5 Atos Administrativos 34
5 Atos Administrativos 34
5 Atos Administrativos 34
ATOS ADMINISTRATIVOS
SUMÁRIO
1. Considerações iniciais................................................................................................................................3
2. Elementos ou requisitos do ato administrativo..........................................................................................4
2.1 Competência............................................................................................................................................5
2.2 Forma......................................................................................................................................................8
2.3 Motivo...................................................................................................................................................10
2.4 Objeto....................................................................................................................................................12
2.5 Finalidade..............................................................................................................................................13
3. Vinculação x Discricionariedade...............................................................................................................14
4. Atributos (características)........................................................................................................................17
4.1 Presunção de legitimidade.....................................................................................................................17
4.2 Autoexecutoriedade...............................................................................................................................18
4.3 Imperativo.............................................................................................................................................19
4.4 Tipicidade..............................................................................................................................................19
5. Classificação.............................................................................................................................................19
5.1 Quanto aos destinatários.......................................................................................................................19
5.2 Quanto ao alcance.................................................................................................................................20
5.3 Quanto ao grau de liberdade..................................................................................................................20
5.4 Quanto à formação................................................................................................................................20
6. Modalidades ou classificação quanto aos efeitos......................................................................................24
7. Validade/efeitos dos atos.........................................................................................................................25
8. Efeitos......................................................................................................................................................26
9. Extinção do ato administrativo.................................................................................................................27
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO................................................................................................33
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA.............................................................................................................................33
ATUALIZADO EM 08/05/20231
ATOS ADMINISTRATIVOS
1. Considerações iniciais
Fato jurídico é uma ocorrência que interessa ao Direito, ou seja, que tenha relevância jurídica. O fato
jurídico lato sensu pode ser natural, denominado fato jurídico stricto sensu. Esse pode ser um fato ordinário
ou extraordinário. Pode o fato ser ainda humano, surgindo o conceito de fato jurígeno. FÓRMULA. Fato
jurídico = Fato + Direito.
Se atingir dentro do mundo jurídico, especificamente, a fatia do direito administrativo, será fato
administrativo. Ex.: morte – abertura da sucessão. É um fato jurídico. Ex.: morte de servidos público –
vacância. É fato jurídico administrativo. Fato é diferente de ato.
Ato é uma manifestação de vontade. Trata-se de um fato jurídico com elemento volitivo e conteúdo
lícito. Se a manifestação de vontade atingir a órbita do direito, será ato jurídico. Se atingir a fatia do direito
administrativo – ato administrativo. O silêncio é considerado fato jurídico administrativo – não há
manifestação de vontade, mas pode produzir efeitos.
*Há quem entenda que os atos ilícitos não são jurídicos, por serem contra o direito. Essa é a posição
de Flávio Tartuce e Rodolfo Pamplona Filho. Todavia, a questão não é pacífica, pois doutrinadores como
Pontes de Miranda sustentam que o ato ilícito também é ato jurídico.
ATOS ADMINISTRATIVOS são espécies do gênero “atos jurídicos”, porque são manifestações
humanas, voluntárias, unilaterais e destinadas diretamente à produção de efeitos jurídicos. O que os
peculiariza no âmbito do gênero “atos jurídicos” é o fato de serem manifestações ou declarações da
administração pública, agindo nesta qualidade, ou de particulares investidos em funções públicas, que estejam
1
As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo ([email protected]) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
exercendo prerrogativas públicas. O fato de serem praticados no exercício de atribuições públicas faz com que
sejam os atos administrativos submetidos a regime de direito público.
*#OUSESABER: Qual a diferença entre ato administrativo, ato político e ato de gestão?
Os atos administrativos caracterizam-se como manifestações unilaterais do Estado ou de quem lhe faça as
vezes, sob o regime jurídico de direito público, voltado à produção de efeitos jurídicos (criativos, modificativos
ou extintivos), sendo tais atos passíveis de controle pelo Poder Judiciário. Os atos praticados pela
Administração Pública podem ser atos administrativos, atos políticos ou atos de gestão. Os primeiros, já
conceituados acima, são praticados em fiel observância à lei, estando a ela subordinados, sendo regidos pelo
regime jurídico de direito público.
Os atos políticos são aqueles atos praticados com fundamento direto na Constituição, com alto grau de
discricionariedade, atinentes ao comando da nação, representando muitas vezes opções ideológicas, como,
por exemplo, se dá com o veto de uma lei e a declaração de guerra.
Atos de gestão, por sua vez, são os praticados pela Administração em posição de igualdade com os
particulares, despindo-se, portanto, do poder de império. Podem ser dados como exemplo, a alienação de um
imóvel público inservível, ou a doação sem encargo de determinado bem não destinado às finalidades do
órgão.
*À semelhança do Direito Civil, alguns administrativistas costumam dividir os elementos dos atos
administrativos em essenciais (competência/sujeito, finalidade, forma, motivo e objeto) e acidentais ou
acessórios; os primeiros são necessários à validade do ato e compreendem os cinco elementos já indicados; os
segundos são os que ampliam ou restringem os efeitos jurídicos do ato e compreendem o termo, a condição e
o modo ou encargo. Os elementos acidentais referem-se ao objeto do ato e só podem existir nos atos
discricionários, porque decorrem da vontade das partes (tema cobrado no concurso de Delegado/SP).
2.1 Competência
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como
própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou
territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados
aos respectivos presidentes.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a
duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição
delegada.
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.
§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão
editadas pelo delegado.
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação
temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
#ATENÇÃO - A transferência da execução do serviço público pode ser feita por OUTORGA ou por DELEGAÇÃO.
OUTORGA: implica na transferência da própria titularidade do serviço.
Quando, por exemplo, a União cria uma Autarquia e transfere para esta a titularidade de um serviço
público, não transfere apenas a execução. Não pode mais a União retomar esse serviço, a não ser por lei. Faz-
se através de lei e só pode ser retirada através de lei.
Outorga significa, portanto, a transferência da própria titularidade do serviço da pessoa política para a
pessoa administrativa, que desenvolve o serviço em seu próprio nome e não no de quem transferiu. É sempre
feita por lei e somente por outra lei pode ser mudada ou retirada.
DELEGAÇÃO: implica na mera transferência da execução do serviço. Realiza-se por ato ou contrato
administrativo. São as concessões e permissões do serviço público.
*#DEOLHONAJURIS:
CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos e multas como condição para que o
veículo possa circular O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo
certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos a tributos, encargos
e multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas (arts. 124,
VIII, 128, e 131, § 2º). Tais dispositivos são constitucionais e não limitam o direito de propriedade. Além disso,
não se constituem em sanções políticas. STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 10/04/2019 (Info 937).
Resolução do CONTRAN não pode estabelecer penalidades, devendo as sanções ser previstas em lei
em sentido formal e material O art. 161 do CTB prevê que: Art. 161. Constitui infração de trânsito a
inobservância de qualquer preceito deste Código, da legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN,
sendo o infrator sujeito às penalidades e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições
previstas no Capítulo XIX. Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN
terão suas penalidades e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções. O STF conferiu
interpretação conforme a Constituição, para declarar inconstitucional a possibilidade do estabelecimento de
sanção por parte do CONTRAN, como se órgão legislativo fosse, visto que as penalidades têm de estar
previstas em lei em sentido formal e material. Além disso, o Tribunal declarou a nulidade da expressão “ou das
Resoluções do Contran” presente neste artigo. STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 10/04/2019 (Info 937).
*(Atualizado em 08/05/2023)
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código ou da legislação
complementar, e o infrator sujeita-se às penalidades e às medidas administrativas indicadas em cada artigo
deste Capítulo e às punições previstas no Capítulo XIX deste Código. (Redação dada pela Lei nº 14.071,
de 2020) (Vigência)
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.071, de 2020) (Vigência)
2.2 Forma
Existem, porém, atos administrativos não escritos, ex. ordens verbais do superior ao seu
subordinado; gestos, apitos e sinais luminosos no trânsito, etc. A doutrina tradicional costumava classificar a
forma dos atos administrativos como um elemento vinculado. Atualmente, esse tema é controverso.
Discorrendo sobre o tema, Fernanda Marinela assim relata: “Para a doutrina majoritária, o silêncio
administrativo não produz nenhum efeito, salvo quando a lei – reconhecendo o dever da Administração de
agir, atribui esse resultado, admitindo-se, nesse caso, a possibilidade de uma anuência tácita, ou até, de efeito
denegatório do pedido, contrariando o interesse de peticionário. Nessas hipóteses – em que a lei atribui efeito
ao silêncio – o mesmo não decorre do silêncio, e sim da previsão legal.
Segundo essa orientação, o silêncio não é ato jurídico e, por conseguinte, não é ato administrativo, porque
ambos dependem de uma declaração jurídica, de uma manifestação, faltando, assim, a condição para a sua
existência, que é a exteriorização da vontade.” (Direito Administrativo, 11 ed., pág. 344)
2.3 Motivo
MOTIVO é a causa imediata do ato administrativo. É a situação de fato e de direito que determina ou
autoriza a prática do ato, ou, em outras palavras, o pressuposto fático e jurídico (ou normativo) que enseja a
prática do ato. A doutrina, por vezes, usa o vocábulo “causa” para aludir ao elemento motivo. Os atos
administrativos são praticados quando ocorre a coincidência, ou subsunção, entre uma situação de fato e uma
hipótese descrita em norma legal.
Legalidade do motivo: a) materialidade: ser motivo verdadeiro. Ocasiona a ilegalidade do ato.
b) motivo alegado deve ser compatível com motivo legal. Demissão aplicada para infração leve. A lei
determina o motivo para a demissão. Não posso ir de encontro a esse motivo estabelecido. Ex. remoção por
falta disciplinar – não é possível, apenas no MP ou JF. c) motivo declarado deve ser compatível com o
resultado do ato
Teoria dos motivos determinantes. O administrador está vinculado ao motivo declarado, que
deve ser cumprido, mesmo no caso de exoneração ad nutum. Mesmo que o ato não necessite de ser
motivado, caso a administração motive esse ato, este ficará sujeito à verificação da existência e da adequação
do motivo exposto. Não precisa de motivação, mas se ela for dada, vincula o administrador. Motivo ilegal viola
a Teoria dos motivos determinantes. O motivo ilegal não pode vincular.
#ATENÇÃO: Tredestinação é uma mudança de motivo permitida pelo ordenamento. É lícita quando a
desapropriação tem sua mudança de motivo realizada, em razão da manutenção do interesse público. ex.
desapropriei para construir um hospital, mas acabo construindo uma escola.
#SELIGA: deve haver congruência entre o motivo e o objeto do ato. Proporcionalidade. Revogar várias
autorizações de porte de arma, porque uma pessoa matou outra. Não é razoável.
#SELIGA:
Não confundir motivo com motivação, pois esta é a exposição dos motivos. Motivação é dispensável
em alguns atos (ex.: exoneração do comissionado – ad nutum).
Motivo: é a situação de fato e de direito que determina ou autoriza a prática do ato.
Mesmo que a motivação seja dispensável, no momento em que é feita, passa a integrar o ato
administrativo. Assim, se a motivação for falsa ou viciada, também será viciado o ato: é a teoria dos motivos
determinantes.
Não se decreta a invalidade de um ato administrativo quando apenas um, entre os motivos
determinantes, não está adequado à realidade fática (os demais motivos sustentam o ato).
Motivação “aliunde”: ocorre todas as vezes que a motivação do ato remete à motivação de ato
anterior que o ensejou. Ex.: anular um contrato com base na motivação esposada em determinado parecer.
*#OUSESABER: o móvel dos atos administrativos é a situação real que justifica a edição legítima do ato
administrativo. Certo ou errado?
ERRADO. O móvel é a vontade pessoal, psíquica, não real como prevê o item, que move o agente público na
elaboração dos atos administrativos. A distinção do móvel para o motivo é evidente, visto que neste há a
explicitação real da situação que justifica a edição do ato, ao passo que o móvel implica na motivação
pessoal, que nem sempre se coaduna com o real desiderato do ato administrativo.
No entendimento de Celso Antônio Bandeira de Mello, o móvel é importante apenas para os atos
discricionários que exigem a análise subjetiva do agente na escolha entre as opções de atuação conferidas
pela legislação. A contrario sensu, o móvel seria irrelevante para os atos vinculados, pois a validade desses
atos dependeria apenas da compatibilidade formal entre os elementos do ato e aqueles que foram
enumerados na lei. Rafael Rezende discorda desse entendimento, defendendo que o móvel seria apto a
invalidar também os atos vinculados, pois mesmos nestes haveria uma mínima margem de escolha do gestor a
ser colmatada pelo móvel.
2.4 Objeto
O OBJETO é o próprio conteúdo material do ato. O objeto do ato administrativo identifica-se com o
seu conteúdo, por meio do qual a administração manifesta sua vontade, ou atesta simplesmente situações
preexistentes. Pode-se dizer que o objeto do ato administrativo é a própria alteração no mundo jurídico que o
ato provoca, é o efeito jurídico imediato que o ato produz.
Assim, é objeto do ato de concessão de uma licença a própria concessão da licença. Nos atos
vinculados, a um motivo corresponde um único objeto; verificado o motivo, a prática do ato (com aquele
conteúdo estabelecido na lei) é obrigatória.
Nos atos discricionários, há liberdade de valoração do motivo e, como resultado, escolha do objeto,
dentre os possíveis, autorizados na lei; o ato só será praticado se e quando a administração considerá-lo
oportuno e conveniente, e com o conteúdo escolhido pela administração, nos limites da lei.
Deve ser:
Lícito: previsto/autorizado por lei
Possível: material e juridicamente. Ex. promoção de servidor falecido – impossível. Só o
militar.
Determinado ou determinável.
*Aqui, também à semelhança do negócio jurídico de direito privado, o objeto do ato administrativo
pode ser natural ou acidental.
Objeto natural é o efeito jurídico que o ato produz, sem necessidade de expressa menção; ele
decorre da própria natureza do ato, tal como definido na lei.
Objeto acidental é o efeito jurídico que o ato produz em decorrência de cláusulas acessórias
apostas ao ato pelo sujeito que o pratica; ele traz alguma alteração no objeto natural; compreende o termo, o
modo ou encargo e a condição.
A condição é a cláusula que subordina o efeito do ato a evento futuro e incerto; pode ser suspensiva,
quando suspende o início da eficácia do ato, e resolutiva, quando, verificada, faz cessar a produção de efeitos
jurídicos do ato.
2.5 Finalidade
A FINALIDADE é estudada, também, não apenas como elemento dos atos administrativos, mas
também como uma das facetas (a mais tradicionalmente comentada) do princípio da impessoalidade. Os
estudos obviamente se sobrepõem; afinal, a finalidade como princípio de atuação da administração pública é a
mesma finalidade descrita como elemento ou requisito dos atos administrativos.
A finalidade é um elemento sempre vinculado. Nunca é o agente público quem determina a
finalidade a ser perseguida em sua atuação, mas sim a lei.
3. Vinculação x Discricionariedade
ATOS VINCULADOS são os que a administração pratica sem margem alguma de liberdade de decisão,
pois a lei previamente determinou o único comportamento possível a ser obrigatoriamente adotado sempre
que se configure a situação objetiva descrita em lei. Não cabe ao agente público apreciar a oportunidade ou
conveniência administrativas quanto a edição do ato. Uma vez atendidas as condições legais, o ato tem que
ser praticado, invariavelmente.
Temos um ato vinculado quando a lei faz corresponder a um motivo objetivamente determinado
uma única e obrigatória atuação administrativa. Ex.: concessão de licença-paternidade.
ATOS DISCRICIONÁRIOS são aqueles que a administração pode praticar com certa liberdade de
escolha, nos termos e limites da lei, quanto ao seu conteúdo, seu modo de realização, sua oportunidade e sua
conveniência administrativa. Essa é a definição tradicional.
Enquanto o agente público está rigidamente adstrito a lei quanto a todos os elementos de um ato
vinculado (competência, finalidade, forma, motivo e objeto), ao praticar um ato discricionário possui ele certa
liberdade (dentro dos limites da lei) quanto a valoração dos motivos e escolha do objeto (conteúdo), segundo
os seus privativos critérios de oportunidade e conveniência administrativa.
Art. 62. O instrumento de contrato é obrigatório nos casos de concorrência e de tomada de preços, bem como
nas dispensas e inexigibilidades cujos preços estejam compreendidos nos limites destas duas modalidades de
licitação, e facultativo nos demais em que a Administração puder substituí-lo por outros instrumentos hábeis,
tais como carta-contrato, nota de empenho de despesa, autorização de compra ou ordem de execução de
serviço.
#TABELALOVERS:
Elementos Ato Vinculado Ato Discricionário
Competência Vinculado Vinculado
Finalidade Vinculado Vinculado
Forma Vinculado Vinculado
Motivo Vinculado Discricionário
Objeto Vinculado Discricionário
#ATENÇÃO: O mérito administrativo consiste, conforme Hely Lopes “na valoração dos motivos e na escolha do
objeto do ato, feitas pela Administração incumbida de sua prática, quando autorizada a decidir sobre a
conveniência, oportunidade e justiça do ato a realizar”.
*#DEOLHONAJURIS: Vejamos um exemplo recente analisado pelo STJ sobre a possibilidade do Poder Judiciário
intervir na discricionariedade administrativa, que, segundo o referido Tribunal, não é uma garantia absoluta.
#NÃOCONFUNDIR: o ato praticado sem a motivação devida contém um vício no elemento forma. Com efeito,
devem ser analisadas duas hipóteses diversas, a saber:
O ato administrativo foi praticado com a devida motivação, no entanto, os motivos apresentados são
falsos ou não encontram correspondência com a justificativa legal para a prática da conduta. Nestes casos,
pode-se definir que o ato é viciado, por ilegalidade no elemento motivo.
O ato é praticado em decorrência de situação fática verdadeira, revista em lei como ensejadora da
conduta estatal, todavia, o administrador público não realizou a motivação do ato, apresentado as razões que
justificaram sua edição. Trata-se de ato com vício no elemento forma.
4. Atributos (características)
#SELIGA:
Presunção de Legitimidade
Autoexecutoriedade
Tipicidade
Imperatividade
#ATENÇÃO: dois deles começam com CONSOANTE e dois deles começam com VOGAIS.
"Todos" - Começa com CONSOANTE.
"Alguns" - Começa com VOGAL.
São presumidamente legítimos, legais, verdadeiros. Presunção é relativa (juris tantum). O ônus da
prova cabe a quem alega. A consequência prática é a aplicação imediata do ato. Tem como consequência a
própria autoexecutoriedade.
#SELIGA: A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei; em decorrência desse
atributo, presume-se, até prova em contrário, que os atos administrativos foram emitidos com observância na
lei. A presunção de veracidade diz respeito aos fatos; em decorrência desse atributo, presumem-se
verdadeiros os fatos alegados pela Adm.
4.2 Autoexecutoriedade
Não é necessário o controle prévio do judiciário para praticar o ato. CF /88 restringe o seu alcance ao
prestigiar o contraditório e a ampla defesa. A tutela preventiva ou cautelar judicial pode suspender a eficácia
do ato administrativo. Hoje se divide em dois enfoques diferentes:
(1) Exigibilidade – decidir sem o Poder Judiciário. Poder de coerção indireto. Ex. fechar
estabelecimento, embargar obra. Todo ato administrativo tem esse atributo.
(2) Executoriedade – executar sem a intervenção do PJ. Está presente em situações autorizadas por
lei e situações de urgência. Nem todo ato tem executoriedade (ex. sanção pecuniária e desapropriação). O ato
tem de atender a formalidade de toda forma.
Autoexecutoriedade e princípio da legalidade objetiva: "Segundo o princípio da legalidade
objetiva, a autoridade administrativa deve aplicar a lei de ofício, cumprindo-a ou fazendo cumpri-la, de modo
objetivo e desinteressadamente, agindo em prol do interesse público, em detrimento de qualquer direito
subjetivo ou interesse próprio.".
Para o ato ser autoexecutório precisa de previsão legal OU ser uma medida urgente.
Ela só é possível:
1. Quando expressamente prevista em lei. Em matéria de contrato, por exemplo, a Administração
Pública dispõe de várias medidas autoexecutórias, como a retenção da caução, a utilização dos equipamentos
e instalações do contratado para dar continuidade à execução do contrato, a encampação etc; também em
matéria de polícia administrativa, a lei prevê medidas autoexecutórias, como a apreensão de mercadorias, o
fechamento de casas noturnas, a cassação de licença para dirigir;
2. Quando se trata de medida urgente que, caso não adotada de imediato, possa ocasionar prejuízo
maior para o interesse público; isso acontece, também, no âmbito da polícia administrativa, podendo-se citar,
como exemplo, a demolição de prédio que ameaça ruir, o internamento de pessoa com doença contagiosa, a
dissolução de reunião que ponha em risco a segurança de pessoas e coisas.
4.3 Imperativo
São obrigatórios, coercitivos, cogentes. Todo ato administrativo goza de imperatividade? Falso. Está
presente apenas em atos administrativos que impõem obrigações. Ex. no ato enunciativo não há
imperatividade.
Poder extroverso = imperatividade.
4.4 Tipicidade
#OUSESABER: Aplica-se o venire contra factum proprium aos atos da Administração? Quais são os
requisitos?
Primeiramente, há se destacar que se aplica o princípio venire contra factum proprium contra os atos da
Administração Pública, pois a boa-fé objetiva irradia seus efeitos para todo o ordenamento jurídico. É esse,
inclusive, o entendimento do STJ, consoante divulgado no julgado do RMS 20572/DF, de Rel. Min Laurita Vaz.
Consoante Rafael Carvalho, possui 3 requisitos: a) identidade subjetiva e objetiva: o ato anterior e o ato
posterior emanam da mesma Administração e são produzidos no âmbito da mesma relação jurídica; b) a
conduta anterior é válida e unívoca: capaz de gerar a confiança (expectativa legítima) na outra parte da
relação jurídica; e c) atuação contraditória: incompatibilidade do ato posterior com o ato anterior. É possível
mencionar alguns exemplos de aplicação da teoria dos atos próprios no Direito Administrativo: nulidade da
imposição de multa de trânsito por irregularidade no veículo, constatada em fiscalização realizada pela
Secretaria de Trânsito na saída do pátio de DETRAN, logo depois de o veículo ser vistoriado e devidamente
licenciado; imposição ao Município de proceder ao loteamento dos imóveis alienados pelo próprio Ente
municipal aos particulares, sendo descabida a pretensão de anulação dos contratos de compra e venda.
5. Classificação
a) atos gerais: são atos abstratos, impessoais. Atingem a coletividade como um todo. Atos com
finalidade normativa. Prevalecem sobre os atos individuais. Ex. regulamentos, instruções normativas.
b) atos individuais: atos especiais. São atos que se dirigem a destinatários determinados. Pode ser
ato individual singular (único destinatário) ou plúrimo (múltiplos destinatários).
b) externos: produzem efeitos para fora da Adm. Dependem de publicação no diário oficial.
a) atos vinculados
b) atos discricionários
a) ato simples: basta uma única manifestação de vontade. Essa manifestação pode ser singular
(única autoridade) ou colegiada.
b) ato compostos: duas manifestações de vontade no mesmo órgão, em patamar de desigualdade. A
primeira é principal e a segunda é secundária. Ex. atos dependentes de visto do chefe. José – não são vontades
autônomas, pois uma delas é meramente instrumental, pois se limita à verificação de legitimidade do ato.
#ATENÇÃO: revogáveis (regra. autorização) e irrevogáveis (licença para exercer profissão). Revogáveis são os
atos que podem ter seus efeitos cessados por razões de conveniência e oportunidade.
a) atos normativos – é exercício de poder regulamentar ou normativo. Traz um comando geral para
concreta aplicação da lei. Regulamentos regimentos, deliberações, resoluções.
c) atos negociais – manifestação de vontade da Adm. coincidente com a pretensão do particular. Ex.
Licença, autorização, permissão de uso.
d) atos enunciativos – aquele que se limita a certificar, atestar ou emitir uma opinião. Ex. certidão,
atestado, parecer.
Há uma partilha do
poder de decisão entre o
administrador e o parecerista, já
Em regra, o parecerista Em regra, o parecerista não
que a decisão do administrador
não tem responsabilidade pelo ato tem responsabilidade pelo ato
deve ser de acordo com o
administrativo. administrativo.
parecer.
a) Ato perfeito: o ato percorreu sua trajetória. Seu ciclo de formação. Completou o processo
constitutivo.
b) Ato válido: é aquele que atende a todos os requisitos. Compatibilidade com a lei ou ato mais
elevado.
c) Eficaz: produz todos os seus efeitos. Completou-se seu ciclo de formação é eficaz. É diferente de
exequibilidade, que é a efetiva disponibilidade que tem a Administração para dar operatividade ao ato,
executá-lo em toda inteireza. Ex. uma autorização dada em dezembro para o mês de janeiro. É efetiva mas não
possui exequibilidade naquele mês.
8. Efeitos
Efeito atípico reflexo: atingem terceiros estranho à prática do ato. Não era esse o objetivo. Ex.
desapropriação que atinge locatário. O efeito principal é com o proprietário.
Efeito atípico preliminar: acontece nos atos administrativos que dependem de duas
manifestações de vontade. E configura com o dever da segunda autoridade se manifestar quando a primeira já
o fez. É um efeito secundário que ocorre antes do aperfeiçoamento do ato. O ato só se torna perfeito se tiver
as duas manifestações de vontade e a manifestação inicial gera um dever de manifestação posterior. Surge um
dever de manifestação. Nomeação de dirigente da agência reguladora. SF e PR. O efeito principal é preencher
o cargo e o efeito secundário é o dever de manifestação, que ocorre antes do aperfeiçoamento do ato. É
chamado por Celso Antônio de efeito prodrômico.
d) Retirada do ato pelo poder público. Revogação, anulação, caducidade, cassação e contraposição.
Cassação – retirada do ato pelo poder público em razão do descumprimento das condições
inicialmente impostas. Ex. a licença dada para hotel e foram criados motéis. O poder público cassou.
Caducidade – retirada de um ato administrativo em razão da superveniência de uma norma
jurídica que é com ele incompatível. Ex.: permissão de uso para circo por superveniência de lei do plano
diretor que cria rua naquele lugar.
Contraposição – dois atos administrativos que decorrem de competências diferentes, em que
o segundo eliminar os efeitos do primeiro.
Anulação: é a retirada de um ato administrativo que é ilegal. Pode ser anulado pela própria
administração pública, como pelo Poder Judiciário – reclamação ao STF após o esgotamento, MS, ação
popular, ação civil pública. Anulam-se atos vinculados e discricionários. É um controle de legalidade. A Adm.
quando anula está exercendo o poder de autotutela, previsto nas sumulas 346 e 473 do STF. A Adm. tem
quanto tempo para anular? Quando produzir efeitos favoráveis, o prazo para anular será de 05 anos. Art. 54
da Lei 9784/99. Essa anulação produz efeitos ex tunc, como regra. Há aqui divergência. A anulação melhorou
ou piorou a situação do interessado? Celso Antônio entende que será ex nunc se a anulação for para restringir
direitos e ex tunc se a anulação for para ampliar direitos. (Anular ato de indeferimento ilegal de direito).
*#DEOLHONASÚMULA:
Súmula 633 STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para revisão de atos
administrativos no âmbito da administração pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos
Estados e municípios se inexistente norma local e específica regulando a matéria.
#SELIGA: a regra é que a administração é obrigada a anular o ato ilegal. Exceções – decurso do tempo
(decadência de 5 anos) ou a consolidação dos efeitos produzidos (Teoria do fato consumado).
*#DEOLHONAJURIS: O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa
proferida pelo CADE. A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação
econômica exige que o Poder Judiciário tenha uma postura deferente (postura de respeito) ao mérito das
decisões proferidas pela Autarquia. A análise jurisdicional deve se limitar ao exame da legalidade ou
abusividade do ato administrativo. O CADE é quem detém competência legalmente outorgada para verificar se
a conduta de agentes econômicos gera efetivo prejuízo à livre concorrência. As sanções antitruste, aplicadas
pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial, dependem das consequências ou repercussões
negativas no mercado analisado, sendo certo que a identificação de tais efeitos anticompetitivos reclama
acentuada expertise. STF. 1ª Turma. RE 1083955/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2019 (Info 942).
A revogação3 não tem limite temporal, mas apenas limite material, ou seja, não se fala em
revogação nos casos de atos vinculados, atos com efeitos exauridos, ato que não está na órbita de
competência, nos casos de direito adquirido, etc.
#SELIGA: mera irregularidade é vício de padronização que não compromete a validade do ato.
#ATENÇÃO: há vícios que comprometem a validade do ato, mas são sanáveis. Em geral, são vícios de forma e
competência. Podem ser convalidados. Apesar do vício sanado, o ato permanece o mesmo.
3
A seguinte assertiva foi considerada correta (TJPR – 2017): A revogação de um ato administrativo deve apresentar os
seus motivos devidamente externados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos.
#SELIGA: convalidação não se confunde com conversão (sanatória), pois neste último caso, há aproveitamento
do ato, porém, é convertido em outro mais simples.
#TABELALOVERS:
CONVERSÃO CONVALIDAÇÃO
É a transformação de um ato em outro, para Correção feita no ato, que continua a ser o mesmo.
aproveitar o que for válido. Ex tunc (retroativo).
Ex tunc (retroativo).
#SELIGA: se o vício é insanável, há de ser feita ponderação; perceber se a anulação causa mais prejuízos do
que a manutenção do ato. Se anulação gerar mais prejuízos do que a manutenção, é melhor fazer a
estabilização dos efeitos do ato (STJ). - ato nulo.
#ATENÇÃO: Extinção com reflexo em interesses individuais – tem de haver processo administrativo prévio com
contraditório e ampla defesa.
#ATENÇÃO: Divergência. Princípio da legalidade não é absoluto. Todos os princípios da ordem devem ser
respeitados. Se a anulação comprometer outros princípios da ordem jurídica, é preciso ponderar. Se a
anulação causar mais prejuízos que a manutenção do ato é melhor manter. Em nome da segurança jurídica e
boa-fé. Estabilização dos efeitos do ato. - 5 anos, conforme art. 54, da Lei nº 9784/99. Art. 54. O direito da
Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
#DEOLHONAJURIS:
*(Atualizado em 03.07.2020): No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever
os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se
comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em
procedimento administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003,
João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da
Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual
estavam sendo concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da
Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em
2012, foi aberto processo administrativo para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a
anulação da anistia política. Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por
força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99
não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE
817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956). É possível
a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT,
mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS 19.070-DF, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).
*No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão de
anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de
ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o
devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica,
recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota
técnica fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias
políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem
revistas as concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo
administrativo para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política.
Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final do art. 54
da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a
ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956).
*Não é inconstitucional medida provisória que, ao tratar sobre os órgãos vinculados à Presidência da República,
confere status de Ministro de Estado ao chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, ainda que seu titular
a ser nomeado, venha a ter foro por prerrogativa de função no STF.
Não há desvio de finalidade na edição deste ato. A norma, ao estabelecer a organização básica dos Ministérios e
demais órgãos ligados à Presidência da República, é matéria que está no âmbito decisório do chefe do Poder Executivo da
União. Não se sustenta, do ponto de vista jurídico, o argumento de que a criação da Secretaria-Geral com status de
Ministério de Estado implicaria burla aos postulados constitucionais de moralidade e probidade na Administração,
porque a criação ou extinção de ministérios e órgãos da Presidência também está no campo de decisão do chefe do
Poder Executivo. A nomeação de determinada pessoa para o cargo de Ministro de Estado é um ato subsequente e que,
em princípio, está na alçada político-administrativa do Presidente da República (art. 84), desde que presentes os
requisitos do art. 87 da CF/88. STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min.
Rosa Weber, julgados em 27/3/2019 (Info 935).
A Lei nº 13.655/2018 incluiu na LINDB os arts. 20 a 30 prevendo regras sobre segurança jurídica e
eficiência na criação e na aplicação do direito público. Vale ressaltar que o art. 25 foi vetado. A interpretação
dos arts. 20 a 30, portanto, deve ser a de que eles se aplicam para temas de direito público, mais
especificamente para matérias de Direito Administrativo, Financeiro, Orçamentário e Tributário. Tais regras
não se aplicam, portanto, para temas de direito privado. Trataremos das inovações com maior pertinência ao
tema dos atos administrativos.
A Lei nº 13.655/2018 acrescenta à LINDB o art. 20, cujo caput possui a seguinte redação:
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Resumo:
• Não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências
práticas da decisão.
• Isso vale para decisões proferidas nas esferas administrativas (ex: em um PAD), controladora (ex:
julgamento das contas de um administrador público pelo TCE) e judicial (ex: em uma ação civil pública
pedindo melhores condições do sistema carcerário).
Veja o que diz o parágrafo único do art. 20 acrescentado pela Lei nº 13.655/2018:
Art. 20. (...)
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas.
Motivação
Todas as decisões, sejam elas proferidas pelos órgãos administrativos, controladores ou judiciais,
devem ser motivadas. Isso significa que o administrador, conselheiro ou magistrado, ao tomar uma decisão,
deverá indicar os motivos de fato e de direito que o levaram a agir daquela maneira.
Ex: em uma licitação na qual se descobre que houve fraude, o administrador que decidir pela anulação do ato
deverá demonstrar que essa medida é necessária e adequada para resguardar a moralidade administrativa e
que não é possível que seja feita a convalidação (possível alternativa), considerando que houve
superfaturamento e, portanto, prejuízo ao erário, por exemplo.
Necessidade e adequação
Esses conceitos de “necessidade” e “adequação” foram emprestados do legislador da explicação que a
doutrina dá a respeito do princípio da proporcionalidade. O princípio da proporcionalidade divide-se em três
subprincípios:
a) subprincípio da ADEQUAÇÃO: no qual deve ser analisado se a medida adotada é idônea (capaz) para atingir
o objetivo almejado;
b) subprincípio da NECESSIDADE: consiste na análise se a medida empregada é ou não excessiva; e
c) subprincípio da PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: representa a análise do custo-benefício da
providência pretendida, para se determinar se o que se ganha é mais valioso do que aquilo que se perde.
Exigências de motivação
Conjugando os arts. 20 e 21 da LINDB, podemos concluir que a decisão que acarrete a invalidação de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá...
• demonstrar a necessidade e adequação da invalidação;
• demonstrar as razões pelas quais não são cabíveis outras possíveis alternativas;
• indicar, de modo expresso, suas consequências jurídicas e administrativas.
Vale ressaltar que tais exigências são aplicáveis para as esferas administrativa, controladora ou
judicial.
Regularização
A invalidação de um ato, contrato, ajuste, processo ou norma pode acarretar graves prejuízos para a
parte envolvida, para a própria Administração e também para terceiros. Pensando nisso, o parágrafo único
do art. 21 trata sobre o tema, assim como sobre a possiblidade de regularização da situação:
Art. 21 (...)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições
para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se
podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos.
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as
orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se
declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Algumas vezes demoram anos para que a Administração Pública (controle interno), o Tribunal de
Contas ou o Poder Judiciário examine a validade de um ato ou contrato administrativo (em sentido amplo) que
já tenha se completado. Nesse período, pode acontecer de o entendimento vigente ter se alterado. Caso isso
aconteça, o ato deverá ser analisado conforme as orientações gerais da época e as situações por elas regidas
deverão ser declaradas válidas, mesmo que apresentem vícios.
O Prof. Jacintho Arruda Camara, Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público, defende o
dispositivo: “A norma fortalece a ideia de irretroatividade do direito em prejuízo de situações jurídicas
perfeitas, constituídas de boa-fé, em coerência com o ordenamento à época vigente. Visa dar segurança no
longo prazo para situações jurídicas plenamente constituídas à luz de um entendimento geral válido. Para isso,
estabelece que eventual revisão da validade de ato administrativo (leia-se: ato, contrato, ajuste, processo ou
norma) deverá considerar o entendimento consolidado à época de sua produção. O dispositivo dá amparo
legal à racionalidade que deve estar presente em procedimentos de revisão de ato administrativo: a
invalidação do ato por mudança de orientação não torna ilegal situação constituída na vigência da orientação
anterior.” (http://antonioanastasia.com.br/documentos/).
De outro lado, o Ministério Público Federal, em Nota Técnica, afirma que se trata de previsão perigosa
porque amplia muito a possibilidade de “convalidação” dos atos viciados, não fazendo qualquer ressalva
quanto a ilegalidades graves: “O dispositivo, a rigor, traz mais justificativas abertas para eventual convalidação
de ato ou de contrato inexistentes ou nulos. De fato, os atos anuláveis, convalidados, seriam até aceitáveis. O
dispositivo, no entanto, abre espaço para que, considerando a passagem do tempo, a estabilidade das
relações, a “orientação geral” que não foi à época contestada, o ato inexistente ou o ato nulo se tornem
válidos. Assim, esses atos não seriam mais considerados inexistentes ou nulos com efeitos ex tunc. Esse tipo de
conduta/previsão, no entanto, fere os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência. Importante relembrar que a validação do ato administrativo depende da verificação
contrastada entre ele e a ordem jurídica, sendo que descompasso constatado deve possibilitar a reposição ao
estado de legalidade.” (https://www.conjur.com.br/dl/nota-tecnica-pgr-lindb.pdf).
O parágrafo único procura conceituar o que seriam “orientações gerais”. No entanto, a conceituação é
por demais vaga e emprega expressões abstratas e genéricas.
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público,
inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e,
quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral,
celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a
partir de sua publicação oficial.
6. IMPOSIÇÃO DE COMPENSAÇÃO
Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da
conduta dos envolvidos.
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu cabimento, sua
forma e, se for o caso, seu valor.
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre os
envolvidos.
Veja a opinião da Sociedade Brasileira de Direito Público a respeito desse artigo: “O dispositivo em
questão visa evitar que partes, públicas ou privadas, em processo na esfera administrativa, controladora ou
judicial aufiram benefícios indevidos ou sofram prejuízos anormais ou injustos resultantes do próprio processo
ou da conduta de qualquer dos envolvidos. O art. 27 tomou o cuidado de exigir que a decisão que impõe
compensação seja motivada e precedida da oitiva das partes. Há, também nesse caso, a possibilidade de
celebração de compromisso processual entre os envolvidos.” (http://antonioanastasia.com.br/documentos/)
7. CONSULTA PÚBLICA
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de
mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados,
preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta pública,
observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.
§ 2º (VETADO).
“O art. 29, ao prever a consulta pública prévia à edição de atos normativos por autoridade
administrativa, procura trazer transparência e previsibilidade à atividade normativa do Executivo. Trata-se de
medida consentânea com as melhores práticas.” (http://antonioanastasia.com.br/documentos/).
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas,
inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao
órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
DIPLOMA DISPOSITIVOS
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2015.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2014.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Método, 2016.