Redacao de Texto Academicos
Redacao de Texto Academicos
Redacao de Texto Academicos
Apoio:
Fichamento, resumo e
AULA
resenha
Sebastião Josué Votre
Vinícius Carvalho Pereira
Metas da aula
Apresentar características do fichamento, do
resumo e da resenha e promover o domínio des-
ses gêneros para o aprimoramento da competên-
cia comunicativa dos interessados na produção e
divulgação do conhecimento.
objetivos
imaginação.
Eça de Queirós
INTRODUÇÃO
INTERTEXTUALI-
DADE
É um fenômeno de
aproximação entre
dois textos, em que Figura 1: Quando destacamos passagens em um livro, quando sintetizamos suas ideias
um toma o outro ou opinamos sobre ele, estamos produzindo novos textos com base no que lemos.
como ponto de par-
http://www.sxc.hu/photo/512769
tida. Um filme adap-
tado de um roman-
ce, por exemplo, Quem tem muita coisa para ler e precisa reter porções significa-
mantém com o texto
original uma relação tivas de informação não pode só fazer uma leitura desatenta e confiar
intertextual. O resu-
mo de um capítulo
na memória. Ao estudar para uma prova, escrever uma monografia ou
de livro, elaborado preparar uma aula, é necessário destacar ou registrar de forma sucinta
por um aluno que
se prepara para um e facilmente acessível os dados mais importantes que encontra em sua
exame, também
mantém com o texto leitura. Tal forma de ler gera novos textos, que dialogam com os originais
sintetizado uma de modo I N T E R T E X T U A L .
relação intertextual,
embora de natureza Nesta aula, vamos conhecer três gêneros textuais – fichamento,
distinta: no primeiro
caso, a mudança de resumo e resenha –, produzidos a partir da leitura prévia de outro texto,
meios geralmente
a que podemos chamar texto-fonte. Isso lhes garante forte componente
exige muitas alte-
rações no processo intertextual, realizado de diferentes formas para cada um desses gêneros,
de apresentação da
história; no segundo, como veremos mais à frente. Em linhas gerais, porém, costuma-se dizer
espera-se fidelida-
de às informações
que todos os três apresentam as ideias principais do texto-fonte, embora
principais do texto difiram quanto ao grau de autonomia que o autor de cada um desses
original, sem acrés-
cimos significativos gêneros pode se permitir.
feitos pelo autor do
resumo.
170 CEDERJ
6
Enquanto o fichamento é geralmente um texto-meio, o resumo
AULA
e a resenha costumam se apresentar como textos-fim. Isso quer dizer
que o fichamento normalmente serve para a produção de algo maior,
como, por exemplo, uma monografia. Nesse caso, ao longo do processo
de elaboração do trabalho, é preciso ler muitos livros e artigos, cujas
informações, se não forem fichadas, acabam esquecidas e não incorpo-
radas à monografia. É pouco comum, no entanto, divulgar fichamentos
para outros leitores.
Já um resumo ou uma resenha são textos que constituem um fim
em si mesmos, sendo publicados em revistas ou compartilhados com
colegas. Resumos podem aparecer como textos autônomos nos cadernos
ou livros de resumos de congressos, mas normalmente estão associados
a textos maiores, que sumarizam. Resenhas são sempre textos autôno-
mos, que analisam e comentam outros textos, normalmente publicados
como livros.
Podemos pensar numa situação típica da produção acadêmica em
que uma obra passa por fichamento, com vistas à elaboração da resenha,
a qual, uma vez pronta, é resumida. Ou então, o fichamento de uma
obra pode dar origem ao seu resumo, que constitui parte integrante de
uma resenha. Há mais de uma forma de relação entre esses gêneros; o
importante é você compreender suas especificidades e perceber qual é o
mais adequado a cada situação comunicativa.
CEDERJ 171
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
Ao ler esta aula, talvez você esteja sublinhando trechos que julga
importantes ou destacando-os com uma caneta marca-texto. Isso o
ajuda a reter as informações centrais do que lê, além de facilitar futuras
consultas ao material, em busca deste ou daquele dado importante. Há
quem, além disso, utilize marcadores coloridos de página ou clipes para
acelerar ainda mais eventuais retornos a pontos específicos do texto.
Essa atividade de marcar na própria superfície do texto original o
que se considera mais relevante pode ser chamada de fichar. Além dela,
porém, há a prática de transcrever para uma folha à parte os trechos
mais importantes de determinada obra, procedimento comum quando
se trata de livros emprestados por amigos ou bibliotecas, nos quais não
se podem deixar marcas. O conjunto físico dessas transcrições também
pode ser chamado de fichamento.
De qualquer maneira, um fichamento consiste no registro das
passagens selecionadas de um texto, em que se expressam ideias e se
apresentam fatos relevantes para comprovar uma tese ou defender um
ponto de vista do autor. Para tanto, a atividade de fichar supõe leitura
e releitura do texto-fonte, com atenção para a forma e para o conteúdo
do mesmo.
Nesse sentido, o mais importante na produção de um fichamento
é a identificação das ideias centrais do texto-fonte. Vale ressaltar, porém,
que diferentes pessoas podem acrescentar/suprimir esta ou aquela passa-
gem ao grupo de trechos destacados como principais no texto original.
Isso vai depender do conhecimento que o leitor tem sobre o assunto,
bem como da finalidade a que se destina seu fichamento. Além disso, o
próprio interesse do leitor é um relevante fator de variação: em vez de
uma apreensão geral do texto, ele poderia estar em busca de informações
ou argumentos mais específicos, e nesse caso seria legítimo concentrar os
esforços de fichamento em encontrar o que está sendo procurado.
Para você ver, na prática, como se faz isso, vamos ler alguns
fragmentos de um ensaio, atentando para suas ideias centrais. Trata-se
de parte do texto “Erros e mentiras”, do biólogo Stephen Jay Gould,
publicado na Revista de Educação Pública do CECIERJ, em que as
supressões são sinalizadas por (...).
Primeiro, faça uma leitura inicial, para se familiarizar com o
conteúdo e a linguagem do ensaio. Depois, leia o texto novamente,
agora sublinhando as passagens que você julga mais importantes para
sua compreensão.
172 CEDERJ
6
Texto I
AULA
Erros e mentiras
Stephen Jay Gould
CEDERJ 173
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
174 CEDERJ
6
intelectual é uma rede complexa de fintas, maus começos e expe-
AULA
riências de tentativa e erro.
• os erros de julgamento
CEDERJ 175
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
176 CEDERJ
6
leitura, ficharmos mais do que é necessário para a compreensão do texto
AULA
e só nos darmos conta disso ao final do trabalho. Como o fichamento
eletrônico pode ser facilmente editado, acaba ficando mais limpo, ao
contrário do que costuma acontecer na cópia em papel.
Agora, vamos pôr em prática o que você acabou de aprender?
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
Texto II
Mudar mentalidades e práticas: um imperativo
Cândido Grzybowski
Sociólogo, diretor do Ibase
CEDERJ 177
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
178 CEDERJ
6
AULA
diversidade do que somos e do que sabemos fazer e criar. Mas nosso reencontro,
também, precisa ser com o meio ambiente do qual sugamos a vida e do qual somos
parte integrante.
Mas o fundamental é estarmos convencidos que outro mundo é possível. A dúvida só
retarda a ação efetiva. Pior, permite que sejamos presas fáceis de um falso discurso
sobre a necessidade de agredir o meio ambiente para desenvolver, para resolver
nossos gritantes problemas sociais. Uma coisa é encarar nossas necessidades inadi-
áveis, outra é confundir isso com apoio aos grandes conglomerados econômicos
e financeiros para que tratem do problema. Isso vai das grandes hidroelétricas ao
agrocombustível, do desmatamento para criação de bois e dos grandes desertos
verdes para celulose ao apoio às grandes empreiteiras porque criam empregos.
Nenhuma ação política de mudança poderá acontecer se nós, cidadãs e cidadãos,
não acreditarmos que ela pode, precisa e queremos que aconteça.
RESPOSTA COMENTADA
Reproduzimos a seguir o texto da Atividade 1, sublinhando os trechos
que julgamos dignos de fichamento. Trata-se da ideia central do texto,
acerca da relação entre mudança climática e o pretenso progresso,
bem como os argumentos que sustentam o posicionamento do
autor e sua conclusão acerca do tema. Lembre-se de que esta é
uma atividade que admite algumas variações de respostas, de modo
que você pode ter julgado esta ou aquela passagem digna ou não
de figurar no fichamento. De modo geral, porém, espera-se que sua
resposta não difira demasiadamente desta que propomos.
CEDERJ 179
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
180 CEDERJ
6
AULA
Impõe-se uma grande revolução de mentalidades e de sistema de valores.
Precisamos superar a ideologia do progresso e voltar a colocar no centro a
justiça social e ambiental com a ideia de bem viver para todas as pessoas.
Isto enquanto ainda é tempo, pois se não mudarmos já... amanhã será tarde.
Comecemos disputando sentidos e significados do desenvolvimento que
nos é dado como salvação. Há uma ditadura de pensamento econômico
no debate e nas decisões políticas, como se nada pudesse ser feito sem
crescimento econômico como condição prévia. Considerações ambientais
e sociais são custos na visão economicista dominante e não bases em que
assentam as próprias sociedades. Repolitizar tudo é a palavra. Trata-se de
submeter o econômico e o mercado, a ciência e as técnicas, as estratégias
de desenvolvimento a uma filosofia de vida que vê os seres humanos como
parte intrínseca do meio natural e em íntima interação com todos os seres
vivos, em sua biodiversidade, seus territórios.
Estamos diante da necessidade de um novo paradigma ético, analítico e
estratégico para iniciarmos aqui e agora a mudança. Precisamos de uma
infraestrutura mental, de uma revolução cultural, que reponha tudo no lugar,
o lugar da vida, da natureza, das ideias, de nossa enorme capacidade coletiva
de criar, de inventar. Ponhamos isto tudo a serviço de um reencontro entre
nós mesmos, seres humanos, com a diversidade do que somos e do que
sabemos fazer e criar. Mas nosso reencontro, também, precisa ser com o
meio ambiente do qual sugamos a vida e do qual somos parte integrante.
Mas o fundamental é estarmos convencidos de que outro mundo é possível.
A dúvida só retarda a ação efetiva. Pior, permite que sejamos presas fáceis
de um falso discurso sobre a necessidade de agredir o meio ambiente para
desenvolver, para resolver nossos gritantes problemas sociais. Uma coisa é
encarar nossas necessidades inadiáveis, outra é confundir isso com apoio
aos grandes conglomerados econômicos e financeiros para que tratem
do problema. Isso vai das grandes hidroelétricas ao agrocombustível, do
desmatamento para criação de bois e dos grandes desertos verdes para
celulose ao apoio às grandes empreiteiras porque criam empregos. Nenhuma
ação política de mudança poderá acontecer se nós, cidadãs e cidadãos, não
acreditarmos que ela pode, precisa e queremos que aconteça.
CEDERJ 181
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
Figura 3: Antes de tentar ler todos os livros que você imagina serem
interessantes para suas pesquisas, que tal dar uma olhada primeiro
nos resumos, para escolher melhor por onde começar?
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/656292
Quando um amigo não assiste a uma aula e pede que você lhe
conte o que foi discutido na interação com os outros colegas e o profes-
sor, você certamente não reproduz palavra por palavra as falas dessas
pessoas. Mais preocupado com o conteúdo do que com a forma do texto
original, você acaba sintetizando-o e produzindo um novo texto, agora
de sua autoria, em que usa suas próprias palavras. A esse fenômeno
PARÁFRASE chamamos de PA R Á F R A S E .
É uma forma de inter- Por meio dessa paráfrase, você conseguiu reproduzir os pontos
textualidade muito
presente no dia a dia centrais do texto-fonte para seu interlocutor, atendendo às necessida-
das pessoas. Quando
alguém reconta algo
des dele e utilizando sua própria forma de falar. Isso que você fez foi
que viu ou leu, man- um resumo, gênero textual muito comumente adotado como forma de
tendo o conteúdo do
texto original, mas estudo pelos alunos.
reescrevendo-o com
as próprias palavras, Tal gênero também tem grande relevância nas atividades acadê-
diz-se que há uma mica e profissional, pois quase sempre textos um pouco mais longos
relação intertextual
do tipo paráfrase dessas áreas são acompanhados de um resumo. Este permite uma
entre o texto origi-
nal e o produzido a rápida apreciação geral de seu conteúdo, o que ajuda a guiar a leitura
partir dele. Trata-se
e mantém o leitor atento para os pontos principais do texto. Algumas
de uma maneira dife-
rente de dizer algo publicações, a exemplo das revistas acadêmicas, põem o resumo antes
que já foi dito.
do corpo do texto; outras, no final. No caso de monografias de fim de
182 CEDERJ
6
curso, dissertações e teses, é comum que o resumo conste no início. O
AULA
resumo dá visibilidade às ideias do texto a que se refere e favorece a
avaliação das mesmas pelas pessoas interessadas em pesquisar sobre o
tópico do trabalho que está resumido.
Também é interessante notar que o resumo compartilha algumas
propriedades do fichamento, como o caráter intertextual e a síntese dos
pontos principais do texto-fonte. No entanto, um resumo não pode ser
composto por meras transcrições do texto original, sendo necessária a
reelaboração do mesmo com suas próprias palavras. Nesse sentido, ele
pode ser considerado um texto mais autônomo.
Além disso, se um fichamento é composto por uma sequência de
transcrições entre as quais não há marcas de coesão explícitas, um resumo
deve primar pela ligação clara entre as ideias, utilizando mecanismos
como os estudados na Aula 3. Até mesmo porque o caráter sintético do
resumo torna-o um texto de grande densidade, em que muitas ideias
importantes são apresentadas em poucas frases. Para que isso não se
torne um obstáculo à leitura, é preciso atentar especialmente para a
coesão, a coerência e a clareza nesse gênero.
As instituições que promovem congressos, conferências, simpósios
e seminários exigem resumos densos, que são avaliados por pareceristas,
para aceitar ou rejeitar as contribuições de seus membros. Portanto,
tomam o resumo como amostra da forma e do conteúdo dos textos que
neles circulam. Entre os legados acadêmicos desses eventos, sobressaem os
cadernos de resumos. Os órgãos de financiamento normalmente também
exigem que os projetos de pesquisa sejam precedidos por um resumo,
que é o primeiro item a ser avaliado pelos pareceristas e, para determi-
nados tipos de projeto, é a peça básica a ser avaliada. Quanto às suas
dimensões, podemos considerar que o resumo convencional varia entre
um mínimo de 60, uma média de 100 e um máximo de 150 palavras,
enquanto o resumo expandido pode conter até 500 palavras.
A estrutura do resumo de artigos científicos é altamente padroni-
zada. Ele deve conter informações precisas sobre o contexto da área de
investigação em que se deu a produção do trabalho, seus objetivos, o
corpus utilizado, a metodologia de coleta e análise, a orientação teórica
do estudo e os principais resultados, contribuições ou retornos. O tema
do trabalho transparece no título e nas palavras-chave.
CEDERJ 183
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
Texto III
A linguagem como instrumento do poder: agressões e ofensas verbais de gêne-
ro nas cantigas satíricas medievais e contemporâneas
Resumo
A atitude de escárnio contra as pessoas que destoam do padrão
está naturalizada na cultura luso-brasileira. Os movimentos em
prol da igualdade e plenitude dos direitos humanos convivem
com uma lacuna no conhecimento da origem e permanência dessa
naturalização, a qual precisam compreender, para lidar com esse
imaginário de escárnio, agressão e violência, que desqualificam e
humilham os diferentes. Na cultura escolar, o ensino fundamental
defronta-se com o clímax do gênero discursivo do escárnio. O
objetivo deste estudo é identificar e analisar as manifestações de
escárnio na tradição cultural luso-brasileira, com base nas canti-
gas galego-portuguesas do século XIII e nas canções de zombaria
184 CEDERJ
6
contemporâneas. Utiliza-se o paradigma indiciário de Ginzburg
AULA
para detectar e interpretar as representações e o imaginário
social que orientam a produção do gênero escárnio. A hipótese
do estudo é que os autores se utilizam do escárnio para legitimar
e autorizar a discriminação e a zombaria contra as pessoas que
estão fora do padrão predominante em cada época, com foco em
gênero, idade, padrão corporal, estética e enquadramento moral.
O corpus inicial se compõe de 20 cantigas de escárnio e maldizer
e 20 cantigas contemporâneas no mesmo gênero, podendo ser
ampliado, se não obtivermos saturação. O método de análise dos
textos prioriza o levantamento das construções e expressões mais
frequentes, com atenção para os efeitos de sentido que resultam
do uso dessas expressões. Procura-se verificar a proporção em
que as expressões do passado se mantêm e se parafraseiam nas
manifestações contemporâneas do gênero discursivo escolhido. A
expectativa é que o estudo permita uma concepção alargada, de
base empírica, sobre o espírito zombeteiro da cultura do escár-
nio, favorecendo a produção de materiais de ensino da língua e
da cultura que privilegiem a reflexão e a discussão sobre pontos
críticos do imaginário brasileiro, em que precisamos reinventar
a tradição.
Palavras-chave: discriminação, cultura medieval, cultura contem-
porânea, zombaria, cantigas de escárnio e maldizer.
CEDERJ 185
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
186 CEDERJ
6
O corpus inicial se compõe de 20 cantigas de escárnio e maldizer
AULA
e 20 cantigas contemporâneas no mesmo gênero, podendo ser
ampliado, se não obtivermos saturação com essa mostra.
CEDERJ 187
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
188 CEDERJ
6
Passemos agora às características básicas da resenha, com ênfase
AULA
para a modalidade conhecida como resenha crítica. O objetivo desse tipo
de texto é orientar o leitor em relação à relevância da obra resenhada
e oferecer uma primeira análise crítica do seu conteúdo e da forma de
apresentá-lo. Portanto, dessa resenha pode resultar a sugestão de que o
leitor leia a obra. Quando estamos buscando livros para uma determi-
nada pesquisa, é muito comum, por exemplo, dar uma olhada prévia
em opiniões de resenhistas sobre essas obras, a fim de termos indicações
de quais textos servem melhor aos nossos propósitos. Porém, nesse sen-
tido é importante buscar resenhistas sobre os quais você tenha alguma
referência: esse é um trabalho que exige muita responsabilidade e com-
petência, já que envolve o risco de condenar ao esquecimento uma boa
obra ou, ao contrário, fazer alguém acreditar que seja imprescindível
uma leitura dispensável.
Como vários outros gêneros acadêmicos, a resenha propriamente
dita é precedida por uma parte textual e seguida de uma parte pós-textual.
Na parte pré-textual, constam o título da resenha (em geral, distinta do
título da obra resenhada) e a autoria da resenha. Em seguida, os dados
da obra resenhada: título, local de publicação, editora, ano, edição,
número de páginas e volumes, se houver.
Normalmente, na parte textual o resenhista:
• apresenta as credenciais do resenhado, sua instituição, formação
acadêmica e produção;
• destaca as conclusões a que o autor da obra chegou, ou que o
resenhista identificou;
• descreve de forma sucinta os capítulos ou partes em que se divide
a obra;
• expõe os métodos de coleta e análise dos dados, os instrumentos
de coleta e organização do corpus, o modo de apresentação dos
resultados e as conclusões;
• indica a referência teórica do trabalho, com a corrente de pen-
samento a que se filia e os autores privilegiados;
• avalia a obra a partir do ponto de vista da coerência entre a tese
central e a sua sustentação, bem como a partir do emprego de
métodos e técnicas específicas;
CEDERJ 189
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
190 CEDERJ
6
É interessante também, logo no início do texto, sinalizar qual é o
AULA
público-alvo a que o texto-fonte se destina. Assim, antes mesmo de per-
correr toda a resenha, o leitor já é capaz de avaliar se a obra ali analisada
é do seu interesse e atende as suas expectativas. Observe que o resenhista
foi bastante preciso neste caso, indicando as áreas do conhecimento a que
o livro se refere majoritária e minoritariamente, bem como as diferentes
ocupações que os interessados no livro podem ter.
CEDERJ 191
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
Por tudo isto, parece razoável admitir-se que a Teoria dos con-
juntos deve estar na base de todas as ciências, pelo menos em
princípio. Surpreendentemente, as diversas ciências naturais e
humanas normalmente se desenvolvem sem se dar conta de seu
caráter conjuntista. O grande mérito da obra de Abe & Papavero
é o de resgatar a relevância das ideias fundamentais da Teoria dos
conjuntos para a Biologia comparada e, em geral, para a Biolo-
gia, o que significa que outras áreas da ciência também tirariam
proveito de uma abordagem conjuntista.
192 CEDERJ
6
Uma boa resenha deve também apresentar a distribuição geral dos
AULA
capítulos da obra, o que permite uma visão panorâmica dos assuntos
abordados e sua organização. Quando você tiver de escrever sua própria
resenha, lembre-se de que tal informação pode ser facilmente recuperada
no sumário do livro.
Por fim, uma resenha deve ser arrematada com uma apreciação
geral da obra, bem como uma recomendação (ou não) de leitura. No
caso que estamos analisando, a conclusão poderia ter sido mais desen-
volvida, mas sua brevidade não compromete o valor do texto nem a
realização de seu objetivo: avaliar a obra Teoria Intuitiva dos Conjuntos,
recomendando sua leitura.
Como você pôde ver, a resenha é um texto ainda mais autônomo
do que o resumo, uma vez que, além da paráfrase das ideias centrais do
texto-fonte, o resenhista deve incluir e justificar suas opiniões acerca da
CEDERJ 193
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
RESPOSTA COMENTADA
Note que o parâmetro mais geral para a correção de seu texto já
está indicado no comando da atividade, em que se listam as partes
constituintes do gênero resenha. No entanto, como nesta aula todas
as atividades propostas demandam alguma forma de produção
textual individual, será necessário contactar seu tutor para você ter
uma avaliação mais precisa do seu trabalho. Discuta com ele que
procedimento será adotado para entrega/correção dos trabalhos
produzidos para esta aula.
CONCLUSÃO
194 CEDERJ
6
RESUMO
AULA
Nesta aula, você estudou o fichamento, o resumo e a resenha, gêneros marcados
por um forte caráter intertextual: todos eles, em diferentes medidas, reproduzem
de forma sintética as ideias centrais de um texto-fonte.
O fichamento geralmente é composto por uma sucessão de transcrições de pas-
sagens do texto-fonte, com a devida anotação das páginas de onde tais trechos
foram retirados. Esse gênero normalmente serve para facilitar futuras consultas à
obra fichada, de modo que se torne mais fácil recuperar determinadas informações
julgadas mais importantes. Há inclusive alunos que ficham livros para estudar para
as provas, pois, às vésperas do exame, é mais fácil e rápido consultar as anotações
próprias do que reler toda a bibliografia exigida.
O resumo é um texto um pouco mais autônomo, uma vez que as ideias principais
do texto-fonte não são meramente transcritas, mas sim parafraseadas. Isso quer
dizer que o autor do resumo reproduz com suas próprias palavras o que conside-
rou mais relevante da obra lida. Outra diferença central entre o fichamento e o
resumo é que, enquanto aquele é mais esquemático, geralmente apresentado na
forma de tópicos, este é estruturado com mais coesão entre as partes. Um resumo
tende a ser um texto não segmentado em fragmentos, mas sim escrito com frases
que se conectam e completam de forma harmônica.
Por fim, a resenha é o mais autônomo dos três gêneros vistos nesta aula. Além
de parafrasear as ideias centrais do texto-fonte, como faz o resumo, a resenha é
composta por uma avaliação a respeito do texto resenhado. Um resenhista, além
de sintetizar o que leu, posiciona-se a respeito do texto de que fala, indicando-o
ou não a outros leitores.
Na próxima aula, você vai estudar os gêneros relatório e projeto, muito presentes
nas esferas profissional e acadêmica. Sempre que alguém executa um trabalho ou
pesquisa, tal atividade costuma ser acompanhada de um planejamento e algumas
análises, parciais e finais, do processo. É por meio dos relatórios e projetos que
as pesquisas ganham corpo e reconhecimento, promovendo a construção do
conhecimento.
CEDERJ 195