Te Seguirei 2024

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Direção Geral

João Edson Queiroz


Coordenação Editorial
Carol de Castro
Revisão ortográfica
Lurdiane Alves
Capa
Assistência de Comunicação da Comunidade Católica Shalom
Imagem da capa
Ateliê Shalom
Diagramação
Natália Rodrigues

Edições Shalom
Estrada de Aquiraz – Lagoa do Junco
CEP: 61.700-000 – Aquiraz/CE
Tel.: (0xx85) 3308.7465/ 7402
@livrariashalom
www.livrariashalom.org | [email protected]

ISBN: 978-65-89366-77-5

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios
(eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.
Índice

Fevereiro - Fundamentos do Carisma .......................... 15

Retiro Pessoal Fevereiro ................................................. 73


Oração Vocacional

Pai de amor e de bondade, cheios de gratidão, porque em tua


imensa misericórdia nos concedeste o dom da Vocação Sha-
lom através do Ressuscitado que passou pela Cruz, nós re-
novamos hoje o compromisso de vivermos o nosso chamado
com todo amor e fidelidade.
Tu és o nosso Deus que mereces todo amor do mundo,
e por amor queremos ser santos, queremos ofertar as nossas
vidas, na vida ofertada do teu Filho, para Nele cooperar com a
reconciliação do homem contigo.
Envia o teu Espírito Santo, e inflama-nos com o Amor Es-
ponsal, para que possamos, em Ti, tudo realizar e a tudo nos
dispor conforme a tua Santa Vontade.
Dá-nos, Senhor, boas, santas e abundantes vocações,
para que possamos cumprir a nossa missão de anunciar a paz
onde a Igreja e a humanidade precisarem de nós.
Sustenta com a Tua graça todas as pessoas que constitu-
íste como família Shalom e aumenta em nós a generosidade
na doação irrevogável da nossa vida.
Pela intercessão da Rainha da Paz, faz-nos crescer na vida
de Contemplação, Unidade e Evangelização.
Queremos, ainda, com o nosso coração cheio de desejo,
dizer: OBRIGADO, SENHOR, POR NOS TERES ESCOLHIDO.

Amém!
Te Segu i re i

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Apresentação
"O jugo de Deus é a vontade de Deus, que nós acolhe-
mos. E esta vontade não é para nós um peso exterior, que nos
oprime e nos tira a liberdade. Conhecer aquilo que Deus quer,
conhecer qual é a via da vida [...]. Esta é, também, a nossa
alegria: a vontade de Deus não nos aliena, nos purifica – tal-
vez em modo também doloroso – e assim nos conduz a nós
mesmos.”1

Querido (a) irmão (ã) vocacionado(a),


Shalom!
Com muita alegria queremos acolhê-lo neste processo
que se inicia em sua vida, um tempo de aprofundamento da
voz de Deus, de um maior autoconhecimento, de um apro-
fundamento no conhecimento do Carisma e, por fim, um
tempo de decisão definitiva daquilo que Deus lhe fala. Esta
alegria transborda em nosso coração, pois reconhecemos o
grande e infinito amor de Deus que chama a muitos para
seguirem a Ele, mas ao mesmo tempo alegra-nos ver a sua
resposta em aderir ao chamado de Deus de discernir a Sua
vontade em sua vida.
Este caminho, como bem Moysés fala nos Escritos, é um
caminho de e para a felicidade. É um caminho de felicidade,
pois está permeada pela voz de Deus, pela Sua graça e atra-
ção, mesmo que exista sofrimentos e dificuldades. E para a fe-
licidade, pois ele nos leva à nossa realização, que está em ser-
mos santos, em vivermos em plena unidade com Deus. Dessa

1. PAPA BENTO XVI. Homilia de Sua Santidade no início do minis-


tério petrino. 24 abr. 2005. Disponível em: https://www.vatican.va/
content/benedict-xvi/pt/homilies/2005/documents/hf_ben-xvi_
hom_20050424_inizio-pontificato.html. Acesso em: 1 nov. 2023.

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Te Segu i re i

forma, é muito acertada a frase do Moysés: “É um caminho de


felicidade, mas nem por isso deixará de ter as barreiras, difi-
culdades e sofrimento. Diria até que, exatamente por ser um
caminho de felicidade, tudo isso irá existir.”2
Assim, querido vocacionado (a), queremos acolhê-lo no
Vocacional Shalom 2024, que tem como tema: “Rei da minha
vida, meu Amado. Digo sim ao Teu chamado!”. Sabendo que
a grandeza de Deus nos supera e nos chama mesmo que ao
nosso olhar não tenhamos nada para dar a Ele. Desta forma
é que devemos trilhar este ano, no grande louvor mariano,
reconhecendo que muito nos foi dado e que por isso muito
também devemos dar.
Além disso, lembrem-se sempre dos santos, particular-
mente nos momentos mais desafiantes e difíceis, buscando
neles o modelo e a imagem para a sua fidelidade até o fim,
pois mesmo em meio as suas fraquezas não voltaram atrás,
mas perseveraram até o fim, sempre buscando em Deus o
consolo e sustento necessário.

Assessoria Vocacional

2. AZEVEDO FILHO, Moysés Louro de. Obra Nova. In: AZEVEDO FILHO,
Moysés Louro de. Escritos Comunidade Católica Shalom. 6. ed. Aqui-
raz: Shalom, 2012. §1. p. 13-14.

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Te Segu i re i

PALAVRAS DO MOYSÉS
AOS VOCACIONADOS

Querido(a) vocacionado(a), Shalom!


Com alegria, a Comunidade Católica Shalom o(a) acolhe
entre aqueles que se põem a caminho em um processo de
discernimento vocacional. Discernir a vontade de Deus e a
ela aderir é, sem dúvida, um dos momentos mais decisivos
na história de uma pessoa. Não se trata de uma escolha pu-
ramente natural, mas da escuta e da adesão ao plano de Deus
para nós, sabendo que a nossa resposta lançará sementes de
eternidade para a nossa vida e a vida de muitos. De fato, a
vontade de Deus é o tesouro que as Sagradas Escrituras con-
vidam a possuir sem temor, aquele tesouro que as traças ou a
ferrugem não são capazes de destruir.
Durante este ano, Deus deseja fazer ressoar a Sua voz em
toda a sua vida. Colocar-se à escuta desta voz através do iti-
nerário que a Comunidade lhe propõe é indispensável para
dar ao Senhor uma sincera e feliz resposta. Aqui não está em
jogo simplesmente a nossa capacidade de “acertar”, digamos
assim, o caminho que devemos seguir, mas a nossa própria
capacidade de percorrê-lo. Com efeito, só uma alma seduzida
pela voz do Senhor será capaz de deixar-se esvaziar daqueles
tesouros que passam e deixar-se preencher pelos tesouros
eternos do coração de Deus.
Aconselho-o(a) a não abrir mão de nenhum dos instru-
mentos que o Senhor dispor durante este ano tão decisivo de
sua vida. A leitura orante da Palavra de Deus, a vida de oração

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Te Segu i re i

pessoal e comunitária, a vida sacramental (Eucaristia diária e


confissão mensal), a abertura sincera e a fidelidade nos acom-
panhamentos, os retiros pessoais, a vida missionária, o ser-
viço, o confiar-se aos cuidados da Virgem Maria – tudo isso
será ocasião para a manifestação e a encarnação da Palavra
de Deus na sua história. É importante saber que, junto das
graças próprias deste tempo, você também enfrentará lutas
e momentos de purificação, mas tenho a convicção de que o
Espírito Santo virá em seu auxílio e o(a) conduzirá por cami-
nhos de verdade e vida.
Lembre-se de que o Senhor não despreza um coração
que, com sua sinceridade, busca a Sua vontade. A este, certa-
mente, Ele se revelará!
Por fim, gostaria de assegurar-lhe a minha oração. Natu-
ralmente, não poderei ouvir as dores e as alegrias de cada um,
mas, diante da presença de Jesus, apresentarei cada um de
vocês, na esperança de que a vitória de Cristo se estabeleça.
Que a Virgem Maria, aquela que fez de cada pequena
decisão um SIM generoso à vontade do Senhor, acompanhe
você e interceda pela Obra Nova que já surge em sua vida. Não
a vedes? Em Jesus e Maria.

Moysés Azevedo
Fundador e Moderador da Comunidade Católica Shalom

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PALAVRAS DA EMMIR
AOS VOCACIONADOS

O tempo passa muito rápido. E o tempo é um dos fatores


que mais influem na nossa opção vocacional.
Não por acaso, o Evangelho de hoje nos fala de duas ca-
racterísticas de quem quer seguir Jesus: em primeiro lugar,
ter uma experiência com Ele como o Messias, o Senhor. Em
segundo, observar a Sua tríplice recomendação: “quem quiser
me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.
(Mc 8,34)
Se você está lendo essa introdução, é porque teve uma
experiência com a Pessoa Dele. É preciso ter a experiência
com Cristo Ressuscitado, querer segui-Lo, renunciar a si
mesmo, abraçar a sua cruz e, de fato, ir em Seu seguimento.
Jesus diz duas vezes a palavra “seguir” nessa frase do Evan-
gelho de hoje. Algumas traduções vão querer colocar “quem
quiser vir após mim”. Entretanto Jesus, nas duas expressões,
quer dizer a palavra “seguir”. Por questões de elegância, na
Bíblia, os tradutores colocam uma vez “vir após mim” e outra
vez “seguir”.
Semântica à parte, vamos falar agora do seu coração.
Tendo tido uma experiência com Jesus Ressuscitado, você
ouviu a voz Dele chamando-o(a) para segui-Lo mais estreita-
mente. Ou seja, não só a andar após Ele, mas tornar-se como
Ele. Tornar-se um outro Ele. Ser Ele para o seu irmão e para o
mundo. Você está se preparando para discernir se é chama-
do(a) a, de fato, renunciar a tudo e a você mesmo para ser um
outro Jesus no mundo.

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Isso não é tarefa fácil. Por outro lado, não é tarefa hu-
mana. É uma obra da graça de Deus. Muito mais do que você,
Deus está interessado em lhe dar toda a força, toda a graça,
todas as condições que, ao longo de sua vida, você necessitará
viver para ser um outro Ele.
Seguir Jesus, dessa forma, com o coração, com a alma,
com o corpo, é tarefa e plano divinos de felicidade a serem
seguidos até a sua morte. Sua principal tarefa, ao longo dessa
preparação e durante toda a sua vida, será colocar-se com
confiança nas mãos Daquele que o(a) chamou. Sem complicar.
Sem muitas interrogações, mas com muito, muito amor.
No fundo, no fundo, é o amor incondicional a Jesus Cristo
que define a qualidade do vocacionado. O amor ardente e in-
condicional de Jesus por um vocacionado, por um consagra-
do, por um filho Seu, por seu turno, é sempre presente, sem-
pre constante e sempre pronto a derramar graça sobre graça,
para que não falte o Seu auxílio àquele(a) que se entregou a
Ele com amor, por amor e em gratidão de amor.
Que o Senhor, que o(a) chama a discernir sobre tomar a
sua cruz, ou seja, perder todos os seus direitos, renunciar a
você mesmo, isto é, desaparecer para que só Ele viva, esse
mesmo Senhor o(a) sustente no caminho de discernimento
e, segundo a Sua vontade, o(a) sustente no caminho para Ele
durante toda a sua vida.
Shalom!

Maria Emmir Nogueira


Cofundadora da Comunidade Católica Shalom

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Checklist Vocacional
Retiro Pessoal – Dia: ____/____/____

Acompanhamento vocacional pessoal – Dia: ____/____/____

Comunhão de bens mensal – Dia: ____/____/____

Encontro vocacional

Missa diária, terço, oração pessoal...

Confissão

Ler os livros: "Irmão de Assis", de Ignácio Larrañaga, e


do escrito "Amor Esponsal", de Moysés Azevedo. Tempo para
leitura: 2 meses – fevereiro e março.

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Fevereiro
O Discernimento e os Fundamentos do Carisma Shalom
Para iniciarmos o nosso vocacional, é preciso, antes de
tudo, conhecermos como se desenvolve um processo de dis-
cernimento, à luz da oração. Por isso, nos primeiros quinze
dias, iremos rezar com as catequeses do Papa Francisco sobre
esse tema3. Nos outros quinze dias, iremos aprofundar os fun-
damentos da nossa Vocação: a experiência com o Ressuscita-
do que passou pela Cruz. Por isso, teremos a oportunidade de
aprofundar em nossa caminhada, dia a dia, essa experiência
que dá sentido a todo o nosso caminho vocacional.
Antes de iniciarmos este caminho de discernimento, gos-
taria de orientá-los que trata-se de um caminho de descoberta
e aprofundamento na vida de oração, na escuta a Deus. Este
caminho só poderá ser feito através de um processo de amiza-
de, como diz Santa Tereza. Dessa forma, tudo o que terá neste
livro será uma motivação para que você dialogue com Deus,
assim você poderá, no tempo certo, escutar de forma clara o
que Deus quer para você.
Por isso, terá dias em que você rapidamente terminará
de ler as orientações, porém você não deve ficar pensando: “E
agora o que vou fazer?” Mas, sim, levar tudo aquilo que ficou
mais forte, através da leitura, para um diálogo com Deus. Con-
verse com Ele e deixe que Ele lhe fale o que Ele deseja, pois até
mesmo o silêncio de Deus é uma forma com que Ele se utiliza
para falar conosco, além de permitir com que Ele opere em
você a Sua vontade.

3. Audiências do Papa Francisco no ano de 2022. Disponível em: www.


vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022.index.html. Aces-
so em: 12 fev. 2024.

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Te Segu i re i

Mas, se você terminou logo a leitura, o que pode fazer?


Elevar a Deus uma súplica, perante as suas fraquezas e peca-
dos; ou um louvor, por ter lhe chamado e ter lhe feito ser um
homem melhor; ou até mesmo o silêncio de adoração e aber-
tura à Sua obra.

1º Dia ____/____/____

Início de um caminho
Como falei anteriormente, iniciaremos tratando sobre o
discernimento, para isso utilizaremos as catequeses do Papa
Francisco sobre o tema. Falando nisso, você sabe o que signi-
fica discernir? Como veremos, discernir parte de uma escuta,
de uma relação, mas também parte de uma decisão, de uma
escolha livre, e não forçada.
“[...] o discernimento apresenta-se como um exercício de
inteligência, também de perícia e inclusive de vontade, para
reconhecer o momento favorável: são estas as condições para
fazer uma boa escolha. É preciso inteligência, perícia e tam-
bém vontade para fazer uma boa escolha. E há ainda um custo
necessário para que o discernimento se torne viável. [...] Cada
um deve tomar decisões; não há ninguém que as tome por
nós. Numa certa altura os adultos, livres, podem pedir con-
selhos, pensar, mas a decisão é pessoal; não se pode dizer:
‘Perdi isto, porque o meu marido decidiu, a minha esposa de-
cidiu, o meu irmão decidiu’: não! Tu deves decidir, cada um
de nós deve decidir, e por isso é importante saber discernir:
para decidir bem, é necessário saber discernir. [...] Por exem-
plo, pensemos no primeiro encontro de André e João com Je-
sus, um encontro que nasce de uma simples pergunta: ‘Rabi,
onde moras?’ – ‘Vinde ver!’ (cf. Jo 1,38-39), diz Jesus. Um diálo-
go muito breve, mas é o início de uma mudança que, passo a
passo, marcará a vida inteira. Anos mais tarde, o Evangelista
continuará a lembrar-se daquele encontro que o mudou para
sempre, recordando-se até da hora: ‘Eram cerca das quatro

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Fevere i ro

horas da tarde’ (v. 39). Foi a hora em que o tempo e o eterno


se encontraram na sua vida. E, numa decisão boa, certa, en-
contra-se a vontade de Deus com a nossa vontade; encontra-
-se o caminho atual com o eterno. Tomar uma decisão certa,
depois de um caminho de discernimento, significa fazer este
encontro: o tempo com o eterno.”4
Dessa forma, percebemos como é necessário, no nos-
so dia a dia, adentrarmos num caminho de discernimento,
por isso releia está parte da catequese assumindo o caminho
que Deus lhe chama a percorrer neste ano, de discernir -
com Ele - a sua vocação.

2º Dia ____/____/____

Discernir a partir da verdadeira paz


Por ser um bom filho de seu pai espiritual, o Papa Francis-
co utilizará elementos da vida de Santo Inácio nas catequeses
sobre discernimento. Dessa forma, vemos como é importante
termos familiaridade com a vida dos santos, buscando ler as
histórias de vida, os testemunhos e os escritos.
“[Na experiência de conversão de Santo Inácio], podemos
notar sobretudo dois aspectos. O primeiro é o tempo: ou seja,
os pensamentos do mundo no início são atraentes, mas de-
pois perdem brilho e deixam vazio, insatisfeito, deixam-te as-
sim, uma coisa vazia. Os pensamentos de Deus, ao contrário,
primeiro suscitam uma certa resistência – 'Mas não vou ler
esta coisa tediosa sobre os santos' – mas quando são acei-
tes trazem uma paz desconhecida, que dura muito tempo. [...]
Ele faz a sua primeira experiência de Deus, ouvindo o próprio
coração, que lhe mostra uma inversão curiosa: as coisas à pri-
meira vista atraentes deixam-no desiludido, e noutras, menos
brilhantes, sente uma paz que perdura no tempo. Também

4. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 31 ago. 2022. Disponível em: ht-


tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/docu-
ments/20220831-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2024.

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Te Segu i re i

nós vivemos esta experiência, muitas vezes começamos a


pensar em algo e ficamos ali, e depois sentimo-nos desilu-
didos. Ao contrário, fazemos uma obra de caridade, fazemos
algo bom e sentimos um pouco de felicidade, vem-te um bom
pensamento, vem-te a felicidade, um pouco de alegria, é uma
experiência totalmente nossa.”5
Partindo do testemunho desse grande santo, percebe-
mos como as realidades humanas, que estão fora do desígnio
de Deus para nós, tocam nos nossos afetos, mas não nos tra-
zem paz. Por isso, devemos discernir as realidades da nossa
vida, principalmente escolhas fundamentais e eternas, não
nos afetos que recebo ou receberei, mas na paz que aquela
escolha me traz, paz não baseada nos sentimentos, mas na
união com Deus. Releia esse trecho e reze com ele, supli-
cando a Deus que ele o ajude a discernir o que lhe traz a
verdadeira paz.

VOCÊ TEM DOIS MESES PARA LER


“O Irmão de Assis” (Autor: Ignacio Larrañaga)

3º Dia ____/____/____

Vida de oração como elemento fundamental do discernimento


O discernimento, porém, não é algo meramente huma-
no, particularmente quando vamos fazer escolhas que tocam
na realidade religiosa. Mas é uma experiência de conhecer e
aderir aquilo que Deus deseja de nós, por isso a oração é fun-
damental neste percurso e, como diz o Papa, é um elemento
fundamental do discernimento.

5. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 7 set. 2022. Disponível em: ht-


tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/docu-
ments/20220907-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2024.

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Fevere i ro

“A oração é uma ajuda indispensável para o discernimen-


to espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo
que nos dirijamos a Deus com simplicidade e familiaridade,
como se fala com um amigo. É saber ir além dos pensamentos,
entrar em intimidade com o Senhor, com uma espontaneida-
de afetuosa. O segredo da vida dos santos é a familiaridade
e a confidência com Deus, que cresce neles e torna cada vez
mais fácil reconhecer o que Lhe agrada. A oração verdadeira é
familiaridade e confidência com Deus. Não é recitar orações
como um papagaio, blá-blá-blá, não. A verdadeira oração é
aquela espontaneidade e afeto com o Senhor. Esta familia-
ridade supera o medo ou a dúvida de que a sua vontade não
é para o nosso bem, uma tentação que às vezes atravessa os
nossos pensamentos, tornando o coração inquieto e incerto
ou até amargo. [...] Discernir o que acontece dentro de nós
não é fácil, porque as aparências enganam, mas a familiarida-
de com Deus pode dissipar delicadamente dúvidas e temo-
res, tornando a nossa vida cada vez mais receptiva à sua ‘luz
suave’, de acordo com a bonita expressão de São John Henry
Newman. Os santos brilham com luz refletida, mostrando nos
gestos simples do seu dia a presença amorosa de Deus, que
torna possível o impossível.”6
Assim, vemos como é fundamental a nossa vida de ora-
ção para estarmos mais íntimos de Deus, isto é, mais fami-
liarizados com a voz e a presença de Deus, como eram os
nossos primeiros pais. Sabendo disso, releia esse trecho e
suplique a Deus que, neste ano, Ele esteja mais próximo de
você e que Ele lhe dê a graça de você lutar para que você es-
teja mais próximo Dele, pois só assim você conseguirá dis-
cernir a vontade Dele para a sua vida.

Pense nisso: “Fundamento é a base que sustenta o Carisma Shalom”.

6. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 28 set. 2023. Disponível em: ht-


tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/docu-
ments/20220928-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2024.

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Te Segu i re i

4º Dia ____/____/____

Autoconhecimento
Um outro elemento fundamental do discernimento é o
autoconhecimento. Não tem como discernirmos bem uma
vocação sem buscarmos conhecer a nós mesmos, nossos
dons e fraquezas.
“Hoje gostaria de salientar, de maneira quase comple-
mentar, que o bom discernimento exige também o conheci-
mento de si. Conhecer a si mesmo. E isso não é fácil. Com
efeito, o discernimento envolve as nossas faculdades huma-
nas: a memória, o intelecto, a vontade, os afetos. Muitas vezes
não sabemos discernir porque não nos conhecemos de modo
suficiente, e assim não sabemos o que realmente queremos.
Ouvistes muitas vezes: ‘Mas aquela pessoa, por que não se
ocupa da sua vida? Nunca soube o que quer…’. Sem chegar
àquele extremo, mas também a nós acontece que não sabe-
mos bem o que queremos, não nos conhecemos bem. [...] Co-
nhecer-se a si próprio não é difícil, mas é cansativo: exige um
paciente trabalho de escavação interior. Requer a capacidade
de parar, de ‘desativar o piloto automático’, de tomar cons-
ciência da nossa maneira de agir, dos sentimentos que nos
habitam, dos pensamentos recorrentes que nos condicionam,
e muitas vezes sem que saibamos. Exige também que se dis-
tinga entre as emoções e as faculdades espirituais. ‘Sinto’ não
é a mesma coisa que ‘estou convencido’; ‘apetece-me’ não é a
mesma coisa que ‘desejo’. Assim chegamos a reconhecer que
a visão que temos de nós próprios e da realidade é às vezes
um pouco deturpada. Compreender isso é uma graça! Com
efeito, muitas vezes pode acontecer que convicções erradas
sobre a realidade, baseadas nas experiências do passado, nos
influenciem fortemente, limitando a nossa liberdade de apos-
tar naquilo que realmente conta na nossa vida.”
Podemos perceber, a partir do que o Papa nos fala, que
um outro elemento essencial para o discernimento é o au-
toconhecimento, que deve andar em conjunto com a vida de

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Fevere i ro

oração, pois o autoconhecimento nos dá a base daquilo que


deve permear a nossa oração, porque nos mostra quais re-
alidades ainda não estão convertidas e que precisam serem
transformadas pela graça divina. Além disso, o autoconhe-
cimento nos permite nos conhecer melhor, e assim perce-
ber de onde parte os movimentos interiores, de Deus ou da
carne. Por fim, o Papa dá uma dica de um exercício que é
fundamental para o autoconhecimento: o exame de consci-
ência. Dessa forma, vemos como é fundamental para nós nos
conhecemos bem, sabermos de onde vem os movimentos in-
teriores, mas também melhorarmos a escuta a Deus. Então
releia esse trecho e reze suplicando a Deus que Ele lhe dê
a graça de se conhecer mais e melhor; além disso, faça um
exame de consciência, fazendo memória dos seus atos, pala-
vras e omissões, para perceber em que você peca mais e em
que você é mais virtuoso.

5º Dia ____/____/____

O desejo pela vontade de Deus


Continuando o nosso percurso, o Papa nos dará um outro
elemento para bem vivermos o discernimento, o desejo, que
para nós pode soar bem intrigante: “Como devemos desejar
para bem discernir?” Vamos descobrir?

“Com efeito, o discernimento é uma forma de busca, e a


busca deriva sempre de algo que nos falta, mas que, de cer-
to modo, conhecemos, intuímos. De que tipo é este conhe-
cimento? Os mestres espirituais indicam-no com o termo
‘desejo’ que, na raiz, é uma nostalgia de plenitude que nunca
encontra realização total, e é o sinal da presença de Deus em
nós. O desejo não é a vontade do momento, não. A palavra
italiana vem de um termo latino muito bonito, isto é, curioso:
de-sidus, literalmente ‘a falta da estrela’, desejo é uma falta da
estrela, falta do ponto de referência que orienta o caminho

23
Te Segu i re i

da vida; ela evoca um sofrimento, uma carência e, ao mesmo


tempo, uma tensão para alcançar o bem que nos falta. En-
tão, o desejo é a bússola para compreender onde estou e para
onde vou, aliás é a bússola para compreender se estou parado
ou a caminhar, uma pessoa que nunca deseja é uma pessoa
parada, talvez doente, quase morta. É a bússola que indica se
estou a caminhar ou parado. E como é possível reconhecê-lo?
[...] Ao contrário da vontade ou da emoção do momento, o de-
sejo dura no tempo, até por muito tempo, e tende a concreti-
zar-se. Se, por exemplo, um jovem desejar tornar-se médico,
deverá empreender um percurso de estudos e de trabalho
que ocupará vários anos da sua vida e, consequentemente,
deverá estabelecer limites, dizer ‘não’, em primeiro lugar a ou-
tros percursos de estudos, mas também a possíveis lazeres
e distrações, especialmente nos momentos mais intensos de
estudo. No entanto, o desejo de dar um rumo à sua vida e de
alcançar aquela meta – chegar a ser médico era o exemplo –
permite-lhe superar tais dificuldades. O desejo torna-te for-
te, corajoso, faz com que vás em frente sempre porque queres
chegar àquilo: ‘Eu desejo aquilo’. [...] Muitas vezes, é precisa-
mente o desejo que faz a diferença entre um projeto de su-
cesso, coerente e duradouro, e os milhares de veleidades e
tantos bons propósitos com que, como se diz, ‘é pavimentado
o inferno’: ‘Sim, eu queria, queria, queria…’ mas nada faz. A
época em que vivemos parece favorecer a máxima liberda-
de de escolha, mas ao mesmo tempo atrofia o desejo – que-
res satisfazer-te continuamente – reduzido principalmente à
vontade do momento. E devemos estar atentos a não atrofiar
o desejo. Somos bombardeados por mil propostas, projetos e
possibilidades, que correm o risco de nos distrair e de não nos
permitir avaliar com calma o que realmente queremos. Mui-
tas vezes, encontramos pessoas – pensemos nos jovens por
exemplo – com o telemóvel na mão e procuram, olham… ‘Mas
tu paras para pensar?’ – ‘Não’. Sempre extroverso, para com
o outro. Assim o desejo não pode crescer, tu vives o momen-
to, saciado no momento e o desejo não cresce. Muitas pesso-

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Fevere i ro

as sofrem porque não sabem o que querem da própria vida;


provavelmente nunca entraram em contato com o seu desejo
mais profundo, nunca souberam: ‘O que queres da tua vida?’ –
‘não sei’. Daqui deriva o risco de passar a existência entre ten-
tativas e expedientes de vários tipos, sem nunca chegar a lado
algum, desperdiçando oportunidades preciosas. E assim cer-
tas mudanças, embora desejadas em teoria, quando se apre-
senta a ocasião, nunca são postas em prática, falta o desejo
forte de levar algo adiante. Se hoje, por exemplo, a qualquer
um de nós, o Senhor nos dirigisse a pergunta que fez ao cego
de Jericó: ‘Que queres que te faça?’ (Mc 10,51) – imaginemos
que o Senhor pergunte hoje a cada um de nós: ‘que queres
que eu faça por ti’ – como responderíamos? Talvez finalmente
pudéssemos pedir-lhe que nos ajude a conhecer o profundo
desejo Dele que o próprio Deus colocou no nosso coração:
‘Senhor, que eu conheça os meus desejos, que eu seja uma
mulher, um homem de grandes desejos’, talvez o Senhor nos
conceda a força para o realizar. É uma graça imensa, na base
de todas as outras: permitir que o Senhor, como no Evange-
lho, faça milagres para nós: ‘Concedei-nos o desejo e fazei-o
crescer, Senhor’ ”.7
Percebemos como uma pessoa sem desejo é quase como
se fosse um zumbi, por isso é fundamental em nossa ca-
minhada rumo à santidade queremos sermos santos e não
somente irmos vivendo. É desSa forma que o Papa coloca o
desejo como elemento fundamental do discernimento, pois,
se não desejamos discernir, nunca iremos realizá-lo. Além
disso, o Papa nos mostra que o desejo não é um sentimento
de momento e não se extingue nas dificuldades, pois toca o
mais íntimo de nós. A partir disso, lhe questiono: como está
o seu desejo por Deus? Como está o seu desejo por descobrir
a vontade de Deus para você? Releia esse trecho e reze bus-
cando descobrir a sua verdade, como está o seu desejo pelas

7. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 12 out. 2022. Disponível em: ht-


tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/docu-
ments/20221012-udienza-generale.html. Acesso em: 1 no. 2023.

25
Te Segu i re i

coisas santas, particularmente pela vontade divina, além de


suplicar que, neste ano, Deus atraia o seu desejo a Ele.

6º Dia ____/____/____

Ler a nossa história de vida


Continuando o nosso percurso, o Papa expõe um outro
elemento fundamental, que é o saber ler o livro da nossa his-
tória. Porém, no mundo em que nos encontramos, temos cada
vez mais dificuldade em fazer isso, porque o mundo nos lança
sempre mais para fora de nós mesmos, e assim não nos exer-
citamos a adentrar em nós.
“Hoje meditemos sobre outro ingrediente indispensável
para o discernimento: a própria história de vida. Conhecer a
própria história de vida é um ingrediente – digamos assim –
indispensável para o discernimento. A nossa vida é o ‘livro’
mais precioso que nos foi confiado, um livro que muitos infe-
lizmente não leem, ou que o fazem demasiado tarde, antes de
morrer. No entanto, é precisamente nesse livro que se encon-
tra aquilo que se procura inutilmente por outros caminhos.
Santo Agostinho, um grande investigador da verdade, com-
preendeu-o exatamente relendo a sua vida, observando nela
os passos silenciosos e discretos, mas incisivos, da presença
do Senhor. No final deste percurso, anotará com admiração:
‘Tu estavas dentro de mim, e eu fora. Lá, eu procurava-te. De-
formado, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.
Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo’ (Confissões X,
27.38). Daqui deriva o seu convite a cultivar a vida interior,
para encontrar o que se procura: ‘Volta para ti mesmo. No ho-
mem interior habita a verdade’ (A verdadeira religião, XXXIX,
72). Este é um convite que faria a todos vós, inclusive a mim
mesmo: ‘Entra em ti mesmo. Lê a tua vida. Lê dentro de ti,
como foi o teu percurso. Com serenidade. Entra em ti mesmo’.
Muitas vezes, também nós vivemos a experiência de Agosti-
nho, de nos encontrarmos presos em pensamentos que nos
afastam de nós mesmos, mensagens estereotipadas que nos

26
Fevere i ro

ferem: por exemplo, ‘Nada valho’ – e desanimas; ‘tudo corre


mal comigo’, e deprimes-te; ‘nunca farei nada de bom’, e de-
sencorajas-te; e assim é a vida. Essas frases pessimistas que
te desanimam! Ler a própria história significa também reco-
nhecer a presença destes elementos ‘tóxicos’, mas para de-
pois ampliar a trama da nossa narração, aprendendo a ob-
servar outras coisas, tornando-a mais rica, mais respeitadora
da complexidade, conseguindo até captar os modos discretos
como Deus age na nossa vida. Certa vez conheci uma pes-
soa da qual havia quem dissesse que merecia o prémio Nobel
da negatividade: tudo era terrível, tudo, e procurava sempre
motivos para desanimar. Era uma pessoa amargurada e, no
entanto, possuía muitas qualidades. Depois, essa pessoa en-
controu outra pessoa que a ajudou muito e cada vez que se
lamentava de algo, esta última dizia: ‘Agora, para compensar,
diz alguma coisa positiva de ti’. E ele: ‘Ah, sim... tenho também
esta qualidade’, e pouco a pouco ajudou-o a ir em frente, a
ler bem a própria vida, quer nos aspetos negativos, quer nos
positivos. Devemos ler a nossa vida, e assim vemos o que não
é positivo e também as coisas boas que Deus semeia em nós.
[...] O bem está escondido, sempre, pois o bem tem pudor e
esconde-se: o bem está escondido; é silencioso, requer uma
escavação lenta e contínua. Pois o estilo de Deus é discreto:
a Deus apraz o escondimento, a discrição, não se impõe; é
como o ar que respiramos, não o vemos, mas faz-nos viver,
e só nos damos conta dele quando nos falta. Habituar-se a
reler a própria vida educa o olhar, aguça-o, permite notar os
pequenos milagres que o bom Deus realiza para nós todos os
dias. Quando prestamos atenção, observamos outros rumos
possíveis que revigoram o gosto interior, a paz e a criativi-
dade. Acima de tudo, torna-nos mais livres dos estereótipos
tóxicos. Diz-se sabiamente que o homem que não conhece o
seu passado está condenado a repeti-lo. É curioso: se não co-
nhecermos a estrada percorrida, o passado, repetimo-lo sem-
pre, somos circulares. A pessoa que caminha circularmente

27
Te Segu i re i

nunca vai em frente, não há caminho, é como o cão que se


morde a cauda, sempre vai assim, e repete as ações.”8
Dessa forma, podemos perceber que o discernimento
parte de muitos fatores, mas que deve sempre existir uma
abertura a Deus e a nós mesmos, principalmente na busca
em adentrarmos em nós mesmos, e assim lermos a nossa
história de vida. Uma realidade fundamental que também
devemos ter é a justa medida de nós mesmos, olharmos para
nós e vermos as nossas debilidades, mas também reconhe-
cemos o quanto Deus realizou em nós e quais graças Ele
derramou em nossos corações. Por fim, o Papa fala algo bem
acertado, quando habituamos a reler a nossa história, vamos
educando o nosso olhar para que sempre vejamos as mani-
festações de Deus entre as pequenas situações do nosso dia.
Releia esse trecho e suplique ao Senhor que Ele o ajude a ler
novamente a sua história, buscando ver os momentos bons
e ruins, além de suplicar a Ele que lhe dê um novo olhar pe-
rante você e perante o seu percurso de discernimento.

Pense nisso: “o Fundamento que sustenta o Carisma Shalom é a expe-


riência com o Ressuscitado que passou pela cruz. É nessa base que se
concentra o alicerce da nossa vocação.

7º Dia ____/____/____

A desolação
Um elemento que o Papa apresenta como matéria do dis-
cernimento, seguindo os “Exercícios Espirituais”, é a desola-
ção, isto é, “uma perturbação interior, uma inquietação devi-
da a várias agitações e tentações”. Essa desolação, segundo o
Papa, deve nos levar a um grande movimento de conversão e
mudança de vida.

8. FRANCISCO. Audiência Geral: Catequeses sobre o discernimento.


Audiência sobre o livro da própria vida. Disponível em: https://www.
vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/
20221019-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev 2023.

28
Fevere i ro

“Neste sentido, também o estado espiritual a que chama-


mos desolação, quando no coração é tudo escuro, triste, este
estado de desolação pode ser ocasião de crescimento. Com
efeito, se não houver um pouco de insatisfação, um pouco de
tristeza saudável, uma capacidade salutar de habitar na soli-
dão, de estar conosco próprios sem fugir, corremos o risco
de permanecer sempre na superfície das coisas, sem nun-
ca entrar em contacto com o centro da nossa existência. A
desolação provoca uma ‘trepidação da alma’, quando alguém
está triste é como se a alma tremesse; mantém-nos alerta,
favorece a vigilância e a humildade, protegendo-nos contra
os ventos do capricho. São condições indispensáveis para o
progresso na vida e, portanto, inclusive na vida espiritual. [...].
Para muitos santos e santas, a inquietação foi um ímpeto de-
cisivo para fazer uma mudança na própria vida. Não é boa esta
serenidade artificial, mas é boa a saudável inquietude, o cora-
ção inquieto, o coração que procura encontrar caminhos. É o
caso, por exemplo, de Agostinho de Hipona, ou de Edith Stein,
ou de José Benedito Cottolengo ou de Charles de Foucauld. As
escolhas importantes têm um preço que a vida apresenta, um
preço acessível a todos: ou seja, as escolhas importantes não
se vencem com a lotaria, não; têm um preço e deves pagar
aquele preço. É um preço que deves pagar com o teu cora-
ção, é um preço da decisão, um preço de levar adiante um
pouco de esforço. Não é grátis, mas é um preço ao alcance
de todos. Todos nós devemos pagar esta decisão para sair do
estado de indiferença, que nos entristece, sempre. [...] Caros
irmãos e irmãs, a vida espiritual não é uma técnica à nossa
disposição, não é um programa de ‘bem-estar’ interior que
nos compete planificar. Não! A vida espiritual é a relação com
o Vivente, com Deus, o Vivente, irredutível às nossas catego-
rias. Então, a desolação é a resposta mais clara à objeção de
que a experiência de Deus constitui uma forma de sugestão,
uma simples projeção dos nossos desejos. A desolação con-
siste em não sentir nada, tudo escuro: mas tu procuras Deus
na desolação. Em tal caso, se pensarmos que é uma proje-

29
Te Segu i re i

ção dos nossos desejos, seríamos sempre nós a programá-la,


estaríamos sempre felizes e satisfeitos, como um disco que
repete a mesma música. Ao contrário, quem reza observa que
os resultados são imprevisíveis: experiências e passagens da
Bíblia que muitas vezes nos entusiasmaram, hoje, estranha-
mente, não suscitam emoção alguma. E, igualmente de modo
inesperado, experiências, encontros e leituras a que nunca se
prestara atenção ou que se preferiria evitar – como a expe-
riência da Cruz – trazem uma paz imensa. Não temais a de-
solação, levai-a avante com perseverança, não escapeis. E na
desolação procurai encontrar o coração de Cristo, encontrar
o Senhor. E a resposta chega, sempre.”9
Como podemos ver, a desolação é um toque de Deus para
adentrarmos em nós mesmos e silenciarmos para estarmos
com Deus, mesmo em meio ao silêncio e à escuridão. Este
silêncio nos impulsiona a querermos estar com Deus, e não
viver a ociosidade, a fuga de estar com Deus e de enchermos
o nosso tempo com outras coisas, por isso é fundamental
averiguarmos como está o nosso desejo por Deus, pois ele
é um sinal de como está o nosso relacionamento com Ele.
Um outro ponto, acerca desse trecho que podemos colher, é
como Deus se utiliza de tudo para nos falar e nos converter.
Releia esse trecho é vá deixando Deus ter o seu coração e
levá-lo a um grande processo de conversão e de firmeza na
vontade de Deus em sua vida.

ESTA SEMANA VOCÊ PODERÁ REZAR COM:


CARTA À COMUNIDADE 2005; Escritos da
Comunidade Católica Shalom, 47 – 90;
Catecismo da Igreja Católica, 26 – 73.

9. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 16 nov. 2022. Disponível em: ht-


tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/docu-
ments/20221116-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2023.

30
Fevere i ro

8º Dia ____/____/____

Consolação
Como vimos ontem, Deus se utiliza de tudo para nos tra-
zer a Ele, inclusive das nossas decorações, mas particular-
mente das nossas consolações. Para compreender um pouco
mais, leia o texto a seguir:
“O que é a consolação espiritual? É uma experiência de
alegria interior, que permite ver a presença de Deus em tudo;
ela revigora a fé e a esperança, assim como a capacidade de
fazer o bem. A pessoa que vive a consolação não se rende
diante das dificuldades, pois experimenta uma paz mais for-
te do que a provação. Portanto, trata-se de um grande dom
para a vida espiritual e para a vida no seu conjunto. E viver
esta alegria interior. A consolação é um movimento íntimo,
que toca o fundo de nós próprios. Não é vistosa, mas suave,
delicada, como uma gota de água sobre uma esponja (cf. Santo
Inácio de Loyola, Exercícios espirituais, 335): a pessoa sente-
-se abraçada pela presença de Deus, de uma maneira sempre
respeitosa da própria liberdade. Nunca é algo desafinado, que
procura forçar a nossa vontade, mas também não é uma eu-
foria passageira: pelo contrário, como vimos, até a dor – por
exemplo, por causa dos próprios pecados – pode tornar-se
motivo de consolação. [...] A consolação é uma paz [que] não
[nos faz] permanecer sentados ali, gozando-a, não; ela dá-
-te a paz e atrai-te para o Senhor e põe-te a caminho para
realizar, fazer coisas boas. Em tempo de consolação, quan-
do estamos consolados, vem-nos vontade de praticar tanto
bem, sempre. Ao contrário, quando há um momento de de-
solação, vem-nos vontade de nos fecharmos em nós mesmos
e de não fazer nada. A consolação impele-nos para a frente,
para o serviço aos outros, da sociedade, das pessoas. [...]. Mas,
estejamos atentos. Devemos distinguir bem a consolação que
vem de Deus das falsas consolações. Na vida espiritual ocorre
algo semelhante ao que acontece nas produções humanas: há
originais e há imitações. Se a consolação autêntica for como

31
Te Segu i re i

uma gota sobre uma esponja, será suave e íntima; as suas imi-
tações serão mais barulhentas e vistosas, são mero entusias-
mo, são fogos de palha, sem consistência, levam a fechar-se
em si mesmas, e a não se preocupar com os outros. No final,
a falsa consolação deixa-nos vazios, distantes do centro da
nossa existência. Por isso, quando nos sentimos felizes, em
paz, somos capazes de fazer qualquer coisa. Mas não confun-
damos aquela paz com um entusiasmo passageiro, pois há o
entusiasmo hoje, depois diminui e deixa de haver. Por isso,
é necessário fazer discernimento, até quando nos sentimos
consolados. Pois a falsa consolação pode tornar-se um pe-
rigo, se a procurarmos como um fim em si mesma, de modo
obsessivo, e esquecermos o Senhor. Como diria São Bernardo,
procuram-se as consolações de Deus, não se procura o Deus
das consolações. Devemos procurar o Senhor e, com a sua
presença, o Senhor consola-nos, faz-nos ir em frente. E não
procurar Deus que nos traga consolações: não; não está bem,
não devemos estar interessados nisso. É a dinâmica da crian-
ça de que falamos na última vez, que só procura os pais para
obter algo deles, mas não por eles próprios: vão por interesse.
‘Pai, mãe’. E as crianças sabem fazer isso, sabem jogar e quan-
do a família é dividida, e têm este hábito de procurar aqui e
ali, isso não faz bem, não é consolação, é interesse. Também
nós corremos o risco de viver a relação com Deus de manei-
ra infantil, procurando o nosso interesse, procurando reduzir
Deus a um objeto para nosso uso e consumo, perdendo o dom
mais belo, que é Ele próprio. Assim, vamos em frente na nossa
vida, que procede entre as consolações de Deus e as desola-
ções do pecado do mundo, mas sabendo distinguir quando é
uma consolação de Deus, que te dá paz até ao fundo da alma,
de quando é um entusiasmo passageiro que não é negativo,
mas não é a consolação de Deus.”
Um novo elemento para o discernimento, introduzido
pelo Papa, é a consolação, que como ele bem fala, que não é
aquele “fogo de palha”, mas uma paz interior que nos con-
figura e nos faz aderir ao bem supremo, Deus. Essa conso-

32
Fevere i ro

lação tem como maior fruto a oferta de vida e o serviço aos


outros, por isso devemos bem avaliar a nossa oração pelos
frutos, isto é, pela nossa vivência naquele dia. Muitas vezes
podemos cair no risco, como bem o Papa fala no final, de
acharmos que estamos rezando pelos muitos afetos que te-
mos na oração. Porém, quando acabamos de sair da capela,
já estamos falando ou pensando mal de algo ou de alguém,
até mesmo perdendo a paciência por conta disso. Por isso,
devemos avaliar a nossa oração através daquilo que ela nos
leva a fazer, a viver. Sabendo disso, releia esse trecho e reze
com ele, buscando ver como está a sua oração hoje e, a par-
tir disso, eleve a Deus a sua oração, se for uma súplica, um
agradecimento. Além disso, deixe com que o fogo do amor
divino o forme e o faça ter uma real experiência com Ele,
uma real experiência de oração.

9º Dia ____/____/____

Dando continuidade a este processo de descoberta sobre


o discernimento, o Papa ilumina sobre qual é a consolação
que vem de Deus, que deve permear as nossas escolhas e vi-
vências do dia a dia. Por isso, nos deixemos iluminar pelas
suas palavras.
“Podemos encontrar alguns critérios num trecho dos
Exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola. ‘Se nos pen-
samentos tudo é bom – diz Santo Inácio - o princípio, o meio
e o fim, e se tudo está orientado para o bem, este é um sinal
do anjo bom. Por outro lado, pode ser que no decurso dos
pensamentos se apresente algo mau, ou que distraia, ou me-
nos bom do que aquilo que antes a alma se propusera fazer,
ou algo que debilite a alma, que a torne inquieta, que a ponha
em agitação e lhe tire a paz, lhe tira a tranquilidade e a calma
que antes tinha: então, este é um sinal claro de que tais pen-
samentos vêm do espírito maligno’ (n. 333). Pois é verdade:
há uma verdadeira consolação, mas também há algumas con-
solações que não são verdadeiras. E por isso é preciso com-

33
Te Segu i re i

preender bem o percurso da consolação: como vai e onde me


leva? Se me levar a algo que não está bem, que não é bom, a
consolação não é verdadeira, é ‘fingida’, digamos assim.
E estas são indicações preciosas, que merecem um bre-
ve comentário. O que significa que o princípio está orientado
para o bem, como diz Santo Inácio de uma boa consolação?
Por exemplo, tenho o pensamento de rezar, e observo que se
acompanha ao afeto pelo Senhor e pelo próximo, convida a
realizar gestos de generosidade, de caridade: é um bom prin-
cípio. No entanto, pode acontecer que aquele pensamento
surja para evitar um trabalho ou uma tarefa que me foi con-
fiada: sempre que devo lavar a louça ou limpar a casa, vem-me
uma grande vontade de começar a rezar! Acontece isto nos
conventos. Mas a oração não é uma fuga dos nossos afazeres;
pelo contrário, é uma ajuda para realizar o bem que somos
chamados a praticar, aqui e agora. Isto a propósito do prin-
cípio.
Em seguida há o meio: Santo Inácio dizia que o princí-
pio, o meio e o fim devem ser bons. O princípio é este: tenho
vontade de rezar para não lavar os pratos: vai, lava os pratos e
depois vai rezar. Depois há o meio, ou seja, o que vem depois,
o que se segue a tal pensamento. Permanecendo no exemplo
anterior, se eu começar a rezar e, como faz o fariseu da pará-
bola (cf. Lc 18,9-14), tendo a agradar a mim mesmo e a despre-
zar os outros, talvez com um ânimo ressentido e azedo, então
estes são sinais de que o espírito maligno utilizou aquele pen-
samento como chave de acesso para entrar no meu coração
e para me transmitir os seus sentimentos. Se eu for rezar e
me vier à mente o famoso fariseu – ‘dou-te graças, Senhor,
porque eu rezo, não sou como os outros que não te procuram,
não rezam’ – aquela oração acaba mal. Aquela consolação de
rezar é para se sentir um pavão diante de Deus. E este é o
meio que não está bem.
E depois há o fim: o princípio, o meio e o fim. O fim é
um aspeto que já encontramos, ou seja: para onde me leva
um pensamento? Por exemplo, onde me leva o pensamento

34
Fevere i ro

de rezar. Ou então, pode acontecer que eu trabalhe ardua-


mente por uma obra boa e meritória, mas isto impele-me a
deixar de rezar, porque estou atarefado com muitas coisas,
descubro-me cada vez mais agressivo e zangado, considero
que tudo depende de mim, a ponto de perder a confiança em
Deus. Evidentemente, aqui há a ação do espírito maligno. Po-
nho-me a rezar, depois na oração sinto-me omnipotente, que
tudo deve estar nas minhas mãos pois sou o único, a única
que sabe levar em frente às situações: evidentemente nisto
não há o bom espírito. É preciso examinar bem o percurso
dos nossos sentimentos e o percurso dos bons sentimentos,
da consolação, no momento em que quero fazer alguma coisa.
Como é o princípio, como é o meio e como é o fim.”10
A partir dos auxílios nos dado pelo Papa, podemos perce-
ber como é fácil nos perder no caminho da oração, particu-
larmente podemos nos apropriar da graça divina, isto é, dos
dons nos dado pela vida de oração e dizer que tudo parte de
nós, que a oração é desculpa para não fazermos nada dentro
de casa. Assim, devemos sempre nos abrir para deixarmos
que Deus realize o que Ele deseja em nós, particularmente
nos tirar de nós mesmos, de nossos ídolos e nos lançar num
movimento maior de amor a Ele e aos outros, que esta seja,
sempre, a meta da sua oração, Deus, Deus, Deus e, estando
Nele, os irmãos, como bem exortou Santa Clara a São Francis-
co. Sabendo disso, releia esse trecho e deixe que Deus lhe fale,
o converta e faça com que o seu coração se volte à verdade.

Pense nisso: ser discípulos e ministros da paz, é outro fundamento do


nosso Carisma

10. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 30 nov. 2022. Disponível em:


https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/do-
cuments/20221130-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2023.

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Te Segu i re i

10º Dia ____/____/____

O tempo
O Papa em sua catequese fala de uma realidade, pós-dis-
cernimento, importante, que é a confirmação se aquela es-
colha foi boa, ou, em outras palavras, se fiz um bom discer-
nimento. O tempo é uma boa ajuda para que o discernimento
seja mais firme e eficaz, pois ele amadurece a nossa escolha e
faz com que os afetos saiam do discernimento.
“No processo de discernimento, é importante permane-
cer atento também à fase que se segue imediatamente à deci-
são tomada, para captar os sinais que a confirmam, ou aqueles
que a desmentem. Devo tomar uma decisão, faço o discerni-
mento a favor ou contra, sentimentos, rezo... depois, termina
este processo e tomo a decisão, e em seguida vem aquela par-
te em que devemos estar atentos, ver. Pois na vida há decisões
que não são boas e existem sinais que as desmentem, enquan-
to as boas as confirmam.
Com efeito, vimos que o tempo é um critério fundamental
para reconhecer a voz de Deus no meio de muitas outras vo-
zes. Somente Ele é Senhor do tempo: é uma marca de garantia
da sua originalidade, que o diferencia das imitações que, sem
sucesso, falam em seu nome. Um dos sinais distintivos do es-
pírito bom é que ele comunica uma paz que perdura no tempo.
Se fizeres um aprofundamento e depois tomares a decisão, e
se isto te der uma paz que perdura no tempo, este é um bom
sinal, pois indica que o caminho foi bom. Uma paz que traz
harmonia, unidade, fervor, zelo. Sais do processo de aprofun-
damento melhor do que entraste.
Por exemplo, se eu tomar a decisão de dedicar meia hora
a mais à oração, e depois sentir que vivo melhor os outros
momentos do dia, que estou mais tranquilo, menos ansioso,
desempenho o trabalho com mais atenção e prazer, até as re-
lações com algumas pessoas difíceis se tornam mais fáceis...,
todos estes são sinais importantes que vão a favor da bondade
da decisão tomada. A vida espiritual é circular: a bondade de

36
Fevere i ro

uma escolha beneficia todos os âmbitos da nossa vida, porque


é participação na criatividade de Deus.”11
Nesse trecho o Papa nos mostra como é bom avaliar-
mos as nossas consolações a partir de quanto tempo a paz
reina em nossos corações. Isso porque toda ação divina em
nós produz uma paz que perdura no tempo e vai irrigando
todas as nossas ações. Além disso, o tempo vai purifican-
do as nossas escolhas, enraizando mais fortemente a voz de
Deus em nosso interior, vai tirando as ilusões e dissipando
todo o discernimento baseado nos afetos. Sabendo disso, re-
leia esse trecho e deixe com que o Senhor o conduza a um
verdadeiro percurso de discernimento. Se você já começou
esse percurso com algum discernimento feito, ou se ainda
existem dúvidas perante a voz de Deus, vá se lançando Nele
e deixe com que, no decorrer deste ano, neste tempo novo,
Ele o traga para o caminho que Ele deseja para você.

11º Dia ____/____/____

A liberdade e a resposta generosa ao dom recebido


O tempo, porém, deve ser vivido num movimento de
abertura e de liberdade, no qual o homem se vê envolvido por
uma grande graça de ser amado e de ser eleito, por isso o
tempo nos é um grande auxílio no percurso à concretização
da voz de Deus para nós.
“Podemos reconhecer alguns aspectos importantes, que
ajudam a ler o tempo que se segue à decisão como possível
confirmação da sua bondade, pois o tempo que se segue con-
firma a bondade da decisão. De certo modo, já descobrimos
estes aspetos importantes no decurso destas catequeses, mas
agora elas encontram uma sua ulterior aplicação.

11. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 7 dez. 2022. Disponível em: ht-
tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/docu-
ments/20221207-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2023.

37
Te Segu i re i

Um primeiro aspecto consiste em saber se a decisão é


considerada como um possível sinal de resposta ao amor e à
generosidade que o Senhor tem em relação a mim. Não nasce
do medo, não nasce de uma chantagem afetiva, nem de uma
constrição, mas nasce da gratidão pelo bem recebido, que leva
o coração a viver com liberalidade a relação com o Senhor.
Outro elemento importante é a consciência de se sentir à
vontade na vida – aquela tranquilidade, ‘estou à vontade’ – e
de se sentir parte de um desígnio maior, para o qual se deseja
oferecer a própria contribuição. Na Praça de São Pedro, há
dois pontos exatos – os focos da elipse – de onde se veem as
colunas de Bernini perfeitamente alinhadas. De maneira aná-
loga, o homem pode reconhecer que encontrou o que pro-
cura, quando o seu dia se torna mais ordenado, sente uma
integração crescente entre os seus múltiplos interesses, es-
tabelece uma hierarquia correta de importância e consegue
viver tudo isto com facilidade, enfrentando com renovadas
energia e força de espírito as dificuldades que se apresentam.
Estes são sinais de que tomaste uma boa decisão.
[...]
Só podemos amar na liberdade, e foi por isso que o Se-
nhor nos criou livres, livres até de lhe dizer não. Oferecer-lhe
o que temos de mais querido é interesse nosso, permite-nos
viver da melhor maneira possível e na verdade, como um dom
que nos concedeu, como sinal da sua bondade gratuita, cons-
cientes de que a nossa vida, assim como toda a História, está
nas suas mãos benevolentes. É a isto que a Bíblia chama te-
mor de Deus, ou seja, o respeito por Deus, não é que Deus me
assusta, não, mas é um respeito, uma condição indispensável
para aceitar a dádiva da Sabedoria (cf. Eclo 1,1-18). É o temor
que afasta todos os outros receios, porque está orientado
para Ele, que é o Senhor de tudo. Perante Ele nada nos pode
inquietar. É a surpreendente experiência de São Paulo, que
dizia assim: ‘Sei viver na penúria, e sei também viver na abun-
dância. Estou habituado a todas as vicissitudes: fartura e fome,
abundância e indigência. Tudo posso Naquele que me conforta’

38
Fevere i ro

(Fl 4,12-13). Este é o homem livre, que bendiz o Senhor quer


quando recebe coisas boas, quer quando recebe coisas não
muito boas: bendito seja e vamos em frente!”12
Primeiramente, vemos que o Papa nos apresenta a gra-
tuidade como uma das características para verificar se fi-
zemos um bom discernimento, isso porque Deus nos deixa
livres para escolhermos, seja Ele ou nós mesmos, por isso
um discernimento vocacional sempre será um convite Dele
para nós, como aconteceu com os Apóstolos – que aderiram
ao chamado –, mas também com o jovem rico – que voltou
para casa sem aderir ao chamado de Deus. Por isso, o nosso
discernimento não pode ser baseado num movimento de ir
com a maioria, ou de ser forçado pelos pais ou ser forçado
pelos acompanhadores, mas uma adesão livre perante um
grande amor recebido. Sendo assim, releia esse trecho e faça
memória de todos os momentos onde Deus interveio em sua
vida, e assim dê uma resposta de adesão à Sua vontade.

12º Dia ____/____/____

A vigilância
Um elemento muito importante neste processo de dis-
cernimento é a vigilância, em todo o seu processo, mas par-
ticularmente após fechar o discernimento, isso porque muita
coisa se levanta para ir contra a concretude da ação. Por isso,
neste dia iremos tratar da vigilância.
“Nesta altura considero necessário inserir a chamada a
uma atitude essencial, a fim de que não se perca todo o tra-
balho levado a cabo para discernir o melhor e tomar a boa
decisão, e esta seria a atitude da vigilância.
[...]
Vigiar para salvaguardar o nosso coração e compreender
o que acontece dentro. Trata-se da disposição de espírito dos
cristãos que aguardam a vinda final do Senhor; mas pode ser

12. Papa Francisco, loc. cit., grifos próprios.

39
Te Segu i re i

entendida também como a atitude comum a ter na conduta


de vida, de tal modo que as nossas boas escolhas, feitas às ve-
zes depois de um discernimento exigente, possam continuar
de maneira perseverante e coerente e dar fruto.
Se faltar a vigilância, como dissemos, será muito forte o
risco de que tudo se perca. Não se trata de um perigo de or-
dem psicológica, mas sim espiritual, uma verdadeira cilada do
espírito maligno. Com efeito, ele aguarda o momento exato
em que nos sentimos demasiado seguros de nós próprios,
este é o perigo: ‘Estou seguro de mim mesmo, venci, agora
estou bem...’, este é o momento que o espírito maligno espera,
quando tudo corre bem, quando as coisas vão ‘às mil maravi-
lhas’ e temos, como se diz, ‘o vento em popa’. Efetivamente,
na breve parábola evangélica que ouvimos, afirma-se que o
espírito impuro, quando regressa à casa de onde tinha saído,
‘encontra-a vazia, limpa e adornada’ (Mt 12,44). Tudo está no
lugar, tudo está em ordem, mas onde se encontra o dono da
casa? Não está presente. Não há ninguém que vigie sobre ela
e a salvaguarde. Eis o problema! O dono da casa não está pre-
sente, saiu, distraiu-se; ou está em casa, mas adormeceu, e
portanto é como se não estivesse presente. Não está vigilante,
não está atento, pois sente-se demasiado seguro de si mes-
mo e perdeu a humildade de salvaguardar o próprio coração.
Devemos preservar sempre a nossa casa, o nosso coração, e
não nos devemos distrair e ir... pois o problema é este, como
dizia a Parábola.
Então, o espírito maligno pode aproveitar-se e regressar
àquela casa. Contudo, o Evangelho diz que não regressa so-
zinho, mas com ‘outros sete espíritos piores do que ele’ (v. 45).
Uma companhia de malfeitores, uma quadrilha de bandidos.
[...]
Mas o senhor não se apercebe? Não, porque estes são os
demónios educados: entram sem que te dês conta, batem à
porta, são gentis. ‘Não está bem, vai, vai, entra...’ e depois aca-
bam por mandar na tua alma. Cuidado com estes diabinhos,
com estes demônios: o diabo é educado quando finge ser um

40
Fevere i ro

grande senhor. Pois entra com a nossa para sair com a sua. É
preciso proteger a casa deste engano de demónios educados.
E a mundanidade espiritual segue sempre este caminho.”13
Com isso, observamos como o Papa vê com grande im-
portância o papel da vigilância num processo de discerni-
mento, pois é ele que nos permitirá sermos fiéis àquilo que
discernimos, muitas vezes sendo um processo custoso. E
essa atitude realmente deve entrar em nosso dia a dia, pois,
como diz a Palavra de Deus, o demônio fica nos tentando
para que não cumpramos aquilo que Deus deseja para nós.
Além disso, a nossa inclinação ao mal ajuda o demônio nesse
sentido. Por isso, devemos sempre nos colocar em vigilân-
cia, sabendo também que, para bem vigiarmos, é necessário
constantemente estarmos unidos a Deus. Releia esse trecho
e reze suplicando a Deus que lhe dê a graça da vigilância,
mas ao mesmo tempo peça que Ele lhe revele quais são os
meios que fazem com que você não seja vigilante.

13º Dia ____/____/____

O acompanhador espiritual
Neste último dia do nosso percurso sobre o discernimen-
to gostaria de falar sobre uma ajuda muito grande que Deus
nos dá como Comunidade, o acompanhador vocacional. Este
será aquela pessoa que caminhará ao seu lado, ajudando você
a perceber o que vem de Deus e o que vem da carne. Contudo,
não se engane, ele não vai discernir por você, e sim vai ajudá-
-lo a fazer isso.
“[...]. Uma delas é o acompanhamento espiritual, impor-
tante sobretudo para o conhecimento de si que, como vimos,
é uma condição indispensável para o discernimento. Olhar-
mo-nos no espelho, sozinhos, nem sempre ajuda, pois pode-
mos alterar a imagem. Ao contrário, olhar no espelho com o

13. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 14 dez. 2022. Disponível em: ht-
tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/docu-
ments/20221214-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2023.

41
Te Segu i re i

auxílio de outra pessoa, isto ajuda muito pois o outro diz-te a


verdade – quanto é verdadeiro – e assim ajuda-te.
[...]
Em primeiro lugar, é importante dar-se a conhecer, sem
ter medo de compartilhar os aspetos mais frágeis, onde nos
descobrimos mais sensíveis, fracos, ou receosos de ser julga-
dos. Dar-se a conhecer, manifestar-se a si mesmo a uma pes-
soa que nos acompanhe no caminho da vida. Não que decida
por nós, não: mas que nos acompanhe.
[...]
Narrar diante de outra pessoa o que vivemos ou o que
procuramos ajuda a esclarecer a nós próprios, trazendo à
luz os numerosos pensamentos que habitam em nós, e que
muitas vezes nos inquietam com os seus insistentes refrães.
Quantas vezes, nos momentos obscuros, vêm-nos os pensa-
mentos assim: ‘Errei tudo, sou inútil, ninguém me compreen-
de, nunca serei bem-sucedido, estou destinado ao fracasso’,
quantas vezes nos vieram estes pensamentos. Pensamentos
falsos e venenosos, que o confronto com o outro ajuda a des-
mascarar, de tal modo que nos possamos sentir amados e
estimados pelo Senhor como somos, capazes de fazer coisas
boas por Ele. Descobrimos com surpresa diferentes formas
de ver a realidade, sinais de bem sempre presentes em nós. É
verdade, podemos partilhar as nossas fragilidades com o ou-
tro, com aquele que nos acompanha na vida, na vida espiri-
tual, o mestre de vida espiritual, quer leigo quer sacerdote e
dizer: ‘Olha o que me acontece: sou um desventurado, estão
a acontecer-me estas coisas’. E aquele que acompanha res-
ponde: ‘Sim, todos nós passamos por estes momentos’. Isto
ajuda-nos a esclarecer bem e ver de onde chegam as raízes e
deste modo superá-las.
[...]
O acompanhamento pode ser frutuoso se, de ambos os
lados, se experimentar a filiação e a fraternidade espiritual.
Descobrimos que somos filhos de Deus no momento em que
nos descobrimos irmãos, filhos do mesmo Pai. Por isso, é in-

42
Fevere i ro

dispensável estar inserido numa comunidade a caminho. Não


estamos sozinhos, pertencemos a um povo, a uma nação, a
uma cidade que caminha, a uma Igreja, a uma paróquia, a este
grupo... a uma comunidade a caminho. Não vamos ao encon-
tro do Senhor sozinhos: isto não está bem. Devemos com-
preendê-lo bem. Como na narração evangélica do paralítico,
muitas vezes somos sustentados e curados graças à fé de ou-
trem (cf. Mc 2,1-5) que nos ajuda a ir em frente, pois todos nós
às vezes temos paralisias interiores e é necessário alguém que
nos auxilie a superar aquele conflito com uma ajuda. Não se
vai ao Senhor sozinhos, recordemos bem isto; outras vezes,
somos nós que assumimos este compromisso em nome de um
irmão ou de uma irmã, e somos acompanhadores para ajudar
aquele outro. Sem experiência de filiação e de fraternidade,
o acompanhamento pode prestar-se a expectativas irreais, a
equívocos e a formas de dependência que deixam a pessoa no
estado infantil. Acompanhamento, mas como filhos de Deus e
irmãos entre nós.”14
Vemos como é importante não caminharmos sozinhos,
pois muitas vezes podemos cair em enganos profundos e di-
zer que a voz de Deus é a nossa voz. Além disso, ao cami-
nharmos com outra pessoa, ela nos ajudará nos momentos
difíceis em que iremos passar, sendo aquela força divina que
nos diz para continuarmos o percurso até o fim. O acompa-
nhamento também será um lugar para que você se conhe-
ça melhor, seja a partir das suas partilhas, seja através dos
questionamentos feitos pelo seu (sua) acompanhador (a), por
isso a importância da sua abertura para ele e para este per-
curso que se inicia em sua vida. Sabendo disso, releia esse
trecho e vá rezando pedindo que Deus lhe dê um acompa-
nhador segundo o coração Dele, e não segundo as suas aspi-
rações e idealizações. Além disso, peça que Ele lhe dê a graça
de ser totalmente aberto a ele, pois como o aleijado da mão

14. PAPA FRANCISCO. Audiência geral. 4 jan. 2023. Disponível em: ht-
tps://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2023/docu-
ments/20230104-udienza-generale.html. Acesso em: 12 fev. 2023.

43
Te Segu i re i

seca, que expôs a Jesus a sua mão, você também possa expor
a sua vida para ser alcançado e ajudado a dar o seu sim à
vontade divina.
Olá, caro irmão (a) vocacionado Shalom! Nos próximos
16 dias de oração estaremos mergulhando em aspectos dos
fundamentos do Carisma. Que sejam dias de imensa graça na
sua vida. É necessário todo esforço e dedicação de sua parte;
todavia, sabendo que a oração é um dom gratuito de Deus,
uma graça15. Por isso, é sempre importante dois movimentos:
a súplica, que nos faz reconhecer a total dependência do au-
xílio do Senhor, a primazia da graça e o louvor, que nos tira do
centro e coloca Deus.

ESTA SEMANA VOCÊ PODERÁ REZAR COM:


No Coração da Obra em unidade com o Carisma;
Escritos da Comunidade Católica Shalom, ARTIGOS 1 – 21;
Catecismo da Igreja Católica, 142 – 184.

14º Dia ____/____/____

Comunicação da Paz
“‘Ao encontrar os discípulos no Cenáculo, Jesus Ressuscita-
do lhes diz: Paz a vós’ (Jo 20,19), ou seja, Shalom! Em Jesus, esta
saudação é uma real comunicação da Paz, isto é, de toda sorte

15. “Dizer que um homem tem a graça de Deus é dizer que há nele al-
gum efeito produzido gratuitamente pela vontade de Deus. Quando se
trata da ordem natural, Deus não se contenta em mover as criaturas
para fazê-las produzir atos naturais. Ele coloca ainda nelas formas e
disposições ativas apropriadas que se tornam os princípios desses atos,
de maneira que essas criaturas se encontram inclinadas por si mesmas,
no sentido do movimento que Ele lhes imprime. Assim, os impulsos que
essas criaturas recebem de Deus tornam-se para elas conaturais e elas
os seguem facilmente, segundo esta palavra da Sabedoria: ‘Ele dispôs
tudo suavemente’ (8,1).” (LELOUP, Jean-Yves. A vida em Jesus Cristo se-
gundo Nicolau Cabacilas e Santo Tomás de Aquino. São Paulo: Editora
Unesp, 2007. p. 32-33).

44
Fevere i ro

de bênçãos espirituais e materiais, a felicidade perfeita que o


Messias nos traz. É, enfim, o anúncio e a doação da salvação
plena. Desta forma, podemos dizer que Jesus é o Shalom do
Pai para o mundo, a verdadeira, plena e única Paz que o ho-
mem pode ter. Por isso, o Apóstolo diz: ‘Cristo é a nossa Paz’
(Ef 2,14)”.16
“Houve um desenvolvimento, foi um desenvolvimento pro-
gressivo da amizade com Deus. Assim como em toda amizade
que vivenciamos, a amizade não está pronta, vai se desenvol-
vendo. A amizade de Teresa com Deus também se desenvolve
dentro desse contexto. E aí, então chega aos mais altos níveis
de intimidade. Essa amizade vai passar por crises, vai passar
por muitas lutas e batalhas. Teresa teve de lutar muito para ter
vida de oração. Ela chega a esse nível mais alto de intimidade
com Deus, no qual São João da Cruz irá falar como a união com
Deus, e Teresa usará o termo de amizade com Deus, para tratar
do mesmo assunto, esse chamado que nós temos de nos relacio-
narmos com Deus ao nível mais profundo.”17
Em João 20, encontramos a passagem fundante da Voca-
ção Shalom. Leia várias vezes o trecho dos Estatutos e reze
com a passagem bíblica. Deixe-se alcançar por essa comuni-
cação de Salvação, de amor. Após rezar, anote o que o Senhor
lhe falar. Atenção: No Carisma Shalom somos chamados a
rezar aos moldes de Santa Teresa D'Ávila, buscando a inti-
midade profunda com Deus. Profundamente deixe o Senhor
lhe comunicar o que Ele quer.

15º Dia ____/____/____

Um novo Pentecostes
“A Comunidade Católica Shalom é fundamentada nesta
experiência do Ressuscitado que passou pela cruz. Ele, para

16. ESTATUTOS da Comunidade Católica Shalom. Aquiraz: Edições


Shalom, 2012. p. 9.
17. MENEZES, Ana Geórgia. A oração em Santa Teresa D’Ávila. Escola
de Líderes 2022. Não publicado.

45
Te Segu i re i

maior glória do Pai, derrama sobre nós o Seu Espírito, e nos


envia como discípulos e ministros da Sua Paz. Somos cha-
mados a acolher, viver e testemunhar o Carisma da Paz. A
Comunidade é fundamentada na experiência carismática de
um novo Pentecostes na Igreja. Através da efusão do Espírito
Santo e consequentemente desabrochar e uso dos Seus caris-
mas, com a espiritualidade, vida comum e apostolado que lhe
são próprios, serve à Igreja e colabora com a implantação da
Paz no mundo”.18

Pentecostes pessoal
“Irmãos e irmãs, eu tenho uma pergunta para vocês hoje.
Eu contei o meu testemunho, de quando fui batizada no Espí-
rito Santo, há mais de 54 anos, quando tinha 20 anos, e agora
tenho 74 anos. Eu tenho uma pergunta para você: você já teve
um Pentecostes pessoal? Há algum evento que você possa iden-
tificar como antes e um depois?
O meu amigo, o padre Cantalamessa, colocou desta manei-
ra esta verificação: eu tenho duas vidas, uma antes de ser bati-
zada no Espírito Santo e uma depois de ser batizada no Espírito
Santo. Um Pentecostes pessoal! E é essa a intenção que estou
rezando por você, agora. Irmãos e irmãs, ainda que já tenhamos
tido um Pentecostes pessoal, ouçam: há sempre mais! Sempre
mais!”19
Lendo todo o capítulo 2 de Atos dos Apóstolos, deixe-se
envolver pelo nascimento da primeira comunidade cristã
a partir da vinda do Espírito que mudou a vida deles para
sempre. Renove verdadeiramente sua experiência carismá-
tica neste dia.

Pense nisso: ao sermos gerados, Deus nos chamou primeiramente à


vida. Ele também em Seu desígnio de amor nos chama à filiação, à
santidade e a uma vocação.

18. ESTATUTOS da Comunidade Católica Shalom, 2012, p. 9-11.


19. Pregação Patti Mansfield. Pentecostes 2021. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=jy2LWppMoLo. Acesso em: 15 jun. 2024.

46
Fevere i ro

16º Dia ____/____/____

Somos uma família


“Somos uma família. Por isto, a Comunidade possui como
membros pessoas das diversas formas de vida: celibatários pelo
Reino, casais, sacerdotes, seminaristas, diáconos, homens e
mulheres, jovens e adultos, pessoas casadas e solteiras. Inspi-
rada na diversidade e unidade da Santíssima Trindade, cada
forma de vida vive plenamente sua identidade própria e a com-
plementaridade com as outras formas. Na unidade das três Pes-
soas, as formas de vida encontram o fundamento para a co-
munhão de amor em sua vivência comunitária. Na explosão de
amor da Trindade que tudo cria, redime e santifica, encontram
o impulso para sua missão. A Comunidade é um espelho da vida
trinitária é um reflexo do mistério da Igreja.”20
Observe bem que nossa fonte, a fonte do ser família na
Comunidade, da forma de amar, de se doar, da unidade, está
na Trindade. Aprofundando pela oração, reze com os tópicos
do dogma da Trindade a seguir:

UNIDADE DAS PESSOAS


A Trindade é una. Nós não confessamos três deuses, mas
um só Deus em três pessoas: “a Trindade consubstancial”. As
pessoas divinas não dividem entre Si a divindade única: cada
uma delas é Deus por inteiro: “o Pai é aquilo mesmo que o Filho,
o Filho aquilo mesmo que o Pai, o Pai e o Filho aquilo mesmo que
o Espírito Santo, ou seja, um único Deus por natureza”. “Cada
uma das três pessoas é esta realidade, quer dizer, a substância,
a essência ou a natureza divina” (CIC 253).

DISTINÇÃO DAS PESSOAS


As pessoas divinas são realmente distintas entre Si. “Deus
é um só, mas não solitário”. “Pai”, “Filho”, “Espírito Santo” não
são meros nomes que designam modalidades do ser divino, por-

20. ESTATUTOS da Comunidade Católica Shalom, 2012, p. 11.

47
Te Segu i re i

que são realmente distintos entre Si. “Aquele que é o Filho não
é o Pai e Aquele que é o Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo
é Aquele que é o Pai ou o Filho”. São distintos entre Si pelas
suas relações de origem: “O Pai gera, o Filho é gerado, o Espírito
Santo procede”. A unidade divina é trina (CIC 254).

RELAÇÃO
As pessoas divinas são relativas umas às outras. Uma vez
que não divide a unidade divina, a distinção real das pesso-
as entre Si reside unicamente nas relações que as referenciam
umas às outras: “Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é refe-
rido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito Santo a ambos. Quando
falamos destas três pessoas, considerando as respectivas rela-
ções, cremos, todavia, numa só natureza ou substância”. Com
efeito, “Neles tudo é um, onde não há a oposição da relação”.
“Por causa desta unidade, o Pai está todo no Filho e todo no Es-
pírito Santo: o Filho está todo no Pai e todo no Espírito Santo: o
Espírito Santo está todo no Pai e todo no Filho” (CIC 255).

Lembrete: Já marcou o seu retiro pessoal e o seu acompanhamento


deste mês? Lembre-se de marcar o mais rapidamente possível!

17º Dia ____/____/____

As relações trinitárias
“O amor fraterno na vida comunitária é fruto concreto da
CONTEMPLAÇÃO e alavanca para a nossa EVANGELIZAÇÃO.
A Comunidade sente-se chamada a refletir a UNIDADE da Co-
munhão de amor da Trindade. A TRINDADE é a fonte e o mo-
delo de nossa vida contemplativa, comunitária e apostólica.”21
Para continuar a aprofundar o mistério de amor da Trin-
dade que transborda na Comunidade, reze hoje com o texto
a seguir. Aproveite para avaliar como são os seus relaciona-

21. Ibid., p. 15.

48
Fevere i ro

mentos. Para uma vida comunitária, veja como estão suas


disposições para viver esse eterno dar-se por amor, esva-
ziar-se, esquecer-se tendo em vista a unidade e comunhão.

“O próprio Deus, a Santíssima Trindade, é essencialmen-


te uma substância relacional, ou seja, o ‘ser eterno’ de Deus é
relação, a essência de Deus é uma ‘Eterna Relação de Amor’.
Deus não simplesmente ‘tem’, mas ‘é’ Ato Substancial e Eterno
de Amor. ‘Ele é amor’, como diz São João em suas cartas (cf. 1Jo
4,8.16), ou mais precisamente Ele é ‘o’ Amor, e não apenas ‘al-
guém que ama’, mesmo que o faça perfeitamente. A essência de
Deus é ‘ato substancial de amor’.
O ‘Eu’ Divino é uma eterna relação de Um com o Outro.
As três Pessoas Divinas eternamente saem de Si mesmas em
vista de se dar ‘às’ outras ou ‘nas’ outras. O conteúdo da vida
trinitária é esse ‘eternamente rejeitar a si mesmo’, uma oferta
total de si de cada Pessoa, em vista de ‘ser um dom de amor’ à
outra Pessoa. Essa ‘imolação eterna’ caracteriza o dom de Si
que o Pai faz ao Filho e que o Filho faz ao Pai, no Terceiro, ou
seja, no Espírito Santo. É exatamente a ‘alienidade’, ou melhor,
a ‘alteridade’ do outro que afirma e confirma a auto-identidade
de cada ‘Eu’, de cada Pessoa.
Na teologia cristã, especialmente na literatura patrística,
nós chamamos de ‘pericoresi’ (perichoresis) essa ‘interpenetra-
ção’ das Pessoas Divinas, que se tornam como que impermeá-
veis umas às outras no ‘dar-se’ e ‘receber-se’ reciprocamente.
São Gregório Nazianzeno, no IV século, foi o primeiro a usar tal
terminologia, mas também São João Damasceno aprofundou tal
conceito. Há uma mútua ‘interpenetração’ das três Pessoas Di-
vinas da Santíssima Trindade. No evangelho de São João, Jesus
afirma: ‘que todos sejam um, e que, como tu, Pai, és em mim e eu
em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que
tu me enviaste’ (cf. Jo 17,21).
Cada Pessoa da Trindade recebe das Outras Duas a sua
própria identidade, e o que distingue as Pessoas entre Si é exa-
tamente a relação que elas entretêm umas com as outras. Sem a

49
Te Segu i re i

relação não há a Pessoa. Tal concepção, de que em Deus o ‘esse


in’ coincide com o ‘esse ad’ é também presente na teologia esco-
lástica de São Tomás de Aquino.
Cada Pessoa Divina existe como ‘transcendência rumo à
Outra’. No prólogo do evangelho de São João, lemos que o Logos
(o Verbo de Deus, o Filho e Palavra do Pai) é desde sempre vol-
tado para o Pai (cf. Jo 1,1-12). O Logos é um ‘Ser voltado para’. A
Divindade é, portanto, um eterno espaço aberto ao Outro: cada
Um está voltado para o Outro, dando-se ao Outro e recebendo
do Outro a mesma Natureza Divina, gerando comunhão, uni-
dade, consubstancialidade (um ‘no’ outro, a unificação de um
com o outro no amor). A substância do Amor trinitário, a ousia
(οὐσία) de Deus é o eterno ‘dar e acolher’ o dom; a essência de
Deus é amor eterno.
O ‘Tu’ e o ‘Ele’ são uma auto-revelação do ‘Eu’. A Verdade
Eterna contempla a Si mesma por meio do ‘Outro’ e do ‘Tercei-
ro’, na relação substancial, a comunhão de dom do Pai, do Filho
e do Espírito Santo; uma Relação dos Três na Unidade.

VIDA KENÓTICA COMO VIDA DE AMOR


A relação de dom eterno que caracteriza as Pessoas divinas
pode ser descrita com a palavra grega kénosis (κένωσις), como
renúncia de cada Pessoa divina a existir por si mesma e para si
mesma. Confluir no Outro, derramar-se sobre o Outro, comu-
nicar ao Outro a vida divina é o modo com o qual cada Pessoa
(hipóstase) em Deus é ‘ela mesma’. É no ‘não-eu’ que cada ‘Eu’
afirma a si mesmo. Em Deus, o ‘Eu’ se faz ‘não-Eu’ por amor,
esvaziando a Si mesmo, empobrecendo-se de Si mesmo, entre-
gando-Se e abaixando-Se. Cada ‘Um’ encontra a Si mesmo e é
‘Si’ próprio na renúncia de Si ao Outro.
Pavel Florenskij se refere a esse ‘amor trinitário kenótico’
não apenas como ‘característica’ de Deus, pois a Trindade não
seria amor absoluto se fosse amor somente para fora de Si, para
o relativo, para o corruptível, o mundo, mas Deus é ser absoluto
porque é - em Si mesmo - ato substancial de amor. O amor cons-
titui a essência de Deus, a sua própria natureza. Essa eterna ké-

50
Fevere i ro

nosis é o tipo de amor oblativo que existe ‘dentro de Deus’ e não


apenas a sua relação providencial com aquilo que não é Deus.
O amor como ‘êxodo de si mesmo’, onde cada Um renuncia
a existir sozinho, é a natureza mais íntima de Deus. A vida in-
tra-divina é um eterno viver da Vida de um Outro. O Eu se dis-
tancia de Si mesmo para dar-se ao Outro, e é assim que se es-
tabelece a Unidade. O amor do Amante, ao transportar o seu Eu
ao Tu do Amado, dá ao Amado-Tu a força de conhecer e amar
o Eu-Amante, e assim, também o Amado se torna um Amante,
pois recebendo essa potência de amor torna-se, por sua vez, ca-
paz de doá-lo. É um transferir o próprio Eu para o Tu do Outro,
em força de um Terceiro: são Três, mas permanecem Um no
Amor. Cada Um, difundindo-Se sobre o Outro, comunica o pró-
prio Eu a um outro Eu e entra em consubstancialidade, fazendo
com que Um e Outro tornem-se todos Um.”22

18º Dia ____/____/____

A obra nova
“Somos chamados, acima de tudo, a SER Shalom. Este SER
Shalom corresponde à obra nova (cf. Is 43,19-21) que somos cha-
mados a viver e percorrer. Nossa primeira missão é a nossa
fidelidade à nossa forma de vida comunitária e à nossa missão
comum.”23
Tu contemplas em tua vida uma obra de Deus? Uma
grande obra? Uma obra nova? Qual? Rezando deixe que o
Espírito Santo revele de que obra o Senhor nos fala como
Comunidade e que obra realiza em você.

“O novo caminho dos sedentos:


‘Eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes?
Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela es-
22. PINHEIRO, Pe. Cristiano. Um “eco trinitário” na nossa humanida-
de. Disciplina de Teologia Espiritual. Escola Missionária São João Paulo
II Shalom. Não publicado.
23. ESTATUTOS, 2012. p. 15.

51
Te Segu i re i

tepe. Dar-me-ão glória os animais selvagens, os chacais e as


avestruzes, pois terei feito jorrar água no deserto, e correr ar-
roios na estepe, para saciar a sede do meu povo, meu eleito; o
povo que formei para mim contará meus feitos’ (Is 43,19-21).

Eis que vou fazer obra nova


As primeiras palavras desta passagem indicam, já, a ini-
ciativa misericordiosa de Deus. Ao ver o sofrimento do seu
povo, sedento, portanto, sofrido, mas eleito entre todos os povos,
Deus, por pura misericórdia, decide fazer uma coisa nova, uma
nova obra que consiste em um caminho em meio ao deserto.
É importante conhecermos o simbolismo bíblico do deserto.
Ele é, sobretudo, o lugar do êxodo, como se vê na travessia de 40
anos do povo de Israel tendo à frente Moisés. É, igualmente, um
lugar de prova, de penitência, de formação por parte de Deus,
como se vê na narrativa do êxodo rumo à Terra Prometida e
também em inúmeras profecias, na vida de João Batista e nos
40 dias que Jesus jejuou e orou no deserto, para onde o Espírito
Santo o conduziu logo após o Batismo.
Para os místicos, o deserto é, também, símbolo do sofri-
mento pela ‘ausência de Deus’, quer seja ela apenas aparente,
como em uma noite escura, quer seja resultado do afastamento
do homem como consequência do pecado. Tanto nas Escrituras
como nos escritos dos místicos, é frequentemente comparado às
trevas do desconhecimento de Deus ou da indiferença a Ele. O
deserto pode ser, ainda, analogia do amor de Deus que separa o
Seu povo do mundo para formá-lo, revelar-se e ensinar-lhe. Tal
pedagogia se pode constatar pela própria história da salvação
e na vida mística que testemunha os inúmeros frutos advindos
de um árido deserto espiritual.
O paralelo do texto de Isaías com o mundo de hoje, que
decretou a inutilidade da fé e, em sua auto-suficiência, a não
necessidade de Deus, é imediato. Ao ver o sofrimento de seus
filhos, o Pai decide abrir no deserto uma nova via, um caminho
novo de amor esponsal, morte e vida, louvor e paz. Tal caminho,
entretanto, não será construído com pedras, mas com a vida de

52
Fevere i ro

pessoas eleitas, pedras vivas, que contem feitos e misericórdias


de Deus, como veremos na Parte II.

A iniciativa de Deus, a obra da Divina Misericórdia, a pri-


mazia da graça
O texto de Isaías é explícito: é de Deus, exclusivamente, a
iniciativa da obra nova, cuja finalidade é formar um novo povo
a partir da eleição divina, gratuita e misericordiosa, e da ex-
periência marcante com o Deus onipotente que o conduz como
Moisés fez ao povo de Israel no êxodo do Egito.
A nós é impossível sequer imaginar esta nova obra, plane-
já-la, programá-la. Não sabemos o caminho do êxodo. Não co-
nhecemos o caminho que atravessa o deserto. Não temos como
traçar o caminho da Paz. Não somos capazes de transformar o
deserto em vergel.
O Pai, sempre atento ao clamor dos seus filhos, diante da
terrível realidade de um mundo esquecido de Deus, derrama-se
em misericórdia e nos oferece o único caminho realmente novo
– o Ressuscitado. Teria Tomé se apercebido que, ao introdu-
zir sua mão no coração aberto do Ressuscitado que passou pela
cruz havia-se tornado o protótipo do homem resgatado pela
Misericórdia, o primeiro, depois de Maria, a ser fisicamente
introduzido no Caminho, na Nova Via da Paz? Ter-se-ia dado
conta de que naquele ínfimo momento havia cumprido milênios
de promessas de misericórdia e de paz tanto com relação ao
passado quanto ao futuro da humanidade?
Hoje, quando nos referimos ao Ressuscitado que passou
pela cruz, à primazia de Deus e de Sua graça, nem sempre nos
lembramos de que a primeira indicação destes fundamentos de
nossa espiritualidade tenha sido este versículo 19, que o funda-
dor faz questão de tomar ao pé da letra e nos conduzir a fazer
o mesmo.”24

24. NOGUEIRA, Maria Emmir. Obra Nova: caminho de e para a felicida-


de. 3. ed. Aquiraz: Edições Shalom, 2010. p. 37-39.

53
Te Segu i re i

Pense nisso: o consagrado é aquele que foi separado por Deus, desde
sempre e para sempre, para assumir a Sua vida, e assim ser um sinal
do céu. Esta eleição se manifesta ao longo da nossa vida e da nossa
história.

19º Dia ____/____/____

A Obra Shalom
“O Senhor confiou-nos uma ‘Obra’. Esta é fruto do Seu
mandato missionário. É, também, uma resposta do Espírito ao
clamor da humanidade que sofre e geme, esperando a mani-
festação dos filhos de Deus. A Obra Shalom é aquilo que Deus
realiza em nossas vidas e o meio concreto de desenvolvermos
comunitariamente nosso carisma evangelizador, abraçando
todo o chamado evangelizador da Igreja, com ardor e renovada
criatividade. O conjunto desta ação evangelizadora e os seus
frutos compõem o que denominamos Obra Shalom.”25
Neste dia clame ao Senhor o dom da compaixão pelo ho-
mem que sofre e de um coração ardente pela evangelização.
Você se sente encaixado na engrenagem de evangelização da
Obra Shalom? Qual seu ministério? Como e por que o exerce?

“A doce e reconfortante alegria de evangelizar


O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência
autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua
expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda
adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E,
uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso,
quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro
caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim,
não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas:
‘O amor de Cristo nos absorve completamente’ (2Cor 5,14); ‘ai de
mim, se eu não evangelizar!’ (1Cor 9,16).

25. ESTATUTOS, 2012, p. 15.

54
Fevere i ro

A proposta é viver a um nível superior, mas não com menor


intensidade: ‘Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no
comodismo e no isolamento. De facto, os que mais desfrutam da
vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam
pela missão de comunicar a vida aos demais’. Quando a Igreja
faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que
indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pes-
soal: ‘Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: ‘A vida
se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida
aos outros’. Isto é, definitivamente, a missão’. Consequentemen-
te, um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara
de funeral. Recuperemos e aumentemos o fervor de espírito, ‘a
suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando
for preciso semear com lágrimas! [...] E que o mundo do nosso
tempo, que procura ora na angústia ora com esperança, possa
receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e
descoroçoados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros
do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem recebeu
primeiro em si a alegria de Cristo’.”26

ESTA SEMANA VOCÊ PODERÁ REZAR COM:


Escrito Shalom; Escritos da Comunidade Católica
Shalom, 1 – 17;
Catecismo da Igreja Católica, 142 – 184.

20º Dia ____/____/____

Amor aos jovens


“Nascida no meio dos jovens, a Comunidade tenha para
com eles amor e dedicação especiais. Sem descuidar das demais
dimensões do apostolado, dedique especial carinho ao acolhi-
26. PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium.
2023. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/
pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-
-ap_20131124_evangelii-gaudium.html. Acesso em: 16 jun. 2024.
55
Te Segu i re i

mento e apostolado da juventude. Os membros da Comunida-


de cultivem continuamente seu ardor juvenil e mantenham
sempre a juventude espiritual que nos marca. A Comunidade
apresenta Santa Teresinha do Menino Jesus como um modelo e
intercessora fiel na desafiante missão de evangelização da ju-
ventude.”27
Na Comunidade somos chamados a evangelizar a todos,
mas com um amor especial pelos jovens. E com os jovens
chegamos também aos membros de sua família, ou seja, aos
outros públicos. A seguir, você encontrará algumas ações da
Comunidade para favorecer a evangelização dos jovens. Na
oração de hoje enumere graças e desafios que você identifi-
ca na juventude atual e qual suas reações diante delas.

“Projeto Juventude para Jesus


O Projeto Juventude para Jesus tem o objetivo de desenvol-
ver com eficácia o trabalho com os jovens tornando-os protago-
nistas da Nova Evangelização.

Acampamento de Jovens Shalom (Acamp's)


O Acampamento de Jovens Shalom é uma opção de lazer e
entretenimento durante as férias.

Congresso de Jovens Shalom (CJS)


O CJS busca promover o aprofundamento da experiência
com o amor de Deus.

Assessoria Jovem
A Assessoria Jovem promove a unidade entre os responsá-
veis pela juventude Shalom do mundo inteiro.

Shalom na JMJ
Para facilitar a ida dos jovens à Jornada Mundial da Juven-
tude, a Comunidade Shalom organiza peregrinações para este
encontro com o Papa.

27. ESTATUTOS, 2012, p. 15-17.

56
Fevere i ro

Jovem em Missão
‘Jovem em missão’ é uma experiência de envio missionário
destinada a jovens que desejam se dedicar exclusivamente ao
serviço à Igreja, na evangelização da humanidade, no período
de um ano.”28

21º Dia ____/____/____

Nossa missão
“A fim de acolhermos em nossas vidas o dom da Paz e co-
municá-lo ao mundo, é necessário que sejamos instrumentos
do consolo e da compaixão de Deus para com os que sofrem a
ausência do pão espiritual e material. Através da evangeliza-
ção, do serviço e da autêntica partilha de bens, a Comunidade
esteja aberta a acolher o dom que são os pobres e neles identi-
fique oportunidade privilegiada para servir ao próprio Senhor
através de meios evangélicos concretos e eficazes. Em todas as
nossas ações, anunciar com parresia a Jesus Cristo é o elemento
constitutivo da nossa missão.”29
Se una ao coração de Jesus que tem compaixão de nós.
Em oração, deixe que seu coração unido ao Dele seja alarga-
do em amor e misericórdia para com todos os que sofrem.
Usando-se de sua memória, identifique os pobres ao seu re-
dor, de pobreza material, mas também a pobreza de digni-
dade, de espiritualidade, os que estão distantes do amor de
Deus, os que estão padecendo de algum mal do corpo e da
alma. Que o Senhor lhe conceda entranhas de misericórdia.

“Alegrai-vos com os que estão na alegria, chorai com os que


choram” (Rm 13,15).
Chorar com os que choram, sofrer com os que sofrem, esta
será nossa alegria.30

28. Disponível em: https://comshalom.org/juventude/. Acesso em: 19


jun. 2024.
29. ESTATUTOS, 2012, p. 17.
30. DIAS, Gabriella. Pescadores de Homens. Aquiraz: Edições Shalom,
2015.
57
Te Segu i re i

Pense nisso: como eleitos de Deus, somos chamados a configurar a


nossa vida como a vida de Jesus Cristo.

22º Dia ____/____/____

Revisando
Após ter rezado 8 dias com o preâmbulo dos Estatutos
da Comunidade Shalom, descreva o trecho de cada dia em
seu caderno e depois leia-os algumas vezes, mínimo 3, deva-
gar, ruminando cada palavra, contemplando a ação de Deus.
Deixe-se conduzir profundamente pelo Espírito, abando-
nando-se. Ao final, anote o fruto desses dias.

23º Dia ____/____/____

No decorrer da caminhada
“Quando o Senhor, na sua infinita providência, nos deu o
nome Shalom para a Obra e a Comunidade que Ele iniciava,
nunca poderíamos medir o alcance do que Ele queria fazer. Foi
no decorrer da caminhada, na vivência da nossa fé, na corres-
pondência ao chamado que nos fazia, que Ele foi mansamente
desenhando e nos dando a graça de compreendê-la. O termo
Shalom não é um simples nome da Comunidade, mas encerra
o desígnio de Deus a respeito do nosso chamado, da nossa vo-
cação.”31
Vimos no primeiro parágrafo do Escrito Shalom como
Deus age na história da Comunidade pela Divina Providên-
cia, assim também age em nossas vidas, nas situações, cir-
cunstâncias que passamos. Em Lucas 17, encontramos os 10
leprosos que desejavam ser curados. Enquanto se encami-
nham aos sacerdotes, alcançam a graça que buscavam. Dian-

31. AZEVEDO FILHO, Moysés Louro de. Escritos Comunidade Católica


Shalom. 6. ed. Aquiraz: Edições Shalom, 2012. p. 61.

58
Fevere i ro

te dos obstáculos, das dúvidas, dos fracassos e dos erros,


precisamos continuar a caminhada, nunca parar ou retro-
ceder. Pois é na vida, no caminho que Deus age. Você perce-
be a ação de Deus na história da Vocação Shalom e em sua
vida? Como Ele tem agido hoje? Você tem ou já teve vontade
de desistir?
“Ora, enquanto iam, foram purificados” (Lc 17,14).
Para a oração de amanhã: Se possível, busque rezar dian-
te do Santíssimo exposto.

Lembrete: se você ainda não tem ministério nem grupo de oração,


chegou o momento de se engajar mais! Procure o seu acompanhador
o mais rápido possível!

24º Dia ____/____/____

Shalom
“Enquanto os homens procurarem a paz e sua salvação em
si próprios; enquanto acharem que podem resolver os seus pro-
blemas e os do mundo por si mesmos; enquanto pensarem que
podem instalar uma paz social e política e assim trazer a felici-
dade geral ao mundo, sem a conversão dos corações a Jesus, sem
reconhecê-lo como a solução, a salvação para todos o homem e
para a humanidade, longe estarão da paz, do Shalom que Deus
quer instaurar na face da terra.”32
A felicidade corre de quem a procura como fim último
de sua vida. Da mesma forma, a paz não se encerra em nós
mesmos. Não temos poder de nos dar a paz, como também
não temos de nos fazer felizes, não no sentido centralizado
e individualista. Mas é dando a vida, perdendo-a que a ga-
nhamos (cf. Mt 16,25). Colocando-se diante do Shalom do Pai
neste dia, do Príncipe da Paz, esteja com Ele, ame-O e dei-
xe-se amar e inundar-se por Sua presença, mesmo que não
seja por sentimento, mas que seja principalmente pela fé.
Contemple-O, ame-O. Se possível, reze diante do Santíssimo.

32. Ibid., p. 62.


59
Te Segu i re i

Pense nisso: a oração, a dedicação no serviço da obra e o acompa-


nhamento vocacional são pontos fundamentais para o discernimen-
to vocacional.

25º Dia ____/____/____

O desígnio de Deus
“É aí que se manifesta o desígnio de Deus para a nossa vo-
cação. Em um mundo marcado pelo pecado, ‘que errou bastan-
te acerca do conhecimento e Deus, onde reinam tantos males,
o ocultismo, a não conservação da pureza nem na vida, nem
no matrimônio, a impureza, o adultério, sangue, crime, roubo,
fraude, corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, perseguição
dos bons, esquecimento da gratidão, impureza das almas, in-
versão sexual, desordens no casamento, despudor e etc., e ainda
se diz em paz’ (Sb 14,22-26); o Senhor nos chama a ser anuncia-
dores da Sua paz (Is 52), a viver e proclamar a Sua Paz. A levar
com a nossa vida, com a nossa palavra, e com o nosso teste-
munho, o Shalom de Deus aos corações; a ser instrumentos de
reconciliação do mundo com Deus; a anunciar com todo o nosso
coração, com todas as nossas forças, a salvação de Jesus Cristo
e o Seu Evangelho.”33
Que passagem atual! Nós existimos para este tempo!
Para esta geração! Uma vocação é sempre uma resposta a
uma necessidade da Igreja para um povo. Nós somos esta
profecia. Fazemos parte do jardim de vocações da Igreja e po-
demos dar nossa contribuição para a evangelização e trans-
formação do mundo. Você está disposto a ser um “apóstolo”
de Cristo para este mundo? Como um povo, povo Shalom?
Reze e coloque-se à disposição da graça de Deus.

ESTA SEMANA VOCÊ PODERÁ REZAR COM:


Carta à Comunidade 2005; Escritos da Comunidade
Católica Shalom, 128 – 171.

33. Ibid., p. 62.

60
Fevere i ro

26º Dia ____/____/____

A paz é fruto do Espírito Santo


“A paz é fruto do Espírito Santo e somente por uma união
profunda no Espírito de Deus podemos ser embebidos dela. Não
existe paz senão como fruto do Espírito Santo, e nunca podere-
mos usufruir desse fruto se não o cultivarmos através da oração
e da renúncia de nós mesmos (mortificação de que a Rainha da
Paz nos falou). É este caminho seguro que o Evangelho nos dá. É
por ele que queremos seguir. A ele desejamos abraçar, vivenciar
e proclamar.”34
Na carta de São Paulo aos Gálatas 5,22, o apóstolo nos
apresenta a Paz como um fruto do Espírito Santo. Nós, como
chamados a sermos discípulos e ministros da Paz, precisa-
mos ser homens e mulheres de paz, não qualquer paz. A Paz
que anunciamos é Jesus Cristo e Jesus Cristo nos é revela-
do pelo Espírito Santo. Este mesmo Espírito de Jesus gera
frutos em nossa vida, vida nova, vivida na graça de Deus.
Rezando com o texto a seguir, tente identificar se você tem
sido um homem ou uma mulher de Paz e faça um grande
clamor ao Senhor.

“Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de


Deus
Esta bem-aventurança faz-nos pensar nas numerosas si-
tuações de guerra que perduram. Da nossa parte, é muito co-
mum sermos causa de conflitos ou, pelo menos, de incompreen-
sões. Por exemplo, quando ouço qualquer coisa sobre alguém e
vou ter com outro e lho digo; e até faço uma segunda versão um
pouco mais ampla e espalho-a. E, se o dano que consigo fazer
é maior, até parece que me causa maior satisfação. O mundo
das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar
e destruir, não constrói a paz. Pelo contrário, tais pessoas são
inimigas da paz e, de modo nenhum, bem-aventuradas.

34. Ibid., p. 63-64.

61
Te Segu i re i

Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade so-


cial. Àqueles que cuidam de semear a paz por todo o lado, Jesus
faz-lhes uma promessa maravilhosa: ‘serão chamados filhos de
Deus’ (Mt 5,9). Aos discípulos, pedia-lhes que, ao chegar a uma
casa, dissessem: ‘a paz esteja nesta casa!’ (Lc 10,5). A Palavra de
Deus exorta cada crente a procurar, juntamente ‘com todos’, a
paz (cf. 2 Tm 2,22), pois ‘é com a paz que uma colheita de justiça
é semeada pelos obreiros da paz’ (Tg 3,18). E na nossa comu-
nidade, se alguma vez tivermos dúvidas acerca do que se deve
fazer, ‘procuremos aquilo que leva à paz’ (Rm 14,19), porque a
unidade é superior ao conflito.
Não é fácil construir esta paz evangélica que não exclui
ninguém; antes, integra mesmo aqueles que são um pouco es-
tranhos, as pessoas difíceis e complicadas, os que reclamam
atenção, aqueles que são diferentes, aqueles que são muito fus-
tigados pela vida, aqueles que cultivam outros interesses. É di-
fícil, requerendo uma grande abertura da mente e do coração,
uma vez que não se trata de ‘um consenso de escritório ou uma
paz efémera para uma minoria feliz’ nem de ‘um projeto de
poucos para poucos’. Também não pretende ignorar ou dissi-
mular os conflitos, mas ‘aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e
transformá-lo no elo de ligação de um novo processo’. Trata-se
de ser artesãos da paz, porque construir a paz é uma arte que
requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza. Seme-
ar a paz ao nosso redor: isto é santidade.”35

35. PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Gaudete et exsultate.


2018. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/
pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-
-ap_20180319_gaudete-et-exsultate.html#%C2%ABFelizes_os_pa-
cificadores,_porque_ser%C3%A3o_chamados_filhos_de_Deus%-
C2%BB. Acesso em: 20 jun. 2024.

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27º Dia ____/____/____

A conversão
“A conversão a Jesus Cristo é o caminho para a verdadeira
paz. Porém, não a conversão simplesmente intelectual, racio-
nal; não uma conversão baseada somente numa aceitação de
verdade dogmáticas, não a conversão estéril, mas a conversão
que nasce de uma experiência pessoal com Jesus Cristo, o Deus
Vivo, que penetra nas nossas vidas, inundando-as do amor do
Pai, uma experiência que não é só sentimental, mas que invade
as nossas vidas, transformando todo nosso ser e prolongando-
-se através da oração, da Palavra de Deus, dos Sacramentos,
do testemunho de vida e do serviço aos irmãos. Experiência do
amor que leva a amar a Deus e aos irmãos. Experiência que
só o Espírito Santo nos dá, experiência daqueles que nascem
de novo, não pela carne nem pelo sangue, mas pelo Espírito de
Deus (Jo 1,13); dos que nascem para Deus, para a Igreja, para os
irmãos e partem para uma busca sincera e autêntica de Deus
e da Sua Vontade para suas vidas. Este é o caminho da paz, um
caminho de Renovação.”36
A experiencia pessoal com Jesus, ser apaixonado por Ele,
ter por Ele um amor incondicional. O amor esponsal a Nos-
so Senhor. Isso é essencial para se viver a Vocação Shalom,
aproveite a oração de hoje e renove sua experiência pessoal
com Ele! Reapaixone-se!

“Jesus Cristo, uma Pessoa a encontrar


Mais do que saber explicar teologicamente a realidade de
Jesus Cristo, uma única Pessoa divino-humana, é necessário
encontrar-se com Jesus em pessoa. O cristianismo não é em
primeiro lugar uma doutrina, mas uma pessoa a se descobrir:
Jesus Vivo! Na verdade, só se aceita a doutrina sobre Jesus quem
encontra-se com o próprio Jesus. Este último capítulo tem como

36. AZEVEDO FILHO, Moysés Louro de. Escritos Comunidade Católica


Shalom. 6. ed. Aquiraz: Edições Shalom, 2012. p. 65.

63
Te Segu i re i

objetivo ajudar a abrir nosso coração, nossa alma, nosso mundo


interior a Jesus. E por quê? Porque ninguém ama tanto você
como Jesus Cristo. Ele veio ao mundo só para salvar cada um de
nós de todas as escravidões, tristezas, angústias, medos, trau-
mas, feridas, dependências... Imagine por um momento: quem é
a pessoa que mais o ama no mundo? E veja bem: Jesus Cristo o
ama bem mais do que essa pessoa querida. Ele deu tudo o que ti-
nha para amá-lo, até mesmo Sua honra e, com ela, Sua vida. Foi
condenado injustamente, foi maltratado, crucificado e morto.
Caso só existisse você no universo, Jesus teria feito tudo isso de
novo só para lhe dar a chance de começar uma nova vida. Mui-
tas vezes pensamos: ah, se eu pudesse começar hoje uma nova
vida, apagar as bobagens e até erros graves que cometi e reco-
meçar a viver de maneira nova! Pois bem, caro amigo, isso é
possível quando encontramos Jesus Vivo no coração. Logo surge
a questão: o que preciso fazer para ter essa experiência com
Cristo? Nada! Isso mesmo, absolutamente nada, apenas desejar
e acreditar que é possível. Porque o encontro pessoal com Jesus
é uma graça que Deus dá. É só pedi-la.
São Paulo insiste sobre um ponto no caminho da Salvação:
esse caminho, essa vida nova, Deus nos oferece gratuitamente
(do grego dorèan), de graça, como um dom. Veja bem: Deus está
realizando uma nova criação, e dela deseja excluir o veneno que
atingiu mortalmente a primeira criação: a vanglória, o orgulho
vão. Assim nos ensina São Paulo: ‘Onde está, então, o motivo
de glória? Fica excluído. Em força de que lei? A das obras? De
modo algum, mas em força da lei da fé’ (Rm 3,27-28). Diz-nos
ainda São Paulo: “Pela graça fostes salvos, por meio da fé, e isso
não vem de vós, é o dom de Deus: não vem das obras, para que
ninguém se encha de orgulho” (Ef 2,8-9).”
Completa esse ensino o Cardeal Raniero Cantalamessa:
“O que São Paulo exprime pelo advérbio ‘gratuitamente’,
Jesus o exprime de maneira diferente, pela imagem da criança.
[...] Jesus disse que é preciso acolher o Reino dos Céus como uma
criança, isto é, como um dom, e não se valendo de méritos nos-
sos. Um dia quando os discípulos discutiam para saber quem

64
Fevere i ro

era o maior no Reino de Deus, Jesus chamou uma criancinha, a


pôs no meio deles e lhes disse que se não se convertessem e não
se tornassem como as criancinhas, eles não entrariam no Reino
dos Céus (cf. Mt 18,1-3).
Para Jesus, se converter não significava em primeiro lugar
mudar de comportamento, mas voltar-se para o Senhor e, acre-
ditando como uma criança que sabe que vai receber o que pediu
ao pai porque tem certeza de que este deseja lhe dar, pedir-lhe
o dom de uma vida nova, que é obra do Espírito Santo em nós.
Jesus usa o exemplo dos pais que sabem o que dar de bom aos
seus filhos, para convencer Seu público: ‘Ora, se vós, que sois
maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o
Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!’ (Lc 11,13).
Quanto mais o Pai... aqui vemos toda a Trindade presente e de-
sejosa de ser dar a nós: é Jesus, Palavra viva de Deus que fala;
Ele revela que Deus é Pai; e que o Pai não quer nos dar menos
do que Seu Espírito Santo. Os santos diziam que Deus se ofende
quando Lhe pedimos pouco: ora, é porque tudo o que não é o
próprio Deus, torna-se pouco, diante Dele! Deus quer se dar a
nós, como um Pai terno e amoroso, que pode, deseja e vai nos
dar um novo começo, uma nova vida. Não é uma forma de falar,
é a verdade!”37

Pense nisso: a contemplação faz brotar toda a força explosiva da


nossa evangelização.

28º Dia ____/____/____

Rainha da Paz
Inicie sua oração hoje rezando com o Magnificat, Lc 1, 46
em diante. Cante, reze e mergulhe no que o Senhor nos fala
de forma especial sobre a Virgem Maria no título de Rainha
da Paz.

37. RAMOS, Daniel. Jesus Cristo. Aquiraz: Edições Shalom, 2022. p. 83-
85. (Série Philippos.)
65
Te Segu i re i

Para nós, Maria, além de Esposa do Espírito, é a Rainha


da Paz. Esse título de Maria evoca as aparições de Medjugorje.
Tais aparições tenham sido de grande importância no início de
nossa caminhada, como afirma nosso fundador:
“Junto a eles está a Rainha da Paz, como Maria se intitula
nas aparições de Medjugorje, na Iugoslávia. Antes mesmo de
conhecer o conteúdo de sua mensagem nestas aparições, Deus
já colocava em meu coração que a Rainha da Paz tinha muito a
nos falar. Foi grata a surpresa de ver enunciado em sua men-
sagem o muito que Deus já colocara em nossa vocação. Apegue-
mo-nos profunda e verdadeiramente Àquela que é a Esposa do
Espírito Santo e imploremos sua intercessão para que Ele gere
em nossos corações o Amor Esponsal a seu Filho Jesus” (Escrito
Amor Esponsal, 15).
Por outro lado, o título de Rainha da Paz na tradição da
Igreja ultrapassa em muito as aparições da Iugoslávia. Para
nós, tornou-se o símbolo da Mãe que exorta à oração: Não ha-
verá novo se não houver uma profunda vida de oração em cada
um de nós! A cada dia isto se torna mais real para mim. A Rai-
nha da Paz (Medjugorje) que fale por nós! (Escrito Obra Nova,
5).
Além do inequívoco apelo à vida de intensa oração, a Rai-
nha da Paz foi, nos inícios de nossa caminhada, indicação de
que poderíamos servir a Deus em qualquer estado de vida e
que nosso chamado ao Amor Esponsal independia deste estado,
como o fundador expressa no Escrito Estados de Vida: “Abertos
a outros caminhos, à vocação (= estado de vida) que o Senhor
tem para nós, querendo buscar a verdade para a qual Ele nos
criou e não aquilo que já colocamos em nossa cabeça e não te-
mos a coragem de entregar em Suas mãos, estaremos no rumo
certo da felicidade. Consola-me ouvir a este respeito as decla-
rações da Rainha da Paz, em Medjugorje”.38

38. NOGUEIRA, Maria Emmir Oquendo. Os 3 nomes de Maria na Vo-


cação Shalom. Comshalom, Aquiraz, 8 maio 2023. Disponível em: ht-
tps://comshalom.org/emmir-explica-os-nomes-de-maria-na-voca-
cao-shalom/. Acesso em: 19 jun. 2023.

66
Fevere i ro

29º Dia ____/____/____

Maria, a crente
Encerrando estes dias de oração com os fundamentos do
Carisma, mais propriamente com o preâmbulo dos Estatutos
e o Escrito Shalom, vamos nos unir à Virgem Maria, ao sim
dela. Não há santo que não tenha uma vida próxima a Maria,
porque ela é a Mãe do Céu, a Mãe da Graça, ela é nosso futu-
ro, “tudo que nós queremos”. Ela é a mulher Shalom! Una-se
a ela neste dia de forma especial, confie os segredos do seu
coração e o que tem vivido no seu caminho vocacional.
13. “A Deus que revela é devida ‘a obediência da fé’ (Rom
16,26; cf. Rom 1,5; 2 Cor 10,5-6), pela qual o homem se entrega
total e livremente a Deus”, como ensina o Concílio. Exatamen-
te esta descrição da fé teve em Maria uma atuação perfeita. O
momento “decisivo” foi a Anunciação; e as palavras de Isabel ―
“feliz daquela que acreditou” ― referem-se em primeiro lugar
precisamente a esse momento.
Na Anunciação, de fato, Maria entregou-se a Deus com-
pletamente, manifestando “a obediência da fé” Àquele que lhe
falava, mediante o seu mensageiro, prestando-lhe o “obséquio
pleno da inteligência e da vontade”. Ela respondeu, pois, com
todo o seu “eu” humano e feminino. Nesta resposta de fé estava
contida uma cooperação perfeita com a “prévia e concomitante
ajuda da graça divina” e uma disponibilidade perfeita à ação do
Espírito Santo, o qual “aperfeiçoa continuamente a fé mediante
os seus dons”.
A palavra de Deus vivo, anunciada pelo Anjo a Maria, refe-
ria-se a ela própria: “Eis que conceberás e darás à luz um filho”
(Lc 1,31). Acolhendo este anúncio, Maria devia tornar-se a “Mãe
do Senhor” e realizar-se-ia nela o mistério divino da Incarna-
ção: “O Pai das misericórdias quis que a aceitação por parte
da que Ele predestinara para mãe, precedesse a Incarnação”. E
Maria dá esse consenso, depois de ter ouvido todas as palavras
do mensageiro. Diz: “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim

67
Te Segu i re i

segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Este fiat de Maria ― “faça-se


em mim” ― decidiu, da parte humana, do cumprimento do mis-
tério divino. Existe uma consonância plena com as palavras do
Filho que, segundo a Carta aos Hebreus, ao vir a este mundo, diz
ao Pai: “Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-
-me um corpo... Eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vonta-
de” (Hebr 10,5-7). O mistério da Incarnação realizou-se quando
Maria pronunciou o seu “fiat”: “Faça-se em mim segundo a tua
palavra”, tornando possível, pelo que a ela competia no desígnio
divino, a aceitação do oferecimento do seu Filho.
Maria pronunciou este “fiat” mediante a fé. Foi mediante
a fé que ela “se entregou a Deus” sem reservas e “se consagrou
totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra do seu
Filho”. E este Filho ― como ensinam os Padres da Igreja ― con-
cebeu-o na mente antes de o conceber no seio: precisamente
mediante a fé! Com justeza, portanto, Isabel louva Maria: “Feliz
daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que
lhe foram ditas da parte do Senhor”. Essas coisas já se tinham
cumprido: Maria de Nazaré apresenta-se no limiar da casa de
Isabel e de Zacarias como mãe do Filho de Deus. É essa a des-
coberta letificante de Isabel: “A mãe do meu Senhor vem ter co-
migo!”.
14. Por conseguinte, também a fé de Maria pode ser com-
parada com a de Abraão, a quem o Apóstolo chama “nosso pai
na fé” (cf. Rom 4,12). Na economia salvífica da Revelação divi-
na, a fé de Abraão constitui o início da Antiga Aliança; a fé de
Maria, na Anunciação, dá início à Nova Aliança. Assim como
Abraão, “esperando contra toda a esperança, acreditou que ha-
veria de se tornar pai de muitos povos” (cf. Rom 4,18 ), também
Maria, no momento da Anunciação, depois de ter declarado a
sua condição de virgem (“Como será isto, se eu não conheço
homem?”), acreditou que pelo poder do Altíssimo, por obra do
Espírito Santo, se tornaria a mãe do Filho de Deus segundo a
revelação do Anjo: “Por isso mesmo o Santo que vai nascer será
chamado Filho de Deus” (Lc 1,35).

68
Fevere i ro

Entretanto, as palavras de Isabel: “Feliz daquela que acre-


ditou” não se aplicam apenas àquele momento particular da
Anunciação. Esta representa, sem dúvida, o momento culmi-
nante da fé de Maria na expectação de Cristo, mas é também o
ponto de partida, no qual se inicia todo o seu “itinerário para
Deus”, toda a sua caminhada de fé. E será ao longo deste cami-
nho, que a “obediência” por ela professada à palavra da revela-
ção divina irá ser atuada, de modo eminente e verdadeiramente
heróico ou, melhor dito, com um heroísmo de fé cada vez maior.
E esta “obediência da fé” da parte de Maria, durante toda a sua
caminhada, terá surpreendentes analogias com a fé de Abraão.
Do mesmo modo que o patriarca do Povo de Deus, também Ma-
ria, ao longo do caminho do seu fiat filial e materno, “esperando
contra toda a esperança, acreditou”. Especialmente ao longo de
algumas fases deste seu caminhar, a bênção concedida “àquela
que acreditou» tornar-se-á manifesta com particular evidên-
cia. Acreditar quer dizer “abandonar-se” à própria verdade da
palavra de Deus vivo, sabendo e reconhecendo humildemente
“quanto são insondáveis os seus desígnios e imperscrutáveis as
suas vias” (Rom 11,33). Maria, que pela eterna vontade do Al-
tíssimo veio a encontrar-se, por assim dizer, no próprio cen-
tro daquelas “imperscrutáveis vias” e daqueles “insondáveis
desígnios” de Deus, conforma-se a eles na obscuridade da fé,
aceitando plenamente e com o coração aberto tudo aquilo que é
disposição dos desígnios divinos.39

39. SÃO JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater. 1987.
grifos próprios. Disponível em: https://www.vatican.va/content/
john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25031987_re-
demptoris-mater.html. Acesso em: 19 jun. 2023.

69
Te Segu i re i

70
Fevere i ro

Resumindo
♦ Neste primeiro mês, vimos bases para um bom discerni-
mento, ajudados pelo Papa, e rezamos com os fundamen-
tos do Carisma Shalom.
♦ O discernimento se dá num processo de caminhar com
Cristo, no qual somos embebidos por uma grande paz que
nos fortalece nos desafios diários.
♦ Percebemos que a oração é um fundamental elemento para
bem discernir a vontade de Deus para nós.
♦ A oração fomentada pelo autoconhecimento é também
muito importante, pois ele motiva o desejo para buscarmos
Deus, e não a nós.
♦ Fazer uma leitura da história de vida, vendo os tempos de
Deus em cada momento e aderir de forma livre são passos
essenciais para dizermos o nosso sim a Ele.
♦ O acompanhador vocacional também deve estar presente
neste caminho, pois o ajudará a dar mais e mais passos para
Deus.
♦ Vimos que a passagem fundante da nossa Vocação é Jo
20,19ss e que nela Cristo comunica aos discípulos o Sha-
lom, sendo esta a nossa principal missão.
♦ Para que vivamos a nossa Vocação, é necessário termos
uma real experiência com Deus, que realiza em nós um
novo Pentecostes.
♦ A partir dessa experiência, Deus nos constituiu uma nova
família, como imagem da Trindade. Dela é que obtemos o
modelo para vivermos a Unidade.
♦ A obra nova que Deus deseja realizar em nós é nos conver-
ter para que vivamos o ser Shalom.
♦ A obra que o Senhor nos dá é o meio pelo qual nós amamos
Deus de uma forma mais concreta.

71
Te Segu i re i

♦ Ao servirmos a Deus através da Obra, devemos ter um amor


exemplar pelos jovens

Reflita
♦ Como está meu relacionamento com Deus? Será que tenho
realmente O buscado para ser fiel ao Seu querer na mi-
nha vida? Como tenho buscado viver este ano? Tenho me
aberto a Ele e desejado viver de forma mais radical e mais
abandonada possível?

72
RETIRO PESSOAL FEVEREIRO
DEUS NOS GEROU PARA EVANGELIZAR

HORÁRIOS

8:00 – Despertar
8:30 – Café da manhã
9:00 – Início do retiro – Clamor ao Espírito
9:30 – Reze com João 20,19-29, seguindo a Lectio divina.
10:30 – Reze com os Estatutos que está abaixo.
12:30 – Almoço
12:45 – Descanso
14:00 – Retorno
14:30 – Reze com o Escrito No coração da obra em unidade
com o Carisma que está abaixo.
16:30 – PVP
17:30 – Oração do Ofício e do terço
18:00 – Missa
* O horário da Missa pode ser modificado de acordo com cada
realidade
Te Segu i re i

FUNDAMENTOS DO CARISMA

Manhã
Comece o retiro pessoal com um grande clamor ao Espí-
rito Santo, pois, como nos diz o Escrito Amor Esponsal: “so-
mente o Espírito Santo, o Inflamador das Almas pode realizar
este amor em nós”. Por isso, antes de abordarmos o assun-
to, peçamos que o Espírito aja em cada coração que deseje
compreender este chamado. Este clamor pode ser vivido com
cantos ao Espírito Santo, para que venha em seu auxílio.
Estatutos da Comunidade Católica Shalom1
Preâmbulo

I. Os fundamentos do Carisma da Comunidade Católica


Shalom
Ao encontrar os discípulos no Cenáculo, Jesus Ressusci-
tado lhes diz: Paz a vós (Jo 20,19), ou seja, Shalom! Em Jesus,
esta saudação é uma real comunicação da Paz, isto é, de toda
sorte de bênçãos espirituais e materiais, a felicidade perfeita
que o Messias nos traz. É, enfim, o anúncio e a doação da sal-
vação plena. Desta forma, podemos dizer que Jesus é o Sha-
lom do Pai para o mundo, a verdadeira, plena e única Paz que
o homem pode ter. Por isso, o Apóstolo diz: Cristo é a nossa
Paz (Ef 2,14).
Ao doar a Sua Paz aos discípulos (cf. Jo 20,19-22), o Res-
suscitado que passou pela cruz e que, por isso, traz suas mar-
cas gloriosas, enviou-os ao mundo em Seu Nome e lhes deu
o Seu Espírito para implantar, com o Seu poder, esta Paz no
coração de cada homem e de toda a humanidade.

1. ESTATUTOS da Comunidade Católica Shalom. Aquiraz: Edições Sha-


lom, 2012. p. 9-15.

74
Te Segu i re i

Inseridos no seio da Trindade por meio do coração trans-


passado de Cristo, nela contemplamos o amor do Pai, bebe-
mos do poder e da santidade do Espírito e, enxertados em
Cristo, somos enviados ao mundo para anunciar a Boa Nova
da salvação.
A Comunidade Católica Shalom é fundamentada nes-
ta experiência do Ressuscitado que passou pela cruz. Ele,
para maior glória do Pai, derrama sobre nós o Seu Espírito,
e nos envia como discípulos e ministros da Sua Paz. Somos
chamados a acolher, viver e testemunhar o Carisma da Paz. A
Comunidade é fundamentada na experiência carismática de
um novo Pentecostes na Igreja. Através da efusão do Espírito
Santo e consequente desabrochar e uso dos Seus carismas,
com a espiritualidade, vida comum e apostolado que lhe são
próprios, serve à Igreja e colabora com a implantação da Paz
no mundo.
Somos uma família. Por isto, a Comunidade possui como
membros pessoas das diversas formas de vida: celibatários
pelo Reino, casais, sacerdotes, seminaristas, diáconos, ho-
mens e mulheres, jovens e adultos, pessoas casadas e solteiras.
Inspirada na diversidade e unidade da Santíssima Trindade,
cada forma de vida vive plenamente sua identidade própria e
a complementariedade com as outras formas. Na unidade das
três Pessoas, as formas de vida encontram o fundamento para
a comunhão de amor em sua vivência comunitária. Na explo-
são de amor da Trindade que tudo cria, redime e santifica,
encontram o impulso para sua missão. A Comunidade é um
espelho da Vida Trinitária e um reflexo do Mistério da Igreja.

II. A Contemplação, a Unidade e a Evangelização


A fim de correspondermos ao chamado divino de sermos
discípulos e ministros da Paz, o Senhor nos concede o cami-
nho da CONTEMPLAÇÃO, da UNIDADE e da EVANGELIZA-
ÇÃO.
Te Segu i re i

A CONTEMPLAÇÃO gera um coração pacificado e com-


passivo, saciado por Deus e aberto a todos os homens. Para
que possamos transmitir a Paz aos homens, é preciso estar
impregnados da Paz que nos é doada pelo coração transpas-
sado de Jesus.
A CONTEMPLAÇÃO faz brotar toda a explosiva força da
nossa EVANGELIZAÇÃO. Esta se traduz nos inúmeros e cons-
tantes esforços que a Comunidade deve empreender para le-
var, segundo o seu Carisma e de acordo com a linguagem de
cada tempo, o mesmo e único Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo, portador da salvação e da Paz para o mundo.
Evangelizar para nós é, no poder do Espírito (cf. ICor 2,4)
e com o auxílio dos Seus carismas (cf. ICor 12), anunciar Cristo
crucificado, que para os judeus é escândalo, para os gentios
é loucura, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus
como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus
(ICor 1,23-24). A este Jesus Cristo, Deus ressuscitou dentre os
mortos, e disto nós somos testemunhas. (At 2,32). Este anún-
cio e a consequente formação dos filhos de Deus para serem
testemunhas na Igreja e, como Igreja, no mundo, é o funda-
mento da nossa evangelização.
Somos chamados a configurar-nos a Jesus Cristo: Como
Ele, somos chamados a ser contemplativos na ação (cf. Lc
5,15-16), a dedicar momentos intensos e demorados à intimi-
dade com o Pai e, ao mesmo tempo, abraçarmos o incansável
dever de, ungidos pelo Espírito, anunciar a Boa Nova e fazer o
bem a todos os homens.
Para vivermos a nossa vocação, o Senhor nos constituiu
Comunidade, aos moldes das primeiras comunidades cristãs
(cf. At 2 e 4). Somente através da vivência da caridade para
com Ele e para com os irmãos, seremos promotores de Sua
Paz ao mundo (cf. Jo 17,21-23). A vivência do Evangelho em
toda a sua radicalidade gera em nós a santidade. Pelo poder
do Espírito e vivência da UNIDADE na caridade, nosso alvo é a
santidade, não por presunção, mas por vocação.

76
Te Segu i re i

O amor fraterno na vida comunitária é fruto concreto da


CONTEMPLAÇÃO e alavanca para a nossa EVANGELIZAÇÃO.
A Comunidade sente-se chamada a refletir a UNIDADE da co-
munhão de amor da Trindade. A TRINDADE é a fonte e o mo-
delo de nossa vida contemplativa, comunitária e apostólica.
Anote no seu caderno os frutos dessa oração.

Tarde

Escritos2
NO CORAÇÃO DA OBRA EM UNIDADE COM O
CARISMA3
01. O Senhor, em Seu infinito amor, desde toda a eterni-
dade tinha em Seu coração a Vocação Shalom. Por determina-
ção de Sua livre vontade, Ele começa a manifestar a nós, neste
tempo que vivemos, a Vocação a SER Shalom, pois, o Carisma
dado por Deus, antes de ser algo que vamos fazer, é algo que
Ele nos chama a ser, a viver, a abraçar na vida, a encarnar na
forma de viver.
02. Para encarnar esta forma de viver, Ele criou e resga-
tou pessoas para Lhe darem uma resposta de amor vivendo
como Ele nos chamou a viver. Ele não só nos criou para isto,
como também nos resgatou do mundo, do reino das trevas
onde estávamos para que, “sem temor, livre das mãos inimi-
gas, possamos servi-Lo em santidade e justiça, em Sua presen-
ça, todos os dias de nossas vidas” (Lc 1,74-75).
03. O Senhor tirou-nos do mundo, do domínio da carne,
do domínio do príncipe das trevas para que, resgatados pelo
Seu preciosíssimo sangue, revestidos do Seu Espírito, possa-
mos caminhar em santidade em Sua presença todos os dias
de nossa vida, assumindo a nossa santa vocação de filhos de
Deus.
2. AZEVEDO FILHO, 2012, p. 279.
3. AZEVEDO FILHO, 2012, p. 43-50.
Te Segu i re i

04. A Vocação Shalom, para aqueles que foram chamados


a construir esta Obra, está fundamentada no SER SHALOM,
forma de viver por sua vez fundamentada no Evangelho do
Senhor e impregnada pela novidade do Espírito Santo que nos
é dado.
05. Foi para viver esta forma de ser que o Senhor chamou
a Comunidade de Vida e Aliança. A Comunidade de Vida é for-
mada por aqueles que foram chamados a viver o Carisma em
sua plenitude, e a Comunidade de Aliança por aqueles que são
chamados a participar do Carisma e abraçar esta participação
com toda a sua vida.
06. Aconteceu algo interessante no nosso meio. Por graça
de Deus, o Shalom se tornou uma fonte de bênçãos divinas,
uma manifestação muito visível de Seu Amor. Isto atraiu mui-
tas pessoas, pelo que glorificamos a Deus. Muitos buscaram
a Comunidade como fonte de segurança nos caminhos do
Senhor. Acredito que o Senhor utilizou-se disto para nos ter
todos aqui hoje.
07. Na medida em que vamos caminhando, vamos perce-
bendo que o Senhor começa a fazer um chamado mais espe-
cial para muitos. É necessário neste momento, vermos que o
Senhor quer mais do que um engajamento. Quer pessoas que
tenham identidade com o Carisma, com o ser Shalom, pesso-
as que se sintam chamadas a encarnar em suas vidas esta Vo-
cação, que acreditem nela, que acreditem naqueles que o Se-
nhor colocou à frente, que se sintam com o coração na Obra,
e não só na obra material (embora também nela e com muita
intensidade), mas principalmente na forma de ser, de viver, no
Carisma Shalom.
08. É necessário que não só estejam dentro da Obra, pres-
tando serviço a ela ou sendo espiritualmente alimentados por
ela, mas que tenham seus corações unidos à Obra, à Vocação.
Que se sintam chamados a investir as suas vidas em sua par-
ticipação nesta Vocação. Que tenham um amor muito grande

78
Te Segu i re i

por este caminho, a ponto de desejarem investir seu tempo,


seus pensamentos, suas capacidades para o crescimento da-
quilo que o Senhor nos confiou. A pessoa chamada à Vocação
Shalom não é aquela que simplesmente trabalha na Obra, mas
é antes de tudo aquela que tem nela seu coração, que a ama e
está disposta a renunciar, por amor, a seu tempo a fim de de-
dicá-lo Àquele que o chamou, sabendo que ainda será pouco
por tudo que Ele nos dá.
09. A pessoa que tem a vocação tem consciência de que
está na Obra porque foi chamada a ser Shalom e a construir
a Obra com sua vida, seu trabalho e esforço, é necessário que
se sinta profundamente responsável por ela e que tenha iden-
tidade com aquele a quem o Senhor confiou a sua fundação e
condução e com todos os que são participantes do Carisma.
10. O amor pela Vocação e pela Obra é fundamental. Não,
porém, um amor sentimentalista, nem desencarnado, mas um
amor provado e comprovado, um amor que se compromete,
que deseja dar frutos para a Obra e para nossas vidas. Um
amor que nos impulsione a viver o chamado do Senhor para
nos doarmos cada vez mais no trabalho da vinha.
11. É preciso igualmente que este amor se expresse em
uma profunda busca de UNIDADE. Ela é fonte de comunhão.
Na medida em que eu comungo com o Carisma, com a forma
de ser Shalom, entro em unidade, sou um com o outro. Isto
é de fundamental importância para o andamento de toda a
Obra nos caminhos verdadeiramente reservados pelo Senhor.
12. Considero a Comunidade de Vida e Aliança como a en-
grenagem do motor Shalom que o inimigo de Deus não quer
ver funcionar. Quando as peças estão encaixadas, unidas, sem
nada que as divida, a Obra caminha maravilhosamente bem,
deslancha.
13. Mas, quando começam a penetrar na engrenagem cor-
pos estranhos que se dividem, o funcionamento fica imperfei-
to, a máquina não funciona, o motor não anda e se desgasta.
Te Segu i re i

14. Os corpos estranhos são as sementes de divisão. Quan-


do não somos um com a Vocação, com a forma de ser Shalom,
com o espírito do fundador, quando não estamos encarnando
esta forma de ser em nossa vida, estamos atravancando o fun-
cionamento, o crescimento da Comunidade e de toda a Obra.
15. Uma coisa é ter minhas dúvidas se aqui é ou não meu
lugar; é passar pelas dificuldades de relacionamentos e pro-
blemas e feridas pessoais. Isto é compreensível. São momen-
tos pelos quais todos passam.
16. Outra coisa é rejeitar a Vocação, a forma de ser Sha-
lom, o Carisma e aqueles a quem o Senhor chamou para le-
var a bom termo a Vocação e a Obra e, ainda que de maneira
inconsciente, semear ao meu redor esta rejeição! Eu estaria
desta forma dividindo, rejeitando, minando o próprio Caris-
ma. A divisão, a quebra da unidade, nasce da rejeição da forma
de ser Shalom, do próprio Carisma!
17. Devemos, acima de tudo, preservar, buscar e encarnar
esta unidade. Sem ela nada caminha, nada vai à frente. É ela
que me faz perceber minha identidade com o Carisma e com
a Vocação. Através dela posso perceber se possuo o Carisma.
Através dela posso dizer se sou chamado ou não.
18. Seria uma incoerência dizer que me sinto chamado a
ser Shalom quando rejeito e não aceito a forma de ser Shalom,
o dom do Senhor, o caminho que Ele nos deu a trilhar, quando
rejeito de maneira genérica a linha de pensamento da funda-
ção e do fundador.
19. Nos momentos de aparente falta de identidade, deve-
mos pedir muito ao Senhor o dom do discernimento para não
confundir as coisas, pois uma grande tentação pode tomar
conta de nós: às vezes por causa de marcas, mágoas, dificul-
dade nos relacionamentos, momento difícil em nossa cami-
nhada espiritual, momentos de grandes tentações, podemos
confundir as coisas. As marcas, mágoas ou caminhos de afas-

80
Te Segu i re i

tamento que tomamos nos cegam e fazem com que nos afas-
temos da Vocação, da forma de ser Shalom.
20. Mágoas e marcas com pessoas nos fazem rejeitar a
Vocação, a forma de ser Shalom. É aí que o tentador pode
nos confundir. Precisamos verificar se não temos realmente
identidade com o Carisma, ou se estes outros fatores estão
ofuscando nossa visão. Se for o primeiro caso, precisamos ser
honestos conosco mesmos e com Deus e buscarmos nosso
lugar dentro de Sua vontade – talvez dentro da própria Obra
como um colaborador bastante ativo, mas sem compromissos
mais profundos com a Vocação. Se for o segundo caso (e este
é mais difícil de detectar) devemos identificar esta realidade,
sua causa e, sem nos acomodar a ela, reconhecer a situação e
buscar um caminho de cura, de volta, de perdão. Precisamos
estar atentos.
21. A identidade com o Carisma é ponto fundamental para
a verdadeira caminhada que os vocacionados precisam tomar.
A comunhão com o Carisma, a unidade em torno da Vocação
é peça fundamental para a caminhada. Na unidade encontra-
mos o amor e o amor nos leva a ela. A unidade é a ponte que
nos levará ao coração da Obra. Amaremos e nos doaremos à
Obra na medida em que formos um com a Vocação.
Anote tudo em seu caderno de oração
Te Segu i re i

Esta obra foi composta em fonte Lora,


Montserrat, Bastiken, impresso em
papel offset 75g/m2 na Gráfica Pouchain Impressos.
Fortaleza, Janeiro de 2024.

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