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TécnicaSanta
de interligação
Maria, v.37,extracapsular
n.3, p.769-776,
fêmoro-fabelo-tibial
mai-jun, 2007 na ruptura do ligamento cruzado cranial em cães... 769
ISSN 0103-8478
Extracapsular femoro-fabelo-tibial inter-connection technique used in dogs with cranial cruciate ligament
rupture – clinical and radiographic findings
Durval Baraúna JúniorI Cláudio RoehsigII Leandro Branco RochaII Ricardo ChiorattoIII
Eduardo Alberto TuduryIV
RESUMO 6.7kg) and the interval between the suspect of lesion observed
by the owners and the surgical procedures ranged between
O objetivo deste trabalho foi avaliar os resultados three and 365 days (mean 123 days). None of the operated
da técnica de interligação extracapsular fêmoro-fabelo-tibial, knee were observed intra-operative complication. After 30 days
como forma de tratamento da ruptura do ligamento cruzado of postoperative the two groups showed statistically significant
cranial (RLCC) espontânea em cães, utilizando para isto difference (P=0.05) in the evaluated parameters, except of the
avaliações clínicas e radiográficas. Neste estudo, foram pain and willingness to hold up the contralateral limb on the
operados 13 cães, divididos em dois grupos: ruptura unilateral group of the dogs with bilateral rupture. At the radiographic
(RU) e ruptura bilateral (RB). O peso variou entre 2,3 e 53kg exam on the 0 and 180 days, the evolution of degenerative
(mediana 6,7kg) e o intervalo entre a suspeita da lesão changes was seen in 84.6% of cases. The extracapsular femur-
observada pelos proprietários e os procedimentos cirúrgicos fabelo-tibial interconnection technique is efficient in the
variaram entre três e 365 dias (média de 123 dias). Em nenhum immediate stabilization of joint with CCLR, offering functional
dos 13 joelhos operados foram observadas complicações recovery for reduce the cranial displacement and internal
transoperatórias. Após 30 dias de pós-operatório, os dois grupos rotation of the tibia, however it doesn’t stop the osteoarthritis
apresentaram diferença estatisticamente significante (P=0,05) progression.
nos parâmetros funcionais avaliados, com exceção da dor e
disposição para levantar o membro contralateral no grupo de Key words: surgery, orthopedics, stifle joint, dog.
cães com ruptura bilateral. Ao exame radiográfico nos dias
zero e 180, a evolução das alterações degenerativas foi
observada em 84,6% dos casos. A técnica de interligação
extracapsular fêmoro-fabelo-tibial é eficiente na estabilização INTRODUÇÃO
imediata da articulação com RLCC, oferecendo recuperação
funcional ao reduzir o deslocamento cranial e a rotação interna Em 1926, Carlin relatava pela primeira vez a
da tíbia, porém não impede a progressão da osteoartrite.
ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC) na
Palavras-chave: cirurgia, ortopedia, joelho, cão. medicina veterinária e, somente no ano de 1952,
Paatsama desenvolveu a primeira técnica de
ABSTRACT reconstituição desse ligamento em cães. Desde então,
This study was aimed at evaluating the results of inúmeros procedimentos cirúrgicos foram e vêm sendo
extracapsular femoro-fabelo-tibial inter-connection technique, pesquisados (ARNOCZY, 1985). Tratamento
for the treatment of spontaneous cranial cruciate ligament conservador ou cirúrgico são as opções, porém a
rupture (CCLR) in dogs, using for this purpose clinical and
controvérsia em relação à escolha da melhor conduta
radiographic evaluation. In this study 13 dogs allocated in two
groups were operated: unilateral rupture (RU) and bilateral persiste (PIERMATTEI & FLO, 1999). Em cães com
rupture (RB). The weight ranged between 2.3 and 53kg (median menos de 25kg, a terapia conservativa pode ser
I
Colegiado de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), 56300-900, Petrolina, PE, Brasil.
E-mail: [email protected]. Autor para correspondência.
II
Programa de Pós-graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, PE, Brasil.
III
Autônomo, Recife, PE, Brasil.
IV
Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE, Recife, PE, Brasil.
Ciência Rural, v.37, n.3, mai-jun, 2007.
Recebido para publicação 28.03.06 Aprovado em 27.09.06
770 Baraúna Júnior et al.
Tabela 1 - Identificação do cão; joelho afetado, lado operado e o tipo de ruptura; claudicação, suporte do peso, dor e disposição para levantar
o membro contralateral (DPLMCL) aos dias 0, 30, 90 e 180 dias de pós-operatório; diâmetro em milímetros do fio de náilon (Ø)
utilizado para estabilização e tempo de evolução (TE). Recife – 2006.
Tipo de Suporte do
Identificação do cão Claudicação Dor DPLMCL (Ø)/TE
ruptura peso
1 – Shar Pei, 2a e 6m, 22 kg, F (RU) (4/ 2/1/1) (4/3/1/1) (3/2/2/1) (2/2/2/1) 1,2/2m
2 – Poodle, 9a, 10 kg, M (RU) (3/1/1/1) (3/1/1/1) (3/1/1/1) (3/3/1/1) 0,7/4m
3 – Poodle, 8a, 6,7 kg, F (RU) (4/3/1/1) (4/5/1/1) (3/2/1/1) (3/3/1/1) 0,7/2m
4 – SRD, 7a,18 kg, F (RU) (4/2/1/1) (5/2/1/1) (2/2/1/1) (4/3/1/1) 1,0/1m
5 – Poodle, 6a, 6,7 kg, F (RU) (4/2/1/1) (3/2/1/1) (2/1/1/1) (3/2/1/1) 0,7/3m
6 – Poodle, 1a e 10m, 5,6 kg, M (RU) (5/1/1/1) (4/1/1/1) (2/1/1/1) (5/1/1/1) 0,7/3d
7 – Yorkshire, 8a, 5,7kg, F (RU) (2/2/1/1) (2/2/1/1) (2/1/1/1) (3/2/1/1) 0,7/1a
8 – Poodle, 8a, 2,7 kg, F (RU) (2/1/1/1) (2/1/1/1) (2/1/1/1) (2/1/1/1) 0,5/3m
9 – Yorkshire, 4a, 2,3 kg, F (RB) (4/3/2/1) (5/4/1/1) (2/1/1/1) (5/4/2/1) 0,5/4d
10 – Poodle, 7a, 4,0 kg, F (RB) (2/1/1/1) (2/1/1/1) (1/1/1/1) (4/1/1/1) 0,5/1m
11 – Pit Bull, 2a e 6m, 27 kg, M (RB) (3/2/1/1) (2/1/1/1) (1/1/1/1) (3/1/1/1) 1,4/3m
12 – Fila, 4a, 53 kg, M (RB) (3/2/1/1) (2/1/1/1) (2/1/1/1) (3/2/1/1) 1,8/1a
13 – Fila, 5a, 43 kg, M (RB) (4/2/1/1) (3/2/1/1) (2/2/1/1) (2/2/1/1) 1,8/1m
a – ano; m – mês; d- dia; M – macho; F – fêmea; RU – ruptura unilateral; RB – ruptura bilateral ; SRD – sem raça definida.
de ligamento cruzado cranial (LCC), remoção de grampo tubulard composto de aço inoxidável 316L, com
osteófitos peri-trocleares, intercondilares e patelares, diâmetro luminar adequado, que ao ser esmagado com
avaliação da presença de alterações degenerativas e a alicate de corte, fixava as extremidades do fio sob tração.
inspeção dos meniscos. Em seguida, houve a sutura A aproximação do tecido subcutâneo foi executada com
da membrana sinovial com categute cromadob 3-0, em sutura contínua simples, com fio de categute cromado
padrão contínuo simples e da cápsula articular com e a síntese da pele com pontos simples isolados com
padrão interrompido simples, utilizando fio de náilon náilon monofilamentar. Em seguida, colocou-se
monofilamentarc. bandagem protetora com atadura de crepom.
A técnica de interligação extracapsular A escolha do diâmetro do fio de poliamidae
fêmoro-fabelo-tibial (Figura 1) constou de duas (náilon de pesca) a ser empregado seguiu as
perfurações ósseas utilizando-se pinos
de Steinmann de diferentes diâmetros,
acoplados a uma furadeira de baixa
rotação; uma na crista tibial (distal e
caudal à inserção do ligamento patelar)
e a outra perfurando os côndilos
femorais (cranial e distal às fabelas), em
sentido transversal do lado medial para
o lateral. Dois fios de náilon de pesca
(autoclavados a 120°C durante 30
minutos) foram passados e amarrados
através do orifício da crista tibial: um
para sutura fabelo-tibial (f1) e o outro
para a interligação fêmoro-tibial (f2).
Uma das pontas do f2 foi passada em
direção ao orifício condilar lateral e a
outra em direção ao orifício condilar
medial (sob as fáscias musculares
profundas e sobre a cápsula articular).
Com ajuda de uma agulha introduzida
do orifício lateral e emergindo no
orifício medial, a ponta de f2 do lado
medial foi introduzida na agulha e
tracionada através do orifício criado nos
côndilos femorais, até aparecer no lado
lateral. As duas pontas do f1 foram
passadas por baixo da fáscia lata na
direção da fabela lateral. Estando as
quatro pontas presentes no lado lateral,
foi realizada primeiramente a sutura
fabelo-tibial (Figuras 1 A e B), conforme
recomendações de SCHAEFER & FLO
(1998). Em seguida, foi realizada a Figura 1 - Desenho esquemático da sutura Fêmoro-Fabelo-Tibial. A – vista
interligação óssea femoro-tibial com um lateral, notar fio de náilon 1 (f1) posicionado ao redor do ligamento
assistente mantendo o joelho em um fabelo-femoral (LFF), passando pelo orifício criado na crista da tíbia
ângulo de 135º, reduzindo todo o (OCT) e com o grampo de aço (G) prendendo suas extremidades. B
– vista cranial do joelho com f1 já preso pelo grampo (G) e com as
deslocamento tibial cranial e pontas do fio de náilon para interligação entre o fêmur e a tíbia (f2)
desfazendo a rotação medial da crista ainda soltas. C – vista lateral, notar o posicionamento do orifício
tibial, o cirurgião realizava a amarra criado nos côndilos femorais (OCF) [cranial e distal à fabela (F)], do
após tração manual às pontas do f2 orifício criado na crista da tíbia (OCT), com o fio já posicionado e
amarrado. D – vista cranial, notar o trajeto do orifício criado nos
(Figuras 1 C e D), com seis seminós. côndilos femorais (OCF) e a amarra com o grampo (G) do f2 próximo
Nos casos de fios de grosso calibre e à fabela lateral (F). E – fixação das extremidades do fio sob tensão,
de difícil maleabilidade, foi utilizado um esmagando o grampo tubular metálico sobre os mesmos.
Tabela 2 - Resultados das avaliações ortopédicas nos joelhos operados e não operados com RLCC. Rotação interna da tíbia (RIT),
Movimento de gaveta cranial em extensão (MGCE) e flexão (MGCF), Teste de compressão tibial (TCT) e Perímetro da coxa
aos dias 0, 30, 90 e 180 dias de pós-operatório. Avaliação radiográfica das alterações articulares degenerativas (AAD) nos dias
0 e 180 após o procedimento cirúrgico. Recife – 2006.
procedimento cirúrgico (MOORE & READ, 1996). Outra significante a partir dos 30 dias de pós-operatório com
provável explicação para esse desaparecimento do evolução até 90 dias, enquanto o segundo apresentou
MGC é que a fisioterapia pós-cirúrgica possa ter diferença estatisticamente significante, somente após
tornado a articulação mais estável, conforme citaram 90 dias de pós-operatório (Tabela 3).
LEVINE et al. (2004). Acredita-se que os bons resultados
As médias da avaliação funcional obtidos, como recuperação funcional de em média três
(claudicação, dor, suporte do peso e disposição para meses e uma taxa de eficiência de 100%, decorreram do
levantar o membro contralateral) foram decrescentes procedimento cirúrgico, principalmente nos animais de
nos dois grupos operados até 180 dias de pós- pequeno porte (menos de 15kg) que não apresentaram
operatório. Os animais dos dois grupos apresentaram evolução satisfatória com terapia conservadora, apesar
recuperação estatisticamente significante (P= 0,05) aos de o tempo médio entre a suspeita da lesão e a
30 dias pós-operatório na claudicação e suporte do intervenção cirúrgica ter sido de 16 semanas,
peso, com evolução estatisticamente significante até diferentemente do esperado por PIERMATTEI & FLO
90 dias. A avaliação da dor no grupo RU exibiu, aos 30 (1999), que relataram a possibilidade de recuperação,
dias de pós-operatório, diferença estatisticamente independente do procedimento cirúrgico. VASSEUR
significante; já no grupo RB, não houve diferença (2003) citou que, em cães de pequeno porte, é prudente
estatística entre os tempos. Relacionado à disposição esperar pelo menos 6 a 8 semanas antes de recomendar
para levantar o membro contralateral, o grupo RU a cirurgia, fato observado neste experimento em virtude
apresentou resultado superior ao grupo RB, em que o do tempo esperado pelos proprietários até levarem seus
primeiro apresentou diferença estatisticamente cães ao atendimento.
Tabela 3 - Média e desvio padrão dos graus de claudicação, suporte de peso pelo membro afetado, presença de dor, disposição para levantar
o membro contralateral e perímetro da coxa dos joelhos operados e não operados aos 0, 30, 90 e 180 de pós-operatório, dos
joelhos com RLCC. Recife – 2006.
Quanto ao perímetro da coxa, todas as normal dessa articulação, embora tenha ocorrido
comparações entre os dois grupos testados e entre os alteração do centro instantâneo de movimento (CIM)
tempos foram feitas através das médias e da posição extra-articular para uma posição intra-
estatisticamente não foram detectadas diferenças articular. Biomecanicamente, a técnica fêmoro-fabelo-
significantes (P>0,05) (Tabela 3). A dor e o desuso do tibial parece apresentar comportamento similar à sutura
membro poderiam causar hipotrofia muscular fabelo-tibial tradicional, em relação à análise do CIM e
(PIERMATTEI & FLO, 1999). BIASI et al. (2002) manutenção do vetor velocidade tangente à superfície
observaram a manutenção do perímetro da coxa, articular. No entanto, nenhuma informação concreta
naqueles animais que tiveram uma melhor função do sobre o procedimento pode ser afirmada, pois ainda
membro após a correção cirúrgica. não foram realizados estudos completos.
Em relação à técnica cirúrgica, não foram As avaliações biomecânicas dos
observadas complicações transoperatórias. A escolha procedimentos de reparo do LCC devem buscar tanto
pela adição de uma sutura fabelo-tibial baseou-se no a estabilização do joelho quanto o grau de
pré-experimento, no qual a RIT não foi eficientemente deslocamento cranial, como também a promoção de
evitada pela técnica de fixação côndilo-tibial, sugerida rigidez articular (ROMANO et al., 2006). Com base na
por SILVA (2004). Segundo ANDERSON et al. (1998), análise destes parâmetros, a técnica descrita mostrou-
as técnicas cirúrgicas devem evitar o deslocamento se eficaz ao inibir ou reduzir o deslocamento cranial da
cranial da tíbia em relação ao fêmur e prevenir excessiva tíbia em relação ao fêmur.
RIT. De acordo com a classificação proposta por
Compressão anormal nas superfícies MOORE & READ (1995), os exames radiográficos para
articulares decorrentes da sutura fabelo-tibial foi acompanhamento da alteração articular degenerativa
apontada como uma desvantagem biomecânica dos dos 13 joelhos avaliados mostraram que: no dia zero,
procedimentos extracapsulares (SMITH, 2000). No quatro (31%) foram classificadas em ausente, seis (46%)
entanto, SELMI et al. (2003) demonstraram a eficiência em discreta, três (23%) em moderada; e, aos 180 dias,
da sutura fabelo-tibial utilizando fios com propriedades cinco (38,5%) em discreta, seis (46%) em moderada e
elásticas, na restituição da estabilidade do joelho após dois (15,5%) em severa (Tabela 2). Esses dados permitem
transecção do LCC, principalmente por manter o afirmar que houve evolução radiográfica das alterações
posicionamento do vetor velocidade tangente à degenerativas em 84,6% dos joelhos operados, mesmo
superfície articular, não alterando assim a biomecânica instituindo um protocolo terapêutico (sulfato de
condroitina e doxiciclina), no intuito de minimizar a ligamento patelar congelado. Ars Veterinária, Jaboticabal,
progressão da doença articular degenerativa, conforme v.18, n.2, p.100-106, 2002.
recomendação de VASSEUR (2003). Os resultados BUDSBERG, S.C. et al. Force plate analyses before and after
obtidos estão de acordo com BIASI et al. (2002) e stabiliation of canine stifles for cruciate injury. American
VASSEUR (2003) que citaram não existir procedimento Journal of Veterinary Research, Chicago, v.49, n.9, p.1522
cirúrgico que evite piora dos achados radiográficos, -1524, 1988.
devido à progressão da osteoartrite.
BUQUERA, L.E.C. et al. Radiografia e macroscopia após
estabilização extra-articular utilizando fáscia lata, fio de poliéster
CONCLUSÃO trançado ou fio de poliamida para correção da ruptura do
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da articulação de cães com RLCC, oferecendo lateral suture, and conservative treatment of cranial cruciate
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processo 11231 -2004, estando de acordo com as normas do LEVINE, D. et al. Common orthopedic conditions and their
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