Par e Passo 8 DP (Teste Avaliacao Saga)
Par e Passo 8 DP (Teste Avaliacao Saga)
Par e Passo 8 DP (Teste Avaliacao Saga)
Escola
Para responderes aos itens que se seguem, vais ouvir a entrevista a Ricardo Diniz, um velejador
https://observador.pt/programas/conversas-do-fim-do-mundo/no-mar-falo-muito-sozinho/
Antes de iniciares a audição, lê as questões. Em seguida, ouve, atentamente, duas vezes, e responde
ao que é pedido.
1. Para cada item, seleciona, com um X, a opção que completa corretamente a frase, de acordo com
o sentido do texto.
1.1. O barco de Ricardo Diniz (3 pontos)
1.3. O velejador, por vezes, prefere não estabelecer contacto com terra porque (3 pontos)
Página de um diário
- Levantei-me estremunhada. Não me habituo à rapaziada que vive em cima e toma banho
- antes das oito, deixando cair o chuveiro com estrondo e correndo casa fora com martelos nos
5 pés. Não devem ter tapetes e as tábuas corridas voltaram a estar na moda. Talvez reclamasse
- se conhecesse os vizinhos, mas estou aqui há pouco tempo. Não quero criar ondas nem me
- apetece tocar-lhes à porta para me vincularem a uma primeira impressão sindical. Vou aguen-
- tar.
- Ando menos matutina. Na fase em que estou, deito-me pelas duas, três da manhã, e levan -
10 to-me entre as nove e as dez, quando me deixam.
- Gosto muito desta casa, para onde me mudei há três meses. Sempre vivi em casas gran -
- des, esta é a mais pequena, mas também é a primeira vez que vivo sozinha, universalmente
- sozinha. Casaram-se todos: o Miguel, a Marta, o Salvador. Em rigor, não preciso de mais es -
- paço. Uma sala, um escritório, um quarto – às vezes sinto-me num hotel, na suíte de um ho -
15 tel, e a ideia diverte-me. A casa tem luz, as pinturas são novas, os armários lacados – gosto
- de estar aqui. A anterior era maior e o acesso à garagem mais cómodo, mas aprendi a tempo
- que o tamanho ilude e pode ser uma fraude no bem-estar das pessoas. A escala menor dá-nos
- outra calma, a ilusão do controlo é maior. Hesitei, por ter vista para o cemitério, mas
- como está lá a minha mãe não me importo. Na outra também havia varanda, uma pérgula 1
20 de 50 m2 com vista, mas não a trocava por esta, com três toldos verdes articulados e vista
- para um bosque, um bosque verdadeiro. Ao fundo vejo os jazigos, uma pincelada branca no
- meio do arvoredo a lembrar uma aldeia alentejana, e rio-me do enguiço que causa às visitas.
- Não sendo um condomínio de luxo, tem uma piscina, court de ténis, campo de futebol
- e parque infantil, e a vista alonga-se sobre uma tapada 2 pública, limpa e arborizada, com
25 um circuito de caminhadas e um lago com uma ponte suspensa. A urbanização nada tem de
- particularmente nacional, e os edifícios, em tijolo brilhante, lembram os das ruas de Madrid.
- Se gostasse de caminhar sozinha, fazia-o uma vez por dia. Paciência. Passeio com os netos,
- quando vêm dormir às terças e os levo lá abaixo.
Rita Ferro, Veneza pode esperar, Dom Quixote, 2014, pp. 15-16.
VOCABULÁRIO:
1
pérgula: galeria coberta por um toldo.
2
tapada: mata.
1. Para cada item, seleciona, com um X, a opção que completa corretamente a frase, de acordo com
o sentido do texto.
1.1. O primeiro parágrafo desta página de diário (3 pontos)
1.2. Rita Ferro refere algumas diferenças entre casas anteriores e a atual: (3 pontos)
(A) esta não é a casa mais pequena e não vive completamente só.
(B) esta não é a casa mais pequena, mas vive completamente só.
(C) esta é um espaço mais pequeno e não vive completamente só.
(D) nesta vive completamente só e é um espaço mais pequeno.
1.4. Rita Ferro afirma que o apartamento não pertence a um condomínio de luxo, (3 pontos)
Saga
- Depois atravessaram as tempestades da Biscaia. Ali a vaga media dez metros e a água tornara-se
- espessa, pesada e brutal em seu cinzento metálico. Todas as madeiras gemiam como se fossem despe-
- daçar-se e sentia-se a tensão dos cabos repuxados. As ondas varriam o convés e o navio, ora erguido na
- crista da vaga ora caindo pesadamente, parecia a cada instante tocar o seu ponto de rutura e desman-
5 telamento. Mas Hans sentia a elasticidade do barco, a sua precisão de extremo a extremo e o equilíbrio
- que, entre vaga e contravaga, não se rompia. Mais tarde os navios de Hans nunca naufragaram.
- Contornaram a terra, navegaram para o Sul e, ao cair de uma tarde, penetraram sob o arco das gai-
- votas, na barra estreita de um rio esverdeado e turvo, flutuante de imagens entre as margens cavadas.
- À esquerda, subindo a vertente, erguia-se o casario branco, amarelo e vermelho, misturado com os
10 escuros granitos.
- Na luz vermelha do poente a cidade parecia carregada de memórias, insondavelmente antiga,
- feérica1 e magnetizada2, com todos os vidros das suas janelas cintilando. Animava-a uma veemência 3
- indistinta que aqui e além aflorava em ecos, rumores, perpassar de vultos, gritos longínquos e per -
- didos, reflexo de luzes sobre o rio.
15 Hans amou desde o primeiro momento a respiração rouca da cidade, o colorido intenso e sombrio,
- o arvoredo murmurante e espesso, o verde espelhado do rio. Na estrada que corria junto às margens viam-se
- bois enfeitados e vermelhos, puxando carros de madeira que chiavam sob o peso de pipas, pedra e areias.
- O navio demorou-se vários dias no cais, carregando e descarregando. Na véspera da partida entre
- Hans e o capitão levantou-se uma furiosa querela4.
20 Hans estava de pé no cais, vestido com uma pele de urso branco que encontrara no porão. No cen-
- tro de um círculo de marinheiros, que batiam palmas para marcar o ritmo, dançava e ria sacudindo
- uma pandeireta. Juntava-se gente. Como se se tratasse de um circo ambulante um grumete 5 tirara
- o barrete e estendia-o aos espetadores que começavam a lançar moedas. A tarde escorria sobre o rio.
- Foi esta cena que o capitão viu quando, de súbito, irrompeu no convés. A sua barba vermelha bri-
25 lhava de fúria. Hans, sozinho, no meio do círculo vazio, suportou com um sorriso calmo o rosto irado
- que o fitava. Houve um pesado silêncio.
- – Despe isso – gritou o capitão – Aqui não é um circo.
- Hans, devagar, com um sorriso petulante, despiu a pele do urso e estendeu-a a outro grumete,
- dizendo:
30 – Toma, meu pajem, leva o meu manto.
- E a pele, sem que nenhum braço se estendesse para a receber, caiu mole no chão.
- – Aqui não é um teatro – disse o capitão, olhando Hans na cara.
- Hans sustentou o olhar e o seu sorriso tornou-se duro e teimoso.
- – Apanha a pele – ordenou o capitão – E vai para bordo, tu e os outros, todos, para bordo.
35 No porão o capitão chicoteou Hans em frente dos homens calados.
- No fim disse-lhe:
- – Agora aprendeste a ter juízo.
- Mas nessa madrugada, em segredo, Hans abandonou o navio.
Sophia de M. B. Andresen, Saga, Porto Editora, pp. 17-19.
VOCABULÁRIO:
1
feérica: deslumbrante, maravilhosa; 2 magnetizada: atraente, encantadora; 3 veemência: entusiasmo; energia;
4
querela: discussão; 5 grumete: posto inferior ao de marinheiro.
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3. Identifica, com um X, quatro traços que caracterizam a cidade onde chega Hans. (4 pontos)
4. O capitão repreendeu Hans pelo espetáculo e este reagiu. Justifica a reação de cada (5 pontos)
uma das personagens à atitude da outra.
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Naquela cidade, Hans sentia-se como nunca se sentira antes. Amou aquele lugar desde o
primeiro momento com tal intensidade que nem pensou duas vezes. Embora nada tivesse, era
ali que ia ficar.
Coluna A Coluna B
A. Ainda que estivesse sozinho, não tinha medo.
1. valor de causa
B. Hans queria ter aventuras no mar, mas não
2. valor de consequência
permitia violência.
3. valor de contraste
C. Hans era tão corajoso que enfrentava todas as
dificuldades. 4. valor de situação que não
impede a realização da
D. O capitão zangou-se porque ele deu um
subordinante
espetáculo.
3. Classifica cada uma das orações subordinadas das frases como substantiva, (6 pontos)
adjetiva ou adverbial.
a. Hans sabia que o destino o chamava.
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b. Quando chegou à cidade, adorou o ambiente.
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c. A pele que estava no navio serviu para um espetáculo.
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FIM