Retprica Na Escola Prof Ferreira
Retprica Na Escola Prof Ferreira
Retprica Na Escola Prof Ferreira
Ferreira
Ana Lúcia Magalhães utilizada como instrumento, desde que existe a linguagem cerne da dimensão argumentativa
humana, para transcender a mera descrição utilitária do que e, nesse sentido, há, também, uma
Andreia Honório da Cunha se percebe como realidade. Assim como a própria humanidade dimensão retórica fundamental para
Carla Moreira de Paula Prada
Éber José dos Santos
cresceu com a retórica, a escola, central para a formação e para
o crescimento, usa a retórica mesmo inconscientemente. Os escrita a interação verbal. A partir dessa
constatação, o Grupo de Estudos
e autoria
Grupo de Estudos Retóricos e Argumentativos – ERA, exploram ERA) objetiva abordar, a partir dos
Fernanda Martin Sbroggio a retórica na escola nesse tempo de grandes transformações conceitos estudados pela retórica,
em que vivemos. os efeitos persuasivos obtidos por
João Hilton Sayeg-Siqueira
Com foco na produção de texto, portanto, o livro busca meio da articulação da linguagem
na escola
Joelma Batista dos Santos Ribeiro a sociorretórica e a argumentação como norteadoras. Assim, no discurso. Paralelamente, cumpre
Leonardo Tavares destaca a importância do auditório, evidencia os conceitos ao grupo um processo de síntese
retóricos de ethos, pathos e logos, enfatiza as partes do discurso e integração das ideias dos vários
Luanny Vidal e ocupa-se dos vários aspectos capazes de auxiliar na leitura e estudiosos da retórica contemporânea.
Luisiana Ferreira Moura autoria desde o ensino básico até o nível superior.
Como os sentidos são captados por
Luiz Antonio Ferreira
meio de dimensões amplas, de natureza
Márcia Silva Pituba Freitas Ana Lúcia Magalhães cognitiva, pragmática e passional, o
Mariano Magri Luiz Antonio Ferreira Grupo leva em conta as modernas
organizador contribuições dos estudos linguísticos
Nathalia Melati
para analisar a consecução dos atos
Ricardo Ugeda Mesquita retóricos e a verificação da força
Roberta de Souza Piovezan Grupo de Estudos retórica como ação capaz de traduzir
Retóricos e Argumentativos percepções, valores, sentimentos,
Rosíris Flocco posicionamentos e ações discursivas
Tiago Ramos e Mattos em textos.
ISBN 978-85-8039-365-1
Retórica, escrita
e autoria na escola
2018
Retórica, escrita e autoria na escola
© 2018
Editora Edgard
Artimanhas Blücher
do dizer: Ltda.
retórica, oratória e eloquência
© 2017
Revisão
Editora Técnica:
Edgard Blücher Ltda.
Nathalia Melati
Revisão Técnica:
Diagramação e Capa: Luana Ferraz
Fernando Bertolo
Conselho Editorial:
Conselho Editorial: Ana Cristina Carmelino – UNIFESP
Ana Cristina Carmelino - UNIFESP Ana Lúcia Magalhães – FATEC
Ana Lúcia Magalhães - FATEC
Ana Paula Pinto – Universidade Católica de Portugal
Ana Paulo Pinto - Universidade Católica de Portugual
Cândido Oliveira Martins – Universidade Católica de Portugal
Cândido Oliveira Martins - Universidade Católica de Portugual
Eliana Magrini Fochi – FATEC
Eliana Magrini Fochi - FATEC
João Hilton Sayeg-Siqueira – PUC-SP
João Hilton Sayeg-Siqueira - PUC-SP
Lia Cupertino Duarte Albino – FATEC
Lia Cupertino Duarte Albino - FATEC
Luiz Antonio Ferreira – PUC-SP
Luiz Antonio Ferreira - PUC-SP
Maria Cecília de Miranda N. Coelho – UFMG
Maria Cecília de Miranda N. Coelho - UFMG
Maria Flávia Figueiredo – UNIFRAN
Maria Flávia Figueiredo - UNIFRAN
Orlando R. Kelm - Universidade do Texas Orlando R. Kelm – Universidade do Texas
A retórica, mesmo em suas formas mais primitivas, tem sido utilizada como
instrumento, desde que existe a linguagem humana, para transcender a
mera descrição utilitária do que se percebe como realidade. Assim como a
própria humanidade cresceu com a retórica, a escola, central para a formação
e para o crescimento, usa-a retórica mesmo inconscientemente. Os textos que
compõem esse livro, de autoria dos pesquisadores do Grupo de Estudos Re-
tóricos e Argumentativos – ERA, exploram a retórica na escola nesse tempo
de grandes transformações em que vivemos.
No artigo de abertura, Aidil Navarro e Fernanda Sbroggio discorrem sobre
perspectivas retórico-argumentativas para o processo de ensino-aprendizagem
de leitura e escrita no ensino básico. No percurso apresentado, as contribuições
da sociorretórica incluem sobretudo dois pontos: a constituição do auditório
pelo professor e a contextualização do espaço comunicativo no trabalho com o
texto. Essas duas ações localizam o momento da escrita ou da leitura, orientam
o processo, fazem surgir compreensões e percepções necessárias ao exercício
e não subtraem do estudante o papel da criação.
Luiz Antonio Ferreira, em seu texto “A dimensão da escrita na escola”,
considera a escrita como construção simbólica, traduzida em um ato discursivo
(ato retórico) exercido em contexto determinado temporal e espacialmente
por um orador que deve se manifestar sobre questões ligadas ao ser e ao estar
no mundo. Lembra que computador e recursos tecnológicos da contempora-
neidade podem ajudar bastante a invenção-inventário, mas não a construção
do ethos, logos e pathos associados à invenção-criação.
A abordagem de “Teoria social da retórica”, por João Hilton Sayeg-Siqueira,
lembra que o discurso é planejado para levar determinado auditório, universal,
particular ou de especialistas, a adquirir empatia com as emoções expostas
pelo orador e por suas premissas, estimulando-o, se necessário, a reforçar ou
alterar o discurso-opinião para conferir uma condição de verdade. Os gêne-
ros atualizam uma ação social, pela realização individual de uma tipificação
comunitária.
A abordagem de Ricardo Ugeda Mesquita e Rosíris Flocco tem foco no
processo e procura endereçar problemas no ensino de produção textual no
Brasil. Os autores apontam como problemas centrais a insistência de professo-
res em considerar apenas o resultado final (ou produto) da escrita do aluno, o
predomínio do ensino de regras gramaticais descontextualizadas, entre outras
perspectivas críticas sempre consideradas como “problemas”. Segundo os auto-
res, o ensino da produção textual deve ter foco retórico no processo da escrita.
O capítulo que trata de “Autoria e retórica em produções escritas na escola”,
de autoria de Elioenai Piovezan e Roberta Piovezan, focaliza o aluno como autor,
que revisa por iniciativa própria seu texto, com ao menos alguma qualidade e
com unidade de sentido. O aluno-autor é também um negociador de distâncias,
que interage com os colegas para verificar a eficácia de seu discurso, atento à
presença de outras vozes que contribuem para a identificação de polifonia e
possibilidades criativas que a escola pode oferecer com certa primazia.
Luanny Vidal e Luisiana Moura iniciam seu artigo mencionando a resistência
dos alunos ao trabalho de produção textual e a dificuldade sempre presente na
transposição das ideias e pensamentos para o texto escrito com intencionali-
dade, articulação e clareza. Entendem que é possível trabalhar com contextos
significativos para o aluno-autor, considerando que, ao proporcionar melhor
compreensão dos meandros da escrita, a abordagem sociorretórica motiva
por meio do sistema retórico e torna possível vencer o desafio de planejar e
articular textos persuasivos sobre situações do contexto social.
A sociorretórica é também tema do artigo de Joelma Ribeiro e Márcia
Pituba, que comentam o acesso crescente à internet como motivo de se ter
atingido diretamente as formas de ler e escrever, pois traz um universo cheio
de imagens, letras, sons e códigos. Ainda, há uma diversidade de gêneros tex-
tuais digitais que convidam a participar como leitores e escritores. A partir da
construção de um repertório (conhecimento prévio), aliado à memória (tanto
individual quanto coletiva), a intertextualidade e a retórica (particularmente
a inventio), é exemplificado o uso de um meme como ponto de partida para
o aperfeiçoamento da leitura e da produção de textos argumentativos a ser
utilizado no ensino.
Andreia Honório e Carla Prada abordam os processos simbólicos como
elementos produtores de sentidos pelo estudo do gênero narrativo multimodal
presente em tiras, sequências de quadrinhos que geralmente fazem crítica aos
valores sociais. As tiras são mostradas como instrumentos de leitura e produção
textual em âmbito escolar com enfoque na inventio.
A insuficiência de textos voltados especificamente a elementos linguísti-
cos é o tema do trabalho de Leonardo Tavares e Mariano Magri. Segundo os
autores, tal ausência deixa um vácuo na consciência do autor, caso despreze os
elementos que fogem ao sistema da língua, como, entre outros, o contexto, os
costumes, as crenças, as figuras de linguagem, muito utilizadas no cotidiano.
Embora seja importante discutir os erros que os textos apresentam, participar
ativamente na construção de cada parte do texto é uma experiência ainda mais
enriquecedora.
Nathalia Melati traz a análise de uma prova de redação do Enem. Explica
que para serem bem sucedidos nessa redação, os estudantes devem compreender
as características essenciais de um texto, inclusive de uma produção argumen-
tativa. Comenta que lhes falta, no entanto, a compreensão do que diferencia
a escrita de uma redação excelente de uma apenas regular, em perspectiva
avaliativa e, sobretudo, persuasiva. Compreender aquilo que é esperado dos
alunos durante a prova de redação do Enem e quem seria seu auditório permite
uma assimilação do motivo que há por trás da produção textual.
A produção de artigos acadêmicos pode ser ensinada desde os primeiros
semestres de um curso universitário e proporciona aos alunos excelentes
oportunidades de formação, conforme mostra Ana Lúcia Magalhães. A escrita
acadêmica competente inclui um conjunto de habilidades e posicionamentos
como planejamento, estabelecimento de metas, resolução de problemas e ava-
liação criteriosa. O maior desafio dos professores tem sido motivar os alunos,
que tendem a considerar tal tipo de produção escolar como tarefa árdua e,
principalmente em cursos tecnológicos, separada da realidade cotidiana de
um profissional.
Éber Santos e Tiago Mattos abordam a escrita biográfica no ensino superior.
Biografia é a apreciação da vida e vidas não são estáticas, tampouco o espaço
biográfico. Trata-se, portanto, de um eu-para-si não constitutivo da forma, mas
da relação que cada um de nós tem para com os outros, contemporâneos que
participam conosco do dia a dia e integram um grupo de pessoas que vivem
o hoje. E, nisso, há uma característica social fundamental: os costumes. Nas
palavras dos autores: “a boa glória junto aos contemporâneos, o homem bom
e honesto e não a glória histórica junto aos descendentes”.
Com foco na produção de texto, portanto, o livro busca a sociorretórica e a
argumentação como norteadoras. Assim, destaca a importância do auditório,
evidencia os conceitos retóricos de ethos, pathos e logos, enfatiza as partes do
discurso e ocupa-se dos vários aspectos capazes de auxiliar na leitura e autoria
desde o ensino básico até o nível superior.
Considerações finais
A retórica, entre as ciências que estudam o discurso, possui um caráter
prático e ajuda a compreender como as palavras podem ser usadas mais
eficazmente para que os propósitos comunicativos sejam alcançados. No
percurso aqui apresentado, em que se buscou refletir sobre o processo de
ensino-aprendizagem de escrita e de leitura no contexto escolar do ensino
básico, as contribuições da sociorretóricas fizeram emergir dois pontos prin-
cipais que podem contribuir para auxiliar o professor a vencer o desafio de
motivar os alunos e torná-los protagonistas nesse processo: a constituição
do auditório pelo professor e a contextualização do espaço comunicativo
como ponto de partida no trabalho com o texto. Essas duas ações oferecem
conforto ao aluno e atenuam seu medo porque localizam o momento da
escrita ou da leitura, orientam o processo, fazem surgir compreensões e
percepções necessárias ao exercício e não roubam dele o papel da criação.
19
Referências
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1997. REBOUL, O. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
TREVISAN, E. Leitura: Coerência e Conhecimento Prévio. Santa Maria:
Ed. UFMS, 1992.
20
A dimensão da escrita na escola
Escrever na escola
Quando o auditório ganha relevo, o ato de criar um texto concentra toda
a atividade do orador e regula a tensividade que se imprime ao processo de
interação e ao curso da ação pretendida. Dar um texto ao mundo é, nessa
perspectiva, praticar a arte de utilização de recursos linguísticos, conceituais,
estratégicos e criativos com propósitos bem definidos e precipuamente é a
prática de um gesto de interação com o outro em um contexto instaurado.
Para dotar o texto de significação expressiva e de fato relevante para o
auditório, é fundamental, para bem além de configurá-lo fisicamente por
meio da língua, revelar com nitidez, no artefato verbal, um propósito que
se cumpre de modo adequado em situações de uso social efetivo. Essa é,
cremos, uma afirmação que mereceria reflexão aprofundada na escola:
toda escrita precisa ter um propósito bem definido e claro para autores
e oradores. Para externar os propósitos a que se destina, a escrita requer
capacidade do orador para recriar, pelo uso da língua, pelo entendimento
e pela análise, o que o autor processa cognitivamente, mas, principalmente,
solicita o encontro de um bom modo de “atender às condições para fazer
o que tem a fazer” (BAZERMAN, 2015, p. 107). 25
Uma das vocações da escrita é tornar-se inteligível. Esse princípio sempre
norteou o ensino de produção escrita na escola e é positivo em si mesmo. A
natureza dinâmica das situações sociais, porém, exige que a legibilidade se
traduza em desdobramentos intelectuais que revelem envolvimento efetivo
de um autor com seu auditório no processo de intervenção simbólica que
se dá pela escrita. A escola, então, ao voltar-se para a eficácia da produção,
pode ressaltar que escrever, seja onde e como for, é precipuamente um exer-
cício de retórica: arte prática e reflexiva que solicita coordenação acurada do
pensamento para traduzir intenções e objetivos do orador. Quando assim
vista, as metas da escrita envolvem orador e auditório na exteriorização de
pensamentos que reforçam a racionalidade do existir, a amplificação das
percepções de si e dos outros no imenso universo em que se revolvem os
valores, as preferências e paixões humanas. Se há propósitos, há uma exi-
gência que se impõe e, se assim é, a escrita atua como resposta humana a
uma situação proposta ao orador e ao auditório.
Dentre as múltiplas formas implicadas no ato de escrever, há um momento
processual que envolve o aprender e a análise de reações à produção apresentada.
Por isso, o ato de escrever impõe um período de aprendizagem significativa
de liberdade e de aprisionamento do ser que escreve diante das trincheiras da
própria linguagem e das situações sociais. A escola pode auxiliar nessa missão
primeira e fundamental: se há um processo natural que aprimora e regula o ser
que se mostra por meio de recursos da linguagem, escrever na escola poderia
ser, sobretudo, um exercício de autoria. Há alguém (aqui denominado orador
ou autor-aluno) que exercita as diversas funções exercidas por um texto para,
assim, criá-lo e aprimorá-lo em função de objetivos plenamente definidos. A
prática da escrita na escola, em resumo, poderia ser vista como a consecução
de um ato retórico que exige engenho e arte do orador para encontrar, na
constituição do discurso, a índole das premissas necessárias para obter eficácia.
Nesse sentido, a decisão de envolver-se num movimento dialético-discursivo
(e seria interessante que os alunos-autores assim se sentissem no processo de
escrita) requer, além do natural esforço cognitivo e afetivo, a reflexão acurada
sobre a utilização dos elementos do sistema retórico: invenção (inventio),
disposição (dispositio), elocução (elocutio), memória (memoria) e ação (actio).
Primeiramente, considere-se a inventio (quid dicat), ligada etimologicamente a
“achar” (invenire) e “julgar” (iudicare). É importante refletir que não basta ter
propósitos definidos e capacidade de bem gerir a língua em situações sociais
diversas. É preciso, também, levar em conta o aspecto passional que envolve o
auditório no instante da actio (aqui, didaticamente considerado como o produto
26 final de um texto e a leitura ou apresentação para um auditório), uma vez que
A dimensão da escrita na escola
POSIÇÕES DO AUDITÓRIO
atuar como juízes: aqueles que analisam uma causa passada, ponderam
sobre o justo, o legal e sobre o injusto, o ilegal, consideram a ética envolvida
e, a partir da reflexão, condenam ou absolvem.
atuar como assembleia: aqueles que, diante de uma causa que aponta para
o futuro, refletem sobre o útil, o conveniente e sobre o prejudicial, o nocivo.
A partir dessa ponderação, aconselham ou não a tomada de uma decisão.
33
Conclusão
Por motivos explicáveis historicamente, a escola refletiu longamente sobre
o processo de produção de textos a partir da correção gramatical, das etapas
do discurso e sobretudo dos valores inegáveis da elocução (lexis), que diz
respeito propriamente à redação do texto. Como nos lembra Reboul (2004),
elocução, antes de ser uma questão de estilo, diz respeito à língua como tal.
Em função disso, para os antigos, o primeiro problema da elocução centrava-
se na correção linguística. Ainda hoje, a questão da correção é fundamental
para um autor, pois, como rememora esse estudioso, “o orador deve pôr-se a
serviço, ou melhor, sentir-se responsável por aquilo que os gregos chamavam
de hellenizein, os latinos de latinitas, e que traduzimos por bom vernáculo”
(REBOUL, 2004, p. 61). E complementa: “Hoje em dia, também, quem quiser
persuadir o grande público não poderá permitir-se incorreções nem precio-
sismos, salvo em ocasiões muito precisas” (REBOUL, 2004, p. 61).
A inventio, entretanto, por parecer óbvia, quase não aparece nos manuais
escolares como uma etapa de reflexão necessária, ainda que faça parte do
plano-tipo clássico muito difundido para bem escrever um texto: invenção,
disposição, ação, memória e ação. Reboul (2004) dá algumas explicações sobre
o assunto ao refletir que a própria noção de invenção pode parecer muito
ambígua por situar-se em dois polos opostos: invenção-inventário (detecção
pelo orador de todos os argumentos e procedimentos retóricos disponíveis)
e invenção-criação (criação de argumentos e de instrumentos de prova). O
computador e os recursos tecnológicos da contemporaneidade podem ajudar
sobremaneira para a invenção-inventário. A invenção-criação, porém, depende
unicamente do poder humano de inspirar, pelo discurso, um ethos de confiança
como produto efetivo e representativo de um discurso particular de autoria.
Do mesmo modo, um discurso de autoria procura inspirar nuances patéticas
no seio do auditório por meio da força incontestável existente no manancial
contido nas dobras do logos. A invenção é parte primordial da construção
de um discurso persuasivo. Nesse aspecto, a questão da originalidade, tão
exigida por avaliadores de redação, passa a ser secundária, pois, em retórica,
inventar liga-se a procurar e achar o que está escondido, o que está guardado
e ainda não plenamente revelado. Limita-se à busca de provas que constituem
a substância da invenção e, por isso, é fruto da arte, da arte da prática e a da
arte de ensino e de aprendizagem.
34
A dimensão da escrita na escola
Referências
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2012.
____________. Arte Retórica. Trad. Antonio Pinto de Carvalho. São Paulo;
Rio de Janeiro: EDIOURO, s/d.
BAZERMAN, Charles. Retórica da Ação Letrada. Trad. Adail Sobral, Ângela
Dionísio, Judith Chamblis Hoffnagel, Pietra Acunha. São Paulo: Parábola, 2015.
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Hall. Lisboa: Edições 70, 1998.
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retórica. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
PLANTIN, C. A argumentação. Trad. Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
REBOUL, O. Introdução à retórica. Trad. Ivone Castilho Benedetti. 2 ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2004.
TRINGALI, D. Introdução à Retórica A Retórica como Crítica Literária. São
Paulo: Duas Cidades, 1988.
35
Teoria social da retórica
Constituição teórica
A distinção entre texto e discurso estabelecida por Quintiliano pode
ser ampliada, primeiramente, pelas considerações teórico-práticas desen-
volvidas por Bakhtin (2003 [1979]), sobre gênero de discurso e enunciado
concreto; por Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958]), sobre a revisão
elaborada à retórica aristotélica quanto às ocorrências argumentativas; e
por Carolyn Miller (1994 [1984]), sobre o redimensionamento da ação
retórica na concepção de uma sociorretórica.
Com relação à definição de gênero, Bakhtin (2003) registra que cada
38 enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua
Teoria social da retórica
Exemplificação prática
As ações sociais, impreterivelmente, para serem realizadas, envolvem
linguagem. Toda linguagem é conformada por uma prática social que se
configura a partir do arcabouço de conhecimentos prévios, individuais e
comunitários, armazenados pelo sujeito. O sujeito, por desempenhar um
papel social, transforma seus conhecimentos em discurso por meio de
uma ação retórica que é o processo de discursivização moldado por uma
intencionalidade argumentativa, identificada como argumentatividade.
42 O discurso produzido se configura sob a forma de gêneros tipificados,
Teoria social da retórica
tragédia brasileira2
Cidadezinha qualquer3
3 DRUMMOND, 2013, p. 49 45
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Considerações finais
Os gêneros atualizam uma ação social, por meio da articulação de uma
dinâmica retórica de argumentos, decorrente de uma motivação que representa
a realização individual de uma tipificação comunitária em que o agir retórico se
adapta socialmente, pelo gênero eleito, aos vários contextos e circunstâncias da
vida. O sujeito do discurso avança em seus interesses, molda suas significações
no interior de complexos sistemas sociais, atribui valores e avalia consequências
de interações verbais ao utilizar, adequadamente, diferentes gêneros.
A linguagem, como produto de uma evolução sócio histórica, vale-se
de técnicas de emprego de vocábulos e de expressões sintáticas, a fim de 47
consolidar interações pela qualidade dos argumentos selecionados e orga-
nizados mediante um raciocínio lógico e coerente. Assim se configura o
gênero circunscrito por requisitos fundamentais para que se compreenda
o funcionamento social do discurso, atualizado por sequências tipológicas
textuais e ajustado aos modos de comunicação do grupo ao qual o sujeito se
vincula ou aspira se conectar, permitido pelo comportamento sociorretórico
da comunidade discursiva que é o fator determinante para a comunicação.
48
Teoria social da retórica
Referências
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Farmhouse e Abel do Nascimento Pena. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da
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WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. Trad. Marcos G. Montagnoli.
6 ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
49
O ensino de produção textual
com foco no processo: a versão
textual da ação retórica
1 Mestrando pela PUC-SP; Bacharel em Direito pela Mackenzie/SP; Licenciado em Letras (Por-
tuguês/Inglês) e Pedagogia, com extensão em Supervisão Escolar (UnG); Membro do Grupo ERA; Bolsista
CAPES.
2 Mestranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Especialista em Língua Portuguesa pela PUC-SP;
Membro do Grupo ERA; Bolsista CAPES. 51
materializado pela escrita, corresponde a um outro discurso para negá-lo
ou afirmá-lo, e essa propriedade decorre da natureza dialética do texto
retórico. O texto, na escola ou no mundo, dialoga (ou deveria dialogar)
com outro discurso posto ou contraposto. Essa característica contribui
para dar o tom de realismo ao ato de escrever: há sempre um auditório
delineado no momento da produção.
Como bem lembra Bazerman (2015), no percurso da escrita - a versão
textual da ação retórica - deve-se enfocar a identificação e a cristalização do
espaço comunicativo. Apesar de o produto final da escrita ser externo ao
escritor - por depender do outro polo da relação comunicativa permeado pelo
texto - a maior parte do trabalho e da significação que faz o texto realizar-se
plenamente e atingir sua eficácia comunicativa advém do trabalho do escritor.
Em meio a esse trabalho, o escritor não só tem o direito à palavra, mas,
sobretudo, o direito de tomá-la com liberdade, franqueza e destemor. Essa
é uma grande descoberta grega, a parrésia, como ensina Tringali (2014).
Considerações finais
Diante do exposto, entendemos que o ensino de produção textual, embora
seja uma tarefa árdua, pode ser mais produtivo quando focado no processo.
Como bem lembra Bazerman (2015):
60
O ensino de produção textual com foco no processo:
a versão textual da ação retórica
Referências
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Originalmente publicado em: Quarterly Journal of Speech, v. 70, p. 151-167, 1984.
PASSARELLI, L. G. Ensino e correção na produção de textos escolares.
São Paulo: Cortez, 2012.
TRINGALI, D. A retórica antiga e outras retóricas: a retórica como crítica
literária, São Paulo: MUSA, 2014.
61
Autoria e retórica em
produções escritas na escola
Quanto mais pudermos escrever
para além dos limites de prescrições
burocráticas opressoras, tanto mais
obteremos o poder de nos definir
e representar no mundo letrado
Charles Bazerman
1 Doutorando em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP;
Especialista em Língua Portuguesa pela Unicamp; Membro do Grupo ERA; Bolsista CAPES.
2 Doutoranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP;
Membro do Grupo ERA; Bolsista CAPES. 63
a fórmula tradicional da escrita sem propósito ou descontextualizada,
visando mais a forma e a correção gramatical do que o conteúdo e a
eficácia do ato discursivo do aluno.
Nesse sentido, o exercício de autoria de textos escolares pressupõe uma
reflexão que se inicia pelo propósito de escrita e passa inevitavelmente pelo
sistema retórico aristotélico. Esse sistema, juntamente com outras categorias,
possibilita não apenas a produção de discursos que busquem a eficácia na
comunicação, mas também dá condições para que o professor verifique a
competência escritora do seu aluno. O sistema retórico, de alguma forma
presente nas redações dos alunos, é constituído, segundo os gregos, de
quatro partes: inventio, dispositio, elocutio e actio.
A inventio, ou invenção, segundo Mosca (2004), “é o estoque de material,
de onde se tiram os argumentos, as provas e outros meios de persuasão
relativos ao tema do discurso” (MOSCA, 2004, p. 28), é a busca de argumen-
tos nos lugares retóricos que, de acordo com Ferreira (2010), “são grandes
armazéns de argumentos, utilizados para estabelecer acordos com o audi-
tório”, mas sempre com o objetivo de persuadir (FERREIRA, 2010, p. 69).
Dessa forma, pode-se afirmar que a invenção representa parte estratégica
do conteúdo, do que dizer e para quem dizer. A dispositio, ou disposição,
para Tringali (2014), é uma arte de organizar em que “o orador constrói
seu discurso como um arquiteto constrói um edifício” (TRINGALI, 2014,
p. 158). É, portanto, a organização do conteúdo, o modo de dizer aquilo
que se pretende dizer. A elocutio, ou elocução, é o “estilo ou as escolhas que
podem ser feitas no plano da expressão para que haja adequação forma/
conteúdo” (MOSCA, 2004, p. 28-9). Trata-se da “redação do discurso”
(REBOUL, 2004, p. 61). E a actio, a ação, “é a ação que atualiza o discurso,
a sua execução” (MOSCA, 2004, p. 29) ou “o arremate do trabalho retórico,
a proferição do discurso” (REBOUL, 2004, p. 67).
Transportadas para os tempos atuais de uma sociedade preocupada
com o letramento, tanto a invenção como a disposição, a elocução e a ação
podem funcionar bem como estratégias de escrita, a pensar nas etapas
que a compõem, como ações antecedentes, concomitantes e posteriores à
produção de um texto. Tais estratégias permitem que o aluno desenvolva
um repertório, esquematize sua escrita e tenha uma visão panorâmica
do processo de feitura e recepção de seu texto. Assume, finalmente, a
função de autor.
De outro modo, a invenção propicia ao aluno momentos de reflexão, de
consulta a fontes de informação, coleção de dados, formação de repertório,
64 troca de ideias com os colegas e contribui, enfim, para o amadurecimento
Autoria e retórica em produções escritas na escola
Disso, o autor conclui que “atos de fala criam fatos sociais que alteram
o modo como as pessoas veem suas paisagens interiores e exteriores, as re-
lações com aqueles que as cercam, suas condições materiais e a si mesmas”
(BAZERMAN, 2015, p. 88). Assim, podem resultar atos responsivos, desde
uma neutralidade emocional diante de uma conta de luz até uma perturbação
que altere a consideração sobre pessoas e seus comportamentos moralmente
questionáveis. Afinal, “atos de fala devem tornar-se fatos sociais ao serem
bem-sucedidos” (BAZERMAN, 2015, p. 88).
De qualquer forma, “a ligação entre situação retórica, ato de fala, fato
social e gênero pode colaborar para uma ação efetiva” (BAZERMAN, 2015,
p. 90), pois dada a estabilidade do gênero, o autor de um texto tem melhores
condições de adequar seu discurso a uma determinada situação. Porém, “as
condições da escrita costumam estar apartadas do ambiente imediato, com
o escritor e o leitor não visíveis um ao outro e separados no tempo” (BA-
ZERMAN, 2015, p. 93). Logo, na sala de aula é necessário que se faça um
exercício de imaginação para se considerar o interlocutor ideal a quem será
direcionado o discurso, pois o propósito da escrita é modificar a paisagem
e, por meio do ato de fala, criar um fato social.
Produção de texto 1
Elabore uma carta a ser dirigida a uma autoridade municipal
pedindo providências sobre a falta de coleta de lixo no seu bairro.
Produção de texto 2
Imagine que você foi convidado(a) a participar de uma
reunião com moradores do seu bairro para discutir um pro-
blema que atinge a todos há mais de um mês: a falta de coleta
de lixo e os problemas decorrentes disso.
Ao final da reunião, você foi escolhido(a) para escrever
72 uma carta ao prefeito da cidade apresentando a opinião
Autoria e retórica em produções escritas na escola
Sistema retórico
Analisadas a conjuntura local e a tarefa que lhe foi dada, a aluna-autora
teve um momento de reflexão para pensar no que dizer e para quem dizer
(invenção). Optou por demonstrar consequências do acúmulo de lixo: mau
cheiro, entulho e sacos de lixo amontoados, impedimento da mobilidade
urbana. Também propôs uma solução imediata: pessoas para limpar a rua
(disposição). Há dois argumentos básicos aqui: um lógico, que apresenta
causa e consequência, como o lixo amontoado causa mau cheiro e não per-
mite que se use a calçada; e outro psicológico, que apela para o interlocutor
reconhecendo nele uma autoridade e a gratidão dos moradores, ou seja,
busca sensibilizar o prefeito por sua benevolência (elocução).
Em sua construção textual, verifica-se que faltou uma revisão gramati-
cal (ação), mas isso não prejudica em nada a intencionalidade expressada
pelo conteúdo temático. Nesse aspecto, a disposição e a elocução revelam
unidade de sentido e certa qualidade com a distribuição correta dos itens
da carta, organização das orações, concordância, coesão e coerência. A
autoconsciência de linguagem pode ser verificada no trecho: “na calçada
nem dá para sentar de tanto lixo”, pois reflete o fato de que os moradores
de bairros periféricos, muitas vezes por falta de opções de lazer, costumam
ficar sentados na calçada onde conversam, ouvem música, brincam ou
passam o tempo.
Gênero textual
A partir do modelo de carta argumentativa, a aluno-autora, ao con-
trário da proposta de redação 1, passa a conhecer a forma composicional,
o tratamento adequado ao conteúdo temático e começa a desenvolver um
estilo de linguagem, refletido na escolha de palavras e na formalidade
apropriada para cada caso. Na carta em análise, a aluna-autora atende à
76 estrutura do gênero, apresenta local e data, vocativo identificando o desti-
Autoria e retórica em produções escritas na escola
78
Autoria e retórica em produções escritas na escola
Referências
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TRINGALI, D. A retórica antiga e as outras retóricas: a retórica como crítica
literária. São Paulo: Musa, 2014. 79
Sociorretórica: da leitura
e da escrita para além
do contexto escolar
A viagem textual move e transforma o leitor
em um novo tipo de agente, com novos recursos,
percepções, posições, pensamentos e informações.
Charles Bazerman
Luanny Vidal1
Luisiana Ferreira Moura2
1 Doutoranda pela PUC-SP; Mestre em Linguística pela UNIFRAN-SP; Membro do Grupo ERA;
Bolsista CAPES.
2 Mestranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Membro do Grupo ERA; Bolsista CNPq. 81
é o fato de que ela se desenvolve, na maior parte das vezes, em situações
artificiais: “por falta de identificação dos alunos com o que aprendiam na
escola, que excluía a relação do que nela se ensina com as situações reais
de comunicação fora dela” (PASSARELLI, 2012, p. 34).
Desse modo, com o intuito de trazer sugestões que possam ajudar nas
práticas diárias de ensino de escrita a partir de situações do contexto real
do aluno, propomos uma sequência em etapas para a produção escrita a
partir da leitura e com base em estratégias que explicitam os mecanismos
de construção do discurso por meio do sistema retórico e da perspectiva da
sociorretórica, entendida como a junção das teorias que tratam do estudo
da linguagem e do discurso.
87
Fonte: https://noticias.r7.com/prisma/coluna-do-fraga/desculpas-de-neymar-sao-ridi-
cularizadas-pelos-internautas-30072018 – Acesso em 01 de agosto de 2018
° Tema do texto;
° Tipo de leitor ao qual se destina;
° Imagem com a qual o texto se relaciona.
• Confirmação, ou não, das hipóteses levantadas com a leitura na
íntegra;
88
• Anotação das ideias e das suposições levantadas.
Sociorretórica: da leitura e da escrita
para além do contexto escolar
Feito esse primeiro contato com o texto, passamos à leitura com o crivo
do sistema retórico para demonstrar como a retórica pode ser utilizada para
ensinar a leitura e a escrita aos alunos de Ensino Fundamental e Médio,
por meio das etapas de construção do discurso.
90
Sociorretórica: da leitura e da escrita
para além do contexto escolar
Fonte: as autoras
91
O quadro orientador pode ser aplicado a partir de quaisquer gêneros,
tanto na etapa de leitura e definição do tema condutor, como na produção
escrita, permitindo que o professor adeque a sequência a diferentes gêneros
previstos nos programas de diferentes séries e níveis. Nesse intuito, não
definimos, também, a quantidade de aulas que o tornam viável porque,
antes de tudo, é uma sugestão de aplicabilidade estratégica para o ensino
de produção escrita, que outorga ao professor a liberdade de alinhá-la a
sua realidade.
Em suma, reafirmamos que trabalhar com a transposição de um gênero
a outro é uma estratégia profícua que esboça o caminho a ser percorrido
no processo de produção textual escrita, o que permite, além disso, que o
aluno entre em contato com um gênero em relação ao outro, reconhecen-
do as características próprias de cada um, por meio da evidenciação da
aplicabilidade retórica e das diferentes maneiras de dizer, produzindo, em
seu viés sociorretórico, a ressignificação da escrita em contexto escolar.
Considerações finais
Todo ser humano é movido por motivações, que podem ser emocionais,
profissionais ou educacionais. Diante desse pressuposto, a motivação, no
contexto escolar, torna-se indispensável às diferentes situações do processo
de ensino e aprendizagem. De acordo com Bazerman (2015), essas motiva-
ções são tensionadas por preocupações de longo prazo e pelo atendimento
de situações emergentes moldadas pelo reconhecimento de como essas
situações se organizam. Em cada etapa a ser trabalhada durante o processo
de leitura e escrita, a ação acontecerá de acordo com a percepção, o lugar
de preocupações e os interesses do aluno-autor. Sendo assim, a situação
emergente é “reconhecida e moldada por nossas tipificações sobre como
as situações se organizam e como as formas de ação se tornam disponíveis
diante delas” (BAZERMAN, 2015, p. 99).
Cotidianamente, ressalta Bazerman (2015), somos expostos a situações
claras de escrita, reguladas em forma e ocasião, para as quais empreendemos
uma ação definida porque esperamos atingir um fim, que é o objetivo da
demanda. São formas de ação tipificadas para as quais precisamos apenas
decidir se atendemos ou não. A autonomia é estreita e a aceitação deter-
mina que sigamos a regulação, ou que lidemos com as consequências.
92 Assim, os momentos de escrita, na escola, pressupõem que o aluno atenda
Sociorretórica: da leitura e da escrita
para além do contexto escolar
93
Referências
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Autores Clássicos, 2005.
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PASSARELLI, L. M. G. Ensino e correção na produção de textos escolares.
São Paulo: Cortez, 2012.
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REBOUL, O. Introdução à retórica. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.
94
Desvendando os memes:
uma proposta para o ensino
de leitura e escrita
O acesso cada vez mais frequente à internet tem atingido diretamente as formas
de ler e escrever das pessoas, pois traz um universo cheio de imagens, letras,
sons e códigos. Ao mesmo tempo, há uma diversidade de gêneros textuais digitais
que emergem e fazem-nos interagir, além de nos estimularem e nos convidarem
a participar como leitores e escritores. Muitas vezes, no ciberespaço, o leitor não
é passivo, antes, é um produtor de textos que lê e estabelece seu próprio itinerário
de leitura ao escolher os materiais que acessará.
Atualmente, com a utilização de aplicativos e mídias eletrônicas diversificadas
nos processos de comunicação e de interação social, notamos uma crescente
circulação de gêneros textuais emergentes, que compõem o mundo letrado e
convocam cada vez mais participantes a tomarem parte desse universo. Bazer-
man (2015) afirma que:
1 Doutoranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP;
Especialista em Língua Inglesa pela USP; Membro do Grupo ERA.
2 Doutoranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP;
Especialista em Linguagens da Infância pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UniÍtalo); Membro do
Grupo ERA; Bolsista CAPES 97
Ao interagirmos com o universo digital e, consequentemente, com os gêneros
textuais que o compõem, facilmente podemos tanto reconhecê-los quanto iden-
tificar sua natureza, bem como os meios nos quais aparecem. Dentre os gêneros
midiáticos que circulam no ciberespaço, elegemos, para o trabalho com o ensino
de leitura e escrita em Língua Portuguesa, o meme, que vem conquistando um
espaço cada vez maior, pois é um gênero que carrega em si tanto a linguagem
verbal quanto a não verbal. Geralmente, transmite uma mensagem de humor ou
ironia e pode ser formado por imagens, figuras, fotografias, frases ou qualquer
elemento que transmita uma mensagem.
Os memes podem ser entendidos como uma construção retórica, à medida
em que são elaborados com o intuito de atingir o outro, ou seja, fazê-lo mudar
o ponto de vista, as convicções ou até o comportamento. Embora se utilizem do
humor e, por diversas vezes, da ironia, que são inerentes ao gênero, o intuito não
é apenas fazer o leitor rir ou informá-lo, mas, além disso, movê-lo de maneira a
possibilitar uma outra resposta por meio da reflexão, ou da mudança de perspec-
tiva da questão ou, ainda, suscitar uma paixão, que seria uma resposta imediata.
Esse gênero carrega um alto teor persuasivo, pois manifesta diferentes posi-
cionamentos ideológicos apresentados às redes em que circula. Embora difícil de
mensurar seu alcance, a sua resposta pode ser obtida por meio dos comentários,
das curtidas e dos compartilhamentos, ou seja, a resposta retórica pode ser dada
quase que imediatamente. Nessa perspectiva, a argumentação acha solo fértil a
partir desse gênero midiático, que carrega uma construção de sentido apoiada na
imagem, na intertextualidade e no contexto, ou seja, para dominar a leitura
e a produção do gênero em questão, é necessário identificar fatores externos
ao texto como a memória e a atualização dos fatos que o originaram.
O caráter persuasivo do meme está internamente relacionado com os
estudos de retórica que, desde os seus primórdios, não se ocupa com as
teses aceitas e provadas; antes, encarrega-se do que pode ter sido, com o
provável, com o verossímil, que atua no campo da doxa, ou seja, da opinião.
Aristóteles (2005), filósofo que viveu entre 384 a.C. e 322 a.C., já definira a
retórica como sendo capaz de achar o que cada caso comporta de persuasivo.
É nessa perspectiva, aliada à sociorretórica de Bazerman (2015), que sugerimos
a utilização do meme como ponto de partida para o ensino de leitura e produção
textual argumentativa em Língua Portuguesa.
Para tanto, traçamos um breve histórico sobre a origem, as características
e a taxonomia dos memes como um gênero textual midiático, um panorama
teórico sobre retórica, e, por fim, fazemos um percurso de leitura de um
meme que, potencialmente, baliza o processo de invenção da escrita de um
98 texto argumentativo.
Desvendando os memes: uma proposta
para o ensino de leitura e escrita
Origem do meme
Os memes são um gênero textual digital que circula na internet em
redes sociais como o Whatsapp, o Faceboook e o Twiter. Eles podem ser
formados por imagens, figuras, fotografias, frases ou qualquer elemento
que transmita uma mensagem irônica ou humorística. Alguns chegam
a viralizar na rede, em uma velocidade impressionante, outros, todavia,
não são tão propagados, mas podem permanecer por mais tempo na web.
O termo meme foi cunhado pela primeira vez por Richard Dawkins,
zoólogo e teórico social, em 1976, no seu livro “O gene egoísta”. O estudioso
se dedicou à pesquisa da evolução da cultura na sociedade, por meio de uma
comparação entre a evolução genética (Charles Darwin) e a evolução cultural,
ou seja, a transmissão cultural seria semelhante à transmissão genética, no
sentido de que, apesar de conservadora, pode dar origem a uma forma de
evolução. Portanto, para o autor, assim como o gene é o agente da evolução
genética, os memes o são da evolução cultural. Em outras palavras, o meme
é o replicador, o transmissor cultural que se dá por meio de ideias, melodias,
slogans, modas do vestuário, maneiras de fazer que se disseminam de uma
pessoa para outra dentro de uma cultura (DAWKINS, 1979). Sua propagação
se dá, em amplo sentido, por meio da imitação. Blackmore (2000, p. 65) ilustra:
“Quando você cumprimenta com o aperto de mãos, canta ‘Feliz aniversário’
ou vota em uma eleição, você está perpetuando memes3” (tradução nossa).
Dawkins (1979) esclarece que o termo meme provém da abreviação da raiz
grega “mimeme”, mas ressalta que “pode-se, alternadamente, pensar que a pala-
vra (meme) está relacionada à memória, ou à palavra francesa même (mesmo)”
(DAWKINS, 1979, p. 192). Para o autor, os memes são os replicadores, no
entanto, não significa que são cópias idênticas, antes se replicam resguardando
apenas algumas características, isto é, geram memes diferentes. Esse processo de
replicar está estreitamente relacionado com a cultura e o tempo. O termo meme
na internet passou a ser usado com grande frequência, pois nomeia um gênero
textual marcado pela linguagem verbal e não verbal, ou seja, a multimodalidade
textual, que requer de seus leitores e produtores4 estratégias de leitura e produção.
3 “Whenever you shake hand as, sing “Happy birthday” or cast your vote in an election, you are
giving life to memes”. Blackmore (2000, p. 65)
4 Salientamos que nesse trabalho adotaremos a terminologia produtor em detrimento a autor
para os que produzem os memes. Segundo Chartier (2014, p. 28): “[...] Aquele que assina uma carta privada
ou um documento legal e aquele que inventa uma publicidade não são autores, mesmo tendo sido eles os
produtores do texto. A ‘função autor’ resulta, portanto, de operações específicas, complexas, que relacionam
a unidade e a coerência de alguns discursos a um dado sujeito”. 99
No processo de replicação dos memes, Dawkins (1979) aponta três
características: longevidade, fecundidade e fidelidade. A longevidade é a
capacidade do meme de permanecer no tempo; a fecundidade, por sua vez, é
a capacidade de gerar cópias; já a fidelidade está relacionada à capacidade de
gerar cópias semelhantes ao meme original. Com base nos estudos de Dawkins
(1979), Recuero (2007) realiza uma taxonomia dos memes e adiciona mais
uma característica: o alcance, que está relacionado com a aproximação ou o
distanciamento dos memes replicados. Essas características apontam para o
valor de sobrevivência dos memes e norteiam a construção de sua tipologia.
Dessa forma, Recuero (2007) aponta:
• Quanto à fidelidade, os memes podem ser: replicadores, alta
fidelidade ao original e reduzida variação, seu principal objetivo
parece ser informar; metamórficos, têm alto poder de mutação
e recombinação, são difíceis de serem associados com o original
devido sua variabilidade, também consiste em uma forma de
estímulo à interação, como forma de propagação; miméticos, a
estrutura do meme permanece inalterada, apesar de sofrer mutações
e combinações, são facilmente reconhecidos como imitação do
original, no entanto, a sua essência está na personalização. A autora
ainda salienta que é possível um tipo de meme se transformar
em outro, por exemplo, um meme metamórfico pode ser apenas
referenciado em um link e, assim, transforme-se em meme de
replicação.
Da memória à intertextualidade
Outros fatores estão estreitamente relacionados com a produção e
a leitura dos memes. Destacamos a memória e a intertextualidade, uma
vez que podemos considerá-las como peças-chave tanto para a produção
quanto para uma leitura competente de um meme.
A memória é comum tanto para o produtor quanto para o leitor dos
memes e é também considerada, em retórica, a quinta parte da composi-
ção do discurso. Assim, quando há a produção de um meme, o produtor
assume o papel de guardião de um momento, uma vez que o registro,
embora carregado de humor e crítica, destaca uma situação que merece 101
ou tem relevância social. Podemos dizer, então, que o produtor do meme
usa de sua memória individual, a mesma que o orador utiliza quando
profere um discurso.
Posteriormente, essa memória individual amplia seu alcance e torna-
se uma memória coletiva, uma vez que ao circular por um auditório, seja
ele particular ou universal, o meme passa a pertencer não mais a um só
sujeito, mas a um grupo de sujeitos. Por isso, Le Goff (2014) afirma que:
5 Disponível em http://gersoncpidapetrobras.blogspot.com/2016/04/veja-os-melhores-memes-
sobre-o-processo.html - acessado em julho/2018. 107
O meme “Digam ao povo que eu fico” originou-se de uma tela ilus-
trativa de Dom Pedro I, príncipe regente do Brasil, sobre o “Dia do Fico”,
data conhecida pelo seu pronunciamento sobre sua permanência no Brasil,
apesar da pressão da coroa portuguesa, que havia solicitado sua volta a
Portugal como estratégia de impedimento da independência e recoloni-
zação do Brasil.
O partido liberal do Brasil chegou a colher milhares de assinaturas
para a permanência de Dom Pedro I, que proclamou no dia 9 de janeiro
de 1922: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou
pronto! Digam ao povo que fico” (FAUSTO, 1995, p. 132). No entanto, a
primeira parte da declaração de Dom Pedro I: “Se é para o bem de todos
e felicidade geral da Nação, estou pronto!”, não é resgatada no meme, pois
o próprio contexto de votação, para a permanência ou não da presidente,
revela que nem todos ficariam satisfeitos com a permanência de Dilma.
Dessa forma, estrategicamente, resgatou-se apenas a parte do discurso que
poderia alicerçar a tese.
Segundo a classificação de Recuero (2007), podemos considerar esse
meme, quanto à fidelidade, mimético, pois a estrutura do meme permanece
inalterada, apesar de sofrer mutações e combinações. Além disso, é facil-
mente reconhecido como imitação do original, no caso, da tela original. No
entanto, a sua essência está na personalização, no caso, a cabeça de Dom
Pedro I é trocada pela da presidente. Quanto à longevidade, é volátil, de
108 curto período de exposição, pode até ser copiado na rede, mas esquecido
Desvendando os memes: uma proposta
para o ensino de leitura e escrita
Considerações finais
O percurso de leitura que ilustramos acima fornece ao produtor de
texto um vasto repertório de provas retóricas cabíveis de serem utilizadas.
Reiteramos que prova em retórica consiste em tudo que possa persuadir.
Dessa forma, ao abordar os aspectos persuasivos oferecidos pela leitura
do meme, acreditamos que o aluno, naturalmente, criará um repertório
de provas a serem adequadas e aperfeiçoadas na sua produção argumen-
tativa. As provas encontradas, por meio da leitura, devem ser escolhidas
e avaliadas, o que corresponde ao processo de invenção. Posteriormente,
esses argumentos serão organizados na disposição, parte da composição
responsável por organizar o texto.
Cabe salientar que segundo Tringali (2014), baseado em Aristóteles,
as provas não são inventadas, mas encontradas, avaliadas e empregadas.
Nessa perspectiva, a produção textual argumentativa que parte da análise
de um outro gênero persuasivo oferece, além da oportunidade de leitura, as
possibilidades de acesso a diferentes tipos de argumentação que comporão,
além do texto a ser produzido imediatamente, textos futuros dos alunos.
No caso do meme “Digam ao povo que eu fico”, a construção argumen-
tativa oferece, além dos aspectos sociais, históricos e políticos, a riqueza
da construção de sentido, ativada pela memória e pela intertextualidade.
Recursos que podem ser adotados posteriormente pelo produtor de texto
por meio de argumentos éticos, patéticos e lógicos.
O ensino de leitura e escrita dirigido por gêneros textuais propicia ao
aluno integração ao universo letrado, inclusive ao midiático, que tem cada
110 vez mais atraído pessoas e fidelizado adeptos à sua tecnologia. Não podemos
Desvendando os memes: uma proposta
para o ensino de leitura e escrita
111
Referências
ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Trad. Antônio Pinto de Car-
valho. 17 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
_____________. Retórica das paixões. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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Unimarco, 1997.
CHARTIER, R. O que é um autor? Revisão de uma genealogia. Trad. Luzmara
Cursino e Carlos Eduardo Bezerra. São Carlo, SP: Edusfscar, 2014.
DAWKINS, R. O gene egoísta. IN: Coleção: O homem e a ciência. Trad. por
Geraldo H. M. Florsheim. São Paulo: EDUSP, 1979; p.189-201.
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Desenvolvimento da Educação, 1995.
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3 ed. rev. e aum. São Paulo: Perspectiva, 2012.
LE GOFF, J. História & Memória. Trad. Bernardo Leitão et al. 7 ed. rev. 1
reimpressão. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2014.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado de argumentação. São
Paulo: Martins Fontes, 1996.
RECUERO, R. Memes em weblogs: proposta de uma taxonomia. In: Fame-
cos, 32, 2007
RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François
et al. 6 reimpressão. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.
TRINGALI, D. A Retórica como Crítica Literária. São Paulo: Musa, 2014.
112
Reflexões sobre a relação
palavra imagem em processos
de leitura e produção escrita:
uma proposta com tiras
da Turma do Xaxado
1 Mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP, possui pós-graduação em Língua Portuguesa pela
faculdade D.Domênico (1998) e graduação com licenciatura plena em Letras pela Universidade Católica
de Santos (1996); Membro do Grupo ERA.
2 Mestranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Membro do Grupo ERA.
3 Que se vale dos recursos das linguagens verbal e não-verbal para se comunicar.
4 Semiótica/ semiologia: para Charles S. Peirce 1839-1914, teoria geral das representações, que
leva em conta os signos sob todas as formas e manifestações que assumem (linguísticas ou não), enfatizando
esp. a propriedade de convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram. 115
pertinentes ao nordeste brasileiro, criadas pelo cartunista Antônio Cedraz.
Entendemos que tanto a leitura quanto a escrita, antes delimitadas
apenas ao recurso visual da letra, por meio dos estudos científicos da
multimodalidade, se ampliam com a presença da imagem e dos demais
recursos típicos da linguagem quadrinística. Tradicionalmente, em âm-
bito escolar, leitura e escrita são vistas por uma ótica restrita relativa aos
processos de ensino-aprendizagem que precisa ser ressignificada e, cons-
tantemente, revisitada pelas abordagens científicas, devido, sobretudo, à
evolução tecnológica e ao surgimento dos novos recursos comunicativos
ampliados com a presença da imagem, perceptíveis em diversas áreas da
comunicação humana.
O caráter narrativo das tiras dialoga com o recurso da narratividade
imagética, como a propaganda, entre outros, que se valem da imagem para
a comunicação. Esses métodos, que a modernidade vem imprimindo à
comunicação, podem e devem se refletir no trabalho docente por meio do
aprimoramento de níveis de processamento de leitura e produção escrita
dos alunos. Essas atividades são de suma importância no âmbito escolar,
pois se voltam para a dinamicidade e renovação dos meios de apreensão
da linguagem como instrumento de construção, que podem se refletir nas
técnicas argumentativas.
Na contemporaneidade e fora dos círculos escolares, os produtores, em
larga escala, têm se valido desses recursos para, dentre outros objetivos,
ratificar a manipulação e a dominação das massas por intermédio dos
recursos semióticos, comunicativos e persuasivos, não mais delimitados à
letra, em uma perspectiva grafocêntrica na condição de instrumento con-
densador do pensamento. No entanto, as massas, incluindo os estudantes,
ainda estão pouco cientes dessa postura manipulatória. Em virtude disso,
torna-se relevante uma análise profunda e a utilização desse escopo em prol
de auxiliá-los a perceber esse tipo de postura valendo-se, cientificamente,
das vertentes da sociossemiótica e sociorretórica, nas quais já há pesquisas
que se valem dos sentidos visuais como objeto de estudo.
Depreende-se, por meio de um percurso histórico da comunicação
humana, que o deslocamento dos recursos semióticos, antes delimitados
à letra, traz para a atualidade a dimensão significativa da observação e o
uso dos sentidos humanos e demais formas de expressão comunicativas
como fatores importantes na representação bem como na compreensão
da produção de sentidos que confluem para a busca e ciência de melhores
níveis argumentativos.
116 Nesse quadro, a leitura da imagem agrega sentidos e ultrapassa a
Reflexões sobre a relação palavra imagem em processos de leitura e
produção escrita: uma proposta com tiras da turma do xaxado
sistema de rede. Por isso, novas demandas sociais geram novas demandas
textuais e discursivas nas quais se fazem necessários ajustes de nominaliza-
ções mediante a utilização dos recursos semióticos que atuam nessa nova
relação do homem com a representação da realidade dada por ele ao mundo.
A escolha pelas tiras da turma do Xaxado remete à implicação com as
relações de poder e as desigualdades sociais relativas ao nordeste brasileiro,
partilhadas socialmente no e pelo discurso, passíveis de negociações e acor-
dos por meio das semioses polarizadas e distribuídas conforme as categorias
pessoas, lugares e coisas aliadas aos quadros da Gramática do Design Visual,
a saber: quadro comunicacional vinculado a uma percepção retórica e com-
posto pela paisagem semiótica– entorno comunicativo na qual as semioses5
se materializam e podem ser partilhadas, negociadas e acordadas por meio
das interações entre os participantes - e as metafunções: representacional,
interacional e composicional, a serem expostas a seguir.
Aplicação teórica em
ambientes educacionais
5 Entendida, neste capítulo, como qualquer ação ou influência para sentido comunicante pelo
estabelecimento de relações entre signos que podem ser interpretados por alguma audiência. 119
de níveis de leituras por meio do aguçamento das relações estabelecidas
entre as semioses presentificadas na paisagem semiótica, nos processos de
ação e suas respectivas transitividades, nos processos de reações emitidos
e trocadas pelos olhares entre os participantes juntamente com os valores
distribuídos e polarizados das informações. Por isso, consideramos ser
possível partilhar com os alunos as esquematizações como proposta de
letramento visual.
Consideramos também que essa aprendizagem corresponde a uma
forma de empoderamento dos alunos, enquanto leitores, tendo em vista que
o mundo atual está repleto de estímulos visuais nem sempre trabalhados
e refletidos na escola sobre seus respectivos poderes de ação em nossas
decisões de consumo, escolhas e afins.
Da mesma maneira, opinamos pela a utilização da análise em propostas
de produção escrita tendo em vista o pensamento de Bazerman (2015) a
respeito do ato de escrever:
A escrita escolar, portanto, não deve estar restrita apenas a leitura para
mera avaliação de um único leitor: o professor, na condição de avaliador. Por
isso, consideramos também a possibilidade de que os produtos produzidos
pelos alunos se transformem em projetos de livros coletivos, motivo de
discussões, debates e demais atividades que possam fazer os textos alçarem
novos leitores. Atitudes desse tipo colaboram para o entendimento de que
o ato de escrever, embora isolado e parcialmente solitário, está a serviço do
outro: um público-alvo, seja para influenciá-lo, comovê-lo ou persuadi-lo.
120
Reflexões sobre a relação palavra imagem em processos de leitura e
produção escrita: uma proposta com tiras da turma do xaxado
Fonte: as autoras.
125
Referências
BAZERMAN, C. Retórica da ação letrada. 1 ed. São Paulo: Parábola Edi-
torial, 2015.
CUNHA, A. H. da. Tiras e Gramática do Design Visual: A produção de
sentidos no gênero multimodal. 2017. Dissertação (Mestrado em Língua Portu-
guesa). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
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São Paulo: Paz e Terra, 1996.
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Edward Arnold, 1985.
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading Images: The Grammar of Visual
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LANDOWSKI, E. Sociossemiótica: uma teoria geral do sentido. Revista Ga-
láxia (São Paulo, Online) n.27. p.10-20, jun 2014. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/1982-25542014119609 > Acesso em jul/2018
PALMA, D. V., TURAZZA, J. S. (orgs) Educação linguística e o ensino de
língua portuguesa: algumas questões fundamentais. São Paulo: Terracota, 2014
REBOUL, O. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
WATSON, J; HILL, A. A Dictionary of Communication and Media Studies.
London: Edward Arnold, 1980.
126
Estratégias sociorretóricas
na construção de textos
argumentativos
São os conteúdos que engajam a mente de um leitor,
dando as informações desejadas, aguçando o pensamen-
to, evocando uma perspectiva compartilhada sobre o
mundo ou fomentando indignação e ação.
Charles Bazerman
Leonardo Tavares1
Mariano Magri2
1 Mestrando em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Membro do Grupo ERA; Bolsista CAPES.
2 Mestrando em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Membro do Grupo ERA; Bolsista CAPES.
3 O Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) é uma pesquisa idealizada em parceria entre
o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa e realizada com o apoio do IBOPE Inteligência
com o objetivo de mensurar o nível de alfabetismo da população brasileira entre 15 e 64 anos e avaliar suas
habilidades e práticas de leitura, de escrita e de matemática aplicadas ao cotidiano.
4 Disponível em https://drive.google.com/file/d/0B5WoZxXFQTCRRWFyakMxOTNyb1k/view 129
referenciação, a pontuação e os conectivos são alguns exemplos. Ter ciência do
que a língua nos coloca à disposição para argumentar é de suma importância.
Contudo, a preocupação voltada somente aos elementos linguísticos deixa
um vácuo na consciência do autor, se desprezar os elementos que fogem ao
sistema da língua, como o contexto, os costumes, as crenças, as figuras de
linguagem, muito utilizadas no cotidiano, entre outros.
Portanto, preocupamo-nos neste capítulo com dois focos: a) os ele-
mentos extralinguísticos, essenciais para a formação do escritor; e b) as
estratégias para a relação entre professor e aluno no momento da produção
do texto argumentativo.
Para atingir esses objetivos, entender o que está às voltas com o ato
de argumentar é essencial. Iniciamos, então, com uma afirmativa muito
difundida entre os falantes de língua portuguesa: “Contra fatos não há
argumentos!”. Não nos preocupa de onde surgiu essa expressão, mas sim
que ela recebeu a significação de que os fatos falam por si, ou seja, não
adianta argumentar. Para alguns, essa expressão assumiu status de verda-
de, mas a primeira premissa adotada por nós nessa linha de raciocínio é a
negação desse provérbio. Para explicar o porquê, partiremos do trabalho
de Ferreira (2015), que nos apresenta o conceito “universo da doxa”. Esse,
apesar de não poder ser explicado por uma tradução literal, pode, todavia,
ser entendido pela interpretação da questão apresentada abaixo.
O que é argumentar?
Num regime democrático, argumentar é fundamental para a convivên-
cia pacífica. Mas o que é, efetivamente, argumentar? O que está em jogo
quando defendemos um ponto de vista?
Para responder a essas questões, recorremos à retórica, pois o objetivo
5 Disponível https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/53/49645?tipo=grafico.
Consultado em julho/2018. 131
da argumentação é persuadir, é levar o outro a concordar com as teses que
lhe são apresentadas. Segundo Aristóteles (2013 [384-322 a.C.]), a retórica
pode ser definida como a faculdade de observar, em cada caso, o que pode
criar a persuasão e, por isso, não está presa a nenhum gênero particular.
Enquanto a medicina se ocupa com o que é saudável ao paciente, a geo-
metria com as propriedades da grandeza, a aritmética com os números, a
retórica tem o poder de estar diante de qualquer questão apresentada. Por
essas definições, portanto, a retórica oferece alguns conceitos fundamentais
para entendermos o que é argumentar.
Segundo o próprio Aristóteles (2013), há três tipos de meios de persuasão
supridos pela palavra, conhecidas como provas retóricas: quem fala, quem
ouve e a mensagem falada, que são difundidas, respectivamente, como
ethos, pathos e logos. Sobre a primeira prova, devemos ter em mente que,
ao falar (ou escrever), o orador transmite um caráter que lhe é pessoal e
incute em sua fala algo que pode ou não dar confiança a quem o escuta
(ou lê). A segunda prova está ancorada no que o autor chama de “espíritos
do auditório”, que se referem às emoções de quem ouve, a pré-disposição
que as pessoas têm de serem tocadas emocionalmente. A terceira prova é o
discurso em si, a fala, a escrita, a mensagem transmitida em sua disposição
de argumentos com o objetivo de levar o auditório a concordar, ou seja,
persuadi-los. Ainda que a argumentação esteja materializada no discurso,
a retórica canoniza essas três provas como indissociáveis. Para ser eficaz,
portanto, o argumento (logos) tem de ser proferido por quem transmite
confiança (ethos) e consegue levar o auditório6 (pathos) a aderir às teses
que lhe são apresentadas.
Vale ressaltar que as provas retóricas não são meras nomenclaturas
que Aristóteles (2013) deu às partes envolvidas no discurso. O leitor pode
pensar: “parece óbvio que o ato de argumentar envolva alguém que fale,
uma ou mais pessoas que escutem e um ou mais argumentos construídos”.
Contudo, conforme demonstra Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996), du-
rante muitos anos, a corrente positivista conseguiu tornar dominante a ideia
de que a ciência, por meio de evidências, como características da razão,
seria a única forma de reconhecer algo como verdadeiro. Nas palavras do
autor, toda “prova seria redução à evidência e o que é evidente não teria
necessidade alguma de prova” (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA,
A escrita contextualizada
Durante vários anos – e ainda é possível encontrar na matriz curricular de
muitas escolas –, o ensino da língua portuguesa ficou centrado na descrição
da língua, ou seja, na sua gramática. Embora não se descarte a importância
da gramática, é possível constatar, como afirma Pauliukonis (2013), que: 133
[...] é lugar-comum a insatisfação generalizada dos professores
diante do fracasso dos alunos, em qualquer grau de ensino, quan-
do solicitados a redigir e a interpretar texto, principalmente os
literários e os argumentativos. Os resultados avaliativos em níveis
nacionais nunca são animadores: queixam-se os professores de
que alunos interpretam e redigem mal, embora passem grande
parte do ensino fundamental aprendendo classes de palavras,
memorizando listas de coletivos, fazendo análise sintática e
repetindo modelos de conjugação de verbos, decorando regras
para acentuação gráfica, de concordância, regência, colocação
etc., temas recorrentes nas aulas de língua, em qualquer nível
de ensino. (PAULIUKONIS, 2013, p. 240).
Traçar um sinal de igual entre uma língua e a sua gramática faz com que
o ensino da escrita e da leitura se atenha às relações internas do texto: os
termos de uma oração e as conexões existentes entre eles. O que defendemos
até então foi que argumentamos para conseguir a adesão do auditório e é
pouco provável que tenhamos eficácia se nos preocuparmos somente com
os elementos linguísticos presentes na materialização do texto.
Acerca dos elementos extralinguísticos, tomamos como base o trabalho
de Bazerman (2013). Segundo esse autor, podemos superar os problemas
com a escrita se entendermos como superar a dificuldade que os falantes
têm de recriar as circunstâncias da comunicação e uma das formas de se
fazer isso é tornar evidente o que fazemos de forma automática, como
na comunicação face a face. Ressalta ainda que, na interação face a face,
o diálogo acontece no mesmo tempo, no mesmo lugar e o espaço comu-
nicativo é compartilhado, ou seja, há troca de turnos7. A todo instante,
todos os referentes são compartilhados. Se o falante A diz ao falante B
sobre pessoa não presente, por exemplo, essa terceira pessoa precisa ser
conhecida de ambos ou, no caso de o falante B não conhecê-la, o falante A
fará uma introdução antes de fazer qualquer menção sobre ela, sob a pena
de o falante B não entender de quem se fala. “O alinhamento é tão crucial
para a manutenção da conversação que as pessoas restauram regular e
consistentemente a conversão quando sentem que houve alguma violação
que vai interromper o fluxo” (BAZERMAN, 2013, p. 16).
Na escrita, por sua vez, não dispomos das mesmas características. O
8 Vários são os trabalhos que detalham cada parte da retórica. Indicamos dois:
Mosca (1997) e Tringali (2008).
9 O original pode ser consultado em https://guiadoestudante.abril.com.br/
blog/redacao-para-o-enem-e-vestibular/proposta-de-redacao-violencia-de-genero-
136 nas-universidades-brasileiras/. Consultado em julho/2018.
Estratégias sociorretóricas na construção
de textos argumentativos
questão: se foi, o que é, quais as circunstâncias. Ela não serve como prova,
documenta” (TRINGALI, 2008, p. 164-165). Deve-se tomar cuidado para
não confundir com exemplos. Não se trata de fornecer exemplos, mas de
usar a narrativa em função dos interesses de quem argumenta. Intentamos
responder positivamente à questão formulada, ou seja, mostramos que o
status institucional é mais importante do que a proteção da pessoa. Por
isso, faremos a narrativa de forma verossímil com vistas a chegar a essa
conclusão. Exemplo de narrativa:
A questão controvérsia que colocamos foi: não importa que a institui- 139
ção não promova a festa. O fato de a festa acontecer dentro do campus da
instituição a torna corresponsável pelo evento.
A proposição é, quase sempre, feita em conjunto com a partição, que
enumera os pontos principais da proposição. (TRINGALI, 2008). Exemplo:
Considerações finais
A nossa proposta não teve o objetivo de refutar as estratégias pedagógicas
realizadas até então. Sabemos que os elementos linguísticos presentes na
superfície de um texto são essenciais para concatenar ideias e organizar um
discurso e não podemos prescindir deles, contudo, para a construção de um
texto argumentativo, temos elementos extralinguísticos que são essenciais
para o convencimento e a sociorretórica oferece alguns instrumentos muito
bons para isso. Em primeiro lugar, permite que o autor entenda a relação
do leitor com a realidade que o cerca; o hiato que existe entre o tempo que
se escreve e que se lê. Em segundo lugar, pelas técnicas da retórica, permite
conduzir o ensino por meio de uma construção, ao invés de ficar somente
na correção gramatical do texto. Fazer a devolutiva sobre os erros que os
textos apresentam é importante aos alunos, mas participar ativamente na
construção de cada parte do texto nos parece uma experiência muito mais
enriquecedora.
Para finalizar, se o leitor agregar, na ordem, todos os exemplos demons-
trados na construção do texto argumentativo, terá uma redação típica de
vestibular. Nossa proposta foi sugerir que seguir as partes da dispositio é
uma das formas de construir um texto argumentativo com começo, meio
e fim, do ponto de vista linguístico, além de levar em consideração que do
outro lado há um leitor (auditório) capaz de se deixar levar pelos apelos
utilizados na construção dos argumentos.
141
Referências
ARISTÓTELES (384-322 a.C.). A retórica. Trad. Edson Bini. São Paulo:
Edipro, 2013.
BAZERMAN, C. Retórica da ação letrada. São Paulo: Parábola. 2013.
BRASIL. IBGE. Projeção da população.
Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/53/49645?tipo=-
grafico. Acesso em: jul. 2018.
FERREIRA, L. A. Leitura e persuasão: princípios de análise retórica. São
Paulo: Contexto, 2015.
INSTITUTO MONTE NEGRO & AÇÃO EDUCATIVA. Indicador de
alfabetismo funcional – INAF: estudo especial sobre alfabetismo e mundo do
trabalho, 2016.
Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B5WoZxXFQTCRRW-
FyakMxOTNyb1k/view> Acesso em: jul. 2018.
MOSCA, L. (Org). Retóricas de ontem e de hoje. São Paulo: Humanitas, 1997.
PAULIUKONIS, M. A. Texto e Contexto. São Paulo: Contexto, 2013.
TRINGALI, D. A retórica antiga e as outras retóricas: a retórica como crítica
literária. São Paulo: Musa, 2008.
142
Motivos: uma análise da
prova de redação do Enem
Nathalia Melati1
1 Doutoranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; Mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP;
Membro do Grupo ERA; Bolsista CAPES.
145
é clara. Preencher um formulário para renovação de qualquer documento é
motivado pelo desejo de se renovar o documento. Assim, o leitor desse texto
(auditório) precisa compreender as informações ali presentes para reagir ao
texto e realizar a renovação.
Muitas vezes, no ensino de produção textual, a força intrínseca das palavras
é ofuscada diante de aspectos gramaticais e pouco retóricos. A realidade, no
entanto, é que o texto, ainda que formalmente correto, pode não persuadir
os examinadores na intensidade do desejo do orador, uma vez que o texto
parece descolado da realidade. É uma produção que não indica o seu autor,
seu leitor ou a sua motivação.
O ensino médio recebe alunos que já completaram, pelo menos, nove
anos de educação formal, e, no mínimo, mil horas de aulas de Língua Por-
tuguesa. O texto, para eles, já é um produto final de um longo processo de
escrita e, assim, termina num ponto final que não leva em conta o ecoar
do discurso. Não é viável para um professor ensinar a produção de texto a
partir da estaca zero. Parte do desafio, pois, consiste em como demonstrar
para esses alunos que a noção de erro não está na escrita do texto, mas no
processo que se inicia com a leitura da proposta de redação.
Com o objetivo de contribuir para o debate sobre práticas em sala de
aula, este capítulo parte da perspectiva retórica para compreender a leitura
crítica das propostas de redação do Enem como um possível instrumento
auxiliar no desenvolvimento de dois itens essenciais: a motivação do autor
da redação do Enem; e a definição dos papeis do autor e leitor dessa redação.
É necessário fazer, neste momento, uma ressalva. Assim como muitos
outros, este texto tem como motivação contribuir para a prática pedagógica
do ensino de Língua Portuguesa. Acreditamos que cada texto produzido
sobre a prática docente se insere em um longo diálogo entre professores e
pesquisadores. Nesse sentido, cada e toda pesquisa com ênfase em educação
colabora, a seu modo, para o aprimoramento da educação e para o consequente
aprimoramento humano de cada um dos alunos que frequentam as salas de
aula deste país tão ricamente repleto de contrastes e de paixões edificantes.
A importância da motivação
De acordo com Bazerman (2015, p. 21), “a retórica é a arte prática
reflexiva do enunciado estratégico em contexto do ponto de vista dos
146 participantes, tanto falantes quanto ouvintes, escritores e leitores”. Isso
Motivos: uma análise da prova de redação do Enem
Instruções
Seu texto tem que ser escrito à tinta, na folha própria.
Desenvolva seu texto em prosa:
não redija narração, nem poema.
O texto com até 7 (sete) linhas
escritas será considerado em branco.
O texto deve ter, no máximo, 30 linhas.
O rascunho da redação deve ser feito no
espaço apropriado. (INEP, 2009, p. 2).
Instruções
O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em
até 30 linhas.
A redação com até 7 (sete) linhas escritas será considerada “in-
suficiente” e receberá nota zero.
A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo disser-
tativo-argumentativo receberá nota zero.
A redação que apresentar proposta de intervenção que desrespeite
150
Motivos: uma análise da prova de redação do Enem
Considerações finais
Como futuro cidadão crítico, o aluno deve ser capaz de reconhecer os
atos retóricos que o cercam diariamente; deve entender como esses atos
objetivam mudar suas atitudes, crenças, opiniões e comportamentos; e
deve reconhecer se obtêm sucesso ou fracasso quando atingem um audi-
tório. Enfim, ao assumir um papel de crítico, é necessário que o indivíduo 155
descreva, interprete e avalie os discursos que o cercam para compreender
o motivo do êxito de cada um e, essencialmente, tenha clara para si a sua
finalidade de um discurso público.
Compreender aquilo que é esperado dos alunos durante a prova de
redação do Enem e quem é o seu auditório permite uma assimilação do
motivo por trás da produção textual. Ainda que artificialmente, simular
a motivação da escrita faz com que a produção textual seja inserida em
um conceito mais palpável para o estudante e, assim, possa contribuir
com seu crescimento. Bazerman (2015) postula que a evolução da escri-
ta tende a acontecer com uma interação que se desenvolve ao longo do
tempo, uma vez que “problemas se definem, os papéis de participantes
emergem, o trabalho a ser realizado fica mais claro, os fatos da situação
e o conhecimento relevante tornam-se salientes” (BAZERMAN, 2015,
p. 109). Dessa forma, a leitura retórica da prova de redação em sala de
aula por professores e alunos pode ser um instrumento importante para
o desenvolvimento da escrita.
156
Motivos: uma análise da prova de redação do Enem
Referências
ARISTÓTELES. Retórica. Tradução, textos adicionais e notas Edson Bini.
São Paulo: EDIPRO, 2011.
BAZERMAN, C. Retórica da ação letrada. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
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Brasília: O Instituto, 2013.
FARAH, N. E. Proposta de desenvolvimento da produção textual na
perspectiva da Educação Linguística – para além do Enem. 2016. Dissertação
(Mestrado em Língua Portuguesa). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2016.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Tei-
xeira. Exame Nacional do Ensino Médio. Prova de Redação e de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias. Prova de Matemática e suas Tecnologias. Brasília: O
Instituto, 2009.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Tei-
xeira. Exame Nacional do Ensino Médio. Prova de Redação e de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias. Prova de Matemática e suas Tecnologias. Brasília: O
Instituto, 2010.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Tei-
xeira. Exame Nacional do Ensino Médio. Prova de Redação e de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias. Prova de Matemática e suas Tecnologias. Brasília: O
Instituto, 2011.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Tei-
xeira. Exame Nacional do Ensino Médio. Prova de Redação e de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias. Prova de Matemática e suas Tecnologias. Brasília: O
Instituto, 2012.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Redação no Enem 2016: cartilha do participante. Brasília: O Instituto, 2016.
MOSCA, L. Velhas e Novas Retóricas: Convergências e Desdobramentos. In
_________. (Org.) Retóricas de Ontem e de Hoje. 2 ed. São Paulo: Humanitas, 2001.
157
Ensino da produção de
artigo acadêmico: uma
abordagem sociorretórica
1 Doutora em Língua Portuguesa pela PUC-SP, possui graduação em Letras pela Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena (1974) e mestrado em Língua Portuguesa pela PUC-SP (2001);
Membro do Grupo ERA.
2 Os cursos de tecnologia são faculdades com forte componente mercadológico e duração de
três anos. A diferença entre o tecnólogo e um bacharel ou licenciado é que a formação do primeiro é mais
focada, com disciplinas bastante específicas, enquanto os outros dois são mais generalistas.
159
sobretudo, da organização retórica e das soluções comunicativas dos textos.
Embora essas correntes não sejam as únicas a tratar dos gêneros comen-
tados, representam aqui o pensamento teórico pertinente.
Este capítulo fundamenta-se ainda em Aristóteles (2003 [230 a.C.]),
Meyer (2007), Perelman e Tyteca (1999 [1958]) e Toulmin (2003 [1958]),
que esclarecem sobre a Retórica em âmbito profundo, no sentido de não
ser possível a elaboração de qualquer texto – e acrescentamos, em particu-
lar o artigo acadêmico – sem levar em conta os sujeitos e suas colocações
argumentativas, representadas nas estruturas discursivas.
O domínio do entendimento sobre ethos, pathos e logos ligados, respec-
tivamente, a orador, ouvinte/leitor e discurso, assim como a compreensão
das estruturas internas do argumento (TOULMIN, 2003) são essenciais
na construção do artigo acadêmico, embora possam não aparecer objeti-
vamente nesses textos.
A partir dessas considerações, a proposta deste trabalho é apresentar
uma experiência com inclusão da sociorretórica na prática do ensino em
escola tecnológica de nível superior, cujos cursos são tipicamente voltados
para o mercado e envolvem, muitas vezes, disciplinas da área de exatas.
Os alunos esperam desses cursos o desenvolvimento de competência e
habilidades próprias e costumam considerar como irrelevantes as maté-
rias que não proporcionam formação específica. No entanto, é esperado
de qualquer profissional competência em se comunicar, entendida não
apenas como capacidade de troca de informações, mas também o domínio
de habilidades argumentativas, sob pena de ter seu progresso dificultado.
À medida que o profissional se desenvolve na carreira, as aptidões não
técnicas aumentam de importância.
Desse modo, este capítulo toma como base a experiência com estu-
dantes de cursos tecnológicos das Fatecs3 das cidades de Guaratinguetá
e Cruzeiro (estado de São Paulo) ao longo de seis anos. Foram, no total,
vinte turmas com cerca de quarenta alunos cada, ou seja, uma observação
de aproximadamente oitocentos alunos. Evidentemente não se pode dizer
que todos apresentaram o mesmo desempenho, até porque os trabalhos são
feitos em grupos de três integrantes, o que pode mascarar os resultados,
tendo em vista que nem sempre se dá a participação efetiva e completa de
cada um dos indivíduos em processos dessa natureza.
161
Competências
As habilidades que se deseja desenvolver nos estudantes, e com base
nos conceitos da sociorretórica, dizem respeito à organização retórica e
capacidade de comunicação, conforme Swales (2004), Bhatia (1993) e
Bazerman (2013). A Tabela 1 a seguir, fundamentada em esquema criado
por Brzovic et all. (2006), no contexto de ensino de comunicação, mostra
algumas competências da escrita acadêmica que, segundo os autores, apuram
a capacidade de produzir boa comunicação e estrutura retórica relevante.
Existem duas palavras para competência, em inglês: competency, que
designa características comportamentais (difíceis de adquirir, o que torna
particularmente importantes as ferramentas eficazes), e competence, que se
refere a predicados técnicos e funcionais. As tabelas tratam das competencies.
interessante apropriados.
Escrever textos que Escrever recomendação Escrever textos
contenham resumo que selecione, analise analíticos refinando
Pesquisa de Informação
162
Ensino da produção de artigo acadêmico:
uma abordagem sociorretórica
não-éticas. interessadas.
Identificar Usar argumentos Aplicar conjuntos
causa e efeito de de fato, políticas explícitos de critérios
decisões sobre acadêmicas e valores. para avaliar os
Decisão
Sociorretórica
A sociorretórica ocupa-se da comunicação e das estruturas retóricas,
mas de que forma isso se manifesta? Sem se desligar completamente dos
conceitos aristotélicos, Bazerman (2013, p. 22) escreveu que “A retórica
também difere das outras artes da língua porque adota o ponto de vista
dos usuários, em vez da posição não comprometida do analista do código”.
Tal postura privilegia a capacidade de comunicação efetiva, centrada no
auditório (PERELMAN, 1999) e detalhada nas Tabelas 1 e 2 adaptadas
de Brzovic et all. (2006), que favorecem a construção de argumentos. Ao
lembrar que “(...) a retórica constrói-se para a ação, em vez de para a des- 163
crição estática” (BAZERMAN, 2013, p. 13) e que “as questões fundamentais
da retórica têm a ver com maneiras de realizar coisas, e não com o que as
coisas são” (idem) o autor reforça o caráter sociorretórico que, a nosso ver,
pode ser aplicado aos textos acadêmicos, ou seja, “definir, avaliar e resolver
problemas de comunicação que afetam o texto” (ibidem) (Tabela 2).
Podemos dizer que tanto as competências formais avançadas da Tabela
1 quanto as filosóficas avançadas da Tabela 2 estão centradas em Bazer-
man, quando afirma que “(...) Vale a pena saber como funciona a língua
em contexto, porque isso permite saber como usá-la. (...) localizar-se na
atividade, a definir seus interesses e a reconhecer e mobilizar recursos para
a interação” (BAZERMAN, 2013, p. 22).
Swales (1990), para quem o entendimento dos objetivos da comuni-
cação é central ao tratamento sociorretórico, influenciou o pensamento
de Bhatia (1993), que justifica o estudo do gênero como entendimento do
propósito comunicativo. Assim, o autor define e comenta gênero como:
Evidência: Reivindicação:
Partidas vencidas Presentemente, o
O melhor time é o
pelo S.Paulo: 3 S. Paulo é um time
que ganha mais
Partidas vencidas melhor que o
vezes
pelo Palmeiras: 1 Palmeiras.
Backing: Refutação
Período Pode ser usado
considerado de outro período ou
2009 a 2015 analisados outros
dados.
Respaldo:
Em futebol, o que
conta são os
resultados.
O trabalho final
Em meio à construção das etapas, os alunos recebem instrução formal
sobre a estruturação e formatação de um trabalho acadêmico: como es-
crever resumo, introdução, bibliografia, fundamentação teórica, normas
sobre citações diretas e indiretas.
A entrega seguinte é uma versão quase finalizada do artigo já forma-
tado. Mesmo após instrução prévia, é possível haver alguma dificuldade
em diferenciar introdução, conclusões e resumo. Eles recebem os projetos
anotados e produzem novas versões até que o texto esteja considerado pronto.
Geralmente, o trabalho é finalizado após a segunda ou terceira revisão. Tais
atividades auxiliam a desenvolver qualidades que irão ajudá-los profissio-
nalmente: organização do pensamento, apresentação deles de forma concisa,
entendimento do que são chamados a realizar e concentração em tarefas
específicas, características que atendem aos princípios da sociorretórica e
suas implicações, mostradas, em parte, nas Tabelas 1 e 2, no início deste
capítulo, nomeadas como Competências Formais e Filosóficas.
Resultados
Os resultados têm sido, em geral, gratificantes para alunos e profes-
sores. Um questionário curto foi aplicado a 480 alunos após a conclusão
e apresentação de seus trabalhos. As respostas estão na Tabela 4 a seguir.
Estruturação do Pensamento
173
Fonte: a autora.
Conforme se observa, os professores concordam, em sua maioria, com
a necessidade e importância do ensino do artigo já a partir do primeiro
semestre nos cursos superiores. As porcentagens mostram que essa pro-
dução acadêmica pode auxiliar na estruturação do pensamento, permite o
treinamento do estudante no uso da argumentação e trabalha a organização
textual, três princípios da sociorretórica apontados por Swales (2004).
Bazerman (2013) reforça que a retórica, diferentemente das outras artes
da língua, adota o ponto de vista dos usuários, em vez da posição não
comprometida do analista. Tal postura privilegia a capacidade de comu-
nicação efetiva, centrada, o que realmente ocorre na produção do artigo
acadêmico, conforme se pode perceber no estudo de caso e na Tabela 3.
Apenas 4,5% não percebem tais habilidades como importantes e 9,1%
consideram que os alunos de primeiro semestre não têm capacidade para
a produção de textos dessa natureza. Nas respostas livres, 1% considera
mais importante o nivelamento de Português e Matemática, 1% respondeu
que tais habilidades promovem contato com a linguagem acadêmica, o que
reforça os itens anteriores e um professor afirmou que se trata do “ingresso
no mundo científico do qual nenhuma instituição superior deveria abrir
mão, pois dele depende o progresso do país”.
Considerações finais
A produção de trabalhos acadêmicos tem sido acompanhada, conforme
mencionado, por seis anos (doze semestres), e percebe-se que a metodo-
logia evoluiu no período. Com o tempo, o número de entregas durante o
desenvolvimento de cada artigo aumentou. Cerca de metade dos alunos
passou a considerar o artigo acadêmico de maneira mais séria. Para parte
deles ainda se configura, principalmente, como um obstáculo a ser vencido,
porém esse número tem se reduzido.
O plágio, até certo ponto, continua uma dificuldade a ser combatida
por meio de convencimento durante as aulas de Métodos da Produção
do Conhecimento e nas orientações efetuadas junto aos grupos. Embora
a investigação e escrita acadêmica tenham se mostrado eficazes, o plágio,
infelizmente, parece se manter, talvez como consequência de algum tipo
de cultura. Não ocorre apenas com alunos de primeiro semestre: apesar
das informações e cobranças, os estudantes mantêm esse costume, mesmo
174 após muito debate. Para combatê-lo, o plágio tem sido exposto e é fornecido
Ensino da produção de artigo acadêmico:
uma abordagem sociorretórica
novo prazo para que os alunos reformulem seus textos em caso de cópia.
Conforme verificado, a orientação está concentrada na elaboração
de questões de pesquisa e determinação dos dados, avaliação e debate
do protocolo de pesquisa, revisão dos rascunhos e preparação da versão
final. Todas essas instâncias, somadas à determinação de uma pesquisa de
campo, elaboração de questionários, entrevistas e a própria produção do
texto reforçam o caráter sociorretórico da escrita acadêmica, tendo em
vista que se trata da elaboração de argumentos voltados à comunicação
de temas escolhidos.
Embora não seja possível medir a melhora nas redações, considerando
que se trata de resultados intangíveis, percebe-se que o aperfeiçoamento
textual evolui naturalmente com a maturidade, desenvolvida ao longo dos
semestres. Além dos resultados da pesquisa entre alunos e professores que
nos leva a acreditar que a escrita acadêmica aperfeiçoa a capacidade de
produzir documentos em geral, uma das indicações de progresso reside
justamente no desempenho escrito e oral observado entre os professores
e pelos próprios alunos em comentários informais. Docentes demonstram
satisfação com textos de seus alunos após os semestres de treinamento e os
próprios estudantes percebem o progresso no desenvolvimento de textos
e maior facilidade de comunicação oral após as apresentações.
Por outro lado, alguns estudantes nem sempre gostam desse trabalho,
que é cansativo, com muitas repetições, correções, das cobranças e do
esforço, mas os professores de todos os departamentos têm manifestado
entusiasmo com a produção de artigos acadêmicos, conforme verificado
por meio da pesquisa cujos resultados são mostrados na Figura 2, ou seja,
o desenvolvimento de uma investigação e produção de artigos acadêmicos
propicia amadurecimento intelectual e na comunicação, conforme preco-
niza a sociorretórica.
A ideia de utilizar o layout de Toulmin (2003) para verificar a integri-
dade e consistência dos argumentos pode ser aplicada, principalmente, na
finalização do artigo.
Em outras palavras, acreditamos que o emprego da sociorretórica
conforme Swales (2004) e Bazerman (2015), o uso da metodologia de
Yin e uma verificação argumentativa do artigo, conforme Toumin (2003),
proporcionam confiabilidade e consistência ao trabalho e suas conclusões.
175
Referências
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how-to-improve-your-businesswriting
PERELMAN, C. e TYTECA, L. O. Tratado da Argumentação – A Nova
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SANDEL, M.: What’s the Right Thing to Do? New York: Farrar, Straus and
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SWALES, J. M. Research genres: explorations and applications. New York:
Cambridge University Press, 2004.
TOULMIN, S. The Uses of Argument. Cambridge University Press, 2003.
(Trabalho original publicado em 1958).
YIN, R. Case study research: design and methods. Thousand Oaks: Sage.
2013, (Trabalho original publicado em 1984)
176
Biografismo e retórica: a escrita
biográfica no ensino superior
Escrita e retórica
Cotidianamente, e de maneira insistente, somos requisitados pela
escrita, seja nas mídias digitais – nos anúncios incômodos que invadem
nossas retinas quando tentamos ver um vídeo no YouTube – no Whatsapp,
na internet de um modo geral, assim como no trabalho, nas entrevistas
de emprego e em formulários e relatórios intermináveis. Na escola, de um
modo geral, aparece em gêneros discursivos bastante conhecidos por todos
nós: a poesia, o conto, a crônica, o romance etc.
Somos convidados à leitura o tempo todo pela escrita em outdoors,
placas de trânsito, anúncios, bilhetes, e-mails e propagandas das mais va-
riadas, portanto, nesse contexto, nada faz mais sentido do que a afirmação
de que a escrita é uma prática social. Se perguntássemos aos alunos o que
pensam sobre escrever, a resposta seria: “para escrevermos – e fazê-lo bem
–, é preciso conhecer as regras gramaticais da língua e ter um bom voca-
bulário”, afirmam Kock & Elias (2009, p. 32). Bazerman (2015), ao tratar
de contexto, escrita e retórica, chama-nos a atenção para isso:
Invenção
As quatro partes da retórica ou etapas do processo persuasivo, como
mencionam Figueiredo, Magalhães e Rodrigues-Alves (2016), são: inven-
ção, elocução, disposição e ação. Para este capítulo daremos enfoque na
primeira delas.
A invenção tem relação direta com o orador. Mas quem é o orador? É
aquele que escreve o discurso? Não necessariamente! Contudo, aquele que
escreve o discurso e o sujeito que o transmite podem ser a mesma pessoa. Se
o orador pode ser aquele que escreve e enuncia o próprio discurso - como
no caso da autobiografia -, pressupõe-se, neste caso, essa relação intrínseca
entre orador, invenção e autoria.
Ao considerar que nosso olhar está voltado para o autor, que também
é orador, interessa-nos, a partir desses dois primeiros ensinamentos, apre-
sentar mais detidamente a primeira etapa do processo persuasivo.
A invenção tem origem no verbo “invenire”, cujo significado para a
Retórica é o de achar, encontrar, não no sentido de buscar algo novo, mas
o que já existe, entretanto, não basta apenas descobrir os argumentos, é
preciso julgar se são adequados para o fim que se pretende com o discurso
(TRINGALI, 2014). Refere-se ao estoque de material de onde se extraem os
argumentos, afirma Mosca (2004). Ferreira (2010) completa ao dizer que
“é também nesse momento que se interroga sobre o auditório, identifica-se
com ele para que possa estabelecer acordos, encurtar distâncias por meio
do assunto que irá desenvolver” (FERREIRA, 2010, p. 63).
Com base nas citações, percebemos que há, de certa forma, um mo-
mento de autoria; trata-se da busca por provas que sustentarão o ambiente
discursivo. É no momento da invenção que o orador mostra seu conheci-
mento sobre o assunto e se faz parecer sincero para ganhar a confiança do
auditório, do público-alvo, do leitor. Falamos aqui das três provas retóricas
que colaboram para o processo persuasivo: ethos, pathos e logos. A primei-
182 ra reside no caráter do orador; a segunda refere-se às paixões e emoções
Biografismo e retórica: a escrita
biográfica no ensino superior
Quadro 1: Lugares-comuns
Lugares Descrição
Da é o que afirma que uma coisa é preferível a outra em razão
quantidade de dados quantitativos, que uma coisa é superior à outra por
ser mais proveitosa a um número maior de pessoas, ser mais
durável, mais útil. É um lugar que fundamenta anúncios
publicitários.
Da qualidade é preferível aquilo que se sobrepõe ao outro por ser
raro, original, extraordinário. A opinião de determinado
indivíduo é melhor que a de todos. Trata-se de um
argumento elitista
Da ordem afirma a superioridade da causa sobre o efeito, do anterior
sobre o posterior. Glorifica-se o passado e menospreza-se
o presente. Também pertence a esse lugar o argumento
contrário.
Do existente declara superioridade daquilo que é sobre aquilo que
somente é possível, do prático sobre o teórico
Da essência contempla os argumentos que mostram indivíduos que
representam um padrão, uma essência
Da pessoa apela ao valor da pessoa, pelo seu valor, sua importância;
valoriza o que é feito com cuidado, carinho, que requer um
esforço
Fonte: Os autores (adaptado de Ferreira, 2010, p. 70-76).
183
Assim, o autor-orador, ao preparar o seu discurso, aciona o seu inven-
tário e busca nele aqueles argumentos que julga ser mais apropriados à sua
intenção argumentativa. Naturalmente que em um discurso podem conter
todas as tipologias aqui apresentadas, mas cumpre ao analista retórico
identificar quais são as preferências do autor, ou seja, quais lugares-comuns
se sobressaem.
Biografia
187
O corpus
Sonhador
O orador começa a narrar sobre o outro que lhe é íntimo, com quem
vive uma só vida na faculdade, na sociedade, em primeira pessoa. Trata-se
de descuido frutífero no limiar do processo de criação, que é a linha tênue
que difere biografia de autobiografia. O Exórdio5 é em primeira pessoa.
Assim como todo o desenvolvimento, o segundo parágrafo é em
terceira pessoa:
Quem fala?
Fica claro que o orador é o aluno Willian Veríssimo da Cruz:
A quem fala?
O orador escreve para um auditório particular: o seu interlocutor direto,
aquele que cede a história, no caso ao aluno Rodolfo Luiz de Oliveira e aos pro-
fessores que acompanharam a atividade, que, ou seja, os autores deste capítulo.
Como fala?
O orador-autor opta por uma escolha lexical que legitime a ideia do
biografado ser um vencedor enaltecendo suas qualidades.
193
Considerações finais
A escrita biográfica dos alunos, neste capítulo, aconteceu sob uma perspectiva
sóciorretórica, de onde o canal de acesso entre o orador e o auditório está na
ação, na interação, na relação biógrafo-biografado, orador-autor e o texto, orador
e a busca por argumentos, que apresentassem a personagem biografada e suas
qualidades como pessoa. As escolhas lexicais apresentadas levaram aos lugares
retóricos da qualidade e do valor de pessoa, que depreendem de uma intenção:
convencer o auditório de que o biografado é um sonhador, batalhador, de boa
reputação e bem-intencionado. Há uma característica social fundamental: os
costumes. “A boa glória junto aos contemporâneos, o homem bom e honesto
e não a glória histórica junto aos descendentes” (MATTOS, 2015, p.68) é uma
característica visível no texto. Goza de uma alteridade enunciativa entre pri-
meira e terceira pessoas, que contempla a relevância das relações humanas e da
máxima bakhtiniana do dialogismo em que “eu” só existe diante de um “você”.
Este estudo é um caminho ou sugestão na abordagem do gênero biografia e da
relação orador-autor que ela implica para o trabalho em sala de aula.
194
Biografismo e retórica: a escrita
biográfica no ensino superior
Referências
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nova retórica. Trad. Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. 3 ed. São Paulo:
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SAYEG-SIQUEIRA, J. H. O Texto. São Paulo: Selinunte, 1990.
TRINGALI, D. A retórica antiga e outras retóricas – a retórica como crítica
literária. São Paulo: Musa, 2014.
195