Resumo Cavaleiroda Dinamarca

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 10

Resumo “O Cavaleiro da Dinamarca”

1. O início da narrativa: a morada do Cavaleiro, no norte


da Dinamarca
Há muitos anos, há dezenas e centenas de anos, havia em certo
lugar da Dinamarca, no extremo Norte do país, perto do mar, uma
grande floresta de pinheiros, tílias, abetos e carvalhos. Nessa
floresta morava com a sua família um Cavaleiro. Viviam numa casa
construída numa clareira rodeada de bétulas.
 
Passado o Verão, o vento de Outubro despia os arvoredos, voltava o
Inverno, e de novo a floresta ficava imóvel e muda, presa em seus
vestidos de neve e gelo. No entanto, a maior festa do ano, a maior
alegria, era no Inverno, no centro do Inverno, na noite comprida e
fria do Natal. Então havia sempre grande azáfama em casa do
Cavaleiro. Juntava-se a família e vinham amigos e parentes. Lá fora
havia gelo, vento, neve. Mas em casa do Cavaleiro havia calor e luz,
riso e alegria. E na noite de Natal, em frente da enorme lareira,
armava-se uma mesa muito comprida onde se sentavam o
Cavaleiro, a sua mulher, os seus filhos, os seus parentes e os seus
criados.
 
2. O anúncio, pelo Cavaleiro, da sua intenção de viajar até
à Terra Santa
A noite de Natal era igual todos os anos. Sempre a mesma festa,
sempre a mesma ceia, sempre as grandes coroas de azevinho
penduradas nas portas, sempre as mesmas histórias. Até que certo
Natal aconteceu naquela casa uma coisa que ninguém esperava.
Pois terminada a ceia o Cavaleiro voltou-se para a sua família, para
os seus amigos e para os seus criados, e disse:
— Temos sempre festejado e celebrado juntos a noite de Natal. E
esta festa tem sido para nós cheia de paz e alegria. Mas de hoje a
um ano não estarei aqui.
— Porquê? — perguntaram os outros todos com grande espanto.
— Vou partir — respondeu ele.
— Vou em peregrinação à Terra Santa e quero passar o próximo
Natal na gruta onde Cristo nasceu e onde rezaram os pastores, os
Reis Magos e os Anjos. Também eu quero rezar ali. Partirei na
próxima Primavera. De hoje a um ano estarei em Belém. Mas
passado o Natal regressarei aqui e de hoje a dois anos estaremos,
se Deus quiser, reunidos de novo.
 
Naquele tempo as viagens eram longas, perigosas e difíceis, e ir da
Dinamarca à Palestina era uma grande aventura. Quem partia
poucas notícias podia mandar e, muitas vezes, não voltava. Por isso
a mulher do Cavaleiro ficou aflita e inquieta com a notícia.
 
3. A viagem da Dinamarca até à Palestina
Na Primavera o Cavaleiro deixou a sua floresta e dirigiu-se para a
cidade mais próxima, que era um porto de mar. Nesse porto
embarcou, e, levado por bom vento que soprava do Norte para o
Sul, chegou muito antes do Natal às costas da Palestina. Dali seguiu
com outros peregrinos para Jerusalém. Visitou um por um os
lugares santos. Rezou no Monte do Calvário e no Jardim das
Oliveiras, lavou a sua cara nas águas do Jordão e viu, no luminoso
Inverno da Galileia, as águas azuis do lago de Tiberíade. Procurou
nas ruas de Jerusalém, no testemunho mudo das pedras, o rasto de
sangue e sofrimento que ali deixou o Filho do Homem perseguido,
humilhado e condenado.
 
4. A noite de Natal e a estadia do Cavaleiro na Palestina
Quando chegou o dia de Natal, ao fim da tarde, o Cavaleiro dirigiu-
se para a gruta de Belém. Ali rezou toda a noite. Rezou no lugar
onde a Virgem, São José, o boi, o burro, os pastores, os Reis Magos
e os Anjos tinham adorado a criança acabada de nascer.
 
Desceu sobre ele uma grande paz e uma grande confiança e,
chorando de alegria, beijou as pedras da gruta. Rezou muito, nessa
noite, o Cavaleiro. Rezou pelo fim das misérias e das guerras, rezou
pela paz e pela alegria do mundo. Pediu a Deus que o fizesse um
homem de boa vontade, um homem de vontade clara e direita,
capaz de amar os outros. E pediu também aos Anjos que o
protegessem e guiassem na viagem de regresso, para que, daí a
um ano, ele pudesse celebrar o Natal na sua casa com os seus.
 
Passado o Natal o Cavaleiro demorou-se ainda dois meses na
Palestina visitando os lugares que tinham visto passar Abraão e
David, os lugares que tinham visto passar a Arca da Aliança, o
cortejo da Rainha do Sabá e seus camelos carregados de perfumes,
os exércitos da Babilónia, as legiões romanas e Cristo pregando às
multidões.
 
5. O início da viagem de regresso: a amizade do cavaleiro
e do mercador de Veneza, a tempestade e a chegada ao
porto de Ravena
Depois, em fins de Fevereiro, despediu-se de Jerusalém e, na
companhia de outros peregrinos, partiu para o porto de Jafa. Entre
esses peregrinos havia um mercador de Veneza com quem o
Cavaleiro travou grande amizade. Em Jafa foram obrigados a
esperar pelo bom tempo e só embarcaram em meados de Março.
Mas uma vez no mar foram assaltados pela tempestade.
— Ah! — pensava o Cavaleiro. — Não voltarei a ver a minha terra.
Mas passados cinco dias o vento amainou, o céu descobriu-se, o
mar alisou as suas águas. E com a brisa soprando a favor puderam
chegar ao porto da cidade de Ravena, na costa do Adriático, nas
terras de Itália. Porém, o navio estava tão desmantelado que não
podia seguir viagem.
— Esperarei por outro barco — disse o Cavaleiro —. A beleza de
Ravena enchia-o de espanto.
 
6. A primeira proposta do mercador: que o Cavaleiro fosse
com ele até Veneza e regressasse à Dinamarca a partir do
porto de Génova. A estadia em Veneza.
— Ouve — disse o Mercador ao Cavaleiro —, não fiques aqui à
espera de outro navio. Vem comigo até Veneza. Se Ravena te
espanta mais te espantará a minha cidade construída sobre as
águas. De Veneza seguirás por terra para o porto de Génova. Assim
atravessarás o Norte da Itália e conhecerás as belas e ricas cidades
cuja fama enche a Europa. De Génova partem constantemente
navios para a Flandres. E uma vez na Flandres depressa chegarás à
tua terra.
 
O Cavaleiro aceitou o conselho do Mercador e seguiu para Veneza.
Veneza, construída à beira do mar Adriático sobre pequenas ilhas e
sobre estacas, era nesse tempo uma das cidades mais poderosas
do mundo. Ali tudo foi espanto para o dinamarquês. As ruas eram
canais onde deslizavam estreitos barcos finos e escuros. Os
palácios cresciam das águas que refletiam os mármores, as
pinturas, as colunas. Passavam homens vestidos de damasco e as
mulheres arrastavam no chão a orla dos vestidos bordados. Vozes,
risos, canções e sinos enchiam o ar da tarde. Nunca o Cavaleiro
tinha imaginado que pudesse existir no mundo tanta riqueza e
tanta beleza. 
O Mercador alojou o Cavaleiro no seu palácio e em sua honra
multiplicou as festas e os divertimentos.
 
7. Em Veneza, a história de Jacob Orso, Vanina e
Guidobaldo.
Certa noite, terminada a ceia, o veneziano e o dinamarquês ficaram
a conversar na varanda. Do outro lado do canal via-se um belo
palácio com finas colunas esculpidas. — Quem mora ali? —
perguntou o Cavaleiro —. — Agora ali só mora Jacob Orso com
seus criados, mas antes também ali morou Vanina, que era a
rapariga mais bela de Veneza. Era órfã de pai e mãe, e Orso era o
seu tutor. Quando ela era ainda criança o tutor prometeu-a em
casamento a um seu parente chamado Arrigo. Mas quando Vanina
chegou aos dezoito anos não quis casar com Arrigo porque o
achava velho, feio e maçador. Então Orso fechou-a em casa e
nunca mais a deixou sair senão em sua companhia ao domingo,
para ir à missa. Durante os dias da semana Vanina prisioneira
suspirava e
bordava no interior do palácio, sempre rodeada e espiada pelas
suas aias. Mas à noite Orso e as aias adormeciam.
Então Vanina abria a janela do seu quarto, debruçava-se na
varanda e penteava os seus cabelos. Eram loiros e tão compridos
que passavam além da balaustrada e flutuavam leves e brilhantes,
enquanto as águas os refletiam. E eram tão perfumados que de
longe se sentia na brisa o seu aroma. E os jovens rapazes de
Veneza vinham de noite ver Vanina pentear-se. Mas nenhum
ousava aproximar-se dela, pois o tutor fizera saber à cidade inteira
que mandaria apunhalar pelos seus esbirros aquele que ousasse
namorá-la.
 
Mas um dia chegou a Veneza um homem que não temia Jacob Orso.
Chamava-se Guidobaldo e era capitão dum navio. O seu cabelo
preto era azulado como a asa dum corvo, e a sua pele estava
queimada pelo sol e pelo sal. Nunca no Rialto passeara tão belo
navegador. Ora certa noite Guidobaldo passou de gôndola por este
canal. Sentiu no ar um maravilhoso perfume, levantou a cabeça e
viu Vanina a pentear os cabelos.
 
E daí em diante a rapariga mais bela de Veneza passou a ter um
namorado. Quando esta notícia se espalhou na cidade os amigos do
capitão foram preveni-lo de que estava a arriscar a sua vida, pois
Orso não lhe perdoaria. Mas ele era forte e destemido, e sacudiu os
ombros e riu. Ao fim dum mês foi bater à porta do tutor.
— Que queres tu? — perguntou o velho. — Quero a mão de Vanina.
— Vanina está noiva de Arrigo e não há-de casar com mais
ninguém. Sai depressa de Veneza. Tens um dia para saíres da
cidade
 
Mas nessa noite, no silêncio da noite, a sua gôndola parou junto da
varanda da casa de Orso. Na manhã seguinte as aias descobriram a
ausência de Vanina e correram a prevenir o tutor. Jacopo Orso
chamou Arrigo e com ele e os seus esbirros dirigiram-se para o cais.
 
O tutor e Arrigo queixaram-se à Senhoria de Veneza e ao doge.
Depois mandaram quatro navios à procura dos fugitivos: um que
navegou para Norte, outro que navegou para Oriente, outro que
navegou para o Sul, outro que navegou para Ocidente. E Vanina e
Guidobaldo nunca mais foram encontrados.
  
8. A segunda proposta do mercador, não aceite pelo
Cavaleiro. A partida de Veneza, em direção a Génova, com
passagem pela cidade de Florença: a estadia em casa do
banqueiro Averardo.
Um dia, mais tarde, o Mercador disse ao Cavaleiro:
 — Não partas. Fica comigo. Associa-te aos meus negócios e
estabelece a tua vida aqui. Não há nenhum lugar no mundo melhor
do que Veneza. É aqui que todos os dias são cheios de alegria e de
surpresa. Fica comigo.
 — Não — disse o Cavaleiro —. Tenho de partir. Prometi à minha
mulher, aos meus filhos, aos meus parentes e criados que estaria
com eles no próximo Natal. Partirei daqui a três dias.
 
E daí a três dias, montado num belo cavalo que o Mercador lhe
oferecera, o dinamarquês deixou Veneza. Além do cavalo o seu
amigo dera-lhe também cartas de apresentação para os homens
mais poderosos das cidades do Norte da Itália. Assim ele seria em
toda a parte bem recebido.
 
O Cavaleiro fez um desvio para sul, para conhecer a célebre cidade
de Florença. Passou por Ferrara e Bolonha e viu as altas torres de
São Giminiano. Dormia nas estalagens ou pedia abrigo nos
conventos. E no princípio de Maio chegou a Florença.
 
Procurou a casa do banqueiro Averardo, para o qual o seu amigo
veneziano lhe tinha dado uma carta. O banqueiro recebeu-o com
grande alegria e hospedou-o em sua casa. E ali, naquela sala de
Florença, homens discutiam os movimentos do Sol e da luz, e os
mistérios do céu e da terra. Falavam de matemática, de
astronomia, de filosofia. Falavam de estátuas antigas, falavam de
pinturas acabadas de pintar. Falavam do passado, do presente, do
futuro. E falavam de poesia, de música, de arquitetura. Parecia que
toda a sabedoria da terra estava reunida naquela sala.
  
9. A proposta do banqueiro Averardo. A recusa do
Cavaleiro, que recebe uma carta de recomendação para um
rico comerciante da Flandres. A viagem de Florença até
Génova: a doença do Cavaleiro e a sua estadia num
convento.
E passado um mês disse-lhe o banqueiro:
— Associa-te aos meus negócios e estabelece a tua vida em
Florença. Há no mundo cidades mais poderosas e mais ricas, mas é
aqui que existe a maior ciência. Se queres estudar Matemática e
Geometria fica em Florença.
 
Mas o Cavaleiro sorriu e respondeu:
— Agradeço-te o teu convite. Desde que aqui estou todos os dias
me espanto e me maravilho com aquilo que vejo, oiço, e aprendo.
Mas lá longe, no meu país do Norte, os meus filhos, a minha mulher
e os meus criados estão à minha espera. Quero passar com eles o
próximo Natal como lhes prometi. Dentro de três dias terei de
partir.
 
Então Averardo deu-lhe uma carta de recomendação para um rico
comerciante da Flandres, seu cliente e amigo. E três dias depois
o Cavaleiro deixou Florença. Viajava agora com pressa para
embarcar no porto de Génova num dos navios que, no princípio do
Verão, sobem da Itália para Bruges, Gant e Antuérpia.
 
Mas já no fim do caminho, a pouca distância de Génova, adoeceu.
Tremendo de febre, foi bater à porta dum convento. Os frades que
o recolheram tiveram grande trabalho para o salvar, pois o
Cavaleiro parecia ter o sangue envenenado e delirava dia e noite.
Nesse delírio imaginava que nunca mais conseguia chegar ao seu
país. Teve de esperar mais um mês no pequeno convento calmo e
silencioso até que, ao cabo de cinco semanas de descanso, ele
pôde despedir-se dos frades e continuar o seu caminho. Então
dirigiu-se para Génova. Mas quando chegou ao grande porto de mar
era já o fim de Setembro e os navios que seguiam para a Flandres
já tinham partido todos.
 
10. A viagem, por terra, de Génova até à Flandres. A
estadia em casa do rico comerciante flamengo.
A resposta que lhe davam era sempre a mesma: só daí a vários
meses poderia arranjar navio para a Flandres. Primeiro o Cavaleiro
ficou desesperado com estas notícias e durante dois dias não
comeu nem dormiu. Mas depois recuperou o ânimo e resolveu
seguir viagem por terra, a cavalo, até Bruges.
 
Quando chegou à Flandres era já Inverno e sobre os telhados e os
campos caía a primeira neve. O Cavaleiro dirigiu-se para Antuérpia
e aí procurou o negociante flamengo, para o qual o banqueiro
Averardo lhe tinha dado uma carta. Encontrou o negociante em sua
casa, aquecendo as mãos à lareira, vestido com uma bela roupa de
pano verde
 
O flamengo recebeu o viajante com grande amabilidade e convidou-
o para ficar em sua casa. Passado pouco tempo, bateram à porta da
casa, ouviram-se passos na escada, e depois penetrou na sala um
homem alto e forte, de aspeto rude, pele queimada pelo sol e andar
baloiçado.
 — Este é um dos capitães dos meus navios — disse o negociante 
—. Voltou há dois dias duma viagem.
 
A pedido do negociante, o capitão começou a falar das suas
viagens. Contou como desde muito novo tinha seguido a carreira de
marinheiro viajando por todos os portos da Europa desde o mar
Báltico até ao Mediterrâneo. Mas era sobretudo entre a Flandres e
os portos da Península Ibérica que viajava. Um dia, porém, teve
desejo de ir mais longe, de ir até às terras desconhecidas que
surgiam do mar. Então resolveu alistar-se nas expedições
portuguesas que navegavam para o sul à procura de novos países.
 
No dia seguinte o Cavaleiro disse ao negociante que queria seguir
por mar para a Dinamarca. —
 
Estamos em Novembro — respondeu o Flamengo —, o frio aumenta
todos os dias e está anunciado um Inverno rigoroso. Creio que não
acharás tão cedo um navio que te leve à tua terra.
Esta notícia deixou o Cavaleiro consternado.
 
11. A proposta do comerciante flamengo. A recusa do
Cavaleiro e a viagem por terra até uma povoação perto de
sua casa, na antevéspera de Natal.
Nesse dia, depois do jantar, quando se sentaram os dois ao lado da
lareira, o negociante serviu vinho ao seu hóspede e disse-lhe:
— Tenho uma proposta a fazer-te. Vejo que gostas de viagens e
aventuras e eu preciso de homens dispostos a correr o mundo. Pois
os meus negócios todos os dias aumentam e procuro associados
que me possam ajudar. Chegou o tempo das navegações, começou
uma era nova e os homens capazes de empreendimento podem
agora ganhar fortunas fabulosas. Associa-te comigo. Viajarás nos
meus navios.
 
Mas o Cavaleiro sacudiu a cabeça e respondeu:
— As histórias dos mares, das ilhas, dos povos desconhecidos e dos
países distantes são maravilhosas e enchem-me de espanto. Mas
prometi chegar este Natal à minha casa. Farei a viagem por terra e
partirei amanhã.
— Vai ser uma viagem dura — disse o Flamengo —.E assim foi. Os
rios estavam gelados, a terra coberta de neve. O frio aumentava e
os dias eram cada vez mais curtos. Os caminhos pareciam não ter
fim.
 
Caminhou durante longas semanas. Como os dias eram curtos e
não se podia viajar de noite, avançava lentamente. Enrolava-se
bem no capote forrado de peles que comprara em Antuérpia, mas
mesmo assim o frio gelava-o até aos ossos. Finalmente, na
antevéspera do Natal, ao fim da tarde, chegou a uma pequena
povoação que ficava a poucos quilómetros da sua floresta. Aí foi
recebido com grande alegria pelos seus amigos, que ao cabo de tão
longa ausência já o julgavam perdido. Um deles hospedou-o em sua
casa e emprestou-lhe um cavalo seu, pois o do viajante vinha
exausto e coxo. O Cavaleiro pediu notícias daqueles que deixara.
 
12. A última viagem do Cavaleiro, até à sua morada, na
véspera do Natal: os amigos lenhadores, os lobos e os
pinheiros iluminados.
E na madrugada seguinte o peregrino partiu. Era o dia 24 de
Dezembro, um dos dias mais curtos do ano, e ele caminhava com
grande pressa, pois queria aproveitar as poucas horas de luz. Antes
da meia-noite, sem falta, tinha de chegar à sua casa na clareira de
bétulas. E ao fim de três quilómetros de marcha, cheio de
confiança, penetrou na grande floresta. Depois, chegou à pequena
aldeia dos lenhadores. Todas as portas se abriram, e os homens da
floresta reconheceram o Cavaleiro que rodearam com grandes
saudações. Este penetrou na cabana maior e sentou-se ao pé do
lume enquanto os moradores lhe serviram pão com mel e leite
quente.
— Já pensávamos que não voltasses mais — disse um velho de
grandes barbas.
— Demorei mais do que queria — respondeu o peregrino —. Mas
graças a Deus cheguei a tempo. Hoje antes da meia-noite estarei
em minha casa.
 
Fica connosco e dorme esta noite na minha cabana. Amanhã, ao
romper do dia, seguirás o teu caminho. — Não posso — tornou o
Cavaleiro —, prometi que estaria hoje em minha casa. Despediu-se
dos lenhadores, montou a cavalo e seguiu o seu caminho.
 
Na viagem para casa, várias vezes pensou que não conseguiria.
— Era mais prudente voltar para trás — pensou ele —. Mas se eu
não chegar hoje, a minha mulher, os meus filhos e os meus criados
pensarão que morri ou me perdi nas terras estrangeiras. Passarão
um Natal de tristeza e aflição. E preciso que eu chegue hoje.
 
Era de noite cerrada, mas a treva encheu-se de pequenos pontos
brilhantes, avermelhados e vivos. Eram os olhos dos lobos. O
Cavaleiro ouvia-os moverem-se em leves passos sobre a neve,
sentia a sua respiração ardente e ansiosa, adivinhava o branco
cruel dos seus dentes agudos. Em voz alta disse: — Hoje é noite de
trégua, noite de Natal. E rezou:
— Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa
vontade.
Então na massa escura dos arvoredos começou ao longe a crescer
uma pequena claridade.
— Deus seja bendito — murmurou o Cavaleiro —. Deve ser uma
fogueira. Deve ser algum lenhador perdido como eu que acendeu
uma fogueira. A minha reza foi ouvida.
 
Mas quando chegou em frente da claridade viu que não era uma
fogueira. Pois era ali a clareira de bétulas onde ficava a sua casa. E
ao lado da casa, o grande abeto escuro, a maior árvore da floresta,
estava coberta de luzes. Porque os anjos do Natal a tinham
enfeitado com dezenas de pequeninas estrelas para guiar o
Cavaleiro.
 
Esta história, levada de boca em boca, correu os países do Norte. E
é por isso que na noite de Natal se iluminam os pinheiros.

Você também pode gostar