O Homem Transicional-Para Além Do Neurótico e Borderline
O Homem Transicional-Para Além Do Neurótico e Borderline
O Homem Transicional-Para Além Do Neurótico e Borderline
Cad. Psicanál.-CPRJ, Rio de Janeiro, v. 35, n. 28, p. 205-209, jan./jun. 2013 205
sonhos RESENHA
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O homem transicional: para além do neurótico & borderline
“um vácuo (que) ainda está em processo de elaboração” (p. 93). A autoridade
do pai perde sua força, diluindo-se as identificações com a figura paterna e a
severidade do superego. O capitalismo de acumulação cede lugar ao capitalis-
mo de consumo, de forma concomitante a um colossal desenvolvimento tec-
nológico que possibilita, entre outros efeitos, novas formas de comunicação e
sociabilidade. Ao mesmo tempo, ocorre a revolução feminista e sexual, provo-
cando profunda mudança nos comportamentos e na moral sexuais, entrando
em decadência valores e ideais do mundo moderno. Desse modo, transforma-
-se radicalmente a subjetividade neurótica teorizada por Freud.
Segundo Armony, encontramos, no mundo hipermoderno, em contrapo-
sição à excessiva repressão da modernidade, uma permissividade excessiva,
que dificulta as identificações com as figuras parentais e a internalização de um
superego forte, ficando o homem atual sem referências sólidas, à deriva, com
suas “valências identificatórias” em aberto.
Armony lança mão das teorias de Winnicott e da categoria de borderline
para pensar a subjetividade contemporânea. O autor afirma que, da mesma
forma que o neurótico é paradigma do homem moderno, podemos considerar
o borderline como paradigma do homem hipermoderno. E assim como Freud
entendia que havia neuróticos patológicos e neuróticos “normais”, também é
possível considerar que há borderline patológicos e “normais”. Vejamos.
O processo básico constitutivo do borderline não é a repressão e o recal-
que, como era no neurótico, mas a cisão. Como esclarece o autor, não se trata
de processos excludentes, já que os dois processos são constitutivos e univer-
sais, mas enquanto no neurótico predomina o recalque, nos borderline predo-
mina a clivagem. Devido à clivagem, convivem aí, lado a lado e mantendo-se
acessíveis à consciência, variados aspectos da personalidade: razão e emoção,
modos de ser masculinos e femininos, múltiplos “eus” e desejos, onipotência e
limites, etc.
O contato com outras subjetividades é, nos borderline, empático e poroso,
já que não predomina o recalque nem se formam fronteiras rígidas. O border-
line, com facilidade, estabelece contato afetivo com o outro, permitindo entra-
da e saída de afetos e fantasias. Essa porosidade, que Armony denomina
“identificação dual-porosa”, funciona não só em relação a outras subjetivida-
des, como também em relação com o próprio mundo interno. Assim, os bor-
derline mantêm contato fluído e permeável com o próprio inconsciente,
podendo ser espontaneamente criativos.
Como carece de firmes identificações, mantendo abertas suas “valências
identificatórias”, o borderline, de forma substancial, necessita e depende da
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