Sendo Como Se Fosse Tese Lourdes Macena
Sendo Como Se Fosse Tese Lourdes Macena
Sendo Como Se Fosse Tese Lourdes Macena
Belo Horizonte
2014
MARIA DE LOURDES MACENA DE SOUZA
BELO HORIZONTE
2013
Souza, Maria de Lourdes Macena de, 1957-
Sendo como se fosse: as danças dramáticas na ação docente do ator-
professor / Maria de Lourdes Macena de Souza. – 2014.
296 f.: il.; + 1 DVD.
CDD: 793.3181
DEDICATÓRIA
São tantas as ruas em que andamos, são tantas trilhas, tantos encontros,
tantos achados e encantos. São tantos afetos para lembrar, tanta gente para
agradecer! “Oh, Minas Gerais quem te conhece, não esquece jamais...” Como me
encantei com você. Quanta saudade vou sentir! O sino da igrejinha de N. Senhora
da Divina Providência badalando todos os dias às 18h. A voz marcante, forte,
afinada e linda do moço da missa das segundas feiras. A residência estudantil, meu
apertadinho, lugarzinho onde aprendi a dormir corretamente e a comer na hora certa
(milagre!!!) Ai, Minas, suas igrejas, suas ladeiras, suas serras, sua imensidão, seu
jeito de guardar o sertão também na capital me encantaram. Estou indo embora,
mas levo no coração esta “minha UFMG” que me tornou bem melhor do que eu era
como profissional e como pessoa.
À Escola de Belas Artes e a seus profissionais pela sensibilidade de abrir-se
para o Ceará e decidir atuar não somente no sudeste ou nas capitais, mas se
entranhar também pelo interior porque acreditam, como nós, que todos os brasileiros
têm direito a um ensino em Arte de qualidade. Para ti e seu povo meu afeto, minha
gratidão e meu reconhecimento.
A Lucia Gouvêa - como posso agradecer a essa mulher, pessoa gente!? Tudo
fica tão pequeno e sem graça quando penso no que registrar - grande profissional,
que abraçou a meu projeto e a mim. Pela alegria compartilhada, pelos ensinamentos,
generosidade, confiança, respeito e afeto de sempre, minha eterna gratidão e
admiração!
Ao IFCE, pelo apoio a meu doutorado e pelo espaço profissional para o
ensino e a formação em Arte. Aos companheiros da Casa de Artes, pela admiração
e pelo incentivo. A meus alunos, pelo carinho de sempre.
Aos amigos Gilmar e Benedita, meu reconhecimento por terem me estimulado
a participar da seleção para esse doutorado. Pelo incentivo e carinho.
A Ferreira Junior, pai da minha filha, pela amizade, admiração e incentivo.
A Circe pelo incentivo, amor e companheirismo de sempre e pela felicidade
de fechar este período da minha vida com a chegada do Antônio, meu primeiro neto,
marcando esse ciclo vital de eterno recomeço, onde todo fim importa um início. E ao
Augusto, meu genro, pela generosidade cotidiana e ajuda nesse trabalho.
Ao amigo Kelson Moreira, pelos sonhos compartilhados e pela dedicação no
design artesanal da minha tese.
Ao Casé, amigo/aluno/filho/irmão, pelo apoio e afeto compartilhado na hora
certa.
Ao amigo Costa Rodrigues, pela presença constante apoiando minhas
pesquisas com fidelidade e afeto.
A meus alunos Circe, Renê, Raquel, Rafael, Renata e Thamila pelas
transcrições e pelo carinho.
A Rafael, meu filho postiço, pelo amor que sempre me dedica.
A Nonato Cordeiro, Costa Holanda e Mateus Farias pelas transcrições
musicais e pelo afeto de sempre.
A Kátia minha ex-aluna e sempre amiga pelo Apoio.
Ao Grupo Miraira, pelo espaço de criação de 32 anos, onde aplico minhas
experiências como artista. Ao resultado que sempre me oferecem, à confiança e ao
carinho que me têm, meu mais profundo agradecimento e reconhecimento.
A Gilberto Machado no apoio ao longo do estágio doutoral. Meu apreço e
amizade.
Não é de você, não é de ninguém,
é de uma pessoa que eu quero mais bem.
Tudo o que faço, tudo o que fiz, foi pensando em melhorar o ensino em Arte
para as brasileirinhas e os brasileirinhos das terras de Iracema, terras de Alencar e
terra da luz, minha terra. Espero que este trabalho também contribua de forma
efetiva para isso.
RESUMO
Esta Tese apresenta um estudo sobre a forma do fazer das danças dramáticas, com
o objetivo de verificar de que maneira essas formas espetaculares podem ser melhor
utilizadas como prática educativa pelo ator-ensinante. Sendo como se fosse é uma
expressão utilizada pelos mestres da tradição sobre a orientação que é dada ao
brincante para representar determinado personagem nas danças em foco, onde eles
destacam que cada um precisa representar da forma mais fiel aquilo que se deseja
fazer de conta que é, ou que se é. A necessidade de ampliar o conhecimento sobre
as possibilidades de abordagens pedagógicas das danças dramáticas e o uso delas
como disciplinas e/ou atividades em cursos de formação de professores justificaram
esta investigação. A pesquisa qualitativa, o método indutivo, os estudos
exploratórios bibliográficos, a pesquisa documental e a pesquisa em campo, com
registro sonoro e imagético, nortearam o percurso metodológico. A fundamentação
teórica baseou-se em estudos sobre trilhas culturais no campo da tradição, ritos
espetaculares, memória, drama e dramático, educação e práxis libertadora, ensino
em arte com práticas educativas interterritorias e de enfoque etnocenológico sobre
espetacularidade e teatralidade em danças dramáticas. O trabalho dialoga com os
saberes específicos do Boi Paz no Mundo, do município de Sobral, do Pastoril de D.
Mariinha da Ló da praia de Paracuru e do Boi Ceará, do Mestre Zé Pio, em Fortaleza,
e também com outras experiências da autora no campo dos saberes tradicionais,
além de dialogar com sujeitos inerentes ao campo da formação docente em artes,
mais especificamente na área do teatro.
This thesis presents a study on the way of making Dramatic Dances, in order
to verify how these spectacular forms can be best used as an educational practice by
the actor teacher. Being as it were, it is a term used by the masters of tradition on the
direction that is given to the dancers to represent certain dance characters on focus,
where they emphasize that each one needs to represent as faithfully as possible
what they want to pretend it is, or it is. The need to expand the knowledge about the
possibilities of pedagogical approaches with dramatic dances and use these as
subjects and/or activities in courses of teacher formation justified this research. The
qualitative research, inductive method, exploratory bibliographic studies,
documentary research, field research to record sound and imagery guided the
methodological path. The theoretical framework was based on studies on the trails in
the field of cultural traditions, spectacular rites, memory, drama and dramatic,
educational and liberating praxis, teaching art with educational practices and
interterritorias etnocenólógico focus on spectacle and theatricality in dramatic dances.
The work dialogues with specific knowledge of Boi Paz no Mundo in the city of Sobral,
Pastoril of D. Maririnhada Lo in Paracuru Beach and Boi Ceará of Master Zé Pio in
Fortaleza, all municipalities in Ceará (Brazil), and also with other author's
experiences in the field of traditional knowledge, and it engages with subjects related
to the field of teacher education in the arts specifically in theater area.
DD – Danças Dramáticas
ESCOLHENDO A BRINCADEIRA
Brinca, meu boi, brinca que o terreiro é seu
(Trecho musical, bois de Sobral)
As “danças dramáticas”, como foram chamadas por autores como Mário de
Andrade (1959), Oneyda Alvarenga (1950), Renato Almeida (1965), Guilherme dos
S. Neves (1976) e Araújo (1964), entre outros, também conhecidas como teatro,
auto, folguedo ou teatro tradicional popular, construídas e perpassadas a partir do
processo de aprender a fazer fazendo, bem como seu uso como prática educativa,
constituíram razão primeira da investigação.
Nos estudos de teatro, muito se tem abordado sobre a relação entre teatro e
cultura popular. Paralelamente a todas as teorias do teatro desenvolvidas e
experimentadas ao longo do tempo, em busca de melhor formação do ator para uma
eficiente representação e composição da personagem, sempre existiu um teatro
espontâneo, partindo da imaginação e da inventiva popular do homem simples e de
sua força criadora diante do cotidiano.
Esse teatro, de certa forma empírico, possui ação rica em gestos, movimentos
e vozes advindas da tradição e perpassadas pela oralidade e pela memória de seus
mestres e brincantes.
Sendo como se fosse é uma frase que sempre escutei na convivência com os
Mestres2 da tradição, nas minhas andanças sertão adentro. É a resposta que eles
1
Dançarinos populares são profissionais que dançam em lugares públicos, em festas populares,
folguedos, rituais religiosos e também em salões, teatros, etc.. Particularmente no caso das danças
populares, o aprendizado costuma se dar por intermédio de cursos informais, ou em oportunidades
de contato direto com Mestres e brincantes. CBO – Cadastro Brasileiro de Ocupações. Disponível
em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/ResultadoFamiliaDescricao.jsf Acessado em
23/03/2013 (V. ANEXO A).
2
Mestre – é aquele que detém o saber popular ancestral mantido na memória, e o vai
repassando pela convivência, no cotidiano, na vida que leva para sua comunidade ou seu grupo.
É conhecido também como “tesouro vivo” do lugar e se relaciona com os bens Imateriais, nos
estudos do patrimônio. Hoje, existem várias recomendações, inclusive da UNESCO, para a
atuação e relações de experiências com estes nas escolas para valorização e reconhecimento
desses saberes ancestrais, principalmente no lugar onde elas existem.
33
sempre têm sobre como escolhem entre seus brincantes aquele que vai fazer
determinado personagem. Sendo como se fosse expressa a capacidade de
improviso que se deve ter para representar, o mais perto firmemente possível, aquilo
que se deseja. É como se faz de conta que é o que se sabe conhecido ou que se
imagina que seja. Neste trabalho procurei descrever, caracterizar, registrar e
reconhecer o fazer das danças dramáticas e algumas formas de sua utilização no
ensino em Arte. Enfatizei as diversas nuances de sua prática no contexto de Mestres
e brincantes, com o intuito de que esses elementos pudessem posteriormente
auxiliar na revisitação da tipologia por meio de prática educativa.
3
Trecho de Fandango, dança dramática do Mucuripe, no Ceará, em desuso na comunidade.
35
Foi realizada uma pesquisa qualitativa, considerando ser das Artes o objeto
em estudo, cuja realidade necessita ser compreendida e conhecida, sendo
importante não quantificá-la especificamente. Essa escolha deve-se também ao fato
de haver relações intrínsecas entre os pesquisadores e o objeto da pesquisa. Como
bem observa Minayo
O enfoque qualitativo (SAMPIERI, R.; COLLADO, C.; LUCIO, P., 2008), utiliza
a organização dos dados sem medição numérica para descobrir ou afinar perguntas
da investigação no processo de interpretação. Ela se fundamenta no processo
indutivo de explorar, descrever e generalizar perspectivas teóricas. Sintetizando, a
pesquisa qualitativa utiliza a observação e a descrição, busca a compreensão e o
significado e, assim, foi a que mais se adequou a esta Tese, considerando os
objetivos propostos.
Quanto ao povo nativo de cada lugar dos grupos selecionados, além das
demais experiências já vividas, fomos verificando a complexidade de suas verdades,
muitas vezes desconhecidas pelas teorias acadêmicas. Percebemos que suas
verdades se baseavam em conhecimento produzido em seu cotidiano, em sua ética
construída no grupo social no qual estão inseridos, possuindo uma lógica própria
que fomos aos poucos descobrindo.
buscando responder às perguntas feitas sobre formação docente para uma atuação
produtiva a partir do objeto investigado.
6
Vejamos sinteticamente algumas visões de cultura - Complexo de conhecimentos aprendidos
(TAYLOR, 1871); Toda cultura tem uma história própria, que se desenvolve de forma
particular e não pode ser julgada pela história de outras culturas (BOAS 1896); Legado de
uma parcela finita da infinidade de fatos do mundo (WEBER, 1903-1919); Determinismo
geográfico onde as diferenças do ambiente físico determina a diversidade cultural
(HUNTINGTON, 1915); Refutam o determinismo geográfico, pois é possível uma grande
diversidade cultural em um mesmo ambiente físico (BOAS, WISSLER, KROEBER entre 1920 -
1949); Toda comunidade tem sua própria cultura que a distingue das outras (PARSONS,
45
Kroeber e Kluckholn (apud KUPER, 2002) deixam claro que o homem vai
adquirindo cultura por meio de seu aprendizado e que ela determina seu
comportamento e justifica suas ações.
1951); Cultura como sistema adaptativo, cognitivo e estrutural (BENEDICT, 1972; MAUSS,
1974; KEESING, 1971); A cultura tem sua lógica própria (LÉVI-STRAUSS, 1976) e LARAIA ,
2006); Cultura como uma teia de significados (GEERTZ ,1989), dentre outros.
46 46
No âmbito deste trabalho, a cultura é definida como tudo aquilo que o homem
cria, aprende, constrói e compreende, a partir de tudo o que aprendeu por meio de
experiências, vivências e estudos, ao longo da vida.
Apesar de esta Tese não ter como objetivo tipificar culturas, diante da
diversidade cultural brasileira, reconhecemos que há níveis e circuitos de produção
que podem ser entendidos como culturas de massa, erudita, popular e folclórica. É
necessária a utilização dos termos folclore e cultura popular, procurando-se uma
compreensão e identificação de formas específicas da cultura, pois
O homem necessita dialogar com essas diversas formas de cultura, pois elas
se constituem da rede de conhecimentos necessários nessa caminhada em busca
9
Referente a pertencimento, aquilo que diz respeito a um povo ou indivíduo, que é seu e do qual
faz parte. Cf. Clifford Geertz (2000).
48 48
10
Comunicação apresentada em Reunião de 1987, que buscava traçar correções e contribuições
culturais e políticas para a Carta do Folclore Latinoamericano (CARVALHO, 2000).
49
11
Espontâneo é o que surge a partir da ancestralidade familiar e/ou comunitária, sem o indicativo
ou a imposição do clero, de governo ou de poder constituído.
50 50
A expressão danças dramáticas foi utilizada pela primeira vez, em nosso país,
por Mário de Andrade para designar as expressões culturais registradas em seu livro
Danças dramáticas do Brasil, resultado de estudo etnográfico, a partir de 1920, com
texto escrito entre 1934 e 1944.
12
Este assunto será tratado de forma aprofundada mais adiante.
52 52
drama (grifo do autor) significa muitas coisas para muitos indivíduos. Ele
pode ser o servo de um credo, uma história simples, mas comovente, uma
análise de personalidade, um perfil de costumes, a proclamação de um
sentimento subjetivo, um veículo para conquista ou repúdio da fé, um conto
de fadas ou uma fantasia, um ‘provérbio’, uma história, uma alegoria; todo
drama ou é de um tipo comum, isto é, um dos tipos históricos
predominantes, ou, fazendo uso de vários aspectos associados ao drama, é
uma mistura. (PEACOCK, 2011, orelhas).
Peacock evidencia, ainda, que, para ser drama, é necessária uma ação com
acontecimentos que contenham tensão, mudança, clímax e que isso traga um
sentido, eixo central com significado psicológico, moral, religioso, emocional com
possibilidades de atingir o coração e o cérebro do espectador.
13
RIDGEWAY, William. The dramas and dramatic dances of the Non-European Races, 1915.
ARCHER, Willian. The old Drama and Fine Art, 1923. SOUSTELLE, Jacques. Une danse dramatique
mexicaine : « le torito ». In: Journal de la Société des Américanistes. Tome 33, 1941, p. 155-164.
53
14
O termo teatro é usado aqui, no sentido daquilo que é representado, independentemente de
palco convencional.
15
A primeira edição, em inglês foi em Nova Iorque, 1948.
16
Modelo de sociedade onde não existe escrita linear e fonética ou qualquer tipo de grafismo que
caracteriza a sociedade ocidental.
54 54
heroico e cômico, com episódios grotescos onde a inspiração sagrada não está
ausente, pois a devoção a Nossa Senhora de Guadalupe fica evidente.
17
Investigações realizadas no período de 2010 a 2013.
56 56
Fig. 1. Magarefe - Boi Tradição, Sobral/CE Fig. 2. Brincantes - Boi Florestal, Sobral/CE
As danças dramáticas foram, e ainda são, vistas por alguns como um teatro
popular. É importante sinalizar que desde os anos 50 do século XX existe uma
grande diversidade de expressões artísticas associadas à expressão teatro popular,
como o teatro de cunho político, que era organizado pelos Centros Populares de
Cultura da UNE e idealizados por Oduvaldo Viana Filho (Vianinha) que desejava
fazer um teatro nacional popular nos anos 1960/1970.
18
Oswald Barroso (1996), Pimentel (2003), dentre outros.
19
ANDRADE, M. Origem das Danças Dramáticas Brasileiras. Revista Brasileira de Música. Vol. II.
1º. Fascículo. Março de 1935. Rio de Janeiro.
57
Foram grandes as discussões, durante vários anos, sobre o termo que melhor
se adequasse a essas manifestações. As denominações auto e folguedo, que
aparecem na maioria dos autores, merecem um olhar especial, para um melhor
entendimento desses em relação à nossa escolha do nome danças dramáticas.
20
Brinquedo afunilado, geralmente de madeira ou plástico, tendo uma corda ou barbante que é
nele enroscado e, puxado de forma rápida e precisa, coloca-o em rotação. É um brinquedo
bastante comum entre as crianças brasileiras. Faz parte do lúdica infantil, no universo da
cultura folclórica.
21
Brincadeira onde duas crianças utilizam cinco pedrinhas de forma arredondada ou ovalar, e,
sentadas de frente uma para a outra, joga-nas para cima e para o chão tentando pegar uma,
duas, três ou todas com uma só mão. (Lúdica infantil do folclore brasileiro)
58 58
Nesse sentido, pode-se verificar que o termo folguedo popular designa muito
mais que as danças aqui mencionadas, o que pode gerar confusão. De fato, a
designação danças dramáticas engloba folguedos populares, mas nem todos os
folguedos populares são danças dramáticas.
Por sua vez, Cascudo (1972, p.115) chamou de auto as danças mencionadas,
definindo-as como uma “forma teatral de enredo popular, com bailados e cantos,
tratando de assunto religioso ou profano”. Ele discorre da mesma forma sobre elas
em seus estudos, de 1984, sobre literatura oral no Brasil, numa abordagem sobre
quatro danças dramáticas brasileiras (Fandango ou Marujada, Chegança, Congo ou
Congadas e Bumba-meu-boi). Entretanto, observa-se que embora utilizando
comumente em sua apreciação o termo auto popular, Cascudo chamou esse
capítulo do seu livro de autos populares e danças dramáticas.
22
Arraia é o nome dado, no Ceará, à pipa ou ao papagaio. Pequeno artefato feito de papel de
seda, palito de coqueiro e linha, colocado para voar no céu. (Lúdica infantil do folclore
brasileiro)
59
A memória é a base primordial das danças dramáticas pois, por meio dela,
mestres e brincantes mantêm a revisitação, a cada ano, de sua brincadeira na forma
como foi repassada por seus ancestrais. Assim, a dança dramática, a cada vez em
que é feita e vivida, evoca o passado a partir do que foi retido e guardado pela
memória do Mestre ou do grupo, sendo reatualizada pela dinâmica cultural própria
da comunidade.
Monteguape, monteguape
O guraracê, maroriguê
Monteguape, monteguape
O guaracê, maroriguê
O guadjariguê, o guadjariq]guê (BIS)
23
Tremembé: “Os Tremembé vivem no estado do Ceará, nos municípios de Itarema, Acaraú e
Itapipoca. Em Itarema, vivem tanto perto da costa, sobretudo no distrito de Almofala, como no
interior, em área já regularizada pela Funai, conhecida por Córrego do João Pereira, que
compreende o Capim-açu, São José e Telhas. (Chaves, 1973)
Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tremembe/1062 e
http://www.ifce.edu.br/miraira/Patrimonio/CulturaPovosIndigenas/PovoTremembe/Figuras%20pop
ulares/Figuras%20Populares.pdf
24
Dança feita em roda, tendo ao centro o cacique com um maracá, em que se representa, por
meio de gestos, cenas dos animais da fauna local. A letra da música guarda termos da língua
indígena da comunidade no passado. In:
http://www.ifce.edu.br/miraira/Patrimonio/DancasTradicionais/Torem/Torem.pdf
61
Houve uma época que nós pra sobreviver tinha que esquecer que era índio. Hoje
nós pra viver tem que lembrar... pois só provando que somos índio mermo, é que
vão devolver a terra que nos tomaram... Não sabemos direito o que cada palavra
diz, mais entendemos que o Torém é nossa dança sagrada que nos junta e que
nos faz forte...ela fala da mata e dos bichos e da terra que precisamos25
Esse fato nos chama a atenção para as faces da memória: o que deve ser
esquecido e o que deve ser lembrado, e como os fatos sociais interferem nesses
aspectos quando o lembrar implica temas relativos a políticas na área do direito
sociocultural. Essas questões merecem a devida atenção para o entendimento e a
compreensão de vários aspectos das danças dramáticas brasileiras que, ao longo
do seu desenvolvimento e permanência em determinadas comunidades, como as de
25
Entrevista na Comunidade 4 varas – Pirambu/Fortaleza/CE em 1992. Gravação acervo da
autora.
62 62
negros e índios, por exemplo, sofreram mutações, perdas e acréscimos para garantir
a própria sobrevivência.
Dessa forma, frisamos que, para entender o que brota todo ano como prática
revivida e vivida pela memória do Mestre em determinada dança dramática, é
necessário o envolvimento com aspectos históricos e geográficos, por parte do
artista/educador/pesquisador, pois a teia que envolve essa expressão cultural vai
muito além de movimentos, gestos, músicas e encenações.
grande universo, aquilo que lhe é peculiar e que diz respeito à sua gente. É
importante ver tradição e contemporaneidade interagindo e alimentando o processo
de crescimento, desenvolvimento, resistência e compreensão do homem brasileiro.
26
Hobsbawm e Ranger (1997, p. 12) afirmam que se trata de “um processo de formalização e
ritualização, caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da
repetição”.
67
2.1. Um, dois, feijão com arroz: educação, ensino em arte e praxis
libertadora
A educação utiliza uma visão crítica do que se é e das possibilidades que vêm
do conhecimento, que permitem e facilitam a comunicação e o diálogo. Ademais,
percebemos que a efetiva docência exige pesquisa, ética, aceitação e
reconhecimento do contexto e da identidade do educando sendo, principalmente,
uma forma de intervenção no mundo (FREIRE, 1996).
aspectos de culturas distintas e pode-se, com elas, manter contato além de se ter
variadas informações sobre estudos, processos, projetos e propostas educativas.
Além disso, é importante destacar quão confusa se encontra a perspectiva de alguns
educadores diante das dificuldades pertinentes ao índice de violência devido aos
lugares onde suas escolas estão localizadas. Diante dessa problemática e da
diversidade de linhas pedagógicas, como fazer para selecionar e escolher o que
cabe a cada situação? Como fazer para se escolher o que é melhor, como prática
educativa, no cotidiano escolar?
27
Para estudo das teorias levantadas, usamos estudos de Gadotti (1999), as contribuições do
site http://www.fae.ufmg.br/teoriaspedagogicas/ e ainda o site
http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/38, consultado em 22 de julho de
2013.
28
Fizemos um resumo deste estudo e o incluímos, como apêndice E, ao final desta Tese.
71
tradicional”, que acontece com a chegada dos jesuítas e vem até as ideias de
Herbart29, tendo o professor e seus métodos como centro do aprendizado.
Por sua vez, sob o ponto de vista da psicologia, Ferreira destaca as relações
do sujeito com o aprender, sob a perspectiva de três grandes paradigmas. O
primeiro vê a aprendizagem resultante do treino ou da experiência; dessa forma, “o
objeto é apreendido pelo sujeito”. O segundo apresenta a concepção de que já
existe um conhecimento, por parte do sujeito, do objeto a ser aprendido, cuja
aprendizagem se dá mediante a manipulação e a reconfiguração do objeto
internalizando-o, pois é o sujeito que determina o objeto do conhecimento. A terceira
concepção destaca uma interrelação entre sujeito e objeto, visando ao
conhecimento, possibilitando um diferencial significativo sobre as outras, pois
distingue como forma de produção de conhecimento, a ação e a linguagem, uma vez
que “no processo de aprender, também aquele que aprende vai reconfigurando-
se,[...] ao aprender sobre o outro aprende sobre si” (FERREIRA, ibidem).
29
Johann Friedrich Herbart (1776-1841), em seu pensamento educacional, diz que o professor deve
assumir a autoridade onde a escola é um espaço ordenado e os alunos devem seguir
sistematicamente uma rotina imposta, com metodologia de aulas expositivas, comparações,
exercícios, lições de casa. Essa pedagogia foi difundida por Rui Barbosa no Brasil durante a Primeira
República junto às ideias de Comênio e Pestalozzi, buscando se opor ao ensino jesuítico.
FRANZOLOSO (2009)
72 72
30
Pensamento psicopedagógico que estabelece diferença de sentido nos termos
professor/aluno – aprendizagem de conteúdos formais de uma disciplina. Professor = homem
que professa. Educador/educando – relação também estabelecida com o ensino-
aprendizagem relativo a disciplina ou ciência, apesar de estabelecer perfil de relações melhor
que o anterior. Ensinante/aprendente são termos pautados numa relação transferencial de
inter-relação permanente, onde os dois são sujeitos com relações intercambiáveis, tendo
compromissos de transferência de saberes focados no desejo de conhecimento, dessa forma,
os dois ensinam, os dois aprendem.
73
31
Processo no qual uma teoria passa a ser uma experiência vivida. A praxis docente é processo
de reflexão – ação – reflexão e está presente no professor que assume uma postura crítico-
reflexiva perante suas experiências.
32
Multiculturalidade: muitas culturas em um lugar onde predomina uma delas, busca a não
homogeneidade; Pluriculturalidade: existência de várias formas de culturas - religiosa, étnica,
nacionalidade etc; Interculturalidade: interação entre duas ou mais culturas sem que uma se
sobreponha a outra permanecendo a autonomia e o significado de cada uma;
Transculturalidade: abordagem de diferentes culturas sobre um mesmo tema;
Transdisciplinaridade: abordagem de um mesmo tema por várias disciplinas.
74 74
Nesse sentido, Barbosa (idem, ibidem) diz que “uma educação libertária terá
sucesso só quando os participantes no processo educacional forem capazes de
identificar seu ego cultural e se orgulharem dele”. De 2003 para cá, houve algumas
melhorias no âmbito escolar em termos do estudo da cultura local nas atividades da
escola, pelo menos, na escola cearense onde exercito minha prática. Isso ocorreu,
provavelmente, motivado por apelos e atividades propostas pelo selo UNICEF nos
municípios e pelas ações de políticas públicas culturais e educacionais presentes de
2003 a 2010, as quais foram aproveitadas por alguns profissionais.
No entanto, isso ainda não foi suficiente para a mudança que se faz
necessária, a fim de que o sistema educativo possa atender à demanda do sujeito
aprendente em termos de desenvolvimento de sua alteridade para assimilar a
identificação de suas referências culturais e, assim, crescer com o conhecimento
próprio, do outro e do mundo que o cerca.
Por sua vez, Gadotti (1992) afirma que, para que o educando possa ser um
cidadão ativo na sociedade, torna-se necessário que seja oportunizada a ele uma
educação escolar de qualidade. Ele enfatiza que um sistema educativo e cultural
deve estar envolvido com a sociedade na qual está inserido e ter consciência de sua
responsabilidade na promoção de mudanças positivas necessárias. Uma educação
de qualidade é, antes de tudo, uma educação a que todos têm acesso, que adota o
pluralismo, o respeito à cultura do aluno, que enfrenta o desafio de manter o
equilíbrio entre a cultura local e a cultura universal.
deriva de uma triangulação. […] por três ações […] criação (fazer artístico),
leitura da obra de arte e contextualização. […] A educação cultural que se
pretende com a Proposta Triangular é uma educação crítica do
conhecimento construído pelo próprio aluno, com a mediação do professor,
33
acerca do mundo visual e não uma ‘educação bancária ’ (BARBOSA, 1998,
p. 35 - 40)
33
Educação bancária – termo usado como metáfora por Paulo Freire onde o educador bancário
seria aquele que faz depósitos do saber no educando, este recebe de forma passiva, não
crítica, nem construtiva. Favorece a submissão a estrutura do poder vigente.
77
emocional dos irmãos Chabot (2008) que, baseados nas teorias da inteligência
emocional de Daniel Goleman, destacam que os aspectos cognitivos já não são
capazes de responderem sozinhos às questões relativas às dificuldades de
aprendizado, exigindo, assim, a necessidade de se levar em conta as competências
emocionais dos aprendentes. A praxis das danças dramáticas na escola possibilita
uma aproximação com as características emocionais e afetivas que essas
brincadeiras têm, possibilitando o que afirma a pedagogia emocional dos Chabot,
quando enfatiza que “para aprender, é necessário antes sentir” (2008, p. 12). Pelo
exposto, afirmamos que a melhor forma de se estudar essas danças é efetivando,
além da pesquisa teórica, a prática artística no cotidiano escolar.
As danças dramáticas possuem uma forma de fazer teatral com uma lógica
própria advinda da necessidade humana de se divertir, de imitar, de representar o
outro. No entanto, bem mais que riso e folia, elas sempre foram uma forma de
resistência, um espaço de relações sociais e políticas, caracterizando-se como “um
potente canal de comunicação” (CAMAROTTI, 2001, p. 174) para si e para os outros.
o que esta significa para o mestre, significa-o para todos. Veloso (2007, p. 1 )34
discorrendo sobre as significações e re-significações do conhecimento comum diz
que “existe uma circularidade e um permanente agenciamento entre todos. Assim,
aquilo que é voltado para o sagrado também pode se destinar à diversão, o que
é do trabalho pode ser divinizado e assim por diante.”
34
IV Reunião Científica de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas/2007/GT dramaturgia,
tradição e contemporaneidade, disponível em:
http://www.portalabrace.org/ivreuniao/GTs/Dramaturgia/Saberes
82 82
35
Boneco de pano, palha e outros artefatos que se queima na sábado de aleluia, simbolizando o
apóstolo Judas que traiu Jesus. A face do boneco cearense sempre utiliza a figura de um
político a quem se deseja massacar e é isso que faz a folia do povo.
83
36
Cf. Carneiro (2008).
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37
Já que nada do que se observa nas danças dramáticas vale para uma tipologia inteira.
38
Prof. Dr. Edelcio Mostaço. O texto foi escrito para o projeto O TEATRO DAS MISSÕES – uma
nova pespectiva histórica sobre o teatro no Brasil Colônia. Sobre a citação o autor informa que
o texto integra uma coletânea de Nicolai Evreinov intitulada El teatro y la vida. Buenos Aires.
Leviatã: s/d, p. 35.
85
Assumir por um determinado tempo ser outra coisa, pessoa, bicho, ser de
outra raça, gênero ou cor, nisso se configura seu representar. Essa é a ordem,
entretanto, ela não se engessa com métodos e técnicas específicas, pois seu
resultado, na verdade, depende da genialidade de improvisar e fazer rir de cada um
e de como sua vida cotidiana lhe possibilita a corporeidade que necessita cada
personagem no que diz respeito a acrobacias, agilidades, cantos, falas etc., pois
como diz Mostaço (ibidem) “nosso corpo é, pois, uma espécie de argila biológica
onde se imprime o universo que nos rodeia e que imediatamente absorvemos e
exprimimos […]”.
Essas expressões populares são cíclicas e sua presença no local garante sua
revisitação por parte do povo do momento da vida que se conhece. Eles estão lá
representando, como sempre estiveram; no entanto, a cada instante sua teatralidade
vem sempre revestida de um novo tempo, onde sua desordem instaura a ordem e a
força necessária, marcando um ciclo que termina e outro que começa, fazendo da
vida um necessário e eterno recomeço.
39
Cf. Barroso (1998)
86 86
40
Fig.5. Folharal, Jardim/CE Fig.6. Ema, Ocara/CE Fig.7. Guriabá, Juazeiro do Norte/CE
Fig.8. Careta e Boi, Acarape/CE Fig.9.Velha e Boi, Choró Limão/CE ‘ Fig.10.Urubu, Barbalha/CE
40
As figuras 5 a 14 (todas dessa página) foram cedidas por Oswald Barroso.
87
Mesmo com ação livre na brincadeira, cada personagem não pode interferir
no papel e/ou cena dos demais brincantes se não tiver sido orientado pelo Mestre da
brincadeira, aquele que guarda o saber do brinquedo, do teatro brincado, o guardião
ancestral pelo direito que lhe foi repassado pela família ou pelo mestre anterior. Não
41
Cf. Barroso: reis de Congo (1996) e Teatro como desencantamento (2007).
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42
Fazer brincadeira de boi, tirar toadas, improvisar aboios, colocar o boi para brincar.
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43
Conjunto instrumental nordestino formado por cinco ou seis instrumentos: zabumba, caixa, dois
pífanos, pífaros ou pife (instrumento originalmente de taboca, sendo hoje encontrado também
de cano de pvc), pratos e/ou triângulo. É conhecido também como Esquenta Muié, Banda de
Couro e Banda de pife.
90 90
São utilizadas tramas de madeiras cobertas com papel machê ou com cola,
papel, tecidos multicoloridos com estampas de cores quentes e uma diversidade de
opções para fazer a cabeça do animal com chifres, orelhas etc. Alguns trabalham
com a carcaça da cabeça do animal, papel machê, fibra de vidro, isopor e escultura
em madeira, dentre outros materiais.
É importante frisar que não há como estabelecer um tipo, uma única forma
sobre o personagem do Guriabá de Juazeiro do Norte, tampouco para Donanas,
Liseus, Cazuzas, Mateus, Jaraguás, Burrinhas, Bodes, Urubus, Sereias, Caiporas e
tantos outros. Há necessidade de estudar sua teatralidade um a um, a cada vez que
se deseja uma compreensão sobre eles, considerando que a caracterização da
forma de improvisar e de constituir cada personagem é diversa e se relaciona com
cada localidade e com as influências advindas da ancestralidade e do contexto atual
e local. Sobre esse aspecto, convém notar que, nas danças dramáticas, cada
brincante-ator não interpreta qualquer papel de brincadeiras distintas. Cada um
pertence a uma brincadeira e a um personagem, a um papel. Eles se pertencem um
ao outro e se fortalecem mutuamente, ao longo do tempo em que representam e
atuam.
Neste capítulo, o diálogo será estabelecido com três grupos: três danças
dramáticas de três municípios cearenses a listar, O Boi Paz no Mundo, de Sobral; o
Pastoril de D. Mariinha da Ló, de Paracuru; e a Matança do Boi Ceará, do Mestre Zé
Pio, de Fortaleza.
Suas falas foram selecionadas para mostrar aquilo que é mais pertinente a
este trabalho, no qual se utiliza também as experiências colhidas quando da
coordenação da roda do corpo, no Encontro Mestres do Mundo, em Limoeiro do
Norte, Ceará, em 2012.
44
Encontro Mestres do Mundo – evento da SECULT/CE com apoio do MINC que está em sua
sétima edição, ocorrendo geralmente no Vale do Jaguaribe, na cidade de Limoeiro do Norte.
Elementos do que está aqui relatado sobre a roda do corpo foi escrito pela autora desta Tese,
no relatório de 2012.
94 94
Essa divisão (sagrado, corpo, mãos, oralidade e sons) foi criada pelos
organizadores, no intuito de melhor favorecer o encontro dos mestres com
estudantes, pesquisadores, participantes e com eles mesmos. Fica visível a
dificuldade de traçar o eixo divisório, pois, no caso específico da roda do corpo, é
nítida a presença de tudo encadeando o movimento, onde a brincadeira festiva
agradece a Deus e reza pela música, por tudo que brota de seu corpo e ensina, por
meio oral, como fazer o mesmo e como ser feliz com isso.
Por toda a manhã, eles seguiram na roda envolvendo a tudo e a todos numa
energia e criatividade sem fim. Não houve interferência da coordenação no espírito
de espontaneidade que manda na roda. Fomos aos poucos organizando a vontade
deles, naquele universo de singeleza que circulava. Pouco a pouco, fomos
participando na medida em que ia ocorrendo um revezamento e a promoção de
trocas de saberes entre eles: Mestre Cirilo (Maneiro Pau, Coco e São Gonçalo-
95
45
Tesauro do Folclore e Cultura Popular Brasileira, CNFCP. Disponível em
http://www.cnfcp.gov.br/tesauro/00002040.htm. Acesso em 20 de julho de 2013.
97
Silva R. (2008, p. 16) afirma que “as práticas das brincadeiras que possuem o
boi como um elemento de destaque, transcendem tanto o Nordeste quanto o Brasil”.
Não apenas na Europa, mas também nas Américas como, por exemplo, o relato
neste trabalho de uma dança dramática mexicana descrita em 1941, contribui para
se afirmar que, em muitos lugares do mundo, existe dança dramática onde
dançarinos circulam e brincam com a figura de um boi. A afirmação de Azevedo
corrobora essa assertiva:
Alguns estudiosos tentam relacionar o Bumba-meu-boi ao ciclo do gado no
Nordeste. Para aceitar a hipótese, esta manifestação folclórica deveria ser
um fenômeno apenas nordestino ou, quando muito, brasileiro. Ou então:
aceitando-se isto como verdade, teríamos que aceitar a existência, em
vários outros países do mundo, de um ciclo do gado também. (AZEVEDO
NETO, 1997, p. 20).
46
Para mais informações, ver ANEXO B.
47
In: Brasil arqueológico: Laboratório de Arqueologia da UFPE. Disponível em
http://www.brasilarqueologico.com.br/arq_igrejansasraconceicaocaicara.php. Acesso em 3 de
setembro de 2013.
99
Fig. 15. Mestre Panteca, Sobral/CE Fig. 15.1. Boi Ideal (1970), Sobral/CE – acervo MIS
sempre com a palavra à frente do nome com o qual já eram conhecidos, daí Mestre
Panteca, desde junho de 2004.
Foi no reisado Boi Coração, de Inácio Melo, que Mestre Panteca começou
como brincante aos oito anos. É importante esclarecer que, no Ceará, Reisado e
Boi, Boi e Reisado se misturam e se distinguem. Quando se pergunta: “Mas, afinal, é
boi ou é reisado?” A resposta vem rápida: “Ora, é boi, mas é reisado, fazemos um
boi pros reis... nos dias de reis, brincamos assim” (Sr. João Mendes, filho do Mestre,
informação verbal)49. Não podemos de forma alguma, com isso, dizer que assim boi
e reisado são a mesma coisa, pois no universo dessas brincadeiras nada e ninguém
são a mesma coisa. Cada um se refere somente àquilo ali; mesmo que possua
semelhanças com outros, não pode ser universalizado. Herdamos de nossa
formação acadêmica a prática de querer colocar tudo em um único lugar, num
recorte que julgamos certo, buscando uma compreensão definitiva. No entanto, no
estudo da cultura folclórica, fica dífícil compreender essas tramas, pois, na maioria
das vezes, não se sabe exatamente onde algo começa ou termina, ou seja, até onde
uma manisfestação é reisado e até onde é boi. Convém, no entanto, chamar a
atenção de novo de que as DD Boi ou Bumba-meu-boi e DD Reisado, ora são um
corpo único naquilo que é singular, ora são distintas nas formas em que não são
comuns na trama que apresentam, nos personagens, figurinos ou partes musicais.50
49
SOUSA , João Batista Mendes de. Entrevista I. [18 setembro 2012]. Entrevistador: Lourdes
Macena, Bairro do Junco, casa do Luciano, neto Mestre Panteca, Sobral, 2012. (Doc. 1)
50
Detalhes da classificação dos reisados nos estudos de Oswald Barroso (1996, 2007).
51
Os familiares dizem 1940 em nossos registros, mas nos informes para Gilmar de Carvalho
(2005) apontam 1942 como a data de início do Boi Ideal.
101
101
Fig. 16. Mestre Panteca, Cazuza e Donana (2005), Sobral/CE Fig.17. Luciano e João – Boi, Sobral/CE
Podemos verificar que o Boi Paz no Mundo existe com muita dificuldade,
garra e determinação, dando continuidade à memória festiva do avô. A cada Natal e
Dia de Reis, por meio da família e de amigos do bairro, eles continuam com seus
cantos, danças e representações vivas: não conseguimos delimitar até onde é
52
MENDES, Luciano Sousa. Luciano Sousa Mendes: Depoimento [24/02/2012]. Entrevistadores:
Bruno, Leonardo, Felipe e Edilberto, da Casa do Capitão Mor, com curadoria da autora.
Sobral: Casa do Capitão Mor, arquivo selo UNICEF, 2012. Arquivo MPG, vídeo – 903 MB –
22min. 35 seg. (Doc. 2)
53
Em resposta para preenchimento do formulário do Edital das Culturas Populares 2013,
preenchido pela autora desta tese em 18 de junho de 2013, em colaboração com o grupo, na
casa do Sr. Luciano, dono do Boi Paz no Mundo, no bairro do Junco, Sobral/CE. (Doc. 4)
103
103
54
Carvalho (2005, p. 78) escreve Bás Carrasco e destaca a associação da palavra a Vaz
Carrasco, pai das sete irmãs de onde descendem várias famílias do Acaraú, citando a obra do
bispo D. José Tupinambá da Frota (1953). Preferimos escrever aqui da forma como sempre
escutamos pronunciado por brincantes e Mestre, tudo junto como uma única palavra.
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55
Fig. 20. Véio Cazuza, Sobral/CE Fig. 21. Cazuza, estripulias e o riso do povo, Sobral/CE
55
Algazarra, brincadeiras,
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105
Fig. 22. Donona e Prefeito Fig. 23. Boi Caiçara, Sobral/CE Fig. 24. Donona Boi Guarani
Mateu e Liseu são dois vaqueiros empregados da fazenda que têm obrigação
de dizer como e onde o Boi está. Em conjunto com Donona e Cazuza, conduzem a
parte cômica da festa. Sua vestimenta também é própria da criatividade de cada um
e a cada ano se reinventa, recria e cria, sempre a partir dos elementos estéticos que
lhes chegam e são possibilitados. A máscara que cada um usa é o elemento
ancestral que se eternizou, no entanto, como tudo na tradição, pela dinâmica se
reconstrói e se renova, a cada ano ou vez em que é encenado.
Fig. 25. Liseu, Sobral/CE Fig. 26. Mateu, Sobral/CE Fig. 27. Liseu e Mateu na roda
Fig. 28. Galantes azul, Sobral/CE Fig. 29. Galantes vermelho, Sobral/CE
56
Em entrevista para o documentário “O que temos, o que somos”, TV Pernambucana, em 1982.
Disponível com a autora desta Tese. (Doc. 6)
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Fig. 30. Cordão de índios, Sobral/CE Fig. 31. Cordão de índios Fig. 32. Índios e autora da tese
Fig. 33. Índio, Sobral/CE Fig.34. Diversos grupos de índios de bois juvenis de Sobral/CE
Fig.35. Cavalinho e galante, Sobral/CE Fig. 36. Cavalinho e galante Fig.37. Cavalo, Liseu, Mateu,
Caboré ou Caburé é uma personagem feita por uma criança para representar
melhor a pequena coruja. É muito esperado pelo público infantil pela forma
engraçada como dança. Utiliza braços postiços feitos em parte de madeira, que
estão sempre esticados, e uma grande cabeça, o que deixa sua encenação mais
cômica.
Fig.38. Caburé (2006), Sobral/CE Fig.39. Caburé (2013), Sobral/CE Fig.40. Caburé e Liseu, Sobral/CE
Fig. 41. Corpo Boi e Burrinha, Sobral/CE Fig.42. Detalhe da cabeça Burrinha, Sobral/CE
tente, será difícil entender a essência do que é criado e o tipo de beleza que se
concentra ali, pois estaremos sempre relacionando ao tipo de arte que dominamos.
Ao olharmos o boi pulando, pinotando, dançando, fazendo graça e
promovendo afetos, dificilmente vemos ali um homem a passos largos se
embrenhando na mata para escolher o melhor cipó (que não pode estar verde, pois
deixa o boi pesado demais), usar no matagal o facão para o corte certo, amarrar o
cipó escolhido, por nas costas e trazer de volta para casa, para começar a estruturar
o corpo do boi amado.
57
Fig. 44. Escolhendo o cipó para fazer, criar o corpo do boi, Sobral/CE
Hoje, se busca sempre novos materiais que possibilitem diminuir peso, que
promovam conforto para o brincante e possam favorecer movimento e flexibilidade.
É preciso muita habilidade para a colocação de chifres de verdade e a construção da
face com artefatos diversos, deixando-a o mais próximo possível da cara de um boi
de verdade. Não se utiliza recorte ou vazamento no centro, obrigando o brincante a
dançar embaixo do Boi e não como se estivesse montado, como ocorre com o
Cavalinho e a Burrinha.
Diferentemente do Maranhão, quando o miolo do boi dança praticamente em
pé e por isso o saiote é bastante comprido, no Ceará, e especialmente em Sobral, o
homem que dança embaixo do boi tem que dançar meio curvado para fazer a
corporalidade mais aproximada do boi que se conhece, o que exige bastante esforço
físico do brincante. O boi cearense é do tamanho original do boi de verdade, de
preferência do boi zebu. É um boi enorme, gordo, diferente do boi maranhense, que
é pequenininho.
57
Bois e Reisados de Sobral. Direção de André Persi com produção de Moisés Magalhães e
Fábio do Nascimento. Financiado por MINC/UNESCO/BID por meio do Iphan projeto
Monumenta, Sobral: janeiro de 2007. Documentário em DVD. (Doc. 5)
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Fig. 45. Boi Caiçara, Sobral/CE Fig. 46. Boi Estrela, Sobral/CE
Fig.47. Boi Guarani, Sobral/CE Fig.48. Boi Tropical, Sobral/CE Fig.49. Boi Paz no Mundo, Sobral/CE
Fig.50. Armando o boi, Sobral/CE Fig.51. Armando o boi - detalhe Fig.52. Corpo do boi armado
58
Como é chamado/conhecido por alguns, o “miolo” é o brincante que dança embaixo do Boi.
112 112
Fig.53. Armando chifre e face boi, Sobral/CE Fig.54. Cabeça do Boi Fig. 55. João, Boi, Luciano, Juju
Fig. 56. Pano Boi (2007), Sobral/CE Fig. 57. Pano Boi (2013) Fig. 58. Boi Paz no Mundo (2013),
59
Idem Doc. 4. Depoimento colhido durante preenchimento do Formulário de Incrição para o
Prêmio das Culturas Populares em junho de 2013, bairro do Junco, na casa do Sr. Luciano
Mendes.
113
113
O Boi Paz no Mundo não tem sede, tampouco um local adequado para os
encontros de preparação da brincadeira. Os ensaios ou encontros iniciam e se
estendem pelos meses de outubro, novembro e dezembro. Essas reuniões são
agrupadas em partes para facilitar os ensaios, considerando que utilizam o espaço
da rua para revisitar o que sabem, acrescentar o que desejam como novo e
promover as trocas e os acréscimos que o momento vivido pede. Assim, num dia
trabalham com o cordão de índios, em outro com os galantes, posteriormente com o
Bascarrasco, Donona, Eliseu e dessa forma vão organizando e estruturando a cada
ano esse teatro/dança brincante.
havia muita violência e até o boi entrou em atrito com essa galera nova aí, e a
gente resolveu usar esse tema pra ver se a juventude entra mais na brincadeira,
114 114
ver mais cultura…Para ver as coisas mais diferentes, não com violência, não
com guerra (Informação verbal)60.
Os ensaios têm início por volta de 19:00h e vão até 21:00h aproximadamente,
buscando sempre atender a questões relativas à segurança, às boas condições dos
adultos de trabalharem no dia seguinte, e às crianças, de irem à escola. Eles se
preocupam principalmente com o que vai entrar de novidade, pois o elemento novo
é o que mais necessita ser incorporado diante dos improvisos fundamentais de
personagens que dão o tripé principal. Nesse caso, é preciso deixar seguro e
conhecido o elemento novo da trama.
60
MENDES, Luciano Sousa. Luciano Sousa Mendes: Depoimento [24/02/2012]. Entrevistadores:
Bruno, Leonardo, Felipe e Edilberto, da Casa do Capitão Mor, com curadoria da autora.
Sobral: Casa do Capitão Mor, arquivo selo UNICEF, 2012. Arquivo MPG, vídeo – 903 MB –
22min. 35 seg. Doc. 2.
61
Idem Doc. 1. Entrevista à autora, no dia 18 de setembro de 2012, na casa de Luciano, no
bairro do Junco, em Sobral/CE.
115
115
As DD são coletivas com coreografias ora iguais para todo o grupo, ora com
elementos grupais iguais e personagens independentes com coreografias próprias,
dependendo da criatividade e da destreza do brincante. Dessa forma, existem
passos e gestualidades que permaneceram e são passadas adiante. Outras partes
ocorrem na criatividade da ordem do dia.
beiram os 70 anos de idade, sabe que quase sempre se trata de uma série
de movimentos preestabelecidos, executados por corpos preparados, que
incorporam procedimentos artísticos e extra cotidianos, característicos do
que a antropologia teatral considera ser o ator performático. Os mestres e
melhores brincantes desses folguedos são, geralmente, atores-dançarinos
que cantam. Durante as suas performances, lançam mão de um vasto
repertório de gestos, vozes e movimentos, que receberam da tradição, sem
que, no entanto, deixem de contribuir pessoalmente para a ampliação desse
repertório, com a inclusão de novos signos ou com a recriação de antigos.
Mesmo quando improvisam, utilizam determinados princípios, um estoque
de signos com uma sintaxe, ou seja, um modo de utilizá-los, transmitidos
pela via da observação direta e da transmissão oral. Usam, o que
poderíamos chamar, um código anônimo e informal (mas em todo caso, um
código), com a flexibilidade necessária não somente à expressão do talento
individual do brincante, mas também à sua adaptação às circunstâncias do
momento e do lugar. (BARROSO, 2007, p. 348)
62
Segundo Nóbrega, (2008), o termo foi criado por Varela et al (1996) e traduzido por Assmann
(1996) com o sentido de fazer emergir. Assim, enação se relaciona com a dimensão do
conhecer e emerge da corporeidade.
117
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63
Acompanhamento rítmico corporal de músicas ternárias, no entanto sem marcação exclusiva
de passos reconhecidos como valsa, daí serem chamados de valseados.
64
Canto livre sem percussão.
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Tudo o que são e fazem traz experiências que corroboram o que produzem,
criam e atuam corporalmente na brincadeira Boi Paz no Mundo, que para alguns
também é reisado. Como já o dissemos, percebemos que para uma boa parte de
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119
mestres e brincantes não existem espaços fronteiriços entre reisados e bois, bois e
reisados, apesar de cada brincadeira ter um registro particular como isso ou aquilo.
A música, como já foi dito, é o fio condutor para tudo o que ocorre nesse
teatro/dança brincante. Cada cena é por ela delimitada, ampliada, conduzida. O Boi
Paz no Mundo é acompanhado por um trio ou quarteto musical formado por um
cordofone (sanfona – acordeón), um membranofone percutido (zabumba), e um ou
dois idiofones percutidos (triângulo e/ou pandeiro), sob a coordenação de Rosinha
do Acordeón, uma sanfoneira bastante conhecida na região e que é parte integrante
do Boi.
Fig. 59. Zabumbeiro e Sanfoneira, Sobral/CE Fig.60. Rosinha do Acordeon Fig.61. Conjunto, Sobral/CE
A forma musical é a toada que, para Almeida (1942, p. 105), Alvarenga (1950,
p. 275) e Cascudo ( 1972, p. 871 -872), se constitui como forma híbrida que, no
espaço brasileiro, pode ser qualquer coisa, como cantigas, cantilenas ou canções
em formas amorosas, tendo predominância de quadras, utilizando estrofe e refrão.
Na música brasileira, ela não tem um formato definido e por isso é importante que a
cada momento que, a cada momento que a encontramos, façamos uma descrição
mais detalhada, de que tipo de toada se fala.
65
Dialogando durante ajustes para entrega dos documentos ao Prêmio Culturas Populares do
MINC- Edital Mazaroppi em que a autora inscreveu o grupo e este foi contemplado. Tarde do
dia 20 de outubro de 2013, na casa do Sr. Luciano, no bairro do Junco, em Sobral.
120 120
Ela não é uma peça única e inteira. A cada momento se insere uma parte que,
musicalmente falando, tem começo, meio e fim, podendo inclusive ser utilizada de
forma independente.
A música do Boi Paz no Mundo, em forma de toadas, pode ser do tipo estrofe
refrão67, solo e coro68 ou instrumental, tendo o Bascarrasco puxando os solos e
Galantes e Índios segurando a parte coletiva. Os cantos são diversificados, podendo
ser tradicionais/ancestrais ou criados para aquele ano específico, sendo preparados
por todos nos ensaios ou ainda improvisados. Há também várias paródias de
clássicos nordestinos como Mulher Rendeira, Asa Branca, Carolina, Boiadeiro,
dentre outros, ou de canções de sucesso do momento, não apenas no Boi Paz no
Mundo, mas em vários bois sobralenses como demonstramos abaixo69.
66
Tesauro de Folclore e Cultura Popular Brasileira.
In: http://www.cnfcp.gov.br/tesauro/00002164.html. Acesso em 3 de outubro 2013.
67
Quando tem um refrão e estrofes que vão se alternando, entre uma e outra, o refrão é repetido.
68
Pode ser feito tanto na estrofe quanto no refrão. Sempre o que se canta primeiro é cantado por
uma pessoa apenas e depois repetido por vários outros, em coro.
69
Transcrições desses exemplos musicais no item 3.1.8.
121
121
Bascarrasco: Boa noite, meu pessoal/ boa noite com muito amor (ad libitum)
Índios: Boa noite, meu pessoal/ boa noite com muito amor (ad libitum)
Bascarrasco: Dá-me um pouco de atenção/ que minha tribo chegou (ad libitum)
Índios: Dá-me um pouco de atenção/ que minha tribo chegou (ad libitum)
Solo Instrumental (forró)
Bascarrasco: A cultura de Sobral é um espaço popular
Índios: A cultura de Sobral é um espaço popular
Bascarrasco: Vou pedir a Deus do céu para nunca se acabar
Índios: Vou pedir a Deus do céu para nunca se acabar)
Solo Instrumental (forró)
O improviso nas cenas traz sempre questões que abordam de forma hilária
fatos políticos e sociais novos que envolvem a comunidade local. Ao identificar
esses elementos colocados por meio de comicidade e/ou protesto, gostam da forma
como os participantes ridicularizam assuntos que os incomodam. Dessa maneira, o
grotesco ridicularizado garante, na festa coletiva, a alegria do riso farto e fácil que
promove estabilidade para o equilíbrio da existência humana, considerando que
123
123
o riso dos Reisados e Bois é o riso dos deuses que se permitem toda a
liberdade e inclusive as maiores licenciosidades. É o riso dos deuses que,
também eles, não estão apartados da natureza e como os demais seres
comem e cagam, choram e riem, trepam e procriam. O riso brincante,
portanto, é um riso que humaniza os deuses e diviniza os homens. Do
mesmo modo, é o riso do mundo invertido. Trata de forma vulgar os
assuntos tidos como mais graves, e de forma grave os assuntos tidos como
mais vulgares. Mostra, assim, a relatividade de tudo o que é estabelecido.
Por isso, os meninos respeitáveis e os velhos cômicos, as mulheres
libidinosas e os homens pudicos. As Catirinas feitas por homens adultos, as
Damas feitas por meninotes, os Velhos feitos por mulheres, os Reis
corcundas, os Anões príncipes, ricos e pobres, homens e mulheres,
crianças e idosos que trocam papéis. É também um riso crítico, que rebaixa
a avareza, a luxúria e outros vícios sociais. No riso brincante, dos Reisados,
toda deformidade de caráter se traduz sempre numa deformidade corporal,
num tique nervoso ou num automatismo. Neste sentido, desmascara o falso
moralismo. (2007, p. 373).
Como visto, para a elaboração dos improvisos, das cenas risíveis, dialogadas
ou não, é necessário conhecer o que está na ordem do dia, o que mantém o
teatro/dança brincante sempre atual, e possibilita uma ação criativa com elementos
do que seja novidade, exigindo o conhecimento do que ocorre onde se brinca.
Sua dança é sua gestualidade narrativa, fala o texto não escrito ou que pode
ser cantado. O texto/dança é o que se interpreta como um corpo único. Corpo livre
que dança para ser feliz ou é feliz porque dança brincando. Como seu alongamento
é feito na labuta do trabalho cotidiano, seu aquecimento vem do que a vida lhe exige,
124 124
sua destreza e sua agilidade são conquistas naturais pela vida que leva e pela
prática de fazer fazendo; assim, também seu texto improvisado se alimenta de suas
experiências, de tudo o que é vivido e depende de uma capacidade imaginativa
enorme para criar.
O Boi Paz no Mundo não cobra cachê, pelo menos não da forma
convencional que conhecemos. Entretanto, é comum a utilização do que eles
chamam de agrado ou contrato do boi para a brincadeira ir para o terreiro de alguém.
Sr. Luciano, Mestre do Boi, diz:
Por um lado, é importante refletir que uma coisa é aquilo que é parte da
comunidade, está inserido em seus momentos extraordinários da vida e se configura
no rito da festa que se faz principalmente para si. Outra coisa é levar isso como uma
representação para ser vista e colocada entre tantas outras expressões culturais.
Nesse caso, é necessária uma nova ordem que precisa ser ungida por uma “nova
articulação entre o princípio da igualdade e o princípio da diferença, permitindo
70
Souza, Luciano Mendes de. Entrevista I – 18 setembro de 2012. Doc. 1. Nessa entrevista
estavam presentes Luciano e João Mendes, netos de Mestre Panteca.
125
125
Por outro lado precisamos constatar que ainda permanece, na grande maioria
do Estado do Ceará, a prática dessas brincadeiras sem envolver ressarcimento,
pagamento para quem delas participa sendo comumente o Mestre, seus familiares
ou o grupo quem custeia o ônus com figurinos, adereços, transporte etc. É comum
observar que
(Donona dança com Cazuza, se rebola, brinca, as ancas bem projetadas para
trás, executa giros e contragiros sob o braço de Cazuza. Dança também com
Lizeu depois com Mateu e vão ali com máscaras, sapateados, pulinhos, barrigas,
insinuações e estripulias provocando risadas e diversão).
71
DVD cedido pelo grupo de sua apresentação na abertura do Encontro de Bois e Reisados de
Sobral, no dia 6 de janeiro de 2013, fazendo parte do Apêndice D, anexado ao final deste
trabalho.
127
127
(S’imbora Rosinha!)
(Estrofe 3, quadra feita em dueto pelo Bascarrasco e ajudante com repetição a cada
frase. Continua o mesmo ritmo. À medida em que cantam, os cordões vão entrando
com palmeos e, no centro, os personagens Donona, Cazuza, Mateu e Liseu dançam
livres)
(Retoma o formato musical do inicio com refrão, solo e coro estilo responsorial)
Todo amor vem brilhar de novo Boi Paz no Mundo é tradição do povo
É Paz no Mundo para o seu olhar laiá, laiá
72
Como eles chamam e que pode ser visto nas imagens cedidas no Apêndice D.
134
133
(Todos)
Nós somos índios forte que sabem marchar (Bis)
Carregam nossas flechas para guerrear (Bis)
O trecho Até bem para o ano se nós vivo for é mais um exemplo do que
já ressaltamos anteriormente, sobre a migração de trechos melódicos ou de
letras e vice-versa, sendo bem comum nas expressões da cultura tradicional
onde parte do que é ancestral navega livre no meio dos mestres e brincantes
que vivem em constante recriação dessa estética. Sobre esse aspecto,
destacamos que o trecho mencionado acima está na despedida da Caninha
Verde, como abaixo:
Fig. 68. Mateu na corda, Sobral/CE Fig. 69. Ajudante na corda, Sobral/CE Fig. 70. Liseu, Sobral/CE
Fig. 71. Véi Cazuza na corda, Sobral/CE Fig. 72. Véia Donona na corda, Sobral/CE
uma moto. A menina corre atrás e todos riem enquanto o Cavalinho dança e
brinca. É interessante notar que, hoje, cavalo e moto dividem os espaços
sertão adentro, sendo a moto na atualidade bem mais presente e utilizada pelo
sertanejo, seja ele do espaço urbano da sede municipal ou não. Assim, a cena
composta por cavalo e moto, surgida do improviso, corresponde a algo
bastante comum entre eles.
Cazuza: Unh, para ra ti bum, bum, bum! (Salienta as nádegas para trás e
para bruscamente. Todos riem) (Grita) Mateu!!!!
Mateu: (Bate nas costas do Coronel que se vira e olha para ele) Boa noite
seu Coronel, me chamou, tá me chamando, tá me enganando.
Cazuza: Eu mandei lhe chamar pra você amansar minha Burrinha que eu
trouxe ela aqui com permissão, mas você tem que amansar a bichinha.
Mateu: Ih Coroné, num vai dá pra amansar a bichinha não. Ela é muito
braba. Só quem pode amansar é meu irmão Liseu, só ele pode fazer isso.
Cazuza: Liso, Liseu?!
Mateu: É isso meu coroné Liseu!
Cazuza: Ôoooooooooooooô Lilililililiseuu! Lilililililiseu! (Grita e procura na
roda)
Liseu: (Escondido) Tô lhe alisando meu Coronel.
Cazuza: (Busca, procura, grita de novo) Lilililililiseuu! Lilililililiseu!
Liseu: (continua escondido) Tô lhe alisando, meu Coronel.
Cazuza: ôôÔ Liseeeeeu, aparece home.
Liseu: Diga meu Coronel, mandou me chamar, me chamar, me chamou.
Cazuza: Mandei lhe chamar, pra você amansar minha burrinha
Liseu: Só não faço fiado.
Cazuza: Você faz por quanto?
Liseu: 2 x 4 x 5 x 450 e aquela menininha bonitinha vai mais eu (aponta
para alguém na plateia e todos riem) Como é o nome da bichinha?
Cazuza: O nome da bichinha é amorzim do Paz no Mundo. Cuidado que a
bichinha é braba.
Liseu: Deixe comigo. (Olha e grita para os músicos). Puxa o fole aí, mel
com terra!
Mateu: Ó minha burra sem desespero (Bis)
Liseu: Tu vem dançar com os dois vaqueiros (Bis)
Cazuza: Ô, Donona
Donona: Oi, véi! (amorosa, andar desengonçado, voz em falsete)
Cazuza: Vamos botar nosso garrote pra dançar aqui nessa praça, muié.
Donona: Vamos sim, meu véi!
Bascarrasco:
Vaqueiro traz o meu boi pra brincar (Bis)
Toca o berrante, vaqueiro, traz o meu boi pro terreiro
Vaqueiro traz o meu boi pra brincar (Bis)
Viva o folclore brasileiro, viva a cultura popular (Bis)
Nosso Brasil é festejo, de norte a sul pra brincar
Coco de roda e praieiro, maracatu, boitatá
Neguinho do Pastoreiro (sic) Bumba-meu-boi Paz no Mundo
E hoje o boi Paz no Mundo famoso no mundo inteiro (Bis)
Saudades, Mestre Panteca, nosso poeta primeiro
Hoje ficou na história a paz no seu coração
Os estatutos da história, viva meu boi campeão!
144
143
O Boi parte agora para cima do Coronel e em um pulo fica em cima dele.
Mateu, Liseu e Donona com seu chicote, batem no Boi e o coronel consegue
sair de baixo dele e continua dançando. Donona toma as dores do Coronel e
vai agora duelar com o garrote. A plateia grita diante das ancas empinadas
para trás, chicote na mão, protegendo seu Véio, como ela chama. O Boi corre
atrás dela, que não se intimida. Rebola as ancas em um passinho de pisa
pisadinho miúdo. Muitos gritam: “cuidado minha Donaninha, cuidado”, “olha o
boi Donona, corre muié” e a folia prossegue até ao momento em que o Boi, por
meio de um amplo giro, consegue dar uma rabada na Donona, aí caem os dois
no chão e a música para bruscamente.
O Boi para e o conjunto muda o tema para um xote. Donona vai dançar
com o velho Coronel Cazuza, o que ocorre no centro da roda com os dois bem
agarradinhos e o Boi acompanhando de lado.
Cazuza: (Falado): Venha cá, minha Dononinha, venha para o seu veim
minha flor.
Donona: Ai tô aqui meu Véi, vamos aproveitar esse xotim. Segura,
Rosinha!!! (Voz em falsete).
Eis que, de repente, sem ninguém entender de onde veio, eis que surge
o Caburé. A música muda para o forró Bicho Carpinteiro, de Mário Zan, e o
Caburé faz sua estripulia sem igual. Como é pequeno, possui uma grande
cabeça e braços totalmente esticados, sua dança é hilária. Seu bailado é feito
152
151
Fig. 80. Caburé na roda, Sobral/CE Fig. 81. Caburé dançando, Sobral/CE
73
Estudos em PASSARELLI, 2001, p. 149, e consultas a vídeos da web, postados no período
de 2008 a 2012 sobre o tema. Disponível em:
saojoaodelreitransparente.com.br/projects/view/64, http://www.youtube.com/watch?v=A-
wpsm6w6Og&hd=1, http://www.youtube.com/watch?v=RlpV9goaGDk&hd=1,
http://www.youtube.com/watch?v=hynqmx7dsu4&hd,
http://www.overmundo.com.br/overblog/pastorinhas-de-minas-gerais.
154 155
74
O Ceará nos anos 90: Censo Cultural. Fortaleza, 1992. Pag. 194.
75
Para mais informações, V. ROCHA, 1991, p. 156.
76
VALENTE , Waldemar. Disponível em:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article
&id=608&Itemid=1
156 157
77
Mais informações em, http://escoladedancadeparacuru.com.br/
158
157
78
Fig. 83. D. Mariinha – rendeira Fig. 84. D. Mariinha - Pastoril Fig. 85. D. Mariinha e a autora
Salete (filha D. Maririnha): quando depois que ela casou ela parou né? Aí
quando a minha irmã nasceu a pequena a do meio aí ela já começou a
participar, acho que tem trinta e poucos anos, aí foi no tempo que a D.
Marlene trouxe, aí ela deu as roupas, a mãe tinha vontade de botar o
pastoril só que não tinha condição de comprar o figurino. Aí ela pegou e
deu pra mãe, D. Mariinha a senhora quer continuar com o Pastoril? A mãe:
Quero ! aí ela deu as coisas todas pra mãe (informação verbal)80
Para sua montagem e criação, todo ano ela conta com a filhas, netas,
bisnetas, parentes e amigos. Além de dona de casa ela, que também é
rendeira, vem mantendo viva a tradição do Pastoril na cidade de Paracuru
repassando/criando, de geração em geração, mantendo a originalidade dos
cânticos, personagens e coreografias.
80
Idem.
160
159
81
MORAIS, Maria do Carmo e Salete. Entrevista IV. Depoimento [30/05/2013].
Entrevistador: Lourdes Macena, casa de D. Mariinha, centro de Paracuru.
.
162
161
Fig. 87. Maria, Jesus e José, Paracuru/CE Fig. 88. Anjo e Meino Jesus, Paracuru/CE
82
Pastoril da cidade de Fortaleza pesquisado pela Profra. Elzenir Colares, nos anos 70 e
80 do século XX. Disponível em
http://www.ifce.edu.br/miraira/Patrimonio/FolguedosBailados/Pastoril/Pastoril-LMFC.pdf
162 163
Fig. 91. Cordão Azul, Paracuru/CE Fig. 92. Cordão Encarnado, Paracuru/CE
164
163
Fig. 95. Florista, Paracuru/CE Fig. 96. Camponesa, Paracuru/CE Fig. 97. Oferta das Flores
menina que a faz. O desvendar o futuro, o saber o que vai acontecer, sempre
trouxe ao homem a magia de ver alguém que recebe comunicado aos deuses.
Para outros, há o medo do desconhecido, daquilo que não se entende, por não
saberem como e por força de quem ela desvenda os enigmas do que está por
vir. Entretanto, a presença da Cigana no Pastoril, pode contribuir, no ensino,
por exemplo, para uma reflexão sobre esse povo que habita o Brasil e que
necessita de reconhecimento.
Fig. 98. Borboletas, Paracuru/CE Fig. 99. Cigana, Paracuru/CE Fig.100. Cão, Pastora, Anjo
Fig. 101. Reis Magos, Paracuru/CE Fig. 102. Anjo e Reis Magos, Paracuru/CE
Para ser Maria a menina tem que ser uma pessoa bem angelical, bem
retinha, calminha[…]. Tem que ser simples, uma pessoa simples. Para ser
Cigana ela tem que saber dançar, ter ritmo de dança porque tem muita
criança que diz assim: eu quero ser a Cigana, quando é que a tia vai me
botar de Cigana? Eu não boto porque ela não tem ritmo de dança, não
sabe dançar direito né? Para ser um São José tem que ter o carisma de
168 169
saber falar como José. Tem que ter o jeito próprio pra fazer aquele
personagem, os meninos do Zabumba e Forrobilho têm que ser bem soltos,
fazer o povo rir, eles têm que fazer graça.(Informação verbal)83
Salete: só que a mãe acha que eu tenho que colocar assim pela aparência,
só que eu não vou, vou pela qualidade mesmo da menina pra fazer aquilo
83
MORAIS, Maria do Carmo e Salete. Entrevista IV. Depoimento [30/05/2013].
Entrevistador: Lourdes Macena, casa de D. Mariinha, centro de Paracuru.
84
Lei Nº 13.842, de 27 de novembro de 2006. Lei implantada pelo Governo do Ceará em
2003 que concede por meio de edital de seleção: diplomação, registro no livro dos
Tesouros Vivos e benefício financeiro de um salário mínimo enquanto o mestre viver.
Foi revista por pedido dos Mestres em encontro organizado pela sociedade civil em
2006. Disponível em: www.al.ce.gov.br/legislativo/legislacao5/leis2006/13842.htm
170
169
Assim, pela dinâmica da cultura, tudo flui, nada é inerte e a tradição nas
DD se mantém viva e ativa, constantemente em movimento, no entanto, numa
relação intrínseca com os elementos ancestrais guardados pela memória e
vivida corporalmente a cada ano.
quando entra uma novata eu escrevo tudinho no caderno e dou pra ela […]
Os mais antigos ensinam pros novatos. Ela também ensina. Ela já fez
aquele personagem, ela vai e ensina: Mulher, tu tem que fazer assim,
desse jeito. Ela ensina os gestos. (informação verbal)87
85
MORAIS, Maria do Carmo e Salete. Entrevista IV. Depoimento [30/05/2013].
Entrevistador: Lourdes Macena, casa de D. Mariinha, centro de Paracuru.
86
Aforismo de Heráclito de Éfeso buscando sintetizar o princípio do “panta rei” (tudo flui).
Disponível em http://www.mktsorocaba.com.br/newsletter/ Acesso em 8 de outubro de
2013.
87
Entrevista IV. Salete e D. Mariinha.
170 171
88
Bach, Schubert, Villa lobos, Betthoven, etc.
174
173
92
Cantigas encenadas, cantos contendo histórias, narrativas, romances apresentados de
forma bailada pelo interior cearense. São Feitos geralmente por mulheres, com pouca
participação masculina. Dentro dessa forma espetacular, encontram-se também os
antigos romanceiros e as antigas gestas trazidas pelos colonizadores lusos.
176
175
perigo de Maria indicando para este a fuga para o Egito. Outras cenas são as
das Ciganas lendo a mão das pastorinhas e demais brincantes, do Zabumba e
pastorinhas a caminho de Belém, da Pastora Perdida e do Cão, da Morte e
ressureição da Pastora Açucena, do Anjo e dos Reis Magos, dentre tantas
outras que podem surgir a cada ano inspiradas no enredo da história épica do
filho de Deus.
93
Quando um ou mais brincantes saem com lenços, pandeiros ou cestinha indo até ao
público pedindo donativos.
178
177
Narradora - Eis que no sexto mês o anjo do Senhor, chamado Gabriel foi o
enviado de Deus para uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma
virgem prometida em casamento, com um homem chamado José. O nome
da virgem era Maria. Entrando, disse o anjo:
Música/anjo: Ó Maria, ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que
recorremos a vós.
Anjo - Não temas, Maria, porque achaste graças diante de Deus, eis que
conceberá em teu ventre, darás luz a um filho e lhe dará o nome de Jesus,
ele será grande e será chamado filho do Altíssimo.
Maria - Eis aqui a escrava do Senhor, faça em mim segundo a Tua palavra.
Maria - A minha alma glorifica o Senhor, por Ele ter posto os olhos na
baixeza de Sua escrava e de hoje em diante me chamarão bem-
aventurada todas as gerações.
Narradora – E ficou Maria com Isabel três meses, depois voltou pra sua
casa. Naquele tempo existiam algumas pastorinhas que queriam cantar
para Maria:
Diana – (Falado) Senhoras e senhores, boa noite venho dar, quero que me
deem licença para o pastoril dançar. Se alguma falha houver, queiram
todos desculpar. Uma música bem bonita para o pastoril começar.
(Canto e dança)
Boa noite, meus senhores todos, boa noite senhoras também,
somos nós as pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém.
Mestra: Eu sou a mestra do cordão azul, o meu partido é o melhor que há,
Com minhas danças, minhas cantorias, eu sou a mestre desse pastoril.
Diana: Eu sou Diana não tenho partido, o meu partido é o melhor que há,
eu peço palmas, peço fita e flores, aos meus senhores, peço proteção.
Meu São José, nos pastoris do Ceará, é uma música que pode vir no
início ou no meio; no entanto, geralmente, só pode ocorrer com a presença
dele na cena. Dançam em passo de marcha.
Meu São José dai-me licença para o pastoril dançar
Viemos para adorar, Jesus nasceu para nos salvar.
Tralalalala...
Anjo: Acorda, José, não temas receber Maria como tua mulher, porque o
que nela se gerou é obra do Espírito Santo. Ela dará luz a um filho e o
chamara por nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo do pecado.
Música borboleta:
Borboleta pequenina venha para o meu rosal,
Venham ver cantar o hino que hoje a noite é de Natal.
Tralalala...
(Canto Pastoras)
Nós vamos à gruta, com muita alegria,
Pra ver o Messias, que hoje nasceu
E na caminhada, rebrilha uma estrela
Reluz gente bela no limpo do céu.
(Canto Zabumba)
(Falado)
Zabumba – Olá, belas meninas, pra onde vão tão faceiras?
Zabumba – Que isso, belas meninas, pensei que iam a Belém desejo
acompanhá-las que para lá eu vou também.
(Cantado)
Contramestra: Por esses campos, por esses campos,
Por esses campos eu hei de brigar.
Mas o menino, mas o menino,
Mas o menino, há de me entregar.
Narradora: Mas Jesus envia e acaba com aquela tristeza, um anjo do céu:
Anjo: (Para a pastora má) Arrepende-te de teus pecados, pois o mal que
cometeste, é obra do inimigo.
Anjo: (Indo até onde está Açucena deitada no chão) Levanta-te Açucena,
venha ver a luz do dia, pois quem morre por Jesus, vive por Maria.
Música Pastora:
Eu vou procurando o meu carneirinho,
Não sei por onde o Cupido saiu.
- Cupido? Cupido?
Diabo:
Vinde, pastora, eu quero falar-te, para o inferno, desejo levar-te.
Dar-te-ei ouro, te darei montanhas e montanhas de ouro! Pois no inferno
eu sou o rei!
Pastora:
Mas eu não quero a sua riqueza que aprisiona a natureza,
Aquela estrela que irradia, ela será minha luz e guia.
Anjo – (Jogando uma lança no Diabo que cai no chão esperneando) Vá,
desaparece, Satanás!
encontra, ao fundo do espaço cênico, o presépio vivo com Maria, José, Anjos,
Borboletas, Pastores e demais figuras. Elas saem cantando:
94
Letra e música de J. Pierpont.
190
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Anjo – Uma estrela seguirá em sua frente, onde ela parar, lá terá um
menino deitado em palhas, este será o salvador do mundo.
Música final:
Tralalalala...
O Boi Ceará foi fundado em 1943, pelo Mestre Assis no bairro Carlito
Pamplona, em Fortaleza, Ceará. Posteriormente, após o falecimento de Mestre
Assis e um recesso de mais de dez anos, o Boi Ceará passou a ser conduzido
pelo Mestre Zé Pio, pescador de jangada e brincante de boi desde os três anos
de idade.
192
191
95
Faz parte do que é conhecido como Grande Pirambu, área que congrega três bairros:
Cristo Redentor, Goiabeiras e Pirambu.
96
Trechos do dossiê do Mestre Zé Pio apresentado a SECULT - CE em 2005, elaborado
pela autora desta Tese, para candidatura do Mestre a Tesouro Vivo da Cultura do
Estado.
192 193
O Mestre decidiu sair do Boi Reis de Ouro, indo brincar no Boi Ceará,
que existia na vila do Gás, no bairro Carlito Pamplona e era dirigido pelo Sr.
Assis. Segundo ele, um brincante do Boi Ceará o intimou a deixar o papel de
índio no Reis de Ouro e assumir o de capitão no Boi Ceará. Dessa forma,
Mestre Zé Pio, aos 13 anos, se tornou Capitão do Boi.
97
Catam ostras, siris e caranguejos.
98
Entrevista XII nas referências.
194
193
Ceará, Boi Guarde Mar, Boi Pai do Campo, Boi Fortaleza e Boi Ouro Preto. Ele
diz: “Ave-Maria, Vaqueiro é muito bom demais... Problema é gravar na
cabeça... gravou na cabeça, vai-se embora” (Informações verbais)99.
99
Entrevista XII nas referências.
194 195
100
Fila de Galantes: participantes que brincam em um dos lados do Boi, representando o
partido de cor vermelha.
196
195
Fig. 118. Mestre Zé Pio, Fortaleza/CE Fig.119. Detalhe chapéu Mestre Zé Pio, Fortaleza/CE
101
No Ceará, é uma espécie de grande tronco de madeira soterrado no chão onde
podemos prender os animais amarrados.
198
197
Veste-se com um vestido nas cores verde e amarela com muitos babados,
manga fofa e um decote.
Fig.125. Ema e Palhaço doutor Fig.126. Burrinha, Fortaleza/CE Fig.127. Bode, Fortaleza/CE
200
199
Por se tratar de uma representação que só ocorre uma vez a cada ano,
o grupo necessita de proporcionar a seus brincantes mais encontros para
preparação e ajustes. Nas manifestações de teatro/dança brincante, o Boi do
Mestre Zé Pio é o único que conhecemos cujos participantes se preocupam em
alongar-se antes de começar o trabalho.
que com ele participa têm trazido dissabores. Os moradores têm reclamado,
inclusive trazendo proibições quanto ao barulho.
Por terem que deslocar todo o material para longe da sede, ficaram
visíveis as dificuldades quanto ao meio de transporte. Mas, a preparação, como
o Mestre costuma chamar, precisa ocorrer em espaço onde eles possam, de
forma descontraída, experimentar o que vão fazer, ou pelo menos aquilo que é
possível fazer antes do dia, como as cenas que não dependem exclusivamente
de improvisos. Sabe-se que estas cenas improvisadas ocorrerão, segundo o
roteiro, mas nunca se sabe como serão.
A marcação dos cordões é livre, cada lado faz uma dança com tempo e
figura coreográfica que pertence ao próprio partido, procurando demonstrar
destreza e habilidade em cada um deles.
Sua dança exige agilidade e resistência física. A cada vez que os vimos,
vamos percebendo mais eficiência diante das dificuldades na execução
corporal do que escolheram fazer.
Dentro do próprio espetáculo eles têm uma cena construída sempre por
meio de improvisos, que oportuniza aos Caretas colocarem sorte para obterem
da plateia as contribuições espontâneas, como se registra a seguir:
Vaqueiro: Pronto meu Capitão, o boi esta na porta do curral.
Capitão: E porque que esse boi não brinca meu Vaqueiro?
Vaqueiro: Esse boi não brinca por que não tem dinheiro.
Capitão: pois Vaqueiro bote o boi para dançar e bota os Careta que o
dinheiro na portaria é massa.
Zé Pio Diz: Vamos simbora, vamo simbora...
O Careta sai dançando com o pandeiro na mão, parando onde o público chama
para possibilitar seu agrado.
102
Panfleto impresso em 2006 pelo projeto Tesouro da gente do Theatro José de Alencar
visando difusão desses saberes.
206
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Fig.130. Espaço para a corte Fig.131. Brincantes na Matança Fig.132. Cortejo de entrada
206 207
103
Fig.133. Comunhão pelo sangue do Boi Fig.134. Brincantes Fig.135. Luta dos cordões
103
Alunos da Instituição A aprendendo com eles.
208
207
Eis que surge o santo evocado, e o Vaqueiro, agora livre, corre aos seus
pés e canta para ele dizendo que “agora terminou a função”. Depois, canta a
despedida em meio ao barulho dos fogos. Todos se despedem.
104
Informações disponibilizadas no site: http://www.idj.com.br/cursos/pedagogia.asp. O
Instituto Dom José é que atua com os cursos da Instituição B. Mais informações em:
http://www.educaedu-brasil.com/centros/uva--ce--universidade-estadual-vale-do-acarau-
uni1555.
212
211
105
Entrevista V nas referências.
212 213
106
Entrevista VI nas referências.
214
213
Isso nos leva a crer que é muito importante disciplinas nos cursos de
formação teatral que possibilitem estudos, pesquisas e experiências com essas
práticas culturais. No entanto, o mais importante está na conscientização do
formando ator/professor/pesquisador sobre a relevância desse conhecimento
para sua atuação no ensino em Arte e também no palco como ator.
Sobre esse aspecto, destacamos o que foi enfatizado pelos demais
alunos e/ou professores da Instituição A, quanto à necessidade, além da
107
Entrevista VII nas referências.
108
Entrevista VIII nas referências.
214 215
109
Entrevista IX nas referências.
216
215
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Entrevista X nas referências.
216 217
Como agiu Mário de Andrade ele fala que a Dança Dramática é uma dança
realmente, uma dança livre, uma dança na qual você pode incorporar o
seu papel individual ou também compreender o seu papel junto com o teu
companheiro, que é no caso de você abordar a pratica do corpo no
movimento, que cada movimento nos traz na verdade aquele conto, o
conto de fada, o conto de cantigas de roda, cirandas. Então, tudo isso vem
englobado dentro das danças dramáticas. Muitas vezes, o drama pode até
ser pra mim uma coisa e para o outro não. Porque na verdade é aquilo que
representa pra você, aquilo que você consegue compreender. E quando a
gente fala de dramática, muitas pessoas conseguem não compreender,
mas é uma coisa simples, quando a gente fala um drama é algo que você
vai contar, é um conto, é uma historia, é uma poesia, é uma música. Você
pode fazer dentro disso, você pode fazer uma música, você pode criar,
entendeu? Então é tudo isso que a gente consegue englobar dentro do
que Mário de Andrade fala. Que é o autor principal, né?
111
Entrevista XI nas referências.
218
217
112
Entrevista XI nas referências.
218 219
Por sua vez, as danças dramáticas são constituídas por uma série de
unidades cênicas independentes entre si. Elas podem ter um texto não escrito,
mas repassado oralmente, como também possuir texto escrito, como ocorre
com os Pastoris e Lapinhas Vivas, ainda mantidos hoje, no nordeste, em
cadernos de suas mestras ou dos parentes delas.
Ante o exposto, vimos que são muitas as relações deste trabalho com a
abordagem sobre a sociologia das ausências, de Boaventura Santos (2004).
Percebemos nas diversas ecologias propostas pelo autor aspectos retratados
para o empoderamento dos grupos sociais presentes também na Pedagogia da
Autonomia (1996) e da Esperança (2008), de Paulo Freire, e na valorização
224 225
113
Entrevista X nas referências.
226
225
114
Entrevista X nas referências.
226 227
115
Aquelas que são ensinadas e aprendidas no Brasil nas academias ou escolas de dança
como o balé, a dança moderna, o Jazz e as diversas danças de salão.
228
227
116
LAVE (1991), LAVE e WENGER (1991), LAVE e CHAIKLYN (org) ( 1993) e outros.
230
229
117
“Grupos que apresentam folguedos e danças folclóricas, cujos integrantes, em sua
maioria, não são portadores das tradições representadas, organizam-se formalmente, e
aprendem as danças e os folguedos através de estudo regular, em alguns casos,
exclusivamente bibliográfico e de modo não espontâneo”. Carta do Folclore Brasileiro,
CNF/IBECC/UNESCO,17 de dezembro de 1995.
234
233
Não estão ali para copiar o saber fazer popular, que, por depender do
que é repassado pela memória e pela oralidade, é um eterno
rever/lembrar/criar/sendo, a cada vez em que ocorre. Em vista disso, esses
grupos, devem compreender que sua ação é a de buscar viver experiências
com os elementos fundantes, ancestrais, de cada saber pelo qual se interessa,
e com ele fazer uma criação sua, pessoal, que retrate como eles
experimentaram, experimentam e brincam com sua turma. E, numa
oportunidade artística, compartilhar isso com outras pessoas.
Aquilo que se vai mostrar, relaciona-se à forma como o grupo sentiu, viu,
se emocionou e enquadrou um instante, um momento apenas, em uma
coreografia assinada. Assim, quando outro grupo copiar esse trabalho, deverá
mencionar o nome do grupo que o criou e não o nome da brincadeira ancestral
que lhe serviu de inspiração.
Foi assim que nos deparamos com os bois espalhados na maioria dos
bairros sobralenses. Era tanta gente, adultos e crianças, envolvida que não
entendemos como isso não se manifestava na escola também. Começamos
um diálogo com os professores locais, aqueles que são contratados como arte
educadores. Na época, não havia curso de formação de professores em Arte119.
Não queremos dizer com isso que a criação artística deve ser apenas na
área da tradição, da ancestralidade. Entendemos que o homem é livre para
criar, propor, compor com todo o universo; no entanto, compreendemos que
119
Em 2012, a UFC implantou a Licenciatura em Música e, em 2013, trabalhamos para
implantar Licenciatura em Artes Visuais e Teatro, por meio da Universidade Aberta do
Brasil, coordenada pelo IFCE.
238
237
cada mundo cabe no mundo todo. Como disse um de nossos entrevistados “as
teorias da arte ocidental são também para nós, mas não são nossas. Temos
que compor com estes dois universos sem excluir nenhum” (Informação
verbal)120.
120
Entrevista X nas referências.
238 239
Fig. 139. Cenário e Abertura, Sobral/CE Fig. 140. Equipe de professores formadores
Fig. 141. Personagens centrais e improvisos Fig. 142. Criação cena ritual indígena
121
Outros trechos de bois cearenses e elementos artísticos populares de autores do Ceará
como poesias e músicas. Texto norteador das ações utilizado se encontra disponibilizado nesta
Tese como apêndice A.
240
239
122
Dança de roda com bate pés, embolada com improvisos e grande aceitação popular.
123
Dança de origem portuguesa advinda com o colonizador, antes dançada no período
momino e hoje presente nas festas da comunidade quando convidada.
240 241
124
Dança de origem indígena, espécie de sapateado brasileiro executado com bate-pé e
palmas ao som da viola, em Minas e São Paulo. Conhecido também por Catira, no
interior de Goiás (Cf.RIBEIRO, s/d: 397).
125
Dança tradicional gaúcha, espécie de disputa por meio de um sapateado criativo a partir
de seus brincantes.
126
Forma teatral de enredo popular religioso ou profano, com bailados e cantos.
(ALMEIDA, 1965: 178)
127
Tipo de antiga canção narrativa de origem árabe, popular na Península Ibérica, tendo
ficado presente em obras do repertório teatral português, sobretudo nas de capa e
espada, de caráter popular, nos meados do século XIX.
242 243
Fig. 143. General e Piloto Fig. 144. Piloto no comando, Fig. 145. Príncipe Mouro e General
Apesar de saber que a dinâmica cultural natural dos grupos sociais pode
fazer com que determinadas expressões culturais recebam ou percam
características, acréscimos e/ou desapareçam, no caso do Fandango do
Mucuripe vários aspectos externos a essa dinâmica favoreceram sua
estagnação e seu desaparecimento. Um conjunto de fatores contribuiu para
isso, como sua não valorização dentro da própria comunidade, diante de uma
escola que não lhe remetia valor, e consideração por esses saberes;
especulação imobiliária da rede hoteleira na beira-mar obrigando-os a saírem
do local onde residiam; aproveitamento equivocado por parte da cultura e do
turismo; afastamento da juventude local; intransigência dos mestres como uma
forma de revidar o que sofriam e ausência total de registros para continuidade
na ausência do repasse do saber pela oralidade.
A DESPEDIDA DO CORTEJO
Isso exige ética e lealdade dos demais artistas que aprendem com as
comunidades sobre essa tipologia de teatro/dança brincante e com esses
elementos deseja compor e criar, sobre a necessidade de registrar sempre em
sua obra os créditos relativos à arte local, dia em que viu e nome de Mestres e
comunidades que, com generosidade, lhe possibilitaram os elementos
fundantes que nortearam sua criação.
Não queremos, com isso, dizer que somente esses profissionais estão
preparados para trabalhar nesse eixo. O que queremos enfatizar é que as
oportunidades para uma melhor formação para o ensino em DD estão,
principalmente nos cursos de Licenciatura em Teatro.
Novamente reiteramos, nesse final que não é fim, que o dito a partir da
pesquisa e das reflexões levantadas não é um roteiro, uma receita de bolo, um
caminho ou uma ordem a ser seguida. O que aqui está são momentos de um
caminho percorrido que desejamos compartilhar nessa busca infinita de
encontrarmos os melhores caminhos para um Ensino em Arte de qualidade,
digno das crianças brasileiras.
ANDRADE, Mário. Danças dramáticas do Brasil.1o, 2o. e 3o. tomos. São Paulo:
Livraria Martins Editora, 1959.
ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore Nacional – Vol. II. São Paulo: Edições
Melhoramentos, 1964.
BARBOSA, Ana Mae (org). Inquietações e mudanças no ensino da Arte. 7ª. ed.
São Paulo: Editora Cortez, 2012.
BOSI, Alfredo. Cultura brasileira – temas e situações. São Paulo: Ática, 1987.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. 2ª. ed. Tradução Myriam Ávila, Eliana
Lourenço Reis, Gláucia R. Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
CABRAL, Beatriz A. Vieira. Drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec,
Edições Mandacaru, 2006.
CARNEIRO, Edison. Dinâmica do Folclore. 3ª. ed. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2008.
252 253
CASCUDO, Câmera. Literatura oral no Brasil. 3ª. Ed. Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1984.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 5ª. Ed. São Paulo: Ática, 2000.
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GADOTTI, Marcos. História das ideias pedagógicas. 8ª. São Paulo: Ática, 1999.
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1962.
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o fenômeno da cognição. Ensaio – Pesquisas em Educação em Ciências. (on
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Estrela de Ouro (Condado-PE). Recife: SESC, Editora Bagaço, 2006.
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url : http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/jsa_0037-
9174_1941_num_33_1_3799 Acesso em 22 de abril de 2013.
Entrevista I SOUSA , João Batista Mendes de. [18 setembro 2012]. Entrevistador: Lourdes
Macena, Bairro do Junco, casa do Luciano, neto Mestre Panteca, Sobral, 2012. Arquivo
MP3 – 135 MB – 01h:38min:42seg. Transcrição A.
Sobral: Casa do Capitão Mor, arquivo selo UNICEF, 2012. Arquivo MPG, vídeo – 903 MB –
22min. 35 seg. Transcrição B.
Entrevista III - SOUSA, João Mendes de. Depoimento [outubro de 2012]. Entrevistador:
Lourdes Macena. Entrevista a autora na casa do Luciano, neto mestre Panteca e hoje dono
do Boi Paz no Mundo. Transcrição C.
Vídeo Bois e Reisados de Sobral. Direção de André Persi com produção de Moisés
Magalhães e Fábio do Nascimento. Financiado por MINC/UNESCO/BID por meio do Iphan
projeto Monumenta, Sobral: janeiro de 2007. Documentário em DVD.
Entrevista VII de Izaura lila – Ex-aluna Gestão em Turismo pelo IFCE, com oito anos de
participação ativa no Miraira, cursando especialização em Arte Educação e Cultura Popular
pela Faculdade Darcy Ribeiro. Fez um trabalho junto com Nayana de Castro numa ONG,
indicada pelo laboratório na recriação de danças tradicionais em desuso na comunidade de
Lisiex, interior do Ceará.
Entrevista XII – Mestre Zé Pio, tesouro vivo da cultura cearense. Concedida a autora em
sua casa em 2005 para elaboração do dossiê de sua candidatura a Mestre da Cultura do
Ceará.
Entrevista XIV – Herê Aquino - Diretora de Teatro e Marina Brito – atriz Licenciada em
Teatro pela Instituição A.
Transcrições Musicais
CORDEIRO, Raimundo Nonato
HOLANDA, Francisco José
GOMES, Mateus Farias
Fotos
Fotos 4 a 14 – BARROSO, Oswald.
Fotos Boi Paz no Mundo – cedidas pelo grupo e algumas delas da autora da Tese
Fotos Pastoril – cedidas pela prefeitura, pelo grupo.
Fotos Mestre Zé Pio – Cedidas pelo grupo
262
261
APÊNDICES
128
(POEMA:....TRECHOS OSWALD BARROSO ) ( ATORES cada um com uma camisa
com um nome de um boi de Sobral) (Nas duas laterais do palco dois telões com imagens de
mestres e brincantes dos bois de Sobral projetadas enquanto a poesia é feita)
Sobre o rosto ralo
Brilho de cetins e pedrarias
Sobre o corpo gasto
Cintilações de anéis e coroas.
Sobre a pele pobre
Turbilhões de cores e miçangas
Levitações de sedas
Tatuagens e tinturas.
De danças e de combates?
[...] Na procura de que luas
De que sóis, eles caminham,
128
BARROSO, O. (1996). Reis de Congo – teatro popular tradicional
262 263
ENTRADA: (músicos em cortejo... três microfones sem fio.....boi a frente com os caretas
vaqueiros...cantam e caminham para o palco no trajeto cumprimentam o público como se
esses fossem os donos da casa onde o boi deseja dançar)
(Instrumental 2 sanfona...forró tradicional introdutório...1 minuto de música.... TODOS
CANTAM)
Cheguei no Ceará
Na minha terra natal
Na capital Fortaleza
Terra de carnaubal
Onde acontece decente
As festas de carnaval.
(MAGAREFE E CAPITÃO)
- Boa noite meu capitão
- Boa noite.
- Como é que tá o senhor e como vai a sua obrigação?
- Eu vou bem e como vai o senhor.
264 263
- Meu patrão é o seguinte, eu ando procurando meu garrote, que fugiu do meu curral, eu quero ver se
o senhor da noticia desse animal, aqui na sua propriedade.
- Segunda passou uns cara aqui, deixaram um boi ai e disseram que eu tomasse conta, que depois
vinham pegar. Não sei se pode ser o seu.
- Então o senhor da licença, eu reparar o animal, pra ver se é o meu?
- Fique a vontade.
- Então é agora.
B
Ô vidju, ô vidju qui Pará
Ô vidju, ô vidju qui Pará, ei paraná
Vidju, ô vidju qui Pará
Ô vidju, ô vidju qui Pará
Gurai purai étê
Vossa manguirá pendê
Ô gurari, ô gurari étê
Vossa manguirá, ô pendê
(correm pelo palco e PROCURAM os garrotes E não acham. Tupinambá vai até o Megarefe e fala)
- Olha aqui Megarefe os garrotes estão se arrumando pra festança, não é só um são dois.... vai ser a
maior lambança. Vá continuando aí a brincadeira que nós vamos buscar os bichos... (SAEM OS
INDIOS E TUPINAMBÁ)
MEGAREFE:
Eu andei la em Sobral
Procurando coração
Fiz noticia no Aracati
Na serra de São João
Pois o bicho tava la
Na fazenda do patrão
Eu vou chegando e vou lutando
Lutando muito animado
O cavalo esta aqui
E muito bem preparado
Levantando o chicote
Pra fazer a disparada.
264
265
(MAGAREFE E CORONEL)
MAGAREFE: Eu num sei se boi tá sarado, eu num sei se boi tá doente, eu sei que preciso do bicho
pra dar de comer a muita gente!!!
CORONEL: Que é isso Megarefe, não me fale de doença! Meu boizim de estimação alegria dessa
gente, tem que chegar aqui saltitante pra deixar todos contente... Se ele estiver com problemas como
vou fazer??
(CENA DAMAS )
DAMAS (VÃO EM DIREÇÃO AO CORONEL) (DAMA 1 FALA): Calma meu coronel, calma. Trago
aqui as mulheres rezadeiras, curandeiras de Sobral.
CORONEL: Curandeiras?? Isso é praga é? Vois micê tá dizendo que meu boi tá doente???
Dama 2. Não Coronel...mas caso ele sinta alguma coisa, não se preocupe, nós dançamos um coco
prá mãe rezadeira e aí é só felicidade!!!
DONANA 4 (SE APROXIMANDO). E que coco é esse criaturas? Faz ai pro mode nós dançar
também?
ATOR A – Seu coroné, seu coroné... que é isso, que é isso. Essas damas querem tomar nossa
brincadeira todinha com essa história de coco. Negócio aqui é boi, home.
ATOR B – E a pois num é... e até agora boi que é bom nada!
ATOR C – Quem já viu brincadeira de boi sem boi!!!!!???? Sem burrinha, sem cavalin...!!!???
DONANAS (TODAS entram ...): Pois não seu coroné capitão, presidente, sultão, manda chuva das
arábias... (Gaiatas, faceiras, se rebolando, fazendo graça)
CORONÉ: Quero que vocês tragam aqui minha burrinha, meu cavalim de estimação e já, já, já...
CORONÉ: (INTERROMPE BRUSCAMENTE) – Não é melhor não senhora, traga aqui minha burrinha
E PRA JÁ!! (Se vira e sai para o fundo do palco)
ELIZEU – Donaninha meu amor vamos chamar aqui o cumpade Caboré, tenho certeza que isso vai
animar meu capitãozim...
CABORÉ: (Música sacolejo-instrumental) (Enquanto ele dança Elizeu e Donana gritam e brincam
com ele animados dizendo:
CAZUZA – (Vai entrando a medida que o Caboré vai saindo) – Ei eu também quero trazer um bicho
pra dançar!....
ELIZEU: Óia que bicho é esse meu irmãozin que tu vai trazer?
CAZUZA: Um só não, eu vou trazer logo é muito assim, que eu sou é dos bons...eu gosto é de coisa
muita....vamos lá sanfoneiro um forrozim , um forrozim...(Entram: EMA, BABAU, 3 ALMAS)
Dançam...brincam e saem....
(VOLTA O CORONÉ) – Donana, Donana, cadê minha burrinha.... cadê minha burrinha?
MATEUS: Logo eu Coronel....oh meu Deus...então é isso? Eu faço sim, mas num faço de graça não e
num faço barato
MATEUS: 1+2, 1+2,1+3 com 14x5x3 pra eu dar um presente para minha Donaninha...
MATEUS: É os dinheiro grego que num existe, mais as coisas chinesas que num vale nada e os
dinhero da zoropa apertano nóis, por isso lhe cobro em Zeuros, uma nova moeda sobralense, ou seja
o Sr. me deve 1+2, 1+2,1+3 com 14x5x3 pra eu dar um presente para minha Donaninha...
ATOR D – (Entrando para ajudar ao Coronel age como se fosse filho do coronel) Muito bem, muito
bem, meu pai paga, ele paga o que vc quiser, mas. Vamos assinar um contrato!
MATEUS: Contrato? Assinar? Cazuza, Cazuza...(Chama) contrato é com ele...ele sabe ler direitinho.
Ele até estáno jornada ampliada!!!!
(ELA NÃO QUER SABER DELE CONTINUA BRABA PULANDO, DANÇANDO, CORRENDO...)
MATEUS CHAMA O CAPITÃO: Num dá prá fazer isso não, coronel, só meu irmão Liseu que pode
fazer...só ele...
CORONEL (aborrecido, enfadado): E ainda tem esse Liseu....Donanas, chama esse tal de Liseu, aí e
depressa....
LISEU: (COM UMA ESPÉCIE DE CHICOTE FEITO DE CORDA NA MÃO E QUE DEPOIS IRÁ SE
TRANSFORMAR NA COBRA) Tô aqui, to na área....tô chegando....
(Vai pra perto da burrinha e declama: Faceirinha, faceirinha come carne com farinha, (BIS)
(A BURRINHA SE ACALMA E COME NO CHAPÉU...) (TODOS GRITAM VIVA!!!)
268 267
(MÚSICA FORRÓ) (CENA COBRA) (LISEU ESTENDE O CHICOTE CORDA NO CHÃO BEM NO
CENTRO PALCO E DONANAS, MATEUS, LISEU CAZUZA VÃO DANÇAR ENCIMA DELA DE
FORMA HILÁRIA, ENGRAÇADA DANDO ÊNFASE AOS BAIXOS CORPORAIS)(OS GALANTES ,
INDIOS, DAMAS, SENTAM EM RODA , SEMI CÍRCULO E ELES BRINCAM NO CÍRCULO)
CORONEL CANTA:
Lá se vem o meu vaqueiro
Vaqueiro de tradição
É o vaqueiro do Caiçara
Entra na roda mostra baião
(Estribilho)
(ENTRA VAQUEIRO)
Lá se vem o coronel
Tradicional traz nostalgia
É o coronel do encantado
Encantador traz alegria
(Baião)
268
269
MATEUS:
Vaqueiro que é vaqueiro
Bebe água de barragem
Pra brincar com boi triunfo
Tem que ter muita coragem (BIS)
(FORRÓ BEM ALEGRE PARA PARA DANÇADA BOI MATEUS, DONANAS) (GALANTES DANÇAM
E BATEM PALMAS)
(Círculo em volta do boi vão cantando batendo palmas e retornam aos seus lugares)
(TODOS SE VIRAM PARA O FUNDO DO PALCO. VAI ENTRANDO: São José, N. Sra. Menino
Jesus, Anjo, e a frente deles os 4 caretas) Fazem diálogo cantado:
-(os caretas) Os três reis do oriente / foram a Jesus visitar/ seus nomes eram Gaspar, Belchior
e Baltazar.
(MARIA ACENA PARA QUE OS CARETAS TENTEM RESSUCITAR O BOI. ELE FAZ UM
VERSO E AI O BOI LEVANTA)
(BOI LEVANTA, PULA, E BEIJA OS PÉS DO MENINO JESUS . TODOS BATEM PALMAS E
DÃO VIVAS!!!)
(cantam em volta do boi batendo palmas em circulo se colocando em todo o palco. Nessa hora
todos estão em cena inclusive todos os atores que ficarão na frente e igual ao que está em
mim concluirão cantando estas peças)
(Baseado em memória oral de quem o viu, arquivo sonoro deles cantando e registro em texto
a
de Gustavo barroso – “Ao Som da Viola” – [1 . ed de 1921] Rio de Janeiro 1949).
PERSONAGENS MOUROS
Rei Mouro________________________________________________
Embaixador Ferrabraz da Mauritânia___________________________
Coro de Guerreiros e Menino___________________________________
Florisbela__________________________________________________
FANDANGO
272 271
1. ENTRADA
Adeus, meus marujos 6. GENERAL: Levai meus guardas
Que vai embarcar Esse traidor
É até segunda-feira, Tirai-lhe a vida
Terça, quarta o mais tardar. Com grande vigor
Se despeço meus marujos
Que vão embarcar Príncipe: Senhor não me mate
Vamos todos pra mourama Ouça o meu falar – Bis
E vamos todos pelejar Que lá vem meu pai
Vem me resgatar – Bis.
2. QUER EMBARCAR
Quem embarca, quem fica, quem vem – Bis General: Levai meus guardas
Já são horas de embarcar – Bis Esse traidor
A catraia tá na praia – Bis Tirai-lhe a vida
E a maré está preá-mar – Bis Com grande vigor
Boi-de-Mamão Livro SOARES, Doralécio. MEC- FUNARTE, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Catarinense Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, –Rua do Catete, 179, Rio de
1978. Apresenta o histórico desse folguedo Janeiro, CEP: 22220000 Contatos:
exemplificando sua música , dança e teatro. (21) 2533-4448. E-mail:
[email protected], Sebos e
internet.
Cambindas da Livro TRIGUEIRO, Osvaldo Meira e BENJAMIN, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Paraíba Roberto. MEC- FUNARTE, Campanha de –Rua do Catete, 179, Rio de
Defesa do Folclore Brasileiro, 1978. Janeiro, CEP: 22220000 Contatos:
Apresenta o histórico desse folguedo (21) 2533-4448. E-mail:
exemplificando sua música, dança e teatro. [email protected], Sebos e
internet.
Barca da Paraíba Livro PIMENTEL, Altimar de Alencar. . MEC- CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
FUNARTE, Campanha de Defesa do –Rua do Catete, 179, Rio de
Folclore Brasileiro, 1978. Apresenta o Janeiro, CEP: 22220000 Contatos:
histórico desse folguedo exemplificando sua (21) 2533-4448. E-mail:
música, dança e teatro. [email protected], Sebos e
internet.
Fandango do Paraná Livro AZEVEDO, Fernando Corrêia. MEC- CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
FUNARTE, Campanha de Defesa do –Rua do Catete, 179, Rio de
Folclore Brasileiro, 1978. Apresenta o Janeiro, CEP: 22220000 Contatos:
histórico desse folguedo exemplificando sua (21) 2533-4448. E-mail:
música, dança e teatro. [email protected], Sebos e
internet.
Ticumbi Livro NEVES, Guilherme Santos. MEC- CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
FUNARTE, Campanha de Defesa do –Rua do Catete, 179, Rio de
Folclore Brasileiro, 1976. Apresenta o Janeiro, CEP: 22220000 Contatos:
histórico desse folguedo exemplificando sua (21) 2533-4448. E-mail:
música, dança e teatro. [email protected], Sebos e
internet.
Congadas Livro FERNANDES, José Loureiro. MEC- CNFCP- Biblioteca Amadeu –Rua
Paranaenses FUNARTE, Campanha de Defesa do do Catete, 179, Rio de Janeiro,
Folclore Brasileiro, 1977. Apresenta o CEP: 22220000 Contatos: (21)
histórico desse folguedo exemplificando 2533-4448. E-mail:
sua música , dança e teatro. [email protected], Sebos e
internet.
Chegança – Sergipe Livro DANTAS, Beatriz G. MEC- FUNARTE, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, –Rua do Catete, 179, Rio de
1976. Apresenta o histórico desse folguedo Janeiro, CEP: 22220000 Contatos:
exemplificando sua música, dança e teatro. (21) 2533-4448. E-mail:
[email protected], Sebos e
internet.
Ressureição do Boi Livro SÀ, João Gomes. 4° ed. São Paulo: Email do autor:
274
275
Dança Brasil: Festa e Livro CÔRTES, Gustavo Pereira. Ed. Leitura Editora Leitura Ltda. Rua Pedra
Danças Populares Ltda., 2000. Estudo de característica Bonita, 870- Barroca, Cep: 30430-
elementar e sintética sobre algumas danças 390- Belo Horizonte- MG- Brasil e-
e festas brasileira. mail: [email protected]
home-page:
www.editoraleitura.com.br
Marabaixo DVD Festa e manifestações culturais do Amapá. Entrar em contato com a prefeitura.
Prefeitura municipal de Macapá.
Marabaixo 2 DVD Material colhido na região norte por Entrar em contato com a prefeitura.
lourdinha
Folclore Brasileiro: Livro RODERJAN, Roselys Vellozo. Rio de CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Paraná Janeiro, FUNART, Instituto Nacional de –Rua do Catete, 179, Rio de
Folclore 1981. Linguagem popular. Janeiro, CEP: 22220000 Contatos:
Literatura oral. Danças folclóricas. Cultos (21) 2533-4448. E-mail:
populares. Culinária. Outras manifestações. [email protected], Sebos
Calendário das festas. e internet.
internet.
O Bumba-Meu-Boi Livro CÉCIO, Valdelino. Caderno Tropicália, São CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
do Maranhão Luiz- 1984. – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
-Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
Guerreiro Livro FERREIRA, Mariano Antônio, Secretaria de CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Estado da Educação e Cultura, FUNDESC- – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
1985 -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
Reisado Livro FERREIRA, Mariano Antônio, Secretaria de CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Estado da Educação e Cultura, FUNDESC- – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
1985 -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
Folguedo do Espirito Livro FERREIRA, Mariano Antônio, Mostra de CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Santo Cultura Popular, 1980, Compilação, Rio de – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
Janeiro, SESC. -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
O Natal Brasileiro Livro LODY, Raul. Coord. Geral Dalva Soares CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Bolongnini, São Paulo, Toga- 1984. – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
-Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
Folguedos Natalinos Livro ROCHA, José Maria Tenório. Maceió, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
FUNTED- 1981 (Maceió, História, Costumes – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
– FF. 21) -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
O Pastoril Livro VASCONCELOS, Pedro Teixeira. Maceió, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
FUNTED- 1979 (Maceió, História, Costumes – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
– FF. 7) -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
Folias e folguedos do Livro REIS, Inimar dos. São Paulo. Paulinas, Paulinas. Rua Dona Inácia Rocha
Brasil – Ciclo Junino 2010 Uchoa, 62, 04110-020- São Paulo-
SP (Brasil)
http://www.paulinas.org.br
[email protected]
telemarketing e SAC: 0800-
7010081
Bumba-Meu-Boi – O Livro REIS, José Ribamar dos. Fundação Biblioteca da EMPETUR- Recife
maior espetáculo Joaquim Nabuco- Massangana. Rua Dois
popular do Maranhão Irmãos, 15, Apipucos 50.000- Recife- PE
Maracatu Rural – O Livro VICENTE, Ana Valéria. Associação www.associacaoreviva.org
espetáculo como REVIVA, 2005. Fone: (81) 3494.1216
espaço social Apresenta estudos sobre o Maracatu Rural [email protected]
do Recife, suas características e e a
valorização desse pela mídia
Bumba-Meu-Boi Revista LIMA, Carlos. Revista do Departamento de Biblioteca da EMPETUR- Recife
Turismo do Estado do Maranhão- 1968 (1°
edição)
Bumba-Meu-Boi Livro LIMA, Carlos. 1982- (3° edição) São Luiz Biblioteca da EMPETUR- Recife
Danças do Brasil Livro FELÍCITAS. Danças do Brasil (indígenas e SEBOS
278
279
Espetáculos Livro FILHO, Carlos da Fonte. Recife – 1999. Editora Bagaço. Rua dos
Populares de Editora Bagaço. Arcos,150- Poço da Panela –
Pernambuco Recife- PE, CEP: 52061-180
Fone/Fax: (81) 3441-0132-33-34
280 279
Literatura Oral no Livro CASCUDO, Luiz da Câmara, 1898- (3° Ed. Itatiaia Limitada: Casa da
Brasil edição) - Belo Horizonte : Ed. Itatiaia; São Cultura: Av. Afonso Pena, 952 - 1°
Paulo: Ed. Da Univ. de São Paulo – 1984. andar, Fone: 3222-8630/ Rua da
Bahia, 902- Fones: 3224-5151 e
3226-6997. Belo Horizonte Av.
Afonso Pena, PABX: 3467-6799. Ed.
Da Univ. de São Paulo - 1984.
Bumba-Meu-Boi no Livro AZEVEDO NETO, Américo. 1983- São Luiz, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Maranhão Alcântara. – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
-Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
http://www.cnfcp.gov.br/ Sebos e
internet.
Pastorinhas de Música FONSECA, Wilson. Santarém, Gráf. Tiagão, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Santarém 1986 – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
-Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
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O Bumba-Meu-Boi Caderno MENEZES, Otávio Aires de. Fortaleza- 1987 CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
de – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
cultura -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
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Boi-Bumbá em Livro Rondônia. Secretaria de Cultura, Esportes e CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
Rondônia Turismo. Boi-Bumbá em Rondônia. Porto – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
Velho, Secretaria de Cultura, Esportes e -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
Turismo, Rio de Janeiro, FUNART, 1986. CEP: 22220000
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Pássaros bordando Livro REFKALEFSKY, Margaret. Cadernos IAP, Instituto de Artes do Pará – Praça
sonhos - Função 11q, 2001 Justo Chermont, 236 – CEP: 66035-
dramática do figurino Aborda histórico, figurino, personagens do 170
no Teatro dos teatro dos pássaros de Belém – PA Belém PA
Pássaros em Belém Fone: (91) 3225.2860
do Pará
O teatro que o povo Livro MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. Sebo do Messias.com.br (SP) Fone:
cria: Cordão de Aborda essas danças espetaculares da 3104.7111 e Secult/PA.
pássaros, Cordão de dramaturgia ao espetáculo. Secult/PA, 1977.
bichos, Pássaros
Juninos de Belém
Maracatu: presença livro SILVA, Leonardo Dantas. 1988- Recife, CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
da África no Carnaval Fundação Joaquim Nabuco, Instituto de – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
do Recife Pesquisas Sociais - 1988. -Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
280
281
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Congado: Família de Livro MARTINS, Saul. Belo Horizonte- 1988. CNFCP- Biblioteca Amadeu Amaral
sete Irmãos SESC – Rua do Catete, 179 e 181, Catete
-Tel.: 21 2285-0441, Rio de Janeiro,
CEP: 22220000
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Maracatu s do Recife Livro PEIXE, Guerra. Maracatu s do Recife- SP - Centro Nacional de folclóre CNFCP-
Ed. Ricorde- 1955 Biblioteca Amadeu Amaral –Rua do
Catete, 179, Rio de Janeiro, CEP:
22220000 Contatos: (21) 2533-
4448. e-mail:
[email protected], Sebos
e internet.
TÍTULO, O QUE TIPO DESCRIÇÃO: autor, editora, release ONDE LOCALIZAR
CD/DVD
Folclore Brasileiro: CD Companhia Folclórica do Rio de Janeiro – Companhia Folclórica do Rio –
Danças e Folguedos (grupo de estudos em cultura folclórica da UFRJ.
CD 2 UFRJ). Tel: (21) 2562-6821 / (21) 2288-
7074.
O CD contém danças de diversos estados e www.eefd.ufrj.br
folguedos como o Pastoril (PE).
Boi de Reis (projeto CD CD Idealizado por Profa. Teodora Alves Projeto Encantos da Vila – Fones:
cultural encantos da Núcleo de Arte e Cultura da UFRN - apoio 8822.49350 / 3215.3554
vila) UFRN/PROEX Telefones:
Secretaria do NAC – 3215-3237 ou
3215-3263
Contém músicas do Boi de Reis da Vila de Galeria Conviv’Art – 3215-3240
Ponta Negra/RN. Atelier de Artes – 3215-3238
Parceria: Projeto Arte na Escola. E-mails: [email protected] /
[email protected]
Emails:
[email protected]
[email protected]
Boi da Mocidade CD CD contendo músicas do |Boi da Mocidade (098)3236.1201 / 346.1589 /
(MA) do Maranhão 9973.8215
Sonho da Rabeca CD O CD traz o ícone da rabeca nordestina www.mercadolivre.com.br
(Cavalo Marinho – Mestre Salustiano tocando músicas do
Mestre Salustiano) Cavalo Marinho, Maracatus de Pernambuco. Centro Cultural Casa da Rabeca:
Endereço: R. Curupira, 340 -
Cidade Tabajara, Olinda - PE,
53350-410
Telefone:(81) 3371-8197
Cavalo Marinho - CD O CD traz as músicas do Cavalo Marinho Centro Cultural Casa da Rabeca:
Mestre Salustiano – de Mestre Salustiano de Pernambuco. Endereço: R. Curupira, 340 -
Cidade Tabajara, Olinda - PE,
53350-410
Telefone:(81) 3371-8197
9292.6531 / 3437. 7207 /
3371.8526
Garantido 1995 – CD Boi Garantido – Produção executiva Heitor Diretoria do Boi em Parintins e pela
uma viagem a Santos. CD com as músicas por meio das internet link: parintins.com/
Amazônia quais o Boi Garantido fez sua representação
em 1995.
Boi bumbá garantido CD Associação Boi Bumbá Garantido - Toadas Associação Folclórica do Boi
98 – 500 anos do fio condutor do espetáculo do boi na arena Bumbá Garantido. Fone e email
passado para do Festival Folclórico do Boi Bumbá em E pela net.
construir o futuro. Parintins AM. Toadas com personagens e
partes da representação do boi em 98.
Garantido 2005 – CD Associação Boi Bumbá Garantido – Toadas Contato:
Festa da Natureza fio condutor do espetáculo do boi na arena www.boigarantido.com.brboigaranti
do Festival Folclórico do Boi Bumbá em [email protected]
Parintins AM. Toadas com personagens e
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Garantido 2006 – CD Associação Boi Bumbá Garantido – Toadas Contato:
Terra a grande fio condutor do espetáculo do boi na arena www.boigarantido.com.brboigaranti
maloca do Festival Folclórico do Boi Bumbá em [email protected]
Parintins AM. Toadas com personagens e
partes da representação do boi em 2006.
Garantido 2010 - CD Associação Boi Bumbá Garantido – Toadas Contato:
Paixão fio condutor do espetáculo do boi na arena www.boigarantido.com.brboigaranti
do Festival Folclórico do Boi Bumbá em [email protected]
Parintins AM. Toadas com personagens e
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Garantido 2011 - Associação Boi Bumbá Garantido – Toadas Contato:
Miscigenação CD/DVD fio condutor do espetáculo do boi na arena www.boigarantido.com.brboigaranti
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284 283
Pastoril http://www.youtube.com/watch?v=a
Pastoril está aqui um vídeo maravilhoso.
Vídeo AgrPypngpQ
Caso queira saber mais sobre o pastoril
GRUPO PASTORIL TEMOS DVD
CONTATOS 8817-1869 OU 9636-
5638 - Lucineide Medeiros
Documentário aborda a origem do
Video
Guerreiro, folguedo originário do estado
Guerreiros são http://www.youtube.com/watch?v=ul
Guerreiros – parte I de Alagoas. MvldINB28
Autoria de Jayson Vieira, Daniela
Silveira, Larissa Monteiro, Marcelo
Bolzan e Mariana Ricciardi. Sob
orientação da Profª Draª Maria de
Lourdes Eleutério.
Guerreiros são Documentário aborda a origem do
guerreiros – Parte II Vídeo w.youtube.com/watch?v=yG_8MPn
Guerreiro, folguedo originário do estado de
KgRU
Alagoas.
Reisado de Barbalha Video Gravado no dia de Reis de 2013 http://www.youtube.com/watch?v=M
whSKIu5GXs&hd=1
O Reisado São Miguel do bairro João
Reisado São Miguel
Cabral de Juazeiro do Norte-
de Juazeiro do Norte
Vídeo CE.Tradicionalmente fazem o Reisado no http://www.youtube.com/watch?v=R
período natalino para adorar o Menino qPqWBYnDMw
Jesus
Bumba meu boi - CE Vídeo Bumba meu boi - Festa de Santo Antônio http://www.youtube.com/watch?v=rx
288 287
Pestalozzi (1746 – 1827) enfatizou que a escola deveria ser uma extensão do lar, e, se
inspirar neste, para dar as crianças segurança e afeto. Para ele, a
aprendizagem é produto da
observação, da percepção e deve contribuir para desenvolver as habilidades naturais e inatas dos
alunos (método intuitivo) gerando conhecimento.
John Dewey (1859 – 1952) defendeu uma educação progressista visando o desenvolvimento
da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno. A educação não poderia se restringir apenas a
uma transmissão de conhecimento, mas principalmente deveria contribuir para a vida do cidadão. Fez
críticas a escola tradicional onde o aluno só decorava estabelecendo a educação como uma
necessidade vital da sociedade. Seus princípios contribuíram para o movimento Escola Nova.
Durkhein (1858 – 1917) chamou de socialização seu processo de aprendizagem que via em
cada aluno dois seres intrínsecos e distintos. Um seria o individual e o outro seria o ser social, onde
ele chamava a atenção para a necessidade da escola focar e estimular esse outro lado dos alunos
onde eles exprimem ideias da sociedade da qual fazem parte. O papel da educação seria formar o
cidadão para tomar conta de seu espaço público. Durkhein enfatizava que o desenvolvimento da
comunidade onde a escola se insere depende do sucesso do processo educativo escolar. Ele via a
educação como um bem social se relacionando com a cultura e o grupo social onde a escola se
encontra.
Montessori (1858 – 1952) deu ênfase a autoeducação do aluno onde esse era o indivíduo
como sujeito e objeto na busca de conhecimentos. Sua teoria estabelecia a individualidade, atividade
e liberdade como condições primordiais para a formação integral numa educação para a vida. Ao
professor competia apenas o papel de detectar o modo individual e a potencialidade de cada um e
acompanhar o processo de crescimento de acordo com as caraterísticas pessoais do aluno. Seu
método se baseava na natureza e estabelecia como princípio o desenvolvimento da capacidade
humana de amar e nutrir a paz promovendo independência física e afetiva.
290
291
Claparède (1873 – 1940) desenvolveu teoria psicológica que favoreceu duas importantes
linhas educacionais do século XX: a escola nova e o cognitismo. Para ele o ensino deveria se basear
nos processos mentais e na evolução da criança defendendo o pensamento de que o vetor da
aprendizagem é a atividade e não a memorização.
GRAMSCI (1891 – 1937) defendeu uma escola única de cultura geral, humanista formativa e
crítica, mas nos anos iniciais o professor seria um transmitidor de conteúdos. Na escola prevista por
ele as classes desfavorecidas poderiam se inteirar dos códigos das classes dominantes. Acreditava
que a escola o saber intelectual era o que podia garantir a mentalidade e criticidade necessária para
uma tomada de poder pelos trabalhadores para uma verdadeira cidadania. Seu pensamento que
envolvia instrução popular e pedagogia crítica foi posteriormente teorizado por Paulo Freire.
LEV VYGOTSKY (1896 – 1934) desenvolveu a corrente socioconstrutivista que defendia uma
educação dialética entre sujeito e sociedade por meio de mediação. Para ele o ensino precisava se
antecipar ao que o aluno não sabia e nem seria capaz de aprender sozinho e o professor deveria ser
capaz de perceber o desenvolvimento real da criança e o que ela tinha potencial de aprender.
CARL ROGER (1902 – 1987) via o aluno como centro do processo educativo e o
educador como facilitador de aprendizagem trabalhando para que seus alunos se tornassem
pessoas funcionais. Sua teoria englobava aprendizagem cognitiva, afetiva e psicomotora.
292 291
Fonte:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/ResultadoFamiliaDescricao.jsf
acesso em 23/03/2013
Características de Trabalho
Formação e experiência
O
GAC Atividades
rdem
INTERPRETAR DANÇAS
TRADICIONAIS E POPULARES ...
A
RESPEITANDO AS TRADIÇÕES
ENSAIAR DANÇA
...
TRADICIONAL
B E POPULAR
ESTUDAR DANÇAS
...
TRADICIONAIS
C E POPULARES
PESQUISAR DANÇAS
...
TRADICIONAIS
D E POPULARES
CRIAR ESPETÁCULOS ...
E
DAR AULAS DE DANÇAS
...
TRADICIONAIS
F E POPULARES
ADMINISTRAR ATIVIDADES
RELACIONADAS
G À DANÇA ...
INSERIR O ACERVO CULTURAL
DA DANÇA TRADICIONAL E
POPULAR
H EM
DIFERENTESCONTEXTOS
Participantes da Descrição
Especialistas
Ana Leda Borges Sumodjo
Ana Lúcia Jung (Ana Morena)
Carlinhos De Jesus
Carlos Alberto Teixeira Dos Santos
Caroline Garcia Monteiro
Cristiane Del Nero Velasco
Dalva Soares Bolognini
294 293
Especialistas
Elizabeth Menezes
Eusébio Lôbo Da Silva
Francisco De Oliveira (Artístico: Frank Bruno)
Frank Wilson Roberto
Fábio Batista De Farias
Graziela Estela Fonseca Rodrigues
Helder De Vasconcelos E Silva
Henry Alexandre Durante Machado
José Roberto Mendonza Correia
Maria De Lourdes Macena Filha
Maurício Alves De Oliveira
Raquel Trindade De Souza
Instituições
(sem Empresa)
(sem Empresa)
(sem Empresa)
(sem Empresa)
(sem Empresa)
Abaçaí Cultura E Arte
Academia H2o / Estúdio Palco
Casa De Dança Carlinhos De Jesus
Casa Redonda Centro De Estudos (Educação Infantil)
Cefet/ce - Unifor
Escola Vera Cruz
Raizes Cultura Brasileira S/c Ltda.
Strapolos Bar Academia Ltda.
Unicamp - Instituto De Artes
Unicamp - Instituto De Artes
Universidade Federal Do Rio De Janeiro (Ufrj)
IN: http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-
midia/27566/cidade-cearense-surpreende-com-altos-indices-obtidos-no-ideb/ consultado em 23 de
julho de 2013.
Fonte: MEC
Com 97% das crianças alfabetizadas aos 7 anos de idade, a rede municipal de Educação pública de
Sobral, Ceará, aparece com destaque no mapa do índice desenvolvimento da educação básica
(Ideb). A cada edição, o município registra avanços — em 2005, chegou a 4 pontos; em 2007, a 4,9;
em 2009, a 6,6; em 2011, a 7,3. Ao obter tal pontuação, ultrapassou a meta final prevista somente
para 2021, de 6,1 pontos.
Tais resultados, de acordo com o secretário municipal de Educação, Júlio César da Costa Alexandre,
constituem a soma de 11 anos de política de alfabetização e de investimentos na formação das
crianças da rede de ensino. Em 2001, 48% dos alunos, aos 8 anos de idade, não conseguiam ler
palavras. Hoje, 97% dos estudantes, aos 7 anos, têm leitura, entonação e compreensão do que leem
e escrevem.
A estratégia do município tem a leitura como base do processo. Para executar a tarefa, cada escola
conta com um agente de leitura, que recebe formação mensal ministrada pela equipe da professora
Lourdes Macena, do Departamento de Artes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Ceará, câmpus de Fortaleza. “Em todas as etapas da caminhada da rede rumo à educação
integral, o programa Mais Educação fortalece nossa estratégia”, diz Júlio César.
Hoje, de uma rede de 34 mil alunos, incluindo a educação infantil, o município tem 6,5 mil estudantes
com jornada ampliada e no Mais Educação. O objetivo é chegar à educação integral das 7 às 17
horas, em 100% das escolas urbanas e rurais.
A formação continuada dos educadores e monitores, segundo Júlio César, foi construída para dar
identidade ao projeto. Este ano, 160 educadores, entre professores e monitores, que trabalham na
rede de Sobral recebem formação em música, teatro, narração de histórias, danças populares e artes
visuais. Eles têm 80 horas de curso por ano.
artes na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É professora efetiva do Instituto Federal há
31 anos.
Reconhecimento — Na avaliação de Júlio César, os pais reconhecem que a escola está melhorando.
Além disso, já se observa a tendência de famílias da classe média de tirar os filhos da escola
particular para matriculá-los na pública. Exemplo recente citado pelo secretário aconteceu com uma
escola particular que foi municipalizada. “No começo, os pais não queriam, mas hoje eles perguntam
por que a unidade não foi municipalizada antes”, salientou.
O desafio, de acordo com Júlio César, é manter a colaboração das famílias com o projeto que vai
universalizar a educação integral, da creche ao final da educação infantil, do primeiro ao quinto (anos
iniciais) e do sexto ao nono ano (finais) do ensino fundamental.
Sobral fica no noroeste cearense, a 240 quilômetros de Fortaleza, em área da Caatinga, com
vegetação do Semiárido. A população é de 193,1 mil habitantes, segundo o Censo Demográfico de
2010.