Turismo Literário No Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu: Conceituação e Ações Praticadas
Turismo Literário No Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu: Conceituação e Ações Praticadas
Turismo Literário No Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu: Conceituação e Ações Praticadas
Adriano T. MENEZES 1
Eloisa P. BARROSO2
Resumo: O turismo literário enquanto conceito e segmentação do turismo cultural ainda se faz
incipiente no Brasil. Entretanto, percebe-se a sua aplicabilidade na Proposta Oficial de
Reconhecimento e de implementação do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu. A região é
conhecida por ter sido descrita no livro de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas e por ser
detentora de uma grande diversidade ambiental e cultural. Assim, busca-se evidenciar a
apropriação da obra literária, suas representações e ações para o desenvolvimento turístico e
social das comunidades compreendidas pelo Mosaico.
1
Mestrando em Turismo, pelo Centro de Excelência em Turismo – CET, da Universidade de Brasília –
UnB. http://bit.ly/1RIRSv0. Email: [email protected].
2
Doutora e Professora do Programa de Mestrado em Turismo do Centro de Excelência em Turismo –
CET, da Universidade de Brasília – UnB. http://bit.ly/1XM5UD7. Email: [email protected]
Mas quem são as pessoas que hoje aderem ao turismo literário? Segundo David
Herbert (2001), elas podem ser identificadas por diferentes motivações. A primeira
delas é a motivação pessoal. Este é o primeiro fator que leva uma pessoa a visitar um
destino cultural ou neste caso proposto, um destino literário. Ainda para Herbert,
essas pessoas procuram visitar lugares que têm uma conexão com a vida dos
escritores, podendo-se exemplificar, no Brasil, a Bahia de Jorge Amado, o Ceará de
José de Alencar, o Rio de Janeiro de Machado de Assis, ou as Minas Gerais de
Guimarães Rosa. Os visitantes buscam um contato com lugares que foram palco das
vidas destes escritores e dentro deste espaço visitar as casas onde moraram, edifícios
onde trabalharam ou onde desenvolveram as suas atividades de escritores,
despertando até mesmo um sentimento de nostalgia por estarem, por algum outro
motivo, intensamente apegados à literatura, especificamente a destes escritores. Uma
segunda motivação é a visitação a lugares que serviram de cenário de grandes obras
literárias. Os livros de muitos escritores brasileiros e de tantos outros grandes
O leitor que se torna turista busca verificar com seus próprios olhos a
densidade histórica e cultural presente na obra literária. Ele é atraído pela
possibilidade da experiência de viver o mesmo espaço descrito na ficção e de exercer
suas concretizações de sentido à realidade encontrada na paisagem real (SIMÕES,
2002). Desta forma, Simões coloca que:
Se, num primeiro momento, o leitor é tomado pelo contato com o espaço
(as ruas, as praças, as fazendas, e a trama que é urdida nesse cenário),
depois, além do espaço, suscitam o seu interesse outras questões mais
políticas e de exigências culturais, de discussão identitária (...). Instigado
pelas ressignificações literárias, o leitor-turista é impulsionado a visitar o
local, conviver com a gente, perceber a cultura; poder sentir, da sua
perspectiva de leitor, aquela realidade ficcionalizada. (SIMÕES, 2002, p.180)
Nada, nada vezes, e o demo: esse, Liso do Sussuarão, é o mais longe - pra lá,
pra lá, nos êrmos. Se emenda com si mesmo. Água, não tem. Crer que
quando a gente entesta com aquilo o mundo se acaba: carece de se dar
volta, sempre. Um é que dali não avança, espia só o começo, só. Ver o luar
alumiando, mãe, e escutar como quantos gritos o vento se sabe sozinho, na
cama daqueles desertos. Não tem excrementos. Não tem pássaros. (ROSA,
Guimarães. Grande Sertão: Veredas, p.34)
3
O Liso do Sussuarão constitui essencialmente uma antítese: ao mesmo tempo que congrega paragens
pardas e mortas sob um sol escaldante, possui uma aura má tão intensa, um silêncio de tal maneira
ensurdecedor, que parece vivo. A força opressiva da morte é tamanha que anima o local, dando-lhe a
vida de algo próximo a um assassino silencioso - “a luz assassinava demais” (p.67) - , somente possível
através da mediação riobaldiana, que interage com o local a ponto de torná-lo um espaço universal
pleno de angústia, morte, sofrimento, de uma maldade em tons acinzentados e ocres, sem perder o
matiz da região inóspita (PELINSER, A.T.; ARENDT, J.C., p.154, 2010). No evento “Caminho do Sertão” o
Liso do Sussuarão tornou-se o ápice da caminhada de sete dias pelo itinerário de Riobaldo Tatarana e
uma espécie de El Dorado a ser encontrado e explorado pelo caminhante.
O início da saga de Riobaldo é marcado pela morte da mãe. Após estar sozinho,
o protagonista do enredo viaja para a casa de seu padrinho onde começaria a aprender
sobre o ofício de jagunço e sobre as intempéries do Sertão:
3 Considerações Finais
Não é intenção propor uma análise sociológica ou literária sobre a apropriação
e constituição de Grande Sertão: Veredas ou dos fatores sociais que explicariam a
interação do autor com a obra. Não é intenção diminuir a importância desta relação
para entendermos o que é legítimo da singularidade do Mosaico enquanto espaço
turístico. Cabe neste artigo expor a definição de turismo literário como uma prática do
turismo da modernidade e a sua aplicabilidade no Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu
através das ações praticadas por aqueles envolvidos nelas: os gestores, os visitantes e
os próprios visitados. Pôde-se refletir sobre as ações praticadas na região que visam o
desenvolvimento turístico como práticas sociais e de empoderamento à população
local. Assim, a literatura, em sua condição de arte e de produção social, é capaz de
produzir sobre os indivíduos através da apropriação de Grande Sertão: Veredas um
efeito prático que altera a concepção do mundo e enaltece os valores sociais. Ao
apropriar-se da obra de Guimarães Rosa para o uso turístico, o comunicante, antes
apenas o autor, agora divide a função com gestores da atividade turística do Mosaico;
o comunicado, as representações simbólicas da obra; o comunicando, o turista-leitor
Referências Bibliográficas
Baczko, B. (1985). A imaginação social. Leach, Edmund et Alii Anthropos-Homem.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda.
Herbert, D. (2001). Literary Places, tourism and the heritage experience. Annual of
Tourism Research, 28, 2, 312-333.
Hoppen, A. (2012). Literary places and tourism: a study of visitor’s motivations at the
Daphne Du Maurier festival of arts and literature. Bournemouth: Bournemouth
University.
Rosa, G. (2006). Grande Sertão: Veredas (1ª Ed.). Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira.
Yúdice, G. (2013). A conveniência da cultura: usos da cultura na era global (2ª Ed.).
Belo Horizonte: Ed. UFMG.