Panton Pia' Eremukon Do Circum Roraima
Panton Pia' Eremukon Do Circum Roraima
Panton Pia' Eremukon Do Circum Roraima
Eremukon do circum-Roraima
Devair Fiorotti
Terêncio Luiz Silva
Intérpretes: Manaaka e Yauyo
Panton Pia'
Devair Fiorotti
Terêncio Luiz Silva
Copyright © Devair Antônio Fiorotti, Terêncio Luiz Silva 2019.
Panton pia’: Eremukon do circum-Roraima © Devair Antônio Fiorotti, Terêncio Luiz Silva.
Presidência da República
MICHEL TEMER
Ministério da Justiça
TORQUATO JARDIM
Fundação Nacional do Índio
WALLACE MOREIRA BASTOS
Museu do Índio
JOSÉ CARLOS LEVINHO
Editor do Museu do Índio
CARLOS AUGUSTO DA ROCHA FREIRE
332p.
Ilust.
Contém DVD
ISBN
Museu do Índio
Rua das Palmeiras, 55, Botafogo.
Rio de Janeiro - RJ, Brasil, CEP 22270-070
(21) 3214-8702, www.museudoindio.gov.br
Aos povos macuxi e taurepang
Em especial a Terêncio Luiz Silva e Zenita Lima,
Manaaka e Yauyo.
Sumário
Carta do presidente da Funai | 9
Apresentação do diretor do Museu do Índio | 11
Prefácio | 13
Introdução | 17
Filhos de Makunaima [fotos] | 57
Eremukon | 71
Parixara | 73
Tukui | 121
Marapá | 203
Areruia | 215
Partituras | 239
Parixara | 240
Tukui | 264
Marapá | 304
Areruia | 309
Macuxi vivo [fotos] | 321
Carta do Presidente da Funai
Criado em 1953 no âmbito do Serviço de Proteção aos Índios – SPI, o Museu do
Índio integra atualmente a estrutura administrativa da Fundação Nacional do Índio
– Funai. Tendo como principal objetivo contribuir para a divulgação das culturas
indígenas, o Museu do Índio desenvolveu nos últimos anos importantes ações de
preservação e salvaguarda do patrimônio cultural desses povos brasileiros, por meio
de iniciativas que garantem a valorização desses saberes.
Nesse contexto, o Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas
– PROGDOC é uma atividade em destaque da instituição.
Resultado de um intenso volume de ações junto a diversos povos indígenas,
o PROGDOC promove oficinas e cursos para capacitação de jovens no registro e
documentação de conhecimentos originários e tradicionais, condição essencial à
salvaguarda e à preservação de línguas e culturas. A participação desses jovens acontece
também como bolsistas nos projetos realizados pelo Programa. Foram concedidas
diversas bolsas anuais para pesquisadores indígenas. A intenção é permitir a esses
jovens dedicação aos projetos, cujas ações já beneficiam quase trinta mil indígenas,
abrangendo mais de cem aldeias em todo o território nacional.
Com a implementação da política cultural da Funai na área editorial, o Museu
do Índio vem ampliando e diversificando suas produções, permitindo que os não-
indígenas conheçam mais sobre a vida, as línguas e as práticas dos povos indígenas.
Somente nos últimos cinco anos, foram distribuídos mais de 100 mil exemplares,
referentes ao lançamento de 35 títulos, sendo algumas publicações assinadas por
especialistas e outras organizadas por professores indígenas.
Assim, contribuindo com o processo de valorização de línguas e culturas, é
com satisfação que a Funai, por meio do lançamento desta publicação, participa do
movimento de fortalecimento dos saberes e práticas culturais de diferentes povos
indígenas.
9
Apresentação do diretor do Museu do Índio
O Museu do Índio, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, é uma
importante instituição de pesquisa sobre línguas e culturas indígenas, sua divulgação
e preservação. O empenho contra o preconceito aos povos indígenas e o intercâmbio
de ideias e informações sobre esses grupos têm pautado as ações do Museu do Índio ao
longo dos seus mais de 60 anos de história. Nesse percurso, a instituição se consolidou
como fonte de referência para estudos sobre várias questões - com destaque para os
destinados à demarcação de terras - e estreitou as relações com os povos indígenas,
dando visibilidade aos aspectos de sua cultura e apoio aos seus projetos para o futuro.
Em processo de expansão, o Museu do Índio, hoje, apresenta novos espaços
expositivos como o Muro do Museu, a Varanda do Museu e suas Lojas de Arte. A
instituição recebe, em média, 35 mil visitantes por ano, compartilha as suas informações
com, aproximadamente, 600 mil internautas e alcança 57.102 pessoas por meio da
itinerância de suas exposições. Recentemente, incorporou duas unidades fora do Rio
de Janeiro: o Centro Cultural Ikuiapá (MT) e o Centro de Formação Audiovisual de
Goiânia (GO).
A partir do ano de 2010, o Museu do Índio passou a sediar o Projeto de cooperação
técnica internacional para a documentação de línguas e culturas indígenas brasileiras,
cooperação firmada entre o governo brasileiro e a Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO. Ainda no âmbito do mencionado
convênio, em 2018 foi realizada a primeira fase do projeto Salvaguarda do patrimônio
linguístico e cultural de povos indígenas transfronteiriços e de recente contato na região
amazônica. O Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (ProDoclin) produziu,
até o momento, a documentação de 19 línguas, distribuídas pelo território brasileiro e
por distintos agrupamentos genéticos, com produção de acervos digitais, publicações,
textos científicos, gramáticas descritivas e pedagógicas, dicionários multimídia e
documentários. Por outro lado, o Projeto de Documentação de Culturas Indígenas
(ProDocult) resultou no registro de aspectos culturais de 25 povos, apresentados em
publicações e novos acervos.
Temos a certeza de que a iniciativa de promover e divulgar as diferentes
formas de expressão das culturas indígenas por meio da política editorial desenvolvida
pelo Museu do Índio/FUNAI contribui para a democratização em uma sociedade
pluriétnica e multicultural.
11
Prefácio
Bruna Franchetto
Apresentação do Livro
Bruna Franchetto
Coordenadora do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas -
ProDoclin
15
Introdução
Devair Antônio Fiorotti
Panton Pia’: diante da poeticidade dos eremukon do circum-
Roraima
Não conheço nenhum compêndio de literatura brasileira que traga em seu es-
copo textos oriundos da tradição indígena ou analise-os. Mesmo a historiografia e crí-
tica literária passaram longe da arte literária produzida por eles (ARARIPE JÚNIOR,
1958-1970; BOSI, 2010; CANDIDO, 1975; COUTINHO, 1968-1971; ROMERO, 1960;
VERÍSSIMO, 1969, 1977). Este trabalho se insere justamente nessa lacuna, pois bus-
ca apresentar poemas de canções indígenas do chamado circum-Roraima (COLSON,
1985), região circundante do Monte Roraima, na tríplice fronteira Brasil-Venezuela-
-República Cooperativista da Guyana, das etnias macuxi e taurepang, principalmente.
Pedro Niemayer Cesarino diz de um descompasso entre a etnologia, que aca-
ba relegando a um plano inferior a poética ameríndia, e outras áreas, Letras, por exem-
plo, que marginalizaram e estereotiparam as poéticas e estéticas indígenas, salvo rarís-
simas exceções (2011, p. 15-17). Por exemplo, em 10 anos de estudos em Letras (UnB),
nunca cheguei a ler um texto oriundo de poéticas indígenas, somente transmutados
como Macunaíma, de Mário de Andrade; O Guesa, de Sousândrade. Merecem des-
taque trabalhos que vão na contramão da historiografia e crítica literária brasileira e
mesmo da etnografia tradicional, como de Pedro Niemeyer Cesarino sobre os Marubo
(2011, 2013); de Lucy Seki, sobre os Kamaiurá (2010); de Rosangela de Tugny, sobre os
Maxakali, (2009a, 2009b e outros); principalmente a Coleção Narradores Indígenas do Rio
Negro, encabeçada pela FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro,
vários volumes).
A interlocução com o indígena Terêncio Luiz Silva, da comunidade Ubaru,
Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, RR, estava se encaminhando para ser como
muitas outras, dentro do projeto Panton Pia’: Narrativa oral indígena, registro e análi-
se nas Terras Indígenas (TI) São Marcos e Raposa Serra do Sol, RR.1 Até que, quando
questionado se saberia algumas canções, para minha surpresa, Terêncio Luiz Silva
parixara 4
2 Há variação na escrita desse nome, como veremos. Adoto aqui areruia, justamente por aceitar a
corruptela não somente no nome, mas na própria estrutura original do cristianismo proposto.
3 A escrita da língua macuxi que utilizo aqui não é fonética, mas o padrão atual mais utilizado na região
estudada por mim, inclusive utilizada em boa parte das escolas da região. Há certo conflito entre uma
tentativa oriunda dos linguistas, mais fonética, e a prática em sala de aula. De antemão esclareço que
esse não é um trabalho voltado à Linguística, mas, principalmente, aos estudos literários.
4 Primeiro apresento a frase geradora e, sem seguida, como é cantada. Por uma opção estética, não são
usadas vírgulas nem maiúsculas em praticamente todos os textos, sejam indígenas ou na tradução
dos cantos para o português.
19
pinkîimi keweyu xiri-xirimauya
pinkîimi keweyu xiri-xirimauya
Antes de prosseguir, esclareço que os textos dos cantos são tratados e reco-
nhecidos por mim como literários e poemas. Paul Zumthor (2001, 2007, 2010) chamou
atenção para textos poético-literários oriundos da oralidade. Nádia Farage (1997), ao
lidar com textos dos wapixanas, índios de afiliação linguística Arawak, sustentada em
partes em Zumthor, diferencia o uso coloquial da linguagem e seu uso retórico, esse
uso, narrativas mítico-históricas, cantos, é seu objeto central de estudo. Neil Whitehead
desenvolve seu trabalho sobre Kanaimà, adotando o termo poetic, buscando apresentar
e analisar uma poética do Canaimé e da violência, pois a construção de significados
vindos do Canaimé “must also be appreciated as a fundamental and complex cultural expres-
sion”, também porque essa expressão cultural “involve competence in the manipulation of
signs and symbols (2002, p. 2).” Bruna Franchetto, em caminho similar, dirá que
parixara 13
parixara 2
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
5 Nessa obra organizada por Sérgio Medeiros são publicados os textos oriundos de “Mitos e lendas dos
índios taulipangue e arekuná”, recolhidos por Koch-Grünberg, entre 1911 e 1913. Tais textos tinham
sido publicados anteriormente na Revista do Museu Paulista, em 1953. Não há ainda uma publicação
específica do restante da obra de Koch-Grünberg no Brasil, somente o volume já referendado em
24
meu texto, de 2006.
rios tipos, três diferentes puderam ser utilizados no dia da gravação, mas na hora do
tukui, somente tambor, sem chocalho. Não usou, mas disse que também se usa flauta,
principalmente ruwe, de taquara.
O nome pariisara pode ser relacionado ao radical pari, que significa capim atu-
almente, principalmente um capim conhecido como rabo-de-burro pelo formato de
sua floração. Tiago Simplício Napoleão, indígena macuxi da comunidade Napoleão,
na Raposa Serra do Sol, me disse que esse capim era usado também para enfeitar-se
para a dança do parixara, junto com folhas novas de inajá (Maximiliana maripa) e buriti
(Mauritia flexuosa) em geral desfiadas. Mesmo as folhas dessas plantas, após desfiadas,
parecem com capim seco.
Assim Koch-Grünberg descreve a chegada de um parixara de 1911, na comu-
nidade Koimélemong, entre as TIs São Marcos e Raposa Serra do Sol, região do Suru-
mu, em Roraima:
6 Paiwa é uma referência oriunda principalmente dos Patamona, mas também conhecida pelos Macuxis. 25
Em macuxi é prakkari.
Há referência nos próprios parixaras registrados quanto aos trajes utilizados.
Um diz:
parixara V
Uipîi, o venho, o eu tão presente nesse poema merece um pouco mais de apro-
ximação. Se, por um lado, ele diz de quem compôs o texto, impossível de ser definido
aqui, já que hoje é um texto pertencente à memória coletiva7 do povo macuxi, por
outro lado, se relaciona e é acoplado aos cantores que revificaram o canto. Passado e
presente, o(s) índio(s) compositor (es), ou mesmo no feminino, se unem nesse eu.
Barthes dirá que “o sujeito da enunciação nunca pode ser o mesmo que agiu
ontem” (BARTHES, 2004, p. 20). O sujeito da enunciação se atualizaria num presente
e sempre num presente com a leitura (no caso aqui do estabelecimento dos poemas
originados dos cantos), com o canto de música (adequando à realidade de Manaaka
e Yauyo). Com isso, se ele só existe nesta atualização da leitura, do canto, só existe no
ato de ler, na presentificação da leitura; ou no ato de cantar. Barthes conclui, afirmando
que “o eu do discurso já não pode ser o lugar onde se restitui inocentemente uma pessoa
previamente guardada” (p. 20).
O advérbio “inocentemente”, nesse contexto, traz um pressuposto esclarece-
dor ao texto bartheseano: a questão não é que não se possa restituir, por exemplo, um
“eu” ao referente-nome, isso pode ser feito, só que não inocentemente. Principalmente,
não se pode fazer isso inocentemente porque o “eu” presente numa leitura, a priori,
é preenchido pelo antes “tu” e agora “eu” leitor na e da leitura. Também, outro pro-
blema é que, mesmo restituindo o “eu” ao nome próprio presente na capa deste livro
(Manaaka e Yauyo), esse nome já é uma criação da existência de uma obra de arte,
o presente livro de poemas, inserido em um arcabouço cultural diferente dos povos
macuxi e taurepang, dois quais fazem parte. Muitas vezes, é um “eu” a dialogar com
o indivíduo, a dialogar com o nome na capa, instalando um tipo diferenciado de inter-
textualidade, uma intertextualidade biográfica, entre a obra e seu autor.
Paul Valéry chama atenção a respeito do distanciamento do autor em relação
a sua obra. Diz ele que “nada é mais difícil de entrar no espírito das pessoas, e mes-
mo no da crítica, do que essa incompetência do autor a respeito de sua obra, uma vez
produzida” (1999, p. 159). A situação se complica ainda mais, pois é impossível de ser
restituída a autoria, como habitualmente se faz, nos poemas originados dos cantos,
principalmente porque eles originam-se de autores diversos desconhecidos e perten-
parixara 6
Esse canto aborda justamente a vestimenta de palha, nesse caso inajá, usada
principalmente nas comemorações e danças de parixara, como destacou Terêncio Luiz
Silva, quando do processo de tradução dos cantos. Os indígenas macuxi e taurepang
em tempos atrás, cotidianamente, eram retratados usando moosa, conhecido como
rabo, uma tira de pano entre as pernas presa por um cordão na cintura, ou nus. No
dia a dia, não se usava saias e adornos dessas palmeiras. O canto está localizado no
contexto da festa e da dança do parixara e, de dentro desse contexto, o índio canta
a relação de seu traje com sua vida. No poema, há uma afirmação da vida indígena
relacionada à vestimenta confeccionada a partir do inajá. Há uma ênfase: nekokomamîi
é repetido três vezes na frase geradora e 12 no canto, “estou vivendo”, bem como o
modal mîirirî é repetido duas vezes na frase geradora e 12 vezes no canto, assim, deste
modo, estou vivendo com minha roupa de inajá. Amanheceu, a festa acabou, e ele
28 continua com os trajes de inajá.
Armellada e Salazar (2007, p. 148) apresentam o parixara como uma espécie
de dança em que se usam “halos” (adornos para cabeça), tangas de buriti, plumária,
instrumento de sopro (bototo) de embaúba. Há quem relacione o parixara ainda ao
mito do Urubu Rey, da Visita ao céu, história que se mistura também à do lago Piri-
piri.8 O parixara é hoje o ritmo indígena mais difundido em Roraima, principalmente
por causa do movimento cultural Roraimeira, surgido na década de 80 em Roraima
(OLIVEIRA; WANKLER; e SOUZA, 2009), em que se divulgou a dança, bem como
esse movimento cita o nome parixara em várias músicas. Já presenciei Eliakin Rufino,
um dos fundadores do Roraimeira, por exemplo, fazendo passos de parixara em
apresentações poético-musicais.
O termo história é usado neste trabalho como apresentado por Gordon
Brotherston (2015) bem como aludido por Lévi-Strauss (1990). Dada à dificuldade de
separar mito de lenda bem como a problemática do conceito mito quando aplicado às
culturas ameríndias, uso somente o termo história quando me refiro a mito e mesmo
lenda, como tido por alguns. Acrescento a isso o que me disse o ancião Severino
Barbosa, da comunidade São Jorge, quando pedi que ele contasse os mitos e lendas de
sua comunidade. Ele me disse: “isso é panton, para nós indígenas.” Panton em geral é
traduzido por história. Esse aspecto será retomado adiante.
O parixara também é cantado em outras ocasiões, quando da vinda de uma
caçada: o caçador vem cantando, e o tema é, em geral, o próprio objeto da caçada,
como vimos. Ainda, pode ser cantado nas madrugadas, quando se acorda e se espera o
dia amanhecer, enquanto os homens tomavam paiwa, bebida alcoólica principalmente
de kîse’, de mandioca. Im Thurn diz da existência de festas entre tribos, de festivais que
poderiam ser chamados de pawari feasts e que essa bebida seria the national beverage (1883,
p. 329). O parixara e mesmo o tukui estão relacionados a essas festas e principalmente
ao consumo de bebidas fermentadas, especialmente de mandioca, atualmente conhe-
cida entre os indígenas da região estudada como pajuaru e mesmo caxiri forte (já que
há o caxiri sem fermentar). Essas festas poderiam comemorar um casamento, um
funeral, uma nova casa ou o estabelecimento em um novo lugar, principalmente, diz
im Thurn, podem ser relacionadas a nada aparentemente especial (p. 329). A relação do
indígena dessa região com o consumo de paiwa, uma relação de frequência e excessos,
se aproxima bastante da descrita por Viveiros de Castro entre os tupinambá, em “O
8 Há informação a esse respeito no blog do indígena Elder Silva (2013). Relatos sobre o Piri-piri,
encontrei em narrativas do indígena Caetano Raposo, da comunidade Raposa, na TI Raposa Serra
do Sol. A esse respeito também pode-se consultar o volume II de Koch-Grünberg. Há uma tradução
do alemão para o português disponível em Sérgio Medeiros (2002) história 27, “A visita ao céu”.
29
mármore e a murta” (2011). Diz im Thurn sobre uma festa no circum-Roraima em
meados do sec. XIX: o paiwa era feito em canoas e servido abundantemente, “the actual
quantity of liquour consumed by each individual is tremendous” diz ele, isso numa festa que
durava por dias (1883, p. 323-325). A dança está intimamente ligada a esses momentos
de festas e consumo de paiwa.
Nos dias atuais, o parixara é usado principalmente em ocasiões comemorativas
ou mesmo festejos como representação do que era o parixara, sua história. Hoje se
fala em grupos de parixara, assim como grupos de danças, no sentido em que nós
usamos. Nas comunidades visitadas, em quase totalidade, o parixara não mais faz
parte de um uso coletivo como era no passado. Ainda, o parixara tornou-se sinônimo
de dança indígena, incluindo, às vezes, até outras músicas tradicionais, como tukui,
por exemplo, que são dançadas como sendo parixaras.
Na contemporaneidade dos interlocutores, o pariisara, proposital a escrita aqui
em macuxi, e mesmo outras manifestações são aparições (se me permitem usar essa
palavra) solitárias. Os ainda sabedores dos cantos, ao acordarem cedo, ainda cantam
suas histórias (como as encantadoras Dona Regina Tobias, da comunidade do Mel, e
sua parente Martina Tobias, da comunidade Kurapá), cantam sob reclamações dos
mais jovens que foram dormir tarde por vários motivos, como a televisão e a nova
realidade dos indígenas. (Tenho consciência do comprometimento e envolvimento
pessoal dos implícitos no final desse parágrafo.)
Já o tukui ou tukuxi (como presente em algumas músicas, um uso mais antigo
da palavra), significa beija-flor, e são cantos em geral relacionados à sabedoria dos
pajés, para se fazer intervenções na natureza, como chamar chuva, acalmar trovões,
e vale acrescentar que também eram dançados coletivamente. Armellada e Salazar
dizem que se formam duas rodas concêntricas, em que o tukui era dançado por fora
enquanto o parichara por dentro, além de se usar tambor e pitos de taquara (2007, p.
148 e 203).
O tukui está relacionado à flora, à floração, e pertencia principalmente aos
guerreiros e pajés sua dança. Esses cantos predominam aqui: são 40 de um total de 79.
Seus dançarinos usavam, além de saias de fibras, como buriti, beija-flores dessecados
como ornamentos, mesmo outros pássaros. Eles eram usados como ornamento
para cabeça ou enfeitavam um pequeno pau, sendo amarrados em sua ponta. Eram
retirados os órgãos internos e deixados para secar, com cinza na parte interna. Diante
da presença das religiões fundamentalistas, foi o ritmo mais atacado, pois relaciona-se
ao pajé e seus conhecimentos. Vários informantes se negaram a falar dele, propondo-
30
se somente a falar do areruia e mesmo do parixara.
Koch-Grünberg diz que o tukui é a dança de todos os pássaros, principalmente
beija-flor, e de todos os peixes. Narra que as pessoas
tukui 4
wa ke ta
ke wa ee rau
ta reee
wa ke ta
ke wa ee
rau
ta reee
tawaake tawaake taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
taaa
wa ke ta
ke wa ee
rau
ta reee
tawaake tawaake taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
taaa
[tawaake tawaake
estou dizendo que marreca banha paturi banha
com tabatinga no lago
tawaake tawaake]
tuna tariiru
tawaake tuna tariitanîpîuya [tukui 18]11
[tuna
a cor d’água
com tabatinga eu pinto
eu pinto a água
tawake]
watarai menukai
wîrixi’ya uyera’mato’pe tawake tawake
watarai menukai
tawa tawa umota menu uipî tanne
wîrixi’ya uyera’mato’pe
watarai menukai [tukui 38]
[vou pintar meu corpo[...]/com tabatinga/ pra cunhatã me ver/ com tawa
/eu venho pintado/ o ombro/ com tabatinga com tabatinga no ombro/ eu
venho pintado]
Aí depois chegou um tal de areruia, mas areruia já foi um nome dado, imposto
pelo estrangeiro. Areruia já veio da palavra do inglês, da parte daí da Guiana,
porque areruia não existe, porque o que a gente conhece é tukui, parixara,
ware’pan, manau’ã.12
Os registros
13 Sapará: nome de uma antiga etnia de Roraima, sem falantes na atualidade, apenas alguns descendentes
esparsos.
35
foi outra surpresa: o pai era taurepang e a mãe macuxi, dos quais ele herdou as duas
línguas. Mas, como ele mesmo disse, com prioridade para a materna. Esse aspecto de
identificação na região com a origem materna é ressaltado por Koch-Grünberg (2006).
De posse das duas línguas, mais o português e um pouco de espanhol, Terêncio Luiz
Silva se tornou referência na cultura indígena da região.
Ele possui registros feitos em K7 da década de 70. De posse de um gravador,
registrou pajelanças, cantos, falas do surgimento da principal associação indígena de
Roraima, o Conselho Indigenista de Roraima (CIR). Principalmente, tornou-se alguém
interessado pela valorização de sua cultura. Por exemplo, na entrevista, quando per-
guntado a respeito da coisa mais triste que ele viu em sua vida, diz:
Não, a triste mesmo da vida, como dizia, é que eu não queria que acabasse essa
vida de indígena. Vamos dizer assim, a tradição indígena, a vida indígena.
Que o índio, que hoje a gente tá percebendo, basta chegar em uma cidade,
como aqui, Pacaraima, ou Boa Vista, que muitos dos nossos jovens, estão se
perdendo, estão se perdendo, deixando, se envergonhando do que são. Isso aí
deixa a gente muito triste.
Fica claro na fala a relação densa com a história de seu povo. Ainda, contri-
buindo para tornar o que ele hoje é, soma-se o fato de ter vivido no colégio interno na
região do Surumu, na hoje Raposa Serra do Sol, local em que foi levado aos 11 anos
para aprender o português na chamada missão, lá criada em 1909 pelos beneditinos
(KOCH-GRÜNBERG, 2006, p. 133-4). Também, contribui o fato de ter sido uma impor-
tante liderança indígena, principalmente de 78 a 82, quando foi membro fundador e
diretor do Conselho Indigenista de Roraima (CIR).
Segundo Terêncio Luiz Silva, quatro teriam sido as fontes das músicas que
ele canta: Bento Luiz, seu pai; Alfredo Giron, da comunidade indígena Manakrü, em
Santa Elena de Uairén, na Venezuela; avô Luiz, da comunidade indígena Lago Verde,
no município do Uiramutã; e avô Simplício, da comunidade indígena Santa Isabel,
município de Pacaraima, ambos os municípios de Roraima, Brasil. Desde os 18 anos
de idade, quando saiu da região do Surumu, Terêncio Luiz Silva vive em região bem
isolada. Indo para as serras, primeiro morou em Kumaná, na região da TI Raposa Serra
do Sol, e depois mudou para Ubaru, perto de Kumaná, ambas as comunidades a ca-
minho do Parque do Monte Roraima. Sem estrada que possa passar carro, cada ida ou
vinda em geral leva em média dois dias de viagem a pé.
Ainda ao aprender os cantos, Terêncio Luiz Silva preocupou-se em entender
o que neles estava sendo dito, principalmente porque pouco entendia o que tinha ali:
a linguagem presente nos cantos, além de poética, possuía vocabulário antigo e com
36
muitas palavras em desuso, mesclando as línguas macuxi e taurepang, muitas vezes.
Literalmente Terêncio Luiz Silva vive numa situação de fronteira: seja fisica-
mente, na fronteira Brasil-Venezuela, Ubaru fica próximo do marco fronteiriço; seja na
fronteira de povos a priori distintos: os macuxis e os taurepangues, línguas de origem
caribe. A região habitada por ele há 48 anos, quando da entrevista, pertence ao cir-
cum-Roraima. Colson ajudado por Armellada (COLSON, 1985, 1996, 2009) e Santilli,
parece-me baseado nela (Santilli, 2001), distinguem essas comunidades em Kapón e
Pemón. Os primeiros seriam os Ingaricó, Patamona, e os segundos, os Kamarakoto,
Arekuna, Taurepang, Macuxi. Sérgio Meira apresenta uma classificação com diferen-
ças, com um grupo maior chamado de pemonguiano, tendo dentro dele os Kapon,
macuxi e os Pemon, onde estaria o taurepang (2006). Dessas etnias, Terêncio Luiz Silva
teve mais contato, nessa ordem, com os Macuxi, Taurepang, Wapixana, e os cantos se
originam dos dois primeiros. Deve-se considerar, ainda, a possibilidade de esses can-
tos serem utilizados também por outras etnias, já que o contato entre esses povos foi e
é contínuo.
A transcrição foi um problema à parte e, apesar de possuir cantos taurepangues
e em língua taurepang, foi adotado o sistema usual entre os macuxis, principalmente
porque os transcritores, Terêncio Luiz Silva e Tiago Simplício Napoleão, dominavam
esse padrão de escrita. Digo problema pois, na Venezuela, já há padronização mínima
da língua taurepang, coisa que entre os macuxis ainda não se consolidou efetivamente.
O texto dos cantos foi trazido por Terêncio Luiz Silva somente com a frase ge-
radora e a contribuição da tradução se deu nessa frase e fase. A versão atual dos cantos,
com todas as repetições paralelísticas, foi estabelecida por mim a partir da audição dos
cantos. Principalmente estabeleci outros objetivos além da mera inclusão da letra: dar
movimento (mesmo que mínimo, se comparado à dança com a música); criar imagens
que, entre outras coisas, pudessem dialogar com os poemas em português; certo rit-
mo aos versos e estrofes. Buscando isso, alguns versos foram colocados minimamente
inclusive em formato espacial do áudio, seguindo sua partitura, como no parixara 16:
ri
uya sa nmî uye’nyaripe
pî’
ri
uya sa nmî uye’nyaripe
pî’
14 Por exemplo, os iliangues são extremamente estigmatizados, por causa da fama de serem comedores
de gente e de serem Canaimé, personificação do mal. Conheço alguns iliangues que se negam a se
38
identificar como tal e se identificam como macuxi genericamente.
tados, foi feita, primeiro, uma tradução literal dos cantos, todos os versos e estrofes,
que foi quase toda descartada, para dar lugar ao que é aqui apresentado, principal-
mente uma tentativa de estabelecer imagens poéticas condensadas em poucas pala-
vras, como muitas vezes encontramos nas frases geradoras dos cantos. Buscava uma
linguagem como se tivesse diante de haicais, traduzindo e construindo imagens: pois
essa construção imagética foi a que sempre se destacou mais, a meu ver, desde o pri-
meiro contato com os cantos.
Quanto à linguagem, o vocabulário apresentou-se muito distinto do uso con-
temporâneo. Tenho encontrado neles referências que não mais são do uso atual: no vo-
cabulário, no significado de palavras. Terêncio Luiz Silva me lembrou isso várias ve-
zes. Dizia ele: “professor, ninguém fala mais assim, essa é uma linguagem dos antigos,
não se sabe quantos anos”. Falou-me que muitas palavras ele mesmo não as entendia
e teve de buscar, à época, com os cantores seus significados, todos hoje já falecidos.
Os sapinhos da floresta são nomeados distintamente, palavras como tukuxi,
beija-flor, agora são usadas como tukui tanto em macuxi quanto em taurepang. Assim
como essa, outras palavras e referências, como a aspectos dos rituais da época, não
pertencem mais à contemporaneidade da maioria dos falantes das TIs Raposa Serra
do Sol e São Marcos. Primeiro, pois grande parte dos indígenas dessa região não sabe
mais a língua materna e, ainda, porque o contato com a sociedade de consumo bem
como a presença de religiões fundamentalistas nas comunidades têm modificado pro-
fundamente a relação com a tradição nos indígenas (FIOROTTI, 2012, 2013).
Trabalhei com três dicionários: Diccionario pemón, de Cesáreo de Armellada
e Mariano Gutierrez Salazar (2007); Dicionário da língua macuxi, de Celino Alexandre
Raposo (2008); e Língua macuxi-macusi maimu: guia para a aprendizagem e dicionário
macuxi, de Emanuelle Amodio e Vicente Pira (1996). Contudo, com exceção em partes
do primeiro, a incursão nesses dicionários era na quase totalidade infrutífera, pois
as palavras não estavam dicionarizadas. Logo, Terêncio Luiz Silva foi efetivamente a
fonte para a tradução.
Terêncio Luiz Silva e Zenita de Lima se mostraram muito mais intérpretes,
no sentido usual da palavra, do que falantes nativos que adquiriram naturalmente os
cantos por meio de seus rituais. Por meio de um processo de audição e gravação, Te-
rêncio Luiz Silva teve acesso à maioria dos cantos. Além de ter esse acesso, quando da
tradução em conjunto, presenciei inclusão de palavras, pois assim, segundo ele, ficava
melhor. Logo, há uma presença individual e não somente de reprodução, e uma me-
mória coletiva. O texto dos cantos é uma presença contemporânea das possibilidades literárias
39
indígenas. Ainda, vale mencionar que ele analisou vários usos “estranhos” nas pala-
vras, como repetições e inclusões de sufixos como aspectos necessários à musicalidade
da letra, ao ritmo da música.
Presenciei uma acusação em relação ao que Terêncio Luiz Silva fez e faz até
hoje, como se ele tivesse “tomado” cantos que não seriam dele, de sua comunida-
de, que seriam cantos de outras comunidades. Sem se prolongar muito, esses cantos
pertencem a uma memória coletiva dos taurepangues e dos macuxis (e talvez até de
outras etnias do chamado circum-Roraima), etnias e memória coletiva de que Terên-
cio Luiz Silva faz parte. Por outro lado, ele vive num entre lugar étnico: macuxi e
taurepang, e não macuxi ou taurepang, prova disso que ele adquiriu as duas línguas
e passeia literalmente pelas culturas desses povos. No mais, o seu caso não é exceção,
os casamentos entre etnias são muito comuns em toda região do São Marcos e Raposa
Serra do Sol, conforme se pode comprovar nos 39 entrevistados até o momento, e len-
do Koch-Grünberg.
Esses são as frases geradoras e as traduções das três primeiras músicas cantadas
por Terêncio Luiz Silva. São parixaras. A primeira característica dos cantos registrados
que elenco é a brevidade da frase geradora e a forma condensada como essa frase gera
imagens poéticas. Como é possível recuperar na letra do canto completa desses três
primeiros parixaras, apesar de a frase geradora ser curta, dois versos nesses exemplos,
ela se desdobra em novas estrofes. Ainda, as gravações têm em média um minuto
40
cada canção mas, durante as danças na comunidade, esse tempo pode ser bem maior,
levando a novas repetições e mesmo improvisações da letra.
Algo que chama atenção é a forma como esses poemas captam a realidade
indígena: água no igarapé, instrumento kamaini, uma mãe na rede, passarinho sobre
a maloca são poetizados. Sucintamente, ela é capturada numa atmosfera densa e fe-
chada. O significado está ali, preso, sendo que há uma relação direta do homem com
a natureza, neles, sem separação. Os poemas, como veremos, não contam exatamente
aspectos históricos, mas estão inseridos nesses aspectos, muitas vezes significando e
mesmo resignificando uma longa narrativa, condensado-a numa frase. Principalmen-
te, por exemplo,
imantî pî pona’
maroko watarikuma [parixara 21]
[lá na subida da cachoeira
os peixes se enfeitam]
ou
Que Macunaima era, antes do dilúvio, uma pessoa igual a nós mesmos
aqui. Era raça, era raça. Só que ele era muito corajoso. Ele era pajé. Ele, de
primeiro, ele não batia assim como nós batemos. Eles não matavam como nós
matamos. Os animais todos eram amigos com ele. Tudinho, eram amigos.
Eles cruzavam, como eu tava falando, depois que gerou ele, começou a gerar
homens e eles cruzavam com animais.
Descola também alerta a respeito dessa forma distinta em que muitos indígenas
organizam sua estrutura sócio-histórica. Forma que se distancia da tradicional
dicotomia cultura e natureza. Ele relacionou essa forma ao conceito de animismo,
além de ter apresentado ainda o conceito de totemismo (1996, p. 88-102). Viveiros de
Castro apresenta a proposta de Descola, descartando o totemismo para se pensar as
sociedades tradicionais ameríndias, pois ele estaria relacionado às diferenças entre as
espécies naturais, “utilizadas para organizar logicamente a ordem interna à sociedade,
isto é, onde a relação entre natureza e cultura é de tipo metafórico e marcada pela
descontinuidade (intra e interséries) (1996, p. 120).”
A relação anímica seria simétrica, diferenciando da totêmica, havendo uma
organização entre os humanos e as espécies naturais, estabelecendo um vínculo ori-
ginário entre eles. Viveiros de Castro dirá que “Em suma, os animais são gente, ou se
veem como pessoas”, e acrescenta que os mitos seriam “povoados de seres cuja forma,
nome e comportamento misturam inextricavelmente atributos humanos e animais, em
um contexto comum de intercomunicabilidade idêntico ao que define o mundo intra-
-humano atual” (1996, p. 117-8).
É nesse ambiente sócio-histórico que os cantos se inserem. Lévi-Strauss da dé-
cada de 80 também entende isso. Quando perguntado por Didier Eribon sobre o que é
um mito, ele responde:
piri-piri ku’pîyaka
uwairi kamaini marirumîi’ warekeruwa
warekeru warekeru warekeruwa [parixara 7]
[no lago piri-piri
mergulhei meu instrumento kamaini16
ge gent gente minha gente]
15 Não direi o nome da liderança, pois não tenho autorização oficial para isso, de todas as outras
narrativas, cantos, referências aqui há autorização da comunidade envolvida.
16 Instrumento feito de embaúba, em geral longo. 43
venho pra casa
como passarinho e como marreca]
17 Mamurakai diz que ele toma banho e por causa disso a água vai ficando barrenta.
18 Essa informação tem de ser moderada, pois como eu também não sabia da história do Piri-piri,
também não perguntei. Contudo, sempre fazia perguntas genéricas, como “o senhor (a) tem alguma
44
história ainda para contar dos antigos?”
DF: Onde fica o lago Piri-piri? Em que lugar?
CR: Ele fica pra cá do Céu.
DF: Pra cá do Céu.
CR: Pra cá do Céu aqui, aí em cima do Céu.
19 Para um maior aprofundamento sobre haicai, ver a própria obra de GIROUX; principalmente
YASUDA, Kenneth. Japanese Haiku: Its Essential Nature and History. Boston; Tokyo: Periplus Editions,
2011.
45
Olha o velho lago –
Após o salto da rã
O barulho da água.20
no lago do piri-piri
o pato bate as asas n’água
Ocorre nesse poema algo muito parecido com os haicais tradicionais japone-
ses, apesar da forma entre eles não ser a mesma: o instante, a temática de coisas da
natureza, hodiernas, sem arroubos: um pato que bate asas n’água. Não sabemos se ao
levantar voo ou se numa espécie de brincadeira, mas é possível ouvir o barulho, os
sons desse bater n’água. Principalmente, nos dois poemas, o haicai e o indígena, algo
se sobressai: a construção de uma imagem poética. Nitidamente captamos o instante,
por meio da construção textual, a imagem se realiza em nossas mentes.
Yasuda, em Japanese haiku: its esential nature and history, dedica uma parte da
obra para mostrar a relação do haicai com as pinturas tradicionais japonesas, ao mes-
mo tempo diz de certa dificuldade que os ocidentais teríamos de perceber a dimensão
dessas imagens poéticas, principalmente as monocromáticas da Dinastia T’ang. A ima-
gem no haicai falaria por si, ele não nos daria o significado, mas os objetos concretos
possuiriam significado. A imagem surgiria desse condensamento e da capacidade do
poeta em captar esse instante, por isso Yasuda (2011) investe um capítulo comparan-
do-o à pintura. Pintura é construção de imagem.
Num texto clássico da Teoria Literária, a “Arte Como Procedimento”, Chklo-
vski o inicia assim:
“A arte é pensar por imagens”. Esta frase pode ser tanto de um bacharel,
como de um sábio filólogo que a propõe como ponto inicial de uma teoria
literária qualquer. Esta idéia está enraizada na consciência de muita gente;
entre o número de seus criadores, é preciso necessariamente apontar Potebnia:
“Não existe arte e particularmente poesia sem imagem”, diz ele (Notas sobre
a Teoria da Literatura, p. 83). “A poesia assim como a prosa é antes de tudo,
e sobretudo, uma certa maneira de pensar e conhecer”, diz ele adiante (ibid.,
p. 97). A poesia é uma maneira particular de pensar, a saber um pensamento
por imagens. (1973, 39)
com.br/ Ele apresenta uma cronologia dos principais escritores de haicai japoneses bem como os
46
autores e seus principais poemas.
O foco central do texto de Chklovski é a linguagem desautomatizada que a
literatura proporia, na criação de uma imagética particular. Não ignoro as críticas a
essa tentativa de conceituação, Terry Eagleton (1997), por exemplo, é bastante duro em
relação a ela, mostrando como no discurso cotidiano também estamos rodeados por
metáforas, por imagens distintas, e nem assim estaríamos diante de literatura. Mas, ao
mesmo tempo, há uma construção sintética da imagem nos haicais e nos cantos indí-
genas, que parece propiciar uma fruição rápida e forte da imagem. E a palavra fruição
está aqui propositadamente: nos cantos indígenas e nos haicais, apesar da forma, há
objetivos distintos quanto ao uso da palavra e a construção imagética parece ser o pon-
to central desses poemas.
Octavio Paz, em El arco y la lira (1990), dedica um capítulo à parte sobre a ima-
gem. Coincidentemente, ele parte da realidade oriental para chegar a afirmações do
tipo: a imagem do poeta tem sentido em diversos níveis. O primeiro seria a expressão
de uma visão ou experiência de mundo por parte do poeta; a segunda, as imagens se-
riam objetivas, pois seriam obras, criações por parte do poeta, valendo somente dentro
de seu universo; depois, as imagens diriam algo sobre o mundo e sobre nós mesmos,
revelando o que seríamos. Para ele, a imagem se explica a si mesma, sendo sentido e
imagem a mesma coisa: o sentido último da imagem poética seria ela mesma. Ao final,
destaca que a experiência poética se expressa e se comunica na imagem. A poesia seria
entrar no ser, e a imagem um dos meios para isso.
Mesmo depois de conhecer as críticas de Eagleton às tentativas de definição
de literatura, posições como de Octavio Paz me parecem plausíveis ou pelo menos
iluminadores do efeito surgido a partir dos poemas presentes nos cantos e dos haicais:
a base do que vivenciamos neles enquanto efeito sustenta-se na elaboração imagética
condensada. É por meio dessa elaboração que vivenciamos a experiência poética.
N’outro haicai, Bashô dirá:
em cima da casa
canta o passarinho
passarinho meu passarinho
passarinho corrupião
47
Nesses dois casos, o que efetivamente se destaca: uma construção imagética
que nos faz vivenciar essa construção, enquanto efeito poético. A aproximação que
faço aqui entre os poemas vindos dos cantos com o haicai possui ainda outro ponto
a ser destacado. Lévi-Strauss dirá ao tratar da relação entre o Japão e outras culturas:
Os textos indígenas elencados e analisados aqui podem ter relações mais pro-
fundas com o Japão do que consigo comprovar em minha análise.
Koch-Grünberg diz “Todos os cantos para dança são mitos em forma poética,
transmitidos de pai para filho” (1996, 104). Na fala do etnógrafo alemão se destacam
três coisas: a primeira diz da origem dos cantos, sua relação com os mitos; a segunda,
que a construção desses mitos, por estarem em cantos, suas letras, estaria sendo orga-
nizada de forma poética; e a terceira da forma como esses cantos se perpetuam. Quan-
to ao segundo, todo esse texto é uma defesa da poeticidade dos cantos e, ao terceiro, já
foi desenvolvido quando falado sobre a origem dessas músicas, cantadas por Terêncio
Luiz Silva.
Confesso que o pronome “todos” me causa suspeitas. Efetivamente acho pra-
ticamente impossível provar isso. Há cantos que parecem não estar ligados a um mito
propriamente dito, como
epakakîkin wîrisi
uwai itun etaapa [parixara 15]
[acorda cunhatã
para ouvir o som do meu instrumento]
48
Parece-me, salvo melhor juízo, que esse canto pode estar relacionado a uma
convocação para o canto, para a dança, para que a irmã venha dançar também, sem
necessariamente se relacionar a um mito (ou a uma história como vem sendo desig-
nado aqui). Todavia, em muitos cantos, a relação com as histórias é evidente, como já
foi mostrada com o lago Piri-piri. O próprio Koch-Grünberg ajuda a estabelecer essa
evidência pelo menos em dois momentos. Como já mostrado,
lá na subida da cachoeira
os peixes se enfeitam
As partituras
21 Solicitei ao músico que relatasse o processo de trabalho. Essa parte de meu texto é feito a partir
do texto produzido por Emílio Gomes Martins. As citações entre aspas pertencem a esse relatório.
50
Dados do projeto Panton Pia’.
vocal a duas vozes, com o acréscimo de uma pauta musical para os instrumentos per-
cussivos como o chocalho e o tambor. Sendo que, na primeira pauta, na clave de sol,
está representada a voz feminina “Voz F”, na segunda pauta, porém na clave de fá, está
representada a voz masculina “Voz M”. Já na terceira pauta, estão os instrumentos
percussivos mencionados. As vozes formam um dueto em uníssono, sendo que a voz
feminina, em grande parte dos cantos, inicia-se após a voz masculina. Destacam-se
também os instrumentos percussivos que, em suas finalizações, permanecem tocando
após o termino da melodia devido às comemorações que os cantores fazem ao final de
cada canto. Isso acontece em quase todos os cantos.
Quanto a esses sons feitos pelos cantores, certos gritos masculinos e um som
bem específico feito por Zenita Lima, movimentando a língua na boca, eles não apare-
cem na partitura nem no poema estabelecido pelos cantos. Eles indicam fim da música
bem como um clima festivo alegre e se repetem em vários cantos.
Diz o músico Martins que as tonalidades e andamentos variam muito de canto
para canto, sejam parixaras, tukuis, marapás ou areruias. Os parixaras e marapás são
mais acelerados, em seus múltiplos compassos, variando em 2/4 “binário simples”,
3/4 “ternário simples” e em alguns casos 6/8 “binário composto” e 12/8 “quaterná-
rio composto”. Já os tukuis e areruias são preponderantemente mais lentos nos com-
passos 2/4 “binário simples” 3/4 “ternário simples”, 4/4 “quaternário simples”, 6/8
“binário composto” e 5/4 “quinário”, que chamamos de compasso alternado, sendo
gerado pela fusão dos compassos 2/4 e 3/4 ou o contrário: 3/4 e 2/4. Com destaque
aos cantos tukuis 12 e 16, e areruia 7 que têm seus compassos modificados de 2/4 para
3/4, para melhor ajuste da linha melódica e rítmica dos cantos.
*
Esse trabalho apresenta caráter bem provisório: primeiro por causa do pro-
cesso de tradução, segundo porque lidar com aspectos culturais como dos indígenas
do circum-Roraima traz insegurança por si só. Não estamos falando de uma etnia, ou
de cantos oriundos de uma etnia. Há na região uma confluência de línguas e tradições
cujos cantos são originários, no caso aqui em questão, principalmente taurepang e
macuxi.
Terêncio Luiz Silva, enquanto interprete de sua complexa tradição, é uma pes-
soa rara, pelo conhecimento que adquiriu naturalmente ou buscou adquirir, mas prin-
cipalmente pela sabedoria que surgiu dessa relação. Nas gravações estamos diante de
instrumentistas e cantores que trazem, a meu ver, forte musicalidade, seja por repre-
sentar a tradição ou mesmo pela qualidade individual desses indígenas, como será 51
possível comprovar ouvindo as músicas.
Principalmente esses 79 cantos, a priori anônimos, pertencentes à memória
dos povos indígenas do circum-Roraima, têm muito a nos ensinar sobre a relação des-
ses indígenas com a composição de seus cantos: imagens fortes e sucintas, relaciona-
das a uma intricada forma animista de se relacionar com a natureza. Destacadamente,
esses poemas oriundos das músicas pertencem a uma tradição literária distinta da
que costumamos conhecer, tradição que se funda na oralidade e na memória coletiva
de um povo, bem como no processo criativo do interprete. Ignorar tal tradição é um
empobrecimento dos estudos literários e musicais seja regional, nacional ou mesmo
universal, como pode ser comprovado com a comparação com o haicai.
Não busco aqui algo que seja intocável, “puro”, bucólico, de um bom selva-
gem, isolado. Esse índio, pelo menos nas comunidades em que trabalhei, não existe.
De forma complexa, esses índios são nossos contemporâneos. Esses cantos são também
fruto do contato existente desde a chegada europeia na América, principalmente pela
forma como os cantos chegaram até mim. A forma como Terêncio Luiz Silva gravou
parte deles em K7, é também fruto desse contato. A presença da letra dos cantos no
papel, a possibilidade de uma tradução livre como fiz, esse artefato cultural ocidental:
livro, gravação em áudio, é fruto desse contato. Busco, sim, apresentar e, em estudos
futuros mais específicos, buscar realocar artefatos culturais, como estas letras dos can-
tos, como literatura contemporânea ameríndia, brasileira.
52
Referências
ABREU, Stela Azevedo de. Aleluia: o banco da luz. São Paulo: IFCH-UNICAMP, 1995.
[Dissertação de mestrado]
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
AMODIO, Emanuele; PIRA, Vicente. Língua makuxi: makusi maimu: guia de
aprendizagem e dicionário da língua makuxi. Boa Vista: Diocese de Roraima, 1996.
ARARIPE JÚNIOR. Obra crítica. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1958-1970, 5 v.
ARISTÓTELES. Poética. Trad. Eudoro de Sousa. Lisboa: Guimarães e Cia. Editores, [s.
d].
ARMELLADA, Cesareo de. Cuentos y no cuentos: pantón, pantón neke-ré. Caracas:
Universidad Católica Andrés Blanco, 1988.
ARMELLADA, Cesareo de; SALAZAR, Mariano Gutierrez. Diccionario pemón: pemón-
castellano/ castellano-pemón. Caracas: Universidad Católica Andrés Bello e Hermanos
Capuchinos, 2007.
BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 45ª ed. São Paulo: Cultrix, 2010.
BROTHERSTON, Gordon. “Estrevista com o Professor Gordon Brotherston feita
em 1988”. Realizada pelos membros do CEVEH, USP, 1998. Disponível em http://
ebookbrowsee.net/entrevista-gordon-pdf-d410720 245. Acesso em 29/03/2015.
CANDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira (momentos decisivos). 2. Ed. São
Paulo: Martins, 1975, 2 v.
CESARINO, Pedro Niemeyer. Oniska: poética do xamanismo na Amazônia. São Paulo:
Perspectiva; FAPESP, 2011.
___________. Quando a terra deixou de falar: cantos da mitologia marubo. São Paulo:
Editora 34, 2013.
___________. Pedro. De duplos e estereoscópios: paralelismo e personificação nos
cantos xamanísticos ameríndios. 12(1): 105-134, 2006. Disponível em http://www.
scielo.br/pdf/mana/v12n1/a04v12n1.pdf
CHKLOVSKI, Victor. A arte como procedimento. In: TOLEDO, Dionísio de (org.). Teoria
da literatura: formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1973.
COLSON, Andrey Butt. Routes of knowledge: an aspect or regional integration in the
circum-Roraima area of the Guiana Highlands’. Antropológica, v. 63-64: 103-149, 1985.
___________. Naming. Identiy and structure: the Pemon. Antropológica, tomo LIII nº
111-2: 35-144, 2009.
53
__________. The spatial component in the polithical structure of the Carib speakers of
the Guiana Highlands: Kapon and Pemon. Antropológica, nº 59-62: 73-124, 1996.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Sul-Americana, 1968-
1971, 6.v
DESCOLA, Philippe. Constructing Natures: Symbolic Ecology and Social Practice. In:
P. Descola e G. Pálsson (orgs.). Nature and Society. anthropological Perspectives. London:
Rutledge, 1996.
FARAGE, Nádia. As flores da fala: práticas discursivas entre os wapishana. São Paulo,
USP, 1997. [Tese de doutorado]
FIOROTTI, Devair A. Do Timbó ao timbó ou o que eu não sei, eu invento. Aletria:
Revista e estudos literários. V. 22, n. 3, 2012.
__________. Narrativa oral em questão: cultura em contato e imaterialidade a partir
da TI São MArcos-RR. In: Allison Leon. (Org.). Amazônia: literatura e cultura. Manaus:
UEA Edições, 2012, v. 1.
__________. Diversidade cultural e identidade indígena na Terra Indígena São Marcos:
contribuições para pensar a realidade indígena atual. FREITAS, Deborah et all. Estudos
de linguagem e cultura regional: vertentes poéticas e linguísticas. Boa Vista: EDUFRR, 2013.
__________. Macunaima e Xicö: deslocamentos semântico-mitológicos na narrativa de
Clemente Flores. In Volobuef, Karen et all (orgs). Tradução, cultura e memória. Rio de
Janeiro: 7 Letras, 2014.
FRANCHETTO, Bruna. Forma e significado na poética oral kuikúro. Ameríndia.
Nº 14, 1989. Disponível em http://www.vjf.cnrs.fr/sedyl/ amerindia/articles/
pdf/A_14_03.pdf. Acesso em 12/12/2015.
GIROUX, Joan. The haiku form. Rutland and Tokyo: Charles E. Tuttle Company, 1974.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. 2ª ed. São
Paulo: Ed. Centauro, 2013.
KOCH-GRÜNBERG, Theodor.Do Roraima ao Orinoco. V. 1 Trad. Cristina Alberts-
Franco. São Paulo: Editora UNESP, 2006.
LAGROU, Els. Arte ou artefato? Agência e significado nas artes indígenas. Revista
Proa, n°02, vol.01, 2010. Disponível em http://www.ifch.unicamp.br/proa. Acesso em
10/01/2016.
LÉVI-STRAUSS, Claude. A outra face da Lua: escritos sobre o Japão. Trad. Rosa Freire
d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
__________. De perto e de longe. Entrevistas com Didier Eribon. Tradução de Léa Mello
e Julieta Leite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
54
MARQUES, Elder Silva. Valores e identidade macuxi. 2013. Disponível em http://
valoreseidentidademacuxi.blogspot.com/2013/04/origem-dopari xara.html. Acesso
em 26/03/2015).
MEDEIROS, Sérgio (org.). Makunaíma e Jurupari: cosmogonias ameríndias. São Paulo:
Perspectiva, 2002.
MEIRA, Sérgio. “A família lingüística Caribe (Karíb).” Revista de Estudos e Pesquisas.
FUNAI, Brasília, v.3, n.1/2, p.157-174, jul./dez, 2006.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1974.
OLIVEIRA, Idelvânia Rodrigues de. Os monaikó: narrativas orais e registros linguísticos.
Boa Vista, PPGL-UFRR, 2014. [Dissertação de mestrado]).
OLIVEIRA, R. da S.; WANKLER, C. M.; SOUZA, C. M. de. Identidade e poesia
musicada: panorama do Movimento Roraimeira a partir da cidade de Boa Vista como
uma das fontes de inspiração. Revista Acta Geográfica, v. 3, n. 6, 2009.
OVERING, Joanna. O mito como história: um problema de tempo, realidade e outras
questões. Revista MANÁ. 1(1), 1995.
PAZ, Octavio. El arco y la lira. México: Fondo de Cultura Econômica, 1990.
RAPOSO, Celino Alexandre. Dicionário da língua Macuxi. Boa Vista: EdUFRR, 2008.
ROCHA, Roosevelt. Lírica grega arcaica e lírica moderna: Uma comparação.
Philia&Filia, Porto Alegre, vol. 03, n° 2, jul./dez. 2012.
ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. 6 ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1960, 5.v.
SANTILLI, Paulo. Pemongong Patá: território macuxi, rotas de conflito. São Paulo:
UNESP, 2001.
SEKI, Lucy. Jene ramyjwena juru pytsaret/O que habitava a boca de nossos ancestrais. Rio de
Janeiro: Museu do Índio, 2010.
THURN, Everard F. im. Among the indians of Guiana. London: Kegan, 1883.
TUGNY, R. Pereira. Narradores Tikmu’un (Org.). Mõgmõka yõg Kutex / Cantos do gavião-
espírito. 1. ed. Rio de Janeiro: Azougue, 2009a.
________. Narradores, escritores tikmu’un do Pradinho (Org.) . Xũnĩm yõg kutex xi
ãgtux xi hemex yõg kutex / Cantos e histórias do morcego espírito e do hemex. 1. ed. Rio de
Janeiro: Azougue, 2009b.
VALERY, Paul. Variedades. Trad. de Maiza Martins de Siqueira. São Paulo: Iluminuras,
1999, p. 159.
VERÍSSIMO, José. Estudos de literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia. 1977.
_________. História da Literatura Brasileira. 5. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
55
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo
ameríndio. Revista MANA 2(2): 115-144, 1996, p. 120.
___________. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
WHITEHEAD, Neil L. Dark shamans: Kanaimà and the poetics of violent death. Durham
& London: Duke University Press, 2002.
YASUDA, Kenneth. Japanese Haiku: Its Essential Nature and History. Boston; Tokyo:
Periplus Editions, 2011.
ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Trad. Jerusa Pires Ferreira et all. Minas
Gerais: Editora da UFMG, 2010.
___________. A letra e a voz. Trad. Amália Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira. São Paulo:
Cia das Letras, 2001.
___________. Performance, recepção, leitura. Trad. Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich.
2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
Site
http://www.nippobrasil.com.br/
56
Filhos de
Makunaima
Fotos: Devair Antônio Fiorotti
Em sequência
Eunison,
Sofia,
Bruno,
Andrio,
Gilciany,
Itelvis,
Andria,
Gilciany.
Manaaka.
Parixara
em geral acompanhados por
chocalhos e flautas
73
aparuya uyeori’na
uyepori’na
aparuya uyeori’na
uyepori’na
iwîîtî ramonoripo
uyepori’na
aparuya uyeori’na
uyepori’na
aparuya uyeori’na
uyepori’na
iwîîtî ramonoripo
uyepori’na
aparuya uyeori’na
uyepori’na
aparuya uyeori’na
uyepori’na
aparuya uyeori’na
uyepori’na
iwîîtî ramonoripo
uyepori’na
aparuya uyeori’na
uyepori’na
74 parixara 1
a água me encontra
na beira do igarapé
parixara 1 75
awairi kamaini itun etaato’pe makatairîmîko mamako
awairi kamaini itun etaato’pe makatairîmîko mamako
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
mamai warekeruwa
76 parixara 2
ao ouvir o som do meu instrumento kamaini
mamãe dorme mamãe dorme mamãe dorme
parixara 2
* Kamaini: instrumento feito de embaúba (Cecropia pachystachya), em geral longo. 77
wai patau
wai pataurî eserrunkî
wai patau
wai pataurî eserrunkî
uikînî
uikînîrî
uikînî
uikînî wayaurariwa
wai patau
wai pataurî eserrunkî
wai patau
wai pataurî eserrunkî
uikînî
uikînîrî
uikînî
uikînî wayaurariwa
wai patau
wai pataurî eserrunkî
wai patau
wai pataurî eserrunkî
uikînî
uikînîrî
uikînî
uikînî wayaurariwa
78 parixara 3
em cima da casa
canta o passarinho
passarinho
meu passarinho
passarinho corrupião
parixara 3 79
parakamu keweyu xiri-xirimauya
parakamu keweyu xiri-xirimauya
pinkîimi keweyu xiri-xirimauya
pinkîimi keweyu xiri-xirimauya
80 parixara 4
toco
toco chocalho do catitu
toco chocalho da queixada
toco chocalho da anta
toco
parixara 4 81
maripaya yarenpukape uipîi uipîi
kuwai yarenpukape uipîi uipîi
kunwaya yarenpukape uipîi uipîi
82 parixara 5
venho tirando olho de inajá de buriti de bacaba
olho de inajá de buriti
de inajá de bacaba
parixara 5 83
mîirirî mîirirî nekokomamîi
mîirirî mîirirî nekokomamîi
upono pîrenmapî’pî nekokomamîi
upono pîrenmapî’pî nekokomamîi
84 parixara 6
assim estou vivendo
estou vivendo
com minha roupa estou vivendo
parixara 6 85
piri-piri ku’pîyaka
piri-piri ku’pîyaka
uwairi kamaini marirumîi’ warekeruwa
warekeru warekeru warekeruwa
piri-piri ku’pîyaka
piri-piri ku’pîyaka
uwairi kamaini marirumîi’ warekeruwa
warekeru warekeru warekeruwa
piri-piri ku’pîyaka
piri-piri ku’pîyaka
uwairi kamaini marirumîi’ warekeruwa
warekeru warekeru warekeruwa
piri-piri ku’pîyaka
piri-piri ku’pîyaka
uwairi kamaini marirumîi’ warekeruwa
warekeru warekeru warekeruwa
86 parixara 7
no lago piri-piri
mergulhei meu instrumento kamaini
ge gent gente minha gente
parixara 7 87
karutuke ranakake patai ramenukase
karutuke ranakake patai ramenukase
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
karutuke ranakake patai ramenukase
karutuke ranakake patai ramenukase
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
karutuke ranakake patai ramenukase
karutuke ranakake patai ramenukase
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
karutuke ranakake patai ramenukase
karutuke ranakake patai ramenukase
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
kupi kupiwa paxirî
88 parixara 8
com jenipapo brabo pinto meu corpo
kupi
como kupiwa
moça
parixara 8
* Kupi refere-se a uma espécie de pássaro, de cujo o interlocutor não se lembra o nome em português.
Kupiwa é esse mesmo pássaro, só que fêmea. Provavelmente, segundo Terêncio Luiz Silva, o
89
indígena poderia estar pintando com tinta de jenipapo o pássaro no corpo.
warekepea uyekama wareke paxi
warekepea uyekama wareke paxi
warekepe paxi onoiwa paxi
onoiwa paxi onoiwa paxi
90 parixara 9
como sapinho wareke
me chama a sapinha wareke
a sapinha onoiwa
a sapinha wareke
a sapinha onoiwa
parixara 9
* Wareke: Tipo de sapo colorido, optou-se em manter a referência na língua originária.
** Onoiwa: Referência a outro tipo de sapinho, optou-se em manter a referência na língua originária. 91
aparurî meurumai kunawa kunawaruwa
aparurî meurumai kunawa kunawaruwa
kunawa kunawaruwa kunawa kunawaruwa
aparurî meurumai
92 parixara 10
fala de dentro de sua água
kunawa kunawaruwa
kunawa kunawaruwa
parixara 10
* Kunawa: tipo de sapo. Indagado sobre a terminação “kunawaruwa”, Terêncio Luis Silva disse de
aspectos sonoros no processo de composição da música. É acrescentado por ele por isso. 93
wakî pena’ apororo nai wana wanari
wakî pena’ apororo nai wana wanari
apaatamî’ nekokomamîi nekokomamîi
ta koo
apaa mî’ ne koo ma mîi
94 parixara 11
dono
dono da casa
o seu terreiro tá pronto pra festa?
você vive no seu lugar prevenido pra festa?
vive no seu lugar prevenido?
parixara 11 95
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uipi sîrîrî paapa
uipi sîrîrî paapa
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uipi sîrîrî paapa
uipi sîrîrî paapa
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uipi sîrîrî paapa
uipi sîrîrî paapa
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uipi sîrîrî paapa
uipi sîrîrî paapa
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uipi sîrîrî paapa
uipi sîrîrî paapa
tiwiyupe wei tapi’se
tiwiyupe wei tapi’se
tiwiyupe wei tapi’se
kesera’ uyepî paapa
kesera’ uyepî paapa
tiwiyupe wei tapi’se
tiwiyupe wei tapi’se
tiwiyupe wei tapi’se
kesera’ uyepî paapa
kesera’ uyepî paapa
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uweyupe wei tapi’se
uipi sîrîrî paapa
uipi sîrîrî paapa
uweyupe wei tapi’se
96 parixara 12
estou vindo agarrado na luz do sol
venho agora meu deus
parixara 12 97
kewei yari’ku atariku’ka yanunmîkî wîrisi
kewei yari’ku atariku’ka yanunmîkî wîrisi
ukeweyu yari’ku atariku’ka yanunmîkî wîrisi
ukeweyu yari’ku atariku’ka yanunmîkî wîrisi
98 parixara 13
recolhe a flor
recolhe a flor do kewei que caiu cunhatã
recolhe a flor do meu chocalho que caiu cunhatã
recolhe cunhatã
parixara 13 99
xiriripan tuna yenatau tuna yenatau
xiriripan tuna yenatau tuna yenatau
xiriripan tuna yenatau tuna yenatau
xiriripan tuna yenatau tuna yenatau
tu ye
xiriripan na natau uyepîi uipîi
tu ye
xiriripan na natau uyepîi uipîi
parixara 12
* Quando da gravação, Terêncio Luiz Silva acabou esquecendo parte da música. Posteriormente
100 estabeleceu a letra do canto.
pela água do igarapé
como um peixe
pela água do igarapé
estou vindo
parixara 12 101
epakakîkin wîrisi
epakakîkin wîrisi
uwai itun etaapa
uwai itun etaapa
epakakîkin wîrisi
epakakîkin wîrisi
epakakîkin wîrisi
uwai itun etaapa
uwai itun etaapa
epakakîkin wîrisi
epakakîkin wîrisi
epakakîkin wîrisi
uwai itun etaapa
uwai itun etaapa
epakakîkin wîrisi
102 parixara 15
acorda cunhatã
para ouvir o som do meu instrumento
acorda
acorda
para ouvir o som
o som do meu instrumento
acorda cunhatã
parixara 15 103
kîrî-kîrî worantî uutî na’mî
kîrî-kîrî worantî uutî na’mî
ri
uya sa nmî uye’nyaripe
pî’
ri
uya sa nmî uye’nyaripe
pî’
kîrî-kîrî worantî uutî na’mî
kîrî-kîrî worantî uutî na’mî
ri
uya sa nmî uye’nyaripe
pî’
ri
uya sa nmî uye’nyaripe
pî’
104 parixara 16
estou indo
como periquito
meus braços são minhas asas
parixara 16 105
yei parantarîpo parantara
yei eserumkî
yei parantarîpo parantarai
yei eserumkî
106 parixara 17
canta o ferreiro
no galho da árvore
parixara 17 107
waitiripe waitiripe uyepîtanne uyepîtanne
manata ikonekakî manata ikonekakî manata ikonekakî
ikonekakî ikonekakî manata ikonekakî
108 parixara 18
venho como quatá quatÁA
arruma a porta
parixara 18 109
iparawa nonori nonoripo
iparawa nonori nonoripo
kî
ui nî ka seru
yaka ne tai
ya
iparawa nonori nonoripo
iparawa nonori nonoripo
iparawa nonori nonoripo
kî
ui nî ka seru
yaka ne tai
ya
iparawa nonori nonoripo
ya
iparawa nonori nonoripo
ya
iparawa nonori nonoripo
110 parixara 19
na terra da ilha do mar
meu gavião ouviu outros cantos
parixara 19 111
ramonporo uipî tanne atari’kuma tanne
ramonporo uipî tanne atari’kuma tanne
wainai ko’ko’ wainai ko’ko’
atari’kuma tanne
atari’kuma tanne
112 parixara 20
ko’ko’
ko’ko’ ko’ko’
ko’ko’ ko’ko’ ko’ko’
parixara 20
* Ko’ko’: tipo de gavião, cujo nome em macuxi seria onomatopaico do som emitido por ele. Fonte
Terêncio Luis Silva. 113
pî
i tî pona
man a
imantî pî pona’
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
pî
i tî pona
man a
imantî pî pona’
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
pî
i tî pona
man a
imantî pî pona’
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
pî
i tî pona
man a
imantî pî pona’
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
maroko watarikuma
114 parixara 21
lá na subida da cachoeira
os peixes se enfeitam
parixara 21 115
wakîpena’ apaata nai wayurari wayurari
wakîpena’ apaata nai wayurari
116 parixara 22
teu lugar tá bom
anta?
teu lugar tá bom?
parixara 22 117
weyo-weyo motariyai uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
iwootope piinipe uipîi
iwootope piinipe uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
iwootope piinipe uipîi
iwootope piinipe uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
iwootope piinipe uipîi
iwootope piinipe uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
iwootope piinipe uipîi
iwootope piinipe uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
iwootope piinipe uipîi
iwootope piinipe uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
weyo-weyo motariyai uipîi
iwootope piinipe uipîi
iwootope piinipe uipîi
118 parixara 23
pelo boqueirão da serra weyo-weyo estou vindo
como caça como queixada
pelo boqueirão estou vindo
parixara 23 119
Tarîpai yanunmî konpa tukui kupîuya sîrîrî umaimuta makusita yanunmî konpa
ikupîkonpa ayenîkonta’sima.
[Agora vou cantar em minha língua macuxi o tukui pra vocês aprenderem quando
estiverem em suas casas.]
Manaaka.
Tukui
em geral acompanhado por
tambor, flautas feitas de
taquara.
121
maxi maxi ayapîninmo wiriyamo
maxi maxi ayapîninmo wiriyamo
ikîrîru ayapîninmo wiriyamo
ikîrîru ayapîninmo wiriyamo
122 tukui 1
cuidado pro maxi maxi não te pegar
minha gente
cuidado pro ikîrîru não te pegar
minha gente
tukui 1
* Maxi é o espírito do campo, e Ikîrîru é o espírito da serra, segundo Tiago Simplício Napoleão. Já
Terêncio Luis Silva disse de tipos de bebida fortes, até mesmo venenosas. Inclusive maxi pode ser
visto como um adjetivo para amargo e venenoso. 123
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
morokokope werawîmai
purumaite werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
morokokope werawîmai
purumaite werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
morokokope werawîmai
purumaite werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
morokokope werawîmai
purumaite werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
wayu paatau werawîmai
124 tukui 2
estamos chegando
estamos vindo
estamos chegando na casa
como peixe
como matrixã
tukui 2 125
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
kaikuxi more maraxi
kusariwa more more
126 tukui 3
também
filho de onça é pintada
filho de veado mateiro
também
tukui 3 127
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
taaa
wa ke ta
ke wa ee rau
ta reee
tawaake tawaake taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
taaa
wa ke ta
ke wa ee rau
ta reee
tawaake tawaake taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
taaa
wa ke ta
ke wa ee rau
ta reee
tawaake tawaake taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
wawini nekutumarî reponi nekutumarî taraure
taaa
wa ke ta
ke wa ee rau
ta reee
tawaake tawaake taraure
128 tukui 4
tawaake tawaake
estou dizendo que marreca banha paturi banha
com tabatinga no lago
tawaake tawaake
tukui 4 129
piya piya napîrîkîtîpî
piya piya napîrîkîtîpî
kamara tî kamara aramak ît aramak
kamara tît aramak kamara tît aramak
piya piya napîrîkîtîpî
piya piya napîrîkîtîpî
kamara tî kamara aramak ît aramak
kamara tît aramak kamara tît aramak
piya piya napîrîkîtîpî
piya piya napîrîkîtîpî
kamara tî kamara aramak ît aramak
kamara tît aramak kamara tît aramak
piya piya napîrîkîtîpî
piya piya napîrîkîtîpî
kamara tî kamara aramak ît aramak
kamara tît aramak kamara tît aramak
piya piya napîrîkîtîpî
piya piya napîrîkîtîpî
kamara tî kamara aramak ît aramak
kamara tît aramak kamara tît aramak
130 tukui 5
o homem pegou o eco
no princípio
prendeu kamara
prendeu
com ele aprendeu a falar
tukui 5 131
ru
wa ya
ri
kî xi ree
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
wakî xiriru yare
wakî mapara yare
ru
wa ya
ri
kî xi ree
132 tukui 6
bom é olho de buriti
olho de mapará
tukui 6 133
uraixama ipîrî urariwa ipîrî
uraixama ipîrî urariwa ipîrî
yaxikomatanekî wanîwan paxi
yaxikomatanekî wanîwan paxi
yaxikomatanekî wanîwan paxi
uraixama ipîrî urariwa ipîrî
uraixama ipîrî urariwa ipîrî
yaxikomatanekî wanîwan paxi
yaxikomatanekî wanîwan paxi
yaxikomatanekî wanîwan paxi
uraixama ipîrî urariwa ipîrî
uraixama ipîrî urariwa ipîrî
yaxikomatanekî wanîwan paxi
yaxikomatanekî wanîwan paxi
yaxikomatanekî wanîwan paxi
134 tukui 7
caxiri uraixama
caxiri urariwa
venha coar minha abelhinha
tukui 7 135
wamaa ke ruwe ke wamaa ke ruwe ke
wamaa ke ruwe ke wamaa ke ruwe ke
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
wamaa ke ruwe ke wamaa ke ruwe ke
wamaa ke ruwe ke wamaa ke ruwe ke
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
auya auya
pata wakîm pata wakîm
136 tukui 8
com meu wamaa com meu ruwe
vim animar este lugar
wamaa ke ruwe ke
tukui 8
* Ruwe: flauta pequena feita de taboca. 137
piri-piri ku’pîri kuwaka
piri-piri ku’pîri kuwaka
maiwaka esapausapauma
maiwaka esapausapauma
maiwaka esapausapauma
maiwaka esapausapauma
138 tukui 9
no lago do piri-piri
o pato bate as asas n’água
tukui 9 139
piri-piri ku’pî mamurakai
piri-piri ku’pî mamurakai
wawini wawini wawini kuwa
wawini wawini wawini kuwa
140 tukui 10
no lago piri-piri
toma banho barrento a marreca
tukui 10 141
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
tawa tawa imotamenpe uipîi
tawa tawa imotamenpe uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
tawa tawa imotamenpe uipîi
tawa tawa imotamenpe uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
tawa tawa imotamenpe uipîi
tawa tawa imotamenpe uipîi
onorewape uipîi
onorewape uipîi
142 tukui 11
venho como garça
com ombros pintados de tabatinga
tukui 11 143
tiwîpîrî imotarîyai tewenasen tukuxi
tiwîpîrî imotarîyai tewenasen tukuxi
tewenasen tukuxi tewenasen tukuxi
tewenasen tukuxi tewenasen tukuxi
pîrî
tewe sen
tiwî i tarîyai na tukuxi
mo
144 tukui 12
no boqueirão da montanha
passeia o beija-flor
tukui 12 145
kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
kanaimî wai uwai tunpauya kanaimî wai uwai tunpauya
tukui 13 147
wokî ra’mai tukuxi
wokî ra’mai tukuxi
wokî ra’mai tukuxi
wokî ra’mai tukuxi
maxi maxi tukuxi
urariwa tukuxi
148 tukui 14
vamos ver a bebida beija-flor
tukui tukuxi
bebida maxi maxi beija-flor
tukui tukuxi
bebida urariwa beija-flor
tukui tukuxi
tukui 14
* Maxi maxi e urariwa são espécies de bebida forte, servidas nas festas. 149
yei yei wayuna ipî wakapu motawoino
ruweke motawoino
wakapu motawoino wakapu motawoino wakapu motawoino
150 tukui 15
madeira preparada se encaixa na forquilha do esteio
se encaixa madeira boa
na forquilha do esteio
tukui 15 151
uwai itun
uwai itun ruwe ruwe
uwai itun maru’paka yapîkuwai kenamîi
uwai itun ruwe ruwe
uwai itun ruwe ruwe
uwai itun ruwe ruwe
uwai itun maru’paka yapîkuwai kenamîi
uwai itun ruwe ruwe
uwai itun maru’paka yapîkuwai kenamîi
uwai itun ruwe ruwe
152 tukui 16
ecoa
ecoa o som
ecoa o som da flauta
ecoa o som da flauta ruwe ruwe
o som da flauta ecoa antes do cantar do nambu
que o canto do nambu nunca ecoe depois
o canto do nambu nunca ecoe depois
do nambu nunca ecoe depois
nunca ecoe depois
ecoe depois
depois
tukui 16 153
ru
pî ya tawari
ya pî
tariika tariika tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika
ru
pî ya tawari
ya pî
tariika tariika tariika tariika
yapî yapî tawariru
tariika tariika
154 tukui 17
no corrego
há barro colorido
pra se pintar
tukui 17 155
a tariiru tuna tariiru
tuna tariiru tuna tariiru
tawaake tuna tariitanîpîuya
tawaake tuna tariitanîpîuya
tuna tar
tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru tu
tuna tariiru tuna tariiru tuna tar
tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru tu
tuna tariiru tuna tariiru tawaake tuna tariitanîpîuya
tawaake tuna tariitanîpîuya tawaake tuna tariitanîpîuya
tawaake tuna tariitanîpîuya
tuna tariiru tuna tariiru
tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru
tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru
tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru
tuna tariiru tuna tariiru tawaake tuna tariitanîpîuya
tawaake tuna tariitanîpîuya tawaake tuna tariitanîpîuya
tawaake tuna tariitanîpîuya
156 tukui 18
riiru tuna tariiru
una tariiru
riiru tuna tariiru tuna tariiru tuna tariiru
una tariiru tuna
a cor d’água
tuna tariiru tuna tariiru
com tabatinga eu pinto
eu pinto a água
tawa
tawake
tuna tariiru tuna tariiru
tukui 18 157
wai samerukai wai samerukai
samerukai wai samerukai
wai samerukai samerukai wai samerukai wai
samerukai samerukai
158 tukui 19
raspei a cabaça
raspei
a cuia raspei
raspei a cabaça
raspei
raspei
a cabaça de peixe
de matrinxã
raspei a cuia
raspei
a cabaça
raspei
tukui 19
* Comeu todo peixe que estava dentro da cabaça, da cuia. Comia-se em cabaça, pois é tradição no
circum-Roraima fazer um caldo principalmente de peixe temperado com pimenta, chamado de
damurida.
159
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
rato’ rato’ wayupa kenî seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
yamî yaka senta’ka seporîi
160 tukui 20
encontrei a casa do Rató
Rató Rató
sim
eu encontrei sua nova casa
Rató Rató
tukui 20 161
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
tukui’ wa’notootî tukui’ wa’notootî
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
xiparanaku’pî yaka wai xipararukai
162 tukui 21
tukui tukuxi
preparando-se pra dança beija-flor
tukui 21 163
rato’ rato’ wayupa yamerukayaitî
rato’ rato’ wayupa yamerukayaitî
waita waita rato’ rato’ wayupa yamerukayaitî
164 tukui 22
eu acabei com a casa do Rató
eu acabei com a casa do Pacu e do Rató Rató
tukui 22 165
enu’
ni ku pe
yauxi era’ma to’
yauxini enu’ku era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe enu’
tukururi enu’ku era’ma to’pe
tukururi enu’ku era’ma to’pe ni ku pe
era’ma to’peya era’ma to’pe yauxi era’ma to’
era’ma to’peya era’ma to’pe yauxini enu’ku era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe
enu’ tukururi enu’ku era’ma to’pe
tukururi enu’ku era’ma to’pe
ni ku pe era’ma to’peya era’ma to’pe
yauxi era’ma to’ era’ma to’peya era’ma to’pe
yauxini enu’ku era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe
tukururi enu’ku era’ma to’pe
tukururi enu’ku era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe
era’ma to’peya era’ma to’pe
166 tukui 23
vamos ver subir o festejo
eu vou ver
vamos ver
vamos ver tukururi subir
eu vou ver
vamos ver
eu vou ver
vamos ver passar o festejo
tukui 23
168 tukui 24
beija-flor
tukuxi
wana wana wanari
estou dançando no terreiro do wana wanari
dançando tukui tukuxi
wana wana wanari
wana wana tukuxi
estou dançando no terreiro do wana wanari
tukui 24
* Wana wanari: podendo ser o nome dos donos da casa, bem como de um tipo de flauta usada no
tukui. Dançando, pisando o terreiro com a dança. Wana foi também identificado como instrumento 169
de sopro.
kuwipiri kuyeurumai kuyeurumai
kuwipiri kuwipiripe kuyerumai
kuwipiri kuwipiripe kuyerumai
paata ramonoriipo uipîtanne
kuwiipiri kuyerumai kuyeurumai
kuwiipiri kuyerumai kuyeurumai
kuwiipiri kuyerumai kuyeurumai
pî
taa i ta
Kuwiipiri me falou
como um kuwiipiri ele me falou
quando eu vinha pelo lavrado
Kuwiipiri me falou
me cantou
tukui 25
* Kuwiipiri: tipo de passarinho, o interlocutor não soube dizer o nome em português. 171
amîrîpe eserunkî nakayîrîmî wayuwaru
amîrîpe eserunkî nakayîrîmî wayuwaru
amîrîpe eserunkî nakayîrîmî wayuwaru
amîrîpe eserunkî nakayîrîmî wayuwaru
172 tukui 26
eu disse pra você cantar corrupião
pra cantar na casa
eu disse pra você cantar
cante corrupião
tukui 26 173
toronope wawinipe uipîi
toronope wawinipe uipîi
piri-piri ku’pîri kuwaka
piri-piri ku’pîri kuwaka
toronope wawinipe uipîi
toronope wawinipe uipîi
174 tukui 27
venho como passarinho, como marreca
de dentro do lago do piri-piri
tukui 27 175
wataramenkakî tukuxi tukuxi
wataramenkakî tukuxi tukuxi
wataramenkai
karutuke tukuxi
wataramenkai
karutuke tukuxi
karutuke tukuxi
wataramenkai
karutuke tukuxi
wataramenkai
karutuke tukuxi
wataramenkai
karutuke tukuxi
wataramenkai
176 tukui 28
beija-flor beija-flor se enfeite
beija-flor beija-flor se enfeite
beija-flor me enfeito com jenipapo
tukuxi me enfeito com jenipapo
tukui 28 177
wai wai iparanatau iparanatau
wai wai iparanatau iparanatau
iparanatau
178 tukui 29
tem algo no cocho?
wai wai
tem bebida nesse cocho?
wai wai
no cocho?
tukui 29
* Durante a festa, provavelmente referência à bebida que era servida em espécies de canoas, cochos. 179
wayupa kenî seporîi
wayupatau wayupa kenî seporîi
wayupamî wayupa kenî seporîi
wayupamî wayupa kenî seporîi
180 tukui 30
eu encontrei a casa
na casa grande eu encontrei a casa
sim na casa encontrei a verdadeira casa
encontrei a casa do japu
encontrei no morro em cima do morro
tukui 30 181
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari
nî ya a’r k y ri
ay en ta’ rî k arî ka
îtî nî nt a’rî ka ya
en ta’ rî k ay k ya
up a ye yap pur î ka aya ri
ta rî ay ar ay ri
up îtî ye nt ur îta ya ri
a en p rî ay ar ya ri
ay en pu rît ay ari ya ri ayenta’rî kayari
up îtî ye nt ur îta ya ri
’rî ka a i ar
up a aye ent a’rî
ka ya ri
ayenta’rî kayari
t
ay yen
n y a
r k
a
ya ri
upîtînî yapurîtarî kayari
ri
a
up îtî ye nt
ka ya ay ar
ta rî tar î k i
a
en ta’ rî ar ar
y
’rî ka î k ay
up a aye
îtî nî nt a’rî
ayenta’rî kayari
nî ya a’r k
ayenta’rî kayari
n y a
ri
i
a
r k
ri
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari ayenta’rî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari upîtînî yapurîtarî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari upîtînî yapurîtarî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari ayenta’rî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari upîtînî yapurîtarî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari
upîtînî yapurîtarî kayari upîtînî yapurîtarî kayari
ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari ayenta’rî kayari
ayenta’rî kayari up a aye
u pît ay ent pu rîta aya ri
a yen ap urî kay ar aya ri
up îtî ye nta
ri
nî ya ’r k
a
u pît ay ent
n y a
’rî î ka aya ri yar i
r
ayenta’rî kayari
ay
en ta’ ’rî k kay î k aya
a yen ta ’rî tar î k i
n y ’ k r a
ayenta’rî kayari ay î ya apu rî k ay î ka yar
n y a
ay en pu rî ay ari yar i
u
ay yar i
ayenta’rî kayari
r
en ta’ rî k ay ka ya
upîtînî yapurîtarî kayarita rî ay ar ya ri
t r
u
k
ayenta’rî kayari
p
’rî ka a i ri
ka ya ri
a
ayenta’rî kayari ya ri
y
182 tukui 31
arara
eu fico no seu lugar
no local onde você está
arara
tukui 31 183
pa pa
ri ri
ra wenairî ra wenairî
xa xa
werawîmai
parixara wenairî parixara wenairî
werawîmai
tuna xiuxiwape tuna xiuxiwape
anaapîtai’na
tuna xiuxiwape tuna xiuxiwape
anaapîtai’na
parixara wukuru parixara wukuru
anaapîtai’na
parixara wukuru parixara wukuru
anaapîtai’na
parixara wukuru parixara wukuru
anaapîtai’na
pa pa
ri ri
ra wenairî ra wenairî
xa xa
werawîmai
parixara wenairî parixara wenairî
werawîmai
tuna xiuxiwape tuna xiuxiwape
anaapîtai’na
tuna xiuxiwape tuna xiuxiwape
anaapîtai’na
parixara wukuru parixara wukuru
anaapîtai’na
parixara wukuru parixara wukuru
anaapîtai’na
parixara wukuru parixara wukuru
anaapîtai’na
184 tukui 32
junto ao parixara
vou dançando
da bebida do parixara
eu vou me aproximando
tukui 32
* Xiuxiwape: inseto que fica sobre a água se movimentando rapidamente, vai e volta, da família
Gerridae. Também pode ser traduzido como marola da água, espécie de banzeiro. Referência à
própria roda de parixara, que abre e fecha, dança para frente e para trás, batendo o pé, em geral para
frente, em círculo, sempre com muito consumo de caxiri, pajuaru. 185
mainake mainayaka
mainake mainayaka
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
mainake mainayaka
mainake mainayaka
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
mainake mainayaka
mainake mainayaka
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
mainake mainayaka
mainake mainayaka
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
mainake mainayaka
mainake mainayaka
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
kesera’ atapîriru
186 tukui 33
na roça
lá na roça
a maniva está sendo desfolhada
tukui 33
188 tukui 34
vamos ver a vinda do parixara
vamos ver
pinta-se com o jenipapo
pinta-se
pinta-se com karutuke
tukui 34 189
uwairi itunrî
wama wama itunrî
wîrixi wîrixamo uwairî wîrixamo uwairî
wîrixi wîrixamo uwairî
uwairî
wîrixamo itunrî
uwairi itunrî
etapa apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
wîrixi
apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
wîrixi
wama wama itunrî
ruwe ruwe itunrî
etapa apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
wîrixi
wîrixamo uwairî
wîrixamo uwairî
etapa
apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
wîrixi
apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
wîrixi
wama wama itunrî
ruwe ruwe itunrî
etapa apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
wîrixi
apakakî wîrixi
apakakî wîrixi
wîrixi
190 tukui 35
o som do meu instrumento
o som do wama wama
cunhatã os instrumentos das mulheres
os instrumentos
as mulheres
os sons das mulheres
o som do meu instrumento
cunhatã acorde para escutar
cunhatã acorde
cunhatã
minha irma acorde
acorde
tukui 35 191
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
wîrixiru ataxininpa ataxininpa
uyapontî tuya kai’masa’ne ataxininpa
192 tukui 36
está alegre
pensando que vai dormir comigo
cunhatã
está animada
animada
pensando que vai dormir comigo
tukui 36 193
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî
yei-yei nesewayumai
yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yei-yei nesewayumai
yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yei-yei nesewayumai
yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai
194 yakîrirî nakîto’rî yei-yei nesewayumai tukui 37
yakîrirî nakîto’rî
yei-yei nesewayumai
yei-yei nesewayumai
nesewayumai yakîrirî nakîto’rî
corta o pau
derruba o pau
corta o pau
derruba o pau
o besouro-serrador corta o pau
corta o pau
derruba o pau
corta o pau
derruba o pau
o besouro-serrador corta o pau
corta o pau
derruba o pau
corta o pau
derruba o pau
o besouro-serrador corta o pau
tukui 37 195
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
tawake
wîrixi’ya uyera’mato’pe
tawake
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
uipî tanne
tawa tawa umota menu
tawa tawa umota menu
uipî tanne
wîrixi’ya uyera’mato’pe
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
tawake
wîrixi’ya uyera’mato’pe
tawake
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
tawa umota menu uipî tanne
tawa
wîrixi’ya uyera’mato’pe
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
wîrixi’ya uyera’mato’pe
watarai men ukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
watarai menukai
196 tukui 38
vou pintar meu corpo
meu corpo
corpo
vou pintar
meu corpo vou pintar
com tabatinga
pra cunhatã me ver
com tawa
eu vou pintar meu corpo
meu corpo
vou pintar
eu venho pintado
o ombro
com tabatinga com tabatinga no ombro
eu venho pintado
pra cunhatã me ver
vou pintar meu corpo
meu corpo
corpo
vou pintar
com tabatinga
meu corpo vou pintar
com tawa
vou pintar meu corpo
meu corpo
corpo
vou pintar
com tawa
eu venho pintado no ombro
com tawake
pra cunhatã me ver
vou pintar meu corpo
meu corpo
corpo
vou pintar
meu corpo vou pintar
tukui 38 197
itakuya wenuipî tawari kutumai
tawari kutumai
itakuya wenuipî tawari kutumai
itakuya wenuipî tawari kutumai
tawari kutumai
itakuya wenuipî tawari kutumai
itakuya wenuipî tawari kutumai
tawari kutumai
itakuya wenuipî tawari kutumai
198 tukui 39
venho pintar com pó de tabatinga
com pó de pintura
venho pintar
tukui 39 199
sapîyanpai akanawî sapîyanpai o sapîyanpai
anpai o sapîyanpai akanawî sapîyanpai o sapîy
sapîyanpai o sapîyanpai awukuru sapîyanpai o
wukuru sapîyanpai o sapîyanpai awukuru sapîy
sapîyanpai o sapîyanpai akanawî sapîyanpai o
npai o sapîyanpai akanawî sapîyanpai o sapîya
o sapîyanpai awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
sapîyanpai awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
pai pai
pai
anpai awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
yanpai akanawî sapîyanpai o sapîyanpai
akanawî sapîyanpai o sapîyanpai
pîyanpai akanawî sapîyanpai o sapîyanpai
akanawî sapîyanpai o sapîyanpai
sapîyanpai awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
sapîyanpai awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
awukuru sapîyanpai o sapîyanpai
vou pegar
vou pegar no teu cocho na tua canoa
pegar tua bebida
vou pegar
vou pegar tua bebida
tukui 40 201
yanpai
o sapîyanpai
Mîrîrî marapaa unamumî’pî amooko Alfredo wenî mana’ krî pon.
[Esses marapá eu aprendi do vovô Alfredo, da comunidade mana’ krî.]
Manaaka.
Marapá
em geral acompanhado
com tambor, também
flautas
203
anî’kin pi’pî anî’kin pi’pî asanpurari pîkîno
akuri pi’pî arawata pi’pî asanpurari pîkîno
anî’kin pi’pî anî’kin pi’pî asanpurari pîkîno
akuri pi’pî arawata pi’pî asanpurari pîkîno
arawata pi’pî iwarîka pi’pî asanpurari pîkîno
204 marapá 1
de quem é o couro do tambor
de cutia de guariba é o couro do tambor
de quem é o couro do tambor
de cutia de guariba é o couro do tambor
de guariba de macaco é o couro do tambor
marapá 1 205
tapomporo tenukupî’sem
tapomporo tenukupî’sem
tapomporo tenukupî’sem
wiiii
tapomporo tenukupî’sem
yo-yo wiiii wara
wiiii
yo-yo wiiii waraka
yo-yo wiiii wara
yo-yo waraka
tapomporo tenukupî’sem yo-yo wiiii waraka
ka
tapomporo tenukupî’sem yo-yo waraka
wiiii ka
yo-yo wiiii wara
yo-yo wiiii waraka
yo-yo waraka
tapomporo tenukupî’sem
ka
tapomporo tenukupî’sem
wiiii
yo-yo wiiii wara
tapomporo tenukupî’sem yo-yo wiiii waraka
tapomporo tenukupî’sem yo-yo waraka
wiiii ka
yo-yo wiiii wara
yo-yo wiiii waraka
yo-yo waraka
ka
tapomporo tenukupî’sem
tapomporo tenukupî’sem
wiiii
yo-yo wiiii wara
yo-yo wiiii waraka
yo-yo waraka
ka
206 marapá 2
sobe ele sempre o mesmo caminho
wiiii
yo-yo wiiii
yo-yo wiiii
yo-yo
macaco
marapá 2
208 marapá 3
em cima do caimbé
sempre passeia o waitupiri’
o waitupiri’ o waitupiri’
marapá 3
* Pássaro, parecido com o tié-vermelho, mas o informante não soube dizer o nome em português. O
canto dele é onomatopeico com o nome. Vive em geral no lavrado, sobre os caimbés. 209
xiu ka’
xiu kî parikuwa
xiu ka’ ru
xiu kî parikuwa
xiu ka’ ru
xiu kî parikuwa xiu ka’
xiu ka’ ru xiu kî parikuwa
kî parikuwa xiu ka’ ru
ru xiu kî parikuwa
tururia tururi tururiana xiu ka’ ru
tururia tururi tururiana xiu kî parikuwa
xiu ka’ xiu ka’ ru
xiu kî parikuwaru kî parikuwa
xiu ka’ ru
xiu kî parikuwaru tururia tururi tururiana
tururia tururi tururiana
xiu ka’
xiu kî parikuwaru
xiu ka’
xiu kî parikuwaru
xiu ka’
xiu kî parikuwa
xiu ka’ ru
xiu kî parikuwa
xiu ka’ ru
xiu kî parikuwa
xiu ka’ ru
kî parikuwa
ru
tururia tururi tururiana
tururia tururi tururiana
xiu ka’
xiu kî parikuwaru
xiu ka’
xiu kî parikuwaru
210 marapá 4
tururia tururi tururiana
tururia tururi tururiana
cante parikuaru
xiu xiu ká ku
aqui acolá
lá acolá
cante parikuaru
xiu xiu ká ku
aqui acolá
lá acolá
marapá 4 211
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
awukuruî ikurumapa
apaiwarîrî ikurumapa
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
awukuruî ikurumapa
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
uwai riru itun etapa
wama-wamari itum etapa
apakakî wîi wîriwîri
apakakî wîi apakakî wîi
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
awukuruî ikurumapa
apaiwarîrî ikurumapa
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
uwai riru itun etapa
wama-wamari itum etapa
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
ruwe-ruwerî itun etapa
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
apakakî wîi wîri wîri
awukuruî ikurumapa
apaiwarîrî ikurumapa
212 marapá 5
acorda mulher
para coar a bebida coar o apaiuá
acorda mulher mulher acorda
mulher pra coar a bebida
acorda mulher
para coar a bebida coar o apaiuá
acorda mulher mulher acorda
mulher pra coar a bebida
acorda mulher
para coar a bebida o apaiuá
acorda mulher mulher acorda
mulher pra coar o apaiuá
marapá 5
* Apaiuá: bebida fermentada de beiju que diferencia-se do pajuaru, pois é fermentada no alto, sobre
um jirau, enquanto o pajuaru é fermentada sobre a terra. Fonte Tiago Simplício Napoleão. A feitura
das bebidas era de exclusividade das mulheres, inclusive meninas púberes eram “tratadas” na boca
para fazerem a bebida, já que a saliva contribuía para o processo de fermentação.
* Wana: provavelmente um tipo de flauta.
213
Areruia
acompanhado de tambor
e mais raramente jocalhos,
principalmente amarrados
pelo corpo.
mo kî tîî o paa
rî an kî paaaa
morî antîîkî morî antîîkî o paa pa
pri’ya e to’pee pri’ya eto’pe areruia
pri’ya e to’pee pri’ya eto’pe areruia
pri’ya e to’pee
rî an
tîî mo
mo kî tîî o paa
rî an kî paaaa
morî antîîkî morî antîîkî o paa pa
pri’ya e to’pee pri’ya eto’pe areruia
pri’ya e to’pee pri’ya eto’pe areruia
pri’ya e to’pee
rî an
tîî mo
mo kî tîî o paa
rî an kî paaaa
morî antîîkî morî antîîkî o paapa
216 areruia 1
pra estar com saúde
dai-me o bem meu pai
areruia
areruia
areruia
areruia 1 217
makui niken inumpaiman
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
makui niken inumpaiman
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
makui niken inumpaiman
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
makui niken inumpaiman
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
makui niken inumpaiman
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
morî niken eto’pe
218 areruia 2
vamos deixar as coisas ruins
só
pra ficar com as boas
areruia 2 219
mai’ perukanen waita
mai’ perukanen waita
mai’ perukanen waita waita
mai’ perukanen waita
220 areruia 3
o pacu come frutas fortes
o pacu o pacu come frutas
o pacu come frutas amargas e azedas
o pacu come frutas
areruia 3 221
krixinpe o areruia areruia areruia
areruia areruia areruia areruia areruia
krixinpe o areruia
222 areruia 4
estamos unidos oh areruia
areruia areruia areruia
estamos unidos areruia
areruia 4 223
makuipeman taa tanne
iripeman taa tanne
makuipeman taa tanne
iripeman taa tanne
ekonekakîn sîrîrî
epîremakîn sîrîrî
kesera’pe e’to’pe
ekonekakîn sîrîrî
makuipeman taa tanne
iripeman taa tanne
makuipeman taa tanne
iripeman taa tanne
ekonekakîn sîrîrî
epîremakîn sîrîrî
kesera’pe e’to’pe
ekonekakîn sîrîrî
224 areruia 5
os demônios estão por aí
espíritos ruins também
continuarei forte
sendo a mesma maniva
areruia 5
* Essa música é cantada quando se vai plantar a maniva, no momento de pôr a maniva na cova. 225
ko’ko ko’ko
ko
ko’ko erenmapîpe
ko’ko erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanenpai erenmapîpe
uyurumanenpai erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
ko’ko
uyurumanen erenmapîpe
ko’ko erenmapîpe
ko’ko erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanenpai erenmapîpe
uyurumanenpai erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
ko’ko erenmapîpe
ko’ko
ko’ko erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanenpai erenmapîpe
uyurumanenpai erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
uyurumanen erenmapîpe
ko’ko
226 areruia 6
vovó, ko’ko, me orientava muito cedo
já não tenho quem me oriente cedo mais
areruia 6 227
morî pepîn parau naipîi krixoxi
morî pepîn parau naipîi krixoxi
krixo krixo krixoxi krixoxi
krixo krixo krixoxi krixoxi
morî pepîn parau naipîi krixoxi
morî pepîn parau naipîi krixoxi
krixo krixo krixoxi krixoxi
krixo krixo krixoxi krixoxi
228 areruia 7
tá vindo água do mar que não é boa
tá vindo doença aí
cristo cristo
meu cristo cristo meu
areruia 7
* A tradução do segundo verso, ouvi da indígena Letícia Barbosa, comunidade do Sabiá, TI São
229
Marcos, RR.
paapa mainmu pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
o areruia pî’ tikomansen xixira
o areruia pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî’ tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
o areruia pî’ tikomansen xixira
o areruia pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî’ tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
o areruia pî’ tikomansen xixira
o areruia pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî’ tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
o areruia pî’ tikomansen xixira
o areruia pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî’ tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
o areruia pî’ tikomansen xixira
o areruia pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî’ tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî tikomansen xixira
o areruia pî’ tikomansen xixira
o areruia pî tikomansen xixira
paapa mainmu pî’ tikomansen xixira
230 areruia 8
a gente vive de acordo com a palavra de
a gente vive falando aleluia deus
a gente vive de acordo com a palavra de
areruia 8 231
morî pena’ moronan
morî pena’ moronan
morî pena’ moronan
morî pena’ moronan
morî pena’ moronan
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai morî pena’ moronan
morîpe enanpî’wai morî pena’ moronan
morî pena’ moronan
morî pena’ moronan
morî pena’ moronan
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
morîpe enanpî’wai
232 areruia 9
você tá bem aí?
sim estou ficando bem
tô bem aqui
areruia 9 233
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
upaatakonpo tîwî e’nîpaiman
upaatakonpo tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
makuxiperî tîwî e’nîpaiman
makuxiperî tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
tîwî e’nîpaiman
234 areruia 10
vamos ser vamos
ser o que somos
areruia 10 235
o paapa tîwîrî tiwasen o paapa tîwîrî tiwasen
o paapa tîwîrî tiwasen o paapa tîwîrî tiwasen
o paapa tîwîrî tiwasen o paapa tîwîrî tiwasen
o paapa tîwîrî tiwasen o paapa tîwîrî tiwasen
236 areruia 11
oh pai que é sempre procurado
pai aqui na terra
pai lá no céu
'
areruia 11 237
Partituras 239
240
241
242
243
244
245
246
247
248
249
250
251
252
253
254
255
256
257
258
259
260
261
262
263
264
265
266
267
268
269
270
271
272
273
274
275
276
277
278
279
280
281
282
283
284
285
286
287
288
289
290
291
292
293
294
295
296
297
298
299
300
301
302
303
304
305
306
307
308
309
310
311
312
313
314
315
316
317
318
319
Macuxi vivo Manaaka e Yauyo
Fotos: Devair Antônio Fiorotti
Formato:
21 x 27,5 cm
Tipologia:
Book Antiqua
Bookman Old Style
Papel
Couchê super fosco 150g (miolo)