Modelo Apelacao Criminal

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIRETO DA __ª VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE XXXXXXXXX.

Processo nº XXXXXXXXXXX
NOME, já devidamente qualificado nos autos da AÇÃO CRIMINAL em epígrafe, que lhe move
a JUSTIÇA PÚBLICA, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, por meio do seu
advogado subscritor (Procuraçã o fl. 469), com fundamento no artigo 593, inciso I do
Có digo de Processo Penal, interpor RECURSO DE APELAÇÃO contra a r. sentença de fls.
337-372, requerendo, desde já , seja o recurso conhecido por este Juízo e,
consequentemente remetido ao Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, para que dele
conheça, dando-lhe provimento.
Requer, ainda, a concessã o dos benefícios da Justiça gratuita, tendo em vista ser o Apelante
pobre no sentido legal, nã o podendo arcar com as custas processuais sem prejuízo do seu
sustento e de sua família.
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Cidade/ES, data.

ADVOGADO
OAB
_________________________________________________

RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº
Origem: ___ª Vara Criminal da Comarca de XXXXX
Ação Criminal
Apelante: NOME
Apelado: Justiça Pública
EGRÉGIO TRIBUNAL
ÍNCLITOS DESEMBARGADORES

1 – DA ADMISSIBILIDADE
O presente recurso é cabível vez que investe contra sentença condenató ria prolatada pelo
respeitá vel Juízo a quo nestes autos de açã o criminal.
Além disso, o presente recurso é tempestivo, vez que o prazo para Apelaçã o, conforme a
legislaçã o processual vigente, é de 5 (cinco) dias, contados a partir da data da intimaçã o da
sentença que se deu somente no dia 11 de junho de 2015. Destaca-se que, apesar da
Procuraçã o ter sido juntada no dia 8 de junho de 2015, o acesso aos autos nã o foi possível
no mesmo dia, tendo em vista a conclusã o, conforme corrobora a Certidã o de fl. 469v, que
só se findou no dia 11 de junho de 2015 (Certidã o de fl. 470). Portanto, tempestivo o
presente recurso.
O Apelante requer a concessã o dos benefícios da Justiça gratuita, tendo em vista ser pobre
no sentido legal, nã o podendo arcar com as custas processuais sem prejuízo do seu
sustento e de sua família.
2 – DA SENTENÇA
O Juízo a quo julgou parcialmente procedente a denú ncia, condenando o Apelante nas
sançõ es do artigo 33, caput da Lei 11.343/06, definindo sua pena em 06 (seis) anos e 06
(dois) meses de reclusã o, mais o pagamento de 650 (seiscentos e cinquenta) dias-multa.
De acordo com a sentença condenató ria, a autoria e a materialidade do delito restaram
comprovadas pelas provas produzidas.
Em que pese o conhecimento jurídico do Juízo prolator da sentença, vê-se que nã o decidiu
com acerto, fazendo-se necessá ria a reforma da decisã o de 1º Grau. É o que se passa a
demonstrar.

3 – DA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA / DA NECESSIDADE DE ABSOLVIÇÃO DO


APELANTE
Em Juízo, sob o manto do contraditó rio e da ampla defesa, o Apelante negou com
veemência a prá tica delitiva (fl. 255), bem como a Corré XXXXX que estava junto a ele,
afirmando que só estavam no local para uso de entorpecente (“crack”).
Em ambos os interrogató rios, tanto o do Apelante como o da XXXXX, são idênticas as
versões, em que afirmam: se encontraram na Marechal (Avenida de Cidade) e, apó s
comprarem a droga em local diverso do que estavam no momento da prisã o, procuraram
um local tranquilo para fazerem uso de “crack”. Sendo que uma moça de nome XXXXX
indicou uma casa a eles e para lá se deslocaram. Já na casa ficaram no portã o usando a
droga.
Ou seja, em nenhum momento, mesmo nos depoimentos das testemunhas, restou claro que
o Apelante incidiu no artigo 33, caput da Lei 11.343/06.
Como é cediço, a Constituiçã o Federal garante a presunçã o de inocência, de tal sorte que se
faz mister um conjunto probató rio harmonioso e robusto para a imposiçã o de um édito
condenató rio.
A dúvida deve levar, necessariamente, à absolvição, em apreço à constitucional
presunção de inocência, a menos que haja robusto conjunto probatório a elidi-la.
Não é o que ocorre nos autos.
As testemunhas de acusaçã o se limitaram a dizer que o Apelante estava no portã o em
companhia de Vanessa e que gritaram: “Polícia, polícia...”.
Ora, Nobres Julgadores, com a devida licença para vos questionar, mas desde quando se
localizar no portã o e gritar “polícia” sã o tipificados pelo artigo 33, caput da Lei 11.343/06?
E mais! Os depoimentos das testemunhas de acusaçã o coincidem com o interrogató rio do
Apelante, visto que este afirmou que estava no portã o juntamente com XXXXXX para
consumo de droga. A diferença é que as testemunhas fantasiaram que o Apelante se
localizava ali por outro motivo que não o consumo de entorpecentes.
A fantasia das testemunhas de acusação é tão burlesca que não há como imaginar um
homem e uma mulher, desarmados e com o portão aberto estarem ali para fazerem
contenção ao tráfico interno... é, no mínimo, uma história absurda!
De acordo os depoimentos colhidos em Juízo, conclui-se que a única prova de que o
Apelante participava do trá fico de drogas consiste na palavra dos policiais responsá veis
pelas diligências; porém, apenas a palavra dos agentes policiais nã o é apta a ensejar uma
condenaçã o. Principalmente, por concluírem que o Apelante participava do trá fico por
estar na porta da residência e gritar “polícia, polícia...”.
Com efeito, a palavra policial nã o pode servir de sustentá culo para um grave édito
condenató rio. Neste sentido:
“Por outro lado, é de bom senso e cautela que o magistrado dê valor relativo ao depoimento,
pois a autoridade policial, naturalmente, vincula-se ao que produziu investigando o
delito, podendo não ter a isenção dispensável para narrar os fatos, sem uma forte dose
de interpretação. Outros policiais também podem ser arrolados como testemunhas, o que,
via de regra, ocorre com aqueles que efetuaram a prisão em flagrante. Nesse caso, podem
narrar importantes fatos, embora não deva o juiz olvidar que eles podem estar
emocionalmente vinculados à prisão que realizaram, pretendendo validá-la e consolidar o
efeito de suas atividades. Cabe, pois, especial atenção para a avaliação da prova e sua força
como meio de prova totalmente isento[1]” (destaques nossos)
Neste sentido, ainda, o entendimento jurisprudencial:
Por mais idô neo que seja o policial, por mais honesto e correto, se participou da diligência,
servindo de testemunha, no fundo está procurando legitimar sua própria conduta, o
que juridicamente não é admissível. A legitimidade de tais depoimentos surge, pois, com
a corroboraçã o por testemunhas estranhas aos quadros policiais[2]. (negrito nosso).
A principal funçã o da Polícia, na repressã o criminal, nã o é testemunhar fatos, mas antes
oferecer elementos de convicçã o que sustentem a acusaçã o pú blica. Entender o contrá rio e
partir da presunçã o de autenticidade dos depoimentos policiais, sem outras provas
concludentes, é desnaturar o princípio do contraditó rio e inverter o princípio da inocência
presumida. Pois que ao réu, obviamente, nã o se há de exigir que prove sua inocência[3].
Este é todo o conjunto probató rio produzido contra o Apelante, sendo patente sua
fragilidade, visto que nã o reú ne elementos de certeza que autorizem a prolaçã o de um
decreto condenató rio. E a dú vida, resultado da insuficiência de provas, deve ser sempre
interpretada em benefício do réu, princípio basilar da seara penal.
Desta forma, a manifesta insuficiência probatória deve levar, imprescindivelmente, à
absolvição do Apelante pelo crime descrito no artigo 33, caput da Lei 11.343/06,
conforme previsão do Código de Processo Penal, artigo 386, inciso VII.

4 – DA ATIPICIDADE

No caso em apreço, apenas para o belo debate jurídico, caso entenda-se que o Apelante, de
fato, estivesse participando do trá fico de drogas, deve-se reconhecer a atipicidade da
conduta.
Nã o foi encontrada nenhuma droga em poder do Apelante, sendo impossível que ele
pudesse participar do trá fico de drogas. Dessa forma, nã o houve nenhum perigo à
sociedade e tampouco foi verificada a tipicidade exigida pelo tipo de modo a ensejar um
édito condenató rio.
No mesmo diapasã o, a mera suposiçã o, sem que se constate o trá fico, nã o apresenta
qualquer lesividade à incolumidade pú blica.
Aliá s, é meio absolutamente ineficaz ou exemplo de crime impossível, nos termos do artigo
17 do Có digo Penal, a suposiçã o de trá fico de drogas que, nas condiçõ es em que se
encontrava, nã o poderia gerar qualquer risco.
Assim, nã o é coerente afirmar que o simples fato de uma pessoa estar no portã o de uma
casa e supostamente gritar “polícia, polícia...” possa constituir um delito. Ou seja, o simples
fato de o agente se localizar numa residência onde indiscutivelmente se consome droga nã o
justifica a imposiçã o de uma sançã o penal, já que nã o se constata um perigo imediato de
lesã o a qualquer bem jurídico.
De fato, o Direito Penal nã o pode se preocupar com condutas que sequer geram dano em
abstrato à sociedade, nã o havendo tipicidade material, sendo que a conduta do Apelante é
atípica. Nesse sentido, este Egrégio Tribunal de Justiça mineiro:
APELAÇÃ O CRIMINAL - COLABORAÇÃ O PARA O TRÁ FICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES -
ABSOLVIÇÃ O - NECESSIDADE - AUSÊ NCIA DE PROVAS ACERCA DA COLABORAÇÃ O COM
GRUPO, ASSOCIAÇÃ O OU ORGANIZAÇÃ O CRIMINOSA - ATIPICIDADE DA CONDUTA -
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. O delito previsto no art. 37 da Lei 11.343/06
exige, para a sua configuração, que o agente colabore com integrantes de um grupo,
associação ou organização criminosa, sendo que, não restando demonstrado quem
seriam tais destinatários do alerta proferido pela apelante e ausente a comprovação
da existência de uma organização criminosa exploradora do tráfico ilícito de
entorpecentes que teria sido auxiliado pela conduta da apelante, imperativa a
absolvição da recorrente, face à atipicidade da conduta[4]. (destaques nossos)
APELAÇÃ O CRIMINAL. TRÁ FICO DE DROGAS. ASSOCIAÇÃ O PARA O TRÁ FICO E
DESOBEDIÊ NCIA. RECURSO MINISTERIAL PLEITO DE CONDENAÇÃ O DOS RECORRIDOS.
IMPOSSIBILIDADE. CONJUNTO PROBATÓ RIO DUVIDOSO E INSUBSISTENTE.
FRAGILIDADE. MEROS INDÍCIOS. INSUFICIÊ NCIA PARA EMBASAR A CONDENAÇÃ O.
AUSÊ NCIA DE PROVAS SEGURAS E ROBUSTAS DO VÍNCULO ASSOCIATIVO PERMANENTE
E ESTÁ VEL. IN DUBIO PRO REO. DESOBEDIÊ NCIA. NÃ O COMPARECIMENTO NA
DELEGACIA, NA QUALIDADE DE SUSPEITOS, PARA PRESTAR INFORMAÇÕ ES, APÓ S
INTIMAÇÃ O. EXERCÍCIO DE AUTODEFESA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ABSOLVIÇÃ O
MANTIDA. RECURSO NÃ O PROVIDO.
- Não se pode condenar ninguém como traficante com base em meras suposições. A
gravidade do crime exige prova cabal e perfeita, de modo que, inexistindo esta nos
autos, impõe-se a absolvição. - A simples probabilidade de autoria, tratando-se de
mera etapa da verdade, não constitui certeza por si só. - Não havendo prova segura e
firme da associação para a traficância exercida pelos acusados, a existência de meros
indícios não autoriza o decreto condenatório. - Nã o há que se falar em crime de
desobediência quando o acusado, na qualidade de suspeito, apó s ser intimado a
comparecer à Delegacia de Polícia, para prestar esclarecimento, opta por nã o fazê-lo, na
medida em que se encontra acobertado pelo direito à autodefesa.
- Recurso ministerial nã o provido[5]. (negrito nosso)
Portanto, o Apelante deve ser absolvido pela atipicidade da conduta com fulcro no
artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.

5 – DOS PEDIDOS

Requer-se, portanto, seja o presente recurso CONHECIDO e PROVIDO para o fim de


absolver-se o réu, com base no artigo 386, incisos III ou VII, do Código de Processo
Penal.

Aguarda provimento do recurso, estabelecendo-se, assim, a mais precisa JUSTIÇA!


Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Cidade/XX, data.
ADVOGADO
OAB

[1] Nucci, Guilherme de Souza. Có digo de Processo Penal Comentado. 2ª ediçã o. Sã o Paulo,
RT, 2003, p.
[2] TACRIM 135.747
[3] TJSP – AP – Rel. Andrade Vilhena – RT 429/385.
[4] Ap. Criminal 1.0024.13.378729-1/001 – TJMG - 1ª Cam. Criminal – Rel. Walter Luiz – j.
05/05/2015.
[5] Ap. Criminal 1.0271.13.013488-2/001 – TJMG - 4ª Cam. Criminal – Rel. Doorgal
Andrada – 07/05/2015.

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