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Redação de Textos Acadêmicos

Volume Único Sebastião Josué Votre


Vinícius Carvalho Pereira

Apoio:
Fichamento, resumo e

AULA
resenha
Sebastião Josué Votre
Vinícius Carvalho Pereira

Metas da aula
Apresentar características do fichamento, do
resumo e da resenha e promover o domínio des-
ses gêneros para o aprimoramento da competên-
cia comunicativa dos interessados na produção e
divulgação do conhecimento.
objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja


capaz de:
1. avaliar e produzir fichamentos a partir do
reconhecimento das características específicas
desse gênero;
2. avaliar e produzir resumos a partir do
reconhecimento das características específicas
desse gênero;
3. avaliar e produzir resenhas a partir do
reconhecimento das características específicas
desse gênero.
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

A arte é um resumo da natureza feito pela

imaginação.

Eça de Queirós

INTRODUÇÃO

INTERTEXTUALI-
DADE

É um fenômeno de
aproximação entre
dois textos, em que Figura 1: Quando destacamos passagens em um livro, quando sintetizamos suas ideias
um toma o outro ou opinamos sobre ele, estamos produzindo novos textos com base no que lemos.
como ponto de par-
http://www.sxc.hu/photo/512769
tida. Um filme adap-
tado de um roman-
ce, por exemplo, Quem tem muita coisa para ler e precisa reter porções significa-
mantém com o texto
original uma relação tivas de informação não pode só fazer uma leitura desatenta e confiar
intertextual. O resu-
mo de um capítulo
na memória. Ao estudar para uma prova, escrever uma monografia ou
de livro, elaborado preparar uma aula, é necessário destacar ou registrar de forma sucinta
por um aluno que
se prepara para um e facilmente acessível os dados mais importantes que encontra em sua
exame, também
mantém com o texto leitura. Tal forma de ler gera novos textos, que dialogam com os originais
sintetizado uma de modo I N T E R T E X T U A L .
relação intertextual,
embora de natureza Nesta aula, vamos conhecer três gêneros textuais – fichamento,
distinta: no primeiro
caso, a mudança de resumo e resenha –, produzidos a partir da leitura prévia de outro texto,
meios geralmente
a que podemos chamar texto-fonte. Isso lhes garante forte componente
exige muitas alte-
rações no processo intertextual, realizado de diferentes formas para cada um desses gêneros,
de apresentação da
história; no segundo, como veremos mais à frente. Em linhas gerais, porém, costuma-se dizer
espera-se fidelida-
de às informações
que todos os três apresentam as ideias principais do texto-fonte, embora
principais do texto difiram quanto ao grau de autonomia que o autor de cada um desses
original, sem acrés-
cimos significativos gêneros pode se permitir.
feitos pelo autor do
resumo.

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Enquanto o fichamento é geralmente um texto-meio, o resumo

AULA
e a resenha costumam se apresentar como textos-fim. Isso quer dizer
que o fichamento normalmente serve para a produção de algo maior,
como, por exemplo, uma monografia. Nesse caso, ao longo do processo
de elaboração do trabalho, é preciso ler muitos livros e artigos, cujas
informações, se não forem fichadas, acabam esquecidas e não incorpo-
radas à monografia. É pouco comum, no entanto, divulgar fichamentos
para outros leitores.
Já um resumo ou uma resenha são textos que constituem um fim
em si mesmos, sendo publicados em revistas ou compartilhados com
colegas. Resumos podem aparecer como textos autônomos nos cadernos
ou livros de resumos de congressos, mas normalmente estão associados
a textos maiores, que sumarizam. Resenhas são sempre textos autôno-
mos, que analisam e comentam outros textos, normalmente publicados
como livros.
Podemos pensar numa situação típica da produção acadêmica em
que uma obra passa por fichamento, com vistas à elaboração da resenha,
a qual, uma vez pronta, é resumida. Ou então, o fichamento de uma
obra pode dar origem ao seu resumo, que constitui parte integrante de
uma resenha. Há mais de uma forma de relação entre esses gêneros; o
importante é você compreender suas especificidades e perceber qual é o
mais adequado a cada situação comunicativa.

FICHAMENTO: APRENDENDO A SELECIONAR

Figura 2: Quem não tem um livro de estimação, todo marcado,


sublinhado, cheio de clipes e post-its?
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/948188

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Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

Ao ler esta aula, talvez você esteja sublinhando trechos que julga
importantes ou destacando-os com uma caneta marca-texto. Isso o
ajuda a reter as informações centrais do que lê, além de facilitar futuras
consultas ao material, em busca deste ou daquele dado importante. Há
quem, além disso, utilize marcadores coloridos de página ou clipes para
acelerar ainda mais eventuais retornos a pontos específicos do texto.
Essa atividade de marcar na própria superfície do texto original o
que se considera mais relevante pode ser chamada de fichar. Além dela,
porém, há a prática de transcrever para uma folha à parte os trechos
mais importantes de determinada obra, procedimento comum quando
se trata de livros emprestados por amigos ou bibliotecas, nos quais não
se podem deixar marcas. O conjunto físico dessas transcrições também
pode ser chamado de fichamento.
De qualquer maneira, um fichamento consiste no registro das
passagens selecionadas de um texto, em que se expressam ideias e se
apresentam fatos relevantes para comprovar uma tese ou defender um
ponto de vista do autor. Para tanto, a atividade de fichar supõe leitura
e releitura do texto-fonte, com atenção para a forma e para o conteúdo
do mesmo.
Nesse sentido, o mais importante na produção de um fichamento
é a identificação das ideias centrais do texto-fonte. Vale ressaltar, porém,
que diferentes pessoas podem acrescentar/suprimir esta ou aquela passa-
gem ao grupo de trechos destacados como principais no texto original.
Isso vai depender do conhecimento que o leitor tem sobre o assunto,
bem como da finalidade a que se destina seu fichamento. Além disso, o
próprio interesse do leitor é um relevante fator de variação: em vez de
uma apreensão geral do texto, ele poderia estar em busca de informações
ou argumentos mais específicos, e nesse caso seria legítimo concentrar os
esforços de fichamento em encontrar o que está sendo procurado.
Para você ver, na prática, como se faz isso, vamos ler alguns
fragmentos de um ensaio, atentando para suas ideias centrais. Trata-se
de parte do texto “Erros e mentiras”, do biólogo Stephen Jay Gould,
publicado na Revista de Educação Pública do CECIERJ, em que as
supressões são sinalizadas por (...).
Primeiro, faça uma leitura inicial, para se familiarizar com o
conteúdo e a linguagem do ensaio. Depois, leia o texto novamente,
agora sublinhando as passagens que você julga mais importantes para
sua compreensão.

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Texto I

AULA
Erros e mentiras
Stephen Jay Gould

Fiorello La Guardia pode estar destinado a entrar para a história


basicamente como o padrinho de um aeroporto. Mas foi um grande
prefeito de Nova York nos anos duros da Depressão e da Segunda
Guerra. (...) Também possuía em abundância a característica que
apreciamos muito, mas raras vezes encontramos em pessoas que
assumem uma posição de destaque – a disposição de admitir seus
erros ocasionais e inevitáveis. Em sua tirada mais famosa, La Guar-
dia disse certa vez: "Quando eu erro, erro bem!” (...)
Nenhuma das grandes obras da ciência jamais foi isenta de erro,
e qualquer obra mais extensa ou revolucionária contém necessa-
riamente alguns dos "erros bons" de La Guardia. O progresso
intelectual é uma rede complexa de fintas, maus começos e expe-
riências de tentativa e erro. A Origem das espécies, de Darwin,
por exemplo, apresenta inúmeros erros salpicando sua massa
oceânica de validade reformadora. Os erros são tão frequentes, e
tão variados, que podemos até tentar dividi-los em categorias.
Primeiro, Darwin comete vários erros factuais. Aqui, vou deixar
de lado os erros entediantes e cotidianos cometidos no registro de
informações, concentrando-me nos erros muito mais interessantes
baseados em previsões feitas a partir de premissas teóricas que se
revelaram falsas ou exageradas. O apego de Darwin ao gradua-
lismo, por exemplo, levou-o a fazer duas conjeturas portentosas
e extraordinariamente erradas: 1) afirmou que já se tinham pas-
sado mais de 300 milhões de anos desde o "desnudamento do
Weald" (a erosão da região, com cerca de sessenta quilômetros de
largura, situada entre Chalk Downs do norte e do sul, no sul da
Inglaterra), baseado em sua convicção de que a erosão geológica
se dá aos poucos, grão por grão. Mas a alteração não precisa pro-
ceder com tanta lentidão e nem de forma tão contínua, e o tempo
transcorrido foi de um terço a um quinto da generosa avaliação
de Darwin. 2) A vida animal multicelular começa abruptamente,
do ponto de vista geológico, na explosão do Cambriano, há
cerca de 550 milhões de anos. Darwin, que rejeitava a rapidez
biológica com mais energia ainda que a variedade geológica,
previu que a "explosão" devia ter sido ilusória, e que a história
pré-cambriana da vida animal multicelular devia ter pelo menos
mais outros 570 milhões de anos de sucesso. Dispomos hoje de
um excelente registro da vida pré-cambriana – e nenhum animal
multicelular aparece até pouco antes da explosão do Cambriano.
Uma segunda categoria podia ser rotulada de erros de julgamento:

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Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

trata-se, na verdade, de erros de cálculo político. Darwin, que era


muito esperto, cometeu poucos erros desta ordem, mas incorreu
ocasionalmente neles ao dar rédeas a especulações insensatas num
tratado que devia sua força à âncora de sobriedade que o prendia
aos fatos, evitando as conjeturas fantasiosas das obras anteriores
sobre a evolução. (...)
Uma terceira categoria, que talvez seja a mais reveladora, com-
preende os erros que a maioria de nós não reconhece porque nós
próprios também costumamos cometê-los. Vamos chamá-los de
erros da convenção impensada. Incluo aqui a repetição passiva de
suposições culturais generalizadas feita de modo tão automático,
ou tão profunda e silenciosamente incorporada à estrutura de um
argumento, que mal conseguimos detectar sua presença. (...)
Basta lembrar a forma como Darwin trata a evolução dos pulmões
dos vertebrados e a relação entre eles e as bexigas natatórias dos
peixes teleósteos – um exemplo que Darwin obviamente consi-
derava importante para sua argumentação mais geral, porque
repete a história meia dúzia de vezes na Origem. Darwin começa
assinalando, corretamente, que os pulmões e as bexigas natatórias
são órgãos homólogos – versões diferentes da mesma estrutura
básica, assim como as asas dos morcegos e as patas dianteiras dos
cavalos têm uma origem comum, indicada pelo arranjo similar
dos ossos em partes do corpo que hoje atuam de maneira tão
diferente. Mas Darwin extrai uma falsa inferência da homologia.
(3) Afirma, com uma confiança que vai aumentando e acaba se
transformando em certeza, que os pulmões se desenvolveram a
partir das bexigas natatórias:
Todos os fisiologistas afirmam que a bexiga natatória é homóloga
(...), em posição e estrutura, aos pulmões dos animais vertebrados
superiores; portanto, não me parece haver muita dificuldade em
acreditar que a seleção natural tenha de fato convertido uma
bexiga natatória num pulmão, ou órgão usado exclusivamente
para a respiração. Na verdade, não duvido que todos os animais
vertebrados dotados de verdadeiros pulmões sejam descendentes
de um antigo protótipo, do qual nada sabemos, dotado de um
aparelho de flutuação ou bexiga natatória.
(...)
O primeiro procedimento a ser adotado para fichar tal texto é
identificar a tese central defendida pelo autor em sua argumen-
tação. Após uma introdução que situa, por meio de uma notória
citação, o tema do ensaio, a tese pode ser destacada, logo no
segundo parágrafo:
Nenhuma das grandes obras da ciência jamais foi isenta de erro,
e qualquer obra mais extensa ou revolucionária contém necessa-
riamente alguns dos "erros bons" de La Guardia. O progresso

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intelectual é uma rede complexa de fintas, maus começos e expe-

AULA
riências de tentativa e erro.

A seguir, é digno de fichamento o trecho que define o exemplo utilizado


pelo autor, ao longo de todo o texto, para sustentar seu posicionamento acerca
da importância do erro:

A Origem das espécies, de Darwin, por exemplo, apresenta


inúmeros erros salpicando sua massa oceânica de validade refor-
madora.

Tal exemplo, no entanto, desdobra-se em três outros tópicos, com ainda


mais subdivisões, cujas passagens fichadas apresentamos a seguir:
• os erros factuais (exemplificados pelas considerações acerca do desnu-
damento do Weald e do início da vida multicelular)

Primeiro, Darwin comete vários erros factuais (...) erros muito


mais interessantes baseados em previsões feitas a partir de pre-
missas teóricas que se revelaram falsas ou exageradas

1) afirmou que já se tinham passado mais de 300 milhões de


anos desde o ‘desnudamento do Weald’” (...), baseado em sua
convicção de que a erosão geológica se dá aos poucos, grão por
grão. Mas a alteração não precisa proceder com tanta lentidão
e nem de forma tão contínua, e o tempo transcorrido foi de um
terço a um quinto da generosa avaliação de Darwin.

2) (...) A vida animal multicelular começa abruptamente, do ponto


de vista geológico, na explosão do Cambriano, há cerca de 550
milhões de anos. [Porém] Darwin (...), previu que a "explosão"
devia ter sido ilusória, e que a história pré-cambriana da vida
animal multicelular devia ter pelo menos mais outros 570 milhões
de anos de sucesso

• os erros de julgamento

Uma segunda categoria podia ser rotulada de erros de julgamento:


trata-se, na verdade, de erros de cálculo político. Darwin, que era
muito esperto, cometeu poucos erros desta ordem, mas incorreu
ocasionalmente neles ao dar rédeas a especulações insensatas num
tratado que devia sua força à âncora de sobriedade que o prendia
aos fatos, evitando as conjeturas fantasiosas das obras anteriores
sobre a evolução.

• os erros de convenção impensada (exemplificados pelas considerações


acerca dos órgãos homólogos de alguns peixes e mamíferos)

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Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

Uma terceira categoria, que talvez seja a mais reveladora, com-


preende os erros que a maioria de nós não reconhece porque nós
próprios também costumamos cometê-los.

Darwin extrai uma falsa inferência da homologia. (3) Afirma, com


uma confiança que vai aumentando e acaba se transformando em
certeza, que os pulmões se desenvolveram a partir das bexigas
natatórias.

Veja que, em nosso fichamento, destacamos a tese do texto e os


argumentos que a sustentam. Mas, e você? O que destacou como mais
importante? Lembre-se de que, embora haja uma variação possível de
respostas, sua seleção de passagens não pode diferir demasiadamente
dessa que propomos.
Outra dica importante para identificar os pontos centrais de um
texto é atentar para o tópico frasal de cada parágrafo, como vimos na
aula 2. Em linhas gerais, pode-se dizer que cada parágrafo de um texto
apresenta uma ideia central, que normalmente está entre as mais impor-
tantes do texto como um todo.
Ainda no que diz respeito ao texto que acabamos de ler, caso você
tivesse de transcrever os trechos destacados para uma folha à parte, seria
interessante fazê-lo na forma de tópicos, e não de um texto “corrido”.
Isso facilita consultas posteriores ao fichamento. Ademais, caso você
esteja sintetizando as ideias de um livro, é importante anotar, ao final
de cada transcrição, a página de onde ela foi retirada. Do contrário,
torna-se muito lento e pouco prático o processo de localização dessas
passagens no original.
Antigamente, era muito comum os professores exigirem dos alunos
que fichamentos fossem feitos em folhas de papel especiais, chamadas de
fichas. Estas tinham um tamanho especial, próprio para serem arquivadas
em compridas gavetas, a fim de organizar a informação e garantir sua
preservação. Hoje, porém, com a facilidade ensejada pela informática,
torna-se mais comum digitar os fichamentos, que podem ser armazenados
e organizados em pastas digitais.
Na prática, dadas as facilidades de copiar e colar, é inclusive mais
fácil fichar um texto digitado, o que não impede, contudo, um bom tra-
balho de fichamento de texto impresso. Todavia, é comum, no curso da

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leitura, ficharmos mais do que é necessário para a compreensão do texto

AULA
e só nos darmos conta disso ao final do trabalho. Como o fichamento
eletrônico pode ser facilmente editado, acaba ficando mais limpo, ao
contrário do que costuma acontecer na cópia em papel.
Agora, vamos pôr em prática o que você acabou de aprender?

ATIVIDADE

Atende ao Objetivo 1

1. Elabore um fichamento das passagens que considera mais relevantes


do texto a seguir, produzido pelo sociólogo Cândido Grzybowski. Porém,
primeiro faça uma leitura inicial para se familiarizar com a forma e o con-
teúdo do texto; só depois da segunda leitura destaque o que julga mais
importante.

Texto II
Mudar mentalidades e práticas: um imperativo
Cândido Grzybowski
Sociólogo, diretor do Ibase

A crise climática é a consequência mais evidente, mais imediata e mais ameaçadora


do modelo industrial, produtivista e consumista em que se baseia a nossa economia e
o modo de vida que levamos. Não se trata de algo conjuntural, mas de esgotamento
de um sistema que tem como motor o ter e o acumular, ou seja, um desenvolvimento
que tem como pressuposto básico o crescer, crescer mais, sem parar, sem respeitar
limites naturais, tudo para concentrar riquezas. Como condição para desenvolver,
não importa a destruição ambiental que possa provocar, nem que a geração de
riqueza seja, ao mesmo tempo, geração de pobreza, exclusão social, desigualdades
de todo tipo. O aquecimento global e a crise do clima são, por isso, expressões de
uma inviabilidade intrínseca deste desenvolvimento. Tanto de um ponto de vista
ambiental como social, não dá para tornar sustentável tal desenvolvimento.
A crise está aí. Não a vê quem não quer. Não adianta pensar que dá para se safar,
que não é com a gente. O clima, como bem comum, tem a virtude de ser cosmo-
polita, para o bem e para o mal. Só que a mudança climática resultante do tipo de
economia que temos, em especial sua base energética, afeta e afetará particular-
mente os 80% da humanidade que pouco ou nada receberam deste modelo de
desenvolvimento.
Estamos diante de uma crise civilizatória, é isto que precisamos reconhecer para
poder reagir enquanto ainda é tempo. A lógica do desenvolvimento, gestada com a
revolução industrial, tornou-se o motor econômico, político e cultural do mundo nos
últimos séculos. Não se trata mais de um embate nos velhos termos – capitalismo
x socialismo – no marco da civilização industrial e seus desdobramentos. Estamos
diante da crise da própria civilização industrial e de seus modelos de organização

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Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

econômica e política – a dominante capitalista e a desafiante e subalterna socialista


– para a sociedade. São os fundamentos desse tipo de civilização que se esgotaram.
Literalmente, derreteram, foram consumidos pelas suas próprias contradições. E
ameaçam o planeta inteiro.
Estamos diante de uma urgência e uma radicalidade: aqui e agora, precisamos
transformar nossos ideais, modos de pensar e os sistemas políticos, econômicos e
técnicos que sustentam o desenvolvimento. A ruptura tem de ser total, de ponta-
cabeça. Passar de uma civilização industrial e produtivista para uma biocivilização,
comprometida com a vida no planeta, implica verdadeira revolução.
A ruptura é espinhosa. O desenvolvimento está incrustado na gente, é um valor.
Desenvolvimento lembra imediatamente progresso. E quem não quer progresso? O
problema é que deixamos de discutir a qualidade de vida que nos traz o progresso.
Quanto de lixo, poluição e destruição estão associados a este progresso!
Será que para viver bem precisamos sempre de mais? Ter mais e mais bens, trocan-
do sempre porque estragam logo (feitos para não durar) ou pela compulsão, que
o ideal nos impõe, de adquirir o último modelo. Isso só gera destruição em todo
ciclo, da extração das matérias-primas ao lixão onde jogamos os bens em desuso.
Já paramos para pensar quem está ganhando nesta história?
Não há dúvida de que existem enormes necessidades não atendidas. Muita gente
tem seus direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais não atendidos. Grupos
e povos inteiros estão condenados à exclusão, miséria, fome, pobreza, privações
de todo tipo. Mas por quem e como isto é gerado? Quanto mais se desenvolve o
mundo na base deste modelo – como agora com a globalização ficou mais evidente
ainda –, mais e mais desigualdade se gera no mundo. Apenas 20% da humanidade
consome mais de 80% dos recursos naturais e dos bens e serviços produzidos por
este sistema. E o pior é que se fosse generalizá-lo para atender a todos os seres
humanos, aí faltaria planeta, faltariam recursos naturais! Foi criada a pegada ecológica
(foot print), pelos ecologistas, exatamente para avaliar essa apropriação indevida
da natureza pelas camadas privilegiadas da população e pelos países mais desen-
volvidos. Para viver, na média de um norte-americano, a humanidade precisaria de
uns cinco planetas. Por isso, mudar é uma condição sine qua non.
Impõe-se uma grande revolução de mentalidades e de sistema de valores. Precisa-
mos superar a ideologia do progresso e voltar a colocar no centro a justiça social
e ambiental com a ideia de bem viver para todas as pessoas. Isto enquanto ainda
é tempo, pois se não mudarmos já... amanhã será tarde. Comecemos disputando
sentidos e significados do desenvolvimento que nos é dado como salvação. Há uma
ditadura de pensamento econômico no debate e nas decisões políticas, como se
nada pudesse ser feito sem crescimento econômico como condição prévia. Consi-
derações ambientais e sociais são custos na visão economicista dominante e não
bases em que assentam as próprias sociedades. Repolitizar tudo é a palavra. Trata-
se de submeter o econômico e o mercado, a ciência e as técnicas, as estratégias
de desenvolvimento a uma filosofia de vida que vê os seres humanos como parte
intrínseca do meio natural e em íntima interação com todos os seres vivos, em sua
biodiversidade, seus territórios.
Estamos diante da necessidade de um novo paradigma ético, analítico e estratégico
para iniciarmos aqui e agora a mudança. Precisamos de uma infraestrutura mental,
de uma revolução cultural, que reponha tudo no lugar, o lugar da vida, da natureza,
das ideias, de nossa enorme capacidade coletiva de criar, de inventar. Ponhamos
isto tudo a serviço de um reencontro entre nós mesmos, seres humanos, com a

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AULA
diversidade do que somos e do que sabemos fazer e criar. Mas nosso reencontro,
também, precisa ser com o meio ambiente do qual sugamos a vida e do qual somos
parte integrante.
Mas o fundamental é estarmos convencidos que outro mundo é possível. A dúvida só
retarda a ação efetiva. Pior, permite que sejamos presas fáceis de um falso discurso
sobre a necessidade de agredir o meio ambiente para desenvolver, para resolver
nossos gritantes problemas sociais. Uma coisa é encarar nossas necessidades inadi-
áveis, outra é confundir isso com apoio aos grandes conglomerados econômicos
e financeiros para que tratem do problema. Isso vai das grandes hidroelétricas ao
agrocombustível, do desmatamento para criação de bois e dos grandes desertos
verdes para celulose ao apoio às grandes empreiteiras porque criam empregos.
Nenhuma ação política de mudança poderá acontecer se nós, cidadãs e cidadãos,
não acreditarmos que ela pode, precisa e queremos que aconteça.

RESPOSTA COMENTADA
Reproduzimos a seguir o texto da Atividade 1, sublinhando os trechos
que julgamos dignos de fichamento. Trata-se da ideia central do texto,
acerca da relação entre mudança climática e o pretenso progresso,
bem como os argumentos que sustentam o posicionamento do
autor e sua conclusão acerca do tema. Lembre-se de que esta é
uma atividade que admite algumas variações de respostas, de modo
que você pode ter julgado esta ou aquela passagem digna ou não
de figurar no fichamento. De modo geral, porém, espera-se que sua
resposta não difira demasiadamente desta que propomos.

Mudar mentalidades e práticas: um imperativo


Cândido Grzybowski
Sociólogo, diretor do Ibase

A crise climática é a consequência mais evidente, mais imediata e mais


ameaçadora do modelo industrial, produtivista e consumista em que se
baseia a nossa economia e o modo de vida que levamos. Não se trata de
algo conjuntural, mas de esgotamento de um sistema que tem como motor
o ter e o acumular, ou seja, um desenvolvimento que tem como pressuposto
básico o crescer, crescer mais, sem parar, sem respeitar limites naturais, tudo
para concentrar riquezas. Como condição para desenvolver, não importa a
destruição ambiental que possa provocar, nem que a geração de riqueza
seja, ao mesmo tempo, geração de pobreza, exclusão social, desigualdades
de todo tipo. O aquecimento global e a crise do clima são, por isso, expres-
sões de uma inviabilidade intrínseca deste desenvolvimento. Tanto de um
ponto de vista ambiental como social, não dá para tornar sustentável tal
desenvolvimento.
A crise está aí. Não a vê quem não quer. Não adianta pensar que dá para
se safar, que não é com a gente. O clima, como bem comum, tem a virtude
de ser cosmopolita, para o bem e para o mal. Só que a mudança climática

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Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

resultante do tipo de economia que temos, em especial sua base energética,


afeta e afetará particularmente os 80% da humanidade que pouco ou nada
receberam deste modelo de desenvolvimento.
Estamos diante de uma crise civilizatória, é isto que precisamos reconhecer
para poder reagir enquanto ainda é tempo. A lógica do desenvolvimento,
gestada com a revolução industrial, tornou-se o motor econômico, político e
cultural do mundo nos últimos séculos. Não se trata mais de um embate nos
velhos termos – capitalismo x socialismo – no marco da civilização industrial
e seus desdobramentos. Estamos diante da crise da própria civilização indus-
trial e de seus modelos de organização econômica e política – a dominante
capitalista e a desafiante e subalterna socialista – para a sociedade. São
os fundamentos desse tipo de civilização que se esgotaram. Literalmente,
derreteram, foram consumidos pelas suas próprias contradições. E ameaçam
o planeta inteiro.
Estamos diante de uma urgência e uma radicalidade: aqui e agora, preci-
samos transformar nossos ideais, modos de pensar e os sistemas políticos,
econômicos e técnicos que sustentam o desenvolvimento. A ruptura tem de
ser total, de ponta-cabeça. Passar de uma civilização industrial e produtivis-
ta para uma biocivilização, comprometida com a vida no planeta, implica
verdadeira revolução.
A ruptura é espinhosa. O desenvolvimento está incrustado na gente, é um
valor. Desenvolvimento lembra imediatamente progresso. E quem não quer
progresso? O problema é que deixamos de discutir a qualidade de vida que
nos traz o progresso. Quanto de lixo, poluição e destruição estão associados
a este progresso!
Será que para viver bem precisamos sempre de mais? Ter mais e mais
bens, trocando sempre porque estragam logo (feitos para não durar) ou
pela compulsão, que o ideal nos impõe, de adquirir o último modelo. Isso
só gera destruição em todo ciclo, da extração das matérias-primas ao lixão
onde jogamos os bens em desuso. Já paramos para pensar quem está
ganhando nesta história?
Não há dúvida de que existem enormes necessidades não atendidas. Muita
gente tem seus direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais não
atendidos. Grupos e povos inteiros estão condenados à exclusão, miséria,
fome, pobreza, privações de todo tipo. Mas por quem e como isto é gerado?
Quanto mais se desenvolve o mundo na base deste modelo – como agora
com a globalização ficou mais evidente ainda –, mais e mais desigualdade
se gera no mundo. Apenas 20% da humanidade consome mais de 80%
dos recursos naturais e dos bens e serviços produzidos por este sistema. E
o pior é que se fosse generalizá-lo para atender a todos os seres humanos,
aí faltaria planeta, faltariam recursos naturais! Foi criada a pegada ecológica
(foot print), pelos ecologistas, exatamente para avaliar essa apropriação
indevida da natureza pelas camadas privilegiadas da população e pelos
países mais desenvolvidos. Para viver, na média de um norte-americano,
a humanidade precisaria de uns cinco planetas. Por isso, mudar é uma
condição sine qua non.

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AULA
Impõe-se uma grande revolução de mentalidades e de sistema de valores.
Precisamos superar a ideologia do progresso e voltar a colocar no centro a
justiça social e ambiental com a ideia de bem viver para todas as pessoas.
Isto enquanto ainda é tempo, pois se não mudarmos já... amanhã será tarde.
Comecemos disputando sentidos e significados do desenvolvimento que
nos é dado como salvação. Há uma ditadura de pensamento econômico
no debate e nas decisões políticas, como se nada pudesse ser feito sem
crescimento econômico como condição prévia. Considerações ambientais
e sociais são custos na visão economicista dominante e não bases em que
assentam as próprias sociedades. Repolitizar tudo é a palavra. Trata-se de
submeter o econômico e o mercado, a ciência e as técnicas, as estratégias
de desenvolvimento a uma filosofia de vida que vê os seres humanos como
parte intrínseca do meio natural e em íntima interação com todos os seres
vivos, em sua biodiversidade, seus territórios.
Estamos diante da necessidade de um novo paradigma ético, analítico e
estratégico para iniciarmos aqui e agora a mudança. Precisamos de uma
infraestrutura mental, de uma revolução cultural, que reponha tudo no lugar,
o lugar da vida, da natureza, das ideias, de nossa enorme capacidade coletiva
de criar, de inventar. Ponhamos isto tudo a serviço de um reencontro entre
nós mesmos, seres humanos, com a diversidade do que somos e do que
sabemos fazer e criar. Mas nosso reencontro, também, precisa ser com o
meio ambiente do qual sugamos a vida e do qual somos parte integrante.
Mas o fundamental é estarmos convencidos de que outro mundo é possível.
A dúvida só retarda a ação efetiva. Pior, permite que sejamos presas fáceis
de um falso discurso sobre a necessidade de agredir o meio ambiente para
desenvolver, para resolver nossos gritantes problemas sociais. Uma coisa é
encarar nossas necessidades inadiáveis, outra é confundir isso com apoio
aos grandes conglomerados econômicos e financeiros para que tratem
do problema. Isso vai das grandes hidroelétricas ao agrocombustível, do
desmatamento para criação de bois e dos grandes desertos verdes para
celulose ao apoio às grandes empreiteiras porque criam empregos. Nenhuma
ação política de mudança poderá acontecer se nós, cidadãs e cidadãos, não
acreditarmos que ela pode, precisa e queremos que aconteça.

CEDERJ 181
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

RESUMO: APRENDENDO A SINTETIZAR

Figura 3: Antes de tentar ler todos os livros que você imagina serem
interessantes para suas pesquisas, que tal dar uma olhada primeiro
nos resumos, para escolher melhor por onde começar?
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/656292

Quando um amigo não assiste a uma aula e pede que você lhe
conte o que foi discutido na interação com os outros colegas e o profes-
sor, você certamente não reproduz palavra por palavra as falas dessas
pessoas. Mais preocupado com o conteúdo do que com a forma do texto
original, você acaba sintetizando-o e produzindo um novo texto, agora
de sua autoria, em que usa suas próprias palavras. A esse fenômeno
PARÁFRASE chamamos de PA R Á F R A S E .
É uma forma de inter- Por meio dessa paráfrase, você conseguiu reproduzir os pontos
textualidade muito
presente no dia a dia centrais do texto-fonte para seu interlocutor, atendendo às necessida-
das pessoas. Quando
alguém reconta algo
des dele e utilizando sua própria forma de falar. Isso que você fez foi
que viu ou leu, man- um resumo, gênero textual muito comumente adotado como forma de
tendo o conteúdo do
texto original, mas estudo pelos alunos.
reescrevendo-o com
as próprias palavras, Tal gênero também tem grande relevância nas atividades acadê-
diz-se que há uma mica e profissional, pois quase sempre textos um pouco mais longos
relação intertextual
do tipo paráfrase dessas áreas são acompanhados de um resumo. Este permite uma
entre o texto origi-
nal e o produzido a rápida apreciação geral de seu conteúdo, o que ajuda a guiar a leitura
partir dele. Trata-se
e mantém o leitor atento para os pontos principais do texto. Algumas
de uma maneira dife-
rente de dizer algo publicações, a exemplo das revistas acadêmicas, põem o resumo antes
que já foi dito.
do corpo do texto; outras, no final. No caso de monografias de fim de

182 CEDERJ
6
curso, dissertações e teses, é comum que o resumo conste no início. O

AULA
resumo dá visibilidade às ideias do texto a que se refere e favorece a
avaliação das mesmas pelas pessoas interessadas em pesquisar sobre o
tópico do trabalho que está resumido.
Também é interessante notar que o resumo compartilha algumas
propriedades do fichamento, como o caráter intertextual e a síntese dos
pontos principais do texto-fonte. No entanto, um resumo não pode ser
composto por meras transcrições do texto original, sendo necessária a
reelaboração do mesmo com suas próprias palavras. Nesse sentido, ele
pode ser considerado um texto mais autônomo.
Além disso, se um fichamento é composto por uma sequência de
transcrições entre as quais não há marcas de coesão explícitas, um resumo
deve primar pela ligação clara entre as ideias, utilizando mecanismos
como os estudados na Aula 3. Até mesmo porque o caráter sintético do
resumo torna-o um texto de grande densidade, em que muitas ideias
importantes são apresentadas em poucas frases. Para que isso não se
torne um obstáculo à leitura, é preciso atentar especialmente para a
coesão, a coerência e a clareza nesse gênero.
As instituições que promovem congressos, conferências, simpósios
e seminários exigem resumos densos, que são avaliados por pareceristas,
para aceitar ou rejeitar as contribuições de seus membros. Portanto,
tomam o resumo como amostra da forma e do conteúdo dos textos que
neles circulam. Entre os legados acadêmicos desses eventos, sobressaem os
cadernos de resumos. Os órgãos de financiamento normalmente também
exigem que os projetos de pesquisa sejam precedidos por um resumo,
que é o primeiro item a ser avaliado pelos pareceristas e, para determi-
nados tipos de projeto, é a peça básica a ser avaliada. Quanto às suas
dimensões, podemos considerar que o resumo convencional varia entre
um mínimo de 60, uma média de 100 e um máximo de 150 palavras,
enquanto o resumo expandido pode conter até 500 palavras.
A estrutura do resumo de artigos científicos é altamente padroni-
zada. Ele deve conter informações precisas sobre o contexto da área de
investigação em que se deu a produção do trabalho, seus objetivos, o
corpus utilizado, a metodologia de coleta e análise, a orientação teórica
do estudo e os principais resultados, contribuições ou retornos. O tema
do trabalho transparece no título e nas palavras-chave.

CEDERJ 183
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

A orientação das instituições de pesquisa que organizam e disponi-


bilizam os resumos, a exemplo de Oxford abstracts, é que as informações
estejam organizadas na sequência referida há pouco. Logo, em primeiro
lugar deve aparecer uma menção ao tópico de investigação, com destaque
para uma lacuna que justifique o estudo. O objetivo geral da pesquisa
estaria voltado para preencher tal lacuna. Se isso parecer ainda muito
genérico, pode ser detalhado nos objetivos específicos. Para alcançar tais
objetivos, explicita-se o corpus e o modo de coletar os dados, organizá-los
e analisá-los, bem como o contexto teórico específico no qual o estudo se
insere, com o mínimo de referência a autores, seguidos da data de suas
obras. O resumo se conclui geralmente com os resultados (ainda que
parciais) e com recomendações para novos estudos. As palavras-chave,
entre três e cinco, localizam os principais tópicos do trabalho.
Agora, vamos ler e observar as partes do resumo seguinte, pro-
duzido por nós, referente a um projeto de pesquisa sobre a relação
entre a linguagem e as ofensas verbais em textos da Idade Média e da
contemporaneidade:

Texto III
A linguagem como instrumento do poder: agressões e ofensas verbais de gêne-
ro nas cantigas satíricas medievais e contemporâneas

Resumo
A atitude de escárnio contra as pessoas que destoam do padrão
está naturalizada na cultura luso-brasileira. Os movimentos em
prol da igualdade e plenitude dos direitos humanos convivem
com uma lacuna no conhecimento da origem e permanência dessa
naturalização, a qual precisam compreender, para lidar com esse
imaginário de escárnio, agressão e violência, que desqualificam e
humilham os diferentes. Na cultura escolar, o ensino fundamental
defronta-se com o clímax do gênero discursivo do escárnio. O
objetivo deste estudo é identificar e analisar as manifestações de
escárnio na tradição cultural luso-brasileira, com base nas canti-
gas galego-portuguesas do século XIII e nas canções de zombaria

184 CEDERJ
6
contemporâneas. Utiliza-se o paradigma indiciário de Ginzburg

AULA
para detectar e interpretar as representações e o imaginário
social que orientam a produção do gênero escárnio. A hipótese
do estudo é que os autores se utilizam do escárnio para legitimar
e autorizar a discriminação e a zombaria contra as pessoas que
estão fora do padrão predominante em cada época, com foco em
gênero, idade, padrão corporal, estética e enquadramento moral.
O corpus inicial se compõe de 20 cantigas de escárnio e maldizer
e 20 cantigas contemporâneas no mesmo gênero, podendo ser
ampliado, se não obtivermos saturação. O método de análise dos
textos prioriza o levantamento das construções e expressões mais
frequentes, com atenção para os efeitos de sentido que resultam
do uso dessas expressões. Procura-se verificar a proporção em
que as expressões do passado se mantêm e se parafraseiam nas
manifestações contemporâneas do gênero discursivo escolhido. A
expectativa é que o estudo permita uma concepção alargada, de
base empírica, sobre o espírito zombeteiro da cultura do escár-
nio, favorecendo a produção de materiais de ensino da língua e
da cultura que privilegiem a reflexão e a discussão sobre pontos
críticos do imaginário brasileiro, em que precisamos reinventar
a tradição.
Palavras-chave: discriminação, cultura medieval, cultura contem-
porânea, zombaria, cantigas de escárnio e maldizer.

Em primeiro lugar, chamamos a sua atenção para duas caracterís-


ticas do resumo como gênero textual específico: ele deve assumir a pers-
pectiva do texto original e deve ser composto por frases sintaticamente
desenvolvidas e bem ligadas umas às outras, pelo fenômeno da coesão.
Lembre-se: um resumo não é um esquema, nem um fichamento!
Observe, em seguida, que produzimos um resumo relativamente
longo, com 298 palavras, procurando caracterizar o projeto em seus
pormenores. Contextualizamos o projeto de pesquisa, mostrando em
que universo nossa preocupação foi gerada e está inserida, e por que e
a quem o estudo em questão pode importar. Note também que é impor-
tante chamar a atenção para uma lacuna no conhecimento científico até
então produzido que justifique a condução do trabalho que está sendo
resumido. Veja:

CEDERJ 185
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

A atitude de escárnio contra as pessoas que destoam do padrão


está naturalizada na cultura luso-brasileira. Os movimentos em
prol da igualdade e plenitude dos direitos humanos convivem
com uma lacuna no conhecimento da origem e permanência dessa
naturalização, que precisam compreender, para lidar com esse
imaginário de escárnio, agressão e violência, que desqualificam e
humilham os diferentes. Na cultura escolar, o ensino fundamental
defronta-se com o clímax do gênero discursivo do escárnio.

Apresentamos, em seguida, nossos objetivos, isto é, o que espe-


ramos que nossa pesquisa realize.

O objetivo deste estudo é identificar e analisar as manifestações


de escárnio na tradição cultural luso-brasileira, com base nas
cantigas galego-portuguesas do século XIII e nas canções de
zombaria contemporâneas.

Depois, localizamos o quadro teórico que nos orienta no estudo,


citando explicitamente um nome de referência e o que incorporamos
das suas contribuições.

Utiliza-se o paradigma indiciário de Ginzburg para detectar e


interpretar as representações e o imaginário social que orientam
a produção do gênero escárnio.

O projeto contém também uma hipótese clara, que busca respon-


der, ainda que provisoriamente, à questão que nos mobilizou.

A hipótese do estudo é que os autores se utilizam do escárnio


para legitimar e autorizar a discriminação e a zombaria contra
as pessoas que estão fora do padrão predominante em cada
época, com foco em gênero, idade, padrão corporal, estética e
enquadramento moral.

Especificamos ainda com que dados começaremos o estudo e


registramos a possibilidade de ampliarmos nosso corpus, se a análise
mostrar que tal se faz necessário:

186 CEDERJ
6
O corpus inicial se compõe de 20 cantigas de escárnio e maldizer

AULA
e 20 cantigas contemporâneas no mesmo gênero, podendo ser
ampliado, se não obtivermos saturação com essa mostra.

Mostramos, no ponto seguinte, a metodologia do trabalho, ou seja,


como vamos proceder em nossa investigação e na análise dos dados.

O método de análise dos textos prioriza o levantamento das cons-


truções e expressões mais frequentes, com atenção para os efeitos
de sentido que resultam do uso dessas expressões. Procura-se
verificar a proporção em que as expressões do passado se mantêm
e se parafraseiam nas manifestações contemporâneas do gênero
discursivo escolhido.

Por fim, explicitamos os resultados esperados, englobando tanto


frutos acadêmicos quanto eventuais contribuições à sociedade de um
modo geral.

A expectativa é que o estudo permita uma concepção alargada,


de base empírica, sobre o espírito zombeteiro da cultura do escár-
nio, favorecendo a produção de materiais de ensino da língua e
da cultura que privilegiem a reflexão e a discussão sobre pontos
críticos do imaginário brasileiro, em que precisamos reinventar
a tradição.

As palavras-chave, conforme podemos verificar, ratificam o con-


teúdo do projeto, retomando as ideias que se apresentam no resumo.
Além disso, fornecem pistas precisas para quem usa ferramentas de busca
em catálogos ou bibliotecas, a fim de localizar o texto em questão.

Palavras-chave: discriminação, cultura medieval, cultura contem-


porânea, zombaria, cantigas de escárnio e maldizer.

CEDERJ 187
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

ATIVIDADE

Atende ao Objetivo 2

2. A partir do que você acabou de estudar, elabore um resumo do ensaio


“Erros e mentiras”, de Stephen Jay Gould, apresentado no início desta
aula. Veja o fichamento que fizemos das ideias principais do texto, releia
o texto-fonte todo e o parafraseie, redigindo breve resumo (de no máxi-
mo 50 palavras) sobre o conteúdo do artigo com suas próprias palavras.
Verifique se seu texto está coeso e coerente, mostrando-o, se possível, a
alguém que não tenha lido o texto-fonte. Dessa forma, você pode testar
o grau de compreensão que um leitor é capaz de obter sobre o ensaio
original a partir da leitura do seu resumo.

RESENHA: APRENDENDO A SE POSICIONAR

Figura 4: Um dos maiores prazeres da leitura é poder


discutir suas impressões sobre os textos.
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1031936

188 CEDERJ
6
Passemos agora às características básicas da resenha, com ênfase

AULA
para a modalidade conhecida como resenha crítica. O objetivo desse tipo
de texto é orientar o leitor em relação à relevância da obra resenhada
e oferecer uma primeira análise crítica do seu conteúdo e da forma de
apresentá-lo. Portanto, dessa resenha pode resultar a sugestão de que o
leitor leia a obra. Quando estamos buscando livros para uma determi-
nada pesquisa, é muito comum, por exemplo, dar uma olhada prévia
em opiniões de resenhistas sobre essas obras, a fim de termos indicações
de quais textos servem melhor aos nossos propósitos. Porém, nesse sen-
tido é importante buscar resenhistas sobre os quais você tenha alguma
referência: esse é um trabalho que exige muita responsabilidade e com-
petência, já que envolve o risco de condenar ao esquecimento uma boa
obra ou, ao contrário, fazer alguém acreditar que seja imprescindível
uma leitura dispensável.
Como vários outros gêneros acadêmicos, a resenha propriamente
dita é precedida por uma parte textual e seguida de uma parte pós-textual.
Na parte pré-textual, constam o título da resenha (em geral, distinta do
título da obra resenhada) e a autoria da resenha. Em seguida, os dados
da obra resenhada: título, local de publicação, editora, ano, edição,
número de páginas e volumes, se houver.
Normalmente, na parte textual o resenhista:
• apresenta as credenciais do resenhado, sua instituição, formação
acadêmica e produção;
• destaca as conclusões a que o autor da obra chegou, ou que o
resenhista identificou;
• descreve de forma sucinta os capítulos ou partes em que se divide
a obra;
• expõe os métodos de coleta e análise dos dados, os instrumentos
de coleta e organização do corpus, o modo de apresentação dos
resultados e as conclusões;
• indica a referência teórica do trabalho, com a corrente de pen-
samento a que se filia e os autores privilegiados;
• avalia a obra a partir do ponto de vista da coerência entre a tese
central e a sua sustentação, bem como a partir do emprego de
métodos e técnicas específicas;

CEDERJ 189
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

• por fim, o resenhista avalia o mérito da obra, sua originalidade


e contribuição para o desenvolvimento da ciência, quer por
apresentar novas ideias e novos resultados, quer por utilizar
abordagem inovadora e relevante.
Na parte pós-textual, constam as referências da bibliografia con-
sultada pelo resenhista.
Esse roteiro, no entanto, não deve servir como uma camisa de
força, mas sim como um auxílio a você na hora de escrever. Caso julgue
apropriado, acrescente ou retire alguns pontos dessa lista, apresentando-
os na ordem que julgar mais conveniente.
Para vermos como isso funciona na prática, vamos ler uma resenha
elaborada pela professora Silvia, da Universidade de Brasília, a respeito
de um livro sobre ética em pesquisa. Repare que, desta vez, o texto que
estamos usando como modelo de resenha estará entremeado por vários
comentários nossos, que deverão mostrar a você os critérios que devem
ser levados em conta na elaboração e na avaliação de uma resenha.
Atenção: primeiro estão destacados os trechos da resenha; logo depois
de cada um deles, nossos respectivos comentários.

Uma obra didática original


Newton C. A. da Costa

O livro Teoria Intuitiva dos Conjuntos é o resultado da colabora-


ção de um professor de Matemática e de um biólogo, integrantes
do Grupo de Lógica e Teoria da Ciência do Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de São Paulo.

Veja nessa primeira parte que, logo de início, o resenhista apresenta


a obra de que seu texto fala, bem como os autores do livro resenhado.
Além de citar seus nomes, porém, é importante dar indicações das cre-
denciais do autor, como, por exemplo, titulação acadêmica, outras obras
famosas de sua autoria e instituição a que se filiam.
Vale também frisar que toda resenha tem um título, que não se
confunde com o título da obra resenhada: trata-se de textos diferentes,
de autores diferentes; logo, seus títulos não podem ser iguais.

Destina-se a pesquisadores, professores e alunos (de graduação


e pós-graduação) das áreas de ciências exatas e biológicas (para
estas últimas tendo sido especialmente escrito), e pode ser utilizado
com proveito na área das ciências humanas.

190 CEDERJ
6
É interessante também, logo no início do texto, sinalizar qual é o

AULA
público-alvo a que o texto-fonte se destina. Assim, antes mesmo de per-
correr toda a resenha, o leitor já é capaz de avaliar se a obra ali analisada
é do seu interesse e atende as suas expectativas. Observe que o resenhista
foi bastante preciso neste caso, indicando as áreas do conhecimento a que
o livro se refere majoritária e minoritariamente, bem como as diferentes
ocupações que os interessados no livro podem ter.

A abordagem utilizada é a teoria ingênua dos conjuntos (intuitiva,


como consta do título). É uma obra didática original, em que
certos tópicos de Biologia comparada são tratados pela primeira
vez na literatura de maneira sistemática, conjuntista.

A linguagem da Teoria dos conjuntos é, em certo sentido, uma


linguagem universal. Todo pensamento racional, em particular
o científico, é fundamentalmente conceitual. Procura-se compre-
ender e dominar a realidade através de redes conceituais. Ora,
todo conceito possui uma compreensão (ou intensão) e uma
extensão: a primeira se constituindo pela totalidade das notas
que compõem um conceito e a segunda pelo conjunto (ou classe)
formado pelos objetos aos quais o conceito se aplica; assim, por
exemplo, o conceito homem possui uma intensão (ou compreen-
são) composta por notas como ser, material, animado e racional;
sua extensão se identifica com o conjunto dos homens. A Lógica
e a Matemática podem ser definidas como ciências que se ocu-
pam da estrutura formal dos sistemas conceituais. Logo, têm a
ver com as extensões dos conceitos e, sob certos aspectos, toda a
Matemática tradicional se reduz à Teoria dos conjuntos. Assim
sendo, não pode haver pensamento racional sem redes conceituais
e, portanto, sem Lógica e Matemática; ou seja, sem Teoria dos
conjuntos. Deste modo, verifica-se a universalidade da linguagem
conjuntista e das teorias correspondentes.

Esse trecho, um pouco mais longo do que os anteriores, tem uma


função central na resenha, pois apresenta um resumo da obra analisada.
É importante que esse resumo seja bem construído, pois é ele que permite
ao leitor ter uma ideia da abordagem do tema dada pelos autores, mesmo
sem ter lido todo o livro; só assim ele pode saber se o livro discute ou
não questões do seu interesse.
Não se esqueça de que tal resumo deve seguir as orientações vistas
anteriormente nesta aula: sintetizar as ideias centrais do texto-fonte,
parafraseá-las e concatená-las com elementos coesivos explícitos.

CEDERJ 191
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

Por tudo isto, parece razoável admitir-se que a Teoria dos con-
juntos deve estar na base de todas as ciências, pelo menos em
princípio. Surpreendentemente, as diversas ciências naturais e
humanas normalmente se desenvolvem sem se dar conta de seu
caráter conjuntista. O grande mérito da obra de Abe & Papavero
é o de resgatar a relevância das ideias fundamentais da Teoria dos
conjuntos para a Biologia comparada e, em geral, para a Biolo-
gia, o que significa que outras áreas da ciência também tirariam
proveito de uma abordagem conjuntista.

Na obra em apreço, a demonstração da relevância dos conjuntos


para a Biologia não é apenas discutida, mas demonstrada através
de exemplos e aplicações (especialmente no Apêndice 2: Operações
com conjuntos e Taxonomia biológica, e no Apêndice 4: Relações
de ordem e Sistemática filogenética).

Entre tantos livros no mercado, por que ler especificamente este


que está sendo resenhado? Essa deve ser uma preocupação constante
do resenhista: dizer por que a obra por ele analisada é (ou não) singu-
lar, o que acaba por encorajar o leitor a tomar uma decisão acerca da
validade do livro para seus interesses. Veja que, nesse trecho da resenha
que você acabou de ler, destacam-se diferenciais do livro diante do que
há no mercado.

O presente volume possui quinze capítulos, assim distribuídos:


1. A Teoria dos conjuntos (onde é dado um breve histórico da
criação da teoria por Georg Cantor, e mostrada sua importância
para as ciências matemáticas e as ciências empíricas).
2. Noções fundamentais.
3. Subconjuntos.
4. Operações com conjuntos (I): Complementação.
5. Operações com conjuntos (II): Interseção.
6. Operações com conjuntos (III): União.
7. Operações com conjuntos (IV): Diferença.
8. Produto cartesiano.
9. Grafos.
10. Relações.
11. Relações sobre um conjunto.
12. Relações de equivalência.
13. Relações de ordem.
14. Elementos notáveis de um sistema ordenado.
15. Reticulados.
Esses capítulos são entremeados por apêndices (4 no total) que
tratam geralmente de aplicações da Teoria de conjuntos no campo
da Biologia comparada, como já comentado acima.

192 CEDERJ
6
Uma boa resenha deve também apresentar a distribuição geral dos

AULA
capítulos da obra, o que permite uma visão panorâmica dos assuntos
abordados e sua organização. Quando você tiver de escrever sua própria
resenha, lembre-se de que tal informação pode ser facilmente recuperada
no sumário do livro.

Um segundo volume está em fase final de redação, completando


assim a obra.

Convém lembrar aqui que existiram precursores da aplicação


sistemática da Teoria dos conjuntos à Biologia — notadamente
J. R. Gregg (com seu The language of taxonomy: an application
of symbolic logic to the study of classificatory systems,1954) e J.
H. Woodger (com seu The axiomatic method in biology, 1937, e
Biology and language: an introduction to the methodology of the
biological sciences including medicine, 1952; só para citar suas
duas obras principais). Porém, trabalhos como os de Woodger não
eram funcionais, no sentido de não constituírem instrumento de
trabalho quotidiano para o biólogo, a não ser em questões mais
profundas, referentes à axiomatizacão e metodologia da Biologia.
O presente livro, ao contrário, fornece-nos uma formulação fun-
cional, que pode ser usada no dia-a-dia do biólogo (e de outros
cientistas empíricos) e, inclusive, facilita o ensino dessa ciência.

Além de informar sobre uma futura continuação da obra – já em


execução –, esse trecho tem função importante na resenha, visto que situa
a obra analisada no panorama das outras já existentes acerca do mesmo
tema. Além de isso sinalizar possíveis influências que o livro resenhado
recebeu de seus precursores, tal passagem reforça o diferencial da obra
que recomenda em relação às demais.

Os autores estão de parabéns por terem sido pioneiros em uma


revolução coperniciana na Biologia!

Por fim, uma resenha deve ser arrematada com uma apreciação
geral da obra, bem como uma recomendação (ou não) de leitura. No
caso que estamos analisando, a conclusão poderia ter sido mais desen-
volvida, mas sua brevidade não compromete o valor do texto nem a
realização de seu objetivo: avaliar a obra Teoria Intuitiva dos Conjuntos,
recomendando sua leitura.
Como você pôde ver, a resenha é um texto ainda mais autônomo
do que o resumo, uma vez que, além da paráfrase das ideias centrais do
texto-fonte, o resenhista deve incluir e justificar suas opiniões acerca da

CEDERJ 193
Redação de Textos Acadêmicos | Fichamento, resumo e resenha

obra, recomendando ou não sua leitura. Isso exige boa capacidade de


leitura e síntese, bem como o desenvolvimento da argumentação, como
você viu na Aula 5.
Mas, para aprender mesmo, nada melhor do que pôr a mão na
massa. Vamos, então, passar a uma atividade!

ATIVIDADE

Atende ao Objetivo 3

3. A partir do que você acabou de estudar, elabore uma resenha do ensaio


“Erros e mentiras”, de Stephen Jay Gould, apresentado no início desta aula.
Repare que, em geral, uma resenha se refere a uma obra mais longa, como
um livro. No entanto, por questões de ordem prática, pedimos aqui que
você pratique a redação desse gênero a partir de um texto-base menor,
como o ensaio de Gould.
Para realizar a tarefa que propomos, leve em consideração o resumo que
você elaborou na Atividade 2 desta aula. Ademais, lembre-se de que, além
da síntese das ideias do ensaio, sua resenha deve conter uma apresentação
do autor e do contexto de publicação da obra, uma avaliação bem funda-
mentada da mesma e uma indicação do público a quem ela se destina.

RESPOSTA COMENTADA
Note que o parâmetro mais geral para a correção de seu texto já
está indicado no comando da atividade, em que se listam as partes
constituintes do gênero resenha. No entanto, como nesta aula todas
as atividades propostas demandam alguma forma de produção
textual individual, será necessário contactar seu tutor para você ter
uma avaliação mais precisa do seu trabalho. Discuta com ele que
procedimento será adotado para entrega/correção dos trabalhos
produzidos para esta aula.

CONCLUSÃO

Esperamos que, nesta aula, você tenha aprendido um pouco mais


sobre fichamento, resumo e resenha, gêneros muito presentes na vida
acadêmica e profissional. O trabalho com eles certamente aguçará sua
capacidade de leitura e reconhecimento de ideias centrais em um texto,
bem como suas habilidades de escrita.

194 CEDERJ
6
RESUMO

AULA
Nesta aula, você estudou o fichamento, o resumo e a resenha, gêneros marcados
por um forte caráter intertextual: todos eles, em diferentes medidas, reproduzem
de forma sintética as ideias centrais de um texto-fonte.
O fichamento geralmente é composto por uma sucessão de transcrições de pas-
sagens do texto-fonte, com a devida anotação das páginas de onde tais trechos
foram retirados. Esse gênero normalmente serve para facilitar futuras consultas à
obra fichada, de modo que se torne mais fácil recuperar determinadas informações
julgadas mais importantes. Há inclusive alunos que ficham livros para estudar para
as provas, pois, às vésperas do exame, é mais fácil e rápido consultar as anotações
próprias do que reler toda a bibliografia exigida.
O resumo é um texto um pouco mais autônomo, uma vez que as ideias principais
do texto-fonte não são meramente transcritas, mas sim parafraseadas. Isso quer
dizer que o autor do resumo reproduz com suas próprias palavras o que conside-
rou mais relevante da obra lida. Outra diferença central entre o fichamento e o
resumo é que, enquanto aquele é mais esquemático, geralmente apresentado na
forma de tópicos, este é estruturado com mais coesão entre as partes. Um resumo
tende a ser um texto não segmentado em fragmentos, mas sim escrito com frases
que se conectam e completam de forma harmônica.
Por fim, a resenha é o mais autônomo dos três gêneros vistos nesta aula. Além
de parafrasear as ideias centrais do texto-fonte, como faz o resumo, a resenha é
composta por uma avaliação a respeito do texto resenhado. Um resenhista, além
de sintetizar o que leu, posiciona-se a respeito do texto de que fala, indicando-o
ou não a outros leitores.

INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, você vai estudar os gêneros relatório e projeto, muito presentes
nas esferas profissional e acadêmica. Sempre que alguém executa um trabalho ou
pesquisa, tal atividade costuma ser acompanhada de um planejamento e algumas
análises, parciais e finais, do processo. É por meio dos relatórios e projetos que
as pesquisas ganham corpo e reconhecimento, promovendo a construção do
conhecimento.

CEDERJ 195

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