Relatorio Projeto Laser 2022
Relatorio Projeto Laser 2022
Relatorio Projeto Laser 2022
Agosto
2023
1. INTRODUÇÃO
A camada passiva, característica de metais não nobres e suas ligas, trata-se de uma
camada protetora de óxido metálico produzida pela oxidação espontânea ao ar ou por um pré-
tratamento químico ou eletroquímico específico ao qual o material é submetido [1]. Tal fina
camada de oxido formada, na ordem de nanômetros, é capaz de reduzir o potencial de
dissolução em diversas ordens devido a um suave aumento de potencial ativo para passivo [2].
Para o ferro puro, a camada de oxido formada não apresenta alta estabilidade, sendo
incapaz de manter-se por muito tempo [2]. Em decorrência dessa deficitária característica da
camada passiva do ferro em proteger o material da oxidação ambiente, popularizou-se o uso
dos aços inoxidáveis em diversos setores da sociedade, os quais foram uma descoberta
relativamente recente na história da metalurgia, tendo seus primeiros registros de sintetização
e patente há pouco mais de 100 anos. Tal importante liga metálica é dividida em 5 grandes
famílias básicas, sendo elas: a austenítica, ferrítica, martensítica, duplex e a dos aços inox
endurecíeis por precipitação [3]. Todas elas, apesar de diferenciarem entre si, possuem uma
fundamental característica em comum, a presença de cromo acima de ao menos 10,5% em
massa na sua composição. Esse é o elemento de maior importância a elas, o qual naturalmente
possui uma alta tendência termodinâmica de reagir com o oxigênio do ambiente, dando origem
a um finíssimo, inerte e aderente filme composto de Cr2O3 e outros óxidos em sua superfície,
impedindo que o interior do material se oxide [4]. Na figura 1 é possível ver a influência na
taxa de corrosão do aço conforme acrescenta-se Cr a sua composição.
Figura 1. Gráfico da corrosão do aço exposto durante 10 anos a uma atmosfera industrial em função do
percentual de cromo em sua composição. Fonte: https://www.infomet.com.br
Em razão de suas elevadas propriedades resistivas à corrosão, mecânicas e outras, essa
classe de metal é largamente recrutada no setor biomédico, havendo diversas normas nacionais
e internacionais que regulamentam seu uso, bem como procedimentos específicos de
tratamentos químicos e de esterilização. A exposição de tais materiais a um feixe de laser pode
acarretar em diversas alterações físico-químicas da superfície metálica, as quais variam em
função do laser utilizado, dos parâmetros de marcação adotados e da composição química do
material. Dessa forma, a interação do laser com metais vai de encontro com diversos interesses
tecnológicos, em que para o setor biomédico, uma crescente área de interesse é a marcação de
instrumentos hospitalares. Tal interesse está atrelado a um progressivo ganho recente de atenção
quanto a necessidade de transparência e traceabilidade desses utensílios, sendo essa uma forma
de melhorar o gerenciamento do armazenamento de dados a respeito de um equipamento, a
segurança dos pacientes e a qualidade dos dispositivos médicos. O padrão mais disseminado no
setor atualmente é o UDI (Identificação Única de Dispositivo), o qual trata-se de um código
alfanumérico que retém informações quanto a um dispositivo médico em específico e aos
processos envolvidos em sua fabricação [7].
Todavia, o emprego pleno da marcação a laser em metais ainda esbarra sobre algumas
limitações tecnológicas, principalmente no que tange as alterações na resistência a corrosão
deles. Caracteristicamente, para o laser de fibra que é capaz de trabalhar no regime pulsado com
comprimentos de onda com picos na casa nanométrica, altíssimas energias de pico (kW) são
atingidas, entretanto, para que marcações visíveis sejam criadas uma alta quantidade de energia
de entrada é necessária, o que tende a gerar um excessivo aquecimento local, resultando em
difusão atômica, transições de fases, alteração de propriedades físico-ópticas e remoção de
material na forma de finos vapores ou fragmentos [5, 6, 8].
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Inicialmente o objetivo do projeto esteve voltado a revisão bibliográfica a fim de estudar
o atual estado da arte de pesquisas a respeito da marcação a laser em aços inox, concentrando-
se em entender as metodologias aplicadas, bem como os resultados nelas obtidos, dando ênfase
aos parâmetros de marcação adotados, para assim ser capaz de traçar melhores e mais precisas
estratégias de marcação. Posteriormente, a metodologia dividiu-se em: Preparação
metalográfica, Estudo de parâmetros e Testes iniciais.
(a)
(b)
(c)
Figura 3. Estudo inicial de parâmetros de marcação a laser em aço inox.
Dessa forma, tais testes aliados a resultados de artigos publicados na área foram de grande
valia para o prosseguimento e aprofundamento do estudo, servindo de base para os parâmetros
posteriormente testados e que estão melhor descritos na subseção abaixo.
Onde:
(a)
5
6
7
1 2 3 4 5 6 7 8
8
jj
(b) (c)
Figura 7. Fotos em diferentes ângulos das amostras marcadas.
Infelizmente as análises em XPS de tais amostras ainda não foram concluídas a tempo
da entrega do presente relatório, em função do alto tempo demandado para os ensaios e
também da complexidade da análise dos resultados. Como foco, esse estudo permitirá a
quantificação da composição química das regiões incendidas pelo feixe de laser, revelando
compostos fundamentais que constituem a camada passiva que naturalmente recobre e
protege o material de sua oxidação interna, como óxidos de cromo e de níquel, sendo
possível verificar se houve migração dos mesmos para outras regiões.
5. CONCLUSÕES
Em suma, o presente projeto foi capaz de satisfazer alguns de seus objetivos, em que
apesar de testes em equipamentos como o XPS ainda não terem sido completamente analisados
e em decorrência disso terem ficado de fora do presente relatório, muito foi possível de se
aprender e inferir a partir dos aspectos ópticos das marcações realizadas. Além disso, o projeto
também foi capaz de promover uma boa experiencia para o bolsista nessa área da óptica
aplicada, envolvendo aspectos como preparação metalográfica de amostras e emprego de testes
a fim de promover uma base mais prática para além da leitura de artigos acadêmicos, permitindo
um melhor planejamento de experimentos cujos resultados podem vir a promover um maior
conhecimento na área.
Como perspectiva futura, a curto prazo planeja-se avaliar os resultados obtidos de modo
quantitativo via o uso dos equipamentos já mencionados, a fim de promover uma análise mais
detalhada das alterações físico-químicas produzidas pela interação da superfície do aço
inoxidável com o laser de fibra. A longo prazo, planeja-se expandir os estudos até então
realizados, tanto no que diz respeito à volume de amostras e parâmetros de marcação, de forma
a garantir uma harmonia entre marcações de colorações sólidas e visíveis com a proteção da
camada passiva, quanto a ampliação do número de ligas de aço inox trabalhadas, promovendo
uma base mais ampla e sólida de resultados via análises estatísticas.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Oihane Sanz, Francisco J. Echave, Francisca Romero-Sarria, José Antonio Odriozola,
Mario Montes, Chapter 9 - Advances in Structured and Microstructured Catalytic Reactors
for Hydrogen Production, Renewable Hydrogen Technologies, Elsevier, 2013, Pages 201-
224, ISBN 9780444563521. https://doi.org/10.1016/B978-0-444-56352-1.00009-X.
2. Ohtsuka, T. (2006). Passivation Oxide Films and Rust Layers on Iron. In: Waseda, Y.,
Suzuki, S. (eds) Characterization of Corrosion Products on Steel Surfaces., vol 7. Springer,
Berlin, Heidelberg. https://doi.org/10.1007/978-3-540-35178-8_2.
3. CALLISTER JR, William D; RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de materiais –
uma introdução. [S. l.: s. n.], 2016. ISBN 978-85-216-3236-8.
4. SILVEIRA, Rosa Maria Sales da. Caracterização da camada de óxido formada na superfície
externa das colunas de fornos de reforma a vapor. 2017. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Metalúrgica e de Materiais) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, [S. l.],
2017. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/9285/1/876942.pdf.
5. Xinxin Li, Yingchun Guan, Theoretical fundamentals of short pulse laser–metal interaction:
A review, Nanotechnology and Precision Engineering, Volume 3, Issue 3, 2020, Pages 105-
125, ISSN 2589-5540, https://doi.org/10.1016/j.npe.2020.08.001.
6. M. Pandey, B. Doloi, Parametric analysis on fiber laser marking characteristics for
generation of square shaped marked surface on stainless steel 304. 2022. ISSN 2214-7853.
Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.matpr.2021.11.169
7. Elisabetta Bianchini, Martina Francesconi, Marisa Testa, Maya Tanase, Vincenzo
Gemignani. Unique device identification and traceability for medical software: A major
challenge for manufacturers in an ever-evolving marketplace. Journal of Biomedical
Informatics, Volume 93, 2019, 103150. ISSN 1532-0464.
https://doi.org/10.1016/j.jbi.2019.103150.
8. SHANNON, Geoff; AMERICA, Amada Miyachi; FIRMENT, Gary. Laser marking for
passivation and corrosion resistance. Today‘s Medical Developments, [s. l.], 22 abr. 2016.
Disponível em: https://resource.lumentum.com/s3fs-public/2019-06/fiber-laser-marking-
passivation-corrosion.pdf.
9. J.S. Noh, N.J. Laycock, W. Gao, D.B. Wells. Effects of nitric acid passivation on the pitting
resistance of 316 stainless steel. 2000. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S0010-
938X(00)00052-4.
10. ASTM INTERNATIONAL. Regulamento, A967/A967M − 17, 01/08/2017. Standard
Specification for Chemical Passivation Treatments for Stainless Steel Parts, [S. l.], 1 ago.
2017. Disponível em:
https://cdn.websites.hibu.com/ae730a9b0ba84d6983dcc94da5929dfb/files/uploaded/indus
trial-anodizing-co-inc-A967.pdf.
11. BOIOCCHI, Fabio. A unique laser method for stainless steel marking. Metal Working
Magazine, [s. l.], 4 nov. 2019. Disponível em:
https://www.metalworkingworldmagazine.com/a-unique-laser-method-for-stainless-steel-
marking/.