A Importância Da Equipe Multiprofissional de Crianças Diagnosticadas Com TEA
A Importância Da Equipe Multiprofissional de Crianças Diagnosticadas Com TEA
A Importância Da Equipe Multiprofissional de Crianças Diagnosticadas Com TEA
A importância da equipe
multiprofissional de crianças
diagnosticadas com TEA
10.37885/210705226
RESUMO
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Autismo: avanços e desafios
INTRODUÇÃO
O termo Autismo foi usado pela primeira vez em 1911, por Eugene Bleuler, para ca-
racterizar dificuldades ou incapacidade de comunicação e também a perda de contato com
a realidade. Em 1943, o Dr. Leo Kanner utilizou o termo para caracterizar 11 crianças que
apresentavam comportamentos que as tornava incapazes de se relacionarem de formas
comuns (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004).
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado uma síndrome comportamental
com etiologias múltiplas e tem como consequência um distúrbio de desenvolvimento global
(SILVA; MULICK, 2009). Grandin e Scariano (1999) assim o descrevem:
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Autismo: avanços e desafios
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ser enquadrado em três níveis de gravi-
dade: o nível 1 requer suporte, pois, sem suporte local, o déficit social ocasiona prejuízos,
os rituais e comportamentos repetitivos interferem, significativamente, no funcionamento
em vários contextos. O nível 2 requer suporte grande, graves déficits em comunicação so-
cial verbal e não verbal que aparecem sempre, mesmo tendo suportes em locais limitados,
desconforto e frustrações visíveis quando as rotinas são interrompidas, o que dificulta o
redirecionamento dos interesses restritos. E já o nível 3 requer suporte intenso, graves dé-
ficits em comunicação verbal e não verbal ocasionando graves prejuízos no funcionamento
social, intenso desconforto quando os rituais ou rotinas são interrompidas, com grandes
dificuldades no redirecionamento dos interesses.
O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é realizado por uma equipe
multiprofissional composta por médico neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta
ocupacional e fisioterapeuta. Tal processo é prioridade na avaliação e no acompanhamento
do autista. Segundo Brasil (2015, p.44), “O processo diagnóstico deve ser conduzido por uma
equipe multidisciplinar que possa estar com a pessoa ou a criança em situações distintas:
atendimentos individuais, atendimentos à família, atividades livres e espaços grupais”.
Na avaliação serão feitos: avaliação neuropsicológica, anamnese, avaliação fonoau-
diológica, avaliação da cognição social, exame físico, exame neurológico. Ao final de cada
avaliação, em uma reunião com a equipe multidisciplinar, discutem-se aspectos relevantes
da avaliação, formulando-se um diagnóstico baseado também nos critérios do DSM-5 (APA,
2014). Em seguida, é feito um relatório contendo todas estas informações, com conduta e
orientações, que são explicadas em reunião com a família do indivíduo avaliado. Todos os
pais/responsáveis pelos indivíduos avaliados recebem esse relatório, com todas as infor-
mações das avaliações, diagnóstico final e orientações à família, que são detalhadas no
encontro final (devolutiva).
O presente trabalho busca esclarecer questões referentes ao Transtorno do Espectro
do Autista (TEA), distúrbio que reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes
desde o nascimento ou início da infância. Desse modo, pode auxiliar a família e a criança
diagnosticada com o TEA, estudando os comportamentos da criança para realizar um plano
de intervenção adequado. Também explicita-se, nessa pesquisa, a importância do acompa-
nhamento no tratamento da criança autista pela equipe multiprofissional, que sempre irá tra-
balhar para possibilitar um maior desenvolvimento da criança e uma melhor interação familiar.
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DESENVOLVIMENTO
O Autismo é visto como uma condição que afeta crianças de qualquer cultura e
raça, sendo uma condição que pode se manifestar de diversas maneiras ao longo dos 31
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anos. O diagnóstico do Autismo é realizado através da observação dos comportamentos
das crianças, e também na análise de todo o seu histórico e interação com o meio, e ain-
da é realizada entrevista com os pais e/ou responsáveis (GADIA; TUCHMAN; ROTTA,
2004). O diagnóstico precoce na criança é fundamental para o sucesso do tratamento,
principalmente antes dos três anos de idade, quando o cérebro está em desenvolvimento,
o que torna mais flexível o trabalho com o comportamento, facilitando o rápido encaminha-
mento para um tratamento especializado, que resultará em importantes possibilidades para
o desenvolvimento da criança (VIDAL; MOREIRA, 2009).
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Autismo: avanços e desafios
vive. A família se une à disfunção de sua criança, sendo tal fator determinante no início de
sua adaptação familiar”.
Os familiares de crianças diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
apresentam diversas reações diante do diagnóstico, como a aceitação, o sofrimento, a
negação e a preocupação excessiva. Para muitos pais, não é fácil a aceitação e, por isso,
passam por diversas mobilizações desde o aspecto financeiro até a qualidade de vida so-
cial, física e psíquica. Independentemente de qualquer situação, é de extrema importância
à família aprender a conviver com a criança diagnosticada com o TEA. Famílias relatam
dificuldades da criança nessa situação, no processo de inserção na sociedade, passando
por sentimentos de preconceito, desprezo e exclusão.
O impacto do diagnóstico de Autismo na família acaba fazendo com que muitas delas
levem tempo negando-se à realidade da criança. A família pode acabar prejudicando o
desenvolvimento da criança com TEA, não aceitando, e a criança acaba não tendo os auxí-
lios dos profissionais para seu desenvolvimento. Ribeiro (2011) relata que muitas famílias,
após o diagnóstico, vivem momentos de desespero e angústia, passando por uma grande
etapa de isolamento.
A vida familiar é afetada pelo diagnóstico de Autismo, pois as pessoas que a compõe
têm a rotina diária totalmente alterada, e precisará do auxílio de vários profissionais incluídos
na rotina. A partir do momento em que a família aceita o diagnóstico do Autismo, a situação
neste ambiente e o convívio com a criança autista melhoram (RIBEIRO, 2011).
É importante para a família aprender a conviver com seu filho e suas limitações.
O medo passa a ser uma reação comum, e junto com ele, vêm as incertezas
com relação à criança, seu prognóstico e seu futuro. Algumas mães chegam
para atendimento muito fragilizadas, com dificuldades de confiar em si mesmas
e com uma dor muito grande (RIBEIRO, 2011, p. 7).
Mudanças ocorrem nas famílias, de acordo com a maneira pela qual os familiares idea-
lizam os sentimentos associados à criança autista. Assim, ao buscar conhecimento sobre
a história do Autismo, trocar informações com familiares de crianças autistas que lidam há
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Autismo: avanços e desafios
bastante tempo com TEA, são passos importantes para que as famílias entendam melhor o
tratamento da criança (PINTO; TORQUATO; COLLET; REICHERT; NETO; SARAIVA, 2016).
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Dentre os métodos de tratamento mais utilizados, destaca-se: TEACCH (Tratamento
e Educação de Crianças com Autismo e Problemas de Comunicação Relacionados) desen-
volvido pelo Dr. Eric Schopler junto com sua equipe, na Universidade da Carolina do Norte,
em 1966, para atender crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA). É um
programa estruturado que combina diferentes materiais visuais para organizar o ambiente,
por meio de rotinas, para tornar o ambiente mais compreensível. Este método visa à inde-
pendência e ao aprendizado (KWEE; SAMPAIO; ATHERINO, 2009).
O método TEACCH é o inverso dos outros métodos comportamentais, pois não se reme-
te aos problemas comportamentais, mas procura estudar e eliminar as possíveis causas. Ele
tem como enfoque viabilizar competências adaptativas fundamentais na vida do autista, sem-
pre se adaptando às necessidades de cada criança com TEA (MARQUES; MELLO, 2005).
Outro método importante é o PECS (Sistema Único de Comunicação por troca de fi-
gura), desenvolvido nos Estados Unidos. Trata-se de um método de comunicação por meio
das figuras, uma importante ferramenta para a criança que não desenvolve ou apresenta
alguma dificuldade na fala. É um método fácil de aprender, podendo ser aplicado inclusive
pelos pais (FERREIRA; TEIXEIRA; BRITO 2011).
O objetivo do PECS é ensinar a criança autista a comunicar-se através de troca de
figuras. Segundo Mello (2007), o sistema PECS:
Tem sido bem aceito em vários lugares do mundo, pois não demanda materiais
complexos ou caros, é relativamente fácil de aprender, pode ser aplicado em
qualquer lugar e quando bem aplicado apresenta resultados inquestionáveis na
comunicação através de cartões em crianças que não falam, e na organização
da linguagem verbal em crianças que falam, mas que precisam organizar esta
linguagem (MELLO, 2007, p.39).
MÉTODOS
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Autismo: avanços e desafios
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Essas atitudes destacadas acima – que engessam o processo de cuidado -, por si só,
criam certa acomodação diante do problema que impede a busca por ações que sejam mais
significativas, que apontem caminhos pertinentes de tratamento. É nesse sentido que se
torna relevante a equipe multiprofissional, cujo suporte, desde o diagnóstico, passando pelo
apoio à família, até o tratamento, está sempre buscando alternativas – fonoaudiológicas,
psicológicas, neurológicas, fisioterapêuticas -, que penetram o universo do transtorno sem se
ater a opiniões pré-estabelecidas, sem estigmatizações, em busca de metodologias sempre
mais relevantes para lidar com a síndrome. É por isso que se torna sempre mais urgente
que tal atendimento, enquanto proposta que leve em conta abranger todas as dimensões
pelas quais o transtorno manifesta-se, precisa constituir-se sempre mais em prioridade junto
ao SUS, uma vez que o aumento assustador de diagnósticos no país já é uma realidade.
Dentro desse panorama, temos ainda que lidar com a grande escassez de profis-
sionais nessa área, pois, são poucos médicos com formação específica na área, capazes
de constatarem com segurança os sinais de TEA e a maior parte deles não atende pelo
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SUS. É comum, por exemplo, a falta de neurologistas e psiquiatras atendendo na rede pú-
blica. Como consequência de tal deficiência sanitária, muitas crianças que necessitam ainda
não têm acesso a um tratamento adequado.
Por vezes, gestos e sintomas que podem parecer irrelevantes para nós, podem ser,
para o autista, demonstrações – implícitas ou explícitas – de sentimentos ou pedidos de
ajuda. Analisar desde os mínimos gestos até as complexidades do transtorno é o caminho
para se criar ações e metodologias que possibilitem ao autista um tratamento adequado, que
respeite sua individualidade e tire da síndrome o estigma com o qual, até hoje, a sociedade o
envolve. É por isso que o trabalho da equipe multiprofissional possui grande significado social,
devendo ser sempre mais valorizado, respeitado, propagado e, principalmente, garantido
junto ao sistema público de saúde, de modo a tornar mais compreendido esse transtorno
que engloba um número grandioso de famílias no país.
CONCLUSÃO
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