Relatório Dezembro - 2023
Relatório Dezembro - 2023
Relatório Dezembro - 2023
EQUIPE EXECUTORA
Pesquisador
Profa. Marys Lene Braga Almeida (DEMC – UFMG)
Discentes
Fernando Gomes Aldenucci (graduação em Engenharia Civil, UFMG)
Verenna Santos Guedes (graduação em Engenharia Civil, UFMG)
1. QUALIFICAÇÃO DO PROBLEMA
A presença de lixo plástico em oceanos é uma das maiores agressões ambientais observadas, em
especial, nas últimas décadas. Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA,
2021), 90% de todos os detritos dos oceanos são compostos por plásticos. Além disso, existem
46.000 fragmentos de plástico em cada 2,5 quilômetros quadrados da superfície desses ambientes.
Tal presença se mostra danosa à vida marinha, com reflexos importantes na saúde humana e de
outros seres vivos terrestres, além de outras múltiplas consequências negativas como: o acúmulo
de lixo plástico em praias e regiões turísticas que afeta atividades de recreação, turismo e práticas
esportivas; ingestão ou outra interação de espécies marinhas com lixo plástico oceânico que
ocasionam infecções, mortes e redução na biodiversidade e alteração da cadeia alimentar;
contaminação de peixes e outros seres marinhos com esse tipo de lixo que podem afetar as
atividades de pesca e também a saúde daqueles que se alimentam desses seres contaminados.
Assim, tem-se a espuma de poliuretano (PU), material de grande flexibilidade e de alto valor
mercadológico. A expressão “poliuretanos” é utilizada para denominar uma série de polímeros
sintetizados pela reação entre polióis e isocianatos (SILVA, 2013). Nessa problemática, a síntese de
poliuretanos ocorre a partir de insumos (polióis) derivados da despolimerização de plásticos
encontrados no lixo oceânico tem chamado a atenção. Porém, com uma quantidade crescente de
desperdício de poliuretano termofixo, desafios ambientais significativos são causados e,
consequentemente, tecnologias com o objetivo de reciclar poliuretano termofixo têm atraído
atenção significativa. Como a reciclagem de poliuretano termofixo é limitada por causa da sua
estrutura com ligações cruzadas permanentes, existe um impedimento no seu reprocessamento
(Bandegi, 2022). Dessarte, baseando-se na metodologia de Yue et al. (2019), os polímeros
vitrímeros têm chamado a atenção mais recentemente por terem ligações cruzadas reversíveis que
permitem o reprocessamento de termorrígidos através do aquecimento combinado com
conformação mecânica. Desse modo, termorrígidos que normalmente são muito difíceis de serem
reciclados (como vários poliuretanos) podem ser reciclados, usando-se de procedimentos típicos de
polímeros termoplásticos.
Objetivo. Metas:
1 - Produzir espumas de poliuretanos vitrímeros (recicláveis) obtidos a partir dos componentes
químicos derivados de plásticos de lixo oceânico.
Descrição
O projeto tem como objetivo a síntese de poliuretanos vitrímeros a partir de insumos (polióis)
derivados de plásticos encontrados no lixo oceânico para o seu uso na captura por adsorção de
micro e nanoplásticos.
As sínteses das espumas foram adaptadas na metodologia implementada por Almeida (2017),
sendo realizadas pelo processo “one-shot” à temperatura ambiente (25 ± 3°C). Nela, são
adicionadas em um recipiente de polipropileno de 100 mL 11,25g de Biopol 411, 1,25g de
polietilenoglicol 2000, 0,40g de água deionizada, 0,025g de catalisador octoato de estanho (II) e
0,10g de surfactante de silicone, respectivamente. Estes, então, são submetidos à agitação
mecânica de 1000 rpm durante 2 min. Logo após, adiciona-se o isocianato, cuja composição e
quantidades foram adaptadas. O sistema é submetido a 30 segundos de agitação e por fim é vertida
para outro recipiente de plástico de 200 mL e deixada em repouso por um período de 24 horas até
serem cortadas em cubos de, aproximadamente, 0,8 cm.
A Figura 1 corresponde às imagens fotográficas das espumas sintetizadas de poliuretano.
Figura 2 Uma visão geral do processo em que uma rede termofixa permanente pode ser extrudada,
moldada por injeção e moldada por compressão após a vitrimerização.
Figura 3 Imagens fotográficas do processo de vitrimerização: (a) espumas imersas na solução; (b)
amostras na estufa para secagem e (c) após o processo de vitrimerização.
RESULTADOS PARCIAIS
Espuma de Poliuretano
Conforme metodologia implementada por Almeida (2017), para a síntese das espumas de PU
usou-se a formulação utilizada está apresentada na Tabela 1.
Tabela 1 Formulação usada para obtenção das espumas (PU).
01 - 7,86
1,5
02 12,13 -
1,25 11,25 0,025 0,100 0,40
03 - 5,24
1,0
04 8,09 -
05 - 4,72
0,9
06 7,28 -
Quantidade em gramas.
Além disso, foram confeccionadas espumas com 16,74 g de MDI Biopol ISO denominadas de
PU-M.
A espuma PU-06 apresentou, quando comparadas com as demais, pouca expansão dos poros
durante seu processo de confecção, indicando a relação direta no qual quanto menor o teor de
Isocianato na espuma, menor a expansão das espumas (Figura 04) .
Figura 5 Imagens fotográficas das espumas após 24h de cura: (a) PU-3 (b) PU-02; (c) PU-04; (d)
PU-06.
Após o corte das espumas, pode-se observar uma grande instabilidade química das espumas com
menores teores de isocianato, destacando-se a amostra PU-06 que apresentou grande deformação
dimensional após ser cortada (Figura 6).
Figura 6 Imagens fotográficas da amostra PU-06: (a) e (b) após 24h de cura; (c) e (d) 7 dias após
ser cortada.
Figura 6 Imagens fotográficas das espumas: (a) durante a polimerização; (b) após 24h de cura.
Vitrimerização
Quantidade em gramas.
Pode-se observar que durante o processo de imersão PU-06 obteve a maior absorção de solução,
apresentando um maior inchamento do material que alterou suas dimensões em cerca de 1 cm³ que
dificultou a retirada das amostras do vidro âmbar, causando o comprometimento de uma das
amostras. Fora isso, pode-se observar que a absorção apresentou um comportamento indiretamente
proporcional a quantidade de MDI incorporado nas espumas, ou seja, quanto menor a quantidade
de MDI, maior foi o fenômeno de absorção e inchamento do material.
Após a lavagem superficial com Etanol notou-se que a queda na massa foi menor para as espumas
com maior quantidade de MDI em sua composição, indicando que a absorção da solução nos
microporos internos do material foi menor para estas espumas do que para aquelas com menos teor
de MDI.
Durante o processo de secagem foi observado um odor muito forte nas primeiras horas do ensaio.
Acredita-se que este odor foi ocasionado por uma possível combustão de algumas espumas que
apresentaram uma coloração amarelada após a finalização do ensaio, como mostra a Figura 6,
devido ao manuseio desse material em um forno que não era a vácuo.
Com isso, pode-se observar que quanto menor a quantidade de MDI na composição da espuma,
maior a perda de massa do material e a deformações em suas dimensões que consequentemente
geram uma espuma mais porosa.
Outro ensaio de vitrimerização foi realizado com as espumas PU-TMP, PU-Gli e PU-1,4BD cujos
resultados são mostrados na Tabela 6.
Quantidade em gramas.
Durante o processo de imersão, observou-se novamente o inchamento das espumas. Desta vez, as
espumas ganharam dimensões muito maiores que as observadas nas espumas sem substituição de
Bipol com valores de massas 17,95; 20,66 e 19,74 vezes maiores que massa inicial das espumas
para o PU- 1,4BD, PU-TMP e PU-Gli, respectivamente. Com isso, obteve-se uma maior absorção
de TIN(II) pela espuma com TMP em sua composição.
Após a lavagem superficial com Etanol, não se observou grandes alterações nas massas dos
materiais como ocorre com as espumas sem substituição. Entretanto, vale ressaltar que o
inchamento dessas novas espumas foram tão grandes que as espumas apresentam uma grande
sensibilidade, se desfazendo facilmente com qualquer tipo de contato físico e tornando difícil seu
manuseio (Figura 7). Comparativamente, as espumas sem substituição são mais resistentes nesse
aspecto.
Figura 6 Imagens fotográficas das amostras após manuseio.
Com a secagem, notou-se um ganho de massa em todas as espumas com substituição, nos valores
de 21,65%, 64,95% e 9,05% para as espumas PU- 1,4BD, PU-TMP e PU-Gli, respectivamente,
sendo retirada da análise a amostra de PU-Gli com 0.329 g devido à disparidade do valor
encontrado após a secagem.
Prensa
As amostras de PU- 1,4BD, PU-TMP e PU-Gli foram moídas submetidas à prensa hidraúlica. As
massas usadas nesse processo foram insuficientes para que a prensa fosse realizada com êxito
Houve variações tanto a temperatura quanto o tempo do material em contato com a prensa de tal
forma que se usou os seguintes métodos: (a) 5 minutos à 180°C sem prensagem com adicionais 3
minutos prensando com cargas de 6 ton; (b) 5 minutos à 180°C sem prensagem com adicionais 10
minutos prensando com cargas de 6 ton; (c) 5 minutos à 200°C sem prensagem com adicionais 10
minutos prensando com cargas de 6 ton. Devido a temperatura extremamente alta, observou-se a
degradação de algumas das amostras e as demais não foram prensadas com sucesso.
Considerações
Estudos a serem executados na Meta 2 para ser inserido no terceiro relatório parcial:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, M.L.B., Ayres, E., Libânio, M., Gamarano, D.S. Ribeiro, C.C., Oréfice, R.L. Bio-Based
Polyurethane Foams with Enriched Surfaces of Petroleum Catalyst Residues as Adsorbents
of Organic Pollutants in Aqueous Solutions. Journal of Polymers and the Environment, 28,
2511–2522, 2020.
Yue, L., Bonab, V.S., Yuan, D., Patel, A., Karimkhani, V., Manas-Zloczower, I. Vitrimerization:
A Novel Concept to Reprocess and Recycle Thermoset Waste via Dynamic Chemistry. Global
Challenges, 3, 1800076, 2019.
Silva, V.R. Espumas Rígidas de Poliuretano Baseadas em Óleos Vegetais Utilizando Rejeitos
Industriais Inorgânicos como Carga e Retardante de Chamas. Belo Horizonte. Departamento
de Química da Universidade Federal de Minas Gerais, 2013a. 115p. (Tese, Doutorado em Química
Inorgânica).
Olivatto, G.P., Carreira, R., Tornisielo, V.L., Montagner, C.C. Microplastics: Contaminants of
global concern in the anthropocene. Revista Virtual de Química, 10, 1968–1989, 2018.