CERU - História de Vida - 80-98
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DEPOIMENTOS PESSOAIS*
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Mikel Dufrenne. Coup cToeil sur 1'Anthropologle Culturelle Américaine. Cahiers
Intemationaux de Sociologie, Paris, v. 7, n. 12, 1952.
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quanto se oculta por detrás desta frase comuníssima: "Eu não te-
nho preconceito, mas,.."; o significado que para negros e brancos se
prende ao elemento cor; o preconceito que se manifesta em certas
situações e noutras não - fatos sociais, pois resultam da vida em
grupo - só podem ser alcançados através do comportamento e das
opiniões dos indivíduos, e a história de vida é um dos bons auxilia-
res para sua investigação. O preconceito será assim estudado em
função do membro do grupo; será estudado dentro da comunidade,
que não será encarada como uma reunião de indivíduos a que se
impõem uma coleção determinada de instituições, de valores e de
hábitos, mas sim como uma realidade palpitante, isto é, levando-se
em canta o grupo de indivíduos vivendo, sentindo, agindo dentro da
armadura das instituições, à qual o viver, sentir e agir afrouxa, dá
elasticidade, modifica.
Consideradas sociologia e psicologia como o estuda de duas
faces complementares e inseparáveis de uma mesma realidade, a
história de vida do ponto de vista psicológica, estudando a integra-
ção do indivíduo em determinada cultura, a formação de sua perso-
nalidade pela interação entre suas qualidades individuais e o meio
em que vive, se completa com a história de vida do ponto de vista
sociológico, que mostra, dentro da rigidez do esqueleto estrutural
da sociedade, em suas instituições e "mores", as linhas mais "fá-
ceis" de conduta, os "arranjos", a flexibilidade "do comportamento
humano, que não são individuais porque seguidos por muitos.
Desta compreensão da história de vida decorrem duas conse-
qüências: primeiro, que a psicologia pode encontrar seu material
numa história de vida, pois se seu objetivo é o indivíduo (mesmo que
deste indivíduo se generalize para os restantes, sendo então neces-
sária a escolha de um indivíduo representativo); segundo, que a
sociologia não pode se contentar com uma história de vida, pois,
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É um preparo que o Prof. Roger Bastide vem exigindo dos alunos de sociologia,
sempre que os encarrega de obter uma história de vida.
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lançar mio o sociólogo, para seu estudo; mas os dados assim obti-
dos são menos precisos e necessitam de uma análise muito mais
delicada e cuidadosa, como nota Robert Angell.25 Podemos esculpir
madeira com qualquer canivete; mas o trabalho será muito mais
fácil, rendoso e perfeito, se usarmos o instrumento apropriado.
Pode-se argüir que os autobiógrafos embelezam-se a si mes-
mos, ou que os escritores tendem sempre a dar uma idéia simpática
ou antipática de seu biografado, criando uma imagem fictícia das
ações, atitudes, reações, emoções. O mesmo, porém, acontece quando
o indivíduo conta sua história ao pesquisador; todos nós somos le-
vados, às vezes de maneira inteiramente inconsciente, a nos mos-
trar como queremos ser idealmente e não como realmente somos.
Mas o psicólogo é quem sofre mais com isto, ele é que está lidando
com uma personalidade em sua formação e vicissitudes; quanto ao
sociólogo, pode sanar a falha pela comparação com outras autobio-
grafias e depoimentos, se se lida com documentos frios, ou pelo
interrogatório de pessoas da família sobre o informante, em se tra-
tando de histórias de vida. Neste último caso, o próprio conheci-
mento do informante, à medida que as entrevistas vão se acumu-
lando, permitirá de certo modo ao pesquisador uma atitude de
confiança ou de desconfiança para com a narração que está ouvin-
do. Aliás, a falta de veracidade em relação a certos acontecimentos
ou detalhes (desde que descoberta e constatada pelo sociólogo) pode
até constituir um dado suplementar; conhecido o grupo social do
informante, a falha indica a existência, nesse ponto, de uma valori-
zação ou de uma desvalorização social que o indivíduo voluntária
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GOTTSCHALK, Louis; KLUCKHOHN, Clyde; ANGELL, Robert. The use of personal
documents in history, anthropology and sociology. Social Science Research Council,
New York, Bulletin 53, 1945.
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Esta história de vida foi colhida em 1951, antes da vigência do gravador.
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