4
Acadêmico(a) de Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo–RS Brasil.
5
Médico Veterinário, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria–RS.
6
Docente do Curso de Medicina Veterinária e do Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação da UPF. Passo Fundo–RS Brasil.
*Autor para correspondência, E-mail: [email protected]

Resumo. A doença do ligamento cruzado cranial associada ou não a outras afeções é uma
das causas mais comuns de claudicação e dor no joelho de cães. Nesse estudo, foi realizado
uma análise retrospectiva de 15 casos atendidos na rotina do Hospital Veterinário da
Universidade de Passo Fundo que foram encaminhados para a realização de procedimento
cirúrgico como tratamento e correção da afecção no período de janeiro de 2015 a agosto de
2018. Os animais foram submetidos a técnica de Hulse modificada, a qual utiliza um retalho
de fáscia lata para a reconstrução do ligamento cruzado cranial. Conclui-se que com a
técnica de Hulse modificada foi possível intervir cirurgicamente cães de pequeno e grande
porte, apresentando bom retorno funcional dos membros.
Palavras-chave: Articulação, fáscia lata, doença do ligamento cruzado cranial, cão

Hulse technique modified for intra-articular stabilization of the knee


of dogs: 15 cases
Abstract. Cranial cruciate ligament disease associated or not with other affections is one
of the most common causes of lameness and knee pain in dogs. In that study, a retrospective
analysis of 15 cases attended at the Veterinary Hospital (HV) of the University of Passo
Fundo (UPF) was carried out, which were sent to perform a surgical procedure as treatment
and correction of the condition in the period from January 2015 to August 2018. The
animals were submitted to a modified Hulse technique, which uses a fascia lata flap for
reconstruction of the cranial cruciate ligament. It was concluded that with the modified
Hulse technique it was possible to surgically intervene dogs of small and large size,
presenting good functional return of the limbs.
Keywords: Joint, fascia lata, cranial cruciate ligament disease, dog

Técnica de Hulse modificada para la estabilización intraarticular de


la rodilla canina: 15 casos
Resumen. La enfermedad del ligamento cruzado craneal asociada o no con otras afecciones
es una de las causas más comunes de cojera y dolor de articular en los perros. En este estudio
se analiza retrospectivamente 15 casos tratados de forma rutinaria en el Hospital Veterinario

PUBVET v.16, n.05, a1121, p.1-6, Mai., 2022


Libardoni et al. 2

(HV) de la Universidad de Passo Fundo (UPF) que fueron referidos a ser sometidos a un
procedimiento quirúrgico como tratamiento y corrección de la patología en el período de
enero de 2015 a agosto de 2018. Los animales se sometieron a la técnica de Hulse modificada,
que utiliza un colgajo de fascia lata para reconstruir el ligamento cruzado craneal. Se concluye
que con la técnica de Hulse modificada fue posible intervenir quirúrgicamente en perros
pequeños y grandes, con buen retorno funcional de las extremidades.
Palabras clave: Articulación, fascia lata, enfermedad del ligamento cruzado craneal, perro

Introdução
A doença do ligamento cruzado cranial (LCCr) é a alteração ortopédica de maior incidência no joelho
dos cães, afetando qualquer porte, mas com predisposição para raças de porte médio ou grande
(Kowaleski et al., 2012; Tonks et al., 2011). Acomete cães adultos e, devido ao processo degenerativo
progressivo, o risco de lesão do LCCr aumenta com o avançar da idade. Algumas características
anatômicas, como a angulação do platô tibial, podem resultar em estresse articular excessivo e
ocorrência de micro injúrias no LCCr (Duerr et al., 2007; Guerrero et al., 2007; Witte, 2015).
Considerando que os ligamentos cruzados atuam na estabilidade do joelho, principalmente na amplitude
e movimentação articular (Arnoczky, 1993; Arnoczky et al., 1982), a ruptura relaciona-se à claudicação
do membro pélvico em diferentes graus devido a dor causada (Chierichetti, 2001; Muzzi et al., 2003).
O diagnóstico envolve avaliação da locomoção, exame ortopédico e imagem radiográfica do joelho
(Fossum, 2014; Kowaleski et al., 2012; Muzzi et al., 2003). Em geral, o tratamento conservador não
oferece bons resultados, sendo indicado tratamento cirúrgico (Chierichetti, 2001; Kowaleski et al.,
2012), mediante técnicas intracapsulares, extracapsulares e osteotomias tibiais (Fossum, 2014; Tonks et
al., 2011). Uma das primeiras técnicas desenvolvidas constitui o uso de fáscia lata como substituta do
ligamento rompido. Atualmente, segue-se modificando e utilizando esse método que tem apresentado
bom resultado para rupturas totais e parciais, independentemente da idade do animal (DeCamp, 2015;
Iamaguti et al., 1998). Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi analisar 15 casos em que foram
utilizados retalho de fáscia lata, pela técnica de Hulse modificada, para estabilização de joelho de cães
com ruptura do ligamento cruzado cranial.

Material e métodos
Foram revisados os registros dos procedimentos cirúrgicos ortopédicos realizados no Hospital
Veterinário da Universidade de Passo Fundo, entre janeiro de 2015 e janeiro de 2018. Foram incluídos
neste estudo cães que apresentavam ruptura do ligamento cruzado cranial e submetidos a tratamento
cirúrgico mediante a técnica de Hulse modificada. Informações da espécie, raça, idade, gênero e peso
foram registradas, distribuindo os animais em quatro grupos etários: filhotes (menor que um ano de
idade), adulto jovem (entre um e três anos), adulto maduro (entre três e 10 anos) e idoso (maior que 10
anos), segundo metodologia empregada em outro estudo de casos (Shearer, 2011; Shearer, 2011).
Quanto ao porte, os animais foram divididos por peso, sendo os cães em: animais com menos de 6kg,
entre 6 e 15 kg, entre 15 e 25 kg e com mais de 25 kg (Libardoni et al., 2016).
O diagnóstico foi obtido mediante histórico, exame clínico e exame ortopédico específico através da
realização dos testes de gaveta e compressão tibial. Foram realizados exames radiográficos convencional
dos joelhos e em estresse. Para a escolha do tratamento cirúrgico, se levou em consideração, os cães de
maior porte e cães em que haviam sido operados previamente mediante a técnica de sutura fabelotibial
com fio. Com isso, neste estudo foram avaliados os cães submetidos a intervenção cirúrgica pela técnica
de Hulse modificada. O ângulo do platô tibial e a presença de doença articular degenerativa não foram
fatores considerados na seleção dos cães para a utilização desta técnica.
Os cães foram submetidos a anestesia geral e, após tricotomia prévia, antissepsia do membro acometido
e preparo do campo operatório. Foi realizado incisão de pele e subcutâneo na face lateral da coxa, seguindo
do trocânter maior até a tuberosidade tibial. Em seguida foi preparado um retalho de fáscia lata
unipediculado cranial ao músculo bíceps femoral desde sua inserção na região do trocânter maior até a
tuberosidade tibial, próximo ao ligamento patelar (Figura 1A). A artrotomia parapatelar lateral foi
realizada em todos os casos para a remoção do LCCr remanescente e meniscectomia parcial na presença

PUBVET DOI: 10.31533/pubvet.v16n05a1121.1-6


Técnica de Hulse modificada para estabilização intra-articular do joelho de cães 3

de lesão do menisco medial (Figura 1B). Foi efetuado a lavagem articular com solução de ringer com
lactato após inspeção articular. Com uma agulha curva confeccionada usando um pino de Steinmann, o
retalho de fáscia lata foi introduzido por baixo da gordura infrapatelar e, após, intra-articular entre os
côndilos femorais, emergindo caudalmente e lateral ao côndilo femoral lateral (Figura 1C), juntamente a
fabela lateral. O enxerto foi tracionado sobre o côndilo femoral lateral e antes de sua fixação, a artrorrafia
foi realizada com fio absorvível monofilamentar polidioxanona em sutura padrão Colchoeiro Cruzado. O
retalho foi passado ao redor da inserção distal do tendão patelar e suturado em si mesmo com o mesmo fio
em padrão de sutura interrompida simples (Figura 1D). O defeito na fáscia foi ocluído mediante sutura
contínua com fio absorvível. A oclusão restante foi feita através de técnica de rotina habitual.

Figura 1. Técnica de Hulse Modificada para correção de ruptura do ligamento


cruzado cranial em canino. (A) Preparo do retalho unipediculado de
fáscia lata (seta branca). (B) Inspeção articular para visualização dos
meniscos (seta branca) e fragmentos do ligamento cruzado cranial (seta
preta). (C) Passagem do retalho de fáscia lata por baixo da gordura
infrapatelar e direcionado intra-articular (seta branca) para sair atrás do
côndilo femoral lateral (seta preta) juntamente a fabela lateral. (D)
Passagem do retalho ao redor da inserção distal do tendão patelar para
fixação com sutura interrompida simples.

Os animais foram mantidos internados no pós-operatório imediato recebendo medicações


analgésicas, antibióticos, anti-inflamatórios e cuidados de enfermagem. A avaliação pós-operatória foi
realizada entre sete e 10 dias após a cirurgia, os pontos foram removidos e os pacientes foram analisados
quanto a deambulação, apoio do membro, capacidade de extensão e flexão do joelho e dor mediante
palpação. Os cães foram avaliados no pós-cirúrgico, dando-se ênfase no retorno a função do membro
mediante observação de ausência de claudicação. Os dados obtidos foram submetidos a análise de
distribuição de frequências relativas e absolutas e estatística descritiva.

Resultados e discussão
No total, 15 cães (Tabela 1) com doença do LCCr foram submetidos ao tratamento cirúrgico pela
técnica de Hulse modificada, totalizando 16 articulações. Destes cães, 20% (n = 3) não apresentavam
raça definida e 80% (n = 12) apresentavam raça definida. Dos animais com raça definida, dois (13,3%)
cães eram American Pit Bull Terrier, dois (13,3%) Chow Chow, dois (13,3%) Buldogues Ingleses, um
(6,7%) Pastor Alemão, um (6,7%) American Staffordshire Terrier, um (6,7%) Boxer, um (6,7%) Poodle,
um (6,7%) Pinscher e um (6,7%) Buldogue Campeiro. Ao considerar a faixa etária dos cães, observou-

PUBVET v.16, n.05, a1121, p.1-6, Mai., 2022


Libardoni et al. 4

se que um (6,7%) era filhote, oito (53,3%) adultos jovens e cinco (33,3%) adultos maduros e um (6,7%)
idoso. Em relação ao porte dos animais, um (6,7%) cão apresentava peso menor que 6kg, dois (13,3%)
entre 6-15 kg, cinco (33,3%) entre 15-25 kg e sete (46,6%) maior que 25 kg.
O termo doença do LCCr é usado para abranger uma variedade de distúrbios que afetam essa estrutura,
considerada uma das principais causas de claudicação no membro pélvico no cão. Esses distúrbios incluem
avulsão traumática da inserção femoral ou tibial, ruptura traumática aguda secundária a tensão excessiva e
degeneração articular progressiva de causa desconhecida, resultando em ruptura parcial ou completa
(Kowaleski, 2017), caracterizada por presença de osteófitos e erosões (Decamp et al., 2016). Após
artrotomia, a ruptura total do LCCr foi observada em todas as articulações dos cães deste estudo.

Tabela 1. Relação dos cães portadores de doença do LCCr submetidos a intervenção cirúrgica pela técnica de Hulse
modificada, quanto à raça, gênero, idade, peso, membro acometido, diagnóstico transoperatório e intervalo de tempo
entre a intervenção cirúrgica e o retorno ao apoio do membro.
Diagnóstico
Paciente Raça Gênero Idade Peso (kg) Membro afetado IT IC/RA
transoperatório
1 Pastor Alemão F 4a 8m 28,5 D T/Mm/A 30
2 SRD F 8a 12 D T 60
3 Chow Chow F 3a 18 D T 60
4 Esquerdo Pit Bull F 2a 35 E T/Mm/A 45
4 Direito 2a 3m 35 D T/A 45
5 Boxer M 6a 9m 30 E T NC
6 Buldogue Inglês M 2a 28 E T/Mm 30
7 Pit Bull M 2a 28 E T 60
8 SRD M 1a 6m 15 D T 60
9 AST F 3a 10m 25 D T/Mm 30
10 Pinscher M 2a 3 D T 60
11 Poodle M 13a 8m 8 E T/A 45
12 Buldogue Campeiro F 7m 23 E T NC
13 Buldogue Inglês M 1a 7m 29 D T 45
14 SRD M 7a 4m 29 E T/A 30
15 Chow Chow F 5a 8m 23 D T/A 60
IT IC/RA: Intervalo de tempo entre a intervenção cirúrgica e retorno ao apoio funcional do membro. T: Ruptura total do LCCr; T/Mm: Ruptura total do
LCCr com lesão do menisco medial; T/Mm/A: Ruptura total do LCCr com lesão do menisco medial e artrose; T/A: Ruptura total do LCCr e artrose; SRD:
Sem raça definida; AST: American Staffordshire Terrier.

Outras afecções como luxação de patela, alterações em menisco, obesidade, conformação anormal
da tíbia, ruptura de ligamentos colaterais e ruptura de ligamento cruzado caudal (Kirby, 1993; Kowaleski
et al., 2012) podem ser secundárias ou estar associadas a predisposição da ruptura (Iamaguti et al., 1998).
Os autores observaram que, em seis (37,5%) joelhos havia artrose devido a presença de osteófitos e em
quatro (25%) joelhos havia ruptura parcial do tipo “alça de balde” do menisco medial, necessitando a
realização de meniscectomia parcial.
Dentre os casos atendidos na rotina do HV-UPF, que foram encaminhados para cirurgia com técnica
de Hulse modificada, os animais eram, em sua maioria, adultos. Acredita-se, também, que a resistência
do ligamento no cão reduz conforme seu envelhecimento, isso ocorre pelo gradativo desaparecimento
da organização dos feixes de fibras e por alterações de elementos celulares (Kirby, 1993; Kowaleski et
al., 2012). Em apenas um caso o animal não era adulto, um filhote de porte grande com sete meses de
idade, que apresentou claudicação inicial com diagnóstico de ruptura de ligamento cruzado cranial por
trauma. Esse tipo de ruptura traumática, aguda, ocorre frequentemente em cães jovens, com faixa etária
menor que quatro anos de idade (Kirby, 1993; Kowaleski et al., 2012) podendo no caso de cães de porte
grande estar relacionado a anormalidades de conformação anatômica resultando em alteração do platô
tibial, ruptura ligamentar do joelho e claudicação (Jerram & Walker, 2003).
A doença do LCCr ocorre com mais frequência em cães de porte médio a grande (Lampman et al.,
2003). Em nosso estudo foi observado que 80,0% (n = 12) dos animais afetados, nos quais 10 animais
pesavam mais de 20 quilos sendo de diferentes raças incluindo alguns sem raça definida. Contudo, esse
resultado já era esperado pelos autores em função dos critérios de seleção, onde o porte grande dos
animais foi o principal critério de escolha para a utilização da técnica de Hulse modificada.

PUBVET DOI: 10.31533/pubvet.v16n05a1121.1-6


Técnica de Hulse modificada para estabilização intra-articular do joelho de cães 5

As técnicas intracapsulares restauram a estabilidade articular através da substituição do LCCr


rompido por materiais biológicos, sintéticos ou ambos, resultando na movimentação articular
semelhante a fisiológica (DeCamp, 2015; Kirby, 1993; Kowaleski et al., 2012), principalmente em cães
com peso maior que 15 kg e lesão considerada aguda, sendo preferível técnicas extracapsulares para
cães menores (DeCamp, 2015). Três cães de pequeno porte foram submetidos a intervenção com a
técnica de Hulse modificada neste estudo, pois os mesmos já haviam sido submetidos previamente a
estabilização articular mediante uso da técnica de sutura fabelotibial, onde houve falha do fio utilizado.
De acordo com Decamp (2015) e Kowaleski et al. (2012), a fáscia lata autógena é a mais usada
mediante as técnicas intracapsulares de Paatsama, Over-the-Top, Under-and-Over e Hulse modificada.
De acordo com os autores deste trabalho, a técnica de Hulse modificada foi tecnicamente mais simples
de ser realizada, pois não necessitou a realização de orifícios ósseos no fêmur distal ou na tíbia proximal.
Além disso, permitiu a passagem da fáscia lata em pontos específicos e próximos aos de origem do
LCCr. Acredita-se ainda, que a passagem da fáscia lata através dos orifícios com bordas ásperas, tornaria
a mesma passível de ser fragilizada e predisposta a ruptura. Todavia, acredita-se que o enxerto de fáscia
lata apresenta algumas características especiais, como o diâmetro e a espessura maior que do ligamento
original, além de ter bastante quantidade de tecido conjuntivo e colágeno, capazes de se organizar em
feixes de fibras mantendo a articulação (Schwandt et al., 2006; Silva et al., 2000).
Quanto a técnica cirúrgica utilizada nos casos desse trabalho, observou-se que a mesma pode ser
realizada em animais de diferentes raças, de pequeno, médio e grande porte com pesos variando de três
a 35 quilos, sendo jovens e adultos. Ainda, não se demonstrou relação de idade e tempo de recuperação
pós-operatória. Alguns animais voltaram a apoiar o membro normalmente, recuperando a função em 30
dias, outros entre 45 e 60 dias. Dois dos pacientes não retornaram para nenhuma consulta pós-operatória
e não foi possível avaliar apoio do membro.
De todos os animais presentes no estudo, apenas dois apresentaram ruptura bilateral do ligamento
cruzado cranial, acredita-se que parte dos animais possa apresentar o membro contralateral afetado em
curto espaço de tempo devido à sobrecarga de peso (Decamp et al., 2015), no presente trabalho esses
dois pacientes pesavam entre 25 e 35 quilos e em um foi realizado técnica de Hulse em apenas um dos
joelhos, no outro foi realizado bilateral.
Segundo Kowaleski et al. (2012), as fêmeas apresentam predisposição a ruptura do ligamento
cruzado cranial comparando-se a machos, porém nesse trabalho observou-se que menos da metade dos
animais afetados foram fêmeas, totalizando 46,6% dos casos. Sendo assim, a predisposição sexual a essa
afecção pode apresentar controvérsias, considerando que tanto machos quanto fêmeas são expostos aos
mesmos fatores capazes de causar essa moléstia (Iamaguti et al., 1998).
Atualmente, sabe-se que a osteotomia de nivelamento do platô tibial (TPLO) é uma das técnicas mais
utilizadas para ruptura de ligamento cruzado principalmente em cães de grande porte (Kowaleski et al.,
2012; Wilke et al., 2005). Todavia, é uma técnica que necessita de equipamentos e implantes específicos
para a sua execução, tornando a mesma mais onerosa financeiramente para alguns tutores. Com isso, a
técnica de Hulse modificada, ainda é uma boa alternativa cirúrgica de baixo custo, pois necessita
somente da qualificação da equipe e material cirúrgico básico.

Conclusão
A estabilização intra-articular mediante a técnica de Hulse modificada é exequível em cães de
pequeno e grande que apresentam doença do ligamento cruzado cranial, possibilitando boa evolução
pós-operatória e retorno funcional do membro.

Referências bibliográficas
Arnoczky, S. P. (1993). Pathomechanics of cruciate ligament and meniscal injuries. In M. J. Bojrab
(Ed.), Disease mechanisms in small animal surgery (pp. 764–776). Lea & Febiger.
Arnoczky, S. P., Tarvin, G. B., & Marshall, J. L. (1982). Anterior cruciate ligament replacement using
patellar tendon. An evaluation of graft revascularization in the dog. The Journal of Bone and Joint
Surgery. American Volume, 64(2), 217–224.

PUBVET v.16, n.05, a1121, p.1-6, Mai., 2022


Libardoni et al. 6

Chierichetti, A. L. (2001). Ruptura de ligamento cruzado cranial: Estudo comparativo da técnica extra-articular com
enxerto autógeno de fáscia lata com e sem artrotomia exploratória em cães. Clínica Veterinária, 6(33), 34–42.
DeCamp, C. E. (2015). Brinker, Piermattei and Flo’s handbook of small animal orthopedics and
fracture repair. Elsevier Health Sciences.
Duerr, F. M., Duncan, C. G., Savicky, R. S., Park, R. D., Egger, E. L., & Palmer, R. H. (2007). Risk factors for
excessive tibial plateau angle in large-breed dogs with cranial cruciate ligament disease. Journal of the
American Veterinary Medical Association, 231(11), 1688–1691. https://doi.org/10.2460/javma.231.11.1688.
Fossum, T. W. (2014). Cirurgia de pequenos animais (4th ed., Vol. 1). Elsevier Brasil.
Guerrero, T. G., Geyer, H., Hässig, M., & Montavon, P. M. (2007). Effect of conformation of the distal portion of
the femur and proximal portion of the tibia on the pathogenesis of cranial cruciate ligament disease in dogs.
American Journal of Veterinary Research, 68(12), 1332–1337. https://doi.org/10.2460/ajvr.68.12.1332.
Iamaguti, P., Teixeira, R. B., & Padovani, C. F. (1998). Ruptura do ligamento cruzado em cães: Estudo retrospectivo da
reconstituição com fáscia lata. Ciência Rural, 28(4), 609–615. https://doi.org/10.1590/S0103-84781998000400012.
Jerram, R. M., & Walker, A. M. (2003). Cranial cruciate ligament injury in the dog: pathophysiology, diagnosis and
treatment. New Zealand Veterinary Journal, 51(4), 149–158. https://doi.org/10.1080/00480169.2003.36357.
Kirby, B. M. (1993). Decision-making in cranial cruciate ligament ruptures. Veterinary Clinics of North
America: Small Animal Practice, 23(4), 797–819. https://doi.org/10.1016/s0195-5616(93)50083-9.
Kowaleski, M. P., Boudrieau, R. J., & Pozzi, A. (2012). Stifle joint. Veterinary Surgery: Small Animal, 1, 906–998.
Lampman, T. J., Lund, E. M., & Lipowitz, A. J. (2003). Cranial cruciate disease: current status of
diagnosis, surgery, and risk for disease. Veterinary and Comparative Orthopaedics and
Traumatology, 16(3), 122–126. https://doi.org/10.1055/s-0038-1632767.
Libardoni, R. N., Serafini, G. M. C., Oliveira, C., Schimites, P. I., Chaves, R. O., Feranti, J. P. S., Costa, C. A. S.,
Amaral, A. S., Raiser, A. G., & Soares, A. V. (2016). Appendicular fractures of traumatic etiology in dogs:
955 cases (2004-2013). Ciência Rural, 46(3), 542–546. https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20150219.
Muzzi, L. A. P., Rezende, C. M. F., Muzzi, R. A. L., & Borges, N. F. (2003). Ruptura do Ligamento
cruzado cranial em cães: fisiopatologia e diagnóstico. Clínica Veterinária, 46(1), 32–42.
Schwandt, C. S., Bohorquez-Vanelli, A., Tepic, S., Hassig, M., Dennler, R., Vezzoni, A., & Montavon, P. M. (2006).
Angle between the patellar ligament and tibial plateau in dogs with partial rupture of the cranial cruciate ligament.
American Journal of Veterinary Research, 67(11), 1855–1860. https://doi.org/10.2460/ajvr.67.11.1855.
Shearer, P. (2011). Epidemiology of orthopedic disease. Veterinary Focus, 21(2), 24–25.
Shearer, T. (2011). Veterinary clinics of North America, small animal practice. In The role of the
veterinarian in hospice and palliative care (pp. 11–13). Shearer, T.
Silva, A. M., Carlo, R. J., Fonseca, C. C., Galvão, S. R., & Maia Filho, A. (2000). Aspectos macro e microscópicos
da fáscia lata utilizada como substituto autógeno do ligamento cruzado cranial: estudo experimental em cães.
Ciência Rural, 30(2), 275–280. https://doi.org/10.1590/S0103-84782000000200013.
Tonks, C. A., Lewis, D. D., & Pozzi, A. (2011). A review of extra-articular prosthetic stabilization of
the cranial cruciate ligament-deficient stifle. Veterinary and Comparative Orthopaedics and
Traumatology, 24(03), 167–177. https://doi.org/10.3415/VCOT-10-06-0084.
Wilke, V. L., Robinson, D. A., Evans, R. B., Rothschild, M. F., & Conzemius, M. G. (2005). Estimate of the annual
economic impact of treatment of cranial cruciate ligament injury in dogs in the United States. Journal of the
American Veterinary Medical Association, 227(10), 1604–1607. https://doi.org/10.2460/javma.2005.227.1604.
Witte, P. G. (2015). Tibial anatomy in normal small breed dogs including anisometry of various
extracapsular stabilizing suture attachment sites. Veterinary and Comparative Orthopaedics and
Traumatology, 28(05), 331–338. https://doi.org/10.3415/VCOT-14-12-0186.
Histórico do artigo:
Recebido: 2 de fevereiro de 2022 Licenciamento: Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons
Aprovado: 4 de março de 2022 Atribuição 4.0 (CC-BY 4.0), a qual permite uso irrestrito, distribuição, reprodução em qualquer meio,
Disponível online: 19 de maio de 2022 desde que o autor e a fonte sejam devidamente creditados.

PUBVET DOI: 10.31533/pubvet.v16n05a1121.1-6

Você também pode gostar