Poemas Herbert
Poemas Herbert
Poemas Herbert
Brasília-DF
2021
Débora Lausani G. Santos
Brasília-DF
2021
Resumo
This work is about translating the transcendental poetry of the early 17th
Century, focusing in the work of George Herbert. He was an author of great influence
on English Literature, although, he is little-known in Brazil. Aiming in presenting an
excerpt of his work and manifest the translation act, an approach was made to the
scholars of this field; a set of selected poems were translated; and the translation
process and choices were analyzed; The result of this exercise were the production
of the poems in Portuguese and the theoretical thought essential in this field, on this
“bridge” that the other areas of knowledge frequently need to cross.
Sumário ....................................................................................................................... 5
1 - Introdução .............................................................................................................. 6
1.1 Tema .................................................................................................................. 6
1.2 Obra ................................................................................................................... 6
1.3 O Autor ............................................................................................................... 8
2 - Referencial teórico ............................................................................................... 12
2.1 Paulo Henriques Britto ..................................................................................... 12
2.2 Álvaro Faleiros ................................................................................................. 17
3 - Relatório de tradução ........................................................................................... 19
3.1 - Poemas .......................................................................................................... 21
3.1.1 - O Altar ......................................................................................................... 21
3.1.2 - A Agonia ..................................................................................................... 22
3.1.3 - Natureza ..................................................................................................... 24
3.1.4 - Amor III ....................................................................................................... 25
3.1.5 - A Morte ....................................................................................................... 26
3.1.6 - Aflição II ...................................................................................................... 27
3.1.7 - O Elixir ........................................................................................................ 28
3.1.8 - A Flor .......................................................................................................... 29
3.1.9 - Negação...................................................................................................... 31
4 - Considerações Finais ........................................................................................... 33
A escolha pela tradução literária ............................................................................ 33
5 - Referências Bibliográficas .................................................................................... 36
1 - Introdução
1.1 Tema
1.2 Obra
The date 1633 is a significant one 1633 é uma data muito importante
in the history of English poetry. In na história da poesia inglesa.
that year, two remarkable Naquele ano foram publicadas
collections of verse were duas memoráveis coletâneas
published posthumously: the póstumas: os poemas de John
poems of John Donne, and The Donne e The Temple, de George
Temple by George Herbert. Donne Herbert. Donne já era conhecido
was well known in his lifetime as a como um renomado pregador e
distinguished preacher and Dean reitor da Catedral St. Paul;
of St Paul’s Cathedral; He is now Atualmente ele é amplamente
widely admired for his witty love- admirado por suas sátiras
poetry, dynamic satires, and dinâmicas, espirituosas e poéticas
religious verse and prose. e pela prosa e verso religioso.
Herbert, by contrast, ended his life Herbert, por outro lado, partiu em
in relative obscurity as the rector relativa obscuridade, como
of a rural parish near Salisbury, sacerdote de uma paróquia rural
and some modern readers may próxima de Sallisbury, e alguns
have assigned him an equivalent leitores modernos lhe designariam
place in the landscape of English papel semelhante no cenário da
poetic achievement. Since his poesia inglesa. Considerando que
verse output consisted of just one sua produção poética consiste em
modest book containing nothing apenas um modesto volume
but devotional poetry, does contendo nada mais que poesia
Herbert’s work really deserve to devocional, será que a obra de
be placed alongside that of the Herbert merece ser colocada lado
other major names celebrated in a lado com os grandes nomes
this volume? celebrados neste volume?
Sobre ele se dizia, ao longo de todo o tempo que esteve no college, que
“toda, ou sua principal distração dos estudos, era a prática da música, na qual
se tornou um grande mestre (...) e a qual reanimava seu espírito, recompunha
seus distraídos pensamentos e elevava sua alma cansada muito acima da
terra, fazendo-o desejar as alegrias do céu”.
(...) Na dúvida entre retornar aos prazeres ilusórios da vida na corte, estudar a
divindade ou tomar parte em uma ordem religiosa, como sua querida mãe
frequentemente o persuadia (...) mas, por fim, Deus o inclinou a resolução de
servir em seu altar (...).
Herbert também fez parte da renovação poética inglesa do século XVII, pertencendo
ao grupo dos poetas metafísicos, mas seguindo um caminho próprio:
(…) (...)
Para as traduções contidas neste trabalho final, bem como no dia a dia desta
tradutora, todo um arcabouço teórico inconsciente permanece em atividade. Muitas
escolhas que agora parecem naturais se desenvolveram através dos anos de
reflexão proporcionados pelo curso. Entretanto, para fins de fundamentação deste
trabalho, serão expostos alguns dos nomes e teorias que influenciaram a construção
deste saber.
Em seguida, Britto (2012, p. 11) delimita o objeto de estudo deste livro, no caso, "a
atividades de recriar obras literárias em outros idiomas (...) – em que consiste o
trabalho do tradutor literário, que espécie de problemas enfrenta e que espécie de
soluções pode encontrar".
O autor então tece um plano de fundo para sua abordagem. Explicita o quanto a
tradução é uma atividade antiga, a princípio realizada por interpretes para possibilitar
a comunicação entre povos que falavam línguas distintas, entretanto, a reflexão
teórica a respeito "parece ter-se iniciado apenas no período romano" (p.12), quando
estes "muito se empenhavam em traduzir textos do grego para o latim"; e se
estabelecido como uma área autônoma do conhecimento apenas a partir dos anos
70.
Vila/vilarejo/aldeia Village
e assemelhados
Voltando à teoria da tradução, Britto (p. 19) observa que “nas últimas décadas os
estudos de tradução se firmaram como área de prestígio no mundo das
humanidades.” No entanto “a defesa zelosa do tradutor levou alguns teóricos a
adotar certas posições extremas (...) [que] paradoxalmente, traem alguns dos
mesmos preconceitos e mal-entendidos que apontamos antes”. Foi o estudioso
norte-americano James Holmes apud Britto (2012, p.19) quem propôs que se
abandonasse o conceito de “equivalência entre original e tradução e em vez disso se
utilizasse correspondência, um termo bem mais modesto e realista;” Holmes também
“chamou a atenção para o fato de que traduzir não é uma operação realizada sobre
sentenças, estruturas linguísticas, mas sobre o texto, que envolvem muito mais do
que simples aspectos gramaticais”.
"Um poema é um texto literário que pode ser traduzido como qualquer outro
texto literário. A diferença é que (...) em princípio, toda e qualquer
característica do texto – o significado das palavras, a divisão em versos, o
agrupamento de versos em estrofes, o número de sílabas a distribuição de
acentos em cada verso, as vogais, as consoantes, as rimas, as aliterações, a
aparência visual das palavras no papel etc. – pode ser de importância crucial.
Ou seja: no poema, tudo, em princípio, pode ser significativo; cabe ao tradutor
determinar, para cada poema, quais são os elementos mais relevantes, que,
portanto devem necessariamente ser recriados na tradução, e quais são
menos importantes e podem ser sacrificados (...). Todo ato de tradução
implica perdas." (p. 119-20).
O autor então defende que é possível fazer uma comparação entre as traduções de
uma determinada poesia, julgando “(...) os aspectos positivos e negativos de cada
uma delas (...) utilizando argumentos racionais e relativamente objetivos. Podemos
defender a superioridade de uma tradução poética em relação à outra, ou apontar
defeitos e qualidades de uma tradução, identificando características do original e das
traduções e julgando o grau de correspondência que há entre elas” (p.120-1).
Prosseguindo, Britto (p. 121-2) reafirma sua crença de que não existe uma “essência
poética” que poderia tornar a poesia intraduzível; que o poeta não é um ser humano
diferente dos demais, “necessariamente mais sensível, mais elevado ou mais
espiritualizado; (...) não creio que o poeta tenha que ser (...) mais sofrido, mais infeliz
ou mais passional do que a maioria (...) o poeta é apenas um artista que trabalha a
palavra, assim como o músico trabalha com os sons musicais e artista plástico
trabalha com elementos visuais”.
2.2 Álvaro Faleiros
Faleiros (2015) inicia sua reflexão contando como a tradução de poesia, para
muitos, é considerada uma impossibilidade: segundo a citação de Haroldo de
Campos (2010, p. 31-2) a Albertch Fabri “o que conta na obra literária é sua
estrutura, ou seja, o que faz dela um objeto estético cuja ‘sentença é absoluta’,
motivo pelo qual traduzi-la seria impossível”. Dessa forma, ele propõe (p. 290-1) que
"uma saída para o impasse é a reescrita criativa do texto ou o que Haroldo de
Campos chamou de transcriação". Também cita Roman Jacobson (1973a, p.72),
para quem "a poesia, por definição, é intraduzível. Só é possível a transposição
criativa: transposição intralingual – de uma poética a outra".
O autor então passa à busca do que se trataria a função poética, e utiliza a definição
de Jacobson (1973b, p. 127-8): esta tem como característica “o enfoque da
mensagem nela própria”. Segundo Jacobson (1973b, p. 153), essa função é
dominante nas artes verbais, sobretudo na poesia, que seria “uma província em que
o nexo interno entre som e significado se converte de latente em patente e se
manifesta da forma mais palpável e intensa”.
"Um poema é um texto literário que pode ser traduzido como qualquer outro
texto literário. A diferença é que (...) em princípio, toda e qualquer
característica do texto – o significado das palavras, a divisão em versos, o
agrupamento de versos em estrofes, o número de sílabas a distribuição de
acentos em cada verso, as vogais, as consoantes, as rimas, as aliterações, a
aparência visual das palavras no papel etc. – pode ser de importância crucial.
Ou seja: no poema, tudo, em princípio, pode ser significativo; cabe ao tradutor
determinar, para cada poema, quais são os elementos mais relevantes, que
portanto devem necessariamente ser recriados na tradução, e quais são
menos importantes e podem ser sacrificados (...) Todo ato de tradução
implica perdas."
A tradução poética suscita ainda mais a antiga e basilar especulação: o que o autor
queria dizer com certos termos ou expressões? A distância temporal também muda
o significado de muitas palavras e expressões, que frequentemente não estão na
língua materna ao tradutor, permitindo uma vastidão de sentidos na qual este
precisa se encontrar em um texto extremamente compacto e carregado de sentidos,
como se verifica na poesia.
Na tradução dos poemas, optou-se por não manter palavras na língua fonte. Já na
tradução dos textos a respeito do autor e da obra, por exemplo, optou-se por manter
certos termos na língua fonte, por exemplo: Autumnal Beauty (poema de John
Donne), pois não foi encontrada uma tradução do poema para a língua portuguesa;
Nos casos de Master of Arts e college, devido às diferenças de entre os sistemas
educacionais brasileiro e inglês, optou-se por manter o termo em inglês,
considerando o enfoque do trabalho e seu público alvo especializado.
3.1 - Poemas
Além dos trechos de tradução ou tradução e adaptação (neste caso, por meio do resumo) incluídos na primeira parte deste
trabalho, foram escolhidos para este recorte nove poemas da obra The Temple, alinhados a seguir. Ao longo deste trecho, alguns
termos foram destacados para análise das estratégias e desafios da tradução.
3.1.1 - O Altar
O smooth my rugged heart, and there Oh, suaviza meu coração áspero, e ali fora “o trabalho das mãos” de
Engrave thy rev’rend law and fear; Grava tua lei e teu temor; Deus. O termo “workmanship”
Or make a new one, since the old Ou faça um novo, pois o envelhecido produziu essa ambiguidade,
Is saplesse grown, já não tem seiva,
And a much fitter stone É uma pedra perfeita podendo se referir tanto à
To hide my dust, then thee to hold. A esconder minha poeira, e não se apegar a ti. “elevada arte” mencionada na
primeira estrofe quanto ao próprio
ser humano.
3.1.4 - Amor III
Love bade me welcome. Yet my soul drew back O Amor deu-me boas-vindas, mas minha alma retrocedeu, Na tradução do
Guilty of dust and sin. De sujeira e pecado culpada.
inglês para o
But quick-eyed Love, observing me grow slack Mas o Amor, em uma piscada, observando-me fraquejar
From my first entrance in, Desde que à entrada cheguei, português, é
Drew nearer to me, sweetly questioning, De mim se aproximou, questionou delicadamente comum as frases
If I lacked any thing. Se de algo eu tinha falta.
se tornarem mais
A guest, I answered, worthy to be here: Um convidado, eu respondi, digno de aqui estar: longas, um
Love said, You shall be he. Disse o Amor, Tu serás ele. desafio extra nos
I the unkind, ungrateful? Ah my dear, Eu, o ingrato e mau? Ah, meu amado,
I cannot look on thee. Não posso olhar para ti. textos de forma
Love took my hand, and smiling did reply, O Amor tomou minha mão, e sorrindo respondeu: compacta como
Who made the eyes but I? Quem fez os olhos, senão eu?
poesia, legenda,
Truth Lord, but I have marred them: let my shame Verdade, Senhor, mas os contaminei: deixa minha vergonha entre outros.
Go where it doth deserve. Ir aonde merece. Entretanto, em
And know you not, says Love, who bore the blame? E não sabes tu, disse o Amor, quem carregou a culpa?
diversos trechos
My dear, then I will serve. Meu amado, te servirei.
You must sit down, says Love, and taste my meat: Tens de sentar-te, disse o Amor, e provar a minha carne: desta seleção
So I did sit and eat. Então, me assentei e provei. ocorreram tanto
o alongamento
quanto o encurtamento das frases. Neste poema, o conteúdo se mostrava tão preponderante que, além do desafio de encontrar
rimas, aliterações, assonâncias, manter o controle da largura das frases, foi necessária atenção redobrada para não deixar que as
características poéticas distraíssem, mas sim revelassem ao leitor todo a emoção ali contida.
3.1.5 - A Morte
Death, thou wast once an uncouth hideous thing, Morte, uma vez foste de uma rudeza hedionda,
Nothing but bones, Nada além de ossos e pesar,
The sad effect of sadder groans: O triste efeito do mais triste pranto:
Thy mouth was open, but thou couldst not sing. Tua boca se abria, mas não podias cantar.
We looked on this side of thee, shooting short; Olhamos para este lado teu, com nossa curta visão;
Where we did find Onde encontramos
The shells of fledge souls left behind, A concha deixada para trás pela alma fugaz,
Dry dust, which sheds no tears, but may extort. Pó seco, não derrama lágrimas, mas pode extorquir.
But since our Savior’s death did put some blood Desde que a morte de nosso Salvador trouxe algum sangue
Into thy face, A tua face,
Thou art grown fair and full of grace, Tu cresceste em beleza e graça,
Much in request, much sought for as a good. Muito em demanda, buscada como um bem.
For we do now behold thee gay and glad, Pois agora te consideramos venturosa e feliz,
As at Doomsday; Como no dia Final;
When souls shall wear their new array, Serão as almas revestidas de sua nova matriz,
And all thy bones with beauty shall be clad. E teus ossos, de beleza real.
Therefore we can go die as sleep, and trust Assim, podemos morrer como a dormir, e confiar
Half that we have A metade do que temos,
Unto an honest faithful grave; A uma sepultura fiel e honesta;
Making our pillows either down, or dust. Dormindo em nosso leito de tecido ou terra.
3.1.6 - Aflição II
Teach me, my God and King, Ensina-me, meu Deus e meu Rei,
In all things Thee to see, A em todas as coisas ver-te,
And what I do in anything E em tudo que faço
To do it as for Thee. Fazê-lo para ti.
How fresh, oh Lord, how sweet and clean Que refrigério, oh Senhor, que doces e cristalinos
Are thy returns! even as the flowers in spring; São teus retornos! como a flor na primavera;
To which, besides their own demean, Para ela, apesar de seu desgosto,
The late-past frosts tributes of pleasure bring. As ultimas geadas tributos de prazeres trazem.
Grief melts away A dor desaparece
Like snow in May, Como em maio a neve,
As if there were no such cold thing. Como se não houvesse tal coisa fria.
Who would have thought my shriveled heart Quem diria: que o meu coração murcho
Could have recovered greenness? It was gone Poderia recuperar o vigor? Que evaporou
Quite underground; as flowers depart Inteiramente, subterrâneo; como as flores partem
To see their mother-root, when they have blown, Para ver sua raiz-mãe, depois de desabrocharem,
Where they together Onde juntas
All the hard weather, Toda a estação dura,
Dead to the world, keep house unknown. Mortas para o mundo, mantem anônimo abrigo.
These are thy wonders, Lord of power, Estas são tuas maravilhas, Senhor poderoso,
Killing and quickening, bringing down to hell Matar e vivificar, descer ao inferno
And up to heaven in an hour; E subir ao céu em um instante;
Making a chiming of a passing-bell. Fazer uma toada fúnebre soar.
We say amiss Dizemos mal
This or that is: É isto ou aquilo:
Thy word is all, if we could spell. A tua palavra é tudo, se a pudermos invocar.
Oh that I once past changing were, Ah, que eu já tivesse ultrapassado as mudanças,
Fast in thy Paradise, where no flower can wither! Já agora em teu Paraíso, onde nenhuma flor murcha!
Many a spring I shoot up fair, Muitas primaveras recusaria,
Offering at heaven, growing and groaning thither; Descendo do céu e avançando em seu objetivo;
Nor doth my flower Nem minha floração desejaria
Want a spring shower, Uma chuva de primavera,
My sins and I joining together. Vendo eu e meus pecados reunidos.
But while I grow in a straight line, Mas enquanto cresço em linha reta,
Still upwards bent, as if heaven were mine own, Como se o céu fosse meu, acima ainda a olhar,
Thy anger comes, and I decline: A tua ira vem, e me afasto, alerta:
What frost to that? what pole is not the zone Que gelo é esse? Não é este o polo onde
Where all things burn, Todas as coisas ardem,
When thou dost turn, Quando tornas,
And the least frown of thine is shown? E tua menor reprovação se mostra?
And now in age I bud again, E agora em muita idade floresço novamente,
After so many deaths I live and write; Depois de tantas mortes eu vivo e escrevo;
I once more smell the dew and rain, Mais uma vez sinto o cheiro do orvalho e da chuva,
And relish versing. Oh, my only light, E saboreio o verso. Oh, minha única luz,
It cannot be Não pode ser
That I am he Que eu seja aquele
On whom thy tempests fell all night. Sobre quem, toda a noite, caíam tuas tempestades.
These are thy wonders, Lord of love, Estas maravilhas são tuas, Deus de amor,
To make us see we are but flowers that glide; Nos fazes ver que somos apenas flores que deslizam;
Which when we once can find and prove, Quando chegar o momento, vamos encontrar e provar,
Thou hast a garden for us where to bide; Tens um jardim para nos guardar;
Who would be more, Quem seria tão empedernido,
Swelling through store, Ao se abraçar ao próprio orgulho,
Forfeit their Paradise by their pride. Renunciar ao paraíso.
3.1.9 - Negação
When my devotions could not pierce Quando minha devoção não pode mais
Thy silent ears, Tocar teu silencioso ouvido,
Then was my heart broken, as was my verse; Assim como meu verso, meu coração foi partido,
My breast was full of fears Meu peito se encheu de medos
And disorder. E desordem.
“As good go anywhere,” they say, “Melhor seguir a qualquer canto”, diriam,
“As to benumb “Que tornar dormente a ambos,
Both knees and heart, in crying night and day, Joelhos e coração, dia e noite a chorar,
Come, come, my God, O come! Vem, Vem, Meu Deus, Oh vem!
But no hearing.” E nada, nada escutar.”
O that thou shouldst give dust a tongue Ah, porque darias ao pó uma voz
To cry to thee, Para a ti clamar,
And then not hear it crying! All day long E depois não a ouviria chorar! Por todo o dia,
My heart was in my knee, Meu coração de joelhos,
But no hearing. Mas nada, nada se ouvia.
O cheer and tune my heartless breast, Ó anima e afina meu vazio coração,
Defer no time; Não tardes mais;
That so thy favors granting my request, Que teus favores concedam meu pedido,
They and my mind may chime, E com eles minha mente possa soar,
And mend my rhyme. E com eles minha rima concordar.
4 - Considerações Finais
Como conciliar a tradução de poesia a uma visão tão afiada a respeito da escrita?
Assim como para as lavadeiras, muitas etapas se apresentaram para construir um
texto apropriado. Desde o conhecimento aprofundado da língua fonte, o uso
consciente da “máquina de lavar” tradutória, ou seja, os ambientes e ferramentas de
auxílio à tradução, o “instinto”, na verdade um fundamento construído por um longo
contato e estudo das línguas de trabalho e da reflexão desenvolvida por nossos
antecessores. Entretanto, discordando em apenas um detalhe da observação de
Graciliano (1948, entrevista), ao declarar que “a palavra não foi feita para brilhar
como ouro falso (...) mas para dizer”, não seria o auge desse “dizer” o seu
verdadeiro brilho?
Por outro lado, Mônica Magnani Monte (1996, p.230) defende que “Na tradução de
poesia, a palavra escolhida é a que rima, é a que dá conta de assonâncias e
aliterações, é a palavra precisa, segundo nossa leitura do poema e, muitas vezes, é
a palavra precisamente ambígua, escolhida a dedo.” Não que o pensamento de
Monte se contraponha ao de Graciliano, mas o equilíbrio entre os dois se mostrou o
melhor caminho ao trabalhar esse gênero literário tão específico.
Outra percepção ao estudar teoria para este trabalho foi o quanto a linguagem dos
estudiosos e teóricos pode ser hermética, levando a dificuldades de compreensão,
mesmo em língua materna, por vezes dificuldades muito maiores do que de textos
escritos em segunda língua – por exemplo, em inglês por um falante de outro
idioma, sobre temas técnicos fora da área de domínio do tradutor. O que motiva uma
linguagem incompreensível, demasiadamente erudita ou empolada, permanece sem
resposta.
GIBBS, Jr. Raymond, W. The poetics of mind: figurative thought, language and
understanding. New York: Cambridge University Press, 1994. Resenha de NARDI,
Maria Isabel Asperti. D.E.L.T.A, v. 13, n. 2, p. 341-50, 1997.
Collings Dictionary
<www.collinsdictionary.com/>