Monografia Rafael Campos PDF
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CAMPINA GRANDE – PB
2013
RAFAEL DOS SANTOS CAMPOS
Orientadora:
Profª Drª Patrícia Cristina de Aragão Araújo
CAMPINA GRANDE – PB
2013
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
Digitado.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
História) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de
Educação, 2012.
Longe de ser uma simples recomendação acadêmica, esta parte para mim é
tão importante quanto todo o restante deste trabalho.
Agradeço a Deus, que me soprou nas narinas o fôlego da vida, me fez ver
beleza na existência, me trouxe luz, esperança, amor e amparo. Participou junto
conosco da natureza humana, da existência temporal. Amou-nos. Chorou. Sofreu.
Manifestou-se em carne na pessoa de Jesus Cristo trazendo luz e salvação a todos
os seres humanos e mantendo real Sua presença em minha vida.
Agradeço à minha família. Minha Mãe, Maria Gorete: deu-me à luz. Cuidou
de mim. Amou-me. Sempre quis o melhor pra mim e muito se doou para isso
acontecer. Foi mãe e pai em minha vida. Te amo... Vovó: cuidou de mim como um
filho, contou histórias e aturou minhas chatices. Te amo... Paim: você esteve lá nas
horas difíceis, cuidou de mim. Te amo… Vocês foram meu suporte. Sem vocês não
teria chegado a lugar nenhum. Minha vitória é sua vitória. Esta humilde conquista,
dedico a vocês. Como posso agradecer o que fizeram? Devo tudo a vocês. Muito
obrigado!
Maria de Lourdes Araújo, você foi muito encorajadora neste trabalho. Sou
grato por todo o seu entusiasmo em me ajudar na pesquisa na Escola Agrícola, sua
energia é contagiante. Recebeu-me em sua casa com muita paciência e interesse.
Neuza dos Anjos, a senhora que ficou até 16horas numa tarde de domingo
sem almoçar pra me conceder uma entrevista. Foi muito gentil e amigável sempre
me falando com muito entusiasmo e se mostrando disposta a me ajudar no que
pudesse. Agradeço a todos vocês pelo carinho, atenção e tempo concedidos.
Não agradeço à orientadora nenhuma! Até porque não tenho uma. Tenho sim
uma amiga, sincera, atenciosa e paciente que espero ter por toda a vida. Patrícia
Cristina nunca esquecerei que desde o primeiro ano de graduação você muito me
aconselha, me puxa a orelha, sempre instiga a querer mais e a buscar o melhor.
Tudo o que você fez por mim está registrado em minha memória. Este trabalho só foi
possível graças a você! Sou grato eternamente.
Agradeço a todos os professores que tive nesta instituição. Garanto que com
cada um de vocês aprendi algo de bom na minha formação docente.
Por fim, aqui vai uma “mistureba”: não poderia deixar de agradecer
sinceramente às bandas de Rock/Heavy Metal que ouvi desde minha adolescência,
fui muito inspirado pelo que ouvi. Agradeço também a todos os pensadores:
filósofos, historiadores, teólogos, dentre outros, que encontrei ao longo de minha
graduação: vocês me inspiraram e me deram forças para superar as barreiras
intelectuais, me instigando a querer mais. Fui moldado e lapidado por tudo o que
escutei e li, muito me inspirei e aprendi ouvindo boa música, lendo boas literaturas.
Hoje sou quem sou graças a essa mistura de influências e ritmos.
“Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
[…]
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa”
Lenine
RESUMO
This paper brings forth the results of a research previously done regarding the
memory and history of the Escola Agrícola Assis Chateaubriand, located in the
city of Lagoa Seca, state of Paraíba. Our goal was to comprehend the history of
said institution as far as its cultural history goes, along with the history of
education, approaching the school's memory by way of the life history of a
former student, a former teacher, and a former principal, as well as through
documents, such as the school's meeting logs, photographs and rules. We
also analyzed the school's daily educational practices under the guidance of
CERTEAU (2008) and the school's memory place under the guidance of NORA
(1993). We worked with oral history as the methodological approach, making
use of the narratives given to us by the faculty members and former student
that were involved with the school. We also made use of documental sources
such as the school's meeting logs, photographs and rule. The theoretical
referential for the research is based on the ideas of JULIA (2001), FREITAS
(2006), CHARTIER (1991), RICOEUR (2010) and HALBWACHS (2008). We
consider the structuring of the history of a school can make so the the memory
of said school lasts, and, thus, giving a new way to see and insert the school in
the city's educational history.
INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................83
REFERÊNCIAS..........................................................................................................86
APÊNDICES...............................................................................................................91
13
INTRODUÇÃO
Uma instituição, não importando sua natureza, não emerge do nada, sem
uma contextualização, pois o próprio conceito realça a ideia de algo constituído pelo
ser humano. Essa criação não surge espontaneamente, mas se desenvolve através
do tempo, num dado cenário histórico e numa dada temporalidade específica.
Assim,
14
uma ressignificação das memórias dos sujeitos a história da escola pode cair no
esquecimento.
Importa ainda pensar qual a relação da escola com a comunidade para que
assim façamos uma análise nesse âmbito, pois chamamos atenção para o fato de
que o espaço escolar se estende para além do espaço físico: desloca-se para as
memórias dos sujeitos portadores de suas lembranças. Os saberes produzidos na
escola são inculcados pelos indivíduos que serão os futuros profissionais que irão
atuar pelo mundo afora levando consigo os saberes e fazeres da cultura escolar.
Albuquerque Júnior (2008) aborda o sentido sensorial que perpassa as relações e os
ambientes:
Esta instituição escolar foi instalada no sítio Imbaúba de Lagoa Seca em 1967
(SANTOS, 2011). Porém observamos que em relação ao tema História e Memória
não há trabalho escrito nem livro publicado e nem mesmo bibliografia referente à
história da escola, nem estudos sobre a História da Educação do município.
Portanto, trata-se de um tema inédito, sobretudo para a linha de pesquisa de Ensino
de História deste curso. Deste modo ressaltamos que este estudo significa uma
oportunidade de registro para a História da escola pelo viés da História da Educação
adotando os aportes teórico-metodológicos da História Cultural.
Nosso inventário das fontes foi composto por arquivos documentais, que
fizeram parte da História da Escola, os quais estavam disponíveis, bem como
fotografias escolares, cadernetas, atas de reuniões, regimentos internos e projetos
políticos pedagógicos. Assim as fontes orais, ou seja, os depoimentos dos sujeitos
pesquisados, foram selecionados de acordo com o recorte temporal estabelecido
para estudo.
tático”. […] esta análise das práticas “vai e vem cada vez novamente
captada […], brincalhona, fujona” (DURAN, 2007, p. 119).
Estas práticas são táticas, uma vez que são praticadas pelos sujeitos de
maneira hábil de acordo com sua própria vontade livre e criadora. Resistem às
imposições do poder, as do estratégicas, que segundo Certeau (2008), se inserem
num campo de sistema meticulosamente engenhoso e pensado.
Certeau (2008) aponta-as como a criação anônima dos sujeitos, suas práticas
ordinárias, comuns, relativas às maneiras de ser e estar no mundo, a maneira de se
deslocar frente às imposições do poder, seja ele manifestado nas ordens e diretrizes
da instituição escolar ou manifestas através de políticas escolares.
em Duran (2007) a partir dos estudos de Certeau (2008), como uma maneira de
pensar a escola, os professores e alunos da EEAC em seus respectivos contextos,
procurando focalizar as questões rotineiras, suas práticas, os acontecimentos diários
mais triviais, os conflitos em sala de aula e os hábitos que configuram seus rituais.
E, no caso dos professores, como se dão suas práticas educativas. Esse
movimento, viável somente a partir dos depoimentos dos sujeitos, ofereceu estas
possibilidades de compreender o cotidiano escolar no período recortado para
estudo.
O indivíduo é um ser social, atua e cria relações nos mais diversos campos
em sua vida. Seu mundo é cultural e dinâmico, marcado pelo movimento e
deslocamentos. Neste sentido, é importante pensar através desta categoria de
análise que concepções esses sujeitos adotam sobre si mesmos, como se
percebem em relação à em escola, de que modo se situam em seu meio social.
Suas narrativas podem revelar as apropriações escolares e os saberes
adquiridos/trocados na instituição educativa.
A fotografia pode ser lida de vários ângulos e muitas questões podem ser
lançadas a partir dela. Dependendo do problema, é possível chegar a mais de uma
leitura sobre o mesmo arquivo fotográfico que ganha diferentes contornos. Conforme
Oliveira (s/d) “a compreensão do significado de algumas imagens e o motivo pelo
qual foram construídas altera o conteúdo das imagens e amplia sua visão”
(OLIVEIRA, s/d, s/p).
Esse artefato significa uma forma de expressão cultural que procura registrar
aspectos que representam um povo. Por isso, acreditamos na força que o produto
iconográfico pode proporcionar ao historiador da educação. De acordo com
conforme Oliveira (s/d)
uma leitura do real realizada mediante o recurso a uma série de regras que
envolvem, inclusive, o controle de um determinado saber de ordem técnica”
(MAUAD, 1996, s/p).
Tais pesquisas em sua maioria têm sido realizadas no âmbito dos programas
de pós-graduação em Educação (PPGEs), com vistas à produção de dissertações
de mestrado, teses de doutorados ou publicações em periódicos especializados. De
acordo com a pesquisa realizada por Buffa (2007), na década de 1970 foram raros
os estudos sobre instituições escolares. Na década de 1980 houve trabalhos mais
significativos dedicados ao tema.
seu caráter durável, têm uma história que nós não apenas queremos
como necessitamos conhecer (SAVIANI, 2007, p. 24)
Segundo as proposições do autor “caracterizar os elementos básicos
constitutivos da instituição escolar para efeitos de sua reconstrução histórica”
(SAVIANI, 2007, p. 24). Deste modo cabe ao pesquisador da História da Educação
identificar suas fontes na instituição escolar e escolher sua perspectiva de trabalho.
Nesse sentido, é possível pensar por vários vieses uma instituição escolar,
pois a História através de suas várias vertentes, como por exemplo, a História
Social, a História Política ou a História Cultural, como um caleidoscópio, permite-nos
várias opções teóricas e metodológicas. Assim, cada vez que o historiador se
aproxima da realidade escolar com uma lente teórica diferente, descobrirá novos
caminhos e possibilidades de pesquisa e, portanto, novas histórias. Nesses termos,
um historiador da Educação, através dos aportes teóricos e metodológicos da
História Cultural pode pensar as práticas do universo escolar no seu cotidiano, ou
ainda perceber como alguns sujeitos que lá atuam representam esses espaços.
Logo, se vê diante de um grande acervo histórico, pois a instituição escolar, assim
como outras instâncias, possui enorme acervo documental, passivo de
problematização, investigação e contextualização.
Chartier (2002) concorda com Ricoeur (2011) sobre este viés na escritura
historiográfica, ao apontar que os historiadores tomaram consciência que a história
também é um discurso que pertence necessariamente ao gênero da narrativa e dela
nunca se afastou.
A escrita da história que trata sobre uma instituição escolar traça um perfil de
pessoas que representam suas vidas através de depoimentos. Assim, estes sujeitos
contam sua história, através da intriga, conforme expôs Ricoeur (2011),
representando sua esta mesma História no espaço institucional. Assim recriam a
realidade de seu passado através dos depoimentos orais, rearticulando a
experiência temporal através do agenciamento de suas falas. Os episódios narrados
fazem jus ao que Ricoeur (2011) elucida, pois suas narrativas aliam o tempo
passado ao constante diálogo com o presente, buscando na memória os fios do
acontecimentos.
depoimentos dos sujeitos que nela atuaram, a fim de contribuírem com suas
memórias para o registro de uma dada época.
Mesmo que a História trate dos mortos, nossa intenção aqui é realizar uma
abordagem sobre um passado que se encontra ativo nas memórias dos sujeitos,
vestígios orais e almejamos então, (re)articular e ressignificar memórias, histórias de
vida, fazer (re)aparecer o que já se foi e não é mais, através de nossa escrita.
Deste modo, percebemos que a memória nos traz algo que não é
necessariamente a reconstrução verdadeira do que se passou, mas nos oferece
fragmentos deste passado, pois acreditamos, conforme Ricoeur (2007) que se a
memória lembra, ela lembra de algo que a antecede, obedecendo às suas nuances
e limitações. Percebemos que a memória também é condição de acesso ao
passado, pois se é memória, o é de algo que se passou (RICOEUR, 2007).
Nos estudos sobre memória, Halbwachs (2006) assinala que toda nossa
lembrança será coletiva, porque é contextual e relacionada com algo ou alguém.
Paul Ricoeur (2007) confirma este pensamento, salientando onde deixa claro que a
pergunta do que se lembra? deve anteceder à de quem se lembra?, pois, admite-se
o sujeito eu, a priori, como o portador único da memória, excluindo portanto a
análise da memória coletiva (HALBWACHS, 2006, P. 23).
Neste capítulo traçamos uma narrativa sobre a história da escola, desde sua
fundação quando ainda se chamava Ginásio Agrícola até o final da década de 1980.
Delineamos nosso texto de acordo com o que foi possível tecer a partir das fontes
orais, dos documentais impressos e das fotografias escolares. Buscamos intercalar
no nosso texto as narrativas dos sujeitos da pesquisa, a partir de suas
representações sobre a história da escola junto com os documentos de atas de
fundação, regimentos internos e fotografias escolares, para assim podermos
ressignificar a história e a memória desta instituição escolar.
Imagem 1
Fotografia do Ginásio Agrícola na década de 1960: da direita para esquerda o Professor João
de Sousa Barbosa e o Professor Severino Duarte
(Fonte: Acervo da EAAC)
Imagem 2:
A terceira pessoa, da esquerda para direita é o gestor João de Souza Barbosa. E o quinto, no
mesmo sentido é o professor Severino Duarte
Imagem 3:
Sala de Aula do Ginásio Agrícola na década de 1960, no colégio Anita Cabral, contando com a
presença de João Barbosa Severino Duarte
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O contexto das décadas de 1960 a 1980 em âmbito nacional foi marcado pelo
período ditatorial, que durou de 1964 até 1985. O objetivo Ginásio Agrícola parecia
estar atrelado às mudanças educacionais sugeridas pelo Governo Federal, que
implementou reformas na educação em todo o Brasil (ZOTTI, 2004). Essas reformas
Imagem 4
A EAAC já na década de 1970 vincula-se à FURNe, tornando-se uma extensão da Universidade.
(Acervo da EAAC)
Ela deu uma contribuição muito boa, porque tem muitos profissionais
hoje espalhados em todo o Brasil. Não é só aqui, é em todo o Brasil.
Profissionais que estão trabalhando na EMATER, é […] Banco do
Nordeste, em fazendas na Bahia, no sul, que são alunos daqui, que
foram alunos daqui[…] Semana passada veio um aluno, que estudou
aqui, terminou o curso, terminou em 85 e ele já foi[…] foi embora pra,
pra São Paulo, trabalhou dentro da área, saiu, já saiu fora, já foi
político, e eu sei que eles tão bem, mas ele agradece à escola
(MARIA DE LOURDES ARAÚJO, 2013).
A escola se tornou importante para o contexto local e social de Lagoa Seca.
Muitos cidadãos da própria de cidade e de fora ali estudaram e depois atuaram em
diversas outras áreas pelo Brasil afora. Conforme destaca Maria de Lourdes Araújo
(2013):
A gente tinha que ir para o campo fazer uma aula de P.A.O., o que
era o P.A.O? O Programa Orientado Agrícola. A gente ia trabalhar:
plantar canteiro, limpar, com o professor de técnico agrícola. […]
Tinha aula de educação física e tinha aula interna né? Tinha aula
teórica e a prática. […] A rotina era essa (MARIA DE LOURDES
ARAÚJO, 2013).
Este currículo era estável, pois “entre 1973 e 1997, o curso técnico em
agropecuária foi conduzido para capacitação de mão-de-obra, do setor através do
sistema profissionalizante e o ensino médio, o antigo 2º grau” (Revista 40 anos). No
que se refere à parte financeira da escola, já na década de 1980, período este que a
EAAC estaria perto de completar seus vinte anos de funcionamento regular, as
dificuldades financeiras ainda não estariam superadas, e os docentes enfrentavam
muitas dificuldades, com a ausência de suporte escolar e materiais pedagógicos
para que sua prática pudesse ser efetiva. Conforme Neuza dos Anjos (2013) nos diz,
eram a
falta de material pra prática. Que a prática que eu podia dar, que na
época, que eu me senti em condições de dar era uma prática bem
melhor. Infelizmente a escola não me oferecia equipamentos no mais
a dar. […] O recurso financeiro era muito pouco (NEUZA DOS
ANJOS, 2013).
Ainda pontuando as dificuldades, Neuza dos Anjos (2013) chama a atenção
para a determinação e dedicação dos profissionais que ali atuaram:
Por essa razão um dos caminhos para se abordar sua trajetória pode ser a
análise de seus modos de operar e funcionar, através do (re)conhecimento da sua
cultura escolar, que adotamos como campo de investigação. Assim, concordamos
com a perspectiva de JULIA (2001) que define cultura escolar
A professora Neuza dos Anjos (2013) continua: “Eu tinha um dia na semana
que o diretor me dava, pra eu entrar em contato com outras empresa, vendedores
de material, de medicamento, de semente, eu sempre tava me renovando”.
Podemos perceber neste intercâmbio de conhecimentos como uma forma de trocas
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culturais, pois cada sujeito possui seu conjunto particular de saberes e esse
intercâmbio oportuniza uma relação proveitosa para as “artes de fazer” (CERTEAU,
2008). Essa partilha não ficava atrelada apenas a outras universidades ou
empresas, mas também ocorria com pessoas do exterior, conforme a professora
declara:
O cotidiano era assim pautado pela relação de produção científica com viés
internacional, em colaboração com pesquisadores do exterior, visando a pesquisa
de implantação de batatas holandesas no Brasil, através da contribuição da EAAC e
mais especificamente da professora Neuza dos Anjos (2013). O professor Joaquim
Vitoriano Pereira (2013), ex-gestor da EAAAC, também expôs essa relação de
intercâmbio entre saberes e práticas envolvendo os holandeses, enfatizando:
Imagem 7
fotografia da década de 1960: a banda do Ginásio Agrícola Assis Chateaubriand
(Fonte da EAAC)
Imagem 8
O Ginásio Agrícola Assis Chateaubriand participava das manifestações culturais e seguia o
calendário nacional em suas manifestações cívicas
(Fonte da EAAC)
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Imagem 9
Banda do Ginásio Agrícola em desfile na cidade de Campina Grande na década de 1960
(Fonte da EAAC)
I
Imagem 10
Apresentação cultural em Campina Grande na década de 1960
(Fonte da EAAC)
72
E então, assim: dia do índio, saía todo mundo saía pra o museu do
índio pra visitar […] tinha o dia do índio ia fazer o trabalho lá no
convento. […] Tempo da páscoa, São João, quadrilhas que era os
professores, diretores que organizava… e a gente participava ali
dentro, dançando a quadrilha, brincando… tinha […] o desfile de 7 de
setembro, isso aí era imperdoável, isso aí era imperdoável, tinha…
num tinha que num participasse […]. E a gente era aquela alegria pra
fazer aquilo: quando era o tempo de São João, tempo da páscoa […],
dia das mães, era organizado […] Tinha o desfile do 7 de setembro,
esse aí era imperdoável […] esse aí era imperdoável, tinha, num
tinha quem num participasse! […] Quem era o nosso instrutor era
quem? O coronel Gonzaga, pai do dodo pró-reitor Sandir […] que o
pró-reitor de administração do RH, professor Sandir, e coronel
Gonzaga era o Coronel Gonzaga era o pai dele. […] No dia 7 de
setembro, tinha os ensaios todo mundo ensaiava e no dia 7 tinha que
desfilar se faltasse já viu como era. […] E a gente era aquela alegria
pra fazer aquilo quando era o tempo do São João, tempo da Páscoa,
era as festinha da gente era só essa, dia das mães, que era
organizado, e as vezes a gente ia, mainha num gostava muito de
festa, às vezes [eu] ia sozinha e […] chorava porque ela num ia […]
aí […] era assim que a gente convivia, as festivadades era essa, tudo
dentro do padrão da escola (MARIA DE LOURDES ARAÚJO, 2013).
Ressaltamos ainda neste depoimento o que foi dito e o não dito, Maria de
Lourdes Araújo em sua narrativa revela que o desfile do dia 7 de setembro era
obrigatório, não podendo ninguém se ausentar. Logo depois chama a atenção para
a figura do instrutor na época, o coronel Gonzaga. O não-dito aqui, no nosso ponto
de vista, se refere à obrigatoriedade do desfile e ao fato de que nenhuma ausência
seria “perdoada”. Um militar agiria conforme o Regime Ditatorial da época em sua
fase mais evidente e atuante no Brasil. Dessa forma, sua performance contribuiu
diretamente para a cultura escolar da EAAC, sobretudo pela subjetivação de práticas
nas festas cívicas e a noção de “disciplina” e “obediência”, inerentes à formação
militar.
reviver aquela época ou de que o tempo não passe, invadida pelo sentimento de
pertencimento àquele lugar que tanto admira, um espaço de amizades sinceras e
que permeiam a memória de Maria de Lourdes Araújo (2013). Ela afirma que: “a
escola pra mim é minha casa e minha vida. Pra mim é tudo isso. Pena que eu tô
saindo o ano que vem. […] E agora eu vou sentir muita falta de lá, quando sair”
(MARIA DE LOURDES ARAÚJO, 2013).
calendário, os longos 33 anos passaram sem pressa, tanto que confessa: “eu vou
sentir muita falta de lá quando sair” (MARIA DE LOURDES ARAÚJO).
E assim nós tivemos uma grande vitória que foi o colégio. Funcionou,
funciona, hoje é um centro, é um orgulho pra universidade. Os aluno
formado por lá eu encontro vez por outra, eu encontro por aí. É a
maior satisfação, valeu a pena aquele sacrifício, fazer a coisa sem ter
condições financeira pra fazer.[…] Não existe nada mais gratificante
(JOAQUIM VITORIANO PEREIRA, 2013).
Professor Vitoriano era aquela coisa, ele vinha. Greve num era
admitida, ele não admitia greve, porque se tivesse ele voltava o
comando no meio do caminho e a gente continuava na escola,
trabalhando e estudando, num tinha isso não. Ele […] e ele era uma
pessoa muito esforçada. O professor Vitoriano era uma pessoa muito
esforçada, do regime militar também que ele vinha naquele regime
militar né? Você tinha que andar certo dentro da escola as coisa de
lá era tudo muito bem organizada […] era muito bom, era um período
bom […] Aquela escola hoje é o que é, agradeça a seu Joaquim
Vitoriano. Se hoje é um centro universitário, agradeça a Joaquim
Vitoriano ao curso técnico em Agropecuária que ele criou ali dentro.
Porque se não fosse ele! Hoje ela já taria, já seria o que? Elefante
branco? Tava pra lá e acabou! (MARIA DE LOURDES ARAÚJO,
2013).
própria presença diante dos alunos e de certa forma “ameaçadora” (NEUZA DOS
ANJOS, 2013), pois que intimidava os alunos ditos rebeldes, conforme declarou
Neuza dos Anjos (2013). O poder disciplinar era exercido e instrumentalizado em
nome do “bom funcionamento” de uma escola precária e sem recursos e em nome
da ordem no espaço institucional.
Neuza dos Anjos nos fala sobre esta forma de atuação e confirma este perfil
da escola em seu depoimento, afirmando que na época em que o professor Joaquim
Vitoriano Pereira era gestor “era um colégio que ainda tinha disciplina” (NEUZA DOS
ANJOS).
importantes para a manutenção de sua imagem como boa profissional. Neuza dos
Anjos nunca quis cair no ridículo e para tal, passava madrugadas lendo e
preparando aulas, pois tinha uma grande missão: ensinar o melhor para os alunos,
mesmo com um salário mísero e numa escola que não tinha recursos financeiros.
Neste sentido, os comentários de Rangel (1999) são essenciais:
Como a professora Neuza dos Anjos foi aluna da EAAC e depois docente, ela
intercala esses dois períodos quando nos fala da instituição:
algo seja considerado nessa condição é necessário que ele seja dotado de uma
aura simbólica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dar voz aos sujeitos que viveram, atuaram e modificaram um espaço. Dar
espaço e vida à palavra perdida, rastro que ficou para traz. Ressignificar as vozes
plurais de um passado que é outro, de um tempo que não é o seu. Possibilitar
compreensões múltiplas através de um olhar caleidoscópico e movimentar-se dentro
das possibilidades de múltiplas explicações para o universo social, pois “a
incompreensão do presente nasce da ignorância do passado” (Marc Bloch). Uma
História da Educação deve suscitar questões que busque no passado possibilidades
de melhor compreensão para o presente.
Este estudo também traz uma contribuição para o ensino de história, pois
possibilita pensar a História da Educação no município de Lagoa Seca, a partir da
Escola Agrícola Assis Chateaubriand, a qual serviu de ponto de partida para as
reflexões contribuindo para a tecelagem dos fios da grande rede que é esta história
educacional desta cidade. Portanto, é possível encaminhar outras discussões que
podem girar em torno do tema das instituições escolares, pois mostramos caminhos
de possibilidades e como é viável ressignificar, a partir do viés da História da
Educação a história de uma instituição escolar.
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REFERÊNCIAS
FERREIRA, Antônio Celso. A fonte Fecunda. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA,
Tania Regina de (ORGS.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2011.
87
FONSECA, Thais Nívia de Lima e Fonseca; VEIGA, Cynthia Greive (ORG.). História
e Historiografia da Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
REIS, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. 3. ed.. Belo Horizonte:
Autêntica, 2006.
REVISTA MUITO MAIS QUE 50 ANOS, EAAC EDIÇÃO ESPECIAL. EAAC UEPB,
EDIÇÃO ESPECIAL.
SILVA, Flora Cardoso da. Duas Abordagens Para o Estudo Da História das
Instituições Escolares. Faculdade de Tecnologia de Sorocaba.
SILVA, Helenice Rodrigues da. Roger Chartier. In: LOPES, Marcos Antônio;
MUNHOZ, SIDNEI J. (ORGS.). Historiadores do nosso tempo. São Paulo:
Alameda, 2010, p. 301 – 319.
APÊNDICES
92
Questionário