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Capa
Folha de rosto
Sumário
Introdução
. Visão geral
. Detalhes
. Méritos “naturalizados”
Agradecimentos
Agradecimentos da edição comemorativa de 25 anos
Notas
Sobre o autor
Créditos
Este livro é dedicado às pessoas negras, vermelhas, marrons e
amarelas que resistiram ao contrato racial, e aos brancos renegados e
traidores da raça que o recusaram.
Prólogo
TOMMIE SHELBY
O requerimiento é o exemplo prototípico de texto justi cador da conquista. Informando aos indígenas
que suas terras foram con adas por Cristo ao papa, e deste aos reis da Espanha, o documento oferece
liberdade da escravidão para os indígenas que aceitassem o domínio espanhol. Mesmo que tenha sido
inteiramente incompreensível para um não falante de espanhol, ler o documento fornecia justi cativa
su ciente para a desapropriação da terra e a escravização imediata do povo indígena. O famoso
comentário de [Bartolomé de] Las Casas sobre o requerimiento foi que não se sabe se “se deve rir ou
chorar do absurdo disso”. […] Embora pareça respeitar os “direitos”, o requerimiento, de fato, os
retira.21
um domínio absoluto sobre todos os territórios posteriormente ocupados por eles, não em virtude de
conquista ou cessão pelos índios nativos, mas como um direito adquirido pela descoberta. […] O título
dos índios não foi tratado como um direito de propriedade e domínio, mas como um mero direito de
ocupação. Na condição de in éis, pagãos e selvagens, não lhes foi permitido possuir as prerrogativas
pertencentes a nações absolutas, soberanas e independentes. O território no qual eles vagavam e que
eles usavam para seus propósitos temporários fugazes, era, para os cristãos, considerado habitado
apenas por animais bravios.26
Da mesma forma, o contrato de escravidão deu aos europeus o direito de
escravizar nativos americanos e africanos em um momento em que a
escravidão estava morta ou morrendo na Europa, com base em doutrinas da
inferioridade inerente a esses povos. Uma declaração clássica do contrato de
escravidão é a decisão de 1857 do caso Dred Scott versus Sanford pelo
presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos Roger Taney, que a rmou
que os negros,
por mais de um século, foram considerados seres de uma ordem inferior, e completamente inaptos
para se associar com a raça branca, seja em relações sociais ou políticas; e tão inferiores que eles não
tinham direitos que o homem branco fosse obrigado a respeitar; e que o negro poderia justa e
legalmente ser reduzido à escravidão para seu benefício […]. Essa opinião, naquela época, era xa e
universal entre a porção civilizada da raça branca. Era considerada um axioma tanto na moral quanto
na política, que ninguém pensava em contestar nem supunha estar aberto a contestação.27
Sem cair nos devaneios rousseaunianos, vale a pena notar que a associação implica um contrato, e essa
ideia, embora nada mais do que uma ilustração, é aplicada de forma mais apropriada à coexistência de
duas sociedades profundamente diferentes, postas brusca e arti cialmente em contato, do que à única
sociedade formada por processos naturais que Rousseau imaginou. É assim que os termos desse
acordo implícito podem ser concebidos. O conquistador europeu traz ordem, previsibilidade e
segurança a uma sociedade humana que, embora aspire ardentemente a esses valores fundamentais
sem os quais nenhuma comunidade pode progredir, ainda carece da aptidão para alcançá-los a partir
de si mesma. […] Com esses instrumentos mentais e materiais, que lhes faltava e agora recebe, essa
sociedade passa a ter a noção e a ambição de uma existência melhor e os meios para alcançá-la. Nós
lhe obedeceremos, dizem os sujeitados, se você começar se comprovando digno. Nós lhe
obedeceremos se você conseguir convencer-nos da superioridade da civilização da qual tanto fala.28
como resultado, [eles são] incapazes de fazer a conexão entre a crueldade prolongada e sórdida de
práticas como escravidão, opressão colonialista e racial e sujeição imperial, por um lado, e a poesia, a
cção, a loso a da sociedade que se envolve nessas práticas, por outro.29
a suposição de que a Europa funciona de forma autônoma de outras partes do mundo; de que a
Europa é sua própria origem, destino nal e agente; e de que a Europa e os povos de ascendência
europeia nas Américas e em outros lugares não devem nada ao resto do mundo.47
Sem surpresa, os teóricos negros e do Terceiro Mundo têm
tradicionalmente discordado dessa noção de feliz dispensação europeia divina
ou natural. Eles alegaram, ao contrário, que existe uma ligação causal decisiva
entre o avanço europeu e o destino infeliz do resto do mundo. Um exemplo
clássico de teorização de meio século atrás foi o Capitalismo e escravidão, do
historiador caribenho Eric Williams, argumentando que os lucros da
escravidão africana ajudaram a tornar possível a Revolução Industrial, de
modo que as explicações internalistas estavam fundamentalmente
equivocadas.48 E em anos recentes, com a descolonização, a ascensão da Nova
Esquerda nos Estados Unidos e a entrada de novas vozes alternativas na
academia, essa crítica se aprofundou e se ampliou. Há variações nas posições
dos autores — por exemplo, Walter Rodney, Samir Amin, André Gunder
Frank, Immanuel Wallerstein49 —, mas o tema básico é que a exploração do
império (as barras das grandes minas de ouro e a prata do México e do Peru,
os lucros da escravidão nas plantations, as fortunas obtidas pelas empresas
coloniais, o estímulo social e econômico geral proporcionado pela abertura do
“Novo Mundo”) foi, em maior ou menor medida, crucial para permitir e
consolidar a decolagem do que antes era um remanso econômico. A Europa
encontrava-se longe de estar especialmente destinada a assumir a hegemonia
econômica; havia uma série de centros na Ásia e na África, em um nível
comparável de desenvolvimento e que poderia potencialmente ter evoluído da
mesma maneira. Mas a ascensão europeia fechou esse caminho de
desenvolvimento para os outros, porque os inseriu à força em uma rede
colonial cujas relações de exploração e cujos mecanismos extrativos impediam
o crescimento autônomo.
Em geral, então, o colonialismo “está no centro” da ascensão da Europa.50
A unidade econômica de análise precisa ser a Europa como um todo, uma vez
que nem sempre as nações colonizadoras diretamente se bene ciaram no
longo prazo. A Espanha imperial, por exemplo, ainda de caráter feudal, sofreu
uma in ação maciça de suas importações de ouro e prata. Mas, através do
comércio e do intercâmbio nanceiro, outros se lançaram no caminho
capitalista, como a Holanda, e lucraram. As rivalidades nacionais internas
continuaram, claro, mas essa identidade comum baseada na exploração
transcontinental do mundo não europeu seria, em muitos casos, politicamente
crucial, gerando um sentido de Europa como entidade cosmopolita engajada
em um projeto comum, subscrito pela raça. Como Victor Kiernan a rma:
Todos os países dentro da órbita europeia se bene ciaram, no entanto, como Adam Smith apontou,
das contribuições coloniais para um estoque comum de riqueza, ainda que discutissem amargamente
sobre a propriedade de um território ou outro. […] Havia um sentido em que todos os europeus
compartilhavam um senso elevado de poder gerado pelos sucessos de qualquer um deles, bem como
no conjunto de riquezas materiais […] que as colônias produziam.51
Além disso, o foco analítico na riqueza, e não na renda, expõe quão ilusória
é a tão alardeada ascensão de uma “classe média negra”: “Os negros de classe
média, por exemplo, ganham setenta centavos a cada dólar ganho pelos
brancos de classe média, mas possuem apenas quinze centavos a cada dólar de
riqueza retida pelos brancos de classe média”. Essa enorme disparidade entre a
riqueza branca e negra não é remotamente contingente, acidental, fortuita; é
o resultado direto da política estatal americana e do conluio dos cidadãos
brancos com ela. Com efeito, “materialmente, brancos e negros constituem
duas nações”,55 sendo a nação branca constituída pelo contrato racial
americano em uma relação de exploração racial estruturada com a nação
negra (e, é claro, historicamente, também a vermelha).
Uma coleção de artigos de debates organizados na década de 1980 pela
National Economic Association, a organização pro ssional de economistas
negros, fornece alguns insights sobre a mecânica e a magnitude dessas
transferências exploratórias e as negações da oportunidade de acumular
capital material e humano. Ela tem como título The Wealth of Races (A riqueza
das raças) — um tributo irônico ao famoso livro de Adam Smith, A riqueza das
nações — e analisa as diferentes variedades de discriminação a que os negros
foram submetidos: escravização, discriminação no emprego, discriminação
salarial, discriminação de promoção, poder de discriminação do monopólio
branco contra o capital negro, discriminação racial de preços de bens de
consumo, habitação, serviços, seguros etc.56 Muitos deles, por sua própria
natureza, são difíceis de quanti car; além disso, há custos de angústia e
sofrimento que nunca podem ser compensados. No entanto, aqueles que se
prestam ao cálculo oferecem alguns números notáveis. (Infelizmente, os
números estão datados; os leitores devem multiplicá-los por um fator que leve
em conta quinze anos de in ação.) Se alguém zesse um cálculo dos
benefícios acumulados (através de juros compostos) da discriminação do
mercado de trabalho durante o período de quarenta anos de 1929 a 1969 e
ajustasse à in ação, então, em dólares de 1983, o valor seria superior a 1,6
trilhão.57 Uma estimativa para o total de “renda desviada” da escravização, de
1790 a 1860, composta e traduzida em dólares de 1983, renderia a soma de 2,1
trilhões a 4,7 trilhões.58 E se alguém tentasse calcular o valor acumulado, com
juros compostos, do trabalho escravo não remunerado antes de 1863, do
pagamento insu ciente desde 1863 e da recusa de oportunidade de aquisição
de terra e recursos naturais disponíveis para os colonos brancos, então o
montante total necessário para compensar os negros “poderia tomar mais do
que toda a riqueza dos Estados Unidos”.59
Portanto, isso dá uma ideia da centralidade da exploração racial para a
economia dos Estados Unidos e as dimensões da recompensa para seus
bene ciários brancos do contrato racial de uma nação. Mas essa mesma
centralidade e essas mesmas dimensões tornam o tópico tabu, praticamente
indiscutível nos debates sobre justiça da maioria das teorias políticas brancas.
Se há essa reação contra a ação a rmativa, qual seria a resposta à demanda
pelos juros sobre os quarenta acres e uma mula não pagos? Essas questões não
podem ser levantadas porque vão ao cerne da natureza real do regime político
e sua estruturação pelo contrato racial. Os debates na teoria moral branca
sobre a justiça no Estado devem ter, portanto, inevitavelmente, um ar um
tanto farsesco, uma vez que ignoram a injustiça central sobre a qual o Estado
repousa. (Não é de espantar que um contratualismo hipotético que foge das
circunstâncias reais da fundação do regime político seja o preferido!)
Tanto globalmente quanto dentro de nações particulares, então, os brancos,
os europeus e seus descendentes continuam a se bene ciar do contrato racial,
que cria um mundo à sua imagem cultural, Estados políticos favorecendo
diferencialmente seus interesses, uma economia estruturada em torno da
exploração racial de outros e uma psicologia moral (não apenas entre brancos,
mas algumas vezes entre não brancos também) inclinada consciente ou
inconscientemente a privilegiá-los, tomando o status quo do direito racial
diferencial como normativamente legítimo, e não algo a ser investigado de
maneira mais aprofundada.
[1] O termo utilizado no original, sojourner colonies, remete à classi cação introduzida por A. Grenfell
Price em 1963 no livro The Western Invasions of the Pacific and Its Discontents. Na obra, citada por Mills na
nota 35 deste capítulo, Price critica a classi cação das colônias em colônias de povoamento ou de
exploração. Em substituição, sugere critérios demográ cos, de acordo com os quais os colonizadores
seriam classi cados como “ocupantes migrantes” (migrant settlers) e “peregrinos migrantes” (migrant
sojourners). Os últimos estabeleceriam as colônias de peregrinos (sojourner colonies), caracterizadas por
grande população nativa subjugada — mas não eliminada — e explorada pelos colonizadores. (N. T.)
[2] Personhood denota o caráter de ser uma pessoa. Mais adiante, o autor introduzirá a noção de
subpessoalidade, derivada da noção de pessoalidade. (N. T.)
[3] Na língua inglesa, esses termos são formas derrogatórias para se referir a diferentes grupos não
brancos. Dada a especi cidade contextual de cada termo e, em muitos casos, a ausência de um correlato
em português, optamos por manter os termos originais. Nier e injun, em particular, são palavras
repetidamente usadas no texto. A primeira, que se refere a pessoas negras, em alguns trabalhos é
traduzida como “neguinho” ou “crioulo”. Aqui, manteremos o original por entender que as traduções
não captam a ofensividade do termo nier. Já a palavra injun é um termo antigo e derrogatório usado
para se referir às populações nativas dos Estados Unidos. No caso de brown, preferimos “marrom”
porque, a exemplo de “vermelho” e “amarelo”, encerra numa cor a diversidade de grupos humanos
racializados. Uma tradução alternativa seria “pardo”, designação também cromática, mas que, no
contexto brasileiro, é vinculada à ideia de mestiçagem, e não é usada para se referir a grupos como os
vietnamitas, indianos ou árabes. (N. T.)
[4] A solução de 60% se refere a um acordo estabelecido em 1787 segundo o qual, para ns de contagem
populacional, apenas 60% da população escravizada seria considerada. Posteriormente, isso seria
interpretado como se as pessoas escravizadas fossem apenas 60% humanas. (N. T.)
[5] Referência às Leis Jim Crow, um conjunto de leis estaduais e locais que impunham a segregação racial
em escolas, transporte público, instalações sanitárias etc. no Sul dos , aplicadas entre 1877 e 1964. O
nome das leis veio da música “Jump Jim Crow”, cantada pelo ator Thomas Rice, que se pintava de preto.
Criou-se assim a expressão jim crow para se referir pejorativamente às pessoas negras. (N. E.)
2. Detalhes
Uma vez que os africanos não podiam produzir nada de valor, a técnica da estatuária iorubá deve ter
vindo dos egípcios; a arte do Benin deve ser uma criação portuguesa; os feitos arquitetônicos do
Zimbábue foram obra de técnicos árabes; e o estadismo hauçá e buganda foram invenções de
invasores brancos.7
um pouco de Humanidade, além de sua forma, ignorante da Civilidade, das artes, da religião; mais
brutais que as bestas que eles caçam, mais selvagens e menos masculinos [do que] aquele país
selvagem não habitado, que eles ocupam em vez de habitar; cativados também pela tirania de
Satanás.42
“Talento” é aquilo que, por “natureza”, garante para o “branco”, na ordem racial, racional e moral de
Kant, a posição mais elevada acima de todas as criaturas, seguido pelo “amarelo”, o “preto” e depois o
“vermelho”. A cor da pele, para Kant, é evidência de “talento” superior, inferior ou de nenhum
“dom”, ou a capacidade de desenvolver a razão e a perfectibilidade racional-moral por meio da
educação […]. Não se pode, portanto, argumentar que a cor da pele, para Kant, era apenas uma
característica física. É, antes, evidência de uma qualidade moral que não muda nem pode ser mudada.
Os europeus, para surpresa de ninguém, presumo, têm todos os talentos
necessários para serem moralmente autoeducados; há alguma esperança para
os asiáticos, embora não tenham a capacidade de desenvolver conceitos
abstratos; os africanos, inatamente preguiçosos, podem pelo menos ser
educados como servos e escravos através da instrução da vara de bambu (Kant
dá alguns conselhos úteis sobre como bater nos negros com e ciência); e os
miseráveis nativos americanos são simplesmente um caso perdido: não podem
ser educados de forma alguma. Então, em completa oposição à imagem de
seu trabalho que chegou até nós e é ensinado de forma padrão em cursos
introdutórios de ética, a pessoalidade plena, para Kant, de fato, depende da
raça. Como resume Eze: “A pessoa negra, por exemplo, pode ter a
humanidade plena legitimamente negada, já que a humanidade plena e
‘verdadeira’ se encontra apenas no europeu branco”.69
O furor recente sobre Paul de Man70 e, décadas antes, Martin Heidegger,
por cumplicidade com os nazistas, portanto, precisa ser colocado em
perspectiva. Esses são essencialmente jogadores menores, de várzea. É preciso
distinguir a teoria da prática real, claro, e não estou dizendo que Kant teria
endossado o genocídio. Mas o fato embaraçoso para o Ocidente branco (que sem
dúvida explica sua ocultação) é que seu teórico moral mais importante dos últimos
trezentos anos é também o teórico fundamental no período moderno da divisão entre
Herrenvolk e Untermenschen, pessoas e subpessoas, que posteriormente seria
explorada pela teoria nazista. A teoria moral moderna e a teoria racial moderna
têm o mesmo pai.
O contrato racial, portanto, subjaz ao contrato social, é um operador visível
ou oculto que restringe e modi ca o escopo de suas prescrições. Mas, assim
como há variação sincrônica e diacrônica, existem muitas versões diferentes
ou instanciações locais do contrato racial, e elas evoluem ao longo do tempo,
de modo que a própria força efetiva do contrato social se modi ca, e o tipo de
dissonância cognitiva entre os dois se altera. (Essa mudança tem implicações
para a psicologia moral dos signatários brancos e seus padrões característicos
de percepção e cegueira.) O contrato social é (em sua versão histórica original)
um evento discreto especí co que funda a sociedade, mesmo que (através, por
exemplo, das teorias lockeanas do consentimento tácito) as gerações
subsequentes continuem a rati cá-lo de forma contínua. Em contraste, o
contrato racial está sendo continuamente reescrito para criar diferentes formas de
regime racial. Uma periodização global, uma visão temporal geral da evolução
do contrato racial, destacaria, em primeiro lugar, a divisão crucial entre o
tempo antes e o tempo depois da institucionalização da supremacia branca
global. (Assim, o livro de Janet Abu-Lughod sobre o sistema mundial medieval
dos séculos / é intitulado Before European Hegemony.)71 O período
posterior seria subdividido em período de supremacia branca formal e jurídica
(a época da conquista europeia, da escravização africana e do colonialismo
europeu, da autoidenti cação racial branca explícita e da hegemonia
amplamente indiscutível das teorias racistas) e o período atual da supremacia
branca de facto, quando o domínio dos brancos é, na maior parte, não mais
constitucional e juridicamente consagrado, mas sim uma questão de privilégio
social, político, cultural e econômico baseado no legado da conquista.
No primeiro período, o período da supremacia branca de jure, o contrato
racial era explícito, as instanciações características — o contrato de
expropriação, o contrato escravo, o contrato colonial — deixavam claro que os
brancos eram a raça privilegiada e que o contrato social igualitário se aplicava
apenas a eles. (Cognitivamente, então, esse período teve a grande virtude da
transparência social: a supremacia branca foi abertamente proclamada. Não era
preciso procurar um subtexto, porque ele estava lá no próprio texto.) No
segundo período, por outro lado, o contrato racial produziu seu próprio
apagamento da existência formal. O escopo dos termos do contrato social foi
formalmente estendido para se aplicar a todos, de modo que “pessoas” não
seja mais coextensivo a “brancos”. O que caracteriza esse período (que é, claro,
o presente) é a tensão entre o privilégio branco contínuo de facto e essa
extensão formal de direitos. O contrato racial continua a se manifestar, claro,
em acordos locais não o ciais de vários tipos (pactos restritivos, contratos de
discriminação no mercado de trabalho, decisões políticas sobre alocação de
recursos etc.). Mas, mesmo que deixássemos isso de lado, uma manifestação
crucial é simplesmente o fracasso em formular certas perguntas, tomando como
status quo e ponto de partida a presente distribuição, informada pela cor da
pele, de riqueza, pobreza, propriedade e oportunidades, a pretensão de que a
igualdade formal e jurídica é su ciente para remediar desigualdades criadas
em uma base de várias centenas de anos de privilégio racial, e que questionar
essa base é uma transgressão dos termos do contrato social. (Se bem que, em
certo sentido, de fato é uma transgressão, na medida em que o contrato racial
é o verdadeiro signi cado do contrato social.)
No contexto global, o contrato racial efetua uma derradeira e paradoxal
normatização e racialização do espaço, uma caracterização no regime de certos
espaços como conceitual e historicamente irrelevantes para o
desenvolvimento europeu e do euromundo, de modo que esses espaços
racializados são categorizados como apartados da rota da civilização (ou seja,
o projeto europeu). Fredric Jameson escreveu:
Colonialismo signi ca que um segmento estrutural signi cativo do sistema econômico como um todo
está agora localizado em outro lugar, além da metrópole, fora da vida cotidiana e da experiência
existencial do país de origem […]. Essa disjunção espacial tem como consequência imediata a
incapacidade de compreender a forma como o sistema funciona como um todo.72
Após a vitória, houve represálias selvagens. Pela primeira vez em tal escala, mas não a última, o
Ocidente estava tentando sufocar o Oriente com medo. […] Alguns dos fatos que chegaram até nós
quase nos fazem descrer, mesmo depois dos horrores da própria história europeia do século .92
Cabe entender o racismo como ideologia como algo que mira tanto a
mente dos não brancos quanto a dos brancos, inculcando a subjugação. Se o
contrato social exige que todos os cidadãos e pessoas aprendam a respeitar a si
mesmos e uns aos outros, o contrato racial prescreve autoaversão e deferência
racial não brancas aos cidadãos brancos. O triunfo nal dessa educação é que
eventualmente se torna possível caracterizar o contrato racial como
“consensual” e “voluntarista”, mesmo para os não brancos.
[1] Termos utilizados para designar, em cidades segregadas, as regiões habitadas por brancos e as
habitadas por não brancos. (N. T.)
[2] é um acrônimo para White Anglo-Saxon Protestant, ou seja, Branco Anglo-Saxão Protestante. (N.
T.)
3. Méritos “naturalizados”
Pois se [um escritor da época] tivesse, de maneira consistente, considerado os índios como pessoas
com uma psicologia própria, isso teria derrubado seu mundo. Teria signi cado reconhecer que “o
estado de natureza” realmente abrigava pessoas de pleno direito e que tanto ele quanto a querida
“sociedade civil” haviam começado como invenções letais da imaginação europeia.13
Então, seu plano era apenas defender essa inspiradora tradição ocidental,
esse “direito de dominar (Herrenrecht)” racial, esse “estado mental […] que
conquistou o mundo” para a raça branca, uma vez que “desta visão política
evoluiu a base para a tomada econômica do resto do mundo”.38 Em outras
palavras, ele se via simplesmente fazendo em casa o que seus companheiros
europeus vinham fazendo havia muito tempo no exterior.
Finalmente, a teoria do contrato racial, ao separar a brancura como
fenótipo/classi cação racial da Branquitude como sistema político-econômico
comprometido com a supremacia branca, abre um espaço teórico para o
repúdio branco ao contrato. (Pode-se então distinguir “ser branco” de “ser
Branco”.)
Há aqui um interessante ponto de contraste com o contrato social. Uma
objeção inicial óbvia à noção de que a sociedade está baseada em um
“contrato” era que, mesmo que um contrato fundante tivesse existido, ele não
vincularia as gerações posteriores, que não o tinham assinado. Houve várias
tentativas de contratualistas de contornar esse problema, sendo a mais
conhecida a noção de Locke de “consentimento tácito”.39 A ideia é que, se
você escolher como adulto permanecer em seu país de nascimento e lançar
mão de seus benefícios, então você consentiu “tacitamente” em obedecer ao
governo e, portanto, ser sujeito ao contrato. Mas David Hume é
reconhecidamente mordaz sobre essa a rmação, dizendo que a noção de
consentimento tácito é oca onde não há possibilidade real de saída mudando-
se para um estado de natureza que não existe mais ou sendo capaz de emigrar
quando você não tem habilidades especí cas e nenhum outro idioma além de
sua língua materna.40 Você ca porque não tem escolha real.
Mas para o contrato racial, é diferente. Existe uma escolha real para os
brancos, embora seja reconhecidamente uma escolha difícil. A rejeição do
contrato racial e das desigualdades normatizadas do regime branco não exige
que se deixe o país, mas que se manifeste e se lute contra os termos do
contrato. Assim, nesse caso, juízos morais/políticos sobre o “consentimento”
de alguém a respeito da legitimidade do sistema político e das conclusões
sobre esse alguém ter efetivamente se tornado signatário do “contrato” são
apropriados — e também os juízos de culpabilidade desse alguém. Ao
inquestionavelmente “se deixar levar”, ao aceitar todos os privilégios da
branquitude com concomitante cumplicidade com o sistema da supremacia
branca, pode-se dizer que se consentiu com a Branquitude.
E, de fato, sempre houve brancos louváveis — anticolonialistas,
abolicionistas, opositores do imperialismo, ativistas dos direitos civis,
opositores do apartheid — que reconheceram a existência e a imoralidade da
Branquitude como sistema político, desa aram sua legitimidade e, na medida
do possível, recusaram o contrato. (Visto que a mera cor da pele continuará
automaticamente a privilegiá-los, claro, essa identi cação com os oprimidos
geralmente é apenas parcial.) Assim, o interessante fenômeno moral/político
do renegado branco, o traidor da raça, na língua da Klan (preciso o su ciente na
medida em que “raça” aqui denota Branquitude),41 o explorador colonial que
“se torna nativo”, o soldado na Indochina francesa que contrai le mal jaune, o
distúrbio amarelo (a doença perigosa da “afeição… à paisagem, às pessoas… e
à cultura da Indochina”),42 o amante do nier, do injun ou do judeu. Esses
indivíduos traem o regime branco em nome de uma de nição mais ampla da
pólis — “Traição à branquitude é lealdade à humanidade”43 —, tornando-se
assim “renegados dos Estados Unidos, traidores de seu país e da civilização”,
“um injun branco, e não há nada mais desprezível”.44 Pois, como o termo
expressa, onde a moralidade foi racializada, a prática de uma ética
genuinamente daltônica requer o repúdio da posição Herrenvolk e da
epistemologia moral que a acompanha, provocando assim a condenação
moral apropriada dos que defendem a lealdade racial e dos signatários brancos
que não as repudiaram.
O nível de comprometimento e sacrifício, claro, irá variar. Alguns
escreveram denúncias da verdade oculta do contrato racial — O paraíso
destruído, de Las Casas: literatura abolicionista; o apelo do escritor francês
Abbé Raynal pela revolução dos escravos negros; os escritos de Mark Twain
para a Liga Anti-Imperialista (geralmente suprimidos por seus biógrafos como
um constrangimento, como observa Chomsky);45 o jornalismo de oposição de
princípios de Sartre e Simone de Beauvoir contra a guerra colonial de seu país.
Alguns tentaram salvar algumas de suas vítimas — a Underground Railroad;
Sociedades de Proteção dos Aborígines; os carregamentos de judeus de Oskar
Schindler; Don Macleod, o homem branco australiano “aceito como aborígine
honorário, que ajudou a organizar a primeira greve aborígine em Pilbara em
1946”;46 Hugh Thompson, o piloto de helicóptero americano que ameaçou
atirar em seus companheiros de exército, a menos que parassem de massacrar
civis vietnamitas em My Lai.47 Alguns realmente deram suas vidas pela luta —
o revolucionário americano branco antiescravidão John Brown; os membros
brancos do Congresso Nacional Africano que morreram tentando abolir o
apartheid. Mas o simples fato de sua existência mostra o que era possível,
colocando em contraste e abrindo para juízo moral o comportamento de seus
companheiros brancos, que optaram, em vez disso, por aceitar a Branquitude.
O contrato racial sempre foi reconhecido pelos não brancos como o
verdadeiro determinante da (maioria) da prática moral/política
branca e, portanto, como o verdadeiro acordo moral/político a ser
contestado
Qual o tratado que os brancos mantiveram e o homem vermelho quebrou? Nenhum. Qual o tratado
que o homem branco já fez conosco e que eles cumpriram? Nenhum. Quando eu era menino, os
Sioux eram donos do mundo; o sol nascia e se punha em suas terras. Onde estão nossas terras? Quem
é o dono delas? Que homem branco pode dizer que eu roubei sua terra ou um centavo de seu
dinheiro? No entanto, eles dizem que eu sou um ladrão… Que lei eu violei? É errado eu amar os
meus? É errado para mim porque minha pele é vermelha?
Ward Churchill, outro nativo americano, caracteriza os colonos europeus
como uma “raça mestra” autoconcebida. David Walker reclama que os
brancos consideram os negros como “não sendo da família humana”,
forçando os negros “a provarem para eles que nós mesmos somos homens”.
W. E. B. Du Bois representa os negros como um “tertium quid”, “em algum
lugar entre homens e gado”, comenta que “Liberdade, Justiça e Direito” estão
marcados como “Somente para os Brancos” e sugere que “a a rmação ‘eu sou
branco’” está se tornando “o único princípio fundamental de nossa
moralidade prática”. Richard Wright analisa “a ética de viver o jim crow”.
Marcus Garvey conclui que os negros são “uma raça sem respeito”. Jawaharlal
Nehru a rma que a política britânica na Índia é “a do Herrenvolk e da raça
mestra”. Martin Luther King Jr. descreve o sentimento de “lutar para sempre
contra um sentido degenerativo de não ser ‘ninguém’”. Malcolm X a rma que
a América “não só nos privou do direito de sermos cidadãos, ela nos privou do
direito de sermos seres humanos, do direito de sermos reconhecidos e
respeitados como homens e mulheres […]. Nós estamos lutando pelo
reconhecimento como seres humanos”. Frantz Fanon mapeia um mundo
colonial dividido entre “duas espécies diferentes”, uma “raça governante” e
nativos “zoológicos”. Aimé Césaire a rma que “o colonizador, […] a m de
aliviar sua consciência, adquire o hábito de ver o outro homem como um
animal […] colonização = ‘coisi cação’”. Aborígines australianos, em uma
declaração de protesto de 1982 nos Jogos da Commonwealth em Brisbane,
apontam que, “desde a invasão Branca, nossa humanidade está sendo
degradada e nossa história distorcida por estranhos. […] Diante do Mundo,
acusamos a Austrália Branca (e sua Mãe, a Inglaterra) de crimes contra a
humanidade e o planeta. Os últimos dois séculos de colonização são prova de
nossa acusação. Por meio desta, exigimos mais uma vez o reconhecimento de nossa
humanidade e de nossos direitos à terra”.49 A comunalidade moral central que
une todas as suas experiências é a realidade da subordinação racial,
necessariamente gerando uma topogra a moral diferente daquela examinada
no discurso ético branco.
De modo correlato, o regime era geralmente pensado em termos raciais,
dado que os brancos governavam, e essa perspectiva se tornaria global no
período da administração colonial formal. A teoria política, em parte, versa
sobre quem são os principais atores, e, para o sistema político não
reconhecido, eles não são os indivíduos atômicos do pensamento liberal
clássico nem as classes da teoria marxista, são raças. As tentativas de vários
povos nativos e coloniais (geralmente malsucedidas, insu cientes e tardias) de
forjar uma unidade racial — pan-indianismo, pan-africanismo, pan-arabismo,
pan-asianismo, pan-islamismo — surgiram em resposta a uma unidade branca
já alcançada, um pan-europeísmo formalizado e incorporado pelos termos do
contrato racial.
No período da supremacia branca global de jure, do colonialismo e da
escravidão, essa solidariedade foi claramente percebida pelos brancos também.
“Que raça é tudo, isso é simplesmente um fato”, escreve o escocês Robert
Knox em The Races of Men (1850);50 e as teorias da necessidade de luta racial,
guerra racial, contra as raças subordinadas são apresentadas como óbvias. O
trabalho de Darwin suscitou esperanças em alguns setores, de que a seleção
natural (talvez com uma pequena ajuda de seus amigos) varreria as raças
inferiores remanescentes, como já havia feito providencialmente nas Américas
e na Tasmânia, para que o planeta como um todo pudesse ser liberado para o
assentamento branco.51 E depois disso só o céu seria o limite. Na verdade,
mesmo o céu não seria o limite, pois haveria sempre o sistema solar. Cecil
Rhodes sonhou que talvez pudesse “anexar os planetas” para a Grã-Bretanha:
“Onde há espaço, há esperança”.52
Mas, infelizmente, esse nobre sonho não se realizaria. Mesmo com
incentivo, os não brancos não morreram rápido o su ciente. Assim, os
brancos tiveram que se contentar com o domínio colonial sobre as populações
nativas em teimoso crescimento, enquanto, claro, mantinham um olhar atento
tanto para a rebelião quanto para as noções subversivas de autogoverno.
Vejam os vários perigos de cor — vermelho (ou seja, nativo americano), preto
e amarelo — que assombraram a imaginação europeia e euro-implantada. “A
Europa”, comenta Kiernan, “pensou em sua identidade em termos de raça ou
cor e se atormentou com temores do perigo amarelo ou do perigo negro —
efeitos bumerangue, como poderiam ser chamados, de um perigo branco do
qual os outros continentes estavam sofrendo de modo mais tangível”.53 O
quadro político é bem explicitamente baseado na noção de que os brancos em
todos os lugares têm um interesse comum em manter a supremacia branca
global contra insurreições concebidas em termos raciais. Na virada do século,
os europeus estavam preocupados com o “vasto amontoado de formigas”,
cheio de “formigas-soldados” da China, enquanto “temores semelhantes
estavam no ar sobre um enorme exército negro”, ameaçando uma guerra
racial de vingança liderada por “Napoleões escuros”.54
Embora houvesse aberturas ocasionais para a vantagem nacional
estratégica, a solidariedade racial branca internacional foi geralmente
demonstrada nas ações conjuntas para suprimir e isolar rebeliões de escravos e
levantes coloniais: o boicote ao Haiti, a única revolução escrava bem-sucedida
na história (e, não coincidentemente, hoje o país mais pobre do hemisfério
ocidental), a intervenção comum contra a rebelião dos Boxers de 1899-1900 na
China, a preocupação suscitada pela vitória japonesa de 1905 sobre a Rússia. Já
no início do século , livros ainda eram publicados com títulos de
advertência, como The Passing of the Great Race [A passagem da grande corrida]
e The Rising Tide of Color Against White World Supremacy [A crescente onda de
cores contra a supremacia do mundo branco].55 As diferenças e os con itos
intraeuropeus eram reais o su ciente, mas seriam rapidamente postos de lado
diante da ameaça não branca:
No curso de suas rivalidades, os europeus trocaram muitas palavras duras e às vezes abusaram uns dos
outros para agradar um povo não europeu. […] Mas quando o caso era de qualquer convulsão
colonial séria, os homens brancos sentiram seu parentesco, e a Europa se uniu. […] Acima de tudo, e
de forma muito notável, apesar das inúmeras crises sobre reivindicações rivais, os países europeus
conseguiram, a partir da Guerra da Independência americana em diante, evitar qualquer guerra
colonial entre si.56
[1] Segundo Gates Jr. (ver nota 83 deste capítulo), Signifyi(g) é um modo de expressar, relacionar e
entender ideias que é parte fundamental da tradição literária negra norte-americana. Para ele:
“Signifyin(g) é um tropo no qual estão reunidos muitos outros tropos retóricos, incluindo metáfora,
metonímia, sinédoque e ironia (o tropo mestre), e também hipérbole, litotes e metalepse […]. A essa
lista poderíamos facilmente adicionar aporia, quiasmo e catacrese, sendo todas elas usadas no ritual do
Signifyin(g)” (The Signifying Monkey, p. 52).
Agradecimentos
A história que inspira este pequeno livro é antiga, e há muito tempo eu tenho
pensado sobre essa história e como incorporá-la em um cenário losó co. Ao
longo do caminho, incorri em muitas dívidas, algumas das quais certamente
esqueci, e essa lista de agradecimentos é apenas parcial.
Em primeiro lugar, claro, à minha família: meus pais, Gladstone e
Winnifred Mills, que me criaram para prestar igual respeito a pessoas de todas
as raças; meu irmão, Raymond Mills, e meu primo, Ward Mills, pela
conscientização; meu tio e minha tia, Don e Sonia Mills, por seu papel na luta
da Jamaica nos anos 1970 contra o legado do contrato racial global. Minha
esposa, Elle Mills, que apoiou meu trabalho desde o início, às vezes tendo mais
fé em mim do que eu mesmo.
Amigos especiais, passados e presentes, também devem ser citados:
agradeço a Bobs pelos velhos tempos; a Lois, uma amiga de fato, e uma amiga
para o que precisei; a Femi, companheiro terceiro-mundista, por inúmeras
conversas desde nossos dias juntos na pós-graduação sobre como a loso a na
universidade poderia se tornar menos acadêmica.
Horace Levy, meu primeiro professor de loso a, e por muitos anos a
unidade individual móvel de loso a do campus de Mona da West Indies
University, merece menção particular, assim como Frank Cunningham e
Danny Goldstick, da University of Toronto, que me receberam no programa
de pós-graduação do Departamento de Filoso a há mais tempo do que
qualquer um de nós faz questão de se lembrar. A con ança de John Slater em
mim e seu apoio ao meu progresso no doutorado, apesar da minha quase
inexistente formação no assunto na graduação, foram cruciais. A todos eles eu
sou grato.
Originalmente, comecei a trabalhar nessas questões em 1989, durante a
vigência de uma bolsa de pesquisa de verão para o corpo docente júnior da
University of Oklahoma. Um primeiro rascunho foi escrito no ano que passei
como pesquisador do Institute for the Humanities, da University of Illinois at
Chicago ( ), entre 1993 e 1994, e o rascunho nal foi concluído durante meu
período sabático no semestre da primavera de 1997. Tanto na minha
instituição anterior quanto na atual, tive a sorte de ter tido uma série de chefes
de departamento que apoiaram muito os pedidos de subsídios, bolsas de
estudo, viagens, licenças e anos sabáticos: John Biro e Kenneth Merrill na
University of Oklahoma; Richard Kraut, Dorothy Grover e Bill Hart na .
Quero declarar o quanto sou profundamente grato a eles por esse apoio. Além
disso, z inúmeros pedidos de ajuda a Charlotte Jackson e Valerie McQuay, as
inestimáveis assistentes administrativas do Departamento de Filoso a da , e
elas têm sido in nitamente pacientes e prestativas, facilitando muito o meu
trabalho.
Agradeço a Bernard Boxill, Dave Schweickart e Robert Paul Wol por suas
cartas de endosso à minha candidatura à bolsa do Humanities Institute da ,
que me permitiu dar início ao manuscrito original. Foi sugestão de Bob Wol ,
apoiado por Howard McGary Jr., que eu optasse por “um livro curto e
contundente”, acessível a um público de não lósofos. Espero que isso seja
contundente o su ciente para vocês, pessoal.
Uma versão anterior e mais curta deste livro foi lida e criticada por
membros do Politically Correct Discussion Group of Chicago ( ); eu me
bene ciei das críticas de Sandra Bartky, Holly Gra , David Ingram e Olufemi
Taiwo. Jay Drydyk leu o manuscrito e deu contribuições e incentivos valiosos.
Também me bene ciei do feedback do público nas seguintes apresentações,
entre 1994 e 1996: no Institute for the Humanities, ; na Society for the
Humanities, Cornell University; um colóquio na Queen’s University; um
painel na reunião anual da Society for Phenomenology and Existential
Philosophy; e uma conferência intitulada “The Academy and Race”, na
Villanova University.
Tenho recebido, de forma consistente, encorajamento especial das teóricas
feministas no projeto: minha amiga Sandra Bartky, Paola Lortie, Sandra
Harding, Susan Babbitt, Susan Campbell e Iris Marion Young. Também
aprendi muito ao longo dos anos com a teoria política feminista, e,
obviamente, tenho uma dívida com Carole Pateman em particular. Meu foco
na raça, aqui, não deve ser entendido como se eu não reconhecesse a realidade
do gênero como um outro sistema de dominação. Alison Shonkwiler, minha
editora na Cornell University Press, cou muito entusiasmada com o
manuscrito desde a primeira leitura, e em grande parte sua convicção foi que
me convenceu de que havia de fato um livro aqui e de que eu deveria escrevê-
lo. Por sua energia e incentivo, e pelo olhar editorial aguçado que, sem dúvida,
fez deste um livro melhor do que poderia ser, expresso o meu profundo
apreço.
Finalmente, como um estranho em uma terra estranha, fui bem recebido
aqui pelo American Philosophical Association Committee on the Status of
Blacks in Philosophy. Gostaria de destacar e agradecer a Howard McGary Jr.,
Leonard Harris, Lucius Outlaw Jr., Bill Lawson, Bernard Boxill e Laurence
Thomas por me fazerem sentir em casa. Como um bene ciário de ação
a rmativa, eu não estaria na universidade americana hoje não fosse pelas lutas
dos negros americanos. Este livro é, em parte, um reconhecimento dessas
lutas e um tributo a elas — e, de modo mais geral, à tradição radical negra
internacional de resistência política que elas exempli cam.
C. W. M.
1997
Agradecimentos da edição comemorativa de 25 anos
[1] No original, color-blindness: termo em inglês para daltonismo, condição médica caracterizada pela
di culdade de diferenciar certas cores. Apesar do uso corrente de color-blindness para se referir a uma
suposta postura de não discriminação racial, o termo é frequentemente criticado por conta da
patologização implicada em seu uso. (N. T.)
[2] No original, Africana philosophy: o termo, em geral, se refere tanto à loso a africana quanto à
loso a afro-diaspórica. (N. T.)
Notas
Prólogo
1. Esses primeiros ensaios podem ser encontrados em: Charles W. Mills, Blackness Visible. Ithaca: Cornell
University Press, 2015; e From Class to Race: Essays in White Marxism and Black Radicalism. Washington
D. C.: Rowman & Little eld, 2003.
2. Alguns escritos importantes do movimento podem ser encontrados em: Kimble Crenshaw et al.
(Orgs.). Critical Race Theory: The Key Writings that Formed the Movement. Nova York: The New Press,
1995.
3. Ver Tommie Shelby, “Racial Realities and Corrective Justice: A Reply to Charles Mills”. Critical
Philosophy of Race, v. 1, n. 2, pp. 145-62, 2013.
Prefácio
1. O livro Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition, de Cedric J. Robinson (Chapel Hill:
University of North Carolina Press, 2000), originalmente cunhou a frase, embora seu conteúdo
permaneça contestado.
2. Leonard Harris, Philosophy Born of Strule: Anthology of Afro-American Philosophy from 1917. Dubuque,
Iowa: Kendall; Hunt, 1983.
3. John Rawls, A Theory of Justice: Revised Edition. Cambridge: Harvard University Press, 1999. [Ed. bras.:
Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000.]
4. Kwame Anthony Appiah, In my Father’s House: Africa in the Philosophy of Culture. Oxford: Oxford
University Press, 1993. [Ed. bras.: Na casa de meu pai: A África na filosofia da cultura. Trad. de Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.]
5. Appiah, In my Father’s House, p. 40. Em trabalhos subsequentes, ele modi caria um pouco sua posição
original.
6. Lucius T. Outlaw, On Philosophy and Race. Londres: Routledge, 1996.
7. Charles W. Mills, Black Rights/White Wrongs: The Critique of Racial Liberalism. Oxford: Oxford
University Press, 2017.
8. Tommie Shelby, Dark Ghettos: Injustice, Dissent, and Reform. Cambridge: Harvard University Press,
2016.
9. Ver, por exemplo, Amy Baehr (Org.), Varieties of Feminist Liberalism (Washington D. C.: Rowman &
Little eld Publishers, 2004); e Ruth Abbey, The Return of Feminist Liberalism (Londres: Routledge,
2011).
10. Para uma discussão crítica sobre mim e Shelby, ver Shatema Threadcraft, Intimate Justice: The Black
Female Body and the Body Politic. Oxford: Oxford University Press, 2016.
11. Carole Pateman, The Sexual Contract. Palo Alto, Calif.: Stanford University Press, 1988. [Ed. bras.: O
contrato sexual. Trad. de Marta Avancini. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.]; Stacy Cli ord Simplican,
The Capacity Contract: Intellectual Disability and the Question of Citizenship. Minneapolis: University of
Minnesota Press, 2015.
12. Para minhas próprias sugestões, ver minha Tanner Lecture de 2020, “Theorizing Racial Justice”, a ser
publicada em The Tanner Lectures on Human Values.
13. Michelle Goldberg, “The Campaign to Cancel Wokeness”. New York Times, 28 fev. 2021, SR, 3.
Introdução
1. Um relatório de 1994 sobre a loso a americana, “Status and Future of the Profession”, revelou que
“apenas um departamento em vinte (28 dos 456 departamentos relatados) tem pelo menos um afro-
americano [com estabilidade] no corpo docente, com um pouco menos tendo professores [com
estabilidade] hispano-americanos ou asiático-americanos (dezessete departamentos, em ambos os
casos). Apenas sete departamentos têm algum docente [com estabilidade] nativo americano”
(Proceedings and Addresses of The American Philosophical Association, v. 70, n. 2, p. 137, 1996).
2. Para uma visão geral, ver, por exemplo, Ernest Barker, Social Contract, Essays by Locke, Hume and
Rousseau (Oxford: Oxford University Press, 1960 [1947]); Michael H. Lessno , Social Contract, Atlantic
Highlands, N.J.: Humanities Press, 1986; Will Kymlicka, “The Social Contract Tradition”. In: P. Singer
(Org.). A Companion to Ethics, v. 186. Oxford: Blackwell Reference, 1991, pp. 186-96; Jean Hampton,
“Contract and Consent”. In: R. Goodin; P. Pettit (Orgs.). A Companion to Contemporary Political
Philosophy. Oxford: Blackwell Reference, 1993, pp. 379-93.
3. Os povos indígenas como um grupo global às vezes são chamados de “Quarto Mundo”. Ver Roger
Moody (Org.), The Indigenous Voice: Visions and Realities. 2. ed. Utrecht: International Books, 1993
[1988].
4. Para uma exceção louvável, ver Iris Marion Young, Justice and the Politics of Difference (Princeton:
Princeton University Press, 1990). Young se concentra explicitamente nas implicações da subordinação
de grupo para as concepções-padrão de justiça, incluindo grupos raciais.
5. O crédito por reviver a teoria do contrato social e, de fato, da loso a política pós-guerra em geral é
geralmente atribuído a John Rawls, A Theory of Justice: Revised Edition. Cambridge: Harvard University
Press, 1999.
6. Thomas Hobbes, Leviathan. In: Richard Tuck (Org.). Cambridge: Cambridge University Press, 1991
[Ed. bras.: Leviatã: Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. [S.l.]: LeBooks, 2019]; John
Locke, Two Treatises of Government. In: Peter Laslett (Org.). Cambridge: Cambridge University Press,
1988 [1960] [Ed. bras.: Dois tratados do governo civil. São Paulo: Leya, 2019]; Jean-Jacques Rousseau,
Discourse on the Origins and Foundations of Inequality Among Men. Nova York: Penguin Putnam Books,
1984 [Ed. bras.: Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Leya,
2020]; Rousseau, The Social Contract. Londres: Penguin, 1968 [Ed. bras.: Do contrato social ou princípios
do direito político. São Paulo: Companhia das Letras, 2011]; Immanuel Kant, The Metaphysics of Morals.
Cambridge: Cambridge University Press, 1991 [Ed. bras.: Metafísica dos costumes: Contendo a doutrina do
direito e a doutrina da virtude. Bauru: Edipro, 2020].
7. Em “Contract and Consent”, p. 382, Jean Hampton nos lembra que, para os teóricos clássicos, o
contrato se destina “simultaneamente a descrever a natureza das sociedades políticas e a prescrever
uma forma nova e mais defensável para tais sociedades”. Nesse ensaio, e também em “The
Contractarian Explanation of the State” (in: Peter French, Theodore E. Uehling Jr. e Howard K.
Wettstein, The Philosophy of the Human Sciences, Midwest Studies in Philosophy. Notre Dame, Ind.:
University of Notre Dame Press, 1990, pp. 344-71), ela argumenta explicitamente por um
renascimento da antiga e aparentemente desacreditada “explicação contratualista do Estado”.
Hampton ressalta que as imagens do “contrato” captam o ponto essencial de que “sociedades políticas
autênticas são criações humanas” (não ordenadas divinamente ou determinadas naturalmente) e
“convencionalmente geradas”.
8. Rousseau, Discourse on Inequality, parte 2.
9. Carole Pateman, The Sexual Contract. Palo Alto, Cal.: Stanford University Press, 1988. Uma diferença
entre nossas abordagens é que Pateman pensa que o contratualismo é necessariamente opressivo — “O
contrato sempre gera direito político na forma de relações de dominação e subordinação” (p. 8) —,
enquanto eu vejo a dominação, na teoria dos contratos, como mais contingente. Para mim, em outras
palavras, um contrato racial não teve que sustentar o contrato social. Pelo contrário, esse contrato é o
resultado da conjunção particular de circunstâncias na história global que levou ao imperialismo
europeu. E, como corolário, acredito que a teoria do contrato pode ser usada de modo positivo, uma
vez que essa história oculta seja reconhecida, embora eu não desenvolva aqui esse programa. Para um
exemplo de contratualismo feminista que contrasta com a avaliação negativa de Pateman, ver Susan
Moller Okin, Justice, Gender, and the Family. Nova York: Basic Books, 1989.
10. Ver, por exemplo, Paul Thagard, Conceptual Revolutions. Princeton: Princeton University Press, 1992,
p. 22.
11. Ver Hampton, “Contract and Consent” e “Contractarian Explanation”. O foco de Hampton é o
estado liberal-democrático; mas obviamente sua estratégia de empregar o “contrato” para conceituar
normas e práticas convencionalmente geradas está aberta para ser adaptada à compreensão do estado
racial não liberal-democrático; a diferença é que “o povo” agora se torna a população branca.
1. Visão geral
1. Susan Moller Okin, Women in Western Political Thought. Princeton: Princeton University Press, 1992
[1979].
2. Para Hume, ver a edição de 1753-54 de seu ensaio “Of National Characters”, apud, por exemplo,
Jordan, White over Black, p. 253; para Georg Wilhelm Friedrich Hegel, ver a introdução a Philosophy of
History. Nova York: Dover, 1956, pp. 91-9 [Ed. bras.: Filosofia da história. Editora da UnB, 1999]. Para
uma crítica detalhada de Locke e Mill em particular e seu “liberalismo colonial”, ver Bhikhu Parekh,
“Decolonizing Liberalism”. In: Alexander Shtromas (Org.). The End of “Isms”?: Reflections on the Fate of
Ideological Politics after Communism’s Collapse. Cambridge, Mass.: Blackwell, 1994, pp. 85-103; e Bhikhu
Parekh, “Liberalism and Colonialism: A Critique of Locke and Mill”. In: Jan Neverdeen Pieterse e
Bhikhu Parekh (Orgs.). The Decolonization of Imagination: Culture, Knowledge and Power. Londres: Zed
Books, 1995, pp. 81-98.
3. Para ser justo com Mill, ele tem uma famosa correspondência com Thomas Carlyle sobre o
tratamento dos negros nas Índias Ocidentais Britânicas na qual sai em defesa de políticas sociais
“progressistas” (relativamente, claro). Ver Thomas Carlyle: The Nier Question; John Stuart Mill: The
Negro Question. In: Eugene R. August (Org.). Nova York: Appleton-Century-Crofts, Crofts Classics,
1971. Mas a diferença é basicamente entre políticas coloniais menos e mais humanas; o próprio
colonialismo como um sistema político-econômico de exploração não está sendo desa ado.
4. Alvin I. Goldman, “Ethics and Cognitive Science”. Ethics, n. 103, pp. 337-60, 1993. Para ler mais sobre o
diálogo entre os dois, ver Larry May, Marilyn Friedman e Andy Clark (Orgs.), Minds and Morals: Essays
on Ethics and Cognitive Science. Cambridge: Press, 1996.
5. Cf. Frankenberg, White Women, que distingue entre o antigo discurso do racismo essencialista, “com
sua ênfase na diferença de raça entendida em termos hierárquicos de desigualdade biológica
essencial”, e o discurso atual de “mesmice” essencial, “daltonismo”, uma linguagem “evasiva de cor e
poder” que a rma que “somos todos iguais sob a pele”, que, ao ignorar as “dimensões estruturais e
institucionais do racismo”, implica que “materialmente, temos as mesmas chances na sociedade dos
Estados Unidos”, de modo que “qualquer falha em alcançar realizações é, portanto, culpa das próprias
pessoas de cor” (pp. 14, 139).
6. Por exemplo, Donald Kinder e Lynn Sanders concluem em sua análise das atitudes americanas em
relação à raça que, em muitas questões de políticas públicas, “o interesse próprio [individual] acaba
sendo bem desimportante”. O que importa são os interesses do grupo, “interesses que são coletivos, e
não pessoais”, envolvendo percepções de privação como relativas, “baseadas menos em condições
objetivas e mais em comparação social”, ou seja, a noção de “desvantagem relativa do grupo”. E as
raças, por m, são o grupo social mais importante, já que a raça “cria divisões mais notáveis do que
qualquer outra na vida americana”: “Na medida em que os interesses aparecem proeminentemente na
opinião branca sobre raça, é através das ameaças que os negros parecem representar para o bem-estar
coletivo dos brancos, e não para seu bem-estar pessoal” (Divided by Color, pp. 262-4, 252, 85).
7. Susan V. Opotow (Org.), “Moral Exclusion and Injustice”. Journal of Social Issues, v. 1, n. 46, 1990,
número especial, apud Wilmer, Indigenous Voice.
8. Ver, para uma discussão, Cheryl I. Harris, “Whiteness as Property”. Harvard Law Review, n. 106, pp.
1709-91, 1993; e Welchman, “Locke on Slavery”.
9. Considere a “etiqueta racial” do Velho Sul, conforme documentado no livro de John Dollard (Caste and
Class in a Southern Town. 3. ed. Nova York: Doubleday Anchor, 1957 [1937]) e explorado, digamos, nos
romances de William Faulkner; Richard Wright, “The Ethics of Living Jim Crow”, 1937. In: Henry
Louis Gates Jr. (Org.). Bearing Witness: Selections from African-American Autobiography in the Twentieth
Century. Nova York: Pantheon Books, 1991, pp. 39-51.
10. Kiernan cita a opinião de muitos brancos sobre a escravidão, de que “os negros têm nervos muito
mais adormecidos e são menos suscetíveis à dor do que os europeus” (Lords, p. 199).
11. Ralph Ellison, Invisible Man. Nova York: Vintage Books, 1972 [1952], pp. 3, 14. [Ed. bras.: Homem
invisível. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.]
12. Baldwin, Nobody Knows, p. 172; The Fire Next Time. Nova York: Vintage International, 1993 [1963], pp.
53-4. [Ed. bras.: Da próxima vez o fogo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.]
13. Drinnon, Facing West, pp. 138-9.
14. W. E. H. Stanner, After the Dreaming. Sydney: Boyer Lectures, 1968, p. 25, apud Hartwig, “Aborigines
and Racism”. In: Stevens, Racism 2, v. 10.
15. Gordon, Bad Faith, pp. 8, 75, 87.
16. David Stannard, American Holocaust. A resposta-padrão a essa acusação é a rmar que a grande
maioria dos nativos americanos foi realmente morta por doenças, e não por guerra ou maus-tratos
gerais. Stannard responde que: nenhuma evidência factual foi apresentada para apoiar essa alegação-
padrão, e, mesmo que fosse verdade, a culpabilidade ainda permaneceria, na mesma linha que
consideramos os nazistas moralmente responsáveis pelas mortes de judeus por doenças, desnutrição e
excesso de trabalho nos guetos e nos campos. Alguns estudiosos estimam que mais de 2 milhões de
judeus realmente morreram por essas causas, em vez de por gás ou tiro. Ver, por exemplo, Raul
Hilberg, The Destruction of the European Jews (3 v. Ed. rev. e de nitiva. Nova York: Holmes and Meier,
1985); e Arno J. Mayer, Why did the Heavens not Darken? The “Final Solution” in History, com novo
prólogo (Nova York: Pantheon, 1990 [1988]). No entanto, é claro que — como deveríamos —
atribuímos a culpa por essas mortes à política nazista, como, em última análise, causalmente
responsável. Para posições opostas nesse debate muitas vezes raivoso, ver David E. Stannard
(“Uniqueness as Denial: The Politics of Genocide Scholarship”), em que esses pontos são apresentados
e essas fontes, citadas, e Steven T. Katz (“The Uniqueness of the Holocaust: The Historical
Dimension”), ambos em: Alan S. Rosenbaum (Org.). Is the Holocaust Unique? Perspectives on Comparative
Genocide. Boulder, Colo.: Westview Press, 1996, pp. 163-208 e 19-38. Ver também Tzvetan Todorov, The
Conquest of America: The Question of the Other. Nova York: Harper and Row, 1984 [1982], esp. cap. 3,
“Love”, pp. 127-82.
17. Drinnon, Facing West, p. 199.
18. Ver Stannard, American Holocaust, pp. 317-8.
19. Edmund Dene Morel, The Black Man’s Burden: The White Man in Africa from the Fifteenth Century to
World War . Nova York: Monthly Review Press, 1969 [1920]. A mesma estimativa é dada por Jan
Vansina, professor emérito de história e antropologia da University of Wisconsin.
20. Stannard, American Holocaust, p. 121. Jonathan Swift, em As Viagens de Gulliver (1726), faz seu
protagonista produzir sapatos e uma canoa com a pele dos subumanos/humanos yahoos da parte 4
(eles mesmos baseados nos “hotentotes”, o povo khoi-khoi da África do Sul). A vela da canoa era
“igualmente composta pelas peles do mesmo animal; mas eu usei o mais novo que consegui, sendo o
mais velho muito duro e grosso” (Gulliver’s Travels. Nova York: Oxford University Press, 1977, p. 284
[Ed. bras.: As Viagens de Gulliver. São Paulo: Principis, 2020]).
21. Clive Turnbull, “Tasmania: The Ultimate Solution”. In: Stevens, Racism, 2, pp. 228-34.
22. Dower, War without Mercy, cap. 3, “War Hates and War Crimes”, pp. 33-73.
23. C. L. R. James, The Black Jacobins: Toussaint L’Ouverture and the San Domingo Revolution, 2. ed. Nova
York: Vintage Books, 1963 [1938], pp. 12-3. [Ed. bras.: Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a
revolução de São Domingos. Trad. de Afonso Texeira Filho. São Paulo: Boitempo, 2000.]
24. Ida B. Wells-Barnett, On Lynchings. Nova York: Arno Press, 1969; Ginzburg, 100 Years.
25. Daniel R. Headrick, The Tools of Empire: Technology and European Imperialism in the Nineteenth Century.
Nova York: Oxford University Press, 1981, pp. 102-3. A bala recebeu esse nome porque foi elaborada
em uma fábrica britânica em Dum-Dum, nos arredores de Calcutá.
26. Sven Lindqvist, Exterminate All the Brutes. Nova York: New Press, 1996 [1992], pp. 36-69 [Ed. port.:
Exterminem todos dos brutos. Lisboa: Caminho, 2022]; ver também Ellis, Machine Gun, cap. 4, “Making
the Map Red”, pp. 79-109. Lindqvist ressalta (p. 46) que mais de 16 mil sudaneses foram feridos na
“batalha”, e poucos ou nenhum deles sobreviveu, sendo sumariamente executados em seguida.
27. Dower, War without Mercy, pp. 37-8.
28. Hilberg, Destruction of the European Jews; Ian Hancock, “Responses to the Porrajmos: The Romani
Holocaust”. In: Rosenbaum, Holocaust, pp. 39-64; Christopher Simpson, Blowback: America’s
Recruitment of Nazis and its Effects on the Cold War. Nova York: Weidenfeld & Nicolson, 1988, cap. 2,
“Slaughter on the Eastern Front”, pp. 12-26.
29. Apud Michael Bilton e Kevin Sim, Four Hours in My Lai. Nova York: Penguin, 1992, p. 336. Um
popular gra te de Saigon da época era “Mate um gook [termo derrogatório para vietnamita], por
Calley”, e telegramas para a Casa Branca a seu favor eram na proporção de cem para um. Também
havia uma canção de sucesso em sua homenagem: “O hino de batalha do tenente Calley” (Four Hours,
pp. 338-40). Para a Argélia, ver Fanon, The Wretched of the Earth; e Rita Rudges Maran, Torture During
the French-Algerian War. Nova York: Praeger, 1989. A conclusão de Maran é que o uso generalizado da
tortura pelas tropas francesas (em violação à lei francesa) foi possibilitado pela missão civilizadora, uma
vez que, a nal, a civilização ocidental estava em jogo. No Vietnã, em contraste, as tropas americanas
que cometeram atrocidades simplesmente apelaram para o princípio moral bem estabelecido da R. M.
G.: a “regra do mero gook” (Ver Drinnon, Facing West, pp. 454-9).
30. Mayer, Why Did the Heavens?, pp. 15-6. Mayer está relatando, mas sem endossar, essa visão, já que sua
própria explicação procura localizar o “Judeocídio” no contexto do anticomunismo de Hitler e da
extrema violência na Europa durante e após a Primeira Guerra. Sua explicação é puramente
internalista, saltando três séculos da Guerra dos Trinta Anos (1618-48) para o rescaldo da Primeira
Guerra, sem prestar atenção à violência racial in igida pela Europa à não Europa nesse ínterim. Mas,
em nosso próprio século, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, havia os exemplos do holocausto
perpetrado pela Bélgica no Congo e o genocídio dos hereros pelos próprios alemães após a revolta de
1904.
31. Simpson, Blowback, p. 5.
32. Aimé Césaire, Discourse on Colonialism. Nova York: Monthly Review Press, 1972 [1955]. [Ed. bras.:
Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020.]
33. Kiernan, Imperialism, p. 101.
34. Robert Harris, Fatherland. Nova York: Harper Paperbacks, 1993 [1992]. [Ed. bras.: Pátria amada. Rio
de Janeiro: Record, 1993.]
35. Bartolomé de Las Casas, The Devastation of the Indies: A Brief Account. Nova York: Seabury Press, 1974.
[Ed. Bras.: O paraíso destruído: Brevíssima relação da destruição das Índias. Porto Alegre: , 2021.]
36. Stannard, American Holocaust; Brun Höfer, Heinz Dieterich e Klaus Meyer (Orgs.), Das Fünf hundert-
jährige Reich. Médico International, 1990; Lindqvist, “Exterminate All the Brutes”, pp. 160, 172.
37. Norman G. Finkelstein, Image and reality of the Israel-Palestine conflict. Londres: Verso, 1995, p. 93.
38. Adolf Hitler, discurso de 1932. In: Max Domarus (Org.). Hitler: Speeches and Proclamations, 1932-1945,
v. 1: The Years 1932 to 1934. Wauconda, Ill.: Bolchazy-Carducci, 1990 [1962], p. 96. Devo essa referência
a Finkelstein, Image and Reality, pp. 93-4. Finkelstein ressalta que muitos dos biógrafos de Hitler
enfatizam a frequência com que ele invocou como um modelo louvável a ser emulado o bem-
sucedido extermínio norte-americano dos “selvagens vermelhos”.
39. Locke, Second Treatise, pp. 346-9.
40. David Hume, “Of the Original Contract”, 1748, publicado em antologias como, por exemplo, Barker,
Social Contract, pp. 147-66.
41. Agora existe uma revista americana com o título Race Traitor: A Journal of the New Abolitionism
[Traidor da Raça: Uma Revista do Novo Abolicionismo]. Para uma coleção de artigos da revista,
consulte Noel Ignatiev e John Garvey, Race Traitor. Nova York: Routledge, 1996.
42. Maran, Torture, p. 125, n. 30.
43. O slogan da Race Traitor.
44. Apud Drinnon, Facing West, p. 163, do romancista americano do século Robert Montgomery Bird.
45. Chomsky, Year 501, p. 31.
46. Roger Moody, “Introdução” (da primeira edição). Indigenous Voice, p. xxix.
47. Bilton e Sim, Four Hours, pp. 135-41, 176-7, 204-5.
48. W. E. B. Du Bois, The Souls of Black Folk. Nova York: New American Library, 1982 [1903]. [Ed. bras.: As
almas do povo negro. São Paulo: Veneta, 2021.]
49. Touro Sentado, apud Moody, Indigenous Voice, p. 355; Churchill, Fantasies; David Walker, Appeal to the
Coloured Citizens of the World. Baltimore, Md.: Black Classic Press, 1993, pp. 33, 48; Du Bois, Souls, pp.
122, 225; Du Bois, “The Souls of White Folk”. In: David L. Lewis. Du Bois, W. E. B.: A Reader. Nova
York: Henry Holt, 1995, p. 456; Richard Wright, “The Ethics of Living Jim Crow”; Marcus Garvey in:
Amy Jacques-Garvey (Org.). The Philosophy and Opinions of Marcus Garvey. v. 1 e 2. Nova York:
Atheneum 1923-25 [1992]; Jawaharlal Nehru, The Discovery of India. Nova York: Anchor Books, 1959
[1946], apud Chomsky, Year 501, p. 20; Martin Luther King Jr., Why We Can’t Wait. Nova York: Mentor,
1964 [1963], p. 82; Malcolm X, discurso em 8 abr. 1964 sobre “Revolução Negra”. In: Fred Lee Hord
(Mzee Lasana Okpara) e Jonathan Scott Lee (Orgs.). I Am Because We Are: Readings in Black Philosophy.
Amherst: University of Massachusetts Press, 1995, pp. 277-8; Fanon, Wretched, pp. 40-2; Césaire,
Discourse, pp. 20-1; “Statement of Protest”. In: Moody, Indigenous Voice, p. 360.
50. “Knox foi uma gura in uente no desenvolvimento da ‘ciência racial’ britânica — talvez a mais
in uente em meados do século —, que Darwin cita com respeito, se não com aprovação absoluta”
(Patrick Brantlinger, “‘Dying Races’: Rationalizing Genocide in the Nineteenth Century”. In: Pieterse
e Parekh, The Decolonization of Imagination, p. 47.
51. Lindqvist, “Exterminate”, partes 2 e 4; e Brantlinger, “Dying Races”.
52. Apud Cook, Colonial Encounters, p. 1.
53. Kiernan, Imperialism, p. 146. Ver também Okihiro, cap. 5, “Perils of the Body and Mind”. In: Margins
and Mainstreams, pp. 118-47.
54. Kiernan, Lords, pp. 171, 237.
55. Madison Grant, The Passing of the Great Race, or, The Racial Basis of European History. Nova York:
Scribner’s, 1916; Lothrop Stoddard, The Rising Tide of Color Against White World Supremacy. Nova York:
Scribner, 1920. Para a discussão sobre isso, ver Thomas F. Gossett, Race: The History of an Idea in
America (Nova York: Schocken, 1965 [1963], cap. 15). Gossett ressalta que o livro de Stoddard aparece
em O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, disfarçado como The Rise of the Colored Empires.
56. Kiernan, Lords, p. 27.
57. Apud Dower, War without Mercy, p. 160.
58. Kiernan, Lords, pp. 319-20.
59. Ibid., p. 69.
60. Drinnon, Facing West, pp. 313-4.
61. Dower, War without Mercy, pp. 173-8.
62. Okihiro, “Perils”, pp. 133, 129.
63. W. E. B. Du Bois, “To the Nations of the World” e “The Negro Problems” (1915), ambos in Lewis, Du
Bois, pp. 639, 48.
64. Richard Wright, The Color Curtain: A Report on the Bandung Conference. Jackson: University Press of
Mississippi, 1994 [1956].
65. Ver Moody, Indigenous Voice, pp. 498-505.
66. Leon Poliakov, The Aryan Myth: A History of Racist and Nationalist Ideas in Europe. Nova York: Basic
Books, 1974 [1971], p. 5.
67. Douglass, Narrative, p. 107.
68. Baldwin, Nobody Knows, pp. 67-8.
69. Ver Eric R. Wolf, Europe and the People without History. Berkeley: University of California Press, 1982.
70. Young, White Mythologies.
71. Ver, por exemplo, A Vindication of the African Race (1857), de Edward Blyden.
72. Ver Russell et al., The Color Complex.
73. Para a longa história da evasão sistemática da raça pelos teóricos mais famosos da cultura política
americana, ver Rogers M. Smith, “Beyond Tocqueville, Myrdal, and Hartz: The Multiple Traditions in
America”. American Political Science Review, n. 87, pp. 549-66, 1993. Smith ressalta (pp. 557-8) que “o
efeito cumulativo dessas falhas persistentes em estabelecer o padrão completo de exclusão cívica tem
sido tornar muito fácil para os estudiosos concluírem que a inclusão igualitária é a norma”, enquanto
“as exceções obviamente têm grande pretensão de se classi carem como normas rivais”.
74. Ou pelo menos minha versão preferida faz isso. Como mencionado anteriormente, versões racistas
do “contrato racial” são possíveis; essas tomariam os brancos por seres intrinsecamente exploradores
que são biologicamente motivados a estabelecer o contrato.
75. Para trabalhos representativos em teoria jurídica, a casa original do termo, ver Delgado, Critical Race
Theory; e Kimberlé Crenshaw et al. (Orgs.), Critical Race Theory: The Key Writings That Formed the
Movement. Nova York: New Press, 1995. No entanto, agora o termo está começando a ser usado de
forma mais ampla.
76. Apud Dower, War without Mercy, p. 161.
77. Artigo do Boston Globe, do historiador japonês Herbert Bix, 19 abr. 1992, apud Chomsky, Year 501, p.
239. Ver também James Yin, Shi Young e Ron Dorfman, The Rape of Nanking: An Undeniable History in
Photographs. Chicago: Innovative Publishing Group, 1996.
78. Dower, War without Mercy, cap. 10, “Global Policy with the Yamato Race as Nucleus”, pp. 262-90.
79. Para uma crítica a partir da esquerda, veja, por exemplo, David Harvey, The Condition of
Postmodernity: An Enquiry into the Origins of Cultural Change. Oxford: Basil Blackwell, 1990. [Ed. bras.:
Condição pós-moderna: Uma pesquisa sobre a origem das mudanças culturais. São Paulo: Loyola, 1992.]
80. Jurgen Habermas, The Philosophical Discourse of Modernity: Twelve Lectures. Cambridge: Press,
1987. [Ed. bras.: O discurso filosófico da modernidade: Doze lições. São Paulo: Martins Fontes, 2000.] Para
críticas, ver, por exemplo, Dussel, Invention of the Americas; e Outlaw, “Life-Worlds, Modernity, and
Philosophical Praxis”.
81. O’Neill, “Justice”.
82. Richard R. Wright Jr. (não o romancista), “What Does the Negro Want in Our Democracy?”. In:
Herbert Aptheker (Org.). A Documentary History of the Negro People in the United States, v. 3: 1910-1932:
From the Emergence of the N.A.A.C.P. to the Beginning of the New Deal. Secaucus, N.J.: Citadel Press, 1973,
pp. 285-93.
83. Henry Louis Gates Jr., The Signifying Monkey: A Theory of African American Literary Criticism. Nova
York: Oxford University Press, 1988, pp. xxi, xxiii, 47, 49.
84. Henry Louis Gates Jr., “Writing ‘Race’ and the Di erence It Makes”. In: Gates (Org.). “Race”, Writing,
and Difference. Chicago: University of Chicago Press, 1986, pp. 1-20.
85. Anthony H. Richmond, Global Apartheid: Refugees, Racism, and the New World Order. Toronto: Oxford
University Press, 1994.
Nascido em Londres, . (1951-2021) cresceu em Kingston, na
Jamaica, país natal de sua família. Estudou física e loso a e foi professor em
importantes universidades nos Estados Unidos. Autor de vasta obra que trata da
relação entre loso a política e racismo, é um dos precursores da teoria racial
crítica.
Copyright © 1997 by Cornell University
Copyright © 2022 agradecimentos da edição comemorativa de 25 anos, prefácio e prólogo by Cornell
University
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em
2009.
Título original
The Racial Contract
Capa
Alceu Chiesorin Nunes + Felipe Sabatini e Nina Farkas/ Gabinete Grá co
Imagem de capa
Gordon Parks/ Heritage/ Easypix Brasil
Preparação
Angela Vianna
Revisão
Bonie Santos
Julian F. Guimarães
Versão digital
Rafael Alt
978-65-5979-137-8
Frida Kahlo nos ajuda a ver através da dor. Rembrandt dá uma aula
sobre autopercepção. David Hockney abre nossos olhos para a
luminosidade da natureza. Jean-Michel Basquiat nos tira da inércia
para que possamos ver a realidade em toda a sua complexidade
selvagem. Eva Hesse nos mostra o absurdo da vida humana.
Depois do sucesso de Isso é arte? e Pense como um artista, Will
Gompertz agora nos convida a aprender com os grandes artistas
como ativar nossa sensibilidade para enxergar o mundo além da
nossa visão cotidiana. Enquanto passamos a maior parte do tempo
correndo de um lugar para outro e ignorando os maravilhosos
fenômenos da vida, os artistas observam o mundo com olhos
experientes e interessados.
Com seu característico talento de contador de histórias, o autor
traça o perfil desses artistas geniais, analisando a maneira única
que têm de expressar a vida em sua arte. Das esculturas xochipala
a Cy Twombly, de Rubens e Fra Angelico a Georgia O'Keefe e
Tracey Emin, descobrimos as inúmeras e potentes formas de
enxergar o mundo e traduzi-lo.
Em linguagem coloquial, sem academicismos e fartamente ilustrado,
Como os artistas veem o mundo é um mergulho divertido e
esclarecedor na história da arte.
"Uma ótima lição sobre como obter mais não apenas da arte, mas
também da própria vida. Gompertz está no auge." — The Times
"Livraço ... A melhor análise até agora sobre o risco que a eleição
de Donald Trump representa para a democracia norte-americana ...
[Para o leitor brasileiro] a história parece muito mais familiar do que
seria desejável." – Celso Rocha de Barros, Folha de S. Paulo