Shakespeare em Portugues Do Brasil As Traducoes em
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net/publication/290139625
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All content following this page was uploaded by Marcia Martins on 02 May 2017.
Marcia A. P. Martins
[email protected]
Resumo: Este artigo faz, inicialmente, Abstract: The article begins with a
uma apresentação da estratégia global presentation of the global strategy
adotada por José Roberto O’Shea nas adopted by José Roberto O’Shea in his
três primeiras traduções anotadas que first three annotated translations of
realizou de peças de William Shakespeare: Shakespeare’s plays: Anthony and
Antônio e Cleópatra, Cimbeline, rei da Cleopatra; Cymbeline, King of Britain; and
Britânia e O conto do inverno. A seguir, The W inter’s Tale. Following that, a
dedica-se a examinar um aspecto formal specific formal aspect of his strategy is
dessa estratégia, que é uma métrica discussed: his use of decasyllables,
ancorada em decassílabos brancos ou unrhymed or rhymed in accordance with
rimados, de acordo com a distribuição the original. Particular emphasis is given
do original. A análise focaliza to the different ways how O’Shea
especialmente as soluções encontradas translates blank verse, the unrhymed
pelo tradutor para recriar em português iambic pentameter that is the most
o pentâmetro iâmbico branco, que é o characteristic meter of Shakespearean
metro mais característico da poesia drama. The passages analyzed indicate
dramática shakespeariana. A partir dos that in his later translations O’Shea relies
trechos analisados pode-se observar que less and less on unconventional stress
a tendência de O’Shea tem sido a de patterns. His tendency to use
recorrer cada vez menos aos metros decasyllables stressed on the fifth syllable,
pouco convencionais. Sua escolha do which he comments on his paratext to
decassílabo com acento na quinta sílaba, Antony and Cleopatra, seems to decrease
afirmada no paratexto de Antônio e in the two later translations, where the
Cleópatra, parece ter sido deixada de lado predominant forms of the decasyllable
nas duas traduções seguintes, em que are the more traditional martelo-agalopado
predominam os versos de corte mais and heroico, stressed on the sixth syllable.
tradicional, com acento tônico na sexta
sílaba, caso do martelo-agalopado e o
heroico.
Antônio e Cleópatra
Nº do Escansão Comentários
verso
1 2-6-8-10
2 2-6-7-10 Enjambement forte (“jovem / leiteira”)
3 2-6-8-10
4 3-6-8-10 Enjambement forte (“contra / os deuses”)
5 2-6-10
6 3-6-10
7 2-4-8-10
8 1-4-6-10
9 3-6-10 Enjambement forte (“cão / danado”)
10 2-5-7-10
11 2-5-7-10
12 1-5-7-10
13 2-6-10
14 3-6-10 Enjambement forte (“nobres / meninas”)
15 2-6-10
16 2-5-7-10
17 1-4-6-10
18 3-6-10
19 2-5-7-10
20 2-6-10
21 1-6-10 Diérese entre “o” e “invólucro”
22 3-6-10
23 3-6-10
24 3-5-7-10
25 2-6-8-10
O conto do inverno
Nº do Escansão Comentários
verso
1 2-6-10
2 1-3-6-8-10
3 3-6-10
4 3-7-10
5 3-7-10
6 2-4-8-10
7 2-5-7-10
8 3-6-8-10
9 2-6-10
10 3-6-10
11 2-6-(7)-10
12 4-6-8-10
13 3-6-8-10
Temos aqui três versos com a acentuação na sétima sílaba (os vv. 4,
5 e 7), sendo que um deles tem também acento na quinta (o v. 7). No mais,
temos cinco martelos-agalopados (os vv. 2, 3, 8, 10 e 13) e quatro heroicos
(1, 9, 11 e 12). Um único verso — o de número 6 — não apresenta acentuação
na sexta sílaba, e sim na quarta, devendo portanto ser classificado como
sáfico. Aqui, ao contrário do que vimos em Cimbeline, reaparecem os versos
com acento na sétima sílaba, porém apenas um também é acentuado na
quinta. Mas o que mais chama a atenção no trecho em questão é a ausência
de hiatos, sinéreses e enjambements fortes (no original, há um único enjambement,
relativamente suave, em “but I have / That honourable grief ”).
Examinemos mais uma passagem, a fala de Leontes que encerra a
peça. No original, a fala tem vinte versos e meio — o primeiro verso
começa no quarto pé do pentâmetro. A tradução é bem mais longa que o
original, com 26 versos:
Peça A&C C CI
Passagem (a) (b) (a) (b) (a) (b)
Total de vv. 19 25 18 18 13 26
Heroicos (%) 21 44 55,6 50 30,8 57,7
Martelos (%) 47,4 28 33,3 38,9 38,5 27
Sáficos (%) 0 4 0 11,1 7,7 7,7
Iâmbicos (%) 0 0 5,6 0 0 3,8
Gaitas (%) 5,3 0 5,6 0 0 3,8
Outros (%) 26,3 24 0 0 23.1 0
Ainda que talvez seja precipitado tirar conclusões com base numa
amostra tão pequena, se considerarmos de um lado os metros mais
tradicionais — heroicos, martelos-agalopados, sáficos e iâmbicos perfeitos
— e de outro as gaitas-galegas e versos de difícil classificação, parece claro
que a tendência de O’Shea tem sido a de recorrer cada vez menos aos
metros pouco convencionais. Apenas o primeiro trecho analisado de Conto
de inverno parece destoar dessa tendência; nos outros três fragmentos das
duas traduções posteriores a Antônio e Cleópatra, a preferência do tradutor
recai nos versos com icto na sexta sílaba: o martelo-agalopado e o heroico.
Sua escolha um tanto excêntrica do decassílabo com acento na quinta sílaba,
afirmada no de Antônio e Cleópatra, parece ter sido deixada de lado nas duas
traduções seguintes, em que predominam os versos de corte mais tradicional.
Nota
1
Sem contar O primeiro Hamlet - In-Quarto de 1603 (2010), que não foi contemplado na
análise por estar ainda no prelo no momento de elaboração do artigo.
Marcia A. P. MARTINS
Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Tradutora técnica e pesquisadora
responsável pela criação e atualização da base de dados "Escolha seu Shakespeare"
(http://www.dbd.puc-rio.br/shakespeare). Professora Assistente do Departamento
de Letras da PUC-Rio, na graduação (habilitação em Tradução) e pós-graduação (Estu-
dos da Linguagem).
Artigo recebido em 12 de setembro de 2011.
Aceito em 14 de outubro de 2011.
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